Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
CRÍTICA REFLEXIVA
outubro 13, 2012 · Direito, Jusfilosófico
Autores
FÁBIO DE OLIVEIRA
1. JUSTIÇA CRISTÃ
1.1 JUSTIÇA E RELIGIÃO
Bittar e Almeida abordam o assunto em questão partindo do pressuposto que, no
momento em que se discute direito e justiça, é imprescindível analisar a
influência que as Sagradas Escrituras produziram sobre a cultura ocidental (2011,
ed. 9ª, p.188, § 1). No entanto, consideramos indispensável ressaltar que essa
influência se deu principalmente pelas interpretações que lhes foram impressas
pelo cristianismo dominante. Outra ressalva de fundamental importância na
Este ícone identifica o
busca da compreensão do tema aqui versado é constatar por meio da
SELO DE QUALIDADE
Hermenêutica que a JUSTIÇA BÍBLICA discrepa significativamente da propagada
PÁTRIO DO AUTOR, e
pelo cristianismo tradicional, a saber: Se Abraão foi justificado pelas obras, tem
suas cores foram
de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu
inspiradas na bandeira
Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, àquele que faz
do Estado do Espírito
qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a
Santo cujo lema diz:
dívida. Mas aquele que não pratica, mas crê naquele que o justifica, a sua fé lhe
Trabalha e confia.
é imputada como justiça (Romanos 4:24). Nesse sentido, de modo análogo,
Jesus testemunhou da justiça que é pela fé, sem as obras, quando diz a favor
daquela que simplesmente o ouvia assentada aos seus pés: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com
muitas coisas. Mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada (Lucas
10:3842). Ora, Maria agradara a Jesus por ter escolhido ouvir a sua palavra, enquanto Marta buscava agradá
lo pela prática de boas obras. E esta Palavra é corroborada pela seguinte Escritura: Que diremos pois? Que
os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a JUSTIÇA que é pela FÉ. Mas,
aqueles que buscavam a justiça pelas obras, não alcançaram a justiça de Deus. Antes, tropeçaram e caíram.
Por quê? Porque não foi pela fé, mas como pelas obras(Romanos 9:30 e 32).
Por outro lado, alguém poderá dizer: A fé sem as obras é MORTA (Tiago 2:20). No entanto, a Hermenêutica
Cristã assim interpreta: A fé sem as obras que são fruto dessa mesma fé é morta, pois, anteriormente
afirma: MOSTRAME A TUA FÉ SEM AS TUAS OBRAS, E EU TE MOSTRAREI A MINHA FÉ PELAS
MINHAS OBRAS (Tiago 2:18); e, fundado nessa fé, mais adiante, Lutero vai dizer: “As obras boas e justas
jamais tornam o homem bom e justo, mas o homem bom e justo realiza obras boas e justas”. Portanto,
segundo a Hermenêutica Cristã, JUSTIÇA está diretamente correlacionada à FÉ.
Compreendidas todas essas considerações, podemos agora ponderar mais sobriamente acerca do discurso
dos autores na conceituação do que seja justiça cristã, sendo o nosso objetivo este: Construir determinado
conceito de JUSTIÇA a partir desse 1antagônimo anteriormente exposto. (OLIVEIRA, Fábio de. Análise
crítica do discurso, 2012).
Ademais, segundo os autores, é do legado religioso inestimável de influências, informações e valores que se
devem retirar alguns preceitos básicos sobre justiça, sem discutir este tema por qualquer perspectiva
ideológica ou pretensamente científica (ed. 9ª, p.188, § 2). Entretanto, AINDA QUE NÃO NOS CABE
ADENTRAR NOS MEANDROS DE DISCUSSÕES MEDIEVAIS HODIERNAMENTE PACIFICADAS, de que
modo se pode apreender o conceito de Justiça Cristã sem a devida contextualização histórica a partir da qual
aquele cristianismo interpretou justiça?
