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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRIA

Qualidade de Vida
do doente com Cirrose Hepática

César António de Abreu Cardoso e Ferreira

Coimbra, Fevereiro de 2013


CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRIA

Qualidade de Vida
do doente com Cirrose Hepática

César António de Abreu Cardoso e Ferreira

Orientador: Luís Manuel de Jesus Loureiro, Professor Adjunto, Escola Superior de


Enfermagem de Coimbra, Ph.D.

Co-orientador: Carlos Melo Dias, Professor Adjunto, Escola Superior de Enfermagem


de Coimbra, RN, MSN

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra


para obtenção do grau de Mestre em
Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria

Coimbra, Fevereiro de 2013


Agradecimentos

Pretendo aqui agradecer a todos aqueles que apoiaram a elaboração deste trabalho
de investigação.

À minha namorada, pela compreensão, amizade, carinho, amor e comparência em


todas as circunstâncias de maior contrariedade deste percurso.

Aos meus pais, à minha irmã e aos meus avós, pelo ânimo, alento, amor e coragem
participados ao longo desta caminhada.

Ao Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Luís Loureiro,


por toda a contribuição na orientação, conselhos e ensinamentos dispensados ao
longo da execução deste trabalho de investigação.

Ao Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Carlos Melo


Dias profundamente grato pela oportunidade da sua co – orientação, pela mais-valia
das suas sugestões e exigência, pelas suas palavras sábias de apoio, paciência,
cuidado e incentivo, bem como pela oportunidade de me fazer engrandecer enquanto
investigador e pessoa.

Ao Professor Doutor Carlos Sofia Director do Serviço de Gastroenterologia dos


Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
pela simpatia, disponibilidade e interesse pelo trabalho de investigação realizado.

Ao Enfermeiro José Luís Nina, Enfermeiro Chefe do Serviço de Gastroenterologia A


dos Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra.

À equipa médica do Serviço de Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de


Coimbra – Centro Hospitalar e universitário de Coimbra, em especial ao Dr. Nuno
Almeida e ao Dr. Carlos Gregório.

À equipa de enfermagem do Serviço de Gastroenterologia A dos Hospitais da


Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
Um agradecimento especial ao doente que respondeu às entrevistas e ao questionário
e à cuidadora informal que respondeu às entrevistas, sem os quais não teria sido
exequível efectuar este trabalho de investigação.

A todos aqueles que directa ou indirectamente, permitiram a realização deste trabalho


de investigação.
Resumo

A cirrose hepática como doença crónica e irreversível, constitui um sério problema de


saúde, por ser responsável por elevados índices de morbilidade e mortalidade, e
internamentos repetitivos.
O estudo da Qualidade de Vida nos doentes com cirrose hepática é essencial e
merece profundos e importantes focos de atenção para a prática de enfermagem, no
sentido de conhecer o doente, perceber as suas perspectivas e os seus desejos
relacionados com a sua doença e o seu bem-estar aquando do seu internamento no
Serviço de Gastroenterologia A.
Assim qual o impacto da cirrose hepática originada por alcoolismo crónico na
Qualidade de Vida do homem adulto internado em cuidados diferenciados
hospitalares?
Este estudo de caso foi elaborado com o intuito de pretender descrever o impacto que
a cirrose hepática originada por alcoolismo crónico, tem na Qualidade de Vida do
doente. Para este estudo de caso, a amostra foi constituída por um doente do sexo
masculino, com hábitos etílicos (alcoolismo crónico), internado com o diagnóstico de
cirrose hepática, tendo já mais de um internamento hospitalar, caucasiano, com 49
anos de idade.
Foi incluído neste estudo de caso a cuidadora informal do doente.
Na recolha de dados foi utilizada a entrevista semi-estruturada onde foi avaliado o
exame mental ao doente, o questionário WHQoL Bref e o Model for End-Stage Liver
Disease (MELD).
Resultante deste estudo, em termos qualitativos verificou-se que a cirrose hepática
provocou alterações ao nível da dependência nas necessidades humanas
fundamentais, diminuindo a Qualidade de Vida do doente, sendo comprovado pelo
Questionário WHOQoL – Bref, em termos quantitativos foi aplicando o Model for End-
Stage Liver Disease (MELD), onde se averigua que o doente apresenta uma taxa de
mortalidade de 19,6%, se não for submetido a um transplante hepático no prazo de
três meses.

Palavras-Chave: Cirrose Hepática, Alcoolismo, Qualidade de Vida, Enfermagem


Abstract

Liver cirrhosis as a chronic and irreversible disease is a serious health problem, being
responsible for high rates of morbidity and mortality, and repetitive hospitalizations.
The study of life quality in patients with liver cirrhosis is essential and deserves
profound and important focus for the practice of nursing, with the intention of knowing
the patient, to understand their perspectives and desires related to their illness and well
being in his hospitalization in the Gastroenterology A Ward.
So what is the impact of liver cirrhosis caused by chronic alcoholism on Life Quality of
an adult man admitted to a differentiated care hospital?
This case study was developed in order to describe the impact that cirrhosis caused by
chronic alcoholism has on life quality of a patient. For this case study, the sample
consisted of one caucasian male patient, 49 years of age, with ethyl habits (chronic
alcoholism) that was admitted with a diagnosis of liver cirrhosis, having already more
than one hospitalization.
In this case study, the informal caregiver of the patient was included.
The data collection was a semi-structured interview which assessed the mental
examination of the patient, the WHQoL Bref questionnaire and Model for End-Stage
Liver Disease (MELD).
In qualitative terms, it was found with this study, that liver cirrhosis caused alterations
concerning the dependence level in basic human needs, reducing life quality of the
patient as confirmed by WHOQoL Questionnaire - Bref, in quantitative terms the Model
for End -stage liver Disease (MELD) was applied, which ascertains that the patient has
a mortality rate of 19.6%, if not undergone for an liver transplant within three months.

Keywords: Liver Cirrhosis, alcoholism, Life Quality, Nursing


Índice

Resumo .......................................................................................................................... 14

Abstract .......................................................................................................................... 15

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10

1.1 – Conceito ....................................................................................................... 16

1.2 – Avaliação da Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde .............. 24

2.1 – Conceito ........................................................................................................... 37

2.2 – Aspectos Epidemiológicos ............................................................................ 44

2.3 – Etiologia ........................................................................................................... 46

2.3.1 – Factores Biológicos ................................................................................ 47

2.3.2 – Factores Psicológicos ............................................................................ 49

2.3.3 – Factores Ambientais ............................................................................... 52

2.4 – Síndrome da Dependência Alcoólica .......................................................... 53

2.5 – Consequências do Síndrome de Alcoolismo Crónico .............................. 57

3.1 – Conceito ........................................................................................................... 64

3.2 – Etiologia ........................................................................................................... 71

3.3 – Manifestações Clínicas .................................................................................. 72

3.4 - Diagnóstico ....................................................................................................... 72

3.5 – Tratamento Médico e de Enfermagem ....................................................... 75

3.6 - Complicações .................................................................................................. 79


3.7– Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde e Cirrose Hepática ......... 81

4.1 – Tipo de Estudo ................................................................................................ 85

4.2 – Questão de Investigação e objectivos do estudo...................................... 86

4.3 – Critérios da Selecção da Amostra ............................................................... 87

4.4 – Instrumentos de Colheita de Dados ............................................................ 88

4.5 – Considerações Éticas .................................................................................... 93

5.1 – Apresentação dos Resultados ..................................................................... 95

5.1.1 – Identificação do doente .......................................................................... 96

5.1.2 – História Clínica do doente...................................................................... 96

5.1.3 – Exame do estado Mental ....................................................................... 98

5.1.4 – Resultados das entrevistas relacionadas com o Modelo Teórico de


Virgínia Henderson ............................................................................................ 106

5.1.5 – Resultados relativos à aplicação da Escala MELD ......................... 110

5.1.6 – Resultados relativos à aplicação do questionário WHOQoL - Bref


............................................................................................................................... 111

5.2 – Análise e Discussão dos Resultados ........................................................ 114

5.3 – Elaboração de Plano de Cuidados de Enfermagem .............................. 118

Conclusão .................................................................................................................... 160

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 164

ANEXOS ...................................................................................................................... 172

ANEXO 1 - Guião de Entrevista e Questionário Sócio-demográfico

ANEXO 2 – Formulário do Exame Mental do Serviço de Psiquiatria Homens dos


Hospitais da Universidade de Coimbra - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
ANEXO 3 - Questionário World Health Organization Quality of Life Bref (WHOQoL
Bref)

ANEXO 4 - Consentimento Informado ao doente e Consentimento Informado ao


cuidador informal

ANEXO 5 - Parecer de Ética à Comissão da Unidade de Investigação em Ciências Da


Saúde: Domínio de Enfermagem (UICISA-SE) da Escola Superior de Enfermagem de
Coimbra

ANEXO 6 - Parecer de Ética ao Departamento de Educação e Investigação dos


Hospitais da Universidade de Coimbra - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

ANEXO 7 - Transcrição das entrevistas ao doente e à cuidadora informal


INTRODUÇÃO

A cirrose hepática como doença crónica e irreversível constitui um sério problema de


saúde, por ser responsável por elevados índices de morbilidade e mortalidade, e ainda
por implicar internamentos repetitivos.
As limitações do indivíduo com cirrose hepática, tendem a engrandecer com gravidade
a vários níveis, tornando-a numa pessoa dependente de terceiros, na satisfação das
suas necessidades humanas fundamentais, exigindo um maior suporte de cuidados,
tornando a Qualidade de Vida deste comprometida.
O alcoolismo crónico deve ser considerado uma doença multissistémica, uma vez que
leva a alterações não só a nível de órgãos, mas igualmente a nível dos sistemas, tais
como: o sistema digestivo (em especial o fígado), o sistema nervoso central e
periférico, o sistema locomotor e o sistema cardiovascular. O fígado torna-se um
verdadeiro órgão-alvo da toxicidade alcoólica como refere Sofia (1988), pelas suas
inúmeras funções, onde se inclui a metabolização do álcool. Existem três patologias
clássicas da doença hepática alcoólica: a esteatose hepática, a hepatite aguda
alcoólica e a cirrose hepática. De acordo ainda com o mesmo autor, complementando
o que mencionou anteriormente, descreve que o consumo regular de álcool leva a
esteatose hepática (fígado gorduroso), evoluindo posteriormente para hepatite
alcoólica, e finalmente para cirrose e falência hepática. A cirrose hepática é o
resultado final de anos de agressões ao fígado, sendo caracterizada pela substituição
do tecido hepático normal por nódulos e tecido fibroso, emergindo assim dois
importantes distúrbios – a insuficiência hepática e a hipertensão portal. A primeira
manifesta-se essencialmente por icterícia, hipoalbuminémia e diminuição da
protombina, enquanto a segunda caracteriza-se por uma circulação colateral externa e
interna que dá origem às varizes esofágicas e gástricas. A insuficiência hepática e a
hipertensão portal são ainda responsáveis pela ascite e pela encefalopatia hepática.
Ainda segundo este mesmo autor, a cirrose hepática classifica-se, do ponto de vista
clínico, em duas formas: compensada e descompensada. A forma compensada não
apresenta grandes sintomas e pode passar despercebida durante anos, já na forma
descompensada, os sinais e sintomas são evidentes e graves.
O estudo da Qualidade de Vida relacionada com a Saúde, segundo Ribeiro (1998),
tornou-se objecto de estudo na investigação clínica, na última década, tornando-se
numa área envolvente e desafiante para o campo da investigação.

10
A cirrose hepática em Portugal, ocupa um dos lugares mais elevados dos países da
Europa. As taxas de mortalidade por cirrose hepática eram segundo Morais (2000), de
26,9/100.000 habitantes, a que correspondiam 39,3% para os homens e 15,1% para
as mulheres. Em 2007, Rui Marinho, da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia,
mencionava que cerca de 2000 portugueses morrem anualmente com cirrose
hepática, em que o álcool é de longe, a principal causa de cirrose hepática.
Segundo Martin et al (2002, pág. 81), este enuncia que: “O consenso na literatura é
que a presença de doença crónica hepática cria uma redução na relação entre saúde
e qualidade de vida”.
De acordo com Wells et al (2004), os estudos e as investigações da Qualidade de Vida
relacionada com a Saúde, têm surgido com maior ênfase nos últimos anos nas áreas
da Hepatologia e da Gastroenterologia, de facto nestas áreas a avaliação da
Qualidade de Vida torna-se importante para os doentes com cirrose hepática devido à
escassez de terapias que tendem a melhorar a sobrevida destes doentes, salvo como
excepção o transplante hepático. Ainda de acordo com os mesmos autores, o impacto
que a cirrose hepática possui na Qualidade de Vida depende da fase em que se
encontra a doença, se numa fase compensada e assintomática ou irremediavelmente
na fase descompensada onde vai existir o profundo detrimento da Qualidade de Vida,
cujos sintomas mais frequentes são: fadiga, prurido, fraqueza muscular, anorexia,
náusea e dor. Deve-se agregar contudo a estes sintomas, as complicações
debilitantes como: a disfunção hepatocelular e a hipertensão portal descompensada,
as quais se manifestam, num estadio avançado da cirrose hepática. Estes sintomas e
complicações associadas a uma elevada morbilidade e mortalidade representam
efeitos nefastos nos doentes em termos de saúde e de actividade social.
Toda a investigação surge no seu momento de partida com uma situação problemática
a qual necessita de ser respondida, essa problemática reivindica que seja dada uma
justificação ao fenómeno observado, deste modo e conforme menciona Adebo (1974
citado por Fortin 1999, pág. 48) “Um problema de investigação, é uma situação que
necessita de uma solução, de um melhoramento ou de uma modificação”.
No sentido de se puder formular uma questão de investigação é essencial, de acordo
com Fortin (1999), seleccionar um domínio ou um assunto que descreva a
problemática da investigação, para que se possa estruturar deste forma uma questão,
que irá orientar qual o tipo de investigação segundo a qual o investigador enveredará e
puder transmitir deste modo uma interpretação do fenómeno estudado.
Ao trabalhar no Serviço de Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de
Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, confronto-me com doentes,
no meu dia-a-dia da prestação de cuidados de enfermagem na enfermaria, os quais

11
apresentam o diagnóstico de cirrose hepática. Um dos factores que conduz ao
surgimento desta doença resulta do consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Observo que de internamento para internamento, estes doentes exibem uma
deterioração quer física, quer psíquica, cada vez mais acentuada, tornando-os
dependentes na satisfação das suas necessidades humanas fundamentais e em que
os cuidados de enfermagem tornam-se assim essenciais a estes doentes, no intento
de os ajudar ao cumprimento das actividades, que contribuem para a saúde ou para a
recuperação e que os referidos doentes realizariam sem auxílio, caso possuíssem
energia, determinação ou os conhecimentos fundamentais para os quais os torná-los-
ia independentes tão rapidamente quanto possível, na satisfação das suas
necessidades humanas fundamentais, conforme é descrito por Alligood e Tomey
(2004). Ainda segundo as mesmas autoras e suportado pelo Modelo Teórico de
Enfermagem de Virgínia Henderson, é figurado ser este o principal objectivo dos
cuidados de enfermagem, ou seja, as catorze necessidades humanas fundamentais
do doente, sustentadas por Virgínia Henderson, apreendem os componentes
essenciais dos cuidados de enfermagem. O doente é visto como um ser humano que
precisa de ajuda para obter a independência e neste sentido Virgínia Henderson
menciona que a saúde é uma Qualidade de Vida, a qual reclama independência, a
qual se torna indispensável à vida humana.
No processo do cuidar, não pode ser ignorado o papel do cuidador informal e da
interacção enfermeiro/ cuidador informal, no processo evolutivo da cirrose hepática do
doente, quer no internamento, quer posteriormente no domicílio.
Para Guedes (2000), os cuidadores informais são definidos como as pessoas que se
encarregam de indivíduos com insuficiências funcionais e com perdas de
independência. Desta forma, os familiares, os amigos ou mesmo os vizinhos são
designados a assumirem-se como principais responsáveis pela prestação de cuidados
à pessoa dependente. Estes tornam-se neste âmbito essenciais e indispensáveis na
satisfação das necessidades humanas fundamentais e no bem-estar do doente.
Segundo Born (2006), o cuidador informal é o indivíduo que desempenha a função de
cuidar de pessoas dependentes numa relação de contiguidade física e afectiva, o
cuidador informal pode ser desde um familiar, até um profissional especializado. O
papel do cuidador informal refere-se particularmente ao auxílio nas necessidades
humanas fundamentais.
Assim no intuito de estudar a pessoa, a circunstância e a clínica do doente aquando
do seu internamento perante as vertentes: Qualidade de Vida e cirrose hepática,
estabelece-se a seguinte questão de investigação:

12
Qual o impacto da cirrose hepática originada por alcoolismo crónico na Qualidade de
Vida do homem adulto internado em cuidados diferenciados hospitalares?

Perante a questão de investigação, que serve de base para o trabalho de investigação


que será elaborado, apresentam-se de seguida os objectivos, que decorrem da
questão de investigação anteriormente formulada:

Avaliar a Qualidade de Vida de um doente com cirrose hepática, originada por


alcoolismo crónico;

Descrever o impacto que a cirrose hepática tem na Qualidade de Vida do doente com
cirrose hepática;

Perceber o impacto que a cirrose hepática originada por alcoolismo crónico possui no
quotidiano do doente;

Compreender o impacto que a cirrose hepática tem na relação doente/ cuidadora


informal.

Depois de serem apresentados o problema de Investigação e a questão de


Investigação, bem como os objectivos propostos de forma a articular e construir uma
resposta à questão de investigação, o tipo de estudo que mais se adequa a este, é um
estudo descritivo e exploratório, mais especificamente um estudo de caso, deste modo
e de acordo com Fortin (1999), um estudo de caso baseia-se numa investigação
aprofundada de um indivíduo, para deste modo responder às interrogações sobre um
acontecimento. Este tipo de estudo tem como base uma descrição e uma análise em
profundidade dos diferentes elementos do fenómeno, o que vai de encontro aos meus
objectivos de estudo e à minha problemática de investigação.
O investigador que orienta a sua investigação através do método qualitativo preocupa-
se com a compreensão absoluta e abrangente do fenómeno em pesquisa. Ainda de
acordo com a mesma autora (1999, pág. 22). “…observa, descreve, interpreta e
aprecia o meio e o fenómeno tal como se apresentam, sem procurar controlá-los. O
objectivo desta abordagem de investigação […] é descrever ou interpretar, mais do
que avaliar”.
O estudo da Qualidade de Vida nos doentes com cirrose hepática é essencial e
merece profundos e importantes focos de atenção para a prática de enfermagem, no
sentido de conhecer o doente, perceber as suas perspectivas e os desejos

13
relacionados com a sua doença e o seu bem-estar aquando do seu internamento no
Serviço de Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro
Hospitalar e Universitário de Coimbra.

14
PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

15
CAPÍTULO I – Qualidade de Vida

1.1 – Conceito

O Conceito de Qualidade de Vida é um assunto que tem sido debatido nas últimas
décadas, o qual tem sido exposto sob diversos panoramas. Já desde a Antiguidade
que pensadores como Platão e Aristóteles estudaram a noção de bem-estar. O culto
da boa forma física que se instruía nas antigas civilização grega e romana tinha como
propósito o bem-estar e a saúde dos indivíduos.
Neste pressuposto Venâncio (2005 citado por Gonçalves 2010), menciona que a
importância acerca da Qualidade de Vida, subsiste desde tempos longínquos, no
entanto, a sua aplicabilidade no nosso dia-a-dia, bem como a sua avaliação metódica
e científica é uma matéria relativamente nova.
Como é mencionado por Wood-Dauphinee & Kuchler (1992, citado por Pedro 2010), a
representação sobre Qualidade de Vida foi iniciada por volta do ano 1920, tendo sido
associada nessa altura à ideia de democracia e dos direitos dos trabalhadores, bem
como ao bem-estar dos indivíduos e à melhoria das condições de trabalho, de forma a
proporcionar uma melhor Qualidade de Vida aos trabalhadores.
No Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 1994),
é mencionado que até ao século XX, a Qualidade de Vida era considerada, nas várias
áreas científicas, como o produto da aptidão humana na utilização em absoluto das
suas potencialidades: económicas, culturais, sociais e políticas para que neste sentido
a sociedade pudesse evoluir em equilíbrio, com o respeito pelo direito à vida (Ribeiro
1994).
No entanto a noção de Qualidade de Vida foi abandonada durante várias décadas,
emergindo novamente na década de 60, conforme é relatado por Pedro (2010),
realçando que a importância da Qualidade de Vida para a investigação científica surge
nos anos 60, engrandecendo em popularidade com o progresso das economias do
pós-guerra, nomeadamente a nível dos países desenvolvidos, tudo isto levou á
necessidade de se estudar em profundidade o tema e desenvolver medidas que
pudessem qualificar a Qualidade de Vida.
No ano de 1964, como recorda Bech (1993, citado por Pedro 2010), Lyndon Johnson
esclarece a existência de metas, as quais não podem ser estabelecidas tendo em

16
conta unicamente os rendimentos bancários, na medida em que existem outras
dimensões da Qualidade de Vida que se tornam fundamentais para os indivíduos. O
movimento ecologista Os Verdes indo em linha de conta a sua filosofia, sustentou em
diversos panoramas políticos designadamente no Clube de Roma a perspectiva
ecológica da Qualidade de Vida.
O princípio do modelo de avaliação sobre Qualidade de Vida, conforme é relatado por
Ribeiro (1994), surge no relatório da Comission on National Goals, imposto pelo
Presidente Eisenhower. Ainda de acordo com o mesmo autor é na década de 70 que
emergem os estudos sobre a especificidade da Qualidade de Vida, em que se
enaltecem três estudos pela complementaridade com que descrevem este tema,
sendo eles: o de Liu (1975), o de Campbel, Converse e Rodgers (1976) e o de
Flanagan (1982).
Legitimando o que foi dito anteriormente Fries e Spitz (1990, citado por Ribeiro 1998,
pág. 172), expõe que: “A partir da década de 70 o conceito de Qualidade de Vida
entrou nos ambientes tradicionais de doença, tomando sentidos parecidos com o de
saúde”.
Assim e de acordo com Liu (1975 citado por Ribeiro 1994), a avaliação da Qualidade
de Vida deveria ter em conta indicadores, em que cada um desses indicadores estaria
acompanhado por variáveis quantificáveis, no pressuposto de serem:
 Razoavelmente gerais no sentido de puderem abranger toda a população;
 Facilmente inteligíveis;
 Bastante maleáveis para que pudessem abraçar os vários estilos de vida em
distintos lugares e diversos momentos;
 Ajustáveis às circunstâncias: sociais, políticas, económicas e físicas em
transformação, próprias de sociedades activas;
 Abertas à averiguação, admitindo princípios científicos reconhecidos;

Segundo este mesmo autor a Qualidade de Vida possuía duas vertentes: a subjectiva
(psicológica) e a objectiva (ambiental, social, económica).
No entanto uma das análises mais conhecidas sobre o tema da Qualidade de Vida, foi
realizada por Campbel, Converse e Rodgers (1976 citado por Ribeiro 1994), tratando-
se de uma exposição sobre um estudo da população americana com mais de 18 anos,
onde se pretendia documentar e auxiliar a percepção sobre determinadas experiências
que descreviam a Qualidade de Vida dos indivíduos e donde se concluiu que embora
o individuo se enquadre dentro de um meio ambiente objectivo, este é percebido como
sendo um ambiente subjectivo, assim sendo, a apreciação que o indivíduo assimila

17
das particularidades de um domínio específico, vai depender da sua percepção em
consonância com essas singularidades tendo como comparação os modelos pessoais.
Um proceder distinto para identificar as propriedades da Qualidade de Vida foi
utilizado por Flanagan (1982 citado por Ribeiro 1994), beneficiando da técnica dos
incidentes críticos, para que deste modo pudesse identificar os domínios que
envolveria a delineação da Qualidade de Vida, a aplicação desta técnica compreendia
um agregado de situações verdadeiras e hipotéticas, em que os indivíduos
entrevistados apontavam os aspectos que para si eram os mais marcantes na sua
vida.
A Qualidade de Vida é referida por Ware (1987 citado por Ribeiro 1998), como um
conceito muito mais alargado do que o de saúde, em que esta simultaneamente com
outros elementos é um dos indicativos aplicados para avaliar aquela.
Por outro lado Fries e Spitz (1990 citado por Ribeiro 1998), relatam que numa
contextura clínica, as noções de Qualidade de Vida e saúde encontram-se
normalmente utilizadas de uma forma sobreposta, em que a saúde poderá ser
encarada como uma medida de Qualidade de Vida numa determinada eventualidade
particular.
No entanto Sirgy (2002 citado por Ribeiro 2005), entende a concepção de Qualidade
de Vida dentro da noção mais ampla de bem-estar subjectivo, em que de acordo com
a linha de pensamento ostentado por este auto,r o termo bem–estar subjectivo é
usado para descrever os aspectos subjectivos da Qualidade de Vida, como sejam: a
felicidade, a satisfação com a vida e a Qualidade de Vida obtida, neste sentido é feita
a distinção entre felicidade e satisfação, uma vez que o primeiro é uma noção afectiva,
enquanto o segundo é um conceito cognitivo.
Outra noção de Qualidade de Vida é mencionada por Churchman (1992), a qual é
denominada como o juízo de carácter subjectivo do indivíduo, sobre o grau com que
as suas necessidades se encontram saciadas nas diversas vertentes que compõem a
sua vida, englobando-se nessas vertentes: o grau de auto realização, a vida social e
familiar, a saúde, a habitação, o nível de rendimentos, a segurança pessoal, a
qualidade do ambiente, a justiça social, a igualdade e a situação laboral. Embora de
acordo com esta perspectiva a Qualidade de Vida seja encarada como um juízo
subjectivo, segundo esta mesma autora, é exequível a sua definição em termos
genéricos de necessidades e interesses compartilhados, deste modo podem-se
distinguir grupos de indivíduos com características comuns, patentes nas suas
necessidades, tais como: o género, a etapa do ciclo de vida, o estatuto
socioeconómico e a etnia.

18
Dentro desta noção exposta pelo autor anteriormente referenciado, Ferrans & Powers
(1993 citado por Gonçalves 2010) argumentam que os valores de cariz cultural, étnico
e religioso estabelecem a maneira de avaliar a Qualidade de Vida, neste propósito, os
indivíduos ao serem diferentes uns dos outros, possuem valores dissemelhantes,
levando a que estas desigualdades contribuam nas diversas formas de avaliar a
Qualidade de Vida. Ainda de acordo com os mesmos autores, constata-se que a
subjectividade em que o conceito é envolto, não se relaciona unicamente com os
valores, mas igualmente com os interesses, expectativas, experiências prévias e
contingências que envolvem o indivíduo.
Numa denominação poética do conceito descrito por Couvreur (1999, pág. 12) “Trata-
se portanto de um olhar […]. Daquele olhar que se tem sobre a vida. Um olhar pode
quebrar todo o impulso…ou um olhar, tal como uma varinha mágica, pode transformar
o momento mais insignificante num momento raro e precioso. Ter tempo para
saborear a vida, ter-se-ia dito antigamente. Agora fala-se mais de proteger a
Qualidade de Vida”. O indivíduo aquando da sua procura pela felicidade e como
consequência de uma boa Qualidade de Vida, deve descortinar um momento de
equilibro harmonioso entre o que é fundamental e o que é agradável, surgirá destes
pressupostos a energia necessária ao indivíduo. De facto é ela que na maioria das
vezes transmitirá o optimismo indispensável para superar as adversidades da vida,
especialmente quando o indivíduo estiver em crise, deste modo a Qualidade de Vida
não é um fim em si mesmo, mas sim um meio. Ainda de acordo com a mesma autora,
a Qualidade de Vida tem importância para a saúde, na medida em que adquire
eficazes soluções comportamentais (comida saudável, exercício físico, medicação
apropriada ao estado de saúde), existindo também a intervenção de respostas
internas (reacções visuais, auditivas e somato – sensoriais). Deste modo a Qualidade
de Vida pode ser aperfeiçoada, contribuindo para esse efeito um melhor
aproveitamento dos sentidos e do pensamento positivo.
A Qualidade de Vida foi encarada por Taveira (1999), como uma concepção
multidimensional de bem-estar físico, mental e social, tal como é vista por cada
indivíduo, ou conjunto de indivíduos, onde são abrangidos o conceito de vida como:
saúde, trabalho, família e estado emocional.
De acordo com Lima (2002 citado por Matos 2007), surgem múltiplos modelos que se
encontram subjacentes ao conceito de Qualidade de Vida, evidenciando-se no entanto
os seguintes:
 O Modelo Psicológico, no qual o doente tem a percepção de como a doença
provoca incapacidades, as quais influenciam a sua Qualidade de Vida, deste
modo o seu estado psicológico não se pode dissociar do seu estado físico;

19
 O Modelo Teórico de Beck, em que neste âmbito a Qualidade de Vida
encontra-se estreitamente relacionada com a intensidade de desconforto
psicológico que o indivíduo apresenta. Este modelo enaltece a condição
psicológica, sendo enfatizado o estado psíquico, o carácter subjectivo e o
intuito de cuidar;

 O Modelo de Utilidade analisa a circunstância de o doente apostar em


determinado procedimento, com o desígnio de uma perspectiva de poder viver
melhor. Nesta linha de pensamento o doente age numa preferência entre a
qualidade e a quantidade de vida;

 O Modelo baseado nas Necessidades do Indivíduo defende que a vida


alcança qualidade tendo em conta as capacidades e as competências do
indivíduo em contentar as suas necessidades;

 O Modelo de Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde perspectiva que a


doença se torna num problema quando interfere na aptidão de desempenho,
assim a saúde surge como o elemento que mais influencia a Qualidade de
Vida;

O significado de Qualidade de Vida na perpectiva de Leal (2008), não é tarefa simples,


na medida em que se trata de um conceito, lato, ambíguo, volúvel, que se modifica de
cultura para cultura, de período para período e de indivíduo para indivíduo e mesmo
no que diz respeito ao indivíduo, este conceito altera-se com o decorrer do tempo, na
medida em que uma Qualidade de Vida auspiciosa hoje poderá não ter sido ontem,
nem quer dizer que o seja amanhã. Assim sendo, a noção de Qualidade de Vida
encontra-se estreitamente ligada com a percepção que o indivíduo tem de si e do
mundo que o rodeia, podendo ser avaliada segundo critérios adequados como: a
educação, a formação, a actividade profissional, a resiliência individual, as
competências alcançadas, o optimismo, a saúde e as necessidades pessoais. Convém
salientar que cada um destes critérios é enaltecido de forma individual, tendo em conta
os sequentes aspectos: físico, psicológico, social, económico, cultural e espiritual, com
que o individuo se depara. Ainda de acordo com a mesma autora, o conceito da
Qualidade de Vida tem evoluído ao longo do tempo, tornando-o num parecer cada vez
mais complexo, o qual tem sido avaliado sobre diversas perspectivas:
 Na Perspectiva Biológica – a Qualidade de Vida não só é estimada como a
percepção que o indivíduo possui relativamente à sua condição física, mas

20
também à capacidade real, que este detém, no intuito de realizar determinadas
tarefas que realizava sem dificuldades antes de se ter instaurado uma
mudança no seu estado de saúde;

 Na Perspectiva Cultural – a noção de Qualidade de Vida encontra-se


estritamente ligada com a educação do indivíduo na sua infância, pois trata-se
de uma etapa em que os pais difundem aos filhos hábitos e valores que vão de
encontro ao meio cultural onde estão inseridos, exemplos disso são: o tipo de
vestuário e de que como se deve utilizar, o padrão de relacionamento social, os
costumes religiosos. Esta realidade vai preponderar futuramente no tipo de
personalidade da criança, que quando for adulta irá adoptar os mesmos estilos
de vida que os seus pais tiveram;

 Na Perspectiva Económica – a Qualidade de Vida advém da situação


financeira e dos bens materiais que o indivíduo detém, bem como dos
sentimentos que a eles se encontram associados. No que diz respeito a este
aspecto existem indivíduos que consideram ter uma boa Qualidade de Vida
apesar de terem um fraco suporte financeiro, enquanto outros referem uma má
Qualidade de Vida apesar de conterem um bom sustentáculo financeiro;

 Na Perspectiva Psicológica – a Qualidade de Vida deriva na sua plenitude da


personalidade de cada indivíduo. Nesta perspectiva a Qualidade de Vida é tida
como auto-estima e respeito pelo próximo, como o saber superar as
contrariedades da vida, conservando o equilíbrio mental, ter ética, ter boas
perspectivas sobre o futuro e saber conservar as relações sociais;

O conceito de Qualidade de Vida, conforme referenciado por Bolander (1998 citado


por Martins 2009), pode ser enquadrado em cinco categorias, que seguidamente se
descrevem:
 Vida Normal - baseia-se no indivíduo que não contenha a incapacidade do
indivíduo doente. Contudo torna-se difícil definir o conceito de normal e
entender a importância que o indivíduo impõe a aspectos singulares da vida
encarada de "normal";

 Felicidade e Satisfação - estas categorias encontram-se relacionadas, apesar


de os conceitos não serem sinónimos. A felicidade diz respeito a sentimentos a

21
curto prazo das condições de vida, enquanto a satisfação consiste num juízo
lógico a longo prazo das condições de vida, nesta perspectiva a Qualidade de
Vida, depende da percepção que cada indivíduo conclui da sua situação;

 Realização de Objectivos Pessoais - a execução de alguns objectivos


específicos tendo em consideração o seu sucesso ou não, das experiências
individuais intrínsecas ao procedimento, são os que se mostram com
ponderação para o indivíduo e não os objectivos genéricos;

 Utilidade Social – neste sentido a Qualidade de Vida abrange o carácter prático


que a vida do indivíduo assume na sociedade em que vive. São conferidos
valores positivos a papéis como o de pai, estas enunciações não têm a mesma
interpretação numa sociedade pluralista, em que o socialmente relevante é
fortuito aos vários papéis exercidos;

 Capacidade Natural - focaliza as competências efectivas e potenciais do


indivíduo, tanto a nível físico como mental. Estas definições podem ser úteis ou
não, aquando ou não, das opções do tratamento a ser submetido por parte do
indivíduo;

A Qualidade de Vida é contemplada em áreas tão diversas como a medicina, as


ciências sociais e a filosofia, resultante deste facto surdem variadas perpectivas do
conceito, o qual é empregue sobre diferentes interpretações, como refere Hayry (1999
citado por Pedro 2010), surgindo três filosofias divergentes no sentido de avaliar a
Qualidade de Vida:
 Baseada na santidade da vida, sendo consagrado neste modelo que a vida
humana é sagrada, neste sentido a avaliação da Qualidade de Vida torna-se
pouco ética e pouco relevante em termos clínicos, pois o resultado fundamental
para este modelo é o de proporcionar o maior número de anos de vida possível
ao indivíduo;

 Baseada na eficiência científica, em que neste sentido a avaliação da


Qualidade de Vida é efectuada segundo uma perspectiva científica na qual são
valorizados os aspectos que enaltecem a eficácia e a imparcialidade do

22
sistema, deste modo é facilitada a resolução referente à partilha de recursos.
De acordo com este modelo torna-se alargada a objectividade da avaliação;

 Baseada no respeito pela autonomia humana, em que de acordo com este


ponto de vista valoriza-se a autodeterminação pessoal. Deste modo a
Qualidade de Vida, é assumida como o que cada indivíduo a considera ser.
Este modelo é o que mais se aproxima do que é defendido pelos profissionais
de saúde;

Através de outra abordagem filosófica, Brock (1993, citado por Pedro 2010), a
Qualidade de Vida é inscrita em três teorias genéricas, as quais referenciam o que é
benéfico para o indivíduo e o que é bom para a vida, essas teorias são:
 Teoria Hedonista – encara como uma experiência convicta de bem-estar e
contentamento a noção de sucesso;

 Teoria da Satisfação Preferencial – sustenta que é essencial a satisfação dos


desejos aqui e agora;

 Teorias Idealistas – consideram práticas que sejam benéficas para a vida,


aquelas que estão apoiadas nas ideias normativas;

O conceito de Qualidade de Vida tem sido utilizado na linguagem comum e na


pesquisa científica em várias áreas do conhecimento, como são exemplos: a
enfermagem, a economia, a sociologia, a educação e a psicologia, de facto e
conforme afirma Ribeiro (2005, pág. 94), “…Qualidade de Vida tornou-se um conceito
popular, que faz parte da linguagem do homem comum, dos especialistas ao leigo, de
gente culta ou inculta. Todos e cada um sabem o que é a Qualidade de Vida.” Ainda
segundo o mesmo autor, este afirma que, diversos autores contextualizam a
Qualidade de Vida ligando-a ao sector da saúde, no entanto tratando-se de um
conceito recente, nomeadamente no que diz respeito ao campo da saúde, encontra-se
ainda numa fase de clarificação, aceitação e integração, deste modo é frequente
presenciarmos várias interpretações no sentido de aclarar o conceito de Qualidade de
Vida.
A Qualidade de Vida surge da reflexão de como os indivíduos actuam perante o seu
estado de saúde levando em linha de conta equitativamente outros aspectos não
clínicos da sua vida (Gil e Feinstein 1994 citado por Silva 2010).

23
A Qualidade de Vida contém determinadas características como a subjectividade, a
qual é designada como pessoal na medida em que se baseia no que o doente relata, é
dinâmica e é multidimensional (Grant & Rivera 1998 citado por Gonçalves 2010).
Os objectivos e as predilecções do indivíduo devem ser naturalistas, neste sentido é
lógico que se alterem ao longo dos anos, influenciados pela idade e pela experiência,
tornando-se assim imprescindível que no intento de melhorar a Qualidade de Vida,
seja essencial atenuar a desigualdade entre a situação presente e os objectivos
individuais (Pimentel 2003 citado por Gonçalves 2010). Ainda de acordo com o mesmo
autor, a avaliação da Qualidade de Vida dos doentes é considerada uma finalidade
primordial em termos de saúde, sendo no entanto um conceito relativamente recente,
no entretanto verifica-se que algumas instituições e organizações internacionais
passaram a indicar como sendo uma meta importante a atingir.
A interpretação da Qualidade de Vida tem sido associada como a capacidade de
melhorar a saúde, no entanto o seu conceito torna-se muito mais vasto. Actualmente a
expressão “Qualidade de Vida” é utilizada dentro do contexto da saúde ligada a um
bem-estar subjectivo (Silva 2010).

1.2 – Avaliação da Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde

Na saúde tem-se vindo a assistir a uma centralização dos cuidados de saúde tendo
como ponto fulcral, o ponto de vista do doente.
Conforme afirma Ribeiro (1994), a Qualidade de Vida tornou-se numa medida cada
vez mais estudada e com uma dimensão cada vez com maior importância, no que diz
respeito aos cuidados de saúde. Ainda de acordo com a opinião do mesmo autor, a
Qualidade de Vida relacionada com a Saúde surge de uma noção específica do
sistema de saúde, a qual descreve dois aspectos distintos: um aspecto de carácter
geral, o qual está centralizado no sistema de cuidados de saúde e um aspecto
específico tendo em conta o tipo de doença. No que diz respeito ao aspecto geral a
Qualidade de Vida relacionada com a Saúde, diz respeito à Qualidade de Vida que fica
dependente da doença que o indivíduo contenha e neste sentido examina que
contributo a doença e o seu tratamento interferem na Qualidade de Vida do doente,
relativamente ao aspecto específico a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde
concentra-se nas restrições que a doença provocará na Qualidade de Vida. A
diferença entre estes dois aspectos surge essencialmente na forma como é realizada
a sua avaliação: no aspecto geral a avaliação da Qualidade de Vida Relacionada com

24
a Saúde é inserida no sistema de saúde tendo em conta a situação da doença, já no
aspecto específico a avaliação centra-se nas particularidades específicas da doença.
A avaliação da Qualidade de Vida, tem ainda em linha de conta, os seguintes
pressupostos: consideração dos aspectos positivos em detrimento dos aspectos
negativos, apreciação da avaliação tendo em conta dois planos: o nível do bem-estar e
o nível da funcionalidade e ainda a ponderação da interacção de vários aspectos
(físicos, mentais e sociais), baseando-se na percepção individual.
Tendo em conta o que foi referido, os autores Baker e Smith (1992, citados por Ribeiro
1994), por meio de um estudo de revisão sistemática através da base de dados
Medline, verificaram que as investigações publicadas tendo em vista a relação entre a
Qualidade de Vida e as doenças específicas, têm aumentado anualmente para todas
as doenças: o cancro, as doenças coronárias, a diabetes, as doenças renais, a artrite
e a epilepsia.
De acordo com Blanchard (1982 citado por Ribeiro 1994, pág. 182), “As doenças
crónicas definem-se por não terem cura, são doenças que têm de ser geridas em vez
de curadas. Nos últimos decénios passou a sobreviver-se ao que dantes se sucumbia,
de tal forma que hoje em dia é normal viver-se com uma doença”. De acordo com o
mesmo autor as doenças crónicas caracterizam 80% do total de doenças e a sua
evolução leva a que a importância do conceito da Qualidade de Vida, tenha sido
estudada na: Apneia Obstrutiva do Sono, nas doenças Cardiovasculares, nos
indivíduos infectados com HIV, na Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva, no cancro, na
Artrite e Doenças Reumáticas, na Epilepsia, nos transplantes renais e nas doenças
neurológicas. As doenças crónicas não se manifestam pela sua aparente ou real
gravidade, mas antes por serem doenças sem tratamento eficaz ou de durabilidade
prolongada.
Segundo Patrick e Deyo, (1989 citado por Ribeiro 1998), é sustentado que a
Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde surge como um conceito lato, a qual
circunscreve a duração da vida do indivíduo, a invalidez, os estados funcionais, as
percepções e as oportunidades sociais.
Através da descrição fomentada por Bolander (1998), a quantidade de indivíduos que
independentemente da idade resistem com problemas incapacitantes está a
engrandecer e desta forma necessitam de apoio material, funcional e social e é nestas
situações que a enfermagem desempenha um papel preponderante em relação aos
aspectos relacionados com a Qualidade de Vida. Em relação a este conceito, este é
encarado como o nível determinado subjectivamente pelo indivíduo em relação a si
próprio, encontrando-se ele com doença aguda ou crónica, o conhecimento sobre a
sua condição física e psicológica, bem como o tratamento afectarão a Qualidade de

25
Vida. As significações exclusivas da concepção de Qualidade de Vida reúnem-se em
cinco amplas categorias:
 Vida Normal – esta dimensão prende-se com o facto de que a vida normal
delimita a aptidão física de um indivíduo doente comparativamente ao indivíduo
saudável, deste modo a Qualidade de Vida baseia-se no indivíduo que não
apresenta qualquer tipo de incapacidade;

 Felicidade e Satisfação – surgem na delineação de Qualidade de Vida, em que


a primeira relaciona-se com os sentimentos a curto prazo, enquanto a segunda
compõe-se de um julgamento racional, de longo prazo, das condições de vida.
Engloba a perspectiva da percepção que o indivíduo tem da situação em que
se encontra;

 Realização de Objectivos Pessoais – no que concerne à Qualidade de Vida, a


realização prende-se com concretização dos objectivos específicos importantes
para cada indivíduo, que foram delineados e do êxito ou não das experiências
particulares intrínsecas a esse processamento;

 Utilidade Social – o conceito de Qualidade de Vida encontra-se inserido o


carácter social que o indivíduo assume na sociedade em que vive, tendo em
conta a vida profissional, pessoal e de cidadão;

 Capacidade Natural – as definições que se fundamentam nas competências


actuais e potenciais do indivíduo tanto de carácter físico, como de carácter
mental;

A percepção de cada uma destas dimensões torna-se problemática na medida em que


subsiste uma oscilação entre a subjectividade e a objectividade. A concepção de
Qualidade de Vida compreende as mais diversas dimensões, ao mesmo tempo que
encaminha para apreensões mais profundas que transpõem o espectro da vida.
Na opinião de Taveira (1999), a Qualidade de Vida, no que diz respeito ao seu
conceito, este é frequentemente comparado com outros conceitos tais como: o estado
de saúde, a saúde perceptual, a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde, a
condição funcional e emocional, a compreensão de sintomas e representação das
predilecções subjectivas individuais. A Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde
caracteriza-se para os indivíduos, no impacto que esta representa na sua vida diária,
na doença e no seu tratamento, na funcionalidade do seu nível de actividade física e

26
ocupacional, na condição psicológica, na interacção social e na aptidão de
sensibilidade somática.
Tendo em linha de conta o que é referido por Kaplan (1984 citado por Guimarães
2000), o grande objectivo é a avaliação da saúde e a sua interacção com a Qualidade
de Vida, ou seja, a Qualidade de Vida surge para descrever o impacto que a doença
incita nas actividades diárias do indivíduo e deste modo estaremos perante o conceito
de Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde.
Segundo o que é mencionado por Fonseca e Paúl (2001, pág. 102), “Viver com uma
doença crónica implica necessariamente uma tentativa de reconstrução da vida
própria, envolvendo estratégias para lidar com os sintomas, com as consequências
percebidas da doença e com o ajustamento à doença no âmbito das relações sociais”.
Ainda de acordo com os mesmos autores, estes constatam que nos “tempos que
correm”, a doença crónica estabelece um dos maiores problemas que a medicina e as
ciências da saúde defrontam. De facto a doença crónica torna-se no principal vector
responsável pela diferença e pela separação entre a esperança de vida e a Qualidade
de Vida, em termos de saúde comprova-se um resultado evidente da doença crónica
na Qualidade de Vida dos indivíduos afectados e mesmo dos que lhe estão próximos.
As doenças crónicas são muito variadas e potenciam o mau funcionamento de
qualquer um dos sistemas fisiológicos do indivíduo. Os doentes crónicos deparam-se
com importantes problemas como: a restrição, o isolamento social, a desvalorização
do Eu e a circunstância de se transformar numa sobrecarga para os seus familiares.
Todos estes factores associados á doença crónica deteriorará a Qualidade de Vida do
indivíduo.
De acordo com Fallowfield (1990 citado por Guimarães 2000), a Qualidade de Vida
Relacionada com a Saúde não se trata de uma concepção simples, mas antes uma
fusão complexa de funcionamento em quatro domínios principais:
 Psicológico – nesta área surgem os itens: depressão, ansiedade e adaptação
à doença- Tendo em conta que o indivíduo doente que sofra de depressão ou
ansiedade, move-se muito dificilmente num nível satisfatório, em qualquer área
que contribua para a Qualidade de Vida. Deste modo um bom estado
psicológico saudável e a capacidade de se conseguir adaptar aos diversos
estadios da doença, tornam-se imprescindíveis para a conservação de uma
boa Qualidade de Vida;

