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A DISPENSA DE LICITAÇÃO COM FULCRO NO ARTIGO
24, INCISO IV, DA LEI Nº 8.666/93 DE ACORDO COM A
JURISPRUDÊNCIA DO TCU
 

RENATO SAEGER MAGALHÃES COSTA
Advogado. Pós­graduando em Direito Público pela Universidade Anhanguera/UNIDERP. Bacharel em Direito pela
Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP.

RESUMO: O artigo 24, IV, da Lei nº 8.666/93 prevê a possibilidade de dispensa de licitação para situações emergenciais
ou  calamitosas.  No  presente  artigo,  analisa­se  a  evolução  jurisprudencial  do  TCU  no  que  tange  ao  permissivo  para  tais
contratações diretas.

PALAVRAS­CHAVE: Dispensa de licitação. Contratação emergencial. Jurisprudência. Tribunal de contas.

A LICITAÇÃO COMO A REGRA GERAL PARA AS CONTRATAÇÕES PÚBLICAS

A  licitação  é  um  processo  administrativo  no  qual  se  deve  sempre  buscar  o  interesse  público  primário,  que  importa  na
contratação mais vantajosa, menos dispendiosa, mais célere e eficaz por parte da Administração Pública.

Desse modo, são consagrados diversos princípios regentes dos certames públicos. Destacam­se, dentre tais princípios, a
isonomia,  a  impessoalidade,  a  competitividade  e  o  princípio  do  julgamento  objetivo.  O  que  se  busca  tutelar,  mediante  a
utilização de tais balizas principiológicas, é que o processo administrativo licitatório possa ser manejado de forma eficiente
e rápida, porém, de modo probo, moral e impessoal.

Para  tanto,  tem­se,  por  óbvio,  que  os  princípios  específicos  das  licitações  públicas  são  pautados  por  aqueles  ditames
constantes no artigo 37, caput, da Constituição Federal.

A licitação pública é obrigatória em tributo aos princípios regentes da Administração Pública, que visam a proteger o
interesse  público  de  atos  imorais,  marcados  pela  pessoalidade  e,  com  destaque,  que  imputem  aos  membros  da
coletividade tratamento discriminatório apartado da razoabilidade. [...] a causa mor da licitação pública é o princípio
da  isonomia,  uma  vez  que  o  contrato  administrativo  implica  benefício  econômico  ao  contratado  e,  por  isso,  todos
aqueles que tiverem interesse em auferir o aludido benefício devem ser tratados de modo igualitário por parte da
Administração Pública, pelo que se impõe a ela realizar procedimento administrativo, denominado licitação pública.
Como o caput do art. 5º da Constituição Federal abriga o princípio da isonomia, ele já fornece subsídio normativo
suficiente para que o cientista jurídico conclua pela obrigatoriedade de licitação pública (1).

Assim sendo, qualquer licitação promovida pelo Poder Público deve ser realizada com fulcro no artigo 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, que insculpe o processo licitatório como imperioso nas contratações e alienações da Administração,
devendo ser sempre pautados, ademais, na impessoalidade, isonomia e na competitividade (2).

Art. 37, XXI, CRFB/88 – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações
serão  contratados  mediante  processo  de  licitação  pública  que  assegure  igualdade  de  condições  a  todos  os
concorrentes,  com  cláusulas  que  estabeleçam  obrigações  de  pagamento,  mantidas  as  condições  efetivas  da
proposta,  nos  termos  da  lei,  o  qual  somente  permitirá  as  exigências  de  qualificação  técnica  e  econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

É notável, então, que as hipóteses de contratação direta são excepcionais, jamais podendo ser tidas como a regra geral.

De fato, “a dispensa pressupõe, necessariamente, a ideia de licitabilidade. Este indica qualidade do que pode ser licitado,
isto é, adquirido ou alienado mediante a observância de certos requisitos fundamentais” (3).

Neste diapasão, e nos termos do ensinamento de Ronny Charles Lopes de Torres,

quando  o  legislador  prevê  hipóteses  de  contratação  direta  (dispensa  e  inexigibilidade)  é  porque  admite  que  nem
sempre a realização do certame levará à melhor contratação pela Administração ou que, pelo menos, a sujeição do
negócio ao procedimento formal e burocrático previsto pelo estatuto não serva ao eficaz atendimento do interesse
público naquela hipótese específica (4).