1.2 RUPTURA COM A LEI MOSÁICA Seguir
Seguir “PROJETO
Bittar e Almeida buscam apresentar neste tópico o aparente antagonismo entre a RIGIDEZ da Lei Mosaica e a
“NOVA” mensagem trazida por Cristo fundamentada no amor e no perdão. Aqui procuraremos demonstrar que
FORMENTAR
na LEI Deus também fizera repousar ou propunha o fundamento do AMOR, mas alguns alguns a distorceram e
PROPEDÊUTICO”
procuravam burlála. Por outro lado, também procuraremos demonstrar que, ainda que Cristo trouxera a
mensagem do amor e do perdão, também havia algo de “mais difícil” cumprimento em sua mensagem, tal
Obtenha todo post novo
como se segue: Se a tua mão te escandalizar, cortaa e lançaa para longe de ti, pois, é melhor herdar o reino
entregue na sua caixa de
dos céus sem uma das mãos do que tendo as duas seres lançado no inferno etc. Além disso, disse: Ouviste
entrada.
o que foi dito pelos antigos: Se alguém adulterar… eu, porém, vos digo: Se alguém apenas atentar para uma
Junte-se a 101 outros seguidores
mulher, já em seu coração cometeu adultério etc.
1.3 A LEI DIVINA E A LEI HUMANA Insira seu endereço de email
Bittar e Almeida discorrem sobre este terceiro tópico com reflexões que se distanciam do tema inicialmente
Cadastreme
proposto (Justiça cristã), contrapondo ideias e fazendo indagações que escapam objeto do nosso estudo
como FORÇA CENTRÍFUGA, segundo suas próprias colocações, ou seja, distanciamse do núcleo
Crie um site com WordPress.com
gravitacional temático (2011, ed. 9ª, p. 211, Da capo ). Por esse motivo, ignoramos a maior parte de seus
escritos e nos ativemos às passagens nas quais efetivamente o tema foi abordado (OLIVEIRA, Fábio de.
ANOTAÇÕES DE CLASSE, 2012), a saber: Segundo Bittar e Almeida, Hans Kelsen critica a lei divina por
seu caráter vago, como por exemplo: “Tratai aos homens da mesma forma que quereríeis que eles vos
tratassem”. Sua crítica resulta no fato de que “o que é bom para um, pode não o ser para o outro”. Desse
modo, prossegue os escritores, a crítica kelseniana racai sobre o caráter abstrato da fórmula, pois não há
definição do que seja bom e o que seja mau (2011, ed. 9ª, p. 199, § 3).
Enfim, o ápice da abordagem a esse tema parece ser a questão proposta por Bittar e Almeida, como se
segue: SE A LEI HUMANA MANDAR ALGO DIVERSO DA LEI DIVINA, É LÍCITO AO HOMEM
DESOBEDECER A LEI HUMANA? (2011, ed. 9ª, p. 201, § 4). Acerca dessa questão, a Hermenêutica Cristã
se vale da epístola do apóstolo Paulo e adverte da seguinte forma: Admoestote que, antes de tudo, sejam
feitas 2deprecações, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens; pelos reis, e por todos
os que estão em evidência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e
honestidade (1 Timóteo 2:23). Outrossim, Lucas ainda registra o momento em que Paulo diz sumo sacerdote
Ananias: Deus te ferirá, parede branqueada. Tu estás aqui assentado para julgarme conforme a lei, e contra
lei me mandas ferir? E os que ali estavam disseram: Injurias o sumo sacerdote de Deus? E disse Paulo: Não
sabia, irmãos, que era sumo sacerdote, porquanto está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo
(Atos 23:25). Desse modo, podemos inferir que, concernente à lei em vigor, cabenos cumprila. Ademais,
considerando a tese de que o Estado é laico e que há liberdade de culto religioso, que razão haveria para
desacatála? Contudo, agora, propomos o contrário, a saber: SE A LEI DIVINA MANDAR ALGO DIVERSO
DA LEI HUMANA, DEVE O HOMEM DESOBEDECER A LEI DIVINA? (OLIVEIRA, Fábio de. ANOTAÇÕES
DE CLASSE, 2012).
