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As berlinenses e seus combates

Marianne W a l l e

M „ . Berlim, metrópole moderna, viu surgir um novo tipo de


g ;5 mulher nos anos vinte: cabelos"à la garçonne",
c/5 ^ esportiva, sexualmente liberada. Mas é a exceção que
Cq -p confirma a regra. Na realidade, a maioria das berlinenses
O) são obrigadas a viver em condições difíceis, e as
/-A ^ reivindicações do direito à emancipação provocam lutas
cg gb O sem resultado. Foi o que ocorreu com as campanhas e
So o 6 manifestações contra a repressão ao aborto.
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m f-C (D ^ i J l 19 de janeiro de 1919, quatro dias depois do assassinato de Rosa
M Q _<-; Luxemburgo, as alemãs votam pela primeira vez. Cerca de 90% das que
ícd cd estão em idade de votar comparecem às urnas.^Prêmio concedido às
. cd" mulheres, graças às quais a economia do país continuou a funcionar
tí ^ durante os quatro anos de guerra? Não. Foi unicamente S^b fl pressão
jzJ ^^ c3 5— dos confrontos sangrentos da revolução que o Reichstag, nas mãos dos
^ r* conselhos operários e camponeses,^atribuiu direitos políticos a todos os
ü . . cidadãos alemães maiores, Bglodecreto de 30 de novembro de 1918, A
d cd S recompensa dada às mulheres é a entrada em vigor do decreto de 28 de
^ >-h . . "53 março de 1919, autorizando o governo a mandar de volta para casa todas
. C aquelas que exercem uma atividade profissional. Embora o artigo 5 desse
pS U Q\ decreto precise que só serão dispensadas as mulheres-que, não têm
t 1 U necessidade de seu salário para viver e aquelas que se encontravam sem
( "| Q ^ Ti trabalho assalariado no começo das hostilidades, essas disposições res-
<C fí ^ O tritivas não serão respeitadas. A "desmobilização" das mulheres, sejam
O ^ 'ZJ elas ou não chefes de família, está na ordem do dia. Dispensas abusivas,
pressão sobre os salários: a miséria material e moral é grande.

A nova mulher
A primeira preocupação das berlinenses das classes médias e do
proletariado, quer tenham dez, vinte ou cinqüenta anos, é dispor de
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Modernização, racionalização, comunicações de massa 95

um canto para si, ou pelo menos de uma cama só para si, nos aparta-
mentos minúsculos. Nascida em Berlim em 1903, no bairro operário
de Wedding, numa família de nove filhos, pai sapateiro, Grete F. conta:

Como a loja era bastante grande, pudemos dividi-la em duas partes.


Numa delas, meu pai tinha sua oficina. Na outra, havia duas camas,
uma mesa, três cadeiras e um sofazinho. Em seguida, havia um corre-
dor até a "sala", onde se encontravam as duas camas dos meus pais.
Nosso aprendiz e meus irmãos mais velhos dormiam num quartinho
ao lado. Nenhum de nós tinha cama nem colchão: dormíamos sobre
palha.

Ilse S., filha única de um desenhista empregado num jornal ilustra-


do, lembra-se de que suas condições de habitação eram certamente
melhores, mas longe de serem satisfatórias: "Nosso apartamento se
compunha de um único cômodo, com uma cozinha, um banheiro e
uma sacada." Apenas a metade das casas tinha eletricidade. As outras
tinham iluminação a gás, mas "quando no inverno a conta era muito
alta, usávamos nossa velha lâmpada a petróleo ou então velas".
A política geral é conceber da maneira mais racional tudo o que se
refere à organização da cozinha: pia com escorredor, armários de
parede, com muitas gavetas, geladeira (não elétricas) para facilitar o
armazenamento das provisões. Os primeiros refrigeradores elétricos
aparecem em meados dos anos vinte, mas seu preço é elevado: entre
mil e dois mil marcos (o salário médio de um operário é de cem a
duzentos marcos por mês). Só o ferro elétrico e o aspirador de pó são
acessíveis à classe média.
As associações de donas-de-casa que se formam em Berlim expli-
cam às mulheres que não podem pagar esses aparelhos o modo de
economizar energia doméstica. Reivindicam o reconhecimento da
"profissão" de dona-de-casa. Prioridade para a "vocação natural" da
mulher, para a maternidade e o trabalho doméstico! Essas associações
são fortemente apoiadas pela Liga das Associações Femininas Alemãs,
que agrupa mais de 500 mil membros, principalmente entre as classes
médias protestantes. A imprensa feminina, em fase de progresso con-
siderável, também as encoraja: o adocicado Blatt der Hausfrau ou a
Gertenlaube para serões campestres, assim como os jornais políticos,
como por exemplo a revista comunista feminina Die Kãmpferin, apre-
sentam planos para a arrumação dos apartamentos, receitas práticas
de cozinha, modelos de corte e costura.
Ser datilógrafa! Eis o sonho de todas as jovens berlinenses da classe
operária — entrar para a classe dos colarinhos-brancos — e das moças
de classe média cujos pais não podem pagar os estudos no colégio ou
96 Berlim. 1 9 1 9 - 1 9 3 3

