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2 — DOUTRINA NACIONAL E CONVENIENTE PRIVALIZAR OS PRES{DIOS? PEDRO ARMANDO EGYDIO DE CARVALHO A) Argumentos a favor; B) Argumento contrério; C) Solugdo da questo; D) Resposta aos argumentos favordveis a privatizacao. A) Argumentos a favor A.1) Hi notéria insuficiéncia de vagas nas prises brasileiras, cujo funciona- mento precSiio conduz a sublevaco da ordem e as temidas rebelides dos con- victos. Um sistema assim falido pode vir a ser recuperado pela iniciativa particular, com um custo menor aos cofres ptiblicos com uma eficdcia maior no cumprimen- to da pena corporal infligida a pessoa condenada na esfera criminal. Caberia ao particular construir e gerir, com recursos Préprios, novos estabelecimentos penais, contanto que, por seu tumno, o Estado the pagasse, por presididrio acolhido e vigia- do, uma quantia fixa. Em suma, a privatizacao resolveria eficazmente o problema da superlotagdo dos presidios, com um custo bem menor ao Estado e, por via de coriseqiiéticia, @ sociedade. ‘A.2) Na privatizacdo, é vidvel transfor- mar a ftiaioria das prisées — exceto as de seguranga mAxima, geridas pelo setor piiblico em virtude de elevado custo operacional com os presos de grande periculosidade — em fabricas modelado- tes ou escolas de civismo e consciéncia religiosa. A massa carceréria, integral- , mente, trabalhando e sendo educada, se converteria, ao término da pena, em massa obreira e educada, util 4 comuni- dade e absorvida pelo mercado de tra- | balho, resultados, entretanto, inobservaveis' na gest&o publica dos estabelecimentos penais. A.3) O sistema penitenciério brasileiro aponta para questes ciclicas e insolti- veis. Periodicamente, os mesmos proble- mas, as mesmas tragédias, os mesmos lenitivos superficiais ressurgem, com grande desgaste & méquina estatal, aos contribuintes e 4 populacdo carcerdria. Este circulo infernal esté a demonstrar, segundo a linha mais recente do neoliberalismo, que o Estado, incapaz de quebrar de vez semelhante recorréncia, deveria preocupar-se e gastar seus recur- sos com situagdes mais importantes do bem comum (educagio e satide do povo, moradia popular, construgo de estradas etc.), relegando o problema penitencidrio conta da iniciativa privada. Esta tltima, através de empresas particulares de vigi- lancia e seguranga, estimuladas pelo lucro, teria condigées de equacionar a situagio carceréria nacional e dar-lhe razodvel solugio. A4) Em algumas Comarcas, sob a vigilancia dos respectivos Juizes, a socie- dade civil denominada APAC, com pro- pésitos religiosos, promove a execugo da pena de intimeros condenados, esta- belecendo normas internas para discipli- nar a conduta deles. Ora, substituindo-se ao Estado, essa entidade confessional ' realiza verdadeira privatizagio dos pre- sidios em que atua. Logo, seu exemplo, elogiado por muitos, deve ser proposto ~ como modelo para instaurar e estimular a administragdo de outros institutos Pe nais a cargo de particulares. 114 REVISTA BRASILEIRA DE CIENCIAS CRIMINAIS — 7 1 A.5) No tema presentemente debatido, | preocupagio maior deve inclinar-se para o lado da Sociedade e das vitimas, e ndo para os chamados “direitos huma- nos dos criminosos”. Com efeito, a Sociedade, os ofendidos e suas famflias representam a parte prejudicada, ao passo que os condenados infringiram a lei penal do Pais, ferindo algum bem juridico do grupo. Seria iniquo, nessa linha de racio- ‘ efnio, oferecer 0 Estado aos presos, com grande 6nus fiscal e moral para os tra- balhadores honestos, cama, comida e roupa lavada, sem que esses mesmos { encarcerados ‘tivessem feito ou fagam algo por merecé-lo. Todavia, a filosofia da privatizagio, além de converter o ,; Preso, pela educagao, ao respeito perante 08 direitos de outrem, obriga-o ao traba- Iho sistemético. Por conseguinte, a Pprivatizagao dos presidios é medida ne- cessdria e benéfica & Sociedade. B) Argumento contrdrio A Seguranga ¢ a Justiga so fungdes proprias do setor piblico, conforme determina a Constituiggo do Brasil em seus arts, 2 e 144, Mas, a execugdo de uma pena restritiva de liberdade é assunto judicial que interessa A seguranga da comunidade, Portanto, os estabelecimen- tos penais, onde se dé tal execugio, nfo podem ser privatizados. C) Solugaio da questio Por varias razdes, ndo é conveniente privatizar os presidios. Para mostré-lo, € preciso, inicialmente, distinguir a '!