1.4 A LEI DE (sic) AMOR E CARIDADE
No dizer de Bittar e Almeida, a doutrina cristã, em sua pureza originária, está a indicar a tolerância como
sendo a ratio essendi do operar cristão. Na visão dos autores, isso quer dizer que se o homem é medido por
suas obras, as obras cristãs deverão assinalar benevolência, paciência, tolerância, caridade, compreensão,
amor etc. Além disso, afirmam os autores assim: “o que se quer grafar é que a lei de (3sic) amor e caridade
são os preceitos segundo os quais se deve pautar o comportamento humano”. Outrossim, são preceitos que
devem governar o homem iluminado pela chama divina, construindo a perfeição interior de seu (subjetividade)
e a partir do respeito ao próximo (intersubjetividade). Assim, o outro é tido em conta, por essa doutrina,
como a única condição de salvação pessoal, e sem o outro não há caridade, sem o outro não há amor.
Em outras palavras, somente por meio do outro é que se pode realmente praticar o amor e a caridade (2011,
ed. 9ª, p. 205, § 2).
Nesse sentido, prosseguem eles, esse tipo de justiça indica que a prática da caridade (moral e material) é a
chave para a consquista do Paraíso e das bemaventuranças. Afirmam ainda que: Não é a intolerância, mas
o respeito; não é a incompreensão, mas a solidariedade; não é o desprezo, mas a fraternidade; não é a
discriminação; não é o ódio, mas o amor etc (2011, ed. 9ª, p. 205, § 2). Com esse discurso, podemos
expressar a suma do pensamento de Bittar e Almeida da seguinte maneira: “O homem é salvo pelas obras
(sic), e precisa do “outro” (sic) para receber a salvação”. Porém, em contraposição a isso, a Hermenêutica
Cristã elucida assim: Porque pela graça sois salvos, por meio da FÉ; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
NÃO vem das OBRAS, para que ninguém se glorie [ (Efésios 2:7 e 8) OLIVEIRA, Fábio de. ANOTAÇÕES DE
CLASSE, 2012].
AURÉLIO AGOSTINHO
Filosofia e medievo
A síntese e conciliação dos postulados da filosofia grega e das convicções religiosas na idade média
engendraram várias correntes de pensamento. Como exemplo, citamos: Aurélio agostinho, que concilia o
platonismo (IDEALISMO e CONTEMPLAÇÃO) com o cristianismo (DOGMATISMO), dando início ao que ficou
conhecido como patrística; e Tomás de Aquino, que o concilia com o aristotelismo (RAZÃO e AÇÃO).
Segundo Bittar e Almeida, o marco teórico desse período, ou seja, o ponto de partida daquela filosofia é a
palavra revelada, advindo daí a doutrina cristã que cristalizou novos ideais traduzidos em modelos
dogmáticos de devoção e fé. Ademais, segundo os autores, esses modelos conduzirão a filosofia a servir de
recurso teológico de ascensão espiritual.
A filosofia daquela época verteuse para uma espécie de meditação que pode ser classificada hodiernamente
como xiita, sob pretexto de elevação espiritual e assepsia a alma. Devido a esse encrudescimento, a filosofia
perde de seu arcabouço léxico todos os morfemas exo para privilegiar os prefixos endo. O homem deixa de
privilegiar o procedimento intelectual de permanente dúvida que outrora o havia levado a refutar a explicação
mítica, para privilegiar a certeza eremítica de salvação.
Em agostinho, o homem é convidado a retormar a ética estóica a partir da assertiva agostiniana que assevera
que a salvação humana e sua conseqüente participação na Cidade de Deus implica em ignorar a Cidade dos
Homens. Por esse viés, a maior das desgraças que aquele cristianismo propagou (e alguns ainda propagam)
é o dito: Contemplai os lírios dos campos que não tecem vestes para si. Contemplai os passarinhos que
são alimentados todos os dias por Deus. Esse é o cerne do pensamento patrístico, a saber: uma inércia
puramente contemplativa fundamentado no ideal platônico (OLIVEIRA, Fábio de. 2012).
Segundo Bittar e Almeida, o pensamento medieval cuidou de proscrever do quadro de atividades humanas a
política (vita activa), modelo de educação (paidéia) gregoromana, concentrando especificamente todos os
rumos do saber para a vida contemplativa (vita contemplativa). Nesse momento, a filosofia é incorporada
como recurso racional de auxílio ao pensamento teológico, que tinha como núcleo a interpretação do texto
bíblico.