no liceu. A escolaridade cusla vinte marcos por mês no liceu, dez


marcos no colégio, e além disso é preciso comprar todos os livros. As
datilógrafas trabalham oito a dez horas por dia, com máquinas pesa-
das e lentas. Sentam-se em cadeiras mal adaptadas para a tarefa. Seu
salário médio se situa no nível mais baixo da escala, para 70% das
mulheres, contra 30% dos homens. Mas pouco importa. A estenodati-
lógrafa, a secretária, a vendedora encarnam então em Berlim o tipo da
"nova mulher". É uma mulher que cortou as tranças para pentear-se
" à la garçonne" e cujas pernas são depiladas. Consciente do seu valor,
materialmente independente, bem cuidada, esportiva, sexualmente
"liberada", tem a audácia de sentar-se sozinha nos cafés e fumar em
público. 1
Sair para dançar, escolher seu par, não é mais um prazer reservado
às atrizes e mundanas; as outras mulheres também querem desfrutá-lo,
com essa pitada de insolência que trai sua falta de segurança. Eis como
Die Elegante Welt, revista de grande tiragem sobre a sociedade berli-
nense, descreve o comportamento da mulher que se aventura sozinha
num salão de baile:

Só depois de um certo tempo de sua chegada, ela se interessa por nós,


pobres homens. Um olhar basta para saber quem, dentre nós, lhe
conviria. "Com o louro alto ali, certamente darei uma volta na pista;
mas o outro, no canto, com seu rosto enérgico, também não é de se
jogar fora." E o que a mulher quer, Deus quer. Dançará certamente com
os dois cavalheiros que, no entanto, ela não conhece.

Sua educação não estimula a maioria das berlinenses a esse tipo de


comportamento. Em compensação, os "bailes de viúvas" têm um
franco sucesso: as mulheres querem esquecer os quatro anos de pri-
vações que viveram, recuperar o tempo perdido. Mas onde encontrar
os pares para dançar? Os pequenos anúncios são publicados aos
sábados nos diários berlinenses. Em 1927, numa única edição do
Berliner Morgenpost, encontram-se 26 anúncios desse gênero.
Em todas as classes sociais, o frenesi da dança está no auge. As
mulheres fazem subir até as nuvens os lucros dos sapateiros. Os
bálsamos para pés doloridos têm enorme aceitação. Bravas dona«-de-
casa perdem a cabeça e arremessam bem alto as pernas no ritmo louco
do charleston, do shimmy, do fox-trot. A partir de 1929, se não se
quiser passar o dia nos "lugares aquecidos" que, depois da crise,