 Social – nesta área surgem os itens: relações pessoais e sexuais, actividades


sociais e tempos livres. A doença crónica torna os doentes depressivos e estes
sentem frequentemente temor no sentido de puderem ser desprezados pelos

27
seus familiares e amigos. A conservação do relacionamento sexual e o auxílio
da família e amigos, simultaneamente com a capacidade de participar em
actividades sociais, são um forte contributo para a Qualidade de Vida;

 Profissional – Ter uma boa actividade ocupacional, no sentido de não ter só a


capacidade de exercer uma profissão, mas também ter a aptidão de realizar
com autonomia as actividades de vida diária;

 Físico – Encontra-se relacionado com a doença e o estadio em que esta se


encontra. Nesta área estão englobados: a dor, a mobilidade, o sono, o apetite,
a náusea e o desempenho sexual. No entanto a Qualidade de Vida é neste
sentido afectada por um item que abrange todas as áreas atrás descritas, que
é a dor, a qual é extraordinariamente complicada para o individuo a evitar. No
entanto a sua permanência constante culmina na diminuição da Qualidade de
Vida;

Na abordagem realizada por Schipper, Clinch e Power (1990 citados por Ribeiro
2005), é estabelecido que uma determinada quantidade de características operativas
na Qualidade de Vida no âmbito da saúde, devem ser consideradas a nível deste
paradigma, como sejam:
 Multifactorialidade – abrange mais do que um domínio, na verdade ela
desempenha uma vasta diversidade de experiências pessoais e do modo como
estas são percepcionadas e relacionadas em relação às dimensões: físicas,
psicológicas, económicas e do ambiente político;

 Auto-administração – apenas pode ser interpretada por ele próprio. Neste


sentido entende-se que os doentes, os familiares e os profissionais de saúde
não partilham da mesma opinião do doente acerca da maneira como lhe
decorre a vida;

 Variação temporal – significa que esta varia com o tempo, neste sentido, a sua
avaliação deve ter em especial consideração as circunstâncias e os intervalos
de avaliação ao longo do tratamento;

 Subjectividade – a avaliação é fundamentada pela compreensão própria do


indivíduo e esta é idiossincrática, na medida em que provém dos valores,
crenças, julgamentos, preferências, expectativas e percepções pessoais,
entendendo-se assim como uma avaliação de carácter subjectivo;

28
A Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde, tendo em conta o modelo proposto
por Hyland (1992 citado por Ribeiro 2005), pode ser exposta segundo duas
abordagens:
 Abordagem Multifacetada – vertente tradicional da área médica, em que a
junção de variados indicadores de saúde de ajuste ampliado, independentes e
sem ligação entre eles. A Qualidade de Vida é usualmente encarada como um
resultado autónomo de dados de morbilidade e de mortalidade;

 Abordagem Processual/ Casual – uma subsequência casual que resulta das


interacções entre a morbilidade e factores psicológicos, assim a Qualidade de
Vida será prejudicada pela morbilidade estando por isso correlacionada com
ela;

De acordo com Pimentel (2006 citado por Martins 2009), a Qualidade de Vida
Relacionada com a Saúde, é caracterizada como uma concepção multidimensional, a
qual representa o bem-estar subjectivo do doente tendo em conta as seguintes
vertentes:
 Física - reporta-se à percepção que o doente tem da sua aptidão em executar
as suas actividades de vida diárias;

 Psicológica – tem em conta os aspectos do bem-estar emocional e mental,


dos quais podem ser exemplos: a depressão, a ansiedade, o medo e a raiva;

 Social - refere-se à capacidade do doente em se relacionar com a família, os


vizinhos e os amigos;

O mesmo é exposto por Luce e Elixhauser (1990 citado por Catarino 2010), em que
estes autores assumem cinco principais dimensões:
 Função Física – caracterizada por aspectos referentes à mobilidade, à dor e
sintomas físicos, à aptidão para cuidar de si próprio, à competência para
realizar as actividades de vida diárias;

 Função Psicológica – descrita pela depressão, o comportamento agressivo, a


ansiedade, a sensação de abandono e as expectativas acerca do futuro;

29
 Função Social – representada pela participação em acções sociais e
recreativas, a função sexual e o relacionamento familiar;

 Função Cognitiva – assinalada pelo estado de alerta e capacidade de decisão


e pela memória;

 Bem - Estar Geral - que se qualifica pelas percepções da saúde em geral e a


satisfação com a vida;

De acordo com outro ponto de vista, Spilker (1990 citado por Ribeiro 2005), sugere um
modelo em que aspectos clínicos juntamente com outros como: o tratamento e as
suas reacções adversas, a segurança, a eficácia, os custos e os efeitos clínicos
benéficos, são depurados pelos valores, crenças e julgamentos do doente, obtendo-se
assim a avaliação da Qualidade de Vida.
Os direitos dos doentes pressupõem que este seja o elemento fulcral do sistema de
saúde e do sistema de cuidados de saúde, deste modo Laine e Davidoff (1996 citados
por Ribeiro 2005) comentam que a enunciação “cuidados centrados no doente”
reportam-se aos cuidados em termos de saúde que se encontram em conformidade
com as necessidades, desejos e preferências que o doente expressa, deste modo
torna-se fundamental que a Qualidade de Vida, seja avaliada.
A investigação em torno da avaliação da Qualidade de Vida surge de acordo com
Ribeiro (2005), na sequência de distintos intentos, donde se salientam:
 Quality Adjusted Life Years (QALYs) – surgiu no âmbito da saúde como
indicador de custo/ benefício e para a assistência na tomada de resoluções
nomeadamente as do foro político e económico. De facto foram estabelecidas
como medidas padrão dos benefícios dos cuidados de saúde, pois expressam
anos de bem–estar após tratamento ou participação de projectos de
prevenção. Este tipo de avaliação visa as opções do doente perante os
procedimentos de prospectos de intervenção alternativos. Esta avaliação
permite a investigação da importância das terapias médicas, procedimentos
cirúrgicos e novos medicamentos;

 Time Without Symptoms of Treatment (Q – TWIST) – desenvolvido na área da


oncologia, tem como objectivo a determinação do tempo que o doente se
encontra sem dor e com uma vida satisfatória, sendo sustentada pelo
tratamento, em alternativa ao não tratamento. Este tipo de avaliação da

30
Qualidade de Vida desempenha uma experiência relevante na tomada de
deliberação clínica;

A figuração da doença concluída pelo doente perturba segundo Leventhal e Colman


(1997 citados por Ribeiro 2005), o interesse e a significação da avaliação da
Qualidade de Vida, neste sentido esta visão oferecida por estes autores englobam a
representação da doença enquanto ameaça, as resistências emocionais que operam
como inibidores ou causadores do pensamento e da execução, as normas dos
procedimentos de reflexão e das acções apropriadas para um melhor controlo,
tratamento e prevenção da doença e dos aspectos essenciais no âmbito em que o
indivíduo vive.
Em termos evolutivos de acordo com Ribeiro (2005), o conceito de Qualidade de Vida
superou em muito apenas a dimensão física, passando a abarcar muitas outras
dimensões, deste modo o progresso de medidas de Qualidade de Vida originou uma
crescente aprovação de que a sua avaliação, deve espelhar o ponto de vista do
doente.
Indo de encontro ao que é declarado, Burckhardt (1987 citado por Carpenito – Moyet
2006, pág. 55), “…as pessoas com doenças crónicas enfrentam mudanças
permanentes no estilo de vida, ameaças á dignidade e à auto - estima, rompimento
das transições de vida normal e diminuição de recursos”.
A Qualidade de Vida é como refere Matos (2007), uma medida cada vez mais
estudada em termos de saúde, tendo um forte impacto nos desfechos das
intervenções clínicas e estudada em praticamente todas as doenças crónicas, cujo
desenvolvimento fez aumentar a consideração da conceptualização da Qualidade de
Vida. Segundo a mesma autora, a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde,
surgiu no âmbito da saúde com o intuito de abordar as noções relacionadas com a
doença crónica, tornando-se um conceito aplicado à avaliação da Qualidade de Vida
associada aos processos saúde/ doença, incluindo os seguintes critérios: é subjectiva,
baseia-se na percepção pessoal, é multidimensional (inclui componentes de nível
físico, psicológico, social e espiritual), valoriza os aspectos positivos. A Qualidade de
Vida Relacionada com a Saúde surge como um conceito específico do sistema de
cuidados de saúde, o qual define as óptimas actividades mentais, físicas e sociais, nas
quais são incluídas: as percepções de saúde, condições de saúde, satisfação com a
vida e bem-estar. Deste modo a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde,
reporta-se à Qualidade de Vida que está dependente das doenças, estudando a
contribuição da doença e o seu tratamento para a Qualidade de Vida dos indivíduos. A
Qualidade de Vida do indivíduo com doença crónica, na sua avaliação inclui todos os

31
aspectos da satisfação/ insatisfação em relação às capacidades ou actividades em
que se consegue envolver, incluindo os seguintes componentes: o impacto das
limitações provocadas pela doença, o impacto dos tratamentos e limitações sociais
devidas à doença onde se incluem o trabalho/ economia, as relações familiares e as
férias e lazer.
A Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde conforme menciona Svirtlih et al
(2008), refere-se a uma avaliação subjectiva dos doentes, no que diz respeito à sua
condição de bem-estar: físico, mental e social. Tornou-se uma importante dimensão no
âmbito de estudos clínicos e epidemiológicos nas áreas da Gastroenterologia e
Hepatologia. Conforme relatos que se encontram expostos na literatura, a Qualidade
de Vida encontra-se deteriorada nas doenças hepáticas crónicas de diversas
etiologias. A cirrose hepática apresenta um forte impacto negativo na Qualidade de
Vida sobretudo por interferir primordialmente na componente física.
A Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde como afirma Pimentel (2006 citado por
Martins 2009), é uma porção de Qualidade de Vida geral do indivíduo, a qual pode ser
determinada de uma forma básica, ou seja, organizada pelos elementos que
caracterizam a parte da Qualidade de Vida de um indivíduo relacionada com a saúde,
devendo abarcar os seguintes aspectos: sintomas motivados pela doença ou
tratamento, funcionalidade física, condição psicológica, aspectos sociais, situação
familiar, condições laborais e económicos. Estes aspectos encontram-se relacionados
entre si influenciando-se reciprocamente.
No âmbito da doença crónica Doka (1993 citado por Canavarro et al 2010), refere que
tendo estritamente em linha de conta o carácter evolutivo das doenças prolongadas,
emerge um maior interesse em avaliar a Qualidade de Vida, devido à dubiedade
persuasória que abrange o diagnóstico e o prognóstico, a progressão da doença e o
seu carácter imprevisível que a acompanha, no que diz respeito aos seus tratamentos
e que irá culminar inevitavelmente numa perturbação emocional, em restrições físicas
e funcionais constantes que conduzirão a modificações do funcionamento e da prática
diária, tudo isto interpor-se-á com a aptidão para trabalhar, representar papéis
familiares e sociais e com o envolvimento em actividades lúdicas.
Na opinião de Murrell e Kenealy (1999 citados por Pedro 2010), estes referem que o
conceito principal da Qualidade de Vida Relacionado com a Saúde, depara-se muitas
vezes articulado a outros conceitos como: o estado de saúde e a satisfação com a
vida e bem-estar subjectivo, assim, a contextualização da Qualidade de Vida em
termos de saúde não se torna um objectivo por parte dos indivíduos, mas antes um
percurso para atingir um fim. Os factores que facilitam a compreensão de uma boa ou
má Qualidade de Vida são individuais e contextualizáveis.

32
Segundo o parecer de Sprangers e Schwartz (1999 citado por Pedro 2010), os
indivíduos que sejam confrontados com doenças crónicas, têm a necessidade de se
acomodar à doença, deste modo é de extremo interesse a intercessão entre o
processo adaptativo que abrange modificações internas em cada indivíduo e o modo
como essas modificações podem alterar a percepção individual da Qualidade de Vida.
Um modelo foi desenvolvido por estes autores, em que a Qualidade de Vida surge de
uma resposta integrada de transformações constantes na avaliação que cada
indivíduo percepciona da sua Qualidade de Vida, contribuindo para que deste modo se
possa perceber como esta, pode prejudicar as mudanças dos estados de saúde.
Vários aspectos podem contribuir para a percepção da Qualidade de Vida, aquando de
uma alteração do estado de saúde individual:
 Presença de um catalisador – na medida em que as alterações das soluções
relativamente ao estado de saúde podem influenciar ou não, o seu tratamento;

 Antecedentes – a presença de características intrínsecas relativamente à


personalidade do indivíduo;

 Mecanismos – comportamentos cognitivos e processamentos afectivos podem


colaborar na alteração do estado de saúde;

 Respostas de mudança – surgem no âmbito das mudanças no


desenvolvimento pessoal da Qualidade de Vida que derivam das alterações de
padrões internos, valores e da conceptualização da Qualidade de Vida;

 Compreensão de Qualidade de Vida – tem em conta o aspecto


multidimensional do construto nos domínios: físico, psíquico e social;

Esta linha de pensamento vai de encontro ao que é referido por Pinto e Ribeiro (2000,
citado por Catarino 2010), ao verificar que os objectivos fundamentais dos cuidados de
saúde vão de encontro ao progredir na melhoria da Qualidade de Vida dos indivíduos,
advindo destes factos a importância do seu conceito e da sua avaliação no âmbito da
saúde. Após esta constatação é despontado um movimento subjacente, o qual aponta
para a mudança de argumentos guiados por parâmetros tradicionais na avaliação da
doença, nas quais se tem em consideração as avaliações epidemiológicas ou pato-
fisiológicas, para que se possa obter uma abordagem mais alargada, tendo em conta a
vida nas suas complexas dimensões.

33
Conforme afirma Pereira (2005 citado por Gonçalves 2010), o interesse da Qualidade
de Vida Relacionada com a Saúde resulta do desenvolvimento do modelo biomédico
para o modelo holístico, mas analogamente encontra-se confrontada com a busca da
humanização dos cuidados de saúde.
O termo Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde de acordo com Pinto e Ribeiro
(2006 citado por Catarino 2010), encontra-se frequentemente ligado à literatura e tem
sido usado em objectivos similares aos do conceito de Qualidade de Vida em geral. No
entanto a sua aplicação no que diz respeito ao âmbito da saúde, torna-se
impreterivelmente importante por uma questão humanitária mas equitativamente por
uma questão da avaliação da eficácia dos serviços de saúde, na medida em que
factores como o bem-estar psicológico sugerem ter interferência na actividade do
organismo e no desenvolvimento da doença, bem como no resultado terapêutico e
mesmo na própria longevidade.
Segundo Duro (2009 citado por Gonçalves 2010), os fundamentos históricos e sociais
que consistiram na proveniência de relevantes movimentações de direitos cívicos
conduziram ao aperfeiçoamento da Carta dos Direitos do Homem, da Carta dos
Direitos da Criança e dos Direitos do Doente, transportando para a denominação e
para o desenvolvimento do conceito Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde, na
medida em que os direitos dos doentes reflectem que a percepção que o doente
detêm, é indiscutivelmente o factor fulcral do sistema de saúde e do sistema dos
cuidados de saúde
Corroborando com esta ideia Catarino (2010, pág. 38), refere que “Na sociedade
actual, a Qualidade de Vida é um tema de extrema importância e é utilizada como uma
medida de resultados dos cuidados e intervenções em saúde. Assim, e ao contrário do
que se passava a cerca de 60 ou 70 anos atrás, a questão mais importante não reside
em saber se o doente sobrevive ou se vai morrer, já que, os avanços na medicina
resolveram, em grande parte, essa situação. Torna-se, então, fundamental saber se os
indivíduos que vivem com determinada doença (essencialmente a doença crónica)
conseguem viver a sua vida diária com a mesma qualidade de vida das pessoas que
não sofrem de nenhuma doença”.
A avaliação da Qualidade de Vida no âmbito da saúde, segundo o que é mencionado
por Pedro (2010), foi ganhando cada vez maior importância nas últimas décadas, na
medida em que tem possibilitado avaliar não apenas os resultados da intervenção do
sistema de saúde, mas também porque permite visualizar a evolução da doença, a
eficiência dos seus tratamentos e ainda tendo em conta a decorrente urgência de
monitorizar aspectos relacionados com as dimensões de funcionalidade: física,
psicológica, social e bem-estar geral. De acordo ainda com o mesmo autor, as

34
modificações do estado de saúde a nível individual estão confrontadas com os
procedimentos, as cognições e os processos afectivos, essenciais para vivenciar a
doença. Estes processos têm a competência para modificar os padrões, os valores e
as concepções individuais de Qualidade de Vida relacionado com a resposta à
mudança e que incute a percepção de Qualidade de Vida, deste modo os mecanismos
pessoais, a sua grandeza e o tipo de resposta à mudança, pendem das características
particulares do indivíduo.
De acordo com Canavarro et al (2010), a doença crónica constitui-se como um risco
para a Qualidade de Vida do indivíduo tendo em conta o seu diagnóstico hostil, os
seus tratamentos prolongados e por vezes agressivos e a indeterminação do
prognóstico. Ainda de acordo com os mesmos autores, a importância da avaliação da
Qualidade de Vida em doenças crónicas, resguarda-se de particular interesse uma vez
que possibilita:
 Assimilar o impacto da doença e do seu tratamento em diferentes áreas de
vida do doente;

 Progredir na informação sobre os efeitos secundários dos tratamentos;

 Estimar a adaptação psicossocial à doença;

 Esclarecer e incrementar um plano com vista a um melhoramento do bem-


estar dos doentes;

 Garantir informação prognóstica evidente, quer para a resposta ao tratamento,


quer para a sobrevivência do doente;

Os instrumentos desenvolvidos por um grupo de peritos da Organização Mundial de


Saúde (OMS) que surgem da avaliação da Qualidade de Vida, têm como suporte, por
um lado numa apreensão conceptual apoiada por uma promoção do conceito de
Qualidade de Vida como carácter subjectivo, transcultural e multidimensional e por
outro lado numa forte inquietação metodológica, do qual é reflexivo o rígido protocolo
que foi desenvolvido. Todos estes aperfeiçoamentos históricos surgem como os
pontos fortes dos instrumentos World Health Organization Quality of Life (WHOQoL) e
repercutem-se nomeadamente nos diversos aspectos do seu conceito e aplicação. De
facto são estes aspectos referidos anteriormente, ligados à consistência psicométrica
que os instrumentos têm mostrado na sua validação e aplicação em distintas culturas

35
e que têm oferecido grande visibilidade a estes instrumentos, os quais têm sido os
mais utilizados na avaliação da Qualidade de Vida.

36
CAPÍTULO II - Alcoolismo

2.1 – Conceito

Os danos provocados pelo álcool são conhecidos desde a Antiguidade, os quais foram
descritos e narrados em obras literárias desse tempo e onde se encontram
referenciadas imensas menções à necessidade de os evitar, no entanto os fenómenos
do alcoolismo crónico eram mais ou menos ignorados, somente a embriaguez era
relatada entre as perturbações aliadas ao uso de bebidas alcoólicas.
Fortalecendo esta percepção Sofia (1988), afirma que a Organização Mundial de
Saúde (OMS) em 1955, salientou para o facto de o alcoolismo estabelecer um
agregado de problemas que surgem desde as perturbações individuais até às
perturbações sócio-familiares, com sequentes repercussões económicas e morais. O
consumo excessivo de bebidas alcoólicas foi visto, durante largos anos, como um
simples vício, deposto da dimensão social, ligando-se particularmente com as
situações de intoxicação aguda. Ainda de acordo com o mesmo autor este enuncia
que, fruto das múltiplas enunciações que existem, torna-se difícil caracterizar com
algum rigor o conceito de alcoolismo, ou seja, não se pode falar no termo alcoolismo,
mas sim no termo alcoolismos, uma vez que não é tarefa simples englobar numa
simples explicação um fenómeno que se caracteriza complexo desde a sua génese às
suas manifestações. Para a maioria da sociedade o consumo de álcool implica um
baixo risco ou mesmo nenhum risco de puder gerar uma dependência. No entretanto
foram já aludidos vários factores que colaboram no aparecimento desse risco como: o
ambiente social, a saúde emocional e a predisposição genética.
O alcoolismo crónico tornou-se no aspecto principal da calamidade social, pois origina
a maioria das complicações atribuídas ao álcool e o qual é representado por um
estado de intoxicação alcoólica continuado, resultante de uma ingestão de álcool
incessante. No que diz respeito à classificação de alcoolismo, o mesmo autor citando
Jellinek (1960), enuncia os cinco tipos descritos:
 Alcoolismo Alfa – o indivíduo ostenta uma dependência exclusivamente
psicológica. O indivíduo bebe para aliviar os seus problemas do dia-a-dia,
como sejam: os familiares, os laborais. Não subsiste uma perca de
incapacidade para se privar de beber álcool;

37
 Alcoolismo Beta – caracterizado pelos hábitos tradicionais de beber,
associados a uma dieta desajustada, existindo deste modo alguns problemas
clássicos de consumo excessivo de álcool. Em Portugal torna-se frequente na
medida em que sendo um grande produtor de vinho, aparece com forte
tradição cultural ligada à gastronomia. A dependência física e/ ou psicológica
poderão estar presentes;

 Alcoolismo Gama – área onde se incluem os alcoólicos crónicos, descreve-se


pelo acréscimo avultado da tolerância ao álcool e pelo desaparecimento de
controlo sobre o consumo. Com o passar dos anos, pode conduzir à
dependência física e psíquica, levando posteriormente à síndrome de
abstinência;

 Alcoolismo Delta – semelhante ao relatado anteriormente, trata-se de um tipo


de alcoolismo em que subsiste a dependência física e psicológica, no entanto
não se verifica a perda de controlo sobre o seu consumo. Representa-se pelo
indivíduo que inicia a ingestão de álcool pela manhã e passa o resto do dia a
ingerir álcool;

 Alcoolismo Épsilon – qualifica-se por um modelo de consumo em que existe


uma compulsão pela bebida alcoólica de forma periódica, finalizando em
profundos estados de intoxicação;

Neste sentido Gitlow e Peyser (1991, pág. 190), relatam que: “Alcoolismo e os outros
distúrbios de abuso e dependência de substâncias são reconhecidos como doenças
em todas as classificações médicas importantes (ex., CID-9 e DSM-III-R). Eles estão
incluídos na categoria de distúrbios psiquiátricos, mas a diferenciação dos distúrbios
de dependência das outras enfermidades psiquiátricas, crucial como é para o
prognóstico, controle e tratamento, nem sempre é clara”. Ainda referindo os mesmos
autores (1991, pág. 15), “Alcoolismo é uma doença caracterizada pela ingestão
repetitiva e compulsiva de quaisquer drogas sedativas, o etanol representa apenas um
deste grupo, de maneira tal a resultar na interferência em algum aspecto da vida do
paciente, seja ele a saúde, o estado civil, a carreira, os relacionamentos interpessoais,
ou outras adaptações sociais necessárias”. O alcoolismo caracteriza uma disfunção ou
mesmo um desajustamento nas necessidades da vida diária.
Existem poucos comportamentos humanos que como refere Taylor (1992),
manifestam consequências tão vastas quanto aquelas que se referem à dependência

38
de substâncias químicas. Para além de prejudicar o bem-estar físico, emocional e
social do comportamento do indivíduo dependente de substâncias químicas, danifica
igualmente o bem-estar familiar e da sociedade. O alcoolismo é um dos motivos para a
perda de tempo e produtividade e a sua dependência converteu-se num factor
significante para a saúde económica de um país. Ainda de acordo com a mesma
autora, o álcool é um depressor do sistema nervoso central, no entanto a quantidade
ingerida para que se testemunhe um efeito evidente varia de acordo com o inter-
relacionamento de diversas variáveis como: a percentagem de álcool na bebida,
tolerância que o indivíduo desenvolveu à substância, o estado de saúde físico e
emocional e o ambiente em que se encontra. O álcool quando ingerido é absorvido na
corrente sanguínea afectando todos os tecidos do corpo.
São conhecidas várias condutas que de acordo com Stroebe e Stroebe (1995),
provêm do consumo de álcool, no entanto estas estão condicionadas a vários factores,
analogamente o álcool não desenvolve as mesmas complicações nos vários
indivíduos consumidores excessivos de bebidas alcoólicas, o que complica ainda mais
a formação de uma definição exclusiva. Entre os profissionais de saúde, permanece
um assentimento universalizado de que o uso desmesurado e/ ou desajustado de
bebidas alcoólicas transmite um risco elevado de mortalidade e de morbilidade,
resultando esses excessos num risco elevado no aparecimento de doenças do fígado,
mais concretamente na cirrose hepática, hipertensão arterial e variadas formas de
cancro.
Conforme o que é descrito por Adès & Lejoyeux (1997, pág. 36), a Organização
Mundial de Saúde (OMS) aquando da definição desta problemática em 1951 referiu
que: “Os alcoólicos são consumidores excessivos cuja dependência do álcool é tal que
apresentam quer uma perturbação mental identificável, quer perturbações que afectam
a sua saúde física ou mental, as suas relações com os outros e o seu bom
comportamento social e económico, quer ainda pródromos de perturbações desse
género.” Ainda de acordo com os mesmos autores, em 1990 a Sociedade Americana
de Toxicomania e Alcoologia descreveu o alcoolismo como uma doença elementar e
crónica, a qual se distinguia pela perda de controlo sobre a ingestão de álcool com a
noção de emergirem efeitos negativos, no âmbito de uma deformação da percepção e
negação de alcoolismo, neste sentido o alcoolismo pode ser definido consoante
coexista ou não perturbações psiquiátricas e comportamentos alcoólicos, em duas
vertentes:
 Alcoolismo Primário – com predominância masculina, conforme qualquer
forma de conduta alcoólica que caracteriza a perturbação inicial, instalada no

39
indivíduo, ou seja, a dependência alcoólica é precedente a qualquer
perturbação psiquiátrica;

 Alcoolismo Secundário – existente mais frequentemente na mulher, sendo


aquele em que coexiste os comportamentos alcoólicos e perturbações
psiquiátricas, ou seja, a dependência alcoólica é subsequente à perturbação
psiquiátrica;

No que diz respeito a Cloninger (1988 citado por Adès e Lejoyeux 1997), o alcoolismo
foi classificado tendo em conta os pressupostos biológico-comportamentais em:
 Tipo I - também denominado “alcoolismo do meio”, trata-se da forma mais
frequente e é representada por um início tardio e uma progressão lenta, atinge
ambos os sexos e relaciona-se com factores de risco especialmente ligados a
um meio familiar desorganizado;

 Tipo II, unicamente masculino, qualifica-se por um começo prematuro (antes


dos 20 anos) e um progresso acelerado para a dependência, relacionando-se
com factores de risco de disposição genética (alcoolismo paterno) e
neuropsicológica;

Por sua vez Babor (1992 citado por Adès e Lejoyeux 1997) e Lino (2006), classificou o
alcoolismo tendo por suporte um conjunto de características intrínsecas aos sujeitos
do seu estudo:
 Tipo A - início após os 20 anos, com uma evolução lenta, com uma menor
frequência de psicopatologia de perturbações e de factores de risco;

 Tipo B - início precoce e prognóstico mais austero, exprime-se por uma menor
frequência das psicopatologias associadas e maior grau de comorbilidade, e
uma maior influência dos factores de risco na infância;

“O alcoólico primário médio, homem ou mulher, revela os primeiros problemas graves


relacionados com o álcool entre o fim dos 20 anos e o início dos 30 anos, muitos deles
procurando tratamento no início dos 40 anos” (Schuckit 1998, pág. 93).
Segundo Mello et al (2001), o conceito de alcoolismo como doença, evoluiu só na
segunda metade do século XIX, sendo a França o país que mais cedo iniciou a
valorização sobre o crescente consumo mediano anual da ingestão de bebidas
alcoólicas. Constata-se que Portugal é dos países-membros da União Europeia, em

40
que se regista um dos maiores consumos de bebidas alcoólicas, mediante este facto
Portugal tem vindo a contextuar-se, nos últimos anos, na política geral europeia do
controlo dos Problemas Ligados ao Álcool. Ainda segundo os mesmos autores, no
tratado sobre alcoolismo crónico publicado no ano 1851 por Magnus Huss, este define
o alcoolismo crónico como uma síndrome independente, ou seja, como uma forma de
doença correspondente a uma intoxicação crónica, acarretando a que indivíduos com
hábitos alcoólicos desmesurados e continuados desenvolvessem quadros patológicos.
De facto diversas situações mórbidas que emergiam nos indivíduos como: doenças do
fígado e de outros órgãos digestivos, doenças do sistema nervoso, doenças
coronárias entre outras, se encontravam interligadas com o consumo em excesso de
bebidas alcoólicas denominando-as assim de alcoolismo, em que o álcool etílico era o
causador patogénico comum.
São imensas as definições sobre alcoolismo que se ficaram a dever à Organização
Mundial de Saúde (OMS), no entanto Mello et al (2001) e Silva (2010), distinguem
aquela que encara o alcoolismo como doença e o alcoólico como doente. Assim são
definidos os seguintes conceitos:
 Alcoolismo - não se trata de uma entidade patológica precisa, no entanto a
globalidade dos problemas que são impressos no indivíduo derivado do
consumo de álcool alongam-se a múltiplos planos e acarretam perturbações
orgânicas e psíquicas, crises familiares, profissionais e sociais com as suas
repercussões económicas, legais e morais;

 Alcoólicos - são indivíduos que consomem bebidas alcoólicas de modo


excessivo, desenvolvendo uma dependência em relação ao álcool, da qual
emergem perturbações: mentais, físicas, da relação com os outros e do
comportamento social e económico;

De acordo com Freitas (2002), é descrito que desde há séculos que é do


conhecimento mundial, a associação entre o consumo excessivo de bebidas alcoólicas
e o aparecimento de doenças hepáticas. No entanto e apesar deste forte
conhecimento, o consumo de álcool persiste em ser um grave problema de saúde
pública, nomeadamente no nosso país. É a droga da qual mais se abusa em todo o
mundo, nos Estados Unidos da América a estimativa é de que pelo menos 10 milhões
de indivíduos sofrem de alcoolismo, ou seja, 6% a 7% da população, contudo em
Portugal esta percentagem já foi ultrapassada.
O mesmo é defendido por Cordeiro (2005), afirmando que a aprovação cultural do
álcool bem como o facilitismo com que se tem acesso, levam-no a que se torne na

41
substância psico-activa que mais se consome, mais se exagera e com maiores custos
sociais em Portugal e nos países ocidentais. Esta situação deve-se, na medida em
que nestes referidos países o álcool faz parte integrante da dieta, sendo ingerido às
refeições e em convívios sociais. O alcoolismo constitui-se como um problema sério
para a saúde do indivíduo, na medida em que o tratamento se torna complicado quer
pelas incalculáveis possibilidades de recaída, quer pela fácil acessibilidade ao álcool.
Este autor no que diz respeito ao alcoolismo crónico, sustenta que este pode ser
classificado em:
 Tipo Gama – refere-se a um padrão de ingestão de álcool, que é mais
frequente nos Estados Unidos da América e que se traduz pela dificuldade em
controlar a ingestão de álcool, após o seu início;

 Tipo Delta – refere-se a um padrão de ingestão de álcool, o qual é mais


predominante na Europa e que se traduz pela elevada ingestão diária de álcool
e na qual não se reconhece a dependência e na qual se torna ilusório, se
ocorrer uma suspensão forçada;

Segundo o enunciado por Knutz e Knutz (2006), o consumo de álcool a nível mundial
quase triplicou desde 1970. O alcoolismo é localizado em todos os estratos sociais,
com indivíduos a beberem em ocasiões sociais ou festas devido a um estado de
apreensão ou de pobreza, por uma concretização num negócio, por stress ou mesmo
por ter conquistado o sucesso. Todas estas eventualidades podem conduzir ao
alcoolismo crónico.
Segundo Huss (1852 citado por Kuntz e Kuntz 2006), o conceito de alcoolismo deverá
apenas ser designado quando se verificar sinais de dependência.
O consumo de bebidas alcoólicas em concordância com Knutz e Knutz (2006), mesmo
em doses baixas mas consumido diariamente leva igualmente ao alcoolismo, regra
geral o álcool torna sempre os indivíduos dependentes quando ingerido de forma
sistemática. O alcoolismo depreende segundo estes autores:
 Dependência Física – caracterizada por uma maior tolerância, assim como a
síndrome de dependência;

 Dependência Psicológica – representada por um desejo irrefreável de álcool e


por um consumo permanente ou intermitente, diminuição do autocontrolo e
alterações do comportamento;

42
O alcoolismo é considerado como um comportamento anormal ou patológico de abuso
de bebidas alcoólicas, tendo em conta as quantidades e as circunstâncias em que
ocorre. No entanto,não há um limite de valores geralmente reconhecidos sobre esta
descrição, na medida em que a ingestão e o metabolismo de álcool são influenciados
por variados factores que variam de indivíduo para indivíduo. Para além disso o
metabolismo do álcool e principalmente a tolerância ao álcool, vai depender
principalmente se a ingestão se efectiva de uma forma esporádica, intermitente ou
continuada.
Confirmando o que foi dito anteriormente Anderson e Baumberg (2007), afirmam que o
álcool na Europa tem vindo a ser consumido há milhares de anos. As bebidas
alcoólicas que eram consumidas nesse tempo eram frequentemente utilizadas com
fins medicinais, uma prática que se estendeu até ao princípio do século XX, com o
início da chamada medicina moderna. Apesar de existirem leis sobre o álcool, estas
eram utilizadas por norma para contemplar razões de ordem pública ou para
regulamentar o mercado e não visavam a saúde pública. Porém este quadro
modificou-se com uma sucessão de desenvolvimentos na Europa medieval e
moderna, onde se inclui: a industrialização, o progresso das linhas de comunicação e
a invenção de bebidas mais fortes denominadas bebidas destiladas. O conceito de
alcoolismo como uma doença foi crescendo durante o século XIX, arrastando muitos
países europeus a incrementar casas ou asilos para o tratamento de indivíduos que
consumiam em excesso bebidas alcoólicas. Ainda de acordo com os mesmos autores,
estes referem que a União Europeia é a região do mundo com maior consumo de
álcool, estimando-se que nesta região cada adulto por ano beba 11 litros de álcool
puro, em que cerca de 47% deste álcool é consumido sob a forma de cerveja,
seguidamente surge o vinho com 34% e as bebidas espirituosas com 23%. As zonas
do Norte e do Centro da Europa ingerem particularmente cerveja, enquanto as do Sul
da Europa bebem especialmente o vinho.
Corroborando com o que foi dito pelos autores referidos anteriormente Breda (2010),
afirma que os problemas originados pelo consumo de bebidas alcoólicas, são os
grandes responsáveis pela privação de anos de vida com qualidade e uma das
primordiais apreensões relativamente à saúde a nível global.
O mesmo é dito por Silva (2010), que descreve o álcool como sendo uma droga
legalizada e presente na sociedade, aparecendo em praticamente todos os eventos
sociais e recreativos, em Portugal o consumo de álcool encontra-se mencionado
oficialmente em 1988 como um problema de saúde pública, neste sentido foi
efectivado o lançamento de um Plano de Acção Contra o Alcoolismo (PACA). Ainda
conforme refere a mesma autora, tratando-se o alcoolismo de um problema a nível

43
mundial com graves, extensas e múltiplas consequências, a Organização Mundial de
Saúde (OMS), integrou-o na Classificação Internacional das Doenças em 1967 (CID –
8), decorrente da 8ª Conferência Mundial de Saúde. A Organização Mundial de Saúde
(OMS) descreve seis importantes normas quanto à classificação do alcoolismo, que
são nomeadamente:
1. Forte impulso ou senso de constrangimento para consumir álcool;
2. Dificuldades em adquirir o controlo de consumir o álcool em termos do seu
início, término ou graus de ingestão;
3. Verificação do estado de abstinência fisiológica no momento em que o
consumo de álcool foi suspenso ou o seu consumo se tornou reduzido;
4. Clareza de tolerância, no sentido de que doses crescentes são inevitáveis
para alcançar resultados originalmente produzidos por porções mais baixas;
5. Perseverança no consumo de álcool tendo no entanto a certeza das
consequências nefastas, nomeadamente para o fígado, pela ingestão
excessiva de bebidas alcoólicas, estado de humor depressivo ou compromisso
da actividade cognitiva relacionada com o álcool, determinando se o indivíduo
se deparava consciente da natureza ou dimensão do malefício;
6. Afastamento gradual dos prazeres ou proveitos opcionais motivado pelo
consumo de álcool levando ao acréscimo de tempo necessário para obter ou
tomar bebidas alcoólicas e igualmente para o restabelecimento dos seus
efeitos;

Em conclusão verifica-se que ao longo dos anos a definição de alcoolismo foi-se


ampliando, abrangendo cada vez mais problemas relacionados com o álcool, à medida
que estes se iam presenciando ou que se iam atribuindo ao álcool, deste modo não
existe nos dias de hoje um conceito universal.

2.2 – Aspectos Epidemiológicos

Portugal é um país que quer cultural, quer tradicionalmente o consumo de bebidas


alcoólicas em excesso é um facto comprovado. A vitivinicultura conserva um
importante papel na economia do país.
Conforme é descrito por Schuckit (1998, pág. 91), “Devido à elevada patologia
psicológica e física associada ao consumo maciço de bebidas, 20-35% de doentes do
sexo masculino em medicina geral ou cirurgia são alcoólicos”. Ainda de acordo com o
mesmo autor, em termos de consumos de bebidas alcoólicas nos países ocidentais

44
estes não são ocasionais e isto verifica-se em cerca de dois terços dos homens e 50%
das mulheres. De facto nas sociedades ocidentais o consumo de bebidas alcoólicas é
uma rotina, em que a adolescência é o tempo de estágio dos comportamentos adultos,
através deste facto verifica-se que três quartos dos adolescentes sejam consumidores
assíduos de bebidas alcoólicas por altura do fim do ensino secundário. Em indivíduos
em que o alcoolismo persiste, estes morreram 15 anos mais cedo do que a idade
média de morte, em comparação com a população em geral, em que as causas de
morte nestes casos surgem por ataque cardíaco, cancro, acidentes, suicídio, cirrose
hepática, pancreatite e infecções. De facto constata-se que os indivíduos que
comportam alcoolismo crónico e que procuram tratamento, cerca de 93%, ostentam
importantes problemas clínicos associados.
Deste modo Portugal, de acordo com Pinto (1998), tornou-se num dos maiores
consumidores de álcool do mundo, embora este consumo tenha apresentado um
ténue declínio ao longo dos anos. Em 1997 Portugal tinha o consumo per capita mais
alto da Europa e também do mundo, tendo-se localizado nos 11,3 litros de álcool puro
por ano.
No que diz respeito à cirrose hepática em Portugal, esta ocupa um dos lugares
cimeiros comparando com o resto dos países da Europa. As taxas de mortalidade por
cirrose hepática, de acordo com Morais (2000), situam-se em 26,9/100.000 habitantes,
sendo 39,3 para os homens e 15,1 para as mulheres. Em 2007, Rui Marinho, da
Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, indicava que cerca de 2000 portugueses
morrem anualmente com cirrose hepática em que o álcool é o principal responsável
pelo seu aparecimento.
De acordo com Mello et al (2001, pág.36), “… a incidência do alcoolismo, na
morbilidade que leva o homem aos Hospitais Gerais, ronda os 90% nas hepatopatias e
cirrose e os 60% nas pancreopatias. É também elevada na doença cardiovascular, nos
acidentes vasculares cerebrais e na doença oncológica, [...].”
Fazia parte da realidade em Portugal, ainda há escassos anos, particularmente nos
meios rurais e nas regiões de maior produção vinícola, o vinho ser consumido a partir
da 1ª infância, oferecido pelos pais no subterfúgio de algo que desse às crianças mais
força e cor, através das denominadas “sopas de cavalo cansado”, chegando mesmo a
ser habitual nestas zonas do país dar aos bebés na chupeta molhada em aguardente
com açúcar, para que dormisse melhor e chorasse menos (Costa, 2002).
O alcoolismo é segundo Cordeiro (2005), na sua epidemiologia semelhante às outras
drogas, na medida em que 10% dos indivíduos que consomem bebidas alcoólicas
consomem 50% da totalidade de álcool, sendo mais frequente nos homens do que nas

45
mulheres numa relação de 2/1 a 3/1, espelhando uma menor complacência social face
à conduta alcoólica nas mulheres.
Como é referido por Knutz e Knutz (2006), a esperança de vida em indivíduos com
história de alcoolismo crónico, é reduzida em cerca de 10 a 12 anos, em que nos
homens atinge uma percentagem entre 9% a 12% e nas mulheres com uma
percentagem entre 13% e 15% em comparação com a população em geral. Ainda de
acordo com o mesmo autor, num estudo efectuado entre 1981 e 1983 concluiu-se que
13% da população adulta integrou os critérios DSM-III para o excesso de consumo de
álcool em alguma etapa da sua vida.

2.3 – Etiologia

Nem todo o indivíduo que ingere bebidas alcoólicas em excesso se torna dependente,
de facto a transição de um consumo excessivo de álcool à dependência, não surge
repentinamente para que essa dependência aconteça, são necessários alguns anos
para que se exteriorizem os problemas relacionados com o seu uso excessivo.
De acordo com Sofia (1988, pág. 149), “… as causas e razões que implicam, num
determinado indivíduo, uma ingestão crónica e abusiva de álcool constituem um
fenómeno complexo em que interferem diversas condicionantes geradoras desse
consumo excessivo.” No que diz respeito a esta complexidade, este autor refere que
existem essencialmente dois grupos de influências: tipo ambiental e tipo individual.
Conforme afirmam Gitlow & Peyser (1991), as enunciações delimitadas de alcoolismo
não se tornam vantajosas, o mesmo se pode dizer das declarações simplistas sobre a
etiologia alcoólica. Na medida em que o alcoolismo se trata de uma doença em que a
sua etiologia é de cariz complexo e em que os vários factores: mentais, físicos,
genéticos e ambientais se encontram todos estreitamente interligados. O alcoolismo é
uma doença progressiva em que maioritariamente leva entre 5 a 10 anos para se
desenvolver.
Corroborando com esta ideia Mello et al (2001, pág. 17), refere que: “… são os
factores individuais e do meio que condicionam o consumo excessivo de álcool,
favorecendo a acção patogénica do factor tóxico e a criação da dependência ao fim de
um tempo, em geral prolongado, mas sempre variável de indivíduo para indivíduo.”
De acordo com Freitas (2002), o consumo de álcool continua a subsistir num grave
problema de saúde pública, sendo a droga que mais se abusa em todo o mundo
inclusive em Portugal. No entanto a razão por que nem todos os indivíduos sofrem de

46
alcoolismo ainda permanece um enigma, existem provavelmente factores genéticos,
sociais e psicológicos que desempenham nestas situações um papel potencial e
cumulativo.
O consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode na opinião de Phipps, Sands e
Marek (2003), transformar-se num problema por tempo incerto e em que em muitas
conjunturas se torna tão casual que se torna problemático o seu reconhecimento.
Verifica-se que 70% dos alcoólicos são indivíduos do sexo masculino, de notar no
entanto que o número de indivíduos do sexo feminino alcoólicos encontra-se em
franco crescendo e a este respeito a ingestão de bebidas alcoólicas por parte das
mulheres grávidas converte-se numa grande apreensão devido á síndrome alcoólica
fetal.