Lei eterna e lei temporal
Segundo Bittar e Almeida, em Agostinho, a justiça recorre ao neoplatonismo como fonte filosófica de
inspiração, delineando dicotomicamente a justiça em transitória, imperfeita e corruptível de um lado, e eterna,
perfeita e incorruptível do outro. Concordemente, constatase alguns dualismo, a saber: corpoalma, humano
divino, transitórioperene, relativoabsoluto.
A justiça humana é aquela que se realiza inter homines, ou seja, que se reliaza como decisão humana em
sociedade, que por sua vez privilegia a lei humana como fonte basilar normativa do comportamento.
Bittar e Almeida repercutem Agostinho em sua assertiva segundo a qual não só a lei divina é perfeita, mas
também o julgamento divino que é efetuado com base nessa lei é perfeito. Entretanto, observamos que
maisqueperfeito seria não haver lei alguma, pois a lei não é feita para aquele que procede com ética e
justiça; ao contrário, a lei só existe por causa do nosso proceder injusto. Logo, onde reside a perfeição da
lei humana, ainda que inspirada na lei divina? Porque a LEI testifica contra cada um de nós de que
procedemos injustamente. CASO CONTRÁRIO, por que haveria lei se só houvesse a justiça? Por
conseguinte, a lei surge da imperfeição, e portanto não pode ser perfeita. Estritamente, LEI PERFEITA é
aquela que está impressa no espírito humano, pois, ainda que desprovida de coercitividade, guia o homem por
meio de sua consciência, movendoo ao que é correto sem imporlhe ameaça de punição (OLIVEIRA, Fábio
de. 2012). Apesar disso, mais adiante Bittar e Almeida ponderam dizendo que o que se deve reter é o fato de
que a lei humana recrimina crimes (sic) o suficiente para promover a paz social. Mais ainda: que somente o
que é absolutamente indispensável para salvaguardar a paz social interessa diretamente como conteúdo de
uma lei humana.
Bittar e Almeida, em referencia à obra De libero arbitrio, reproduzem textualmente que “a lei eterna ordena
então de desviar seu amor das coisas temporais e de tornálo, assim purificado, em direção às coisas
eternas”.
Segundo Bittar e Almeida, a lei escrita constitui recurso auxiliar na organização social. Portanto, sua presença
no sentido da regulamentação da conduta humana é imprescindível, e conceber o Direito dissociado da justiça
é conceber um conjunto de atividades institucionais humanas que se encontram dissociadas dos anseios de
justiça. Ainda mais: “Suprimida a justiça (sic) que são os grandes reinos senão vastos latrocínios?”
Segundo Bittar e Almeida, invocando o conceito de República de Cícero, ao lado da doutrina de Varrão,
Agostinho quer dizer que o que se faz com direito se faz com justiça, enquanto o que se faz sem justiça não
se pode fazer em Direito. Ademais, a coisa pública que forma em torno de um povo deve ser administrada não
só com Direito, mas sobretudo com justiça. Assim, Direito e justiça se jungem.
(…) Em se trantando da coisa pública, a busca da pax aeterna preenhe de fins o poder secular justo.
Ainda, segundo Bittar e Almeida, a filosofia agostiniana é marcada pela noção cíceroromana de que o
governo de direito é o governo justo, em que a justiça consiste em dar a cada um o que é seu. “Não há
justiça sem ordem, não há ordem sem direito, não há direito sem justiça”. A justiça, portanto, tem a ver com
ordem, da razão sobre as paixões, das virtudes sobre os vícios, de Deus sobre o homem.
FÁBIO DE OLIVEIRA
CPF 031.564.157/66
Claro (86) 9474 4312 ~ Vivo (86) 8113 7971 ~ Tim (86) 9808 0508
http://www.olliweihra.wordpress.com
olliweihra@gmail.com
1 sm. contrônimo palavra ou locução que engloba, em sua polissemia, sentidos antagônicos,
segundo o contexto em que se encontra empregada.
2 pedir de forma submissa e insistente; suplicar, implorar
3 sicut: indica que a citação é textualmente exata ou exatamente desta forma, e que por ela não se
responsabiliza quem a faz.
Share this:
Twitter Facebook
Curtir
Seja o primeiro a curtir este post.