Em  síntese,  Joel  de  Menezes  Niebuhr  afirma  que  a  “dispensa  de  licitação  pública  ocorre  só  quando  seria  possível  a
competição, porém, se dessa maneira se procedesse, impedir­se­ia a satisfação do interesse público” (5).
É visível, portanto, que a dispensa de licitação não serve como um escape ao administrador público desonesto para que
proceda à contratação direta pela não realização do processo licitatório, mas, sim, para que possa, mediante a dispensa
de licitação, buscar a melhor satisfação do interesse público em tela. É, por assim dizer, “o mecanismo de que se vale o
legislador  para  salvaguardar  o  interesse  público,  sopesando  os  valores  que  o  circundam,  evitando  que  a  realização  de
licitação pública erga barreiras à plena consecução dele” (6).

Não  se  pode  olvidar,  então,  que  a  dispensa  de  licitação  é  o  modo  pelo  qual  se  satisfará  o  interesse  público  desejável,
restando  indubitável,  nesses  termos,  que  sempre  que  se  revelar  possível  a  realização  de  certame  licitatório  para  a
consecução do interesse público primário, não se poderá contratar diretamente.

Há,  contudo,  um  rol  taxativo  de  hipóteses  em  que  o  gestor  público  poderá  proceder  à  contratação  direta  mediante  a
dispensa  de  processo  licitatório.  Tais  circunstâncias  ensejadoras  da  dispensa,  encontram­se  no  artigo  24,  da  Lei  nº
8.666/93.

A NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA DO RITO PROCEDIMENTAL PARA A DISPENSA DE LICITAÇÃO

Uma vez verificada a situação hipotética prevista na Lei de Licitações e Contratos para os casos de dispensa de licitação,
poderá o administrador público proceder à contratação direta.

No  ponto,  não  é  ocioso  asseverar  que  mesmo  que  reste  caracterizada  a  situação  prevista  na  legislação  específica,  o
gestor, em um juízo de discricionariedade, poderá realizar a licitação, uma vez que a dispensa permite que ele opte pela
realização ou não do certame licitatório.

As hipóteses de dispensa de licitação previstas no art. 24 da Lei nº 8.666/1993 elencam situações fáticas em que,
por razões previamente ponderadas pelo legislador, permite­se a contratação independentemente de realização de
licitação, muito embora esta seja factível, dado que viável a competição (7).

Ocorre  que,  assim  como  a  própria  natureza  da  licitação,  a  dispensa  também  estará  vinculada  a  determinado  rito,
ordenado de atos, que deve obediência aos princípios do Direito Administrativo.

A contratação direta – ou nos dizeres de Marçal Justen Filho, a “modalidade anômala de licitação”   (8) –, portanto, deve
observar os ditames procedimentais previstos na Lei.

Dentre  outros,  tem­se  que  o  administrador,  ao  dispensar  a  licitação,  deve  formular  a  devida  justificativa;  e,  do  mesmo
modo,  realizar  uma  pesquisa  de  preços  no  mercado,  para  que  restem  delineados  parâmetros  objetivos  para  a
contratação  com  base  no  artigo  24  da  Lei  de  Licitações  Públicas.  Ultrapassados  os  procedimentos  para  a  dispensa,
poderá, em sequência, o gestor público, proceder à contratação direta.

A DISPENSA PARA OS CASOS DE EMERGÊNCIA OU CALAMIDADE PÚBLICA DO ARTIGO 24, INCISO IV, DA LEI Nº
8.666/93 E A MUDANÇA JURISPRUDENCIAL DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

O artigo 24 da Lei de Licitações e Contratos Públicos prevê, em seu inciso IV, a possibilidade de dispensa de licitação “nos
casos  de  emergência  ou  de  calamidade  pública,  quando  caracterizada  urgência  de  atendimento  de  situação  que  possa
ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou
particulares,  e  somente  para  os  bens  necessários  ao  atendimento  da  situação  emergencial  ou  calamitosa  e  para  as
parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e
ininterruptos, contados da ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos”.

Muito se tem discutido acerca da matéria, tanto na seara doutrinária quanto nas Cortes judiciais e de contas do país. Em
um primeiro momento, tem­se entendido que, independentemente do caso de dispensa de licitação a ser analisado, sua
interpretação deverá ser restritiva, agarrando­se o intérprete, na letra fria da legislação.