2.3.1 – Factores Biológicos

Vários estudos que foram realizados visando os temas: estudos familiares, de


gémeos, de adopção e de genética molecular, vieram confirmar que a essência
familiar do alcoolismo é hoje em dia um assunto indiscutível.
Um factor biológico a ter em conta é referido por Schuckit et al. (1972 citado por Sofia
1988), em que o indivíduo cujo seu progenitor (pai) biológico seja alcoólico encontra
uma maior predisposição para que este venha a ser igualmente alcoólico, do que um
indivíduo em que o seu progenitor (pai) adoptivo seja alcoólico.
De facto e conforme é relatado por Goodwin (1979 citado por Sofia 1988), a ocorrência
de alcoolismo na idade adulta é de quatro vezes maior em filhos de pais biológicos
alcoólicos, verificando-se deste modo que os factores genéticos são importantes na
instauração da doença, no entanto são em menor grau em indivíduos do sexo
feminino.
Na opinião de Gitlow & Persey (1991, pág. 49), “Embora ainda se discuta o papel da
genética no alcoolismo, não há dúvida de que esta é uma doença familiar. Se houver
alcoolismo na família de um paciente, este paciente está mais em risco do que se não
houver”. Ainda segundo os mesmos autores, existem factores genéticos
predisponentes ao aparecimento de alcoolismo, dentro destes factores destacam-se:
as famílias, os gémeos e os indivíduos do sexo masculino em que os pais sejam
alcoólicos.
De acordo com Adès e Lejoyeux (1997), estes mencionam que devido ao facto de um
dos membros da família ser alcoólico afecta acentuadamente o risco de alcoolismo, ou

47
seja, quando um dos progenitores é afectado pelo alcoolismo, a incidência familiar
para o surgimento desta doença em outros membros da família é mais evidente,
relativamente a todas as outras perturbações psiquiátricas. Ainda de acordo com os
mesmos autores, em estudos na área da genética molecular dirigidos à pesquisa de
genes ou conformações genéticas mais frequentes nos alcoólicos, revelaram a
existência de uma alteração num elo, o qual se regista mais expressivamente nos
alcoólicos, no que diz respeito a esta problemática os dados recolhidos apresentam o
agravamento inegável do risco de comportamento alcoólico nos filhos do sexo
masculino de pais alcoólicos, ou seja, existe um maior risco de futura dependência
alcoólica ao existirem antecedentes familiares.
Indo de encontro ao que foi dito anteriormente Schuckit (1998), menciona que os
factores genéticos revelam extrema importância na origem do alcoolismo, ou seja, esta
perturbação ocorre frequentemente no seio das famílias e a percentagem de
conciliação da presença de alcoolismo em gémeos monozigóticos aparenta ser mais
elevada do que em gémeos não monozigóticos ou em irmãos do mesmo sexo. A
existência de uma quantidade de potenciais marcadores genéticos, destacando-se
dentro destes os grupos sanguíneos, está relacionada ao alcoolismo e foram
reconhecidos alguns factores biológicos que preponderam os padrões do consumo de
álcool.
De acordo com Freitas (2002), a genética exerce uma função no alcoolismo e no
consumo de álcool, de facto existe uma evidência de uma propensão genética no
consequente desenvolvimento da doença hepática alcoólica. Num grande leque de
estudos realizados neste campo de investigação, têm sido focalizados os principais
sistemas enzimáticos hepáticos envolvidos no metabolismo do álcool como: a
desidrogenase alcoólica (ADH), a desidrogenase do acetaldeido (ALDH) e o citocromo
P-450, em que alterações nestes sistemas enzimáticos como: as irregularidades, a
capacidade de metabolização ou os polimorfismos, preestabelecem o alcoolismo.
A existência de um factor genético é consistente com o desenvolvimento dos
distúrbios de uso de drogas de acordo com Townsend (2002), tornando-se
peculiarmente patente no alcoolismo e a sua ocorrência em familiares directos
alcoólicos surge em 50% dos casos. Em gémeos monozigóticos e dizigóticos, estes
ostentam uma conformidade duas vezes maior para o aparecimento de alcoolismo do
que aqueles. Já no que diz respeito aos filhos de alcoólicos do sexo masculino estes
apresentam uma taxa de alcoolismo quatro vezes superior em relação aos filhos de
pais não alcoólicos.
Em concordância com o que foi referido pela autora anterior Phipps, Sands e Marek
(2003), mencionam que os factores fisiológicos para o aparecimento do alcoolismo

48
baseiam-se na perspectiva de que existe nos indivíduos, por um lado uma
predisposição devido a uma imperfeição orgânica e por outro lado surge a evidência
de uma alteração bioquímica determinada geneticamente e uma disfunção do sistema
endócrino. Permanece uma enorme ocorrência de alcoolismo na famílias,
nomeadamente nos filhos do sexo masculino de pais alcoólicos, desenvolverem
consumo em excesso de bebidas alcoólicas durante a vida, com uma incidência entre
30% a 50%. Noutro aspecto, em gémeos homozigóticos de pai alcoólico corresponde
uma percentagem de 60% a que sejam igualmente alcoólicos, em relação aos gémeos
heterozigóticos essa percentagem desce para 30%.
Para Borges e Filho (2004 citado por Silva 2010), estes referem que existem factores
relacionados com o indivíduo alcoólico, os quais se encontram estreitamente
relacionados com o aparecimento do alcoolismo e consequentemente à dependência
alcoólica., ou seja, ocorre em famílias com predisposição genética para o surgimento
de múltiplos problemas e perturbações psiquiátricas como: perturbação anti-social,
perturbação do pânico e a perturbação de hiperactividade com défice de atenção.

2.3.2 – Factores Psicológicos

Os factores psicológicos são anotados como geradores do consumo excessivo de


bebidas alcoólicas.
Tendo em conta esta afirmação Gitlow & Peyser (1991), explicam que existem factores
de carácter psicológico tais como: o reconhecimento de que o pai é alcoólico, a
ingestão de bebidas alcoólicas apreendidas ou acondicionadas, as obsessões
comportamentais e orais e as deficiências cognitivas.
No que diz respeito às abordagens psicológicas que pretendem apreender as causas
do abuso de bebidas alcoólicas Stroebe e Stroebe (1995), canalizam a sua análise
para o processo de aprendizagem, ou seja, o alcoolismo é essencialmente uma forma
de ingerir álcool, a qual foi apreendida quer por condição, quer por observação. Neste
sentido e seguindo a linha de pensamento descrita por estes autores, salienta-se a
hipótese de redução da tensão, em que de acordo com este modelo o álcool é ingerido
pelo indivíduo pelo facto de reduzir a tensão, ou seja:
 O agravamento da tensão aumenta a situação pulsional;
 Na medida em que o álcool atenua a tensão e consequentemente o estado
pulsional, o seu consumo possui propriedades fortificantes;

49
 O esforço proveniente da restrição da pulsão torna mais forte a resposta de
consumo de álcool;

A viabilidade de o indivíduo ingerir bebidas alcoólicas de forma desajustada e/ ou


desmesurada varia de acordo com George e Marlatt (1983 citado por Stroebe e
Stroebe 1995), em função das subsequentes variáveis:
 A intensidade com que o indivíduo se encontra exposto a uma determinada
condição, experimente a sensação de se encontrar isolado e sem controlo no
que diz respeito ao desfecho da condição;
 A disponibilidade de uma resposta de coping alternativa ao álcool numa
posição de elevado risco;
 As expectações do indivíduo sobre a eficiência do álcool, como uma solução
de coping interpolada à situação;

O conceito de que através das sensações os indivíduos procuram: o perigo, a


aventura, a procura de novas experiências e a desinibição, tornam-se factores
primordiais para o início de intoxicações alcoólicas (Zuckerman 1964 citado por Adès e
Lejoyeux 1997).
Tendo em conta que o indivíduo alcoólico opta pelo prazer oral do álcool desprezando
outras causas de prazer, certifica um recalcamento da fase oral que pode anunciar a
inaptidão de auto-controlo destes indivíduos, bem como da imutável busca de
dependência conjugal, profissional e afectiva (Fouquet 1965 citado por Adès e
Lejoyeux 1997).
No que se refere à dimensão narcísica do álcool Adès e Lejoyeux (1997), mencionam
que o indivíduo alcoólico encontra no estado de embriaguez a omnipresença
narcisista. De acordo com estes autores e no que diz respeito à desafectação, estes
referem que esta se manifesta em relações e emoções pobres vividas ou sentidas, em
que o indivíduo alcoólico se torna incompetente de manifestar os seus sentimentos ou
os seus estados afectivos.
No que diz respeito às teorias psicológicas sobre o princípio do alcoolismo no
indivíduo Schuckit (1998, pág. 95), descreve que: “…baseia-se na premissa de que as
pessoas começam a beber, a abusar da bebida, ou continuam alcoólicas porque o
álcool, de certo modo, reforça ou recompensa o seu comportamento porque lhes dá
prazer, lhes retira a ansiedade, lhes facilita as relações sociais, lhes dá uma sensação
de poder ou, por outro lado, os ajuda a autodestruir ou eliminar recordações
desagradáveis.”

50
Em relação aos factores psicológicos que conduzem à etiologia do aparecimento do
alcoolismo Townsend (2002), descreve através de uma abordagem psicodinâmica que
a predisposição que conduz ao alcoolismo encontra-se relacionada com uma profunda
perturbação do ego e com uma confusão da consciência do Eu, o indivíduo preserva
uma essência dependente com características imperfeitas quanto: ao controlo dos
impulsos, à diminuição da tolerância em relação à frustração e à diminuição da auto –
estima. A personalidade expressa uma relevante participação no crescimento e
subsistência da dependência alcoólica, em que as características que qualificam esta
personalidade são:
 Impulsividade;
 Conceito negativo do Eu;
 Fragilidade do ego;
 Neuroticismo;
 Diminuição em relação ao entendimento social;
 Personalidade anti - social;
 Tendência depressiva;

De acordo com Phipps, Sands e Marek (2003), a existência de um componente na


organização e desenvolvimento da personalidade do indivíduo que conduz ao
desenvolvimento do alcoolismo encontram-se na fase oral e na aprendizagem
comportamental. São declaradas como características da personalidade dos
indivíduos alcoólicos a diminuta tolerância a factores de stress, dependência,
sentimentos de insegurança e depressão.
Conforme refere Almeida (2007), a dimensão depressiva do álcool é defendida por
psicanalistas ao defenderem as propriedades antidepressivas do álcool, as quais irão
conduzir ao prazer oral, por outro lado infligirão no indivíduo uma autodestruição muito
grave. Na teoria cognitivo-comportamental o alcoolismo é encarado como um
comportamento impróprio, o consumo de bebidas alcoólicas converte-se num hábito
que visa atenuar as tensões diárias, uma resposta aos estímulos stressantes, a
exaltação e o relaxamento provocados pelo álcool levando a considerar a sua ingestão
como positiva. Deste modo a ingestão de bebidas alcoólicas estabelece-se como uma
rotina em todas as situações geradoras de stress e/ ou conflito, para estes factos
contribuem os mecanismos cognitivos gerados pelo álcool como: o reforço positivo
produzido pelos efeitos psicofarmacológicos, o reforço positivo social que resulta do
efeito de desinibição, a capacidade de puder arredar-se de um ambiente de tristeza e
a diminuição dos sinais de privação.

51
Segundo a teoria sistémica, o alcoolismo surge como consequência de um complexo
sistema de interacções familiares, o qual poderá originar um motivo ou uma
consequência de disfunção. Neste sentido a ingestão de álcool pode de certo modo,
tornar-se num organizador de famílias alcoólicas, na medida em que apesar de
surgirem interacções familiares negativas, este reduz as tensões familiares,
conduzindo a um equilíbrio a curto ou até longo prazo.
A teoria da psicanálise evidencia que para a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas,
contribuem as experiências e as relações prematuras que sejam de carácter
fortemente emocional, nas quais surgem variados mecanismos psicodinâmicos que ao
privilegiar determinados aspectos, explicam os comportamentos alcoólicos
nomeadamente: a dimensão oral, a componente homossexual; a dimensão
depressiva, autodestrutiva e até masoquista, a patologia narcísica e a desafectação.

2.3.3 – Factores Ambientais

Conforme afirma Sofia (1988), embora apresentando-se como uma aparência


particular, o alcoolismo encontra-se dependente de factores: ambientais, sócio-
culturais e económicos, em que estes possuem um papel relevante na modelação das
disposições perante o álcool. O nosso país sendo um grande produtor e um grande
consumidor de vinho leva a que a sociedade adopte uma atitude tolerante perante o
consumo de álcool, de facto este torna-se constante e generalizado, pois cada vez
mais a sociedade moderna encara o álcool como um produto de consumo acessível e
imprescindível nas relações sociais, no entanto assiste-se a um maior consumo de
cariz particular. O mesmo autor considera a existência de um alcoolismo urbano em
que o álcool é sinónimo de prestígio e de alívio de conflitos sociais e individuais e o
alcoolismo rural proveniente de factores culturais, tradicionais e alimentares.
Existem factores socioculturais que influenciam o aparecimento do alcoolismo,
conforme referem Gitlow & Persey (1991), constata-se que a Irlanda ostenta mais
casos de alcoolismo do que a Rússia ou a Polónia, enquanto a China apresenta um
baixo número de casos de alcoolismo, que contrasta com o número de casos de
alcoolismo apresentado pela França, país grande produtor de vinho. Ainda de acordo
com os mesmos autores a existência destes factores socioculturais precipitantes
podem tornar o aparecimento do alcoolismo de uma forma insidiosa ou aguda, ou seja,
determinados eventos podem incutir o surgimento do distúrbio que se tem mantido
latente, no entanto este eventos compreendem advertências à saúde física e mental, à

52
vida, ao trabalho, ao estudo ou à carreira profissional do indivíduo, estes eventos
podem ser descritos por uma perda dolorosa no trabalho, no amor, nas conjunturas
sociais, na vida pessoal e familiar do indivíduo.
Relativamente a estes factores Townsend (2002), menciona que existem premissas
culturais que contribuem para o estabelecimento de padrões de excesso no consumo
de bebidas alcoólicas, ajustando atitudes, incutindo padrões de consumo com assento
na aprovação cultural e designando a disponibilidade do álcool. A incidência de
dependência alcoólica torna-se mais evidente no norte da Europa do que no sul. Outro
dos factores evidentes diz respeito ao ambiente em que as bebidas alcoólicas são
ingeridas contribuindo para o seu reforço, assim ambientes agradáveis contribuem
para um aumento do seu consumo. O fabrico, reprodução e reconhecimento
relativamente ao comportamento são observados desde a infância, a sociedade em
que as crianças e os adolescentes vivem, influenciam-nos com frequência na ingestão
de bebidas alcoólicas.
Existem pressupostos de acordo com Phipps, Sands e Marek (2003), em que
permanece uma correspondência entre os vários grupos da sociedade e a incidência
de abuso de álcool, neste sentido podem-se referenciar os judeus, os mórmons e os
muçulmanos que expõem uma taxa de alcoolismo baixa em relação às populações
europeias, as posturas individuais perante o alcoolismo espelham a atitude de toda
uma cultura perante as bebidas alcoólicas. O factor de stress contribui para o
aparecimento do alcoolismo nas sociedades.
De acordo com Borges e Filho (2004 citado por Silva 2010), a existência de factores
como: a ocupação, o grupo de pares, a cultura e a instabilidade contribuem de forma
particular para o aparecimento do alcoolismo e concludentemente para o
aparecimento da dependência alcoólica.
A crescente modificação nos moldes em que as bebidas alcoólicas são consumidas na
maioria dos países, é sustentada pelo dinamismo da globalização do seu consumo e
pelo marketing que afectam grupos específicos e mais vulneráveis da sociedade,
originando um acréscimo dos problemas aliados ao álcool (Breda 2010).

2.4 – Síndrome da Dependência Alcoólica

A denominação alcoolismo tem-se aplicado de uma forma genérica, abrangendo os


diferentes procedimentos, costumes e complicações que derivam do consumo
excessivo de álcool.

53
De acordo com Gitlow & Peyser (1991, pág. 98), estes afirmam que: “A abstinência
alcoólica é um estado de hiperactividade e hiperirritabilidade do sistema nervoso
central produzidas pela cessação ou redução aguda do consumo de álcool. Os
aspectos fundamentais são agitação e hiperactividade autónoma caracterizada pela
sudorese, taquicardia e inquietação frequentemente com tremor. A síndrome começa
de 6 a 24 horas após a pessoa parar de beber, atinge o ápice em 36 - 48 horas…”.
Ainda segundo os mesmos autores, a dependência alcoólica surge de uma tolerância
às drogas sedativas, onde se inclui o álcool, a qual resulta de um ajustamento do
sistema nervoso central, ou seja, existe a formação de um novo ponto de equilíbrio
entre a agitação resultante dos sedativos de ontem e a sedação proveniente dos
sedativos de hoje, quando emerge a interrupção destes factores conduz ao
aparecimento da agitação e denomina-se que o doente está em síndrome de
abstinência. O álcool desperta no doente uma sedação de curta durabilidade e de
enorme extensão, sucedendo-se uma agitação de extensa permanência e de baixa
extensão. A síndrome de dependência alcoólica subsiste na medida em que a
quantidade e a duração da administração de bebidas alcoólicas aumenta, assim
amplia a severidade desta síndrome e analogamente aumenta desde o simples
tremor, da insónia, da palpitação, da diaforese ao culminar da amnésia, das
alucinações e do delirium tremens.
Conforme menciona Taylor (1992), o síndrome da dependência alcoólica é
caracterizada por uma reacção aguda do organismo a uma retirada da ingestão
alcoólica desmesurada e consistente, manifestando-se por períodos de confusão
mental, excitação e delírio, subsistindo usualmente por um período curto e em que não
compromete de forma profunda ou permanente a personalidade do indivíduo.
Na descrição levada a cabo por Adés e Lejoyeux (1997, pág. 40) é mencionado que:
“A dependência, definida como um comportamento adquirido, é uma espécie de hábito
patológico que invade em diversos graus a vida mental e social do paciente. Comporta
três elementos principais: a alteração do comportamento face ao álcool, o desejo
obsessivo de álcool associado à perda de controlo da ingestão e, por fim, sintomas de
privação.” Neste sentido e tendo em conta os três elementos principais descritos na
citação acima referenciada, os mesmos autores descrevem o primeiro elemento na
alteração de comportamentos que o indivíduo adopta face à ingestão de bebidas
alcoólicas diferente da do meio cultural e família, ou seja, o indivíduo dependente
ostenta um consumo de álcool no qual não consente modificações nem restrições. No
que diz respeito ao segundo elemento o indivíduo alcoólico não tem a capacidade de
conferir o consumo de álcool desde o início do seu consumo, sendo confrontado com
a perda do controlo psíquico e comportamental. Quanto ao terceiro elemento é

54
descrito como os sintomas de privação os quais designam dependência física do
álcool, estes sintomas podem emergir aquando de uma abstinência total ou aquando
de uma concentração sanguínea de álcool. A síndrome de dependência alcoólica
contém uma cadeia de sintomas físicos e psíquicos de dependência, dos quais se
referenciam dois tipos: os sinais de abstinência e a tolerância. No que diz respeito aos
sinais de abstinência, estes mostram-se frequentemente nos doentes dependentes,
geralmente surgem da parte da manhã ou logo após pequenos períodos de
abstinência, sendo reduzidos após a ingestão de bebidas alcoólicas, neste sentido
descrevem-se seguidamente os sinais centrais de dependência alcoólica:
 “Habitus alcoólico” (rubor, edema da face, eritrose palmar, descoordenação
psicomotora, vertigens e suores; tremor fino das extremidades e hematomas);
 Vómitos matinais;
 Cãimbras musculares;
 Hepatomegalia;
 Dores abdominais;
 Hipertensão arterial e taquicardia;
 Tosse crónica;
 Neuromusculares (tremor das mãos e da língua);
 Digestivos (náuseas, vómitos);
 Neurovegetativos (suores, taquicardia, hipotensão);
 Psíquicos (ansiedade, irritabilidade, depressão, insónia);

Segundo Freitas (2002), para a elaboração do diagnóstico de dependência alcoólica


no indivíduo, são reivindicados a presença de critérios onde estão descritos vários
itens e em que para a sua validação, pelo menos três devem estar presentes no
indivíduo:
 Ingestão de bebidas alcoólicas em consumos elevados continuamente ou
durante um tempo maior ao desejado;
 Desejo constante de ingestão de álcool;
 Tentativa ou experiências de desintoxicação sem êxito;
 Longas etapas gastas na aquisição de álcool, na sua ingestão ou na
recuperação dos seus efeitos;
 Ingestão de álcool em circunstâncias em que o torna perigoso, tendo como
exemplo o conduzir embriagado ou constante intoxicação alcoólica embora a
existência de compromissos com o trabalho, a escola ou as actividades

55
domésticas e sociais, que manifestamente foram pendentes ou atenuadas pela
ingerência de álcool;
 Constante uso de bebidas alcoólicas, com o aparecimento das inevitáveis
dificuldades físicas, sociais ou psicológicas recorrentes;
 Marcada tolerância fixando-se com a indispensabilidade de dilatar a
quantidade de álcool ingerida, para que se alcance o mesmo efeito desejado
ou o mesmo estado de intoxicação, na medida em que a continuação da
mesma quantidade de ingestão de álcool leva a um efeito consideravelmente
diminuído;
 Sinais e sintomas específicos de privação alcoólica;
 Ingestão de álcool com o intuito de abrandar ou afastar os sinais e sintomas
de privação alcoólica;

No que diz respeito à classificação em que o síndrome de dependência alcoólica se


pode subdividir de acordo com Cordeiro (2005), este pode ser classificado em:
 Tipo A – de início tardio, com inexistência de factores de risco infantis, menor
psicopatologia associada e menos complicações;

 Tipo B – de início precoce, antecedentes hereditários, com maior frequência a


politoxicofilia e uma maior desadaptação;

A dependência alcoólica é segundo Lino (2006), manifestada pela evidência de


sintomas de abstinência ou de tolerância, descrevendo-se pelo progresso de sintomas
de abstinência num período aproximadamente de quatro a doze horas após a
diminuição de um consumo de álcool de forma contínuo, maciço e alongado. Aquando
de um desenvolvimento de um padrão de uso compulsivo, os indivíduos com
dependência alcoólica, podem gastar períodos de tempo fundamentais no consumo de
bebidas alcoólicas, permanecendo frequentemente a consumir álcool apesar dos
evidentes efeitos adversos físicos e psicológicos. De facto o doente alcoólico ingressa
num círculo vicioso, onde o consumo de bebidas alcoólicas abranda transitoriamente
os sinais de abstinência, ao mesmo tempo que avoluma o grau de dependência.
Através do alcoolismo o indivíduo ocorre numa dependência fisiológica em relação ao
álcool assim como tolerância a maiores quantidades e neste sentido Phipps, Sands e
Marek (2003), descrevem que o síndrome de dependência alcoólica prejudica o
controlo motor, o estado mental e as funções humanas fundamentais, em que os
sintomas daí recorrentes manifestam-se desde tremores ligeiros a agitação grave,
desorientação auto e alopsíquica e alucinações visuais e auditivas, normalmente este

56
estado pode ocorrer no doente entre o 3º e o 4º dia, no entanto pode surgir até uma
semana após a suspensão da ingestão de bebidas alcoólicas. Quando prestados
cuidados de saúde a estes indivíduos eles incorrem numa taxa de mortalidade de 5%,
em circunstâncias contrárias a taxa de mortalidade sobe para os 15% para os doentes.

2.5 – Consequências do Síndrome de Alcoolismo Crónico

O alcoolismo crónico acarreta para o indivíduo várias complicações físicas e


psicológicas, que se agravaram ao longo do tempo.
O alcoolismo é encarado como uma doença social com inevitáveis complicações
clínicas. Muitas das alterações resultantes do consumo excessivo de álcool tem
repercussões sociais e individuais, Sofia (1988) refere existirem três grandes tipos de
comorbilidade provocados pelo alcoolismo: a social, a psiquiátrica e a física, podendo
estas co-existir, surgir isoladamente ou manterem uma certa interacção. O alcoolismo
crónico deve ser encarado como uma doença multissistémica, na medida em que
provoca modificações a nível de vários órgãos e sistemas, nomeadamente: no sistema
nervoso central e periférico, no aparelho locomotor, no sistema cardiovascular e
especialmente no sistema digestivo (em especial no fígado). A malnutrição é um dos
factores mais frequentemente presente no indivíduo consumidor excessivo de bebidas
alcoólicas, nomeadamente nos casos de doença hepática crónica. Devido a este facto
vários mecanismos encontram-se deficitários sob o ponto de vista nutricional. No
entanto resultam equitativamente consequências nefastas a nível metabólico:
 Ingestão inadequada de nutrientes;
 Má-digestão e má-absorção;
 Alterações do metabolismo dos nutrientes;
 Diminuição da capacidade hepática de reserva e de armazenamento dos
nutrientes absorvidos;
 Aumento das perdas urinárias e fecais de nutrientes;
 Necessidades aumentadas em substâncias nutritivas e aumento do dispêndio
energético;
 Alterações do metabolismo muscular;
 Metabolismo dos hidratos de carbono (hipoglicémia);
 Metabolismo dos lípidos (hiperlipidémia);
 Metabolismo das proteínas (diminuição da síntese de albumina e transferrina);
 Redução da actividade do ciclo de Krebs;

57
 Acidose metabólica (aumento da síntese de ácido láctico e produção de
corpos cetónicos);
 Hiperuricémia (crises dolorosas de gota);

Tendo em conta a descrição levada a cabo por Gitlow & Persey (1991), estes relatam
que o álcool sendo uma substância com um enorme rendimento calórico, cerca de 7
calorias por grama, levará a que os doentes alcoólicos apresentem desnutrição
severa, sem que estes sintam apetite ou apresentem perda de peso substancial,
tornando-se deste modo evidente, que os efeitos tóxicos motivados pelo álcool nos
tecidos encarregados pela absorção, modificação e acumulação dos nutrientes
essenciais, conduzem a que essa desnutrição se torne mais implacável, evidenciando-
se esses efeitos a nível do aparecimento de anomalias histológicas da mucosa
intestinal, reduzida capacidade de absorção e modificações na permeabilidade e
motilidade intestinal. No entanto e segundo estes autores o efeito a nível físico é o que
com maior relevância se manifesta, pois devido à ingestão de elevadas quantidades
de bebidas alcoólicas o fígado torna-se gorduroso, originando hepatomegália causada
pela icterícia e pelas perturbações das funções hepáticas.
O álcool conforme é defendido por Schuckit (1998), é encarado como uma substância
atractiva para os indivíduos na medida em que os seus efeitos directos e em doses
moderadas são compreendidos pelo consumidor como agradáveis, no entanto e uma
vez que este consumo se torna mais elevado, os prejuízos que daí advém para o
organismo, podem-se tornar graves, tornando-se necessário dar importância aos
sinais precoces que possam ser detectados. As alterações fisiológicas que são
expectáveis no decurso do alcoolismo crónico são:
 Sistema Digestivo – a ingestão de bebidas alcoólicas encontra-se relacionada
a uma magnificente percentagem de doença ulcerosa, gastrite, pancreatite,
hepatite alcoólica e cirrose hepática, mesmo em doses mais reduzidas, o álcool
causa perturbação na produção de açúcares pelo fígado (gliconeogénese);

 Alcoolismo e cancro – o alcoolismo crónico leva a uma elevada taxa de


comorbilidade de cancro do sistema digestivo (esófago e estômago), cabeça,
pulmões e pescoço, esta situação encontra-se relacionada com a inflamação
local do revestimento dos pulmões e do sistema digestivo, bem como a
diminuição da acção protectora das mucosas e do enfraquecimento do sistema
imunitário;

58
 Sistema Nervoso – o álcool conduz à deterioração dos nervos periféricos das
mãos e dos pés, ao aparecimento do síndrome cerebral orgânico temporário ou
permanente e risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico;

 Sistema Cardiovascular – a ingestão de bebidas alcoólicas provoca a nível


cardiovascular inflamação ou miocardiopatia, hipertensão arterial e aumento do
colesterol, uma vez que o álcool representa uma toxina para os músculos
estriados;

 Sangue – o alcoolismo causa uma redução da produção de todas as células


sanguíneas, levando a anemia por deficit dos glóbulos vermelhos com aumento
do seu tamanho, diminuição na produção e actividade dos glóbulos brancos
conduzindo a infecções e restrição da produção dos factores de coagulação e
plaquetas, transmitindo um agravamento de equimoses e hemorragias;

 Sistema Muscular – o álcool provoca inflamação muscular e perda de massa


muscular, dores musculares e insuficiência renal;

 Alterações Hormonais e problemas da Função Sexual – com a ingestão de


bebidas alcoólicas, tornam-se evidentes alterações a nível hormonal no que diz
respeito ao cortisol e à prolactina, em termos sexuais as sequelas mais
evidentes, no que diz respeito ao homem são: a atrofia testicular, a diminuição
do volume de esperma ejaculado, do número de espermatozoide e a sua
mobilidade, diminuição dos níveis de testosterona e impotência, no que diz
respeito à mulher são: as anomalias menstruais, danos a nível do
desenvolvimento do feto e o aumento dos níveis de estrogénio, conduzindo a
efeitos de pós menopausa;

 Processos Mentais – os consumos em excesso de bebidas alcoólicas,


manifesta-se por uma relevante quantidade de danos emocionais, destacando-
se a irritação, a tristeza, a ansiedade e os conflitos interpessoais. Uma das
consequências mais relevantes são os sintomas físicos e mentais da ressaca
manifestando-se por: cefaleias, vómitos, redução do apetite, polidipsia,
tonturas, fadiga e tremores;

59
O álcool é verdadeiramente o responsável pelo aparecimento de variadas situações de
doença do foro somático e do foro psiquiátrico, conforme afirma Mello et al (2001),
durante muito tempo a informação das manifestações clínicas resultantes do consumo
abusivo de bebidas alcoólicas, ficou comprometido pela escassez de conceitos ligados
ao alcoolismo e pela falta de noção dos efeitos tóxicos do álcool, deste modo o
diagnóstico era concluído tardiamente.
Subsiste uma ligação entre o consumo de álcool e a doença hepática alcoólica
segundo Freitas (2002), nos indivíduos do sexo masculino que desenvolvem quadros
progressivos de hepatopatia, apresentam um modelo de consumo de bebidas
alcoólicas marcado caracteristicamente pela ingestão diária de 80 gramas ou mais de
álcool (etanol) durante um período de 10 ou mais anos, já referente ao sexo feminino
esse patamar torna-se inferior, estimando-se uma ingestão diária em cerca de metade,
ou seja, 40 gramas ou mais.
O alcoolismo crónico conforme o que mencionado por Cordeiro (2005), em pais
alcoólicos verifica-se um défice neurocognitivo associado à hiperactividade ou défice
da atenção, conduzindo a uma personalidade anti-social. As perturbações
relacionadas ao álcool são 3 a 4 vezes mais repetitivas em indivíduos cujos parentes
em primeiro grau, possuam perturbações associadas ao álcool. Num estudo realizado
entre 1981 e 1983 verificou que 13% da população adulta preenche critérios para o
abuso de álcool numa determinada fase da sua vida, pudendo deste modo serem
inseridos no DSM III. Realçando outros factores, o mesmo autor afirma que a
toxicidade física do álcool é evidente, interferindo inclusivamente ao nível do sistema
nervoso que juntamente com a má nutrição, transporta à demência alcoólica e a
variadas neuropatias. O alcoolismo crónico dificulta o crescimento fetal, prejudicando
posteriormente o desenvolvimento infantil causando:
 Acumulação de gordura no fígado;
 Hepatite;
 Esofagite;
 Gastrite;
 Úlceras gástricas;
 Pancreatite e neoplasia pancreática;
 Perturbação na assimilação de vitaminas e aminoácidos;
 Aumento da tensão arterial;
 Aumento dos níveis da gamaglutamiltranspeptidade;
 Aumento dos níveis de ácido úrico;
 Aumento dos níveis de triglicéridos;

60
 Aumento dos níveis das transaminases: glutâmico – oxalacética e glutâmico –
pirúvica séricos;
 Cirrose hepática;
 Atraso mental;
 Microcefalia;
 Malformações cardíacas;
 Malformações crânio – faciais;
 Pequena estatura;
 Síndrome alcoólico fetal;

Em indivíduos que frequentemente consomem bebidas alcoólicas pode emergir um


incidente agudo que está associado á intoxicação, com curta duração mas em que
surgem quadros de alucinações auditivas nomeadamente persecutórias, conduzindo a
um episódio de psicose alcoólica. No entanto nestes indivíduos aquando de uma
redução ou mesmo cessação do consumo de bebidas alcoólicas surge o delirium
tremens, tornando-se uma emergência psiquiátrica na medida em que
consequentemente aparecem comportamentos agressivos e mesmo suicidários
inesperados, resultante dos conteúdos alucinatórios, existindo mesmo a ocorrência de
morte em 20% dos casos devido a complicações clínicas.
De acordo com Lino (2006), o alcoolismo crónico conduz a vários problemas graves
com consequências equitativamente graves de carácter físico e de carácter mental,
para o indivíduo alcoólico. A nível das patologias físicas que derivam do alcoolismo
sobressaem as gastrointestinais: cancro esofágico, varizes esofágicas, gastrite, cirrose
hepática, perda de força muscular, impotência sexual e infertilidade, no que diz
respeito às patologias mentais associadas ao alcoolismo segundo a DSM IV TR são: o
delirium tremens, a demência (Korsakoff), várias perturbações como as mnésicas, as
psicóticas, de humor, de sono e a disfunção sexual.
As repercussões do alcoolismo crónico de acordo com Breda (2010), são
extensíssimas mais concretamente as que se prendem com a saúde do indivíduo,
levando-o na maioria das vezes a carecer de tratamento, o alcoolismo conduz a
efeitos nefastos a nível da concepção, gravidez e amamentação, bem como no
rendimento escolar, acidentes de viação, acidentes de trabalho, reformas antecipadas,
envelhecimento precoce e morte prematura e conduzindo por outro lado a condutas de
violência e a comportamentos sexuais de risco. O alcoolismo crónico encontra-se
relacionado com as principais causas de morte como: as doenças cardiovasculares, as
doenças oncológicas, os suicídios e a cirrose hepática.

61
O alcoolismo de acordo com Townsend (2002, 2011), pode induzir a uma depressão
geral não seletiva e revertível do sistema nervoso central proveniente do facto de 20%
de uma dose de álcool ser absorvida directamente e instantaneamente pelo sangue
através da parede do estômago, devido a este facto, as bebidas alcoólicas não
necessitam de ser digeridas na medida em que o sangue transporta o álcool ao
cérebro indo este actuar nas áreas centrais, provocando o abrandamento ou a
depressão da actividade cerebral. Os 80% da dose de álcool, são absorvidos
lentamente a nível do intestino delgado passando para a corrente sanguínea. Desta
descrição retém-se que breves momentos após o álcool ser ingerido este encontra-se
em todos os tecidos, órgãos e secreções do corpo do indivíduo. O consumo excessivo
de bebidas alcoólicas manifesta-se em perturbações fisiológicas em múltiplos
sistemas, podendo-se expressar em:
 Neuropatia Periférica – caracterizada por danos nos nervos periféricos
causando ao doente dores, sensação de ardor, formigueiro e picadas;

 Miopatia Alcoólica – manifestando-se numa fase aguda ou crónica. Na fase


aguda o doente experiencia dor muscular, edema e tom avermelhado na urina,
na fase crónica manifesta-se por uma deterioração e enfraquecimento
progressivo dos músculos esqueléticos;

 Encefalopatia de Wernicke – provocada pela falta de tiamina no organismo,


manifestando-se por paralisia dos músculos oculares, diplopia, ataxia,
sonolência e letargia;

 Psicose de Korsakoff – é identificada por uma síndrome de confusão e perda


de memória;

 Cardiomiopatia alcoólica – os efeitos do álcool no coração traduzem-se em


insuficiência cardíaca congestiva, arritmias, dispneia e taquicardia;

 Esofagite – devido aos efeitos tóxicos das bebidas alcoólicas, surge a


inflamação e a dor a nível do esófago;

 Gastrite – o álcool provoca uma inflamação nas paredes do estômago,


expressando-se em: desconforto epigástrico, náuseas, vómitos e distensão
abdominal;

62
 Pancreatite – normalmente ocorre após um consumo excessivo de bebidas
alcoólicas, exteriorizando-se por: uma dor epigástrica intensa e constante,
náuseas, vómitos e distensão abdominal;

 Hepatite alcoólica – caracteriza-se por uma inflamação do fígado causada por


uma ingestão excessiva e continuada de álcool e manifestando-se por: letargia,
anorexia, contagem elevada de glóbulos brancos, febre, icterícia e ascite;

 Leucopenia – a produção, a funcionalidade e a actividade dos glóbulos


brancos encontra-se alterada, o que propicia ao risco de aparecimento de
doenças infecciosas;

 Trombocitopenia – a produção e a sobrevivência das plaquetas encontra-se


limitada, o que origina a predisponência de hemorragias;

 Disfunção sexual – as bebidas alcoólicas interferem na produção e


subsistência das hormonas femininas e masculinas, conduzindo a dificuldades
em engravidar, alterações nos ciclos menstruais, diminuição da libido e
desempenho sexual, limitando a fertilidade;

63
CAPÍTULO III – Cirrose Hepática

3.1 – Conceito

A cirrose hepática é uma doença crónica e degenerativa do fígado que compreende a


aniquilação da arquitectura habitual do órgão, originando um comprometimento da sua
funcionalidade.
De acordo com Sofia (1988), a cirrose hepática é o resultado final de anos de
agressões ao fígado, sendo caracterizada pela substituição do tecido hepático normal
por nódulos e tecido fibroso. Ainda segundo este autor, reforçado por Magalhães e
Carvalhal (1991) e por Freitas (2002) a cirrose hepática classifica-se do ponto de vista
clínico em duas formas: compensada e descompensada. A forma compensada não
apresenta grandes sintomas e pode passar despercebida durante anos, no entanto o
indivíduo pode sentir: cansaço, debilidade, falta de apetite, náuseas, perda de apetite
e apresentar telangectasias araneiformes no tronco, na forma descompensada os
sinais e sintomas são evidentes e graves.
Neste sentido Gitlow e Peyser (1991, pág. 170), descrevem que: “O efeito físico mais
proeminente da ingestão de altas quantidades de álcool é a infiltração gordurosa do
fígado. Isto resulta em grande parte de lipogênese hepática aumentada. […] Há
evidência de que hepatite alcoólica é um dos principais caminhos de fígado gorduroso
para cirrose hepática”. Ainda de acordo com os mesmos autores, estes afirmam que a
correlação que existe entre a incidência do aparecimento de cirrose hepática e a
quantidade e duração de ingestão de bebidas alcoólicas conduziu à conclusão de que
o etanol por si só é a causa de cirrose hepática.
Segundo Magalhães e Carvalhal (1991), a cirrose hepática é uma doença crónica e
evolutiva, resultante da irreversibilidade da doença hepática alcoólica e que se
representa morfologicamente por um processamento de fibrose difusa e formação de
nódulos, fazendo-se acompanhar frequentemente por necrose hepatocelular.
Decorrente destas modificações aparecem distúrbios ao nível da circulação e
consequente hipertensão da veia porta.
De facto e de acordo com Stroebe e Stroebe (1995), estes mencionam que o excesso
de álcool conduz a riscos evidentes na saúde sendo o enfoque mais evidente o risco
de mortalidade devido a causas específicas, tornando-se evidente neste sentido a

64
correlação entre o risco de mortalidade e a cirrose hepática. O consumo regular de
álcool leva a esteatose hepática (fígado gorduroso), evoluindo posteriormente para
hepatite alcoólica, e por fim, para cirrose e falência hepática.
Apresentando uma clarividência com o que foi referido anteriormente Lendermann
(1964 citado por Stroebe e Stroebe 1995, pág. 141) expressa que: “Existem também
evidências que nos sugerem que as restrições impostas ao consumo de álcool são
acompanhadas de um decréscimo no número de mortes devidas à cirrose do fígado”.
A cirrose hepática de acordo com Freitas (2002), surge como uma ocorrência global
de 200 a 300 casos por cada 100.000 habitantes. È mais frequente no sexo masculino
do que no sexo feminino. Nos países ocidentais desenvolvidos, o consumo crónico de
bebidas alcoólicas é de longe a causa mais frequente de cirrose hepática surgindo em
50% dos casos. Verificando-se que entre os indivíduos com alcoolismo crónico 15 % a
20% desenvolverá um quadro de hepatite alcoólica, que culminará em cirrose
hepática. Os doentes com hepatite alcoólica em 50% dos casos apresentam uma
concomitância de cirrose hepática. Ainda segundo este autor a cirrose hepática pode
ser classificada quanto à sua morfologia e à sua etiologia. No que diz respeito à sua
morfologia pode ser classificada em:
 Cirrose micro-nodular – descrita por nódulos regulares com menos de 3 mm
de diâmetro: alcoolismo, hemocromatose, obstrução biliar, “bypass” jejuno-ileal;
 Cirrose macro-nodular – representada por nódulos com dimensões superiores
a 3 mm de diâmetro: hepatite crónica B e C, deficiência em α1-antitripsina, cirrose
biliar primária;
 Cirrose mista – combinação das duas formas descritas previamente (cirrose
micro-nodular e cirrose macro-nodular);

Quanto à sua etiologia a cirrose hepática pode ser classificada em:


 Hepatite viral B, C e D;
 Alcoolismo;
 Metabólica – tais como: hemacromatose genética, doença de Wilson,
deficiência em α1-antitripsina, fibrose quística;
 Doença Biliar – tais como: Obstrução biliar extra-hepática, obstrução biliar
intra-hepática, cirrose biliar primária, colangite esclerosante primária;
 Obstrução do fluxo venoso tais como: doença veno-oclusiva, insuficiência
cardíaca direita;
 Drogas toxinas e químicos;
 Doenças imunológicas – hepatite auto - imune;

65
 Outras – tais como: Sarcoidose, Esteatohepatite não alcoólica, “bypass”
jejuno-ileal, Hipervitaminose A;

Esta classificação da cirrose em termos da morfologia torna-se mais útil em termos


clínicos, na medida em que permite o reconhecimento do agente etiológico mediante a
disposição dos dados clínicos, bioquímicos, histológicos e epidemiológicos.
A cirrose hepática conforme exposto por Knutz e Knutz (2006), surge em todo o
mundo afectando todas as raças, faixas etárias e ambos os sexos. Trata-se da etapa
final e irreversível do culminar de várias doenças hepáticas crónicas de variadas
etiologias ou da exposição prolongada de diversos produtos nocivos ao fígado. A
extensão das alterações morfológicas depende do estadio em que se encontra a
cirrose hepática e a causa que lhe deu origem, no entanto 40% a 60% dos alcoólicos
contrairão esta doença. Os mesmos autores mencionam que uma classificação
definitiva da cirrose hepática torna-se difícil, contudo pode ser categorizada segundo
determinados parâmetros como: a sua etiologia, a sua morfologia, ao desenvolvimento
patogénico e aos critérios clínicos.
1. Consoante à sua etiologia a classificação tornar-se-ia desejável na medida em
que esta abordagem possibilita estabelecer não só medidas profiláticas e
terapêuticas mas também o prognóstico. No entanto esta classificação torna-se
limitada por determinadas razões:
 A origem da cirrose hepática não pode ser estabelecida na enorme
parte dos casos;
 No que diz respeito à individualidade dos doentes, uma
determinada causa leva ao aparecimento de formas morfológicas
diferentes;
 Na medida em que pode existir várias razões para a mesma forma
de cirrose hepática;
 Várias causas podem frequentemente ajustarem-se em múltiplas
combinações;

2. A cirrose hepática é uma doença que afecta o fígado no seu todo, sendo
caracterizada pela fibrose dos tecidos, pela alteração e pela transformação do
parênquima nodular. Esta classificação é a que tem reunido maior consenso e
baseia-se no:
 Tamanho do fígado – na cirrose hepática o tamanho varia de caso
para caso podendo mostrar tamanho normal, atrofia hepática ou

66
hepatomegália, no entanto na maioria das cirroses hepáticas a
dimensão do fígado mostra atrofia;
 Tamanho dos nós regenerativos – a formação de nós é uma
descoberta comum na superfície do fígado, no entanto é difícil
reconhecer na cirrose hepática originada pelo alcoolismo;
 Estrutura do tecido fino – devido à cirrose hepática podem-se
originar micro ou macro nódulos a nível do tecido hepático;
 Progressão – é de extrema importância clínica, podendo apenas ser
determinada pela histologia. A progressão da cirrose hepática
apresenta uma infiltração inflamatória crónica do tecido conjuntivo,
bem como em grupos de hepatócitos danificados, necrose a nível
celular e formação de nódulos;
 Conclusão da cirrose hepática – um importante critério consiste em
determinar se a transformação nodular a nível do fígado se encontra
completa ou incompleta. A fibrose do tecido hepático surge como
uma característica morfológica que pode ser observada na cirrose
hepática quer na forma compensada, quer na forma
descompensada da doença, podendo ser observada nos vários
estadios da cirrose hepática;

3. O desenvolvimento patogénico na cirrose hepática é entendido por meio de


achados morfológicos, deste modo a cirrose hepática desenvolve-se de um
modo:
 Regular – a sua causa tem um efeito forte e imutável e a longo
prazo, neste âmbito inclui-se a cirrose hepática originada por
alcoolismo, hemocromatose e doença de Wilson;
 Irregular – em que a causa tem um resultado intervalado inserido
pela inactividade;
 Formas mistas;
 Formas biliares;
 Formas vasculares;

67
4. Por último e no que diz respeito aos critérios clínicos, a cirrose hepática é
dissociada em duas formas:
 Cirrose latente – fase em que não surgem queixas subjectivas ou
sintomas clínicos, este estadio é apenas identificado através de
parâmetros laboratoriais e exames histológicos do fígado;
 Cirrose exteriorizada – fase caracterizada por queixas subjectivas e
achados clínicos, em termos hemodinâmicos a função hepática
encontra-se significativamente alterada, assim como outros órgãos,
sistemas orgânicos e sistema hormonal. Surge ainda uma grande
complexidade de alterações fisiológicas e bioquímicas

A cirrose exteriorizada é dividida em duas formas de manifestação: a forma


compensada e a forma descompensada.
No que diz respeito ao conceito de cirrose hepática Phipps, Long e Woods (1990) e
Phipps, Sands e Marek (2003), referem que é uma doença crónica do fígado a qual é
descrita por uma inflamação disseminada e fibrosa, originando uma transformação
estrutural violenta e expressiva na redução da actividade do fígado. O alcoolismo e a
subnutrição convertem-se nos dois factores fundamentais da predisposição para o
desenvolvimento da cirrose hepática, cerca de 15 % dos indivíduos que são alcoólicos
desenvolvem cirrose hepática em que o principal factor é o volume de álcool ingerido,
em detrimento do tipo de bebida alcoólica.
A cirrose hepática segundo Phipps (2003 citado por Matos 2007, pág. 1382), “(…) é
caracterizada pela inflamação e fibrose difusa do que resultam alterações estruturais
drásticas e uma significativa perda da função hepática.”
A cirrose hepática de acordo com Matos (2007), representa a fase terminal da doença
hepática crónica em que uma das causas é o alcoolismo crónico. A cirrose alcoólica é
uma doença irreversível, a pluralidade das causas comuns de lesão hepática
conduzem à cirrose hepática, no entanto muitos indivíduos com esta doença podem-
se apresentar assintomáticos e pareceram bem de saúde durante anos, esta situação
é devida à grande capacidade de reserva do fígado. A cirrose hepática caracteriza a
última fase da fibrose hepática progressiva, a qual se descreve pela deformação da
arquitectura hepática, sendo irreversível na fase mais avançada e no caso de não ser
tratada a tempo, o processo leva à falência global do fígado e à morte, contudo devido
à enorme aptidão de retenção que o fígado detém, as alterações a nível fisiológico
surgem tardiamente, todavia a contínua destruição do fígado leva a alterações
fibróticas, distorcendo as estruturas hepáticas. Uns dos primeiros sintomas
decorrentes da cirrose hepática são: fraqueza, anorexia e a perda de peso. Ao existir

68
uma obstrução crónica do fluxo biliar surgem os sintomas icterícia e prurido, surge
igualmente a desnutrição decorrente da anorexia e do compromisso da absorção de
gorduras e vitaminas lipossolúveis, o qual é motivado pela redução da produção de
sais biliares, ocasionalmente surgem hematemeses como consequência do
sangramento de veias varicosas da extremidade inferior do esófago (varizes
esofágicas). A fibrose é resultante particularmente da constituição de novas fibras de
colagénio, usualmente é encarada como uma consequência da necrose hepatocelular,
porém não se torna evidente nos estadios mais avançados da doença. Os nódulos do
fígado com cirrose hepática caracterizam o parênquima sobrevivente mas
estruturalmente modificado, variando nas suas dimensões e na sua aparência.
Segundo a mesma autora, para que o diagnóstico de cirrose hepática seja confirmado,
é necessário que sejam reunidos determinados critérios como:
 Deve existir fibrose;
 O tecido cicatricial do fígado deve-se apresentar difuso no seu todo;
 A existência de modificação da arquitectura nodular do fígado;

No que diz respeito à sua classificação Perdigoto e Monteiro (2003 citados por Matos
2007), descrevem que a cirrose hepática pode ser:
 Viral, Alcoólica, Criptogénica;
 Auto-Imune;
 Hemocromatose;
 Doença de Wilson;
 Outra etiologia;

Outros tipos de classificação são utilizados na cirrose hepática conforme refere Matos
(2007), prendendo-se com o aspecto anatomo – patológico, podendo-se considerar:
 Cirrose de Laennec – derivada do alcoolismo e da má nutrição;
 Cirrose pós necrótica – associada à hepatite viral;
 Cirrose biliar primária – de etiologia desconhecida, mas estando associada a
uma possível alteração da resposta imunitária;
 Cirrose cardíaca – derivada da insuficiência cardíaca direita;
 Cirrose metabólica – de carácter inespecífico, mas estando relacionada com:
problemas metabólicos, doenças infecciosas, infiltrativas e gastrointestinais;

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A cirrose hepática de acordo com o que é anunciado por Chopra e Goldberg (2009),
afigura-se como o último estadio evolutivo no decurso de deterioração da fibrose
hepática, caracterizada pela distorção da arquitectura hepática e o desenvolvimento
de nódulos regenerativos. Na generalidade é encarada como uma doença irreversível
nos seus estadios mais avançados, em que a única opção é o transplante hepático.
Em estadios primários da cirrose hepática, tratamentos singulares apontando a
subjacente causa da doença hepática pode melhorar ou mesmo reverter a cirrose
hepática. Os doentes com cirrose hepática encontram-se susceptíveis a uma
diversidade de complicações resultando numa diminuição da esperança média de
vida. A Qualidade de Vida e a sobrevivência dos doentes com cirrose hepática pode
ser melhorada pela prevenção e pelos tratamentos que evitem o aparecimento de
complicações. A cirrose hepática tem um resultado arrasador em termos de:
sofrimento humano, custos financeiros e sobretudo na perda de Qualidade de Vida.
Segundo Figueiredo, Machado e Viana (2010), a cirrose hepática é uma doença
crónica do fígado levando à destruição dos hepatócitos, estes ao se regenerarem
provocam a fibrose. De acordo com estes autores, a cirrose hepática pode ser dividida
em três tipos:
 Cirrose portal de Laennec – motivada pelo consumo excessivo de bebidas
alcoólicas e pela insuficiência nutricional, em que o tecido fibroso envolve as
áreas do sistema porta;
 Cirrose pós–necrótica – representada pela presença de diversas faixas
alargadas de tecido fibroso em consequência de hepatite viral;
 Cirrose biliar – originada pela obstrução biliar crónica e em consequência de
uma colangite e caracterizada por uma fibrose peri-colangítica e peri-lobular;

Apesar de ser um conceito clássico, a mortalidade motivada por cirrose hepática de


acordo com Breda (2010), persiste num indiciador de um problema de saúde
proveniente do consumo desmesurado e perseverante de bebidas alcoólicas.