1. Cf. a obra de Kristine vonSoden e MarutaSchmidt, Neue Frauen. Die Zwanziger


Jahre, Berlim, 1986.
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foram abertos ao público nas grandes cidades, dança-se até em casa,


quando não se tem lenha para aquecimento.
Para as mulheres da classe média, também é motivo de festa a visita
ritual às casas das amigas, como durante a guerra. Para tricotar em
clima de solidariedade ou simplesmente para bater papo em torno de
uma xícara de café e uma fatia de bolo.
Mas eis que uma idéia vinda dos Estados Unidos abre caminho .
rapidamente: o dia das mães. Em 1923, a Associação dos Floristas
Alemães toma a iniciativa de uma vasta campanha publicitária, e
envia buquês gratuitos a todas as mães e avós, inclusive nos hospitais
e casas de repouso, a fim de alegrar o dia em que as mães seriam
homenageadas. A idéia agrada tanto que a festa é instaurada em 1930.
Ela seduz os políticos, que querem ver aumentada a taxa de natalida-
de, e as mulheres, que têm a impressão de que suas atividades ancila-
res e tradicionais são enfim reconhecidas: a mãe e a dona-de-casa são
postas assim sobre um pedestal, em relação à "nova mulher", essa
mulher segura de si e decidida a ter sucesso em sua carreira profissional.
Para a maioria das berlinenses, entretanto, a imagem da festa não
está carregada de muitas segundas intenções;2 ela é sinônimo de
passeio ao ar livre, de excursão dominical. Em todos os bairros da
cidade se criam associações de Amigas da Natureza. Famílias inteiras,
mas também celibatários, rapazes e moças, partem em grupo. A bici-
cleta, a natação, o arco-e-flecha se tornam muito populares.
Os jovens de 14 anos, protestantes, católicos e não-crentes também
têm sua festa, muito especial: chama-se confirmação, comunhão, e,
quando se vem de uma família social-democrata ou comunista, con-
firmação leiga. É um dia importante, solene, principalmente para as
meninas. Cursos de preparação de seis semanas para a confirmação
leiga são organizados pelos centros do movimento operário. A ceri-
mônia é uma ocasião de se reunir em família. Ela é celebrada oficial-
mente pela manhã, com discursos alternados por coros falados e
cantados (o coro falado está muito em moda) projeções cinematográ-
ficas e música. Até se fundaram organizações que aconselham os
participantes, no sentido de dosar do melhor modo a arte e a pedagogia.
Originária do bairro operário de Neukõlln, filha de um marceneiro
e de uma bordadeira membros do partido comunista, a berlinense
Elfriede K. explica a importância que tinha então essa célebre confir-
mação leiga:
»,

2. Entrevistas realizadas por Roland Grõschel e Andréa Lummert para uma obra
sobre as festas do movimento operário alemão (Manfred Isemeyer, Klaus Sühl,
Hundert Jahre Jugendwahe, Berlim, 1989, p. 68-112).
98 Berlim. 1 9 1 9 - 1 9 3 3

Durante a preparação, falamos do parágrafo 218, que proíbe o aborto.


Era muito interessante, porque podíamos discutir com toda liberdade
esse problema delicado. A 27 de março, na véspera do grande dia, o
delegado de polícia de Berlim proibira qualquer manifestação política.
A cerimônia devia se desenrolar no Palácio dos Esportes no dia seguin-
te, domingo, às 10 horas. A polícia nos obrigou a esperar o fim das
cerimônias religiosas nas igrejas. Fazia tanto frio que as flores gelavam
em nossas mãos. Estava muito impressionada com a solenidade do
lugar, o recolhimento da multidão e a cerimônia propriamente dita.
Subitamente, a polícia chegou e tivemos que sair da sala em quinze
minutos. Foi um pânico terrível. Felizmente, não houve nenhum ferido
grave. A tarde, ainda muitos excitados pelos acontecimentos que aca-
bávamos de viver, conseguimos, entretanto, fazer uma bela festa em
família. Meu tio me deu uma bolsinha de couro, de que me senti
muito orgulhosa, meus avós três panos de prato, "para preparar o
futuro", diziam eles, e minha tia me deu um vestido. Assim, agora
tenho dois.