“privatizagio em amplo sentido” da <>: “privatizagdo estrita”. Na primeira, o particular aparece nos estabelecimentos penitencidrios a titulo>acidental, forne- cendo-lhes o mais das vezes, sob a vigilancia pablica, os bens materiais para regular funcionamento das prises (alimentagao, vestudrio etc.). Na segun- da, o particular toma sobre si, essencial- mente, a administragio desses institutos penais, no s6 no que diz respeito A parte material, mas também no que concemne ao pessoal que executa a pena fixada na sentenga € aos presos que a cumprem. Os defensores da privatizaciio aludem a esse tiltimo tipo, em que o Estado comete a uma empresa particular, sob dadas condigées, a tarefa de fazer cumprir o castigo legal imposto a alguém pelo Poder Judicidrio, em processo-crime. Nao convém, entretanto, permitir semelhante privatizacao, Em primeiro lugar, desde o apareci- mento do Estado liberal, as fungdes de seguranga e da justia esto na lista dos atributos indeclindveis do Poder Puiblico. Se o Estado fracassar no exercicio de tais fungées indelegdveis, isto n&o poderd coonestar a pretensdo de apropriarem-se as empresas particulares de vigilancia e seguranga dos servicos prisionais. A privatizacio legitima sempre e s6 se refere Aqueles servigos que o Estado ainda executa, mas de que pode liberar- se, entregando-os ao particular, sem pre- juizo de sua feigao de Pessoa Juridica, encarregada de definir, unificar e regular as relagGes de poder entre os membros da comunidade. Ora, com a privatizagio dos presidios, além de ficar bipartido o exercicio legitimo da violéncia fisica (dualidade entre o Poder Piiblico e o poder das empresas particulares), geran- do intranqiiilidade no grupo social, os direitos e deveres dos presididrios, ao invés de ficarem sob 0 controle e discus- séo de toda a sociedade organizada, cairiam sob 0 arbitrio de empresas par- ticulares de vigilancia e seguranga, inca- pazes por seu facciosismo e seu hermetismo de respeitar e rediscutir in- definidamente a delicada tensdo entre o império da lei penal e a pessoa que deve cumprir um certo gravame determinado pelo juiz. Em segundo, importa esclarecer a fi- nalidade que orienta a privatizagio dos presidios, pois é 0 fim visado em qual- 2 — DOUTRINA NACIONAL 115 quer obra a causa que prepondera sobre as demais. E consabido que a meta principal, sendo nica, de qualquer em- presa particular, em sistema social fun- dado no predominio do dinheiro, é o lucro. Disso no foge e nao pode fugir © caso das empresas particulares de vigilancia e seguranga, que, por mais que enaltecam 0 homem, sempre 0 conside- yam e tornam instrumento para a obten- G0 de lucros. No entanto, o fim da execugdo da pena ndo é sequer aciden- talmente o lucro, e, sim, a ressocializacio do apenado, da mesma forma como o fim da educagio publica nao é sequer aciden- talmente 0 enriquecimento patrimonial do Estado, mas a formacdo integral do cidadao. Logo, as penitencidrias particu- lares transtornariam 0 objetivo da execu- 40 penal, subordinando a reinsergao social do preso ao lucro que ele repre- senta, nao sé pela taxa paga pelo Estado, como também por ser, no interior do presidio, mao-de-obra barata, décil ¢ manipulavel. Nao se contra-argumente com o caso da escola particular, que, seguindo nosso raciocinio, também vi- sando © lucro, nem por isso, como o atestam varios exemplos, deixa de formar excelentes pessoas em seus bancos e curriculos. Aceita-se que a escola parti- cular busca 0 lucro; mas, diferentemente do que ocorre no presidio privatizado, ela € dia a dia vigiada e exigida pelos pai que, em contrapartida ao gasto dispendio- so com a educagio dos filhos, querem para estes uma formagdo sélida. Infeliz- mente, 0 presididrio ndo é 0 foco de atengo de muitos, de modo que a pe- nitencidria particular nunca seria cobrada quanto & ressocializagio do preso, per- manecendo obcecada pelo lucro. Enfim, em terceiro lugar, para repor a paz no grupo, afetado pelo crime, o Estado, apurada a respectiva autoria do delito, necessita tomar medidas severas para coibir a violéncia desencadeada pela irracionalidade do ato criminoso. Em caso contrario, 0 proprio pacto social estaria ameagado, uma vez que as pai- xées suscitadas pelo clamor das vitimas levariam, em progressao continua, a uma guerra entre todos os membros da comu- nidade, divididos em bandos favordveis a uma ou a outra parte do processo penal (ofendido e réu). Assim, o poder que executa a pena infligida pelo Magistrado deve ser neutro e imparcial, a fim de sustar