70
3.2 – Etiologia

Para Gitlow & Persey (1991), existe uma evidência de que a doença hepática alcoólica
é um dos cursos fundamentais ao aparecimento de fígado gorduroso que despoletará
posteriormente no surgimento da cirrose hepática, de facto vários estudos realizados
demonstraram que níveis elevados e continuados da ingestão de álcool encontram-se
conclusivamente relatados à incidência e à ocorrência da cirrose hepática.
A cirrose hepática segundo o que é referenciado por Freitas (2002), desenvolve-se em
20% dos indivíduos com alcoolismo crónico. Expressa-se pela progressão de septos
fibrosos de zonas peri-venulares para áreas peri-portais, em união com um decurso
regenerativo que termina na constituição de pequenos nódulos de hepatócitos
envolvidos por tecido fibroso. A cirrose micro-nodular assim denominada nesta fase,
ostenta especificamente nódulos com 1-3 mm de diâmetro. Com a privação alcoólica,
podem-se expandir macro-nódulos, aparecendo uma cirrose nodular mista ou
casualmente veramente macro-nodular. A ingestão contínua de álcool vai impedir a
regeneração o que poderá ocasionar uma inflamação constante e uma esteatose
hepatocitária. Poderá igualmente encontrar-se uma acumulação de cobre e ferro a
nível dos hepatócitos.
O aparecimento de cirrose hepática pode surgir de acordo com Phipps, Sands e Marek
(2003), como resultado de uma doença hepática secundária, de uma colestase intra-
hepática e extra-hepática, de uma hepatite viral e de outras hapatotoxinas originadas
por fármacos, ou originadas por químicos. No entanto o alcoolismo crónico e a
desnutrição aparecerem como dois dos primordiais agentes predisponentes para o
desenvolvimento da cirrose de Laennec.
Conforme o que mencionam Knutz e Knutz (2006), o alcoolismo é a causa mais
comum do aparecimento da cirrose hepática, o álcool torna-se no aparecimento da
cirrose hepática como o agente ou o catalizador.
O mesmo é confirmado por Matos (2007), a qual refere que o álcool é a causa mais
comum do princípio da cirrose hepática no mundo ocidental, nos indivíduos com
idades correspondentes entre os 45 e os 65 anos de idade, a cirrose hepática é o
terceiro motivo mais comum de causa de morte, após as cardiopatias e o cancro.
Segundo Figueiredo, Machado e Viana (2010) a cirrose hepática é muito
frequentemente desenvolvida devido ao alcoolismo crónico, caracterizando-se pelo
aumento do tamanho do fígado.

71
3.3 – Manifestações Clínicas

A cirrose hepática causa no doente um variado leque perceptível de sinais e sintomas.


De acordo com Phipps, Long e Woods (1990) e com Phipps, Sands e Marek (2003),
os doentes com cirrose hepática por norma manifestam sinais de astenia e prostração
e surgindo sintomas indefinidos como: náuseas, vómitos, anorexia, indigestão,
flatulência e obstipação. A perda de peso é outro factor, no entanto esta condição
pode-se encontrar dissimulada por duas situações, uma delas em consequência da
retenção de água de forma anormal e a outra situação tem a ver com a seriedade da
subnutrição que poderá não ser evidente em consequência das calorias que as
bebidas alcoólicas contêm. Os doentes com cirrose hepática manifestam ainda dores
abdominais de vários tipos: intermitentes, agudas, persistentes ou do tipo moinha, as
quais podem-se localizar na zona do fígado e a nível do quadrante superior direito ou
situada na zona do baixo-ventre.

3.4 - Diagnóstico

Para além de sinais e sintomas manifestados pelos doentes, são utilizados diversos
meios de diagnóstico na cirrose hepática de forma a confirmar o seu diagnóstico. De
facto existe uma diversidade de exames laboratoriais, de imagem e físicos que são
utilizados para a confirmação da cirrose hepática, constituir o motivo subjacente,
determinar a sua severidade e resolver as complicações prováveis dessa condição.
Conforme relata Gitlow & Persey (1991), o diagnóstico de cirrose hepática deve ser
levado em consideração em qualquer indivíduo alcoólico que comporte a anorexia
súbita ou crónica, náusea, perda de peso, astenia, modificação de hábitos intestinais,
dor abdominal superior, fígado mole ou aumentado.
Os doentes com cirrose hepática de acordo com Phipps, Long e Woods (1990) e com
Phipps, Sands e Marek (2003), ostentam a nível laboratorial quer de sangue, quer de
urina valores anormais, assim no sentido de confirmar o diagnóstico podem ser feitos
vários estudos como: a biópsia do fígado, a endoscopia, o contraste com bário e a
angiografia. No que diz respeito à avaliação de enfermagem, ambos os autores,
referem-na como sendo importante no sentido de definir um diagnóstico, a avaliação
do doente com cirrose hepática é efectuada através da sua história clínica e deste
modo devem-se ter em consideração os seguintes dados subjectivos:

72
 Observação minuciosamente das queixas que o doente refere, contendo a sua
duração, situações em que houve aumento de temperatura e presença de
infecções anteriores, fadiga recente e diminuição da força muscular;

 Características físicas genéricas - devem-se ter em conta as alterações da


pele e escleróticas, presença de equimoses ou hematomas, aumento do
perímetro abdominal ou alterações a nível das características sexuais
secundárias, queixas de prurido e perda de massa muscular;

 Hábitos sociais - torna-se importante ter conhecimento sobre o uso de drogas


ou álcool por parte do doente, a quantidade consumida, factores que
desencadearam o seu consumo, as tentativas realizadas para cessar o seu
consumo, a última vez que bebeu e o ambiente de trabalho;

 Antecedentes alimentares - a quantidade e a frequência que o doente ingere


diariamente, nas 24 horas e nos últimos três dias, se têm ocorrido
recentemente alguma alteração do apetite e perda de peso;

 Eliminação - é importante que seja assinalado por parte do doente qualquer


alteração que surja na cor e na quantidade de urina, alterações a nível dos
movimentos peristálticos dos intestinos e qualquer alteração na cor das fezes;

 Conferir algum tipo de náusea, vómito, anorexia, indigestão, dores abdominais


ou flatulência;

 Neuromuscular - averiguar se o doente refere fadiga ou força muscular,


diminuição da sua capacidade de trabalho, perdas de memória e alteração na
coordenação;

 Sexualidade - avaliar se o doente refere diminuição da libido ou impotência


sexual;

73
Para além da avaliação de enfermagem dos dados subjectivos descritos
anteriormente, são analogamente relevantes a avaliação dos dados objectivos:
 Monitorização dos sinais vitais, incluindo o peso;
 Respiração - presença de sibilos ou insensibilidade no lóbulo inferior direito;
 Eliminação - monitorização da diurese, da cor da urina e das fezes e a
presença de atrofia testicular;
 Abdómen - presença de distensão abdominal, ruídos intestinais, aumento do
perímetro abdominal ou presença de ascite;
 Pele e escleróticas - presença de icterícia, equimoses, hematomas, edemas,
lesões da pele por fricção e ginecomastia;

Os diagnósticos de enfermagem são efectuados mediante a análise dos dados que se


obtêm da colheita de informação do doente, tendo em conta os dados subjectivos e
objectivos descritos anteriormente.
Para chegar ao diagnóstico de doença hepática crónica e/ ou de cirrose hepática no
doente é necessário segundo Knutz e Knutz (2006), um exame físico minucioso e uma
anamnese clara e abrangente do doente, para além disso é necessário realizar
exames complementares de diagnóstico que vão de encontro ao que os autores
anteriores já mencionaram, contudo estes autores enunciam ainda: a cintigrafia, a
colangiografia e a tomografia por emissão de positrões (PET). Na medida em que os
doentes com cirrose hepática apresentam por vezes confusões e desorientações
mentais pelo aparecimento da encefalopatia hepática, torna-se fundamental nestes
casos a realização de um electroencefalograma (EEG) e complementado pela
realização de testes psicométricos.
De acordo com Figueiredo, Machado e Viana (2010), para se diagnosticar a cirrose
hepática no doente torna-se essencial a realização de determinados exames auxiliares
de diagnóstico como: a biópsia hepática, a arteriografia, a esplenoportografia, a
Tomografia Axial Computorizada (TAC) e devendo-se igualmente estar atento aos
valores laboratoriais, contudo deve-se incluir o exame físico realizado pelo enfermeiro.

74
3.5 – Tratamento Médico e de Enfermagem

No tratamento dos doentes com cirrose hepática Freitas (2002), refere a utilização de
medidas terapêuticas específicas em que no caso da cirrose hepática resultante de
alcoolismo crónico, passa pela abstinência alcoólica. Mas na maioria dos casos, a
abordagem terapêutica recai nas complicações da cirrose hepática.
Segundo o que é referido por Phipps, Long e Woods (1990) e por Phipps, Sands e
Marek (2003), o fígado torna-se vulnerável a múltiplos distúrbios que predispõem
carências fisiológicas e psicossociais aos doentes, colocando aos profissionais de
enfermagem sérios desafios relativamente aos cuidados a serem prestados e em que
na maioria das vezes, estes doentes requerem cuidados de enfermagem específicos
que os levem a realizar as mudanças que sejam imprescindíveis para que se possa
controlar o problema e impedir que ele se propague. Em termos de enfermagem e nos
cuidados a prestar a estes doentes, convém realçar algumas intervenções específicas
como:
1) Avaliação do doente no que diz respeito a factores como: anorexia,
indigestão, náuseas, vómitos, obstipação, diarreia e dor abdominal
persistente e não localizada. Vigiar sinais de prováveis hemorragias e
sangramentos por varizes esofágicas. Neste âmbito é relevante avaliar
sinais e sintomas de encefalopatia hepática como: letargia, alterações
do comportamento e da personalidade, astexia, paranóia, alucinações
e coma. Nos doentes com cirrose hepática pode surgir dispneia,
relacionada com a diminuição da ampliação torácica, vulgarmente
relacionada com a presença de ascite. Deverá ter-se em conta as
modificações endócrinas como: impotência, diminuição da libido,
alterações menstruais, nos doentes do sexo masculino a atrofia
testicular, a perda de pêlos do peito e a ginecomastia;

2) Apoiar o doente na mobilização que se encontra prejudicada devido à


fadiga e ao cansaço fácil, podendo ser seguida por: fraqueza muscular,
hemorragia, anemia e retenção de líquidos. O tipo de actividade e a
intensidade com que o doente é estimulado a realizar irá depender da
energia individual, do nível de consciência e da coordenação;

3) Avaliar a respiração, posicionando o doente em Fowler e avaliar a


necessidade de o doente necessitar de oxigenoterapia, devido ao
aparecimento de dispneia, relacionada com o aumento de pressão a

75
nível do diafragma, em consequência da ascite. O doente exibe maior
propensão a infecções respiratórias, que ocorrem por hidrotórax e/ ou
respiração superficial. Encontrando-se em repouso no leito, devem ser
realizados ensinos ao doente, no sentido de ir alternando os decúbitos
com frequência e executar inspirações profundas para evitar estase de
secreções;

4) Manutenção do equilíbrio de líquidos e electrólitos. Os doentes com


cirrose hepática apresentam ascite, edemas periféricos, retenção de
sódio e hipocaliemia, nestes casos existe a necessidade da reposição
de potássio, que normalmente por é por via oral. Muitos destes doentes
desenvolvem síndrome hepato-renal e manifestam uma diminuição da
função renal, tornando-se importante monitorizar e registar a diurese,
nestes casos a medicação mais frequente é a administração de
diuréticos como a espironolactona, a furosemida e em certos casos a
administração de albumina humana. Quando surge o aparecimento
destes sinais e sintomas é importante a restrição hídrica para além do
repouso do doente no leito;

5) Promover um cuidado permanente da pele na medida em que nestes


doentes devido: ao prurido, à subnutrição e ao edema, poderá ocorrer
frequentemente lesões na pele, neste sentido deverá ser promovida
frequentemente a alternância de decúbitos no leito, a utilização de
colchões de pressão alterna que evitem a maceração das
proeminências ósseas e a aplicação de massagens de conforto na
zona dorsal e nas proeminências ósseas;

6) Controlar o prurido, que se manifesta devido á presença de pigmentos


biliares na pele, anoxia dos tecidos e dilatação dos capilares, causando
ao doente cansaço e desmotivação, poderão ser adoptadas algumas
medidas como: o uso de pijamas frescos que facilitem a liberdade de
movimentos, roupa da cama limpa e seca, a aplicação de cremes
hidratantes para evitar a pele seca, manter um ambiente fresco e a
administração de anti-histamínicos;

76
7) Evitar perdas sanguíneas e quedas na medida em que o doente,
devido à cirrose hepática, apresenta risco elevado de hemorragia
devido a uma má absorção de vitamina k, a uma falta de produção dos
factores de coagulação e a trombocitopenia, no doente surgirá o
aparecimento de varizes esofágicas e hemorroidais, os cuidados de
enfermagem devem ser centralizados na vigilância do aparecimento de
hemorragias;

8) Apoiar o doente com o intuito de evitar a recaída do consumo de


álcool, torna-se um dos aspectos primordiais da prestação dos
cuidados de enfermagem, neste sentido requer que exista uma
confiança entre a equipa de enfermagem e o doente e que subsista por
parte do doente a aceitação de que tem um problema com as bebidas
alcoólicas;

9) Promover a auto - estima na medida em que o doente sofre alterações


corporais relacionadas com a cirrose hepática, bem como a existência
da alteração de papéis por parte do doente e dos seus familiares,
tornando-se assim importante para o doente ser ajudado na
perseverança de uma auto - estima positiva para evitar a recaída,
deste modo é essencial envolver o doente nos objectivos a atingir e
que este participe no máximo das decisões que forem possíveis, dando
ao doente uma resposta positiva das suas realizações, envolvendo os
cuidadores informais a darem apoio e reforço positivo às suas acções e
apoiar o doente nas actividades em que estes não tenham sucesso;

Ainda de acordo com os mesmos autores e no que diz respeito ao tratamento médico
aos doentes com cirrose hepática, este é dirigido no sentido de remover factores
causais como: o alcoolismo, a obstrução biliar, infecções e problemas cardíacos,
contudo deve ser igualmente dado especial atenção no sentido de evitar complicações
adicionais do fígado. O alcoolismo crónico e a subnutrição são dois dos principais
factores geradores da cirrose hepática assim deve ser dado imenso cuidado ao
provimento da dieta correcta e auxiliar o doente a controlar a ingestão de bebidas
alcoólicas. Outros tratamentos que dependem dos sinais e sintomas que o doente
apresenta, passam pela administração de albumina por hipoalbunimenia, anti-
histamínicos por prurido, potássio por hipocalcemia, diuréticos e ácido fólico, tiamina e

77
outras vitaminas por anemia e carência vitamínica, nestes doentes a terapêutica
consiste frequentemente pela restrição de sódio e de líquidos.
Conforme referenciado por Matos (2007), existe clara evidencia que os tratamentos
médicos e farmacológicos dos doentes com cirrose hepática dependem dos sintomas
e sinais que este apresenta e visam particularmente delimitar os efeitos da doença
crónica do fígado. Por ser uma doença que não tem cura, o seu tratamento subsiste
na abolição das substâncias tóxicas (álcool) e em termos de nutrição que esta seja
adequada no reforço vitamínico e no tratamento das complicações que irão surgindo
ao longo da doença.
O tratamento do doente com cirrose hepática de acordo com Figueiredo, Machado e
Viana (2010), baseia-se nos sintomas que o doente ostenta, ou seja, o tratamento
habitualmente prende-se com a sintomatologia. O tratamento premeia sobretudo a
protecção da mucosa gástrica através de medicamentos antiácidos e uma dieta
adequada com o intuito de prevenir possíveis hemorragias, enquanto a retenção de
líquidos é evitada com a administração de diuréticos. A carência de vitaminas é
resolvida com uma dieta rica em suplementos vitamínicos, principalmente as do
complexo B e vitamina K. A ascite é um factor que compromete a função cardio-
respiratório, tornando-se importante a drenagem do líquido ascítico através de
paracentese. Ainda de acordo com os mesmos autores os cuidados de enfermagem
tornam-se de importante relevância no tratamento dos doentes com cirrose hepática. A
prestação de cuidados de enfermagem, preconizam-se nestes casos, os seguintes:
 Proporcionar repouso no leito na medida em que auxilia a recuperação da
capacidade funcional do fígado;
 Manter o doente em Fowler (elevação da cabeça e do tronco do doente) ou
semi-Fowler com o intuito de facilitar a função respiratória do doente que
apresenta ascite, levando à diminuição da pressão do líquido abdominal sobre
o diafragma;
 Monitorizar o peso do doente de manhã na medida em que o aumento de peso
e a retenção de líquidos se encontram interrelacionados;
 Instituir oxigenoterapia;
 Promover as alternâncias de decúbito do doente, pois o edema provoca
maceração da pele;
 Avaliar e registar alterações neurológicas como: a diminuição do nível de
consciência, obnubilação, estado convulsivo relacionado com o aumento do
valor de ureia e amônia que são citotóxicos a nível do sistema nervoso central,
que irão provocar encefalopatia hepática;

78
 Monitorizar sinais e sintomas de hemorragia sobretudo a nível abdominal e
evidenciado por desconforto abdominal, melenas e hematemeses;

3.6 - Complicações

Segundo Sofia (1988), na cirrose hepática surgem dois distúrbios importantes – a


insuficiência hepática e a hipertensão portal. A primeira manifesta-se essencialmente
por icterícia, hipoalbuminémia e diminuição da protombina, enquanto a segunda
caracteriza-se por uma circulação colateral externa e interna, dando origem a varizes
esofágicas e gástricas. A insuficiência hepática e a hipertensão portal são ainda
responsáveis pela ascite e pela encefalopatia hepática.
Indo de encontro ao que foi referido pelo autor atrás exposto, devido à cirrose hepática
surgem dois distúrbios importantes – a insuficiência hepática e a hipertensão portal
conforme é exposto por Magalhães e Carvalhal (1991), a insuficiência hepática revela-
se principalmente por icterícia, hipoalbuminémia e diminuição da protrombina,
enquanto que a hipertensão portal é representada por uma circulação colateral externa
e interna que leva ao aparecimento de varizes esofágicas e gástricas. A insuficiência
hepática e a hipertensão portal tornam-se deste modo responsáveis pela ascite e pela
encefalopatia hepática. É na forma descompensada da cirrose hepática que se
manifestam as complicações com o surgimento de sinais e sintomas visíveis e
profundos:
 Edema e ascite (hipoalbuminémia);
 Icterícia (acumulação de bilirrubina);
 Prurido devido aos produtos que não são deteriorados e se vão acumulando
na pele;
 Encefalopatia hepática devido a alteração cerebral que surge devido a
distúrbios metabólicos que comprometem os neurónios. Nos casos mais
graves o sangue da veia porta é desviado, indo afecta o cérebro sem que as
substâncias geradas no intestino, como é o caso da amónia, não tenham sido
metabolizadas pelos hepatócitos;
 Varizes esofágicas e gástricas, que originam as hemorragias digestivas;
 Alterações no equilíbrio hidroelectrolítico e ácido-básico;
 Hipoglicémia que pode levar a coma hepático;
 Alterações da coagulação (diminuição da taxa de protombina);
 Insuficiência renal;

79
Uma das complicações da cirrose hepática é a encefalopatia hepática que de acordo
com Mello et al (2001), é frequentemente encontrada nos doentes com cirrose
hepática, circundando um agregado de modificações neurológicas e psíquicas que
acompanham a insuficiência hepática. Estas alterações neurológicas podem ir desde
leves perturbações neuropsíquicas até ao coma profundo, é classificada em quatro
graus dependendo do tipo de alterações que são manifestadas no doente, nestas
alterações tem-se em conta o estado de consciência, as funções intelectuais, a
personalidade, o comportamento e as alterações neuromusculares. O mecanismo
fisiopatológico que está intimamente conferido com a encefalopatia hepática é a hiper-
amoniémia a qual é o principal factor desta complicação mas não só, também o défice
de metabólitos e a isquémia cerebral originam uma diminuição do débito sanguíneo a
nível cerebral.
O carcinoma hepatocelular de acordo com Freitas (2002), surge em 5% a 10% dos
doentes com cirrose hepática em abstinência, isto deve-se à transformação das
formas micro-nodulares, em formas macro-nodulares da cirrose hepática, em que o
seu desenvolvimento ocorre ao fim de 4 a 5 anos após o diagnóstico de cirrose
hepática. Segundo o mesmo autor é na fase descompensada que se manifestam os
sinais e sintomas que surgem das complicações da cirrose hepática como a
hipertensão portal que conduz a sinais como: a ascite, o edema periférico, a icterícia
evolutiva, a confusão e a hemorragia por varizes esofágicas ou gástricas. No que diz
respeito ao exame físico são detectadas: hepatomegalia, ascite, edema, eritema
palmar, aranhas vasculares, desnutrição, hipertrofia das parótidas, atrofia testicular,
hérnias peri-umbilicais (medusa) e contracturas de Dupuytren, unhas esbranquiçadas,
perca de pilosidade nas axilas e tronco e disposição feminina da pilosidade púbica. A
nível cardíaco é comum um aumento do ritmo cardíaco (taquicardia), a nível pulmonar
pode ocorrer frequentemente síndrome hepato-pulmonar devido a dispneia e a uma
diminuição da saturação de oxigénio levando a cianose. O doente pode ostentar
encefalopatia hepática que se manifesta no doente desde o grau I ao grau IV,
provocando alterações neurológicas. Outras complicações que podem decorrer da
cirrose hepática são nomeadamente a ruptura de varizes esofágicas e/ ou gástricas e
o síndrome hepato-renal.
Corroborando com o que foi exposto anteriormente Matos (2007), descreve que nas
complicações que emergem devido à cirrose hepática surge a hipertensão portal,
induzida por um acréscimo da resistência do fluxo sanguíneo através do fígado,
correspondendo a um menor fluxo de sangue através do fígado e conduzindo a um
aumento do fluxo arterial da veia esplénica, estes dois factores associados provocam
um agravamento da pressão no sistema porta, conduzindo ao desenvolvimento de

80
varizes as quais procuram constituir um “bypass” no fluxo da veia porta do fígado. As
consequências da hipertensão portal são: esplenomegália, insuficiência hepática,
ascite, deficit dos factores de coagulação e encefalopatia hepática. Podem no entanto
surgir outros sintomas como: atrofia muscular, eritema palmar (rubor na palma da
mão), contractura de Dupuytren (contractura da aponevrose palmar), aranhas
vasculares, ginecomastia nos homens (aumento das mamas), atrofia testicular e a
neuropatia periférica (lesão dos nervos periféricos). Como consequência da obstrução
do fluxo sanguíneo portal e da perda da função hepática despontam problemas
suplementares como a ingestão hídrica que conduz a edema (inchaço), a ascite e o
hidrotórax (liquido na pleura) que aparecem devido ao aumento da pressão na veia
porta, a um aumento da pressão venosa, a veias varicosas e hemorroidas.
A cirrose hepática é de acordo com Townsend (2011), o último estadio da doença
hepática alcoólica em que persiste uma destruição generalizada das células hepáticas
as quais são substituídas por tecido fibroso, esta conjuntura causa várias
complicações que se descrevem seguidamente:
 Hipertensão portal – aumento da pressão arterial a nível portal em
consequência de um fluxo irregular através do fígado;
 Varizes esofágicas – veias a nível do esófago que se distendem devido à
desmesurada pressão que se estabelece por um anormal fluxo sanguíneo
através do fígado com riscos de ruptura e consequente hemorragia;
 Ascite – enorme quantidade de líquido seroso acumulado no peritoneu
resultante da hipertensão portal;
 Encefalopatia hepática – elevados níveis séricos de ureia e amónia por
insuficiência hepática, conduzindo a limitação gradual do processo mental;

3.7– Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde e Cirrose Hepática

De acordo com Arguedas et al (2003), a doença hepática crónica tem como suas
potenciais consequências a cirrose hepática e a hipertensão portal, estas
frequentemente se encontram associadas a uma mortalidade e comorbilidade
significativas. A doença hepática crónica e a cirrose hepática têm um forte impacto
negativo na Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde. Em doentes com cirrose
hepática a presença de sintomas específicos como por exemplo as cãibras
musculares, comprometem a Qualidade de Vida. Os efeitos específicos das
complicações geralmente encontradas na cirrose hepática tais como: a hipertensão

81
portal, a ascite, a hemorragia por varizes esofágicas e a encefalopatia hepática,
embora não contribuindo de imediato para o risco de vida do doente, interferem
grandemente com o bom funcionamento do doente, com a interacção social e com o
senso de bem-estar, os doentes com cirrose hepática apresentam um maior deficit
físico e mental do que a população em geral. Os doentes com encefalopatia hepática
diminuíram a capacidade física e mental em comparação com doentes sem
encefalopatia, comprometendo a Qualidade de Vida dos doentes com cirrose hepática.
Segundo Chazoulières et al (2004), os resultados clínicos tradicionais no que diz
respeito à saúde dos doentes são importantes, no entanto estes precisam de ser
integrados nas percepções dos doentes em relação à sua saúde, reflectindo como se
sentem e com que intensidade e dimensão a doença afecta as suas vidas.
Conforme o que é relatado por Boparai et al (2000 citado por Chazoulières et al.
2004), num estudo recente em doentes com cirrose biliar primária exibiu um
substancial comprometimento na Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde, estas
mudanças negativas na Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde, foram mais
afectadas consoante o agravamento e a evolução da cirrose biliar primária. Nestes
doentes constata-se que no global, a sua Qualidade de Vida é pior do que a população
em geral, esta diferença é sobretudo devido às baixas reacções emocionais e
actividades motoras, em que ambas estão associadas à fadiga.
Segundo Matos (2007), o impacto da doença e do transplante hepático na Qualidade
de Vida de doentes com cirrose hepática revelam uma má Qualidade de Vida dos
participantes em fase terminal da cirrose hepática, com perca acentuada da
independência, limitações progressivas, partilhando entre si problemas físicos e
psicossociais semelhantes às doenças auto infligidas.
Conforme expõe Carr et al (2007), a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde
tornou-se recentemente um item importante no tratamento da doença hepática
crónica. De acordo com as investigações que se têm realizado neste âmbito, utilizando
como instrumento o questionário HRQL (Qualidade de Vida Relacionada com a
Saúde) em doentes diagnosticados com doença hepática crónica, os investigadores
concluíram que estes doentes evidenciaram pior Qualidade de Vida Relacionada com
a Saúde.
A avaliação do impacto da doença hepática tendo em conta as suas várias etiologias,
representa na Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde é analisada por Boer et al
(2007), na qual se verifica que os doentes com doença hepática ostentam uma
Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde diminuída, em termos físicos o cansaço
encontra-se mais acentuado quando em comparação com a população alemã em
geral. Apesar das diferentes etiologias o aparecimento da doença hepática conduz a

82
distintos sintomas e variadas manifestações físicas, sociais e cognitivas nas vidas dos
doentes, a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde destes doentes encontra-se
comprometida e deteriorada.
A Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde ou a eficaz actividade psicológica,
social e física do doente tornou-se conforme afirma Busschbach et al (2008), uma
importante medida de avaliação nos cuidados de saúde, deste modo, tendo em
consideração antes de cada observação clínica a avaliação padronizada da Qualidade
de Vida Relacionada com a Saúde, esta pode fornecer importantes informações
clínicas do doente. Ainda segundo o mesmo autor, o alcoolismo é um problema a nível
mundial e uma das principais causas que leva ao último estadio da doença hepática. A
doença hepática crónica é uma doença grave à qual se encontram associados
factores físicos e psicológicos como: problema de cognição, ascite, dor abdominal,
coma, dores nas articulações, depressão, ansiedade e fadiga, assim não é de
surpreender que a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde se encontre
deteriorada em doentes com doença hepática crónica.

83
PARTE II – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

84
CAPÍTULO IV - Metodologia

4.1 – Tipo de Estudo

A investigação qualitativa possibilita obter de uma forma holística, a maneira como o


doente experiencia toda a problemática da cirrose hepática originada pelo alcoolismo
crónico, destacando-se neste sentido o significado que o doente atribui às situações
que vivencia.
No que diz respeito à investigação qualitativa ela é caracterizada por ser descritiva e
conforme refere Bogdan e Biklen (1994), os dados que são recolhidos ao contrário da
investigação quantitativa, são palavras e não algarismos, desta forma o investigador
que dirige a sua investigação através do método qualitativo, incomoda-se com a
percepção abrangente do fenómeno em investigação observando-o, descrevendo-o e
interpretando-o, tal como ele se ostenta sem o intuito de o controlar. Ainda de acordo
com os mesmos autores a investigação qualitativa permite a colheita de dados ricos
em detalhes descritivos e privilegia substancialmente o sentido dos procedimentos
tendo em conta a óptica dos sujeitos da investigação.
De acordo com o que é dito pelos autores referidos anteriormente Polit & Hungler
(1995, pág.391) mencionam que: “… este tipo de estudo baseia-se na premissa de
que os conhecimentos sobre os indivíduos só são possíveis com a descrição da
experiência humana, tal como ela é vivida e tal como ela é definida pelos seus
próprios autores”.
Na investigação qualitativa conforme refere Fortin (1999, pág.148), “… numa
abordagem qualitativa acontece frequentemente que se investiga «com» e não «para»
as pessoas de interesse; certos investigadores vão ao ponto de designar os sujeitos
do seu estudo como «co-investigadores»”. Segundo a mesma autora, neste tipo de
investigação o investigador privilegia a relação sujeito/ objecto. Esta conexão é
marcada pela intersubjetividade em que o investigador se encontra interligado ao
objecto (indivíduo) demonstrando um saber e uma experiência reconhecidos.
Este trabalho de investigação pretende compreender em profundidade as experiências
vivenciadas pelo doente com cirrose hepática originada pelo alcoolismo crónico, assim
como identificar as necessidades comprometidas que daí resultaram.

85
4.2 – Questão de Investigação e objectivos do estudo

Segundo Fortin (1999), no sentido de se puder formular uma questão de investigação


é essencial seleccionar um domínio ou um assunto que descreva a problemática da
investigação, para que deste modo se possa estruturar uma questão que irá
encaminhar o tipo de investigação pelo qual se irá enveredar e transmitir assim uma
interpretação do fenómeno estudado.
Ao trabalhar no Serviço de Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de
Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, confronto-me no meu dia-a-
dia na prestação de cuidados de enfermagem na enfermaria, de doentes com o
diagnóstico de cirrose hepática, em que um dos factores que leva ao surgimento desta
doença resulta do consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Assim no intuito de estudar o indivíduo, a circunstância e a clínica do doente aquando
do seu internamento perante as vertentes Qualidade de Vida e cirrose hepática,
estabelece-se a seguinte questão de investigação:

Qual o impacto da cirrose hepática originada por alcoolismo crónico na Qualidade de


Vida do homem adulto internado em cuidados diferenciados hospitalares?

O estudo da Qualidade de Vida nos doentes com cirrose hepática é essencial e


merece profundos e importantes focos de atenção para a prática de enfermagem no
sentido de conhecer o doente, perceber as suas perspectivas e os desejos
relacionados com a sua doença e o seu bem-estar aquando do seu internamento no
Serviço de Gastroenterologia A.
Assim apresentam-se como objectivos deste trabalho de investigação os seguintes:

Avaliar a Qualidade de Vida de um doente com cirrose hepática originada por


alcoolismo crónico;

Descrever o impacto que a cirrose hepática tem na Qualidade de Vida do doente com
cirrose hepática;

Perceber o impacto que a cirrose hepática originada por alcoolismo crónico possui no
quotidiano do doente;

Compreender o impacto que a cirrose hepática tem na relação doente/ cuidadora


informal;

86
4.3 – Critérios da Selecção da Amostra

A população do estudo será constituída por um doente do sexo masculino, com


hábitos etílicos (alcoolismo crónico), internado com o diagnóstico de cirrose hepática,
tendo já mais de um internamento hospitalar, com o diagnóstico de cirrose hepática há
pelo menos 3 anos, caucasiano, com 49 anos de idade, com escolaridade que lhe
permita ler e escrever sem dificuldade, residente no distrito de Coimbra, aquando do
seu internamento no período correspondente entre 24 de Setembro e 8 de Novembro
de 2012 no Serviço de Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de Coimbra
– Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e com capacidades físicas e mentais
para responder a questionários e/ ou entrevistas.
Neste estudo o cuidador informal será definido como o indivíduo que coabita com o
doente e/ ou o indivíduo que seja a visita de referência.
Segundo Moreira (2001), os cuidados desenvolvidos pelo cuidador informal ao seu
familiar visam particularmente a satisfação das suas necessidades de segurança,
pertença e amor.
De acordo com Moreira e Veríssimo (2004), o sentido do cuidar torna-se uma tarefa
difícil para o cuidador informal no sentido em que o doente/ familiar se apresentará
cada vez mais dependente, tornando-se fulcral conhecer a realidade que envolve o
cuidar no domicílio realizado pelos cuidadores informais, pois requerem informação e
educação, deste modo é essencial que os profissionais de saúde valorizem e
desenvolvam um plano de acção junto dos cuidadores informais e que os incluam
conjuntamente com o doente/ familiar.
O cuidador informal é o indivíduo que realiza a maioria dos cuidados no sentido de
incrementar ao doente as suas actividades de vida diárias (Henriques 2006).
A prestação de cuidados informais baseia-se num processamento activo e complexo
na medida em que é inerente às modificações que surgem ao longo do tempo devido à
evolução da doença e ao contexto familiar. O cuidador informal assume-se como o
responsável fundamental pela organização da assistência e prestação de cuidados de
saúde no domicílio (Almeida 2006).

87
4.4 – Instrumentos de Colheita de Dados

Na investigação qualitativa várias estratégias poderão ser empregues, visando a


aquisição dos dados. Segundo Fortin (1999), os instrumentos de colheita de dados
servem para adquirir os dados que proporcionarão respostas à questão de
investigação.
Tendo em conta a questão de investigação e os objectivos delineados para este
estudo, serão utilizados como instrumentos de colheita de dados: a Entrevista semi-
estruturada, o World Health Organization Quality of Life Bref (WHOQoL Bref) e o
Model for End-stage Liver Disease (MELD).
A entrevista é um dos métodos de colheita de dados usado frequentemente, o qual
permite colher esclarecimentos sobre: eventos, percepções, comportamentos,
preferências, sentimentos, expectações e posturas.
Segundo o que é referenciado por Bogdan e Biklen (1994), no que diz respeito à
investigação qualitativa as estratégias que melhor a delineiam e representam, assim
como as que melhor ilustram as particularidades precedentemente mencionadas são a
observação participante e a entrevista em profundidade. Caracterizando-se por ser
uma forma de comunicação verbal, a entrevista é usada para recolher dados
descritivos na linguagem do próprio indivíduo, possibilitando ao investigador
incrementar claramente uma percepção sobre a forma como os indivíduos analisam
aspectos do meio envolvente.
Segundo Wilson (1985 citado por Fortin 1999, pág. 247), “Na entrevista semi-
estruturada o responsável apresenta uma lista de temas a abordar cobrir, formula
questões a partir destes temas e apresenta-os ao respondente segundo uma ordem
que lhe convém. O objectivo visado é que no fim da entrevista todos os temas
propostos tenham sido cobertos.”
Na entrevista semi-estruturada serão formuladas perguntas abertas pois conforme
Fortin (1999), por um lado dão liberdade ao doente para responder sem que este
tenha de seleccionar respostas pré-estabelecidas, em que o doente desenvolve as
suas próprias respostas, exprimindo-as pelas palavras mais apropriadas, por outro
lado têm a relevância de estimular o pensamento do doente e de beneficiar a análise
da sua resposta, em profundidade. Em contrapartida as respostas às questões abertas
tornam-se mais difíceis de codificar e de analisar. A entrevista torna-se um método
único de comunicação verbal que se estabelece entre o investigador e os
participantes, com o propósito de colher informações relativamente à questão de
investigação que foi formulada. A entrevista tem como funções contribuir como método
exploratório para discutir conceitos, relações entre variáveis e gerar hipóteses,

88
tornando-se o principal instrumento de medida da investigação servindo de
suplemento a outros métodos. Ainda segundo a mesma autora, a entrevista tem como
relevância a de ser de utilização geral em todos os ramos da sociedade, a
percentagem de repostas são altas, os erros de interpretação são mais facilmente
assinaláveis, maior eficiência na interpretação de esclarecimento sobre assuntos
complexos e de elevada emoção, o mesmo se aplicando quanto à análise de
sentimentos.
A entrevista de acordo com Streubert e Carpenter (2002, p. 67), “…permite entrar no
mundo da outra pessoa e é uma excelente fonte de dados. A completa concentração e
a participação rigorosa no processo de entrevista aumentam o rigor, a confiança e
autenticidade dos dados”.
A entrevista semi-estruturada conforme nos refere Santos (2008), trata-se de uma
entrevista que embora se encontre delineada, possibilita maleabilidade e plasticidade
ao entrevistador para modificar a disposição dos temas ou as questões dentro de cada
tema, facultando a reformulação ou a inclusão de sub-questões para a elucidação ou o
aprofundamento de concepções.
Neste estudo foi elaborado um guião de entrevista previamente preparado, que serviu
de orientador ao desenvolvimento da entrevista, possibilitando um maior grau de
maleabilidade na análise das questões. O guião da entrevista foi estruturado, tendo
em linha de conta os objetivos desta investigação (Anexo 1). Neste guião de entrevista
encontra-se inserido um questionário sócio-demográfico.
Na medida em a cirrose hepática se constitui como uma doença que ao longo da sua
evolução compromete a Qualidade de Vida não só em termos físicos mas igualmente
em termos psíquicos, aquando da realização das entrevistas ao doente será realizada
a avaliação do seu estado mental, através da observação do doente como método de
apoio complementar, para a avaliação do estado mental será utilizado o formulário
utilizado no Serviço de Psiquiatria Homens dos Hospitais da Universidade de Coimbra
– Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (Anexo 2).
Transcrevendo o que nos diz Baker e Trzepacz (2001, pág. 13), “…qualquer um pode
ter uma conversa com um doente, mas só o conhecimento, vocabulário e habilidade
apropriados podem transformar essa «conversa» num «exame do estado mental».”
Ainda de acordo com os mesmos autores, muita da informação que é necessária para
a avaliação do estado mental é extraída no decorrer da entrevista. A informação
reunida através da avaliação do exame mental é utilizada em conjunto com dados de
carácter objectivo como: os exames laboratoriais, o exame físico, os exames
radiológicos. Aquando da entrevista é necessário para uma boa avaliação do estado

89
mental do doente que o entrevistador estabeleça uma relação terapêutica com o
doente, para que este se sinta confortável para se puder exprimir livremente.
Conforme nos refere Abreu (2002), o exame mental apresenta-se como um
instrumento de conhecimento no qual se observa o sujeito e as tentativas de
compreensão das suas vivências, depois de estabelecido e avaliado o contacto é
avaliada a sua consciência até ao culminar do entendimento da “realidade” do doente,
deste modo apreenderemos o inteligível e deparar-nos-emos com as suas limitações.
Tendo em conta Cordeiro (2005, pág. 72), este menciona que: “Em qualquer idade em
que aconteça, desde a criança até à pessoa idosa, a hospitalização constitui sempre
uma situação de risco para o equilíbrio psicológico, presente ou futuro…”. Ainda de
acordo com o mesmo autor, este risco surge mediante vários factores como: as dores,
o mal-estar, a separação da família e do trabalho, a imobilização e passividade físicas,
os tratamentos, as dúvidas e incertezas quanto ao futuro que por sua vez podem
exacerbar os sintomas da doença.

De acordo com Canavarro et al (2010), esta singularidade que cada doente representa
conduziu a que a Organização Mundial de Saúde (OMS) constituísse um grupo de 15
peritos de diferentes culturas, com o intuito, segundo uma perspectiva transcultural e
subjectiva, erigir um instrumento de avaliação da Qualidade de Vida. Esta avaliação
tem em conta a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre Qualidade
de Vida, ou seja, a compreensão que a pessoa tem de si em relação à sua vida, tendo
em conta a sociedade em que vive, a sua cultura e os seus valores, visando os
objectivos, expectativas, padrões e preocupações por si delineados. Trata-se assim de
uma definição multidimensional que tem em linha de conta as complexas influências
da saúde física, estado psicológico, nível de independência, relações sociais, crenças
pessoais e as relações subjectivas que surgem da avaliação da Qualidade de Vida
individual. Surge deste modo em 1994 o instrumento da avaliação da Qualidade de
Vida, o World Health Organization Quality of Life 100 (WHOQoL 100). Em 1998
aparece uma visão abreviada deste instrumento, o World Health Organization Quality
of Life Bref (WHOQoL Bref), tendo como finalidade ser utilizado em condições em que
a restrição do tempo seja uma realidade, o cansaço dos questionados deva ser
minorado e em casos em que a informação pormenorizada dos subdomínios da
Qualidade de Vida não seja necessária. Actualmente o World Health Organization
Quality of Life nas suas versões 100 e Bref. estão disponíveis em mais de 40 idiomas,
tornando-se um dos instrumentos mais utilizados internacionalmente na avaliação da
Qualidade de Vida. Ainda de acordo com os mesmos autores o World Health
Organization Quality of Life Bref (WHOQoL Bref) (Anexo 3), foi validado através de um

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estudo para Português Europeu através da colaboração entre investigadores das
Faculdades de Medicina, Psicologia e de Ciências da Educação e Ciências de
Tecnologia da Universidade de Coimbra. A utilização deste instrumento foi inicializada
durante o primeiro semestre de 2005. O World Health Organization Quality of Life Bref
(WHOQoL Bref) é um instrumento que pode ser utilizado em doentes com qualquer
tipo de patologia, no entanto poderá ser igualmente usado em pessoas da população
em geral, que não sofram de nenhum tipo de patologia. Pode ser utilizado por
mecanismo de auto preenchimento ou através de entrevistas, não necessitando de um
nível mínimo de instrução. É composto por 26 itens, os quais se encontram divididos
em 4 áreas: Físico, Psicológico, Relações Sociais e Ambiente. Cada área é dividida
em várias alíneas, existe ainda uma alínea sobre Qualidade de Vida em geral, no que
diz respeito a esta alínea, esta é constituída por 2 questões: uma correspondente à
Qualidade de Vida em geral e outra sobre a percepção geral da saúde.