Nesse  sentido,  Maria  Sylvia  Zanella  Di  Pietro  rememora  que  o  rol  dos  casos  de  dispensa  de  licitação  é  taxativo  e  é
“precisamente por constituírem exceção, [que] sua interpretação deve ser feita em sentido estrito” (9).

Essa premissa de que “as hipóteses de dispensa de licitação devem ser interpretadas restritivamente” (10) é fundamental
para  que  logo  mais  adiante  possamos  analisar  a  jurisprudência  do  Tribunal  de  Contas  da  União  quanto  à  hipótese  de
dispensa nos casos de situações emergenciais ou calamitosas.

Porém,  e  quanto  à  delimitação  conceitual  das  situações  insculpidas  no  aludido  dispositivo,  é  preciso  perceber  que  o
escopo do inciso IV do artigo 24 da Lei nº 8.666/93 é tutelar a Administração Pública quando não se vislumbrar efetividade
de qualquer contratação por processo licitatório devido à iminente situação de calamidade ou de emergência que esteja
instaurada.

De tal modo, não pode o agente público justificar toda e qualquer situação como emergencial ou calamitosa para que seja
realizada  contratação  direta  por  parte  da  Administração,  devendo  a  situação  de  emergência  ou  de  calamidade  ser
difusamente percebida como anormal ou extraordinária.

O  estado  de  calamidade  pública  está  definido  pelo  Decreto  nº  7.257,  de  4­8­10,  que  regulamenta  a  Medida
Provisória nº 494, de 2­7­10 (convertida na Lei nº 12.340, de 1º­12­2010), para dispor sobre o Sistema Nacional de
Defesa  Civil  –  SINDEC  artigo  2º  define  a  situação  de  emergência  como  “situação  anormal,  provocada  por
desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento parcial da capacidade de resposta do
poder  público  do  ente  atingido”  (inciso  III)  e  estado  de  calamidade  pública“situação  anormal,  provocada  por
desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da capacidade de resposta
do poder público do ente atingido” (inciso IV) (11).

Como  já  demonstrado,  a  interpretação  das  hipóteses  de  dispensa  trazidas  pela  legislação  devem  ser  manejadas
restritivamente, sob pena de serem vilipendiados os princípios basilares da atuação administrativa. A doutrina, então, tem
assinalado  que  “compõe  a  situação  de  emergência  certa  dose  de  imprevisibilidade  da  situação”  (12),  de  modo  que  a
utilização  do  dispositivo  legal  em  apreço  para  fins  de  dispensa  de  licitação  deve  ser  calcada  na  observância  de
determinados requisitos.

Como  se  vê,  a  Lei  foi  deveras  minuciosa  e  reticente,  recheando  o  dispositivo  com  requisitos  e  elementos
condicionadores  que  restringem  a  utilização  dessa  hipótese  de  dispensa,  demonstrando  certa  desconfiança  do
legislador em relação ao administrador.

Seriam  os  requisitos:  1.  Urgência  no  atendimento  da  situação  emergencial  ou  calamitosa;  2.  Possibilidade  de
prejuízo ou comprometimento da segurança de pessoas, serviços ou bens públicos ou particulares.

Seriam  os  elementos  condicionadores:  1.  Dispensa  apenas  para  contratações  relacionadas  ao  atendimento  da
situação  emergencial  ou  calamitosa;  2.  Prazo  máximo  de  180  dias,  ininterruptos  e  consecutivos,  contados  da
ocorrência da emergência ou da calamidade; 3. Vedação à prorrogação contratual (13).

Segundo  relata  Ronny  Charles  Lopes  de  Torres,  o  legislador  reforçou  as  exigências  para  a  dispensa  nos  casos  de
emergência  ou  calamidade  –  pois  anteriormente,  no  Decreto­Lei  nº  2.300/86,  a  redação  deste  dispositivo  era  muito
menos  rigorosa.  O  que  se  buscou  evitar  foram  “os  excessos  praticados  por  alguns  administradores,  que  usavam
situações de ‘calamidade’ para evitar generalizadamente a realização de procedimento licitatório” (14).

Não  será  toda  situação  que  venha  a  causar  surpresa,  portanto,  capaz  de  promover  a  opção  do  gestor  em  dispensar  a
licitação com base no aludido dispositivo legal. Como bem afirma Alexandre Santos de Aragão,

A  contratação  realizada  para  evitar  esse  risco  deve  se  limitar  a  atender  às  necessidades  emergenciais  da
Administração  Pública,  não  às  suas  necessidades  permanentes,  por  mais  relevantes  que  sejam  [...].  É  muito
comum ocorrer a chamada “emergência fabricada” pela negligência dos agentes públicos responsáveis pela gestão
dos contratos (15).