na origem o desencadeamento daquelas violentas emogées, que poem em risco a sobrevivéncia da comunidade. Ora, a privatizagio dos presidios néo atende a tal cuidado, e bem poderia acontecer que a pressdo irrefletida das pessoas afetadas pelo delito influenciasse a administragao do instituto, forgando-a a um procedimento irregular contra o presididrio responsdvel pelo crime, Em sintese, a vinganga privada, de que a evolugéo da consciéncia juridica da humanidade logrou com grande e 4rduo esforco se libertar, ressurgiria ardilosa- mente com a privatizago dos presfdios. D) Resposta aos argumentos favord- veis a privatizacdio Ao primeiro (A.1), responde-se que 0 eventual menor custo da manutengao de um preso, em presidios privatizados, nio pode sobrepor-se aos pontos éticos refe- ridos na solugio da questo. A pessoa humana, qualquer que seja, esté acima, por sua dignidade, da ordem de seus atos e da ordem do mundo, e ndo se presta, pois, a ser instrumento de lucro para as empresas de vigilancia. Além disso, é discutivel 0 menor custo, j4 que em penitencidrias privatizadas, na América do Norte, houve necessidade de novas suplementages orcamentérias para co- brir o prejuizo das empresas particulares em seu oficio de execugio da pena criminal. ‘Ao segundo (A.2), pondera-se que a eficdcia af alardeada nao se verificou na prética de exemplos norte-americanos. Nem o mercado de trabalho absorveu os 116 REVISTA BRASILEIRA DE CIENCIAS CRIMINAIS — 7 egressos nem o indice de reincidéncia diminuiu.* Paralelamente, nesse pais, verificou-se que as prisées piiblicas con- seguiram um sucesso maior na reeduca- ¢40 do preso, bem como na politica de estimulé-lo & sindicalizagio no mundo obreiro, Ao terceiro (A.3), argui-se que a circularidade do problema penitenciério deve-se ao desinteresse da Sociedade em debaté-lo e acompanhé-lo nas possiveis solugdes. No caso brasileiro, pouco se faz para tomar efetiva a Lei da Execucio Penal, tardando o aparecimento e a ins- talagdo do Conselho da Comunidade (art. 80). Portanto, a privatizagéo agravaria esse desinteresse, circunscrevendo 0 pro- blema a um restrito segmento da socie- dade. ‘AO quarto (A.4), argumenta-se princi- palmente que nao hé dados bastantes para aquilatar o sucesso da APAC na reedu- cago do preso, manifestada no compor- tamento do egresso. Depois, ha criticas severas de inimeros religiosos e penitenciaristas a propésito do método apaqueano, 0 qual, se nao viola a liber- dade de crenga do recluso, a0 menos 0 induz a conformar-se exteriormente, sem convicedo pessoal, as rigidas normas de conduta, para daf tirar algum inconfessado proveito. Ao quinto (A.5), exibe-se a distingéo imprescindivel entre “criminoso” e “pre- sidiério”. Este encontra-se sob o duro jugo da lei — nem sempre justa em sua * Charles H. Logan, “Proprietary Prisions”, in The American prision: issues in research and policy, Lynne Goodstein Doris Layton Mackenzie orgs., Plenun Press, 1989. formulagao, aplicagiio e alcance — pa- gando com a perda de sua liberdade fisica 0 prego do ato anti-social. Por isso, © preso, ainda que de fato marginalizado pela Sociedade, nea est4 com direitos e deveres, e a ela aspira para retornar ao convivio familiar e comunitério. O cri- minoso ou bandido, entretanto, esta con- tra a lei e contra a Sociedade, a qual pode legitimamente prevenir-se da con- duta delituosa e a repelir quando ocorrer. Nesse sentido, quem est a cometer um crime, se bem possa ser visto no interior do grupo, nao The pertence por causa da quebra do vinculo de amizade para com seus semelhantes. Por conseguinte, a reclamagio das vitimas contra a assistén- cia aos presos no procede, por dois motivos: a) a prisio de alguém transmuda © suposto criminoso em presidiério, a quem a prépria Constituigdo assegura um tratamento humano para recuperé-lo. de sua falta; b) Nenhum presfdio é uma colénia de férias; ao contrério, na histéria peniten- ciéria brasileira, é voz assente que o cumprimento da pena se d4 com profun- do desprezo & dignidade fisica e moral do encarcerado. Por seu tumo, pelas razbes j4 indicadas, a privatizaciio torna- tia mais grave e fora do controle do Estado esse quadro aterrador. Bibliografia FARIA, José Eduardo — “Politicas Piblicas © Privatizagio — O caso do sistema prisional”, in Boletim da Procuradoria-Geral do Estado de Sao Paulo, Centro de Estudos, vol. 17, n, 8, ago/1993, verbete “Doutrina”, pp. 39-42. Wy

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