No sentido de quantificar a severidade em que se encontra a cirrose hepática surge o


Model for End-stage Liver Disease (MELD), que se trata de uma escala numérica que
avalia o estadio em que se encontra a doença e o risco de mortalidade do doente.
Este instrumento surge neste estudo no sentido de puder triangular os dados
qualitativos com os dados quantitativos.
Neste estudo serão analisados e quantificados os valores bioquímicos, através das
análises clínicas realizadas ao doente em dois momentos distintos no início do
internamento e três dias após o seu internamento no Serviço de Gastroenterologia A
dos Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra. A obtenção destes valores bioquímicos será efectuada através da consulta
do Processo Clínico do doente.
Para Freeman Jr. (2003), nos doentes com doença hepática crónica resultante das
várias etiologias, o Model for End-Stage Liver Disease (MELD) faculta uma informação
confiável do risco de mortalidade, baseado nos exames laboratoriais de rotina.
Como referencia Matos (2007), o Model for End-Stage Liver Disease (MELD),
constitui-se num estimador da mortalidade a curto prazo dos doentes com cirrose
hepática, utilizando os parâmetros bioquímicos da bilirrubina total mg/ dl, da creatinina
mg/ dl e da razão internacional normalizada (INR) do tempo de protrombina,
paralelamente é tido em consideração a etiologia da doença, em que sendo colestática
ou alcoólica é conferida a pontuação 0 e sendo de outras etiologias é atribuída a
pontuação 1. Nos centros de transplantação surgem normas de forma a hierarquizar e
dar prioridade aos doentes que são enviados, em que a United Network for Organ
Sharing (UNOS) é a mais divulgada. Existem 4 etapas a considerar: 1, 2A, 2B e 3,

91
para que os doentes com cirrose hepática possam ser incluídos na lista de espera
para transplante hepático, em que o 1 é o menos prioritário e o 3 o mais prioritário.
Segundo Cappell e Sibae (2010), a necessidade de um método preciso e objectivo
para quantificar a gravidade da doença hepática crónica torna-se importante para a
prática clínica em doentes com doença hepática crónica avançada, no sentido de
puder ser usado para prever a mortalidade da doença hepática crónica avançada ou
as complicações específicas da doença hepática crónica. O Model for End-stage Liver
Disease (MELD) foi adoptado pelo United Network for Organ Sharing (UNOS) no
sentido de desenvolver um sistema para dar prioridade aos candidatos que
necessitem com urgência de um transplante hepático, é uma escala de pontuação
prospectivamente desenvolvida e validada que varia entre 6 (menos grave) até 40
(mais grave), para quantificar a gravidade da doença hepática crónica e a urgência de
transplante hepático nos próximos três meses sob risco de mortalidade dos doentes,
para este fim são utilizados valores objectivos: da bilirrubina sérica, da creatinina
sérica e da razão internacional normalizada (INR) do tempo de protrombina.
A fórmula que permite obter o resultado da gravidade em que o doente se encontra
face à evolução da doença hepática crónica, encontra-se igualmente online através de
www.unos.org sendo a seguinte:
MELD = 3,8 x (Log. Bilirrubina mg/ dl) + 11,2 x (Log. INR) + 9,6 x (Log. Creatinina mg/
dl) + 6,4.
No entanto aquando deste cálculo deve-se ter em conta algumas advertências:
1. As pontuações do MELD encontram-se limitadas a um máximo de 40 pontos;

2. O valor máximo atribuído à creatinina sérica é limitado a 4 mesmo que o nível


avaliado seja superior;

3. O valor da bilirrubina sérica, creatinina sérica e INR que sejam inferiores a 1,


atribui-se o valor de 1;

4. A creatinina sérica ostenta um valor arbitrário de 4 se o doente for submetido a


diálise duas vezes, num intervalo de sete dias;

Ainda de acordo com os mesmos autores a utilização do Model for End-Stage Liver
Disease (MELD) tem sido alargada aos campos de doentes com cirrose hepática, nos
quais se manifestam complicações como o síndrome hepato-renal, por outro lado para
a mortalidade provocada em grandes intervenções, como a cirurgia não sujeita a
transplante (TIPS) em doentes com cirrose hepática.

92
4.5 – Considerações Éticas

Em toda a investigação, independentemente da abordagem e do tipo de orientação,


subsistem limites de natureza ética os quais devem ser honrados, nomeadamente
aqueles que abrangem indivíduos como objectos de estudo.
Tendo em conta as considerações próprias que constituem a investigação qualitativa,
Bogdan e Biklen (1994), descrevem os seus princípios gerais:
1. As identidades dos indivíduos que se encontram mencionados no trabalho de
investigação devem ser protegidas, para que estes não sejam susceptíveis de
nenhum transtorno ou prejuízo;

2. Os indivíduos que participam no trabalho de investigação devem ser tratados


respeitosamente para que deste modo cooperem na investigação, tornando-se
essencial que sejam informados dos objectivos da investigação para que deste
modo o seu consentimento seja obtido;

3. Para a autorização da elaboração de um estudo de investigação, o


investigador deve ser claro e explícito com todos os intervenientes e entidades
relativamente aos termos que foram acordados e respeitá-lo até ao términus do
trabalho;

4. É necessário que o investigador seja autêntico aquando da descrição dos


resultados, ainda que possa obter conclusões que não sejam do seu agrado, é
contudo importante que o investigador seja fidedigno em relação aos dados
que obtém;

De acordo com Fortin (1999, pág. 120), esta refere que: “Obter um consentimento
escrito, livre e esclarecido da parte dos sujeitos é essencial à manutenção da ética na
conduta da investigação.” Segundo esta autora a investigação aplicada a indivíduos,
pode acarretar por alguma eventualidade, prejuízos no que diz respeito aos direitos e
às liberdades dos mesmos. Foram elaborados cinco princípios ou direitos elementares
que foram estabelecidos pelos códigos de ética:
 O direito à intimidade;
 O direito ao anonimato;
 O direito à confidencialidade;
 O direito à protecção contra o desconforto e o prejuízo;
 O direito a um tratamento justo e leal;

93
Respeitante a isto Streubert e Carpenter (2002, pág. 37), relatam que: “…um estudo
de investigação implica responsabilidade pessoal e profissional de assegurar que o
desenho dos estudos […] sejam sólidos do ponto de vista ético e moral. Os direitos
humanos necessitam de ser protegidos…”.
Quer o doente, quer a cuidadora informal, foram informados dos objectivos delineados
para este trabalho de investigação, da metodologia a aplicar na colheita de dados,
bem como dos aspectos relacionados com a confidencialidade e anonimato, ambos
colaboraram espontaneamente, assinando o documento sobre o Consentimento
Informado (Anexo 4).
Para a elaboração deste trabalho de investigação foi realizado um pedido de
autorização ao Presidente do Conselho de Administração dos Hospitais da
Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, após uma
etapa preliminar foi dado conhecimento do mesmo trabalho ao Enfermeiro Chefe do
Serviço de Gastroenterologia A (Enfermeiro José Luís Nina) e ao Director do Serviço
de Gastrenterologia (Professor Doutor Carlos Sofia).
Foi elaborado um pedido à Comissão de Ética da Unidade de Investigação em
Ciências Da Saúde: Domínio de Enfermagem (UICISA-SE) da Escola Superior de
Enfermagem de Coimbra (Anexo 5).
Foi igualmente efectivado um pedido ao Departamento de Educação e Investigação
dos Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra (Anexo 6).

94
Capítulo V – Resultados da
Investigação

5.1 – Apresentação dos Resultados

Após a selecção do sujeito com vista à elaboração deste estudo de caso, procedeu-se
à recolha de dados, utilizando os seguintes instrumentos: entrevista ao doente e à
cuidadora informal, a análise do exame mental do doente, a aplicação da escala
MELD e a aplicação do questionário WHOQoL Bref. Seguidamente descrevem-se os
resultados obtidos nesta investigação.
A análise dos dados encontra-se segundo Fortin (1999), profundamente associada à
colheita de dados e possibilita adquirir indícios sobre o que se pretende descobrir
sobre o fenómeno em estudo durante a colheita de dados.
Este procedimento impõe que: “…os pesquisadores estejam plenamente cientes do
que os dados dizem. Isto exige um grau significativo de dedicação à leitura, intuição,
análise, síntese e relato das descobertas” (Streubert & Carpenter 2002, pág.32).
Foram elaboradas três entrevistas ao doente, que ocorreram num dos gabinetes
médico do Serviço de Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de Coimbra
– Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
A primeira entrevista ocorreu no dia 29 de Setembro de 2012, com a duração de 30
minutos, a qual tinha como objectivo conhecer se o doente apresentava insight crítico
sobre a sua doença. Aquando desta entrevista foi preenchido o Questionário Sócio –
demográfico e foi avaliado o exame mental do doente. A segunda entrevista foi
efectuada no dia 2 de Outubro de 2012, com a duração de 30 minutos, esta entrevista
pretendeu clarificar junto do doente as limitações que o perturbam no seu dia-a-dia e
em que medida estas afectam a sua Qualidade de Vida, foi novamente avaliado o
exame mental do doente. Na terceira e última entrevista realizada ao doente, no dia 4
de Outubro de 2012 com a duração de 30 minutos, pretendeu descrever de que forma
a cirrose hepática interfere na Qualidade de Vida do doente, durante a realização
desta entrevista foi avaliado o exame do estado mental do doente e no final da mesma
foi efectuada a aplicação do questionário WHOQoL – Bref.

95
Foram conformemente elaboradas à cuidadora informal três entrevistas, que
decorreram na sala do seu domicílio. A primeira entrevista decorreu no dia 29 de
Setembro de 2012, com a duração de 30 minutos e teve como objectivo avaliar que
conhecimento demonstrava a cuidadora informal em relação à doença do seu familiar
(filho) e que alterações se verificaram nas relações doente/ cuidadora informal em
consequência da cirrose hepática. A segunda entrevista ocorreu no dia 30 de
Setembro de 2012, onde se pretendeu identificar o grau de dependência do doente
com cirrose hepática no domicílio, examinar e clarificar as dependências do doente
através da visão da cuidadora informal. A terceira entrevista, com a duração de 30
minutos, transcorreu no dia 3 de Outubro de 2012 e que teve como objectivo
descrever e investigar de que forma a cirrose hepática interfere na Qualidade de Vida
do doente com cirrose hepática.

5.1.1 – Identificação do doente

O doente que foi seleccionado para este estudo é um indivíduo de 49 anos de idade,
do sexo masculino, residente em Ançã, distrito de Coimbra. Tem como habilitações
literárias o 7º ano de escolaridade. Encontrando-se actualmente reformado.
O agregado familiar é composto pelo doente e pela mãe. O pai faleceu quando o
doente tinha 13 anos de idade, em França onde era emigrante.
Doente apresenta historial de consumo de bebidas alcoólicas desde há mais ou
menos 10 anos.

5.1.2 – História Clínica do doente

Trata-se de um doente ao qual foi diagnosticado cirrose hepática de origem etílica em


2005, tendo tido desde essa altura vários internamentos no Serviço de
Gastroenterologia A. Apresenta equitativamente vários internamentos nos Hospitais da
Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
nomeadamente no Serviço de Oftalmologia onde foi internado para ser submetido a
cirurgia a uma catarata e no Serviço de Endocrinologia e Medicina Interna por
Diabetes Mellitus tipo II, actualmente insulino tratado.
Inicia os seus internamentos no Serviço de Gastroenterologia A em 2005, onde foi
internado por ascite e pancreatite bacteriana espontânea (PBE) altura em que foi

96
diagnosticada a cirrose hepática e desde essa ocorrência que é seguido na Consulta
Externa de Hepatologia.
Em 20 de Fevereiro de 2012 foi inscrito na Consulta de Transplante Hepático.
É um doente que mantém consumos alcoólicos, conforme confirmado através da nota
de entrada, no Serviço de Urgência em 8 de Setembro de 2012 no qual apresentou,
após efectuado o teste de alcoolémia, um valor de 3,4 g/l, esse facto é igualmente
corroborado na entrevista realizada à cuidadora informal, que afirma que: “Os hábitos
alcoólicos mesmo com a doença não se alteraram muito, tem vezes que não bebe
nada, mas tem outras vezes que bebe”.
É um doente que é seguido na Consulta Externa de Hepatologia desde 2005 e foi
inscrito na Consulta de Transplante Hepático desde o início do ano de 2012, neste
sentido a cuidadora informal quando entrevistada refere um grande receio quanto ao
doente ser mantido nestas consultas devido aos hábitos alcoólicos mantidos, ela diz
que: “Ele anda nas consultas de transplante mas por vezes ele mantém o consumo de
bebidas alcoólicas e eu tenho medo que o tirem dessas consultas”.
Devido a esse facto tem sido internado com diagnósticos secundários de cirrose
hepática os quais se coadunam com o avanço da doença como: a hemorragia
digestiva alta, a encefalopatia hepática, a pancreatite bacteriana espontânea (PBE) e o
síndrome de privação alcoólica.
No dia 24 de Setembro de 2012, data em que ocorreu o seu último internamento no
Serviço de Gastroenterologia A o doente ocorreu ao Serviço de Urgência por
respiração ruidosa e prostração marcada, susceptível com o quadro de encefalopatia
hepática. Aquando do internamento o doente apresentava-se dependente em grau
elevado nos autocuidados higiene e conforto e eliminação e dependente em grau
moderado nos autocuidados alimentação e mobilização. Apresentava-se após a
realização do exame físico: pupilas isocóricas e reactivas, eupneico, com icterícia da
pele e escleróticas, hidratado, apresentando edema dos membros inferiores.
Teve alta a 8 de Outubro de 2012.

97
5.1.3 – Exame do estado Mental

O exame do estado mental é de acordo com Trzepacz e Baker (2001), o elemento da


avaliação psiquiátrica que abarca a observação do comportamento do doente e a sua
exposição de forma objectiva e destituída de juízos de valor. O exame mental procura
revelar os sinais de doença. Tratando-se de uma acção rigorosa para a descrição da
conduta dos doentes que é perceptível no instante em que decorre a entrevista. Ainda
de acordo com os mesmos autores, o exame mental é uma forma de rapidamente
evidenciar variadas áreas provavelmente modificadas, bem como pesquisar mais
intimamente as áreas presumivelmente alteradas.

APRESENTAÇÃO (aspecto, atitude e actividade)

De acordo com Trzepacz e Baker (2001), este segmento do exame mental é utilizado
para assinalar as especificidades da aparência e comportamento do doente, desta
forma o aspecto refere-se às características físicas do doente, a atitude ou o modo
como o doente encara a entrevista e interage com o entrevistador e a actividade
reporta-se ao nível e qualidade dos movimentos do doente.

Aquando da entrevista realizada ao doente no dia 29 de Setembro de 2012, este


revelou-se disponível quando requerido para a realização da entrevista. Foi-lhe
declarado que toda a informação transmitida era de cariz confidencial. Durante a
entrevista o doente demonstrou interesse e esteve atento. Na altura que foi realizada
esta primeira entrevista, o doente apresentava-se vestido com pijama hospitalar, com
aspecto limpo e cuidado e adequado às condições ambientais, apesar do doente ser
dependente em grau elevado para o autocuidado: Higiene pessoal e vestuário,
tornando-se no entanto necessário incentivar e motivar o doente para a prática diária
dos seus cuidados de higiene. Apresentava cabelo curto, barba por desfazer, unhas
limpas mas sem se encontrarem cortadas, odor corporal agradável. Como adorno
pessoal o doente apresenta apenas um relógio de pulso.
Apesar de o doente ter 49 anos de idade, a sua aparência não correspondia à da
idade biológica, na medida em que evidenciava ser mais velho 10 anos (idade
aparente é superior à real), apresentava rugas e telangiectasias na face, apresentava
icterícia da pele e escleróticas, hidratado, pupilas isocóricas e reactivas e edema dos
membros inferiores.

98
Doente acordado, vígil e colaborante, respondendo a estímulos. Apresentava um
contacto cordial, a sua expressividade facial e mímica estava de acordo com o
discurso que utilizava.
Durante esta primeira entrevista, o doente apresentou uma postura e atitude retraída.
O doente permaneceu sentado em cadeira, ostentando uma postura correcta e
alinhamento corporal apropriado. Quanto ao comportamento motor, o doente
apresentava lentificação psicomotora motora ao nível da expressão mímica e da
locomoção. Embora caminhando de forma lentificada, o mesmo não exibe qualquer
outra variação ao nível da locomoção.

Na entrevista realizada ao doente no dia 2 de Outubro de 2012, o doente revelou-se


disponível para a realização da entrevista, demonstrando interesse e esteve atento no
decorrer da mesma. Apresentava-se vestido com pijama hospitalar, com aspecto
limpo, cuidado e adequado às condições ambientais, mantendo dependência em grau
elevado para o autocuidado: Higiene pessoal e vestuário. Apresentava cabelo curto,
barba por desfazer, unhas limpas mas sem se encontrarem cortadas, odor corporal
agradável. Como adorno pessoal o doente mantém o relógio de pulso.
A sua aparência continua a não corresponder à da idade biológica, na medida em que
evidenciava ser mais velho 10 anos (idade aparente é superior à real), apresentava
rugas e telangiectasias na face, apresentava icterícia da pele e escleróticas, hidratado,
pupilas isocóricas e reactivas e edema dos membros inferiores.
Doente acordado, vígil e colaborante, respondendo a estímulos. Expunha um contacto
cordial, a sua expressividade facial e mímica estava de acordo com o discurso que
utilizava.
Durante esta entrevista, o doente manifestou uma postura e atitude relaxada e
descontraída.
O doente permaneceu sentado em cadeira, ostentando uma postura correcta e
alinhamento corporal apropriado. Quanto ao comportamento motor, o doente
apresentava lentificação psicomotora motora ao nível da expressão mímica e da
locomoção. Deambulava de forma lentificada, não patenteava qualquer outra
intercorrência ao nível da locomoção.

Na entrevista realizada ao doente no dia 4 de Outubro de 2012, o doente revelou-se


disponível para a realização da entrevista, evidenciando interesse e atenção no
decorrer da mesma. Apresentava-se vestido com pijama hospitalar, com aspecto limpo
e cuidado e adequado às condições ambientais, mantendo ainda dependência em
grau elevado para o autocuidado: Higiene pessoal e vestuário. Apresentava cabelo

99
curto, barba desfeita, unhas limpas mas sem se encontrarem cortadas, odor corporal
agradável. Como adorno pessoal o doente mantém o relógio de pulso.
A sua aparência continua a não corresponder à da idade biológica, na medida em que
evidenciava ser mais velho 10 anos (idade aparente é superior à real), apresentava
rugas e telangiectasias na face, apresentava icterícia da pele e escleróticas, hidratado,
pupilas isocóricas e reactivas e edema dos membros inferiores.
Doente acordado, vígil e colaborante, respondendo a estímulos. Manifestava um
contacto cordial, a sua expressividade facial e mímica estava de acordo com o
discurso que utilizava.
Durante esta entrevista, o doente expôs uma postura e atitude relaxada e
descontraída. Esteve sentado em cadeira, ostentando uma postura correcta e
alinhamento corporal apropriado. Quanto ao comportamento motor, o doente
apresentava lentificação psicomotora motora ao nível da expressão mímica e da
locomoção. Caminhava de forma lentificada, mas não exibindo qualquer outra
modificação ao nível da locomoção.

HUMOR E EMOÇÕES

Nesta área do exame mental pretende-se descrever os estados emocionais e


sentimentos do doente de acordo com Trzepacz e Baker (2001), de facto eles
explicam que na medida em que o humor e as emoções, são na maior parte das vezes
complicadas de se diferenciar, entende-se deste modo humor como a delineação
subjectiva do estado emocional do doente, e as emoções como as demonstrações
objectivas e observáveis desse estado íntimo.

Assim e no que diz respeito ao doente sujeito desta investigação, este durante a
entrevista realizada no dia 29 de Setembro de 2012, apresentava uma afectividade
adequada e sintónica, em que o seu tom emocional se adequava à sua ideia e ao seu
pensamento, apresentava humor eutímico.
Referiu ter um relacionamento razoável com a mãe, que contrastava com ocasiões em
que se relacionavam melhor, com outros em que não se relacionavam tão bem.
Também referiu não ter muitos amigos.
Apresentava congruência entre o humor e o afecto, no entanto eram perceptíveis,
alguns períodos diários em que expressava apatia, ficando como que indiferente e
desinteressado com o meio ambiente que o rodeava.

100
Durante a entrevista realizada no dia 2 de Outubro de 2012, apresentava uma
afectividade adequada e sintónica, com um tom emocional o qual se adequava à sua
ideia e ao seu pensamento, apresentava humor eutímico.
Expunha congruência entre o humor e o afecto é de salientar no entanto, alguns
períodos diários em que demonstrava apatia, ficando como que indiferente e
desinteressado com o meio ambiente que o rodeava.

Na terceira entrevista realizada no dia 4 de Outubro de 2012, apresentava uma


afectividade adequada e sintónica, com um tom emocional adequado à sua ideia e ao
seu pensamento, apresentando humor eutímico.
Ostentava congruência entre o humor e o afecto, demonstrava apatia em alguns
períodos diários, ficando como que indiferente e desinteressado com o meio ambiente
que o rodeava.

DISCURSO E LINGUAGEM

Neste aspecto do exame mental Trzepacz e Baker (2001), indicam que a comunicação
entre indivíduos desenrola-se mediante expressões verbais e não-verbais. A
comunicação verbal é exposta através do discurso e da linguagem. A linguagem
contém componentes semânticos, onde se inclui a capacidade de terem um
significado, que equivale a uma correcta articulação e reunião, as expressões faciais e
gestuais e a escrita. A linguagem compreende o entendimento do significado das
palavras e a capacidade de expressão.

Aquando da entrevista efectuada no dia 29 de Setembro de 2012 não se verificaram


quaisquer perturbações motoras da fala (ecolália e neologismos), nem da postura.
O doente no que diz respeito à linguagem, esta não envolvia alterações de origem
orgânica (disartria, disfasia e afasia), a nível funcional não expunha qualquer padrão
de alteração (gaguez, mutismo ou neologismos).
Ao longo da entrevista o doente apresentou um discurso espontâneo com tonalidade,
mas com um ritmo lento. Respondeu às questões efectuadas, empregando um
vocabulário ajustado ao seu grau académico, verbalizando um discurso pobre em
termos semânticos, semanticamente (palavras/ vocábulos) e com erros de sintaxe
(construção das frases).
O doente sustentou um contacto fácil e colaborante mas superficial, o contacto visual
esteve quase sempre presente.

101
O seu comportamento foi sincero e adequado e durante a entrevista nunca expressou
qualquer tipo de agressividade, quer física, quer verbal.
O doente respondeu adequadamente às questões que lhe foram colocadas, não
adicionando mais informações daquelas que lhe eram requeridas.

Na entrevista realizada no dia 2 de Outubro de 2012 não se aferiram perturbações


motoras da fala, nem da postura.
No que diz respeito à linguagem, esta não compreendia modificações de origem
orgânica e a nível funcional não enunciava qualquer padrão de alteração.
No decorrer da entrevista, o doente apresentou um discurso espontâneo com
tonalidade, mas com um ritmo lento. Respondeu às questões, aplicando um
vocabulário coerente com o seu grau académico, verbalizando um discurso pobre em
termos semânticos e com erros de sintaxe.
O doente sustentou um contacto fácil e colaborante e o contacto visual esteve sempre
presente.
O seu comportamento foi sincero e adequado não revelando qualquer tipo de
agressividade, quer física, quer verbal.
Respondeu adequadamente às questões não acrescentando mais informações do que
as pretendidas.

Durante a entrevista realizada no dia 4 de Outubro de 2012, não se apreciaram no


doente perturbações motoras da fala, nem da postura.
A linguagem não concebia modificações de origem orgânica e a nível funcional não
expressava qualquer padrão de alteração.
O doente apresentou um discurso espontâneo com tonalidade, mas com um ritmo
lento. Apropriou um vocabulário coerente com o seu grau académico, verbalizando um
discurso pobre em termos semânticos e com erros de sintaxe.
O doente ostentou um contacto fácil e colaborante onde o contacto visual esteve
sempre presente.
O seu comportamento foi verdadeiro e adequado não anunciando qualquer tipo de
agressividade, quer física, quer verbal.
Respondeu adequadamente às questões não acrescentando mais informações do que
as que foram solicitadas.

102
CONTEÚDO, PROCESSO DO PENSAMENTO E PERCEPÇÃO

A apreciação do conteúdo e processo do pensamento é para Trzepacz e Baker (2001),


essencial no exame mental do doente. A delineação do pensamento tem como
elementos o processo, que inclui a comprovação da organização, o fluxo e criação do
pensamento do doente, bem como o conteúdo em que se ambiciona perceber melhor
qual o problema do doente, em que aspectos necessita de ajuda e aquilo que ele
descreve espontaneamente.

O doente ao longo da entrevista ocorrida no dia 29 de Setembro de 2012, não


apresentou modificações, na posse nem no conteúdo do pensamento, mas apresentou
alterações a nível do curso demonstrando bradipsiquia e na forma apresentando um
pensamento tangencial.
Durante a entrevista o doente não apresentou ideação suicida.
No que diz respeito à percepção não foram observadas alterações durante a
entrevista, o doente nega qualquer tipo de alterações da percepção.

Ao longo da entrevista efectuada no dia 2 de Outubro de 2012, o doente não


manifestou modificações, nem na posse nem no conteúdo do pensamento, mas
mostrou alterações a nível do curso evidenciando bradipsiquia e na forma exibindo um
pensamento ligeiramente tangencial.
No decorrer da entrevista o doente não apresentou ideação suicida.
No que concerne à percepção não foram observadas alterações durante a entrevista,
o doente nega qualquer tipo de alterações da percepção.

Na entrevista ocorrida no dia 4 de Outubro de 2012, o doente não aduziu alterações,


de posse nem do conteúdo do pensamento, mas exibiu alterações a nível do curso
demonstrando bradipsiquia e na forma anunciando um pensamento ligeiramente
tangencial.
Quer durante a entrevista, quer durante o internamento o doente não apresentou
ideação suicida.
Em termos de percepção não foram observadas alterações nem durante a entrevista,
nem durante o seu internamento, o doente nega qualquer tipo de alterações da
percepção ao longo do curso da sua doença.

103
COGNIÇÃO

A cognição é a capacidade do indivíduo pensar, usar a inteligência, o conhecimento, a


lógica, o raciocínio e a memória, de facto é através da cognição que o indivíduo estima
o mundo interior e exterior em que vive, interage com os outros e supera as
adversidades da vida (Trzepacz e Baker 2001).

O doente aquando da entrevista realizada no dia 29 de Setembro de 2012,


apresentou-se vigil, orientado auto e alopsiquicamente, sendo capaz de identificar o
espaço onde se encontra, bem como exibir correcta noção temporal, responde a
questões sobre a sua identificação e história pessoal, revelando saber quem é, como
se chama e que idade tem. No entanto e no que diz respeito ao estado de consciência
parece haver curtos períodos de flutuação durante os quais aparentemente manifesta
incapacidade para se manter alerta em relação ao meio que o rodeia, revelando
apatia, contudo esta manifestação poderá estar relacionada com a presença de
encefalopatia hepática.
O doente demonstrou durante a entrevista, predomínio da atenção activa,
respondendo às questões colocadas, dedicando atenção às mesmas, bem como a
toda a comunicação constituída com o entrevistador, é no entanto de salientar
dificuldades a nível da concentração, em especial, na realização de pequenas tarefas.
No decorrer da entrevista o doente não ostentou quaisquer variações mnésicas
significativas, ou seja, não se assinalaram alterações relativas à memória a curto
prazo, verificando-se apenas uma ligeira alteração ao nível da memória a longo prazo.
Não foram observadas no doente alterações de inteligência, na medida em que não
teve dificuldade em assimilar o conteúdo das questões que lhe foram colocadas,
respondendo correctamente às mesmas, revelando analogamente desempenho na
vida diária apropriado.

Durante a entrevista efectivada no dia 2 de Outubro de 2012, apresentou-se vigil,


orientado auto e alopsiquicamente, reconhecendo o espaço onde se encontra e
apresentando uma correcta noção temporal, afirmou saber quem é, como se chama e
que idade tem. Quanto ao estado de consciência é de notar a existência de curtos
períodos de flutuação em que o doente, aparentemente manifesta inaptidão para se
manter desperto em relação ao meio que o rodeia, mostrando apatia, esta
exteriorização estará relacionada com a presença de encefalopatia hepática.
O doente demonstrou, predominância da atenção activa, respondendo às questões,
oferecendo atenção às mesmas, bem como à comunicação constituída entre o próprio

104
e o entrevistador, realça-se no entanto as dificuldades no que diz respeito à
concentração, especialmente aquando da execução de curtas tarefas.
O doente não ostentou quaisquer modificações mnésicas significativas, não se
determinaram mudanças relativas à memória a curto prazo, mantendo-se uma ténue
alteração ao nível da memória a longo prazo.
Não foram presenciadas alterações de inteligência, não tendo dificuldades em
apreender o conteúdo das questões, respondendo correctamente, demonstrando
cumprimento na vida diária adequado.

Aquando da terceira entrevista realizada no dia 4 de Outubro de 2012, o doente


compareceu vigil, orientado auto e alopsiquicamente, capaz de identificar o espaço
onde se encontrava, bem como apresentar uma correcta noção temporal, declarou
saber quem é, como se chama e que idade tem. Em relação ao estado de consciência,
o doente exterioriza a existência de períodos de flutuação durante os quais difunde
incapacidade para se manter desperto em relação ao meio que o rodeia, evidenciando
apatia, esta ostentação consistirá com a presença de encefalopatia hepática.
O doente testemunhou preponderância da atenção activa, respondendo às questões,
dirigindo atenção às mesmas e à comunicação estabelecida com o entrevistador, é de
acentuar complicações a nível da concentração, na concretização de pequenas
tarefas.
Na entrevista o doente não evidenciou quaisquer variações mnésicas significativas,
não se determinaram modificações referentes à memória a curto prazo, verificando-se
alterações ao nível da memória a longo prazo.
Não foram observadas alterações de inteligência, não tendo dificuldade em reter o
conteúdo das questões colocadas, respondendo correctamente às mesmas, revelando
execução na vida diária ajustado.

INSIGHT E JUÍZO CRÍTICO

O insight e o juízo crítico são funções cognitivas complexas de acordo com o que é
referenciado por Trzepacz e Baker (2001), na medida em que solicitam o
aproveitamento e inclusão de diversas funções mentais. É indispensável que o
indivíduo tenha a capacidade de abstração, de comunicação, as funções cognitivas
incólumes, inexistência de perturbação do pensamento, humor eutímico e estabilidade
emocional.

105
O doente aquando da primeira entrevista realizada no dia 29 de Setembro de 2012,
apesar de saber em que consiste a sua doença, demonstra falta de conhecimentos em
relação à mesma, ou seja, o doente apresenta pouco insight em relação ao
alcoolismo, utilizando a externalização como mecanismo de defesa.
No que diz respeito ao juízo crítico, o doente apresenta dificuldades em reconhecer a
gravidade do seu problema e as suas sequelas, na medida em que relativamente aos
vários internamentos que já teve, em consequência do alcoolismo crónico e
concludentemente o surgimento de cirrose hepática, não o motivaram para a
abstinência, pois o doente ainda mantém consumos.

Aquando da entrevista efectuada ao doente no dia 2 de Outubro de 2012, este


comprova falta de conhecimentos em relação à sua doença, enuncia pouco insight em
relação ao alcoolismo, em que a externalização é o seu meio de defesa.
Em relação ao juízo crítico, o doente manifesta dificuldades em identificar a seriedade
do seu problema e as suas consequências.

No decorrer da última entrevista ocorrida no dia 4 de outubro de 2012, o doente


mantém carência de conhecimentos em relação à sua doença, exibindo pouco insight
em relação ao alcoolismo, mantendo a externalização como mecanismo de defesa. No
que concerne ao juízo crítico, o doente apresenta dificuldades em assimilar a
severidade do seu problema e os seus efeitos a curto/ médio prazo.

5.1.4 – Resultados das entrevistas relacionadas com o Modelo Teórico de


Virgínia Henderson

No decorrer das entrevistas realizadas ao doente e à cuidadora informal, foram


notórias as alterações que a cirrose hepática tem provocado na vida do doente, no seu
dia-a-dia, na realização das suas tarefas diárias, no que concerne à alteração dos
graus de independência/ dependência de algumas necessidades humanas
fundamentais.
Após as entrevistas realizadas e tendo este trabalho de investigação como suporte o
modelo teórico de enfermagem de Virgínia Henderson, o qual se encontra
implementado no Serviço de Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de
Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, na prestação de cuidados de
enfermagem aos doentes, verificou-se tendo em conta as necessidades humanas
fundamentais do doente o seguinte:

106
Relativamente às necessidades humanas fundamentais: Manter o corpo limpo e
cuidado e os tegumentos protegidos e Escolher roupa – vestir-se e despir-se, o doente
durante o seu internamento mostrou-se dependente em grau elevado na medida em
que necessitava de ajuda total na prestação de cuidados de enfermagem, pois por si
só não as satisfazia, esta dificuldade é mencionada pela cuidadora informal que afirma
que: “Às vezes ele consegue tomar banho e vestir-se sozinho, mas outras vezes ele
sente-se pior e sou eu que tenho que vestir e dar-lhe banho”. A este respeito é
relatado pelo doente que: “Felizmente eu ainda vou conseguindo cuidar de mim, ainda
consigo-me vestir e ainda me consigo lavar, mas sinto-me mais limitado”.
Durante o internamento no que concerne à necessidade humana fundamental: Comer
e beber de forma adequada, o doente demostrou dependência em grau moderado,
necessitando de ajuda nos cuidados de enfermagem durante as refeições, neste
sentido a cuidadora informal diz que: “Tenho de fazer alguma coisa para ele comer,
ele é que fazia sua comida, mas desde que lhe foi diagnosticada a doença deixou de
fazer e se eu não lha fizer ele fica sem comer, porque ele deixou de conseguir fazer”.
No que concerne à necessidade humana fundamental: Respirar normalmente, o
doente demonstrou no internamento em termos de respiração, dispneia a pequenos
esforços, sobre este ponto o doente confirma que: “…os meus passeios resumem-se
a dentro de casa […] o me cansar muito limitam-me muito…”, a cuidadora informal a
este nível relata que: “…senta-se com muita frequência, fica mais vezes parado,
quando ele caminha mais um pouco nota-se logo na respiração, fica mais aflito”, no
decurso da entrevista refere ainda que: “Ele cansa-se muito facilmente, permanece ao
longo do dia mais tempo sentado e deitado.” E afirma ainda que: “…cansa-se muito
facilmente por isso não consegue estar muito tempo em pé”.
Outro dos aspectos em que o doente tem apresentado mais limitação, quer no
internamento, quer no domicílio prende-se com a necessidade humana fundamental:
Eliminar os resíduos corporais, mostrando-se dependente em grau moderado nos
cuidados de enfermagem, neste sentido a cuidadora informal refere que: “Quanto a
urinar bem ou não, isso depende, se ele tomar o aldactone e o lasix, urina muito bem,
mas se deixa de tomar, urina muito pouco…” e ainda menciona que o doente sofre de
obstipação: “Para evacuar é que ele costuma ter muitas dificuldades, costuma andar
vários dias, por vezes três ou quatro, em que não evacua…”, ainda referente a este
aspecto a cuidadora informal, um pouco envergonhada alude que: “…às vezes não
consegue urinar na casa de banho e urina tudo cá em casa e eu lá tenho de limpar…”.
Relativamente à necessidade humana fundamental: Movimentar-se e manter a postura
correcta, o doente apresenta limitações físicas a nível dos movimentos corporais, bem
como na deambulação, em que segundo este se deve a dores musculares que

107
constantemente o admoestam e neste sentido ele relata que: “…vou menos vezes à
cidade e os meus passeios resumem-se a dentro de casa pois as dores articulares […]
limitam-me muito…”, quanto a esta matéria a cuidadora informal narra que: “Ele tem
dores musculares por isso passa muito tempo deitado…”.
Aquando do seu internamento o doente apresenta dificuldade em controlar a sua
temperatura corporal, necessitando de vários cobertores na cama, referente a esta
condição verifica-se que a necessidade humana fundamental: Manter a temperatura
dentro dos valores normais mediante a selecção de roupa e a modificação do
ambiente apesar de se encontrar alterada, o doente consegue-a controlar e é referido
pela cuidadora informal que no domicílio o doente: “… refere muitas vezes que tem
frio, apesar do tempo não estar às vezes tanto frio como ele refere”. E ainda vai de
encontro ao que foi observado durante o internamento: “Tem sempre com ele, quando
está sentado ou deitado, um cobertor por cima dele […] aliás mesmo no internamento
está sempre com um cobertor por cima dele…”
Aquando do internamento do doente quanto à necessidade humana fundamental:
Dormir e descansar, durante o turno da noite, constatava-se que este apresentava
insónia inicial e despertar fácil e durante o turno da manhã e da tarde, apresentava
sono fraccionado, em entrevista a cuidadora informal menciona que no domicílio, o
doente: “…não costuma dormir nada bem, não consegue dormir a noite inteira.”
Em termos de comunicação o doente demostrou no internamento um discurso
lentificado, neste sentido considera-se uma modificação na necessidade humana
fundamental: Comunicar-se com os demais, expressando emoções, necessidades,
temores e opiniões, o doente menciona que em termos de comunicação a relação
entre ele e a cuidadora informal por vezes não é a melhor, e ele até demostrou o
desejo de: “Dar-me melhor com a minha mãe”. Alusivo a este ponto a cuidadora
informal descreve que: “O meu filho tem alturas em que conversa muito bem e até os
vizinhos ficam admirados, mas tem outras alturas em que não lhe apetece conversar
nada e passa o dia calado. Por vezes quando eu começo a falar muito com ele, ele
enerva-se muito comigo…”.
Apesar de o doente ter 49 anos encontra-se actualmente numa situação de reforma,
em consequência da cirrose hepática que lhe foi diagnosticada, derivado a este facto,
nunca conseguiu manter um emprego estável, tendo a necessidade de alternar de
emprego frequentemente, neste sentido tendo em conta a necessidade humana
fundamental: Trabalhar de modo a sentir-se realizado, o doente relata que: “Para mim
esta doença prejudicou-me muito a nível profissional na medida em que nunca
cheguei a conseguir um emprego estável, pois desde que me apareceu a cirrose
hepática eu comecei a faltar muito ao trabalho, era naquelas alturas em que me sentia

108
pior. Nunca consegui manter o mesmo trabalho por muito tempo”. Corroborando com o
que foi relatado a cuidadora informal descreve que: “A doença alterou muito a vida do
meu filho, passa mais tempo em casa […]. Nunca mais conseguiu trabalhar em
condições, ele próprio dizia que não podia, que não conseguia trabalhar. Ainda tirou
um curso de computadores mas com o avançar da doença deixou de fazer tudo e
neste momento encontra-se reformado”.
No início deste último internamento a manutenção de um ambiente seguro para o
doente demostrou-se ser uma preocupação na prestação dos cuidados de
enfermagem, na medida em que o doente apresentava risco de queda, no entanto e
ao longo do internamento esse risco não permaneceu na medida em que a
encefalopatia hepática foi tornando-se menos acentuada e o nível de consciência foi
melhorando, no entanto e relativamente à necessidade humana fundamental: Evitar os
riscos do ambiente e evitar lesar os outros, a cuidadora informal expõe que no
domicílio: ”…não o posso deixar sozinho, tenho medo que ele me caia” e sobre este
aspecto, descreve ainda que: “A casa tem dois pisos e ele quando vê que realmente
não pode subir a escada, pede-me ajuda para subir a escada. Eu tenho medo que ele
caia e nessas fases ele até faz a cama cá em baixo e dorme aqui, não vai para o seu
quarto que é lá em cima”.
Relativamente à necessidade humana fundamental: Jogar ou participar em diversas
formas de recriação é mencionado pelo doente que: “Gostava de passear de carro, de
passear no quintal de casa, mas agora com a minha doença isso deixou de ser
possível.” Referente a este aspecto a cuidadora informal relata que: “…ele não vai a
lado nenhum, a não ser quando de vez em quando os amigos o veem buscar para ir
dar um passeio.” E acrescenta que: “A doença alterou muito a vida do meu filho, passa
mais tempo em casa, socializa-se menos com os amigos e vizinhos.”
Já no que diz respeito à necessidade humana fundamental: Aprender, descobrir ou
satisfazer a curiosidade de modo a conduzir a um desenvolvimento e a uma saúde
normais e utilizar os recursos de saúde disponíveis, a cuidadora informal documenta
que: “Às vezes tem cuidado com a alimentação devido à doença que tem, mas outras
vezes não. Os médicos nunca falaram muito com ele sobre a dieta que deveria seguir
nem quais os alimentos que seriam melhores para ele, ou os piores, mas eu também
nunca notei que a alimentação lhe fizesse mal. Já sei que deve comer muitos legumes
e comer sempre mais peixe do que carne.” E adianta que: “Os hábitos alcoólicos
mesmo com a doença não se alteraram muito, tem vezes que não bebe nada mas tem
outras vezes que se o deixassem bebia a sério…”, já o doente um pouco parco em
palavras alude que: “…tenho tentado diminuir o consumo de bebidas alcoólicas e por
vezes até tenho conseguido estar sem beber…” e refere ainda que a solução para a

109
sua doença e recuperar novamente a saúde: “… é o transplante hepático. E mesmo o
médico diz que com o transplante hepático fico com uma solução de vida.”
Foi abordado o tema da morte o qual foi encarado de forma emotiva quer por parte do
doente, quer por parte da cuidadora informal, assim e no que diz respeito à
necessidade humana fundamental: Realizar práticas religiosas segundo a fé de cada
um, o doente é perentório em afirmar que: “…o indivíduo nunca sabe quando vai
morrer, não saber quanto tempo mais vai viver…”, acerca desta dimensão, a
cuidadora informal torna-se mais descritiva: “Ele tem muito medo da morte, ele não
quer morrer. Tem medo que venha a ter sofrimento. Ele tem muito receio de me
deixar, preocupa-se muito com isso, refere isso muitas vezes”.
Tendo em conta a análise que foi efectuada das necessidades humanas
fundamentais, segundo o modelo teórico de enfermagem de Virgínia Henderson, que
se demostraram alteradas no doente em consequência da cirrose hepática, será
elaborado posteriormente um plano de cuidados de enfermagem direcionado ao
doente em estudo nesta investigação.

5.1.5 – Resultados relativos à aplicação da Escala MELD

No sentido de ser quantificado em que estadio e qual a evolução da cirrose hepática


diagnosticada ao doente em estudo, foi aplicado o Model for End-Stage Liver Disease
(MELD) o qual se constituiu como um estimador da mortalidade a curto prazo em
doentes com cirrose hepática.
Neste sentido e de acordo com o relatório médico, presente no processo clínico do
doente, da sua avaliação efectuada em Novembro de 2011, correspondia um Score
MELD de 27.
Aquando do último internamento do doente no Serviço de Gastroenterologia A, em 24
de Setembro de 2012 e após avaliação dos dados bioquímicos através das análises
clínicas realizadas ao doente no início do internamento e após três dias de
internamento foram as seguintes:
No dia 24 de Setembro de 2012 o doente apresentava um valor de creatinina de 1,27
mg/dl, um valor de bilirrubina de 6.0 mg/dl e um INR de 1.94. Ao utilizar a fórmula de
cálculo:
MELD = 3,8 x (6.0 mg/ dl) + 11,2 x (1.94) + 9,6 x (1,27 mg/ dl) + 6,4
Verifica-se que à entrada do seu internamento, o doente apresentava um Score de 23.

110
No dia 27 de Setembro de Setembro de 2012 o doente apresentava um valor de
creatinina de 1.19 mg/dl, um valor de bilirrubina de 7.6 mg/dl e um INR de 2.02. Ao
empregar a fórmula de cálculo:
MELD = 3,8 x (7.6 mg/ dl) + 11,2 x (2.02) + 9,6 x (1.19 mg/ dl) + 6,4
Verifica-se que ao terceiro dia de internamento, o doente apresentava um Score de 24,
o que estabelece uma taxa de mortalidade de 19,6%, se o doente não for submetido a
um transplante hepático no prazo de três meses.