Outra festa perpétuaem Berlim é a da moda feminina, orquestrada


pelas revistas ilustradas. É uma moda que deseja ser, como escreve Die
Elegante Welt, "funcional, esportiva, sensual". 3 Os vestidos caem em
pregas flexíveis, a seda artificial é muito apreciada. Tudo é feito para
dar uma grande liberdade de movimentos, o essencial é sentir-se à
vontade; é o festival do sioeater. Esbelta, de busto delicado, mostrando
longas pernas, a "burguesa" berlinense procura encarnar a beleza
distante de uma Greta Garbo. Seu gosto pelo automóvel se acentua;
basta ver o aumento do número de visitantes femininas nos vários
Salões. Outro ponto de encontro onde é bom ser vista: o hipódromo.
O Grande Derby de Berlim é pretexto para exibir as últimas criações
da moda parisiense. Mas é no teatro que a berlinense culta encontra
as amigas, ou nos salões literários, abertos às aspirações e às concep-
ções mais extravagantes, desde que sejam novas. Os salões berlinenses
tornam-se verdadeiros laboratórios de idéias. O entusiasmo pela psi-
canálise e pela astrologia chega às raias do delírio.
Se ainda se tenta racionalizar o trabalho doméstico, a racionalização
nas fábricas já está implantada. Na linha de montagem, o ritmo é cada
vez mais rápido. Quando a operária, a partir de 25 anos, tem fillTos e
as tarefas domésticas a esperam em casa, ela não consegue mais
acompanhar essa cadência e seu salário diminui. Durante a República
de Weimar, o trabalho nas fábricas não fará com que a emancipação
feminina avance em nada. A vida cotidiana da operária berlinense é a

3. Die ElegialU Welt, n2-1927, citado por Astrid Eichstedt in Neite Fraueit, op. cit., p. 9.
Modernização, racionalização, comunicações de massa 99

desta mulher de 48 anos, mãe de três filhos de três a treze anos, cujo
marido está desempregado e recebe uma subvenção insuficiente para
manter a família:4

Sou limpadora de máquinas numa fábrica têxtil de cardadura. Levo


quase uma hora de trajeto de trem de subúrbio. Levanto-me às 4:15: o
trem parte às 5:10, chega a Berlim às 5:55. Como o trabalho começa às
6 horas, faço o trajeto até a fábrica correndo. Lá, limpo as cardadeiras
até as 14:15 mas o trem de volta só parte às 17:13. Assim, tenho que
esperar na estação. As 18 horas, estou em casa, onde o trabalho me
espera. Acabar de preparar o jantar, prever a refeição do dia seguinte,
ver se as roupas das crianças estão limpas. À noite estou esgotada. Só
no domingo posso remendar as meias e o resto. Às vezes, sacrifico uma
parte do meu sono para ir a uma reunião do partido [comunista] ou
do Socorro Operário. Aos sábados, chego em casa na mesma hora que
os outros dias. Faço as compras da semana na cooperativa. Uma vez
por mês, lavo a roupa de toda a família. Na véspera, preparo tudo para
poder começar cedo no domingo de manhã. Os três outros domingos
do mês começam para mim às 7 horas. Limpar a casa, remendar e
preparar o almoço. Os domingos terminam com um passeio ou uma
reunião festiva organizada por uma associação operária. E é assim dia
" após dia, semana após semana.

Entre 1919 e 1932, os saíários femininos do conjunto dos setores de


produção são 30 a 40% inferiores aos salários masculinos. Uma mulher
desempregada recebe dois terços da subvenção de um homem na
mesma situação. Em virtude de um decreto de 12 de setembro de 1923
sobre a regulamentação do tempo de trabalho, o empregador tem o
direito de exigir que sejam cumpridas horas extras não pagas. Em
1924, a maioria das operárias trabalham dez horas por dia, em vez das
oito horas legais obtidas em 1919. Incluindo-se o trabalho doméstico,
elas têm jornadas de 18 horas. Restam-lhes seis horas para dormir. O
sábado é o dia mais penoso, ocupado com aquilo que não foi feito
durante a semana.
As operárias grávidas têm condições de vida particularmente difí-
ceis. Sem dúvida, a lei de 15 de julho de 1927 sobre o trabalho em
período pré-natal e pós-natal prevê uma duração de doze semanas
durante as quais nenhuma dispensa é autorizada, mas a lei não obriga
o empregador a pagar as mulheres durante essas doze semanas.
Assim, elas continuam a trabalhar até o limite de suas forças.

4. Meiit Arbíitslng. uniu Wocluneitde, operárias da indústria têxtil narram sua vida,
obra publicada pela Associação das operárias do têxtil, Berlim, 1930, p. 123.

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