5.1.6 – Resultados relativos à aplicação do questionário WHOQoL - Bref

Esta avaliação resultante da aplicação do questionário WHOQoL – Bref torna-se


importante em termos clínicos.
Conforme é referido por Canavarro et al (2007, pág. 95), estes aludem que: “…a
interpretação dos resultados do WHOQoL – Bref é feita de forma linear: resultados
mais elevados correspondem a uma melhor Qualidade de Vida”. De acordo com os
mesmos autores, a apreciação qualitativa deste questionário é um procedimento
especialmente apropriado, no sentido de compreender o impacto de uma determinada
doença, ou seja, neste trabalho de investigação este nível de avaliação permite
compreender de que forma a cirrose hepática presente no doente, sujeito deste
estudo, afecta a sua Qualidade de Vida. Após a realização da terceira entrevista ao
doente, foi administrado pelo entrevistador o questionário WHOQoL – Bref., neste
sentido, procedendo a uma interpretação dos resultados de uma forma linear e
relativamente às perguntas de Qualidade de Vida geral e percepção geral de saúde o
doente refere que a sua Qualidade de Vida nem é boa nem é má, correspondendo em
termos numéricos a um valor 3, no entanto não se sente satisfeito com a sua saúde
em geral, a que corresponde em termos numéricos um score de 2.
Tendo em consideração as questões relativas ao Domínio Físico e que incluem os
subdomínios: dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade,
actividades da vida diária, dependência de medicação ou tratamentos e capacidade de
trabalho, as repostas dadas pelo doente descrevem que as dores físicas
acompanhadas de uma falta de energia e cansaço fácil, o limitam na sua mobilidade e
consequentemente na realização das suas actividades de vida diária, deste modo a
sua capacidade de trabalho é insatisfatória e encontra-se muito dependente dos
cuidados médicos para a realização das suas actividades de vida diária, apesar de
tudo isto, considera o seu sono e repouso satisfatório. Tendo em conta as questões

111
que constituem este domínio e relativamente à questão: Em que medida as suas dores
(físicas) o impedem de fazer o que precisa fazer, o doente respondeu muito a que foi
atribuído a pontuação de 4, no que diz respeito à questão: Em que medida precisa de
cuidados médicos para fazer a sua vida diária, foi retorquido pelo doente muito
correspondendo um valor numérico de 4, ao ser inquirido com a pergunta: Tem
energia suficiente para a sua vida diária, o doente respondeu moderadamente, ao qual
foi atribuído um score 3, relativamente à pergunta: Como avaliaria a sua mobilidade
(capacidade para se movimentar e descolar por si próprio), o doente avaliou a sua
mobilidade como nem boa nem má, sendo atribuído o valor 3, ao ser colocada a
questão: Até que ponto está satisfeito com o seu sono, o doente afirmou sentir-se
satisfeito a que equivale um valor 4. Comparativamente à questão que aborda: Até
que ponto está satisfeito com a capacidade para desempenhar as actividades do seu
dia-a-dia, o doente responde sentir-se satisfeito, atribuindo um valor de 4. No que
concerne à última questão que abrange este domínio e que consiste em: Até que
ponto está satisfeito com a sua capacidade de trabalho, o doente respondeu sentir-se
insatisfeito, tendo sido atribuído o valor numérico de 2. Assim em termos de
globalidade, no que diz respeito a este domínio, a pontuação integral foi de 11.43.
Tendo em conta as questões relativas ao Domínio Psicológico o qual abrange os
subdomínios: sentimentos positivos, pensamento, aprendizagem, memória e
concentração, auto - estima, imagem corporal e aparência, sentimentos negativos e
espiritualidade/ religião/ crença pessoais, o doente manifestou que gosta muito da
vida, que a sua vida tem sentido e que ainda possui boa memória, conseguindo-se
concentrar para aprender, no entanto não aceita muito bem a sua imagem corporal,
sentindo-se insatisfeito consigo próprio e algumas vezes sente-se invadido por
sentimentos de tristeza e desespero, ou seja, relativamente à questão: Até que ponto
gosta da vida, o doente retorquiu que gosta muitíssimo, ao que equivale um score de
5, ao efectuar a pergunta: Em que medida sente que a sua vida tem sentido, o doente
declarou que muito, ao qual foi atribuído um valor de 4, ao questionar o doente sobre:
Até que ponto se consegue concentrar, este respondeu que muito, ao que equivale um
score de 4, já relativamente à pergunta: É capaz de aceitar a sua aparência física, o
doente declarou que moderadamente ao que foi imputado um valor de 3. Na pergunta:
até que ponto está satisfeito consigo próprio, o doente referiu que se encontra
insatisfeito, ao qual corresponde um valor de 2 e finalmente quanto à questão: Com
que frequência tem sentimentos negativos, tais como: tristeza, desespero, ansiedade
ou depressão, o doente menciona que esses sentimentos lhe ocorrem algumas vezes,
ao qual é atribuído um score de 3. Relativamente a este domínio, em termos globais,
corresponde um valor numérico de 14.

112
No que diz respeito às questões relativamente ao Domínio Relações Sociais, o qual
contêm os subdomínios: relações pessoais, apoio social e actividade sexual, as
respostas proporcionadas pelo doente patenteiam que este se demostra satisfeito com
as suas relações pessoais e com o apoio que os amigos lhe prestam no seu dia-a-dia.
Quando foi abordado o assunto sobre a sua actividade sexual, o doente mostrou-se
susceptibilizado, demorando algum tempo para delinear uma postura, mas acabou por
responder sentir-se satisfeito, deste modo e relativamente à pergunta: Até que ponto
está satisfeito com as suas relações pessoais, o doente menciona que se sente
satisfeito ao que corresponde um score de 4, na pergunta efectuada ao doente que
traduz: Até que ponto está satisfeito com a sua vida sexual, o doente afirma que se
sente satisfeito, à qual é atribuída uma pontuação de 4 e quanto à questão: Até que
ponto está satisfeito com o apoio que recebe dos seus amigos, o doente declara que
se sente satisfeito, o que equivale um score de 4. Na totalidade deste domínio
corresponde um valor de 16.
Relativamente ao Domínio Ambiente e que engloba os subdomínios: segurança física,
ambiente no lar, recursos económicos, cuidados de saúde e sociais, oportunidades
para adquirir novas informações e competências, participação e/ ou oportunidades de
recreio e lazer, ambiente físico e transporte, o doente aludiu que o meio ambiente que
o rodeia é favorável à sua condição de vida e neste sentido sente-se seguro no seu
dia-a-dia, já tendo em consideração a sua consideração monetária este demostra uma
satisfação moderada, bem como nas oportunidades de actividades de lazer que lhe
são proporcionadas e refere que não existe um acesso muito fácil às informações que
este necessita para poder organizar a sua vida quotidiana. O doente demostra
satisfação no local em que vive na medida em que possui bons acessos aos
transportes públicos e bons acessos aos serviços de saúde, deste modo e quanto à
pergunta: Em que medida se sente em segurança no seu dia-a-dia, o doente
menciona referir muita segurança, ao qual corresponde um valor de 4, no que diz
respeito à questão: Em que medida é saudável o seu ambiente físico, o doente
reponde que o seu ambiente físico é muito saudável, tendo sido atribuído um score de
4. Aquando da pergunta: Tem dinheiro suficiente para satisfazer as suas
necessidades, o doente responde que moderadamente, a que corresponde um valor
de 3, ao efectuar ao doente a questão: Até que ponto tem fácil acesso às informações
necessárias para organizar a sua vida diária, este refere que moderadamente ao qual
se atribui um score de 3, relativamente à questão: Em que medida tem oportunidade
para realizar actividades de lazer, o doente expõem que moderadamente, ao que
corresponde um valor de 3. Já quanto à pergunta: Até que ponto está satisfeito com as
condições do lugar em que vive, o doente responde que se sente satisfeito, ao qual

113
corresponde um valor numérico de 4, ao ser inquirido sobre: Até que ponto está
satisfeito com o acesso que tem aos serviços de saúde, o doente demonstra sentir-se
satisfeito, ao que corresponde um valor de 4 e por fim no que concerne à questão: Até
que ponto está satisfeito com os transportes que utiliza, o doente relata sentir-se
satisfeito, tendo sido atribuído um valor de 4. Neste domínio e em termos totais,
representa um valor numérico de 14,50.

5.2 – Análise e Discussão dos Resultados

Salientando a delineação deste estudo, considera-se que tal como foi enfatizado na
primeira parte desta dissertação, que a percepção dos termos: Qualidade de Vida,
Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde e cirrose hepática, tendo como suporte o
modelo teórico de enfermagem de Virgínia Henderson onde se encontram
evidenciadas as necessidades humanas fundamentais é indispensável para
estabelecer qual a opinião que o doente detém, relativamente a estas noções
relacionadas com a Qualidade de Vida e a cirrose hepática.
Deste modo e tendo como ponto de partida a questão de investigação que motivou a
elaboração deste estudo de caso, a recolha dos dados que daí foram obtidos e a
actual situação clínica do doente, pode-se concluir que a cirrose hepática é
responsável pela diminuição da Qualidade de Vida do doente e este facto é bastante
elucidativo quando é colocada a questão ao doente, o qual é perentório em afirmar
que: “Sim a minha Qualidade de Vida foi muito prejudicada devido à cirrose hepática.
Passa um bocado no sentido de que o indivíduo nunca sabe quando vai morrer, não
saber quanto tempo mais vai viver, não puder orientar o amanhã”. O mesmo facto é
corroborado pela cuidadora informal, quando colocada a mesma questão expondo
que: “Não, sinto-me muito triste mas ele não tem Qualidade de Vida, desde que surgiu
a sua doença que se nota muito essa falta de Qualidade de Vida […] A Qualidade de
Vida piorou, ele agora é mais triste, dantes ele era mais alegre, ele era muito
inteligente e muito mexido, trabalhador, agora está muito limitado em tudo o que faz”.
Vários foram os internamentos cominados ao doente, ao longo destes sete anos,
desde que lhe foi diagnosticado a cirrose hepática. O último internamento do doente,
que ocorreu entre 24 de Setembro de 2012 e 8 de Outubro de 2012, sucedeu devido a
encefalopatia hepática um diagnóstico secundário resultante da cirrose hepática.
Verifica-se que após ser realizado o exame mental, este demonstra que o doente
apresenta aspecto limpo e cuidado no entanto necessita de incentivo para a prestação

114
dos cuidados de higiene, mesmo sendo estes prestados na altura do internamento
pela equipa de enfermagem e em casa pela cuidadora informal, segundo relato desta
durante a entrevista, na medida em que as necessidades humanas fundamentais:
Manter o corpo limpo e cuidado e os tegumentos protegidos e Escolher roupa – vestir-
se e despir-se se encontram alteradas, motivando que o doente se encontre
dependente em grau elevado para a realização das mesmas, ou seja, necessita que
no internamento esta necessidade seja prestada pela equipa de enfermagem e no
domicílio pela cuidadora informal. Verifica-se que na necessidade humana
fundamental: Comer e beber de forma adequada e na necessidade humana
fundamental: Eliminar os resíduos corporais, o doente demostra dependência em grau
moderado, ou seja, o doente necessita durante o internamento de assistência por
parte da equipa de enfermagem e no domicílio pela cuidadora informal para a
concretização das mesmas. Esta análise vai de encontro ao que o doente expressa
em termos de insatisfação relativamente às dores físicas acompanhadas de uma falta
de energia e cansaço fácil e que o limitam na sua mobilidade e consequentemente na
realização das suas actividades de vida diária, causando-lhe bastante sofrimento,
referente ao domínio físico do questionário WHOQoL – Bref.
Apresenta uma idade superior à idade biológica, com presença de rugas e
telagiectasias na face, pele e escleróticas ictéricas e edema dos membros inferiores.
O doente apresentou-se acordado, vigil e colaborante, quanto ao seu comportamento
apresenta lentificação psicomotora, reflectindo-se numa certa apatia em relação ao
meio ambiente que o rodeia, e que se encontra presente em alguns momentos diários.
Ostenta uma afectividade adequada e sintónica. No discurso e linguagem que o
doente apresenta não se verificam quaisquer perturbações, mas ao nível do conteúdo
e processamento do pensamento apresenta bradipsiquia e pensamento tangencial.
Em termos cognitivos o doente apresenta-se atento e orientado auto e
alopsiquicamente com conservação da memória a curto prazo, mas exibindo
pequenas alterações na memória a longo prazo, as exposições vão de encontro às
alterações verificadas na necessidade humana fundamental: Comunicar-se com os
demais, que é comprovado pelas afirmações fornecidas pelo doente e pela cuidadora
informal aquando das entrevistas realizadas e analogamente comprovado através do
questionário WHOQoL – Bref no que diz respeito aos domínios: psicológico e relações
sociais, neste sentido o doente demonstra uma baixa da sua auto - estima, de tristeza
e desespero, devido à sua imagem corporal e às limitações resultantes da cirrose
hepática, as relações sociais com os seus amigos mantém-se inalterada, apesar de
muitas vezes se apresentar comprometida.

115
A doença segundo o que foi relatado pelo doente e confirmado pela cuidadora informal
aquando das entrevistas veio prejudicá-lo no trabalho, nas actividades de lazer e na
segurança em termos do ambiente que o rodeia, estas afirmações relatadas
anteriormente são justificadas na alteração que o doente apresenta na necessidade
humana fundamental: Trabalhar de modo a sentir-se realizado. Outro dos factores que
merecem consideração e apreensão é a alteração relativamente à necessidade
humana fundamental: Evitar os riscos do ambiente e evitar lesar os outros e exposto
pela cuidadora informal em entrevista. Em concordância com o que foi exposto,
encontra-se nas respostas fornecidas pelo doente no questionário WHOQoL – Bref
correspondente ao domínio ambiente, ou seja, o doente sente-se seguro por o local
onde vive ser de fácil acesso a transportes públicos e cuidados de saúde, sentindo-se
protegido pela presença constante no seu dia-a-dia da cuidadora informal, por outro
lado como consequência da cirrose hepática as actividades de lazer e de realização
pessoal e profissional foram comprometidas.
Relativamente ao juízo crítico, o doente revela pouco informação e demonstra pouca
aprendizagem em relação à sua situação e pouco insight em relação à sua doença, de
facto e tendo em consideração as declarações prestadas pelo doente nas entrevistas,
este apenas refere que sabe que tem cirrose hepática, a qual se define por ser uma
doença que surge da inflamação do fígado, admite que consumiu bebidas alcoólicas e
que a única solução para recuperar a saúde é o transplante hepático, no entanto a
cuidadora informal relata que o doente mantém em algumas situações o consumo de
bebidas alcoólicas e que isso a deixa apreensiva no sentido de que pode resultar no
afastamento do doente das consultas de transplante hepático e que conforme pelo que
foi anteriormente referido, se trata segundo o doente, na sua solução para melhorar a
sua Qualidade de Vida.
De facto esta correlação negativa existente entre a cirrose hepática e a Qualidade de
Vida está patenteada nas alterações que foram verificadas nos graus de
independência/ dependência que o doente ostenta e que se manifestaram nas
alterações a nível das necessidades humanas fundamentais segundo o modelo teórico
de enfermagem de Virgínia Henderson, estas conclusões são suportadas pela
aplicação do questionário WHOQoL – Bref, onde se pode conferir que os domínios em
que o doente sente mais prejudicada a sua Qualidade de Vida é o domínio físico e o
domínio psicológico e onde sente que não foi tanto afectada a sua Qualidade de Vida
foram nos domínios relações sociais e ambiente.
Em termos quantitativos de acordo com o resultado obtido através da aplicação do
Model for End-Stage Liver Disease (MELD), conclui-se que o doente, apresentou um
Score de 23 à entrada e um Score de 24 ao terceiro dia de internamento, exibindo

116
uma taxa de mortalidade de 19,6%, se não for submetido a um transplante hepático no
prazo de três meses.
Ao relacionar os dados qualitativos obtidos através do exame mental do doente, do
questionário WHQoL – Bref e da entrevista semiestruturada, com os dados
quantitativos do Model for End-Stage Liver Disease (MELD), estes vêm reforçar a
conclusão e a constatação de que a Qualidade de Vida do doente se apresenta
deteriorada pela presença da cirrose hepática.
Os antecedentes de alcoolismo por parte do doente que integra este estudo de caso,
conduz a indeclináveis repercussões do próprio doente a nível físico e psíquico, mas
similarmente no meio familiar e na sociedade em que se insere. A cirrose hepática,
último estadio da doença hepática alcoólica é uma das mais graves e a que acarreta
as maiores complicações, sujeitando o doente a internamentos hospitalares
repetitivos. O diagnóstico de cirrose hepática repercute no doente uma incapacidade
cada vez mais acentuada, assim como uma maior dependência na realização das
necessidades humanas fundamentais, submetendo-o a uma reorganização dos papéis
e funções dentro da família, com o intuito de descortinar a melhor adaptação exequível
a esta conjuntura problemática, a Qualidade de Vida do doente, torna-se inferior
quanto maior for a progressão da doença (cirrose hepática). Por outro lado a família
(cuidadora informal), assume neste contexto um papel elementar na assistência e
auxílio ao familiar doente, gerando um processamento de aprendizagem para lidar
com as alterações que surgem no dia-a-dia. Os cuidados prestados ao doente têm
como principal objectivo proporcionar uma vida que seja confortável, aceitável e
praticável, esta condição no entanto vai para além do ajustamento à própria doença,
expandindo-se a factores sociais e económicos, despoletando múltiplas circunstâncias
de stress psicológico quer de quem cuida, quer de quem é cuidado.
Após a descrição dos resultados obtidos e das necessidades humanas fundamentais
alteradas do doente que daí emergiram, foram erigidos os seguintes focos de
enfermagem: Dispneia, Autocuidado: Higiene, Autocuidado: Vestuário, Autocuidado:
Comer, Autocuidado: Beber, Autocuidado: Ir ao Sanitário, Edema, Eliminação Intestinal,
Dor muscular, Discurso Lentificado, Insónia, Auto estima, Aprendizagem, Sofrimento,
Tristeza, Desespero e Processo Familiar, para que atendendo a estas necessidades do
doente seja elaborado o plano de cuidados de enfermagem direccionado ao doente
com o objectivo de colmatar essas mesmas necessidades.

117
5.3 – Elaboração de Plano de Cuidados de Enfermagem

A Enfermagem é na sua essência, suportada por modelos conceptuais, os quais são


um aspecto fundamental para a planificação dos cuidados de enfermagem.
O plano de cuidados de enfermagem de acordo com Atkinson e Murray (1989), surge
no intuito de melhorar a qualidade dos cuidados prestados ao doente, os quais são
planeados no sentido de conhecer as necessidades específicas do doente. A
planificação dos cuidados de enfermagem permite que cada enfermeiro da equipa de
enfermagem preste os cuidados ao doente, tendo em conta as suas preferências e as
suas necessidades individuais. Para além destes aspectos benéficos, pode-se incluir o
facto de o doente participar activamente nos cuidados, adquirindo conhecimentos que
lhe permitam a resolução de problemas e o de contribuírem na intenção de serem
atingidos os objecticos delineados no plano de cuidados de enfermagem.
Segundo Grondin et al (1992), o plano de cuidados de enfermagem proporciona ao
enfermeiro um plano de acção particular de um dado problema e de um determinado
motivo, possibilitando adaptá-lo às necessidades específicas do doente e
consequentemente a sua actualização, em concordância com os princípios do
planeamento dos cuidados de enfermagem.
De facto e de acordo com Phaneuf (2001, pág. 33), esta afirma que: “O modelo
conceptual de enfermagem constitui um elemento fundamental da planificação dos
cuidados. É um conceito de passagem, de transição entre o pensamento filosófico que
sustenta a prestação dos cuidados e as acções que a enfermeira executa no
quotidiano”. Ao ser utilizado um modelo conceptual, este transporta diversas
relevâncias, quer para o doente, quer para a organização do serviço e da comunidade
profissional da enfermagem. Essas vantagens traduzem-se em:
 Concretiza de maneira específica e transparente o campo de acção do
enfermeiro, na medida em que é ele que tem o comprometimento de satisfazer
as necessidades do doente;
 Enaltece o papel independente do enfermeiro;
 Ilustra a prestação dos cuidados de enfermagem no domínio da saúde, no seio
do trabalho da equipa multidisciplinar;
 Consente à enfermagem a utilização de uma linguagem comum;
 Individualiza e humaniza os cuidados de enfermagem tendo em conta as
necessidades do doente;
 Elabora os cuidados de enfermagem em equipa com coerência, no sentido de
cada elemento da equipa de enfermagem ter o mesmo objectivo, que se
expressa na satisfação das necessidades do doente;

118
 Proporciona um quadro de auscultação e análise da realidade com o intuito de
obter os pormenores da condição e de avaliar a dimensão das dificuldades
vivenciadas pelo doente;

O modelo teórico utilizado neste trabalho é o de Virgínia Henderson, o qual se


fundamenta nas catorze necessidades humanas fundamentais, este modelo teórico
defende que o papel do enfermeiro baseia-se em auxiliar o indivíduo que por si só não
consegue satisfazer as suas necessidades e neste sentido ajudá-lo a tornar-se de
novo independente e autónomo, no que diz respeito às suas carências. As
necessidades que são abordadas de acordo com o modelo teórico de Virgínia
Henderson, são definidas como uma necessidade fundamental que o indivíduo deseja
satisfazer no sentido de preservar o seu equilíbrio físico, psicológico, social e
espiritual, ou seja, as necessidades: de respirar, de beber, de comer, de eliminar, de
se mover encontram-se aliadas à dimensão física do indivíduo; as necessidades: de
evitar os perigos e de comunicar prendem-se à dimensão afetiva e social; a
necessidade de viver segundo os seus valores à dimensão espiritual do indivíduo e a
necessidade de aprender à dimensão intelectual do indivíduo. As necessidades ao se
encontrarem interligadas umas com as outras transmitem que a insatisfação em
determinada necessidade produza repercussões em termos de satisfação de outras
necessidades. Ao intervir na necessidade em que o doente apresenta dificuldade
permite regularizar por um lado esse foco primário de dificuldade, mas por outro
normalizar as outras necessidades que derivam dela. Deste modo as necessidades
devem ser encaradas como um conjunto e o indivíduo deve ser encarado na sua
totalidade. Contudo as necessidades físicas devem ser colmatadas em primeiro lugar
para que o equilíbrio homeostático fique assegurado, neste sentido é essencial
satisfazer as necessidades fundamentais antes que outras de outros níveis se
exteriorizem.
Os grandes conceitos que sustentam o modelo teórico de enfermagem de Virgínia
Henderson são:
 Em determinados momentos da sua vida, o indivíduo tem a indigência de
cuidados no sentido de preservar ou restaurar a sua saúde, recuperar a sua
independência ou morrer em paz;
 O doente é um ser biopsicossocial e espiritual;
 O indivíduo doente ou com saúde experiencia determinadas necessidades em
que a sua satisfação culmina na sua sobrevivência;
 O indivíduo deve ter a determinação, a energia e a informação essencial para
viver com saúde;

119
 O individuo encontra-se em inter-relação com a sua família e com a sociedade
em que está inserido;
 A saúde encontra-se subjacente à capacidade que o indivíduo manifesta no
sentido de conservar a sua independência, em conformidade com a satisfação
das suas necessidades;
 Os cuidados de enfermagem são prestados em interdependência com os
membros da equipa prestadora de cuidados;
 Os cuidados de enfermagem pressupõem a utilização de um plano de
cuidados documentado;
 Os cuidados de enfermagem encontram-se sustentados por uma abordagem
científica de solução de problemas e visam a sua personalização;

Neste sentido Phaneuf (2001) e Alligood e Tomey (2004), de acordo com este modelo
teórico mencionam que as necessidades humanas fundamentais do doente, que
determinam os componentes dos cuidados de enfermagem, englobam as
subsequentes necessidades:
 Respirar normalmente;
 Manter o corpo limpo e cuidado e os tegumentos protegidos;
 .Escolher a roupa – vestir-se e despir-se;
 .Comer e beber de forma adequada;
 Eliminar os resíduos corporais;
 Movimentar-se e manter a postura correcta;
 Comunicar-se com os demais, expressando emoções, necessidades, tremores
e opiniões;
 Dormir e descansar;
 Aprender, descobrir ou satisfazer a curiosidade de modo a conduzir a um
desenvolvimento e a uma saúde normais e utilizar os recursos de saúde
disponíveis;
 Manter a temperatura corporal dentro dos valores normais mediante a
selecção de roupa e a modificação do ambiente;
 Realizar práticas religiosas segundo a fé de cada um;
 Jogar ou participar em diversas formas de recriação;
 Evitar os riscos do ambiente e evitar lesar outros;
 Trabalhar de modo a sentir-se realizado;

120
Segundo o que é referido por Phaneuf (2001 pág. 29), “O sistema de planificação tem
por objecto a pessoa, vista no conjunto das suas dimensões e situada no seu
ambiente; tudo converge para ela, numa finalidade bem definida, que é a prestação de
cuidados de qualidade, personalizados e eficazes”. A planificação de cuidados de
enfermagem consiste em estabelecer um plano de acção, prever as etapas da sua
realização, os meios a disponibilizar e as precauções a tomar, logo, conceber e
organizar uma estratégia de cuidados de enfermagem bem definida. A planificação dos
cuidados de enfermagem pode ser definida como a resposta dada pelo enfermeiro para
resolver uma dificuldade e ajudar o indivíduo a satisfazer as suas necessidades. Ainda
de acordo com a mesma autora, esta menciona que compete ao enfermeiro auxiliar o
indivíduo quer esteja doente ou com saúde, na conservação e na restabelecimento da
sua saúde ou assisti-lo nos seus últimos momento de vida, na execução de tarefas
das quais ele próprio se encarregaria se detivesse a energia e a vontade ou por outro
lado possuísse os conhecimentos exigidos. É ainda realçado pela autora, a
importância do papel do enfermeiro na elaboração e realização de planos de cuidados
individualizados, fazendo estes parte integrante das suas funções autónomas. O plano
de cuidados é assim caracterizado por ser um conjunto que compreende o diagnóstico
de enfermagem, os objectivos e as intervenções, os quais servem para prever,
organizar e avaliar os cuidados.
O que vai de encontro ao que é referido por Alligood e Tomey (2004), em que segundo
este modelo teórico de enfermagem, o indivíduo em caso de doença apresenta uma
ou mais necessidades afectadas, logo é função do enfermeiro, ensinar, supervisionar
e motivar para progressivamente atingir de novo a autonomia, ou substitui-lo quando
estritamente necessário. Este modelo reconhece três graus da relação enfermeiro/
doente que se situam desde uma relação dependente até uma relação independente,
podem-se assim indicar: o enfermeiro enquanto substituto do doente, o enfermeiro
enquanto auxiliar do doente e o enfermeiro enquanto parceiro do doente. O doente era
encarado como um indivíduo que necessita de cuidados para a obtenção de saúde e
para preservar o seu equilíbrio físico e emocional, a sua autonomia ou dignificação na
morte em que o corpo e a mente são indissociáveis. O doente e a sua família
funcionam como uma unidade. De acordo com este modelo teórico de enfermagem, a
saúde é encarada como uma Qualidade de Vida, indispensável ao funcionamento
humano e que solicita independência e interdependência, tem uma maior importância
na promoção da saúde do que no cuidar dos doentes e os indivíduos deverão
conseguir atingir ou manter a sua saúde se tiverem a força, o desejo ou a informação
indispensável.

121
O cuidado autónomo de enfermagem é descrito no art.9.º do Regulamento do Exercício
Profissional dos Enfermeiros presente no Código Deontológico do Enfermeiro (Nunes et
al 2005, pág. 384), “Consideram-se autónomas as acções realizadas pelos
enfermeiros, sob sua única e exclusiva iniciativa e responsabilidade, de acordo com as
suas respectivas qualificações profissionais, seja na prestação de cuidados, na gestão,
no ensino, na formação ou na assessoria, com os contributos na investigação em
enfermagem”.
O presente plano de cuidados é redigido com a Classificação Internacional para a
Prática de Enfermagem (CIPE) versão β2. Esta taxonomia foi eleita pela pertinência
actual e pelo facto de permitir uma linguagem científica e unificada, comum à
enfermagem global. Também nos permite avaliar os resultados em enfermagem e
deste modo estimar-se os ganhos em saúde destes cuidados. Ao favorecer a descrição
dos cuidados aos indivíduos e a comunicação entre os profissionais da área, contribui
evidentemente para a continuidade dos cuidados e para a melhoria das práticas.
Acresce ainda que tal taxonomia é um impulso ao desenvolvimento da profissão, na
medida em que permite a colheita e a comparação de dados de enfermagem,
proporcionando um incentivo privilegiado à investigação.
Conforme defende Sequeira (2006), uma classificação de fenómenos, acções e
resultados de enfermagem, é fundamental e fornece à profissão um idioma próprio e
unificador.
O mesmo é referenciado pela Ordem dos Enfermeiros (2009), que constata que a
inclusão da CIPE no sentido de descrever os cuidados de enfermagem é de peculiar
importância no que diz respeito aos diagnósticos, às intervenções e aos resultados de
enfermagem, na medida em que se trata de uma nomenclatura de referência e de um
processo englobante entre as diferentes linguagens classificadas de enfermagem,
neste sentido possibilitará no tempo a confrontação de dados, a obtenção de
indicadores de qualidade, a investigação e a argumentação para a tomada de decisão
política.
Fundamental na preparação do respectivo plano é que este deve ser delineado em
conjunto com o doente. O enfermeiro deve proporcionar ao doente toda a informação
e técnicas necessárias para o seu tratamento, permitindo desta forma um
envolvimento activo ao longo de todo o processo terapêutico. Não nos podemos
esquecer que esta relação entre enfermeiro/ doente será fundamental para o sucesso
do tratamento (Correia et al, 2009).
Reforçando o que tem sido evidenciado anteriormente sobre o processo de
enfermagem Townsend (2011), refere que este apresenta uma abordagem de
resolução de problemas e que determina uma metodologia científica de enfermagem,

122
dirigida para o estabelecimento de objectivos, os quais propendam para a prestação
de cuidados de enfermagem de qualidade ao doente. Trata-se de um processo
dinâmico e contínuo e que se estabelece na interacção entre enfermeiro e doente. No
processo de enfermagem o surgimento do diagnóstico de enfermagem torna-se
importante no sentido em que descreve a condição do doente, facilita a prescrição de
intervenções e a instituição de parâmetros para os resultados, baseando-se
meramente em enfermagem, traduzindo-se num benefício para o doente, na medida
em que os cuidados de enfermagem que lhe são prestados se tornam eficazes e
consistentes, fundamentados no conhecimento dos problemas que este experiencia e
nas intervenções de enfermagem mais eficazes para os resolver.
Deste modo o enfermeiro pretende formar com o doente uma aliança terapêutica, em
que ambos partilham objectivos comuns e participam nos planos de estratégias para
os alcançar.
Torna-se pertinente a caracterização das necessidades humanas fundamentais
actuais do doente analisado neste trabalho de investigação, aquando do seu
internamento, deste modo e quanto à necessidade humana fundamental respirar
normalmente, o doente apresenta dificuldade respiratória (dispneia) a pequenos
esforços.
A dispneia referida pelo doente e observada no internamento em conjunto com a
situação de encefalopatia hepática, contribuem para que os níveis de dependência na
satisfação das restantes necessidades humanas fundamentais se encontrem
comprometidas, verificando-se que o doente se encontra dependente em grau
elevado, ou seja, necessita de ajuda total por parte da equipa de enfermagem, na
realização da necessidade humana fundamental de manter o corpo limpo e cuidado e
os tegumentos protegidos, bem como na necessidade humana fundamental de
escolher a roupa – vestir-se e despir-se.
Proveniente da encefalopatia hepática, o doente evidencia igualmente dependência
em grau moderado, ou seja, necessita de ajuda parcial relativamente à necessidade
humana fundamental comer e beber de forma adequada.
A necessidade humana fundamental eliminar os resíduos corporais, encontra-se
prejudicada devido a uma eliminação intestinal ineficaz por parte do doente, levando-o
a uma situação de obstipação e posteriormente o conduziu ao internamento devido a
encefalopatia hepática.
O doente apresenta edema ao nível dos membros inferiores e refere dor muscular, o
que motiva uma dificuldade por parte deste, em alcançar uma plena satisfação na
necessidade humana fundamental movimentar-se e manter uma postura correcta.

123
O doente ao ser internado com o diagnóstico de encefalopatia hepática confere no seu
seu estado psicomotor uma lentificação, a qual se caracteriza por um discurso
lentificado, comprometendo a necessidade humana fundamental comunicar-se com os
demais, expressando emoções, necessidades, tremores e opiniões.
Foi observado durante o internamento que o doente apresenta insónia primária,
constatando-se através da cuidadora informal que o mesmo sucede no domicílio,
prejudicando-o no sentido de conseguir um sono reparador, ou seja, interferindo na
completa satisfação da necessidade humana fundamental dormir e descansar.
Durante o internamento o doente manifestou diminuição da sua auto – estima em
consequência dos internamentos sucessivos e da degradação física e psicológica que
este presencia na realização das suas actividades de vida diárias, desmotivando o
doente a adquirir novos estilos de vida e na obtenção de conhecimentos sobre as
futura complicações que a doença trará na sua vida, comprometendo deste modo a
satisfação da necessidade humana fundamental aprender, descobrir ou satisfazer a
curiosidade de modo a conduzir a um desenvolvimento e a uma saúde normais e
utilizar os recursos de saúde disponíveis, uma vez que o doente mantém o consumo
de bebidas alcoólicas.
No que diz respeito à necessidade humana fundamental manter a temperatura
corporal dentro dos valores normais mediante a selecção de roupa e a modificação do
ambiente, o doente consegue satisfazer esta necessidade, optando por vestir várias
camadas de roupa e verificando-se que quer no internamento, quer pelo que é
relatado pela cuidadora informal, sempre que está com frio além da roupa utiliza um
ou mais cobertores.
As dores musculares e a dispneia que o doente menciona, conduziram a uma situação
que o sujeitou a delimitar a sua actividade física, exteriorizando-se por o doente passar
a maior parte do tempo no domicílio e não desempenhando nenhuma actividade lúdica
ou recreativa, analogamente estas situações encaminharam o doente a não alcançar
um trabalho estável por faltar consecutivamente, reflectindo-se pela não satisafação
das necessidades humanas fundamentais: jogar ou participar em diversas formas de
recriação e trabalhar de modo a sentir-se realizado.
No entanto o doente consegue apesar das limitações que ostenta em consequência da
cirrose hepática, satisfazer a necessidade humana fundamental evitar os riscos do
ambiente e evitar lesar os outros.
Ao ter sido inscrito nas consultas de transplante hepático, quer o doente, quer a
cuidadora informal demonstram fé e esperança numa eventual resolução para a
situação clínica do doente e consequentemente para a sua vida, pois actualmente o

124
doente manifesta medo da morte, manifestando-se na necessidade humana
fundamental realizar práticas religiosas segundo a fé de cada um.
Através deste trabalho de investigação, o qual tem como alvo de análise um doente
com o diagnóstico de cirrose hepática, foram reconhecidos aspectos de saúde com
relevância para a prática de enfermagem e deste modo foram levantados os seguintes
focos de enfermagem, tendo em conta as prioridades do doente, aquando do seu
internamento: Dispneia, Autocuidado: Higiene, Autocuidado: Vestuário, Autocuidado:
Comer, Autocuidado: Beber, Autocuidado: Ir ao Sanitário, Edema, Eliminação Intestinal,
Dor muscular, Discurso Lentificado, Insónia, Auto estima, Aprendizagem, Sofrimento,
Tristeza, Desespero e Processo Familiar, para os quais foram formulados diagnósticos
de enfermagem, objectivos e estratégias de intervenções de enfermagem.

FOCO: Dispneia
“Dispneia: movimento laborioso da entrada e saída de ar nos pulmões, com
desconforto e esforço crescente e falta de ar, associado a insuficiência de oxigénio no
sangue circulante, adejo nasal, alterações na profundidade respiratória, sons
respiratórios adventícios, sibilos, estertores, roncos, ressonância dos sons à
percussão, uso dos músculos acessórios, restrição dos movimentos torácicos,
expiração com lábios franzidos, frémito e sensação de desconforto” (CIPE, 2005 pág.
17).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Dispneia funcional


“Dispneia: falta de ar associada com actividade física, tal como a ginástica e a marcha”
(CIPE, 2005 pág. 17).
A dispneia segundo Phipps, Long e Woods (1990), é definida como a percepção
personalizada da “falta de ar” desajustada ao nível de esforço exigido, esta implica
uma componente fisiológica e cognitiva, o doente relativamente a esta condição
primeiramente toma noção da sua respiração e seguidamente interpreta-a como sendo
incompatível com o grau de actividade no seu dia-a-dia.
De acordo com Bolander (1998), a função de respirar é encarada como uma
necessidade humana fundamental, no entanto na maior parte do tempo aquando da
inexistência de dificuldade respiratória, o doente não se apercebe desse fenómeno,
neste sentido a dispneia é caracterizada pela sensação desconfortável e incómoda de
uma respiração problemática ou exaustiva, trata-se de uma experiência subjectiva em
que na maioria das vezes não coexiste uma concordância entre a avaliação objectiva
de dificuldade respiratória e a percepção que o doente possui da dispneia.

125
Relativamente a esta necessidade Phaneuf (2001), alude que respiramos sem que
concedamos atenção, no entanto quando experienciamos dificuldade a inspirar ou a
expirar, apercebemo-nos que a respiração é uma função essencial para o organismo
de absorver oxigénio e de expulsar dióxido de carbono por instilação do ar no sistema
respiratório e das permutas gasosas entre o sangue e os tecidos, neste sentido os
hábitos de vida podem ter uma interferência sobre a respiração.
O conceito de dispneia de acordo com Phipps, Sands e Marek (2003), é a descrição
por parte do doente da dificuldade em respirar ou “falta de ar” e utilizada por outros
como: o enfermeiro, o cuidador informal ou o médico para descrever a dificuldade ou a
respiração problemática observada. Para os doentes a presença de dispneia é
encarada como um impacto na capacidade de autonomia na realização das suas
necessidades humanas fundamentais, pode ser ainda um factor predisponente para o
aparecimento de obstipação e problemas psicossociais relacionados com a diminuição
da auto – estima e mudanças no estilo de vida.
A função respiratória é essencial à vida, conforme é descrito por Taylor, Lillis e
LeMone (2007), na medida em que todas as células do organismo necessitam de
oxigénio para sobreviverem, assim qualquer circunstância que interfira no seu regular
funcionamento deve ser minorada ou suprimida. As doenças crónicas interferem de
modo catastrófico na função respiratória, provocando desgaste do tónus muscular
conduzindo a um comprometimento de todos os músculos inclusive os do sistema
respiratório. Esta condição é descrita como dispneia.
Neste sentido Sparks e Taylor (2007), descrevem dispneia como uma transformação
na frequência, na profundidade ou no padrão de respiração que altera as trocas
gasosas, o estado neurológico do doente, incluindo o nível de consciência e o seu
estado mental, assim como a actual situação e a capacidade física e mental do doente
e que contribuem decisivamente para o aparecimento deste foco de enfermagem.

126
Diagnóstico de Dispneia funcional
enfermagem
Objectivos: - Que o doente permaneça com a frequência respiratória e
saturação de oxigénio dentro dos parâmetros normais (SaO2 ≥
95%);
- Que o doente se prenuncie quer verbalmente, quer através de
comportamentos que se sente cómodo quando respira;
- Que o doente aquando da execução das suas necessidades
humanas fundamentais, o padrão respiratório permaneça
inalterado;
Estratégias de - Gerir o ambiente da enfermaria, no início de cada turno;
Intervenções de - Vigiar ventilação, observando a coloração da pele, mucosas,
enfermagem: extremidades e monitorizando a frequência respiratória, no início
de cada turno e/ ou sempre que o doente manifeste ou sejam
visualizados sinais e/ ou sintomas de dificuldade respiratória, junto
ao leito;
- Monitorizar a saturação periférica de oxigénio, através de
oximetria de pulso, no início de cada turno e/ ou sempre que o
doente manifeste ou sejam visualizados sinais e/ ou sintomas de
dificuldade respiratória, junto ao leito;
- Optimizar ventilação através de técnicas de posicionamento:
colocando o doente em Fowler (cabeceira elevada) ou semi
Fowler (cabeceira elevada a 45º), colocar uma mesa elevada
sobre a cama com uma almofada para se inclinar sobre ela, no
início de cada turno e/ ou sempre que o doente manifeste ou
sejam visualizados sinais e/ ou sintomas de dificuldade
respiratória, junto ao leito;
- Auxiliar o doente nas necessidades humanas fundamentais,
sempre que necessário de modo a evitar o esforço excessivo e a
fadiga;

127
FOCO: Autocuidado: Higiene
“Autocuidado Higiene: encarregar-se de manter um padrão contínuo de higiene,
conservando o corpo limpo e bem arranjado, sem odor corporal, lavando regularmente
as mãos, limpando as orelhas, nariz e zona perineal e mantendo a hidratação da pele,
de acordo com os princípios de preservação e manutenção da higiene” (CIPE, 2005
pág. 55).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Autocuidado: Higiene dependente em grau


elevado
“Um fenómeno de enfermagem em relação ao qual é avaliado como Dependente:
afirmação de que alguém está dependente de alguém ou de alguma coisa para ajuda
ou suporte” (CIPE, 2005 pág. 93).
Em relação ao doente ser dependente em grau elevado nesta necessidade humana
fundamental institui que o doente necessita de ajuda total, ou seja, que a prestação
dos cuidados de higiene tem de ser executada por parte da equipa de enfermagem de
acordo com o padrão CIPE elaborado para o Serviço de Gastroenterologia A dos
Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro hospitalar e Universitário de Coimbra.
A necessidade de higiene e conforto é conforme relata Du GAS (1984), a ciência da
saúde do indivíduo e da sua protecção. Cuidar da higiene e do aspecto pessoal são
funções autónomas e necessárias, no entanto e numa situação de doença, o indivíduo
irá depender da equipa de enfermagem e/ ou do cuidador informal para que seja
satisfeita esta necessidade humana fundamental. O doente apresenta uma diminuição
da actuação do seu sistema imunológico, estando deste modo mais exposto à
infecção, os cuidados de higiene ao auxiliarem o doente em se manter limpo através
da remoção de impurezas, produtos de eliminação e secrecções, contribuem para uma
menor exposição do doente a este facto, para além de o assistirem a sentir-se mais
cómodo e relaxado, culminando numa melhor auto - estima e consequente saúde
mental.
De acordo com Grondin et al (1992), a dependência que se prende relativamente a
esta necessidade humana fundamental surge em consequência de confusão mental,
na diminuição da motricidade dos membros superiores, na astenia e fadiga por parte
do doente, acarretando limitações ou mesmo impossibilidade em proceder aos
cuidados de higiene pessoal.
Conforme refere Bolander (1998), a higiene é um agregado de práticas que
propendem a preservação da saúde reduzindo a incidência de infecção, contudo
durante a situação de doença, problemas como: a transpiração e o período prolongado
na cama engrandecem a necessidade de higiene ao mesmo tempo que diminui a

128
capacidade do doente em satisfazer esta necessidade humana fundamental, deste
modo a satisfação desta necessidade transporta a um consequente conforto físico e
psicológico, concebem um sentimento de bem-estar que se torna benéfico aquando do
seu internamento. A doença afecta o estado físico do doente e pode induzir a vontade
da necessidade de higiene. Os cuidados de higiene e conforto são preconizados com
o sentido de atingir objectivos que culminem no bem-estar do doente como:
 Conforto e relaxamento;
 Estimulação da circulação;
 Limpeza;
 Melhorar a auto imagem;
 Cuidar da pele;

Acerca desta necessidade Phaneuf (2001), menciona que a pele institui o


revestimento externo do organismo que assegura a protecção contra a incursão
microbiana, consente a termorregulação e a eliminação de resíduos do corpo. Devido
ao seu papel relevante, deve-se manter a sua integridade e deste modo é
indispensável limpar a pele e os tegumentos do suor, das substâncias eliminadas
pelas glândulas sebáceas, das poerias, da sujidade e para que diversas lesões sejam
protegidas e tratadas. A perda de independência deve ser avaliada no sentido de
compreender as competências do doente em assumir os seus cuidados de higiene.
De acordo com Taylor, Lillis e LeMone (2007), a higiene pessoal fomenta o bem-estar
fisiológico e psicológico, reduzindo os índices de doença. A doença e o consequente
internamento alteram os hábitos e as rotinas de higiene, na medida em que pode
atenuar a capacidade do doente em efectuar as medidas de higiene ou a motivação
para adoptar os hábitos normais de higiene. Torna-se necessário que durante o
internamento, encontrando-se o doente dependente nesta necessidade humana
fundamental, a equipa de enfermagem considere as preferências do doente,
possibilitando e estimulando o máximo de autocuidado que este consiga executar,
satisfazendo as suas necessidades de privacidade e fomentando o seu bem-estar
fisiológico e psicológico.
Em relação a esta necessidade humana fundamental Sparks e Taylor (2007),
mencionam que esta dependência encontra-se relacionada com a incapacidade de
executar as actividades relacionadas ao banho e à higiene pessoal, esta inaptidão tem
como consequência o estado neurológico do doente, compreendendo a cognição, a
capacidade motora e o nível de consciência, os casos de abuso de álcool por parte do
doente também influenciam a dependência relativamente a esta necessidade humana
fundamental.

129
Diagnóstico de Autocuidado: Higiene, Dependente em grau elevado
enfermagem
Objectivos: - Que o doente satisfaça as necessidades relativamente à
necessidade humana fundamental com ajuda da equipa de
enfermagem;
- Que o doente não experimente alterações da integridade
cutânea, infecções ou outras complicações relativamente à
necessidade humana fundamental;
- Que o doente adquira independência na satisfação desta
necessidade humana fundamental
Estratégias de - Supervisionar o autocuidado: higiene, prestando os cuidados de
Intervenções de higiene e conforto ao doente, uma vez por dia, no turno da manhã,
enfermagem: no Wc;
- Dar banho ao doente no Wc, providenciando equipamento
adaptativo para o autocuidado, incluindo pentear o doente e a
execução da higiene oral, durante o turno da manhã, uma vez por
dia;
- Orientar o doente quanto ao procedimento do autocuidado
higiene, fornecendo informações simples, incentivando-o para a
prestação dos cuidados de higiene, uma vez por dia, no turno da
manhã, no Wc;
- Observar diariamente as capacidades funcionais e cognitivas do
doente para a prestação do autocuidado higiene, fornecendo
informações simples relativamente aos cuidados de higiene, uma
vez por dia, no turno da manhã, no Wc;

FOCO: Autocuidado: Vestuário


“Autocuidado Vestuário: encarregar-se de vestir e despir as roupas e sapatos de
acordo com a situação e o clima, tendo em conta as convenções e códigos normais do
vestir, vestir e despir a roupa pela ordem adequada, apertá-la convenientemente
(CIPE, 2005 pág. 55).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Autocuidado: Vestuário dependente em grau


elevado
No que diz respeito ao doente ser dependente em grau elevado nesta necessidade
humana fundamental institui que o doente necessita de ajuda total, ou seja, a

130
execução desta necessidade vestir e despir, fica a cargo da equipa de enfermagem,
de acordo com o padrão CIPE elaborado para o Serviço de Gastroenterologia A dos
Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
De acordo com Grodin et al (1992), relativamente à dependência que diz respeito a
esta necessidade humana fundamental, esta emerge proveniente da diminuição da
mobilidade, da astenia e do cansaço por parte do doente, traduzindo-se numa
limitação ou no impedimento para este se vestir ou despir.
Quanto a esta necessidade Phaneuf (2001), descreve que o corpo deve ser protegido
em função do clima, das normas sociais, da dignidade e dos gostos pessoais, neste
sentido é necessário que o doente tenha força física, coordenação de movimentos e
uma agilidade articular razoável. A dor e o cansaço podem comprometer gravemente a
aptidão para debelar esta necessidade.
Para Sparks e Taylor (2007), a dependência nesta necessidade humana fundamental
prende-se com o facto de o doente apresentar incapacidade na realização das
actividades relacionadas com o vestir-se e arranjar-se, tal facto prende-se com o
estado neurológico do doente abrangendo a cognição, a capacidade motora e o nível
de consciência, resultante da situação de alcoolismo.

Diagnóstico de Autocuidado: Vestuário, Dependente em grau elevado


enfermagem
Objectivos: - Que o doente satisfaça as necessidades relativamente à
necessidade humana fundamental com ajuda da equipa de
enfermagem;
- Que o doente coopere nas actividades designadas para diminuir
o risco de complicações;
Estratégias de - Supervisionar o autocuidado vestuário, uma vez por dia, no turno
intervenções de da manhã, no Wc;
enfermagem: - Vestir e despir o doente, providenciando a roupa para o doente,
no turno da manhã, uma vez por dia, no Wc;
- Orientar o doente quanto ao procedimento do autocuidado
vestuário, fornecendo informações simples, uma vez por dia, no
turno da manhã, no Wc;
- Observar diariamente as capacidades funcionais e cognitivas do
doente para a prestação do autocuidado vestuário, fornecendo
informações relativamente ao autocuidado vestuário, uma vez por
dia, no turno da manhã, no Wc;

131
FOCO: Autocuidado: Comer
“Autocuidado Comer: encarregar-se de organizar a ingestão de alimentos sob a forma
de refeições saudáveis, cortar e partir os alimentos em bocados manejáveis, levar a
comida á boca, metê-la na boca utilizando os lábios, músculos e língua e alimentando-
se até ficar satisfeito” (CIPE, 2005 pág. 56).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Autocuidado Comer dependente em grau


moderado
O doente ser dependente em grau moderado nesta necessidade humana fundamental,
implica que necessita de ajuda parcial, ou seja, a equipa de enfermagem deve assistir
o doente na alimentação de acordo com o padrão CIPE elaborado para o Serviço de
Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e
universitário de Coimbra.
Conforme descreve Atkinson e Murray (1989), a alimentação é fundamental para o
desenvolvimento de novas células, para a conservação das células existentes e para a
destruição e substituição de células antigas e danificadas, neste sentido a doença
coloca em risco a ingestão inadequada de nutrientes, um desses factores é o
alcoolismo. Quando a necessidade humana fundamental comer não se encontra
colmatada, a capacidade de o doente satisfazer outras necessidades humanas
fundamentais fica comprometida.
O consumo diário de alimentos contendo quantidades adequadas de nutrientes vitais é
conforme descreve Bolander (1998), substancial para a subsistência da saúde e
restabelecimento na doença. A doença contribui decisivamente para a diminuição do
apetite e concludentemente para a deterioração da saúde do doente, os cuidados
nutricionais adequados tornam-se relevantes pois nestes casos as necessidades
nutricionais tornam-se significativamente maiores, em consequência de um acréscimo
do metabolismo durante o combate a infecções, perda considerável de proteínas,
líquidos e electrólitos pela urina e por hemorragia, deste modo torna-se importante
uma alimentação equilibrada por parte do doente, pois o inverso acarretará num
agravamento da doença repercutindo-se a nível físico e mental, desencadeando:
graves deficiências ósseas, problemas na dentição, perda de peso, anemia, fraqueza
e apatia. Os cuidados de enfermagem relativamente a esta necessidade humana
fundamental são importantes no sentido de verificar se o doente apresenta uma
alimentação adequada em determinadas situações. A cirrose hepática é acompanhada
por uma deficiente alimentação em que o alcoolismo acarreta uma deterioração das
mucosas gástricas e intestinais, impossibilitando uma absorção eficaz dos nutrientes,
colaborando para a alteração do apetite e para o incumprimento das refeições diárias,

132
desenvolvendo uma destruição das células hepáticas. A diminuição da mobilidade do
doente conduz a uma diminuição do apetite e consequentemente a uma redução da
ingestão de alimentos.
O doente de acordo com Phaneuf (2001), encontra-se em constante processamento
de absorção das substâncias nutritivas que são necessárias para o funcionamento do
organismo e para a rejeição dos resíduos produzidos, este procedimento engloba a
ingestão, a digestão e a assimilação dos alimentos que possibilitam ao organismo
conservar um eficaz estado funcional e reformar a energia. A dieta deve fornecer as
proteínas, as gorduras, os açúcares, as vitaminas e os sais minerais essenciais.
A alimentação é uma necessidade humana fundamental de acordo com Taylor, Lillis e
LeMone (2007), que se modifica ao longo do ciclo de vida do indivíduo e ao longo da
continuidade saúde/ doença, a alimentação proporciona os nutrientes fundamentais
para uma correcta saúde física e mental, uma dieta ajustada fornece a ingestão
ponderada de todos os nutrientes fundamentais e em quantidades apropriadas. A
doença e/ ou o alcoolismo induzem uma dependência do doente nesta necessidade
humana fundamental e condiciona significativamente a qualidade e a quantidade
necessária de nutrientes ingeridas em cada refeição.
Pertencente a este diagnóstico de enfermagem Sparks e Taylor (2007), mencionam
que se baseia na incapacidade do doente para se alimentar, estando este factor
interrelacionado com o estado neurológico do doente em termos de consciência,
capacidade motora e com o alcoolismo.

Diagnóstico de Autocuidado: Comer, Dependente em grau moderado


enfermagem
Objectivos: - Que o doente se torne mais independente na satisfação da
necessidade humana fundamental;
- Que o doente mantenha o peso corporal;
- Que o doente tenha a necessidade humana fundamental satisfeita;
Estratégias de - Supervisionar o autocuidado comer, durante as três principais
Intervenções de refeições, junto ao leito;
enfermagem: - Assistir o doente na alimentação, colocando o doente na posição de
Fowler (cabeceira elevada), alimentando o doente às três principais
refeições, junto ao leito;
- Promover a identificação das capacidades e aptidões pessoais do
doente para o autocuidado comer, às três principais refeições, junto
ao leito;

133
FOCO: Autocuidado: Beber
“Autocuidado Beber: encarregar-se de organizar a ingestão de bebidas durante as
refeições e regularmente ao longo do dia ou quando se tem sede, beber por uma
chávena ou copo ou deitar os líquidos na boca utilizando os lábios músculos e língua,
beber até saciar a sede” (CIPE, 2005 pág. 56).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Autocuidado Beber dependente em grau


moderado
O doente ser dependente em grau moderado nesta necessidade humana fundamental,
implica que necessita de ajuda parcial, ou seja, a equipa de enfermagem deve assistir
o doente na hidratação de acordo com o padrão CIPE elaborado para o Serviço de
Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e
universitário de Coimbra.
A água afigura-se como descreve Du GAS (1984), como um nutriente indispensável
verificando-se que 50% a 70% do peso corporal total de um individuo adulto è
composto por água, que desempenha no organismo funcionalidades relevantes como:
 A condução de oxigénio e nutrientes para as células e a remoção de produtos
residuais;
 A conservação de um ambiente físico e químico estável no organismo;

Por norma o organismo consegue manter o equilíbrio hidroelectrolítico, no entanto


quando surgem problemas de saúde compromete este equilíbrio conduzindo a uma
situação de excesso ou insuficiência, deste modo o doente pode conter um excesso
de líquidos nos tecidos levando a uma situação de edema, mas por outro lado pode
rejeitar uma exagerada quantidade de líquidos, levando a uma situação de
desidratação.
Segundo Atkinson e Murray (1989), a água afigura-se como um nutriente essencial
para a actividade fisiológica do organismo na medida em que é necessária para a
formação de todos os líquidos corporais: sangue, líquido cefalorraquidiano, secrecções
gástricas, urina, hormonas e enzimas. O alcoolismo impulsiona à perda do controlo
sobre o consumo hídrico e a insatisfação desta necessidade humana fundamental por
parte do doente tem implicações na satisfação das outras necessidades humanas
fundamentais.
De acordo com Grondin et al (1992), a dependência desta necessidade humana
fundamental desponta relativamente à dificuldade e/ ou incapacidade demonstrada por
parte do doente para se hidratar, resultante de uma diminuição da mobilidade devido à
astenia e à fadiga associada ao alcoolismo.

134
A ingestão hídrica conforme menciona Bolander (1998), torna-se vital para a
manutenção da vida e da saúde do doente, o equilíbrio hídrico do organismo é
regularizado por variados processos fisiológicos. O desequilíbrio hídrico surge quando
a quantidade de líquidos ingeridos não corresponde ao volume de líquidos eliminados,
esta situação tanto pode levar a situações de sobrecarga de líquidos como a
condições de desidratação, a maior quantidade de água que ingerimos ocorre
directamente da água que é bebida e só posteriormente surge a que é absorvida
através dos alimentos. Torna-se igualmente importante observar e registar que o
organismo elimina a água que é ingerida: pela função renal, pela pele (transpiração),
pelo sistema gastrointestinal e pelos pulmões, deste modo é indispensável a avaliação
efectuada pelo enfermeiro no que diz respeito á satisfação, por parte do doente, desta
necessidade humana fundamental. A diminuição da mobilidade do doente contribui
significativamente para uma redução da ingestão de líquidos.
Esta necessidade de acordo com Phaneuf (2001), prende-se com a necessidade de o
organismo consumir os líquidos indispensáveis ao seu metabolismo. Esta necessidade
encontra-se estreitamente relacionada com os hábitos de hidratação do indivíduo. A
hidratação normal subordina-se com a integridade do sistema digestivo. Em termos
psicológicos podem ser referidos os desregramentos ou os desequilíbrios motivados
pela ingestão exagerada de variados líquidos, donde se pode destacar o álcool.
A ingestão de líquidos é segundo Taylor, Lillis e LeMone (2007), essencial à vida, em
que a água é o nutriente mais importante, desempenhando no organismo distintas e
importantes funções como:
 Facultar um meio de transporte por um lado de nutrientes para as células e por
outro de resíduos das células, fornece também o transporte de hormonas,
enzimas, plaquetas e glóbulos vermelhos e brancos;
 Auxiliar o metabolismo celular e a acção química celular adequada;
 Actuar como solvente para electrólitos e não-electrólitos;
 Auxiliar na manutenção da temperatura corporal;
 Ajudar na absorção e impulsionar a eliminação;
 Actuar como lubrificante dos tecidos;

A fisiopatologia inerente às doenças crónicas e algumas intervenções terapêuticas


constituem um risco de desequilíbrio hídrico elevado para o doente. Existem factores
de risco que impedem o doente de satisfazer esta necessidade como a astenia e o
cansaço fácil provenientes de uma modificação do seu estado mental (encefalopatia).

135
Diagnóstico de Autocuidado: Beber, Dependente em grau moderado
enfermagem
Objectivos: - Que o doente tenha a necessidade humana fundamental
satisfeita;
- Que o doente se torne mais independente na satisfação da
necessidade humana fundamental;
- Que o doente e cuidador informal apreendam a necessidade de
restrição hídrica;

Estratégias de - Supervisionar o autocuidado beber, às três principais refeições e


Intervenções de sempre que o doente refira sede e/ ou solicite, junto ao leito;
enfermagem: - Assistir o doente na hidratação, em todos os turnos,
posicionando-o no leito em posição de Fowler (cabeceira elevada)
e posteriormente hidratar o doente, às três principais refeições e
sempre que o doente refira sede e/ ou solicite, junto ao leito;
- Promover a identificação das capacidades e aptidões pessoais
do doente para o autocuidado: beber, às três principais refeições,
junto ao leito;
- Promover a aprendizagem do doente e da cuidadora informal
sobre a necessidade de restrição hídrica, no turno da manhã e no
turno da tarde, uma vez no turno, junto ao leito, explicando a
necessidade de restrição hídrica em consequência da doença
(cirrose hepática);

FOCO: Autocuidado: Ir ao Sanitário


“Autocuidado Ir ao Sanitário: levar a cabo as actividades de eliminação fazendo a sua
própria higiene íntima, limpar-se depois de urinar ou evacuar, deitar fora os produtos
de eliminação, por exemplo puxar o autoclismo de maneira adequada, no sentido de
manter o ambiente limpo e evitar a infecção” (CIPE, 2005 pág. 56).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Autocuidado Ir ao Sanitário dependente em grau


moderado
O doente ser dependente em grau moderado nesta necessidade humana fundamental,
implica que ele por si só não é capaz de utilizar o sanitário, arrastadeira ou urinol,
necessitando de ajuda parcial, ou seja, necessitando da assistência da equipa de
enfermagem de acordo com o padrão CIPE elaborado para o Serviço de

136
Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra.
Conforme menciona Du GAS (1984), os doentes no internamento muitas vezes
necessitam dos cuidados de enfermagem, os quais visam o atendimento da
necessidade do doente: o levante do leito, a marcha e o próprio acto de sentar-se no
sanitário. Muitas doenças despertam no doente algumas alterações que incutem uma
perda total ou parcial da mobilidade. A competência do organismo em mobilizar as
diferentes fracções que o constituem e orientar essa movimentação de maneira a que
eles sejam efectuados coordenadamente provém da integridade dos músculos, dos
ossos e das articulações, a sua detioração provoca diminuição da força e tónus
muscular, provocando uma limitação na mobilidade do doente e conduzindo a uma
necessidade de ajuda parcial na necessidade humana fundamental: Ir ao sanitário.
O doente em situação de internamento de acordo com Atkinson e Murray (1989), pode
necessitar de auxílio para ir ao sanitário, tratando-se de uma carência que resulta da
necessidade de eliminação urinária ou intestinal. Um doente que se encontre
dependente neste autocuidado pode conduzir a que urine com menor frequência ou
que adie a dejecção, o controle destas duas funções fisiológicas é muito valorizada e o
seu desaparecimento resulta numa diminuição da auto – estima.
Conforme descreve Taylor, Lillis e LeMone (2007), a condição de doença causa
dificuldades na mobilidade, conduzindo a uma redução da actividade física ou
causando astenia generalizada, conduzindo a uma debilidade na capacidade do
doente em realizar as suas actividades diárias, como a necessidade de ir ao sanitário.
A diminuição da mobilidade por parte do doente que se encontra relacionada com uma
perturbação perceptual ou cognitiva segundo Sparks e Taylor (2007), é resultado de
uma restrição da actividade física, caracterizada pela dificuldade do doente: em
alternar decúbitos, em alterações na deambulação, numa extensão delimitada de
movimentos, numa instabilidade postural aquando da execução nas actividades diárias
e num tempo de reacção e movimento lentificado. Este comprometimento em parte
sucede relacionado com situações de alcoolismo.

137
Diagnóstico de Autocuidado: Ir ao Sanitário, Dependente em grau moderado
enfermagem
Objectivos: - Que o doente tenha a necessidade humana fundamental
satisfeita;
- Que o doente se torne mais independente na satisfação da
necessidade humana fundamental;
Estratégias de - Gerir o ambiente da enfermaria, uma vez por turno;
Intervenções de - Disponibilizar presença activa, em todos os turnos e sempre
enfermagem: que o doente solicite, junto ao leito;
- Supervisionar o autocuidado ir ao sanitário, assistindo o doente
nas suas limitações, em todos os turnos e sempre que o doente
solicite, junto ao leito;
- Providenciar equipamento adaptativo para ida ao sanitário, em
todos os turnos e sempre que o doente solicite, junto ao leito;
- Assistir o doente nas suas limitações, em todos os turnos e
sempre que o doente solicite, junto ao leito;

FOCO: Edema
“Edema: excessiva acumulação de líquidos orgânicos nos espaços tecidulares ou
retenção de líquidos nas zonas de declive, tais como: tumefacção dos tecidos
periféricos dos membros inferiores na posição de pé, tumefacção da região lombar
supina, edema central acompanhado de respiração superficial, alteração do padrão
respiratório ou sons respiratórios anormais” (CIPE, 2005 pág. 24).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Edema a nível dos membros inferiores


O edema de acordo com Grondin et al (1992) é compreendido como uma infiltração de
líquido seroso nos tecidos celulares subcutâneos dos membros do corpo, as causas
que poderão originar esta situação prendem-se por um lado pela escassez de
conhecimentos sobre os métodos para diminuir o edema e por outro lado por uma
deficiente circulação.
Conforme descreve Bolander (1998), são diversos os mecanismos fisiológicos que
cooperam com o objectivo de conservar a concentração de componentes
fundamentais dos líquidos corporais dentro do limite regular, no entanto os processos
de doença são susceptíveis de criar perturbações nesses mecanismos que irão
provocar desequilíbrios hidroelectrolíticos, os quais podem variar entre uma situação
moderada e uma situação de risco para o doente. Existem dois factores envolvidos na

138
normalização do equilíbrio hidroelectrolitico: a pressão hidrostática do sangue e a
pressão osmótica coloidal, enquanto a primeira depreende a força exercida pelos
constituintes do sangue no interior dos vasos sanguíneos, a segunda resulta da
pressão negativa que é exercida pelas proteínas plasmáticas. A distorção de qualquer
um destes factores estabelece uma alteração na pressão entre os compartimentos
intravascular e intersticial, ocorrendo deste modo o edema. O edema traduz-se num
excesso de líquido intersticial e torna-se num sinal clínico em muitas doenças onde se
inserem as doenças hepáticas.
De acordo com Phipps, Sands e Marek (2003), o edema é originado por um excesso
de líquido armazenado nos tecidos, sendo por norma de origem extracelular, no
entanto pode ocorrer a nível intracelular. O edema extracelular tem duas causas
principais: a saída de líquido plasmático da membrana capilar até ao espaço
intersticial e a acumulação de líquido em espaços intersticiais devido ao
comprometimento da função linfática. O sódio (Na) aparece como o principal electrólito
do líquido extracelular, as alterações que se revelam em relação ao volume do líquido
extracelular, encontram-se muitas vezes interligadas com modificações do equilíbrio
de sódio (Na). Em consequência deste desequilíbrio hidroelectrolítico os doentes
podem presenciar variações patológicas que irão constituir uma ameaça à sua vida. O
excesso de líquidos pode emergir da falência das funções estabilizadoras renais ou
hormonais e que se traduzem num agravamento do volume do líquido extracelular em
resposta a um aumento da hormona antidiurética. Uma das causas que leva à
retenção de líquidos é a cirrose hepática.
Os desequilíbrios hídricos sucedem segundo Taylor, Lillis e LeMone (2007), quando os
mecanismos de compensação do corpo são incapazes de conservar um estado
homeostático, abrangendo o volume ou o ordenamento de água ou de electrólitos.
Quanto subsiste um excesso de líquido extracelular, este pode acumular-se na área
dos tecidos ocasionando o aparecimento de edema, em que um dos locais onde
ocorre frequentemente é a nível dos membros inferiores. Um dos factores que
compromete os mecanismos regulatórios do volume de líquidos é o surgimento de
cirrose hepática.

139
Diagnóstico de Edema a nível dos membros inferiores
enfermagem
Objectivos: - Que o doente mantenha o peso;
- Que o doente mantenha um débito urinário adequado;
- Que o doente diminua ou revogue a presença de edema;
Estratégias de - Monitorização do volume urinário, uma vez por turno, junto ao
Intervenções de leito;
enfermagem: - Monitorização das características da urina, uma vez por turno,
junto ao leito;
- Gerir medicação diurética, administrando diuréticos conforme
prescritos em cada turno, junto ao leito;
- Monitorização do peso diário do doente, uma vez no turno da
manhã, junto ao leito;
- Restringir ingestão de líquidos, uma vez por turno e em SOS,
junto ao leito;
- Vigiar edema uma vez por turno, junto ao leito, promovendo a
elevação dos membros inferiores;

FOCO: Eliminação Intestinal


“Eliminação Intestinal: movimento e evacuação das fezes pela defecação,
habitualmente uma vez por dia e em fezes moles e moldadas” (CIPE, 2005 pág. 25).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Eliminação Intestinal, Ineficaz


“Um fenómeno de enfermagem avaliado como ineficaz: afirmação de que o resultado
desejado não está a ser produzido consistentemente e com sucesso” (CIPE, 2005
pág. 107).
A eliminação intestinal torna-se ineficaz quando se encontra de acordo com Phipps,
Long e Woods (1990), relacionado com distúrbios do intestino como o
hipometabolismo e os distúrbios neurológicos ou psicogénicos. Fisiologicamente uma
das situações que pode conduzir a este tipo de problemática é a retenção das fezes a
nível intestinal, esta condição torna-se austera quanto maior for o período de tempo
em que as fezes se depositam a nível intestinal, dificultando a sua evacuação na
medida em que a quantidade de água absorvida é maior e as fezes vão-se tornando
menos hidratadas, no entanto a utilização frequente de laxantes conduzem a situações
de desidratação, hipocaliémia e hiponatrémia.

140
Através da descrição realizada por Bolander (1998), a eliminação intestinal é uma
necessidade humana fundamental que em determinadas situações é influenciada por
vários factores físicos e psicológicos, a enfermagem desempenha um papel importante
na avaliação da eliminação intestinal dos doentes contribuindo para a conservação de
padrões regulares de eliminação. A obstipação é designada pelo decréscimo da
frequência de dejecções e pelo agravamento do tempo essencial para a passagem
das fezes pelo tubo digestivo, acompanhado por uma dificuldade em expelir as fezes
pelo esfíncter anal, os indivíduos que referem obstipação apresentam sintomas como:
cefaleias, letargia, anorexia, halitose, língua saburrosa e sensação de enfartamento.
Segundo Phaneuf (2001), torna-se indispensável para a homeostasia do organismo do
doente o estabelecimento de um equilíbrio entre o que é absorvido e o que é rejeitado,
ou seja, relaciona-se com a necessidade de o organismo rejeitar as substâncias
desnecessárias e maléficas, bem como os detritos manufacturados pelo metabolismo.
Neste sentido é relevante anotar: a cor, o odor, a consistência das fezes e a
frequência da eliminação.
Neste sentido Sparks e Taylor (2007), aludem que a descontinuidade dos movimentos
intestinais normais, originam a inexistência de dejecções ou dejecções inconstantes,
muitas vezes consistente com a condição nutricional do doente, incluindo o seu regime
dietético.

Diagnóstico de Eliminação Intestinal, Ineficaz


enfermagem
Objectivos: - Que a eliminação do doente se torne regular;
- Que o doente apreenda os factores que conduzem à obstipação;
- Que o doente determine modificações no seu estilo de vida, para
manter um padrão normal de eliminação;
Estratégias de - Gerir o ambiente da enfermaria, uma vez por turno;
Intervenções de - Monitorizar o número de dejecções, uma vez por turno, junto ao
enfermagem leito;
- Registar a frequência e as características das dejecções, uma
vez por turno, junto ao leito, vigiando a eliminação intestinal,
observando se existe a evidência de sinais de obstipação;
- Instruir o doente sobre a importância de uma eliminação eficaz,
tendo em conta a sua doença, uma vez por turno, no turno da
manhã e no turno da tarde, junto ao leito;

141
FOCO: Dor Muscular
“Dor Muscular: sensação de dor com origem em tensões e esforços musculares
associados ao exercício, infecções e doença músculo-esquelética; esta sensação é
habitualmente referida como uma cãibra, uma dor compressiva e pulsátil, muitas vezes
acompanhada de dor irradiada” (CIPE, 2005 pág. 37).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Dor Muscular, Intermitente


“Um fenómeno de enfermagem Intermitente: o fenómeno de enfermagem desenvolve-
se com paragens, ou pausas periódicas” (CIPE, pág. 118).
A dor é conforme menciona Du GAS (1984), uma sensação ocasionada por acção de
estímulos nefastos ao bem-estar do indivíduo, de facto este desconforto causado pela
dor pode conduzir a um sentimento agudo de angústia que suprime todas as outras
sensações. Uma das proveniências da dor pode sobrevir de estruturas internas como:
músculos, tendões e articulações, sendo descrita como uma dor: dolorosa,
espasmódica ou incisiva. Os músculos e os tendões são extraordinariamente
susceptíveis à dor e podem motivar dores de grande intensidade. O alívio da dor
converte-se num problema primordial no que diz respeito aos cuidados de
enfermagem prestados.
De acordo com Atkinson e Murray (1989), a dor é uma das razões mais frequentes de
desconforto, que não abrange unicamente um estímulo e uma sensação de sofrimento
físico mas equitativamente as diferentes respostas individuais as quais são
influenciadas pelas formações: fisiológica, psicológica, cultural e espiritual do doente
que experiencia a dor. A dor é um fenómeno de carácter subjectivo, que o doente ao
vivenciá-la é o único que ostenta condições de comprovar que a dor existe e avaliar o
seu grau de intensidade, neste sentido a explicação verbal do doente e o
comportamento não-verbal fornecem dados importantes com os quais é possível
avaliar a dor.
Tendo em conta o diagnóstico de enfermagem acima exposto Phipps, Sands e Mareck
(2003), mencionam que a dor é uma experiência complexa, subjectiva e individual,
abrangendo elementos: sensoriais, afectivos e comportamentais e exigindo uma
abordagem de vários procedimentos. A dor tem distintos significados para diversos
doentes, contudo para o mesmo doente esta pode diferir em circunstâncias diferentes,
em que a reacção à dor é influenciada pela intensidade de percepção da dor: por
experiências antigas, por valores socioculturais, pela condição de saúde actual ou pela
idade. Torna-se essencial, sendo a dor multidimensional, estimular os doentes a
utilizarem uma vasta panóplia de processos no alívio da dor, traduzindo-se num
controlo mais eficaz da mesma. Para haver um controlo eficaz da dor é necessária a

142
sua monitorização através de avaliações regulares e sistemáticas, em que neste
sentido as informações proporcionadas pelo doente são de extrema importância.
De acordo com a Direcção Geral de Saúde (2003), a dor é um sintoma transversal a
todas as situações de doença que requerem cuidados de saúde, neste sentido os
profissionais de saúde, detém um papel importante no controlo eficaz da dor, no
entanto é igualmente um direito dos doentes que a experienciam e um passo
fundamental para a efectiva humanização dos cuidados de saúde. Torna-se vital que a
dor seja enaltecida e constantemente monitorizada e registada pelos profissionais de
saúde, funcionando como uma regra e uma rotina de boas práticas altamente
humanizante dos cuidados prestados aos doentes que sofram de dor aguda ou dor
crónica, de qualquer tipo de etiologia erigindo a monitorização e registo da sua
intensidade à categoria comparada de sinal vital.
Neste trabalho de investigação, para a monitorização da dor do doente foi utilizada a
Escala de Faces, sendo uma das escalas recomendadas pela Direcção Geral de
Saúde e utilizada no Serviço de Gastroenterologia A dos Hospitais da Universidade de
Coimbra – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Esta escala é apresentada e
descrita seguidamente:
Escala de Faces

Através desta escala é pedido ao doente que qualifique a intensidade da dor, em


concordância com a mímica caracterizada em cada face desenhada, de modo que à
expressão de felicidade equivale a classificação “Sem Dor” e à expressão de profunda
tristeza pertence a classificação “Dor Máxima”, posteriormente regista-se o algarismo
equivalente à face seleccionada pelo doente.
Conforme é descrito por Taylor, Lillis e LeMone (2007), os indivíduos em muitas
ocasiões experimentam a dor como uma realidade desgastante, pretendendo somente
uma intervenção centralizada no alívio da dor. A dor é um fenómeno dúbio e
complexo, constituindo-se como um dos mecanismos de defesa do organismo, cada
doente experiencia a dor de uma forma singular, tornando-se importante o papel da

143
enfermagem em colaborar com o doente, para que este atinja o conforto e o controlo
da dor empregando competências específicas para a sua avaliação e para o seu
controlo. São vários os factores que intervêm na experiência da dor como:
psicológicos, emocionais, socioculturais e fisiológicos, no sentido de melhorar a
Qualidade de Vida do doente e convertendo o tratamento da dor como prioritário,
estabelecendo a dor como o quinto sinal vital.
Segundo Sparks e Taylor (2007), referem que o conceito de dor se traduz numa
experiência sensitiva e emocional incómoda que se forma do compromisso real ou
potencial dos orgãos ou tecidos, relativamente a este comprometimento a dor pode ser
de origem abrupta ou lenta, alternar em intensidade, ser constante ou recorrente e o
seu ciclo não contém um final previsto ou calculável, um dos factores precipitante que
contribui para este facto é o alcoolismo crónico.
Relativamente ao doente sobre o qual recai este estudo de caso, o mesmo durante o
internamento caracterizava a dor como generalizada, não conseguindo especificar o
local de origem da mesma, no entanto definia-a como intermitente. Sempre que o
doente referiu dor durante o internamento, este apresentava fácies de sofrimento e
quando solicitado para classificar a intensidade da dor mediante a mímica
representada através das faces desenhadas, o doente indicava sempre a face a que
correspondia o número 4.

Diagnóstico de Dor muscular, Intermitente


enfermagem
Objectivos: - Que o doente manifeste e caracterize a dor;
- Que o doente expresse alívio da dor após a administração de
analgésicos;
- Que o doente e cuidadora informal apreendam técnicas de
relaxamento;
Estratégias de - Monitorizar a dor através da escala visual analógica, uma vez por
Intervenções de turno e sempre que o doente refira dor, junto ao leito;
enfermagem - Vigiar a dor uma vez por turno e sempre que o doente refira dor;
- Gerir as actividades físicas do doente, em todos os turnos, junto
ao leito;
- Ensinar ao doente e à cuidadora informal técnicas de
relaxamento como massagem ou musicoterapia, realizando
ensinos uma vez por turno, no turno da manhã e no turno da tarde,
junto ao leito;

144
FOCO: Discurso Lentificado
“Discurso Lentificado: enunciação pouco clara de palavras, as palavras não são
completamente enunciadas, “rolam” juntas ou são parcialmente eliminadas, associado
com fraqueza dos músculos da articulação, lesão do sistema nervoso, uso de drogas
ou pronúncia descuidada” (CIPE, 2005, pág. 36)

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Discurso Lentificado, Demonstrado


“Um fenómeno de enfermagem avaliado como Demonstrado: afirmação de que um
fenómeno de enfermagem é evidenciado como um comportamento publicamente
observável” (CIPE, 2005 pág. 92).
Para Grondin et al (1992), o levantamento deste diagnóstico de enfermagem surge na
consequência do doente manifestar dificuldade em compreender os estímulos que
adquire e em empregar o seu juízo, a sua concepção e a sua ideia ao comunicar com
os outros, esta situação tem como principais motivos: a confusão mental, o excesso de
estímulos externos, as perturbações do pensamento e a perda sensorio - perceptual.
Este diagnóstico de enfermagem de acordo com Sparks e Taylor (2007), surge na
medida em que a capacidade para falar, compreender ou utilizar as palavras se
encontra diminuída proveniente num dos aspectos com a condição neurológica, onde
se encontra incluida a condição mental.

Diagnóstico de Discurso Lentificado, Demonstrado


enfermagem
Objectivos: - Que o doente mantenha um nível efectivo de comunicação;
- Que o doente responda às perguntas correctamente;
- Que o doente evidencie orientação por consistentemente
transmitir os seus pensamentos com a equipa de enfermagem e a
cuidadora informal;
Estratégias de - Gerir o ambiente físico da enfermaria uma vez por turno;
Intervenções de - Utilizar frases curtas e simples, em todos os turnos e/ ou sempre
enfermagem: que o doente solicitar, junto ao leito;
- Incentivar as tentativas de comunicação do doente e
proporcionar reforço positivo, em todos os turnos e/ ou sempre
que o doente solicitar, junto ao leito;
- Oferecer um longo período de tempo para o doente responder,
em todos os turnos e/ ou sempre que o doente solicitar, junto ao
leito;

145
Estratégias de - Disponibilizar escuta activa, em todos os turnos e/ ou sempre
Intervenções de que o doente solicitar, junto ao leito;
enfermagem: - Disponibilizar presença activa, em todos os turnos e sempre que
o doente solicitar, junto ao leito;

FOCO: Insónia
“Insónia: incapacidade crónica de dormir ou de se manter a dormir a noite toda ou
durante os períodos de sono planeados, apesar do posicionamento confortável num
ambiente agradável, espertina, falta de sono, frequentemente associada a factores
psicológicos ou físicos como stress emocional, ansiedade, dor, desconforto, tensão,
perturbação da função cerebral e abuso de drogas” (CIPE, 2005 pág. 31).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Insónia primária, Demonstrada


O sono é conforme refere Bolander (1998), uma condição de relaxamento
indispensável a todos os seres humanos, com o intuito de restabelecer a função
cerebral. O sono é influenciado por um relógio biológico que para além de regularizar o
sono também organiza os níveis de alerta ao longo do dia, tratar-se por isso de um
fenómeno cíclico. No entanto a insónia é comum em milhões de indivíduos, a qual é
definida como uma dificuldade em adormecer ou manter o sono. Um dos factores que
colabora significativamente para o aparecimento da insónia é o alcoolismo,
conduzindo a uma fragmentação e interrupção do sono.
O nosso organismo segundo o que é descrito por Phaneuf (2001), trabalha em termos
médios com 16 horas de vigília e 8 horas de sono, este mecanismo do controlo de
sono e vigília é comandado pelo tronco cerebral e pela formação reticulada
constituindo o relógio biológico. O sono ocorre principalmente à noite, no entanto as
sestas realizadas durante o dia estabelecem um efeito reparador muito benéfico. Essa
necessidade prende-se com o facto de o corpo humano precisar de suspender o
estado de consciência e/ ou actividade com o intuito de restabelecer as forças físicas e
psicológicas. Torna-se relevante assinalar a duração do sono, a sua qualidade e as
dificuldades que se manifestam relativamente a este aspecto, certas drogas como o
álcool causam efeitos marcantes no sono.
De acordo com Townsend (2002, 2011), os objectivos fundamentais do sono,
prendem-se com o restabelecimento da função hemostática, a termorregulação normal
e a sustentação da energia do doente, caso contrário, a insónia define-se como um
impedimento em adormecer ou manter o sono em que um dos factores que

146
desencadeia esta conjuntura é a ingestão de álcool. A insónia primária exterioriza-se
por um impedimento em iniciar o sono e por despertares periódicos durante o sono.
A insónia é definida por Phipps, Sands e Marek (2003), como uma dificuldade do
doente em começar a dormir ou em continuar a dormir, contribuindo para esta
situação, encontram-se associados vários factores como:
 Condições temporárias de perturbações emocionais;
 Hábitos de sono disfuncionais;
 Distúrbios de natureza psiquiátrica;
 Uso de drogas e/ ou álcool;
 Redução da função respiratória;
 Situações clínicas associadas a dor, anemia, febre, alterações do estado
nutricional ou imobilidade;

A insónia é uma situação que afecta de igual modo homens e mulheres, sucedendo
em muitas ocasiões: alterações do período das refeições, do período em que se
realizam as actividades físicas, o dormir mais do que o organismo necessita e as
sestas que durante o dia vão alterar o padrão normal do relógio biológico do doente.
Acerca deste diagnóstico de enfermagem Sparks e Taylor (2007), ressalva que se
traduz na incapacidade do doente em satisfazer as necessidades individuais para
dormir ou descansar, relativamente a este factor contribui a qualidade do sono, o
ambiente do sono e a ingestão de substâncias químicas como o álcool.

Diagnóstico de Insónia Primária, Demonstrada


enfermagem
Objectivos: - Que o doente não evidencie sinais físicos de privação de sono;
- Que o doente manifeste a sensação de estar descansado;
- Que o doente exponha modificação na dieta e no estilo de vida
para promover o sono;
Estratégias de - Gerir o ambiente da enfermaria, durante o turno da noite;
Intervenções de - Instruir o doente sobre a necessidade de dormir e repousar,
enfermagem: uma vez no turno da tarde, junto ao leito;
- Instruir o doente sobre a aquisição de estratégias para facilitar o
sono como: uso de almofadas, banho, massagem nas costas,
evitar a cafeína e limitar a ingestão de bebidas alcoólicas, uma
vez no turno da tarde, junto ao leito;

147
Estratégias de - Planear com o doente o horário de sono/ repouso, uma vez no
Intervenções de turno da tarde, junto ao leito;
enfermagem: - Supervisionar o padrão de sono, durante o turno da noite;

FOCO: Auto Estima


“Auto – Estima: opinião que cada um tem de si próprio e visão do seu mérito e
capacidades, verbalização de auto – aceitação e de auto – limitação, desafio das
imagens negativas sobre si, aceitação do elogio e do encorajamento da mesma
maneira que da crítica construtiva” (CIPE, 2005 pág. 54)

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Auto – Estima, Diminuída


“Um fenómeno de enfermagem avaliado como Diminuído: afirmação de que um
fenómeno de enfermagem diminuiu de tamanho, quantidade ou grau” (CIPE, 2005
pág. 90).
A auto – estima é de acordo com Atkinson e Murray (1989), mais do que um
sentimento, na medida em que esta influencia diversos fenómenos como a capacidade
do doente em estabelecer relacionamentos interpessoais e a resistência do doente
perante doenças psicológicas e físicas, tornando-se assim um importante foco de
enfermagem. Uma diminuição da auto - estima conduz o doente a apresentar
dificuldades nos relacionamentos interpessoais, incapacidade em admitir que possui
qualidades para realizar as suas actividades diárias e na aceitação da sua doença,
contribuindo para o isolamento social.
O conceito de auto – estima segundo Sparks e Taylor (2007), estabelece a presença
de sintomas negativos sobre si próprio que se refletem em consonância com a perda
ou a mudança de um indivíduo que anteriormente possuía uma auto avaliação
positiva. São características desta situação a dificuldade do doente: em tomar
decisões, na apreciação que faz de si próprio, na relação em gerir acontecimentos que
surjam na sua vida, o indicar sentimentos negativos sobre si próprio e o avaliar
negativamente respostas a situações diárias que anteriormente exibiam uma avaliação
positiva.
Para Townsend (2002, 2011), a auto – estima reporta-se ao grau de apreciação ou
respeito que os indivíduos têm por si próprios e à importância que conferem às suas
competências e decisões. Existem factores que influenciam de uma forma directa a
auto - estima do indivíduo como: as alterações corporais que ocorrem devido à
doença, a capacidade de satisfazer expectativas individuais, o modo como o indivíduo
lida com os sentimentos de culpa, a vergonha, a incapacidade, as crises situacionais e

148
a capacidade do indivíduo em lidar com elas. Aparecem características que
descrevem o individuo nestas situações como o verbalizar o seu próprio valor como
um desafio situacional actual perante a sua doença, tendo um comportamento
indeciso, manifestando desamparo e inutilidade e avaliando-se como inapto em
combater determinadas situações do dia-a-dia.

Diagnóstico de Auto estima, Diminuída


enfermagem
Objectivos: - Que o doente expresse sentimentos relacionados à sua
situação actual e o efeito que representa na sua auto – estima;
- Que o doente expresse sentimentos sobre si próprio em relação
aos factores de stress e em relação à sua doença;
- Que o doente participe nas decisões relacionadas com as
terapêuticas e os cuidados prestadas;
Estratégias de - Encorajar o doente a expressar os sentimentos sobre si próprio,
Intervenções de uma vez no turno, no turno da manhã e no turno da tarde, na
enfermagem: sala de enfermagem;
- Disponibilizar escuta activa, uma vez por turno, no turno da
manhã e da tarde, na sala de enfermagem;
- Disponibilizar presença activa, uma vez por turno, no turno da
manhã e da tarde, na sala de enfermagem;
- Estabelecer relação de ajuda, proporcionando um tempo
específico e ininterrupto, relacionado com o cuidado para
conversar com o doente, na sala de enfermagem, uma vez por
turno, no turno da manhã e no turno da tarde;
- Avaliar o estado mental do doente, por meio de entrevista e
observação, uma vez por turno, no turno da manhã e da tarde,
na sala de enfermagem;
- Envolver o doente no processo de tomada de decisão, uma vez
por turno, no turno da manhã e da tarde, na sala de enfermagem;

149
FOCO: Aprendizagem
“É um tipo de Autoconhecimento: processo de adquirir conhecimentos ou
competências por meio de estudo sistemático, instrução, prática, treino ou
experiência.” (CIPE, 2005 pág. 46).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Aprendizagem, Comprometida


“Um fenómeno de enfermagem como Comprometido: afirmação de que um fenómeno
de enfermagem se expôs ou ficou aberto ao mal ou se colocou em perigo” (CIPE,
2005, pág. 88).
Segundo Grondin et al (1992), o comprometimento relativamente a esta necessidade
por parte do doente, prende-se com as limitações na obtenção de novos
procedimentos referentes à sua saúde ou na reorganização dos comportamentos já
existentes. Esta situação ocorre em consequência da ansiedade de limitações
cognitivas como o deficit de atenção, concentração e memória, na falta de motivação,
na inexistência de capacidade psicológica e em limitações sensoriais.
Conforme relata Phaneuf (2001, pág. 85) “O ser humano está constantemente em
situação de aprendizagem. A experiência quotidiana traz-lhe uma panóplia de
conhecimentos diversos dos quais alguns, mais úteis, são armazenados nos circuitos
da sua memória, prontos a ser repescados quando oportuno”. O indivíduo sente
constantemente a necessidade de aprender no intuito de manter a saúde, combater a
doença ou mesmo modificar os seus hábitos de vida. Esta necessidade prende-se
com o facto de o indivíduo adquirir informação sobre si próprio, sobre o seu corpo,
sobre os seus problemas de saúde na forma de os prevenir e de os tratar com a
finalidade de alcançar práticas e comportamentos apropriados. Esta necessidade tem
implicância sobre todas as outras necessidades na medida em que para serem
satisfeitas o indivíduo deve frequentemente auferir conhecimento.
O diagnóstico de enfermagem que foi levantado segundo Sparks e Taylor (2007),
resulta da inadequada compreensão do conhecimento ou na inaptidão de executar as
competências essenciais para a prática de comportamentos relacionados com a
saúde, proveniente da capacidade de aprendizagem em termos cognitivos e
psicomotores do doente e da condição neurológica do doente, tendo em conta o seu
estado mental em termos de orientação e de consciência.

150
Diagnóstico de - Aprendizagem, Comprometida
enfermagem
Objectivos: - Que o doente demonstre compreensão do que foi ensinado;
- Que o doente estabeleça intenção em efectuar mudanças no
estilo de vida, incluindo a procura de auxílio a partir da equipa de
enfermagem sempre que necessário;
- Que a cuidadora informal demonstre pretensão em ajudar o
doente aprender a realizar as medidas de autocuidado;
Estratégias de - Estabelecer relação empática com o doente para promover a
Intervenções de aprendizagem, uma vez no turno, no turno da manhã e no turno da
enfermagem: tarde, na sala de enfermagem,
- Disponibilizar escuta activa, uma vez por turno, no turno da
manhã e no turno da tarde, na sala de enfermagem;
- Disponibilizar presença activa, uma vez por turno, no turno da
manhã e no turno da tarde, na sala de enfermagem;
- Ensino de capacidades que o doente deve adicionar ao seu estilo
de vida diariamente, uma vez por turno, no turno da manhã e no
turno da tarde, na sala de enfermagem;
- Informar as limitações do doente à cuidadora informal, uma vez
por turno, no turno da manhã e da tarde, na sala de enfermagem;
- Encorajar o doente e a cuidadora informal a participarem no
processo de aprendizagem, uma vez por turno, no turno da manhã
e no turno da tarde, na sala de enfermagem;

FOCO: Sofrimento
“Sofrimento: sentimentos prolongados de grande pena, associados a martírio e à
necessidade de tolerar condições devastadoras por exemplo, sintomas físicos crónicos
como a dor, desconforto ou lesão, stress psicológico crónico, má reputação ou
injustiça” (CIPE, 2005 pág. 48).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Sofrimento, Percepcionado


“Um fenómeno de enfermagem avaliado como Percepcionado: afirmação de que um
fenómeno de enfermagem é apercebido pelo doente ou cliente”(CIPE, 2005 pág. 111).
Os doentes portadores de doenças segundo Taylor (1992), encontram-se em crise,
precipitada por um lado pela essência das suas doenças e por outro pelo tratamento a
que se encontra sujeito. Os doentes passam por uma grande variedade de

151
sentimentos nos quais podemos incluir: a ansiedade, a hostilidade, a depressão, a
excitação, o medo, a raiva e a tristeza, neste sentido os doentes exigem aceitação,
compreensão e preocupação por parte de quem lhe presta cuidados e pela sua
família. O surgimento da doença que conduziu ao internamento hospitalar interrompe
de forma abrupta o estilo de vida normal do indivíduo e da sua família, na medida em
que aparece o papel de dependência que particularmente no caso do indivíduo do
sexo masculino se torna problemático, pois por norma devem difundir uma imagem de
dinamismo e independência e vêm a doença como um símbolo de fragilidade. Em
suma torna-se crucial que a equipa de enfermagem ofereça uma oportunidade ao
doente para este analisar os seus sentimentos acerca dos procedimentos que se
encontram inerentes ao tratamento.
De acordo com Bolander (1998), o sofrimento é considerado como uma resposta
frequente a uma experiência individual de perda, trata-se de um agregado de reacções
psicológicas e fisiológicas por parte do doente. A perda pode surgir de distintas
formas, uma das quais concerne à perda pessoal que é designada como qualquer
perda experimentada por um indivíduo como destrutiva da integridade pessoal, surge
derivado ao aparecimento de uma doença e de todas as consequências físicas e
psicológicas que daí provém. Torna-se essencial um ajustamento complexo a este tipo
de perda, abrangendo todos os aspectos da situação de vida do indivíduo e à
aquisição de um novo estilo de vida.
No sentido de responder a esta situação de sofrimento com as características
descritas anteriormente e que se encontram evidenciadas no doente Townsend (2002,
2011), relata que esta emoção se traduz por uma perda, ou seja, é definida por uma
experiência em que o indivíduo se desapodera de uma enaltecida ligação a um
objecto. Este objecto é encarado como uma entidade animal ou vegetal, uma relação
ou condição, uma transformação ou um insucesso verdadeiro ou apreendido. Como
exemplos desta descrição de perda surgem:
 A doença e o internamento hospitalar podem estabelecer uma perda para o
indivíduo, resultante das diversas modificações que puderam suceder, bem
como os prováveis receios associados à ameaça da integridade física;

 A diminuição da auto - estima pode ser considerada uma perda na medida em


que o indivíduo não se encontra apto em satisfazer as suas próprias
expectativas ou as expectativas dos outros;

152
Diagnóstico de Sofrimento, Percepcionado
enfermagem
Objectivos: - Que o doente discuta com a equipa de enfermagem e com a sua
família as situações que desencadeiam a sensação de sofrimento;
- Que o doente estabeleça objectivos razoáveis para si;
Estratégias de - Disponibilizar escuta activa, uma vez por turno e sempre que o
Intervenções de doente solicitar, junto ao leito;
enfermagem: - Disponibilizar presença activa, uma vez por turno e sempre que o
doente solicitar, junto ao leito;
- Estabelecer relação de ajuda, em todos os turnos e sempre que
o doente solicitar, junto ao leito;
- Estimular o doente a verbalizar sentimentos relacionados com o
sentido da sua própria vida face à perda actual, em todos os
turnos e sempre que o doente solicitar, junto ao leito;

FOCO: Tristeza
“Tristeza: sentimentos de desalento e de melancolia associados com falta de energia”
(CIPE, 2005 pág.48).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Tristeza, Percepcionada


De acordo com Taylor (1992), a tristeza é uma conjuntura humana que se descreve
como uma perturbação do humor, tratando-se de uma resposta habitual, comum e
fundamental na experiência de vida do doente, resultante de uma perda real. Trata-se
de uma alteração de humor que interfere directamente com a qualidade do sono, com
o apetite, com a diminuição da vontade, com a manifestação de sentimentos de
depreciação e culpa, no aparecimento de contrariedades do pensamento ou da
concentração e pensamentos recorrentes sobre a morte. A enfermagem desempenha
um importante papel relativamente a este foco, na medida em que pode assistir o
doente em lidar com os sentimentos de perda, estimulando-o a expressar emoções,
com o intuito de o auxiliar a superar a reacção emocional em que se encontra.
Segundo Taylor, Lillis e LeMone (2007), o sentimento de tristeza é uma reacção
emocional a uma perda em que esta sobrevém no doente quando um estado é
alterado ou tornado inatingível, implicando que o seu valor seja abreviado ou
eliminado. Em qualquer estadio da vida subsiste um potencial para o sentimento de
tristeza no qual está implícito uma perda especialmente nos indivíduos que
experienciam uma alteração no seu estado de saúde ou dos membros da sua família,

153
mais pormenorizadamente pode suceder uma perda na capacidade de poder cuidar de
si próprio ou por não conseguir exercer papéis valorizados na família ou no trabalho e
a situação da morte que aparece como a mais problemática de todas as perdas e a
que concebe maior tristeza.
Conforme relata Sparks e Taylor (2007), a tristeza é caracterizada por um modelo
periódico, recorrente e potencialmente evolutivo, de uma tristeza difundida a qual é
experienciada em resposta à perda permanente durante toda a trajectória da doença e
relacionada com a modificação do estado físico, social e psicológico. Transmite uma
verdadeira perda importante para a realização das actividades diárias, sendo
caracterizada por um conjunto de atitudes intelectuais e emocionais inconclusivas,
através das quais um indivíduo tenta adequar o processamento de alteração do auto –
conceito, tendo em conta uma perda pessoal apreendida, esta circunstância implica
que surjam expressões: de raiva, de confusão, de depressão, de desânimo, de medo,
de frustração, de culpa e diminuição da auto – estima, que diversificam em
intensidade, podendo prosperar e fortalecer com o tempo e que podem interferir com a
aptidão do doente em conseguir alcançar um bom grau de bem-estar pessoal e social.

Diagnóstico de Tristeza, Percepcionada


enfermagem
Objectivos - Que o doente expresse instintivamente à equipa de
enfermagem os seus sentimentos;
- Que o doente seja englobado activamente em actividades
diárias e na resolução de problemas;
Estratégias de - Gerir o ambiente físico da enfermaria, uma vez por turno;
Intervenções de - Estabelecer relação de ajuda, uma vez por turno e sempre
enfermagem: que o doente o solicitar, junto ao leito;
- Disponibilizar presença activa, uma vez por turno e sempre
que o doente o solicitar, junto ao leito;
- Disponibilizar escuta activa, uma vez por turno e sempre que
o doente o solicitar, junto ao leito;
- Facilitar a identificação por parte do doente das suas
capacidades e habilidades, uma vez por turno e sempre que o
doente o solicitar, junto ao leito;

154
FOCO: Desespero
“Desespero: sentimentos de profunda falta de esperança, desencorajamento, demérito
ou vazio” (CIPE, 2005 pág.49).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Desespero, Percepcionado


Conforme é descrito por Phipps, Sands e Marek (2003), o desespero aparece
naturalmente na existência humana como um sentimento de perda que se encontra
intrinsecamente ligada à vida diária como: as relações de amizade, o papel social, a
funcionalidade física, os acidentes, o desemprego ou a doença, estas condições
provocam a habitual reposta adaptativa do indivíduo, a qual pode desencadear uma
crise na vida do mesmo. Trata-se de um paradigma que se repete quando se encara
uma modificação ou um desafio, é importante na vida de um indivíduo pois origina a
ausência de algo significativo para ele, sendo caracterizada como qualquer alteração
que reduza a exequibilidade de se atingir um objectivo que foi delineado ou que afaste
inesperadamente o indivíduo de um domínio. A doença progressiva ou terminal
constitui uma perda por um lado e um desafio por outro, constituindo-se penosa pela
dubiedade que conduz o futuro, apesar da indeterminação puder fornecer um
entusiasmo motivador pode contudo consumir as reservas de acomodação para lidar
com a perda, aumentado o desespero por parte do doente.
Relativamente a este diagnóstico de enfermagem que foi levantado como foco de
intervenção em enfermagem, devido ao doente o percepcionar aquando da recolha de
dados para a elaboração do estudo de caso Sparks e Taylor (2007), afirmam que se
trata de um estado subjectivo em que o doente presencia insuficientes alternativas e/
ou escolhas pessoais não podendo deste modo dispor da energia em seu benefício,
esta situação surge em consequência do diagnóstico e do prognóstico da doença por
parte do doente, os deficits nos autocuidados que o doente experiencia com a perda
parcial ou total das funções corporais, com a confrontação da morte e com o estado
mental do doente, envolvendo a sua actividade cognitiva.

155
Diagnóstico de - Desespero, Percepcionado
enfermagem
Objectivos - Que o doente reconheça e aceite as limitações derivadas da
sua doença;
- Que o doente participe de forma activa nas actividades dos
autocuidados e nas decisões relativas ao planeamento dos
cuidados de enfermagem;
- Que o doente recupere e conserve o maior número de funções
independentes;
- Que o doente evidencie e expanda os sentimentos de
esperança;
Estratégias de - Gerir o ambiente físico da sala de enfermagem, uma vez por
Intervenções de turno, no turno da manhã e no turno da tarde;
enfermagem: - Disponibilizar escuta activa, uma vez por turno, no turno da
manhã e no turno da tarde e sempre que o doente solicitar, na
sala de enfermagem;
- Estabelecer relação de ajuda, uma vez por turno, no turno da
manhã e no turno da tarde e sempre que o doente solicitar, na
sala de enfermagem, incentivando-o a participar activamente.
dentro das suas limitações. no planeamento dos cuidados e na
realização dos autocuidados;
- Disponibilizar presença activa, uma vez por turno, no turno da
manhã e no turno da tarde e sempre que o doente solicitar, na
sala de enfermagem, incentivando-o a expressar e interiorizar as
limitações referentes à sua doença;

FOCO: Processo Familiar


“É um tipo de fenómeno de enfermagem da família: interacções positivas ou negativas
que se vão desenvolvendo e padrões de relacionamento entre os membros da família”
(CIPE, 2005 pág.65).

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: Processo familiar, Disfuncional


“Um fenómeno de enfermagem avaliado como disfuncional: afirmação de que um
fenómeno de enfermagem é incapaz de funcionar normal ou completamente” (CIPE,
2005 pág.100).

156
Conforme descreve Bolander (1998), uma família pode transitoriamente manifestar
alterações no seu funcionamento devido a factores que alteram os processos
familiares onde se destaca a doença. Em consequência deste facto aparece uma
deficiente comunicação e uma incapacidade para expressarem os seus sentimentos
entre os vários elementos da família. O internamento hospitalar por parte de um
elemento da família com uma doença grave, favorece que as interacções familiares
manifestem algumas disfuncionalidades devido à preocupação com a severidade da
doença, com o sofrimento e com a constatação da morte, assim evidenciam-se
sentimentos de medo, vulnerabilidade, frustração e insegurança.
A comunicação torna-se imprescindível para o equilíbrio do indivíduo de acordo com
Phaneuf (2001), existindo no indivíduo a necessidade de estabelecer laços de
afectividade e de criar ligações significativas com os indivíduos que lhe são próximos.
Constitui um processamento verbal e não-verbal que permite a troca de sentimentos,
opiniões, experiências e informação. No que diz respeito à família, existem hábitos
relacionais que beneficiam por um lado, mas deterioram por outro a comunicação.
A família é determinada por Townsend (2002 e 2011), como um conjunto de fortes
laços emocionais, peculiaridade de afectos, de um sentimento de pertença e de uma
permanência de união. Em enfermagem na prestação de cuidados existem
diariamente interacções entre vários membros da família, observando-se que a
doença e o internamento de um dos membros da família conduz a alterações na
interacção familiar, é no entanto de salientar que a família desempenha uma
importante função neste processo de saúde/ doença. As interacções familiares podem
ser funcionais ou disfuncionais contribuindo para esse facto:
 Comunicação – torna-se indispensável que os membros da família
comuniquem verbal e não verbalmente e que essas mensagens sejam
translúcidas, directas e apropriadas. Devem ser incitados a expressar
sentimentos, opiniões com sinceridade e a participarem nas resoluções que
afectam o processo familiar;

 Consolidação do conceito de si mesmo – a família deve fortalecer e intensificar


a concepção de si mesma, de cada membro da família para que estes se
sintam respeitados e elogiados;

 Expectativas dos membros da família – os membros da família ostentam


expectativas relativamente às sequelas das condições de vida, estas
expectações são realistas e flexíveis, evitando deste modo um fracasso por
parte dos membros da família. As condições de vida deparam-se com

157
imprevisíveis interferências externas e a maleabilidade permitindo a ocorrência
e interrupções sem que estas originem conflitos;

 Combatendo as disparidades – os membros da família devem compreender


que é admissível divergir e lidar com as diversidades de uma forma clara e não
ofensiva, devendo escutar a posição de cada elemento e admitindo a sua
convicção e o direito a deter um parecer diferente e actuando para alterar as
expectativas de ambos os lados da questão, para que deste modo se encontre
uma resolução;

 Padrões de interacção familiar – as famílias desenvolvem modelos recorrentes


e calculáveis de interacção ao longo do tempo, estas normas familiares
traduzem-se em segurança e equilíbrio resultante da previsibilidade, estas
normas são exequíveis quando são operacionais, construtivas e impulsionam
as necessidades de qualquer elemento da família;

De acordo com Sparks e Taylor (2007), relativamente ao diagnóstico de enfermagem


exposto, o seu conceito é descrito como uma alteração no relacionamento ou
desempenho entre os vários membros da família, em que um dos factores precipitante
se prende com a história de saúde da família relativamente ao abuso de substâncias
(álcool) transportando com alguma frequência ao conflito, à negação de problemas, na
reacção à mudança, a uma deliberação ineficaz de problemas e a uma sucessão de
crises auto infligidas. Esta disfunção encontra-se inter-relacionada com história de
alcoolismo crónico e cirrose hepática.

158
Diagnóstico de Processo Familiar, Disfuncional
enfermagem
Objectivos: - Que os membros da família demonstrem entendimento dos
papéis e das responsabilidades;
- Que os familiares identifiquem os problemas e trabalhem em
conjunto para os solucionar;
- Que a comunicação familiar se torne clara, correcta e
respeitadora;
Estratégias de - Identificar a dinâmica familiar, na sala de enfermagem, com o
intervenções de doente e a cuidadora informal, uma vez por turno, no turno da
enfermagem: manhã;
- Identificar os factores desencadeantes de instabilidade, com o
doente e a cuidadora informal, uma vez por turno, no turno da
manhã e no turno da tarde, na sala de enfermagem;
- Estimular as relações interpessoais, com o doente e cuidadora
informal, uma vez por turno, no turno da manhã e da tarde, na
sala de enfermagem;
- Ensinar ao doente e à cuidadora informal sobre possíveis
alterações em momentos de crise, uma vez por turno, no turno
da manhã e da tarde, na sala de enfermagem;
- Facilitar o suporte familiar ao doente e à cuidadora informal,
uma vez por turno, no turno da manhã e da tarde, na sala de
enfermagem;

159
Conclusão

Este trabalho de investigação na área de enfermagem possibilitou a reflexão sobre as


complexidades que emergem das práticas que desenvolvemos e desta forma edificar
a dimensão do cuidar, no sentido de que este se torne mais holístico, mais humano e
mais abrangente.
Um dos desafios deste trabalho prendeu-se com o facto de que os doentes com
cirrose hepática apresentarem uma grande instabilidade em termos físicos e psíquicos
na fase descompensada da doença, devido aos diversos internamentos a que estes
doentes são sujeitos, muitas vezes por diagnósticos secundários (hemorragia digestiva
alta, encefalopatia hepática) correlacionados com o diagnóstico principal (cirrose
hepática).
Esta temática releva-se bastante ampla mas pouco publicada na área da enfermagem
em Portugal, pelo que merece exaltar o interesse em lhe dar continuidade através de
outros estudos e/ ou investigações que a complementem, utilizando outras estratégias
metodológicas.
Penso que o enfermeiro através de uma assistência de qualidade, perceba de uma
forma mais ampla o processo saúde/ doença, o qual compreende os factores bio-
psico-sociais de cada um, propiciando deste modo uma melhor Qualidade de Vida aos
doentes.
Tendo em conta a circunstância de o investigador pertencer ao serviço onde o doente
esteve internado, estabeleceu na óptica do investigador, uma mais-valia, na aquisição
de resultados mais fidedignos uma vez que o doente e a cuidadora informal se
sentiram mais à vontade na maneira como revelavam pensamentos e sentimentos
menos benéficos à sua situação.
Após a realização deste trabalho de investigação, tenho consciência de que o mesmo
me permitiu alargar, aprofundar e colocar em prática conhecimentos gerais e
específicos quer da Qualidade de Vida, quer da cirrose hepática.
Uma das mais frequentes repercussões do alcoolismo crónico culmina no
aparecimento da cirrose hepática, último estadio da doença hepática crónica.
A cirrose hepática traduz-se numa doença crónica progressiva e irreversível, em que
comporta no doente uma má Qualidade de Vida. O mal-estar, a tristeza, o isolamento
social e a restrição da sua independência têm um forte impacto na sua vida. Pode-se
constatar que a fundamentação teórica da representação da doença crónica se aplica

160
completamente à percepção que o doente tem da cirrose hepática, ao analisar que
esta transformou drasticamente a sensação normal de continuidade e do ritmo do seu
ciclo de vida. É um facto consumado que a cirrose hepática afecta a capacidade de
desempenho do doente originando limitações progressivas e incapacitantes, com
perda de independência na satisfação das necessidades humanas fundamentais,
ostentando uma taxa de comorbilidade e mortalidade muito elevadas, o que obriga a
internamentos hospitalares repetitivos.
Esta pesquisa incidiu na experiência vivenciada por um doente com cirrose hepática,
na qual se compreendeu o impacto que esta doença limitou a sua Qualidade de Vida,
neste sentido foi importante o contributo que a cuidadora informal do doente
transmitiu, no sentido de melhor descrever a forma como a cirrose hepática interfere
no dia-a-dia do doente, nas alterações que surgem e no intuito de satisfazer as suas
necessidades humanas fundamentais.
A análise da situação problema e consequente realização de plano de cuidados de
enfermagem representa um conhecimento integrado do doente que enfrenta um
processo de transição (surgimento de doença), ajudando-o a planear e a gerir a sua
recuperação numa prestação de cuidados de enfermagem individualizados. Estes
cuidados surgem de uma avaliação que engloba a dimensão psicopatológica,
psicossocial e pessoal, pois acredito que só segundo estas directizes se poderão
orientar todas as intervenções para as necessidades concretas do doente em análise.
Centralizando-nos no doente com o diagnóstico de cirrose hepática, referido neste
trabalho, importa sublinhar que os focos de enfermagem presentes no plano de
cuidados de enfermagem, considerados mais pertinentes, indo de encontro à
especificidade deste doente em concreto, aquando do seu internamento são: a auto –
estima diminuída, a aprendizagem comprometida e o processo familiar disfuncional,
esta ênfase sobre estes focos de enfermagem encontra-se estritamente relacionada
com o facto de o doente não possuir insight e juízo critico da sua doença e da sua
situação clinica, a comprovar este facto menciona-se a resistência por parte do mesmo
em não alterar os seus estilos de vida o que o leva a manter o consumo de bebidas
alcoólicas, por outro lado a baixa auto - estima demonstrada pelo doente resulta dos
sucessivos internamentos hospitalares e consequentemente da degradação da sua
Qualidade de Vida derivado da progressão da doença (cirrose hepática), por fim a
alteração de papéis a nível familiar e da sociedade, prendendo-se uma vez mais com
o facto de o doente não apresentar insight e juízo crítico sobre a sua doença
originando uma disfuncionalidade a nível do processo familiar. Derivado a estes focos
de enfermagem que de uma forma singular sobressaem neste estudo de caso, importa
referir referentes às estratégias de intervenções de enfermagem elaboradas no plano

161
de cuidados do doente, existirem aquelas consideradas mais importantes tendo em
conta a circunstância do doente, neste sentido surgem:
 Dar ao doente a oportunidade de participar nas decisões relacionadas com os
cuidados e com as terapêuticas;

 Que este estabeleça a intenção em efectuar mudanças no estilo de vida


incluindo a procura de auxílio a partir da equipa de enfermagem;

 Que os membros da família (doente/ cuidadora informal) demonstrem


entendimento dos papéis e das responsabilidades que lhe são incutidos;

De facto e apesar de se tratar de uma concepção recente a Qualidade de Vida é uma


medida, que cada vez mais se encontra interiorizada no sistema de cuidados de
saúde. A contribuição dos avanços tecnológicos no campo da saúde tem propiciado
um enorme optimismo no que diz respeito especificamente ao tratamento da cirrose
hepática e no aumento da sobrevida do doente, deste modo é pertinente a avaliação
da Qualidade de Vida.
Em termos de Enfermagem e no que diz respeito ao plano de cuidados delineado para
cada doente, torna-se cada vez mais imprescindível a avaliação constante das
percepções dos doentes relativamente à satisfação dos cuidados que lhe estão a ser
prestados, na medida que ao analisar a satisfação dos doentes permite saber, se
estes sentiram que as suas necessidades humanas fundamentais foram colmatadas.
Considero que os resultados são um importante contributo para o conhecimento da
Qualidade de Vida do doente com cirrose hepática, tendo a execução deste estudo
contribuído designadamente para a humanização dos cuidados e para a satisfação
pessoal da equipa de enfermagem, do doente primeiramente, incluindo a cuidadora
informal.
Gostaria em seguida, de deixar algumas sugestões para futuros trabalhos de
investigação:
 Um estudo com o objectivo de estabelecer quais as expectativas dos doentes
com cirrose hepática em relação aos cuidados prestados pela equipa de
enfermagem, em cuidados diferenciados hospitalares;

 Um estudo de correlação entre as regiões com maior taxa de alcoolismo e a


incidência de doenças hepáticas de várias etiologias;

162
Finalizado este trabalho de investigação, importa salientar que pensando com clareza,
interpretando com sensibilidade e medindo cuidadosamente todas as intervenções que
se preconizam no plano de cuidados de enfermagem para cada doente, pode-se
aumentar de forma significativa os ganhos em saúde, a esperança e a Qualidade de
Vida do doente.

163
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171
ANEXOS

172
ANEXO 1

173
Guião de Entrevista ao doente

A Entrevista ao doente decorrerá em ambiente hospitalar, aquando do seu


internamento no Serviço de Gastrenterologia A dos Hospitais da Universidade
de Coimbra – Centro Hospitalar de Coimbra.
As entrevistas serão gravadas em fita magnética com consentimento do doente
(Consentimento Informado).
Como metodologia será utilizada a Entrevista Semi-Estruturada e o
Questionário World Health Organization Quality of Life Bref. (WHOQoL Bref).
As questões serão formuladas das menos complexas para as mais complexas
indo de encontro à maior interacção existente entre doente e investigador.
Aquando da realização da entrevista, serão avaliadas as necessidades
humanas fundamentais, tendo como base o Modelo Teórico de Enfermagem de
Virgínia Henderson, nas quais o doente se apresenta dependente, utilizado
como suporte o guia que se encontra em anexo ao Guião de Entrevista (Anexo)
e o estado mental do doente, através da observação do doente. Como método
de apoio complementar para a avaliação do estado mental será utilizado o
formulário utilizado no Serviço de Psiquiatria Homens dos Hospitais da
Universidade de Coimbra – Centro Hospitalar de Coimbra.
Os intervalos entre cada entrevista serão realizados tendo em conta a
capacidade do doente para responder a entrevistas e à disponibilidade do
investigador.

174
Primeira Entrevista

Duração: 30 minutos

Objectivo: Conhecer se o doente apresenta insight sobre a sua doença

 Preenchimento do Questionário Sócio-demográfico

 Avaliação do estado mental do doente através da aplicação do exame


mental

Questões:
1) O que sabe sobre a sua doença?

2) Encontra alguma razão para o aparecimento da sua doença?

Segunda Entrevista

Duração: 30 minutos

Objectivo: Clarificar junto do doente as limitações que o perturbam no seu dia-


a-dia e em que medida estas afectam a sua Qualidade de Vida

 Avaliação do estado mental do doente através da aplicação do exame


mental

Questões:
1) Quais as limitações que sente no seu dia-a-dia causadas pela sua
doença?

175
2) Quais as limitações que a sua doença provoca a nível familiar? E
profissional?

3) Que soluções tem utilizado para resolver os seus problemas e


limitações que diz ter?

Terceira Entrevista

Duração: 30 minutos

Objectivo: Descrever de que forma a cirrose hepática interfere na Qualidade


de Vida do doente. Avaliar a Qualidade de Vida do doente através da aplicação
do Questionário WHQoL Bref.

 Avaliação do estado mental do doente através da aplicação do exame


mental

 Aplicação do Questionário WHQoL Bref.

Questões:
1) O que entende por “Qualidade de Vida”?

2) Sente que a sua Qualidade de Vida tem sido prejudicada devido à sua
doença? Em que aspectos?

176
Guião de Entrevista à cuidadora informal

As entrevistas à cuidadora Informal decorreram preferencialmente em casa do


doente/ família, tendo em conta a disponibilidade da cuidadora Informal, não
sendo possível decorrerá em ambiente hospitalar.
As entrevistas serão gravadas em fita magnética com consentimento do doente
(Consentimento Informado).
Como metodologia será utilizada a entrevista semi-estruturada. As questões
serão formuladas das menos complexas para as mais complexas indo de
encontro à maior interacção existente entre cuidadora informal e investigador.
Os intervalos entre cada entrevista serão realizados tendo em conta a
disponibilidade da cuidadora Informal, sendo realizadas em dias diferentes das
entrevistas ao doente.

Primeira Entrevista

Duração: 30 minutos

Objectivo: Avaliar que conhecimento demonstra a cuidadora informal em


relação à doença do seu familiar. Que alterações se verificaram na relação
doente/ cuidadora informal como consequência da cirrose hepática

Questões:
1) O que sabe sobre a doença do seu familiar?

2) Como tem sido a vida quotidiana no domicílio ao cuidar do seu familiar?

3) Que alterações provocou a doença do seu familiar a nível pessoal? e


familiar?

177
Segunda Entrevista

Duração: 30 minutos

Objectivo: Identificar o grau de dependência do doente com cirrose hepática


no domicílio. Aprofundar e clarificar as dependências do doente através da
visão da cuidadora Informal

Questões:
1) Que actividades de vida, que se encontram descritas em anexo e com
que autonomia, o seu familiar consegue fazer no domicílio? Nas que não
consegue realizar, que tipo de ajuda necessita?

2) Quais os comportamentos que o seu familiar tem do domicilio?

Terceira Entrevista

Duração: 30 minutos

Objectivo: Descrever e aprofundar de que forma a cirrose hepática interfere


com a Qualidade de Vida do doente com cirrose hepática
Questões:
1) O que é para si “Qualidade de Vida”?

2) Acha que o seu familiar tem Qualidade de Vida? Porquê?

178
ANEXO

179
Necessidades Humanas Fundamentais
segundo o Modelo Teórico de Enfermagem de
Virgínia Henderson

Pretende-se saber, relativamente às necessidades humanas fundamentais, se


o doente/ familiar consegue fazê-las sozinho ou necessita de ajuda, resultante
da doença e da sua progressão.

Necessidades Humanas Fundamentais – Manter o corpo limpo e cuidado


e os tegumentos protegidos e Escolher a roupa – vestir-se e despir-se
 Consegue vestir-se sozinho

 Consegue tomar banho sozinho

Necessidade Humana Fundamental – Respirar normalmente


 Respira normalmente

 Apresenta cansaço fácil ao falar, ao caminhar

 Apresenta polipneia

Necessidade Humana Fundamental – Manter a temperatura corporal


dentro dos valores normais mediante a selecção de roupa e a modificação
do ambiente
 Apresenta febre com alguma frequência

 Durante o dia a dia refere frio

 Durante o dia a dia refere calor

180
Necessidade Humana Fundamental – Comer e beber de forma adequada
 Alterou os hábitos alimentares em consequência do aparecimento e
progressão da doença

 Alterou os hábitos relativamente à ingestão de bebidas alcoólicas em


consequência do aparecimento e progressão da doença

 Refere anorexia

Necessidade Humana Fundamental – Eliminar os resíduos corporais


 Apresenta baixo débito urinário

 Apresenta obstipação

Necessidade Humana Fundamental – Movimentar-se e manter a postura


correcta
 Apresenta/ refere cansaço

 Apresenta edema dos membros inferiores

 Apresenta/ refere dores musculares e/ ou articulares

 Acamado

Necessidades Humanas Fundamentais – Trabalhar de modo a sentir-se


realizado e Jogar ou participar em diversas formas de recriação
 Mantém actividade profissional

 Encontra-se muitas vezes de baixa médica

181
 Encontra-se reformado

 Mantém actividades de lazer

Necessidade Humana Fundamental – Comunicar-se com os demais,


expressando emoções, necessidades, temores e opiniões
 Apresenta dificuldades em conversar

 Apresenta labilidade emocional

 Apresenta agressividade verbal ao comunicar

Necessidade Humana Fundamental – Dormir e descansar


 Apresenta ansiedade que altera o padrão de sono

 Apresenta insónias

Necessidade Humana Fundamental – Evitar os riscos do ambiente e evitar


lesar os outros
 Houve alterações a nível do ambiente de modo ao doente se sentir mais
seguro

 Pondera a alterações a nível do ambiente de modo ao doente se sentir


mais seguro

 Alterou os seus hábitos de vida

182
Necessidade Humana Fundamental – Aprender, descobrir ou satisfazer a
curiosidade de modo a conduzir a um desenvolvimento e a uma saúde
normais e utilizar os recursos de saúde disponíveis
 Apresenta alterações a nível da afectividade

 Apresenta alterações a nível da atracção sexual

Necessidade Humana Fundamental – Realizar práticas religiosas segundo


a fé de cada um
 Apresenta/ refere medo da morte

 Apresenta preocupação perante a família em relação ao futuro

 Apresenta medo do sofrimento

183
184
185
ANEXO 2

186
187
188
ANEXO 3

189
190
191
192
193
ANEXO 4

194
Consentimento para a realização da entrevista
e
gestão de dados clínicos

Chamo-me César Ferreira, sou Enfermeiro e pretendo fazer um estudo que se integra
no Mestrado em Saúde Mental e Psiquiatria da Escola Superior de Enfermagem de
Coimbra. Com ele, pretendo conhecer o doente, perceber as suas perspectivas e os
seus desejos relacionados com a sua doença. Com este estudo pretendo descrever o
impacto que a cirrose hepática tem na Qualidade de Vida do doente com cirrose
hepática originada por alcoolismo crónico e avaliar a Qualidade de Vida de um doente
com cirrose hepática originada por alcoolismo crónico. Serão realizadas três
entrevistas, após as quais será pedido o preenchimento de um questionário.
Serão utilizados os seus dados laboratoriais, APENAS para efeito de investigação e
reflexão no âmbito do trabalho académico que se está a desenvolver.

O Conselho de Administração deste Hospital e o Director do Serviço de


Gastroenterologia deram o seu parecer informal para esta investigação.
Naturalmente, só será integrado neste estudo se assim o desejar e poderá rever a sua
decisão em qualquer altura. A entrevista será gravada em fita magnética. Pode ficar
seguro que o seu nome NUNCA será publicado, e só eu, como investigador, terei
acesso às gravações. As informações recolhidas serão anónimas e as gravações
destruídas após transcrições de alguns excertos. Pretendo que as conclusões desta
investigação possam vir a contribuir para a melhoria da qualidade de vida de todos os
doentes com cirrose hepática.

Eu, enquanto doente, reconheço que fui informado dos procedimentos e objectivos da
investigação e que estes me foram explicados, bem como o cumprimento de todos os
procedimentos Éticos. Compreendo que a qualquer momento, sou livre de interromper
a entrevista e colocar questões, bem como desistir de colaborar no trabalho de
investigação, sem que isso me cause qualquer dano. Foi-me assegurado que, toda a
informação por mim prestada será guardada de forma confidencial, sendo usada
unicamente, para obter dados para o estudo em causa e, que a minha identidade, em
circunstância alguma, será exposta. Mediante as condições expressas, autorizo a

195
minha participação nesta entrevista e o uso dos dados com ela obtidos, assinando
este documento.

Nome:___________________________________________

Data: _____/_____/_____

Assinatura
___________________________________________________________

196
Consentimento para a realização da entrevista

Chamo-me César Ferreira, sou Enfermeiro e pretendo fazer um estudo que se integra
no Mestrado em Saúde Mental e Psiquiatria da Escola Superior de Enfermagem de
Coimbra.
Para isso, peço a sua importante colaboração, para responder a um conjunto de
perguntas sobre esta temática, no que se prende com as suas vivências e/ou
experiências de vida como cuidador informal do doente. Com este estudo pretendo
descrever o impacto que a cirrose hepática tem na Qualidade de Vida do doente com
cirrose hepática originada por alcoolismo crónico e avaliar a Qualidade de Vida de um
doente com cirrose hepática originada por alcoolismo crónico. Serão realizadas três
entrevistas.
O Conselho de Administração deste Hospital e o Director do Serviço de
Gastroenterologia deram o seu parecer informal para esta investigação.
Naturalmente, só será integrado neste estudo se assim o desejar e poderá rever a sua
decisão em qualquer altura. A entrevista será gravada em fita magnética. Pode ficar
seguro que o seu nome NUNCA será publicado, e só eu, como investigador, terei
acesso às gravações. As informações recolhidas serão anónimas e as gravações
destruídas após transcrições de alguns excertos.

Eu, enquanto Cuidador Informal, declaro que fui informado dos procedimentos e
objectivos da investigação e que estes me foram explicados, bem como o
cumprimento de todos os procedimentos Éticos. Compreendo que a qualquer
momento, sou livre de interromper a entrevista e colocar questões, bem como desistir
de colaborar no trabalho de investigação, sem que isso me cause qualquer dano. Foi-
me assegurado que, toda a informação por mim prestada será guardada de forma
confidencial, sendo usada unicamente, para obter dados para o estudo em causa e,
que a minha identidade, em circunstância alguma, será exposta. Mediante as
condições expressas, autorizo a minha participação nesta entrevista e o uso dos
dados com ela obtidos, assinando este documento.

Nome:___________________________________________

Data: _____/_____/_____
Assinatura
___________________________________________________________

197
ANEXO 5

198
199
ANEXO 6

200
201
202
203
204
ANEXO 7

205
Entrevistas ao doente

Primeira Entrevista ao doente dia 29 de Setembro de 2012:

O que sabe sobre a sua doença?


- O que me disseram era que primeiramente, a minha doença está relacionada com
uma úlcera que tenho no estômago, tenho também uma cirrose hepática que é uma
infecção no fígado e o que parece é que uma coisa se coaduna com a outra.

Encontra alguma razão para o aparecimento da sua doença?


- O álcool foi o que me levou ao aparecimento da cirrose hepática, foi o ter começado
a beber bebidas alcoólicas em grande quantidade. Comecei a beber para aí há uns 10
anos e depois surgiu-me esta doença em 2005, ando a ser seguido na consulta
externa de gastroenterologia desde essa altura.

Segunda Entrevista ao doente dia 2 de Outubro de 2012:

Quais as limitações que sente no seu dia-a-dia causadas pela sua doença?
- Gostava de passear de carro, de passear no quintal de casa, mas agora com a
minha doença isso deixou de ser possível. Felizmente eu ainda vou conseguindo
cuidar de mim, ainda me consigo vestir e ainda me consigo lavar, mas sinto-me mais
limitado na medida em que vou menos vezes à cidade e os meus passeios resumem-
se a dentro de casa pois as dores articulares e o cansar-me muito limitam-me muito
essas actividades.

Quais as limitações que a doença provoca a nível familiar? E Profissional?


- A minha doença limitou a vida da minha mãe, no seu trabalho e nos seus afazeres do
dia-a-dia, ela não pode sair para voltas muito longas por minha causa e também sei
que desde que apareceu a doença ela foi trabalhando cada vez menos para estar

206
mais ao pé de mim. Para mim esta doença prejudicou-me muito a nível profissional na
medida em que nunca cheguei a conseguir um emprego estável, pois desde que me
apareceu a cirrose hepática eu comecei a faltar muito ao trabalho, era naquelas
alturas em que me sentia pior. Nunca consegui manter o mesmo trabalho por muito
tempo. Eu tinha alturas em que me sentia muito mal, faltava muito e tinha de
abandonar o trabalho.

Que soluções, tem utilizado para resolver os seus problemas e limitações que diz ter?
- Bem quanto a isso tenho arranjado uma, que é o transplante hepático. Para isso
tenho tentado diminuir o consumo de bebidas alcoólicas e por vezes até tenho
conseguido estar sem beber e nessas alturas quando vou às consultas externas de
Gastroenterologia, digo ao médico que não tenho tocado em álcool, é uma vitória
minha, não é. E mesmo o médico diz que com o transplante hepático fico com uma
solução de vida.

Terceira Entrevista ao doente dia 4 de Outubro de 2012:

O que entende por Qualidade de Vida?


- Ter um emprego estável, sem ter que andar a mudar de trabalho constantemente e
também não ter que aguardar por vezes meses em casa para tentar arranjar emprego.
Dar-me melhor com a minha mãe. E não ter de depender de ninguém no meu dia-a-
dia, puder fazer todas as minhas actividades de forma independente. Puder passear à
vontade, sem ficar cansado muito facilmente. Não ter dores articulares.

Sente que a sua Qualidade de Vida tem sido prejudicada devido à sua doença? Em
que aspectos?
- Sim a minha Qualidade de Vida foi muito prejudicada devido à cirrose hepática.
Passa um bocado no sentido de que o indivíduo nunca sabe quando vai morrer, não
saber quanto tempo mais vai viver, não puder orientar o amanhã.

207
Entrevistas à cuidadora informal

Primeira Entrevista à cuidadora informal dia 29 de Setembro de 1012

O que sabe sobre a doença do seu familiar?


- Sei que tem cirrose hepática, que há problemas a nível das vias biliares e que sofre
de obstipação que é aquilo que normalmente chamam de prisão de ventre, que é
horrível uma vez que a maior parte das vezes é isso que o leva ao hospital como foi
desta última vez e também tem uma úlcera no estômago. É o que eu sei. Tem andado
nas consultas externas de Gastroenterologia e agora também nas consultas externas
de Transplante Hepático, eu vou sempre com ele às consultas, porque ele não se
queixa ao médico e eu é que sei como é que ele anda. Foi também encaminhado a
consultas de psiquiatria no Hospital Sobral Cid.

Como tem sido a vida quotidiana no domicílio ao cuidar do seu familiar?


- Quando ele anda melhorzinho, ele cuida dele, mas quando ele anda mais em baixo é
um bocado complicado, mas pronto ele é meu filho e eu faço-o com todo o gosto, mas
nessas alturas eu tenho de o levantar, cozinhar para ele, dar-lhe banho, às vezes não
consegue urinar na casa de banho e urina tudo cá em casa e eu lá tenho de limpar,
mas em casa faço tudo como fazem no hospital e eu só o levo quando ele coitadito tá
nas últimas. Tudo o que posso fazer por ele, para cuidar dele, eu faço-o mas não é
fácil.

Que alterações provocaram a doença do seu familiar a nível pessoal? E familiar?


- Lá em casa somos só os dois. A nível familiar trouxe-me uma grande tristeza e
gostava de ver o meu filho como as outras mães veem os seus filhos bem e eu não
vejo o meu filho assim.
Ele não consegue fazer as coisas em casa que ele gostaria e não sai muito, fica muito
caseiro.
Claro que a nível familiar houve muitas alterações, por exemplo no quintal eu semeio
lá feijão, batata mas depois por vezes para cuidar dele que necessita, as colheitas lá
ficam. Também vinha muitas vezes a Coimbra, mais ou menos três vezes por semana,
às minhas voltinhas, mas ultimamente não posso, não o posso deixar sozinho. A

208
doença do meu filho limitou muito a minha vida, porque fui cada vez trabalhando
menos e há coisa de mais ou menos um ano deixei de trabalhar de vez, para cuidar
dele a tempo inteiro, porque a doença avançou desde esse tempo para cá e não o
posso deixar sozinho, tenho medo que ele me caia. Tenho de fazer alguma coisa para
ele comer, ele é que fazia sua comida, mas desde que lhe foi diagnosticada a doença
deixou de fazer e se eu não lha fizer ele ficas sem comer, porque ele deixou de
conseguir fazer.
A nível pessoal ele não vai a lado nenhum, a não ser quando de vez em quando os
amigos o veem buscar para ir dar um passeio.
Ele anda nas consultas de transplante, mas por vezes ele mantém o consumo de
bebidas alcoólicas e eu tenho medo que o tirem dessas consultas.
A doença alterou muito a vida do meu filho, passa mais tempo em casa, socializa-se
menos com os amigos e vizinhos. Nunca mais conseguiu trabalhar em condições, ele
próprio dizia que não podia, que não conseguia trabalhar. Ainda tirou um curso de
computadores mas com o avançar da doença deixou de fazer tudo e neste momento
encontra-se reformado.

Segunda Entrevista à cuidadora informal dia 30 de Setembro de 2012:

Que actividades de vida, que se encontram descritas em anexo e com que autonomia,
o seu familiar consegue fazer no domicílio? Nas que não consegue que tipo de ajuda
necessita?
- Às vezes ele consegue vestir-se e tomar banho sozinho, mas outras vezes ele sente-
se pior e sou eu que tenho de o vestir e dar-lhe banho.
Ele desde que tem a doença caminha muito menos, senta-se com muita frequência,
fica mais vezes parado, quando ele caminha mais um pouco nota-se logo na
respiração, fica mais aflito. Ele cansa-se muito facilmente, permanece ao longo do dia
mais tempo sentado e deitado. Ainda caminhava um pouco quando andou a fazer um
curso de computadores mas ultimamente a doença não deixa, permanece mais tempo
em casa sentado ou deitado, então se toca em álcool ainda pior.
Em casa não tem apresentado febre, mas refere muitas vezes que tem frio, apesar do
tempo não estar às vezes tanto frio como ele refere. Tem sempre com ele, quando

209
está sentado ou deitado, um cobertor por cima dele, é muito raro referir que tem calor,
aliás mesmo no internamento está sempre com um cobertor por cima dele.
Às vezes tem cuidado com a alimentação devido à doença que tem, mas outras vezes
não. Os médicos nunca falaram muito com ele sobre a dieta que deveria seguir nem
quais os alimentos que seriam melhores para ele ou os piores, mas eu também nunca
notei que a alimentação lhe fizesse mal. Já sei que deve comer muitos legumes e
comer sempre mais peixe do que carne. Ele refere é muita falta de apetite, ele come
muito pouco às refeições, às vezes nem come nada. Os hábitos alcoólicos mesmo
com a doença não se alteraram muito, tem vezes que não bebe nada mas tem outras
vezes que se o deixassem bebia a sério, passam-se meses sem tocar numa pinga de
álcool, mas outras vezes desafiam-no ou não sei e volta às bebidas alcoólicas.
Quanto a urinar bem ou não, isso depende, se ele tomar o aldactone e o lasix, urina
muito bem, mas se deixa de tomar, urina muito pouco, mas ele tem de tomar sempre
estes medicamentos. Para evacuar é que ele costuma ter muitas dificuldades,
costuma andar vários dias, por vezes três ou quatro, em que não evacua, apresenta
muitas vezes fezes muito duras. Esse é outro grande mal que ele tem.
De vez em quando costuma andar com os pés inchados mas não é sempre. Ele tem
dores musculares por isso passa muito tempo deitado, nota-se que se cansa muito
facilmente por isso não consegue estar muito tempo em pé.
Ele gosta de andar no quintal, gosta de se entreter lá mas depois cansa-se e senta-se
outras vezes deita-se mesmo. Neste momento já lhe foi dada a reforma por não ter
capacidade física para se manter a trabalhar.
O meu filho tem alturas em que conversa muito bem e até os vizinhos ficam
admirados, mas tem outras alturas em que não lhe apetece conversar nada e passa o
dia calado. Por vezes quando eu começo a falar muito com ele, ele enerva-se muito
comigo e fica até um pouco agressivo mas com as outras pessoas isso não acontece
tanto. O estado de humor dele varia muito, por vezes está muito triste e nesses
momentos eu até falo com ele para não se sentir tão triste, mas noutros fica um pouco
agressivo.
No que diz respeito ao dormir, ele não costuma dormir nada bem, não consegue
dormir a noite inteira. Se ele está melhor até dorme quase a noite toda mas
geralmente ele dorme mal à noite, quando ele está pior eu durmo no quarto, ao fundo
da cama com ele porque nessas alturas ele dorme mal durante a noite.
A casa tem dois pisos e ele quando vê que realmente não pode subir a escada, pede-
me ajuda para subir a escada. Eu tenho medo que ele caia e nessas fases ele até faz
a cama cá em baixo e dorme aqui, não vai para o seu quarto que é lá em cima.
Quando ele está melhor então lá em cima ao lado do quarto fiz uma sala onde

210
coloquei um sofá e uma televisão e ele fica lá no seu canto e assim não tem de andar
muito e ele gosta de ter tudo perto dele.
Vivemos um com o outro cá em casa o meu marido morreu quando ele tinha 13 anos,
desde aí que só nos temos um ao outro. A maior parte das vezes damo-nos bem, mas
há certas fases, em que a nossa relação não é das melhores.
Ele tem muito medo da morte, ele não quer morrer. Tem medo que venha a ter
sofrimento. Ele tem muito receio de me deixar, preocupa-se muito com isso, refere
isso muitas vezes.

Quais os comportamentos que o seu familiar tem no domicílio?


- Ele porta-se normalmente no seu dia-a-dia, mas por vezes irrita-se facilmente, torna-
se um pouco agressivo.

Terceira Entrevista à cuidadora informal dia 3 de Outubro de 2012.

O que é para si Qualidade de Vida?


- Para mim Qualidade de Vida é ter saúde para puder cuidar do meu filho. É puder
fazer todas as minhas actividades de vida diariamente sem ter de depender de
ninguém, fazer as coisas autónomas, se não tivesse nada disso valia mais morrer.

Acha que o seu familiar tem Qualidade de Vida? Porquê?


- Não, sinto-me muito triste mas ele não tem Qualidade de Vida, desde que surgiu a
sua doença que se nota muito essa falta de Qualidade de Vida, por isso é muito mais
complicado para mim ter de o deixar um dia, mais agora com a doença do que antes,
eu faço-lhe muita falta. A Qualidade de Vida piorou, ele agora é mais triste, dantes ele
era mais alegre, ele era muito inteligente e muito mexido, trabalhador, agora está
muito limitado em tudo o que faz.

211

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