É  relevantíssima  a  percepção  de  que  a  lei  não  visa  permitir  ao  administrador  contratar  diretamente  por  dispensa  de
licitação  a  seu  bel­prazer.  Mas,  pelo  contrário,  busca  solucionar  uma  situação  extraordinária,  que  não  podia  ser
vislumbrada pelo gestor público para que, anteriormente, preparasse o devido processo licitatório para dirimi­la.

No ponto, importante asseverar que a desídia administrativa, ou as situações emergenciais planejadas pelo gestor público
chegaram, em um determinado momento, a não caracterizar justificativa para a dispensa de licitação.

A situação emergencial ou calamitosa que legitima a contratação direta, primeiro requisito, é aquela cuja ocorrência
escape  às  possibilidades  normais  de  prevenção  por  parte  da  Administração  e  que,  portanto,  não  possa  ser
imputada à desídia administrativa, à falta de planejamento ou à má gestão dos recursos disponíveis (16).

O próprio Tribunal de Contas da União, em orientações anteriores, asseverava que “a contratação direta com fundamento
em  situação  emergencial  deve  decorrer  de  evento  incerto  e  imprevisível,  e  não  da  falta  de  planejamento  ou  desídia
administrativa do gestor” (17).

Historicamente,  então,  a  Corte  de  Contas  defendia  que  era  “incabível  a  aplicação  do  art.  24,  IV,  da  Lei  nº  8.666;93  a
situações de emergência resultantes da falta de planejamento, incúria ou inércia administrativa” (18), restando, por muito
tempo pacífico o entendimento de que “a falta de planejamento do administrador não é capaz de justificar a contratação
emergencial” (19).

Veja­se, ademais, que as recomendações do TCU eram no sentido de que não se procedesse à dispensa licitatória pela
mera atuação omissa do administrador em não se preparar para uma determinada situação:

[...] atente para o fato de que a dispensa de licitação para serviços regulares da entidade [...] com base em situação
de  emergência  (art.  24,  inciso  IV,  da  Lei  nº  8.666/1993),  que,  no  entanto,  resultou  de  inércia  ou  omissão
administrativa  na  adoção  tempestiva  de  providências  voltadas  para  a  realização  de  procedimento  licitatório
ordinário, não é admitida pela jurisprudência desta Corte, podendo sujeitar o responsável às sanções previstas em
lei; (20)

Para  a  realização  da  contratação  emergencial,  prevista  no  art.  24,  inciso  IV,  da  Lei  nº  8.666/1993,  deve  ficar
demonstrada  a  concreta  potencialidade  do  dano,  devendo  a  contratação  direta  ser  via  adequada  e  efetiva  para
eliminar o risco, não derivando de eventual desídia do administrador. (21)

[…] a jurisprudência do Tribunal é rica no sentido de considerar irregular a contratação tida como emergencial, por
dispensa de licitação, sempre que não esteja presente o elemento da imprevisibilidade dos acontecimentos futuros,
conforme Acórdãos TCU Nº 260/2002, 348/2003, 690/2005 e 771/2005, todos da Segunda Câmara e o 343/2008
Plenário. (22)

Vale  lembrar  que  na  Decisão  Plenária  nº  347/94  este  Tribunal  firmou  entendimento  no  sentido  de  que  são
pressupostos na aplicação do caso de dispensa de licitação preconizado no art. 24, inciso IV, da Lei nº 8.666/93,
que  a  situação  adversa,  dada  como  de  emergência  ou  de  calamidade  pública,  não  se  tenha  originado,  total  ou
parcialmente,  de  falta  de  planejamento,  da  desídia  administrativa  ou  da  má  gestão  dos  recursos  disponíveis,  ou
seja, que ela não possa, em alguma medida, ser atribuída a culpa ou dolo do agente público que tinha o dever de
agir para prevenir a ocorrência de tal situação. (23)

Em  suma,  o  TCU  se  coadunava  com  o  que  ensinava  a  doutrina,  reservando  a  utilização  da  dispensa  de  licitação  com
fulcro  no  artigo  24,  IV,  da  Lei  nº  8.666/93  apenas  para  casos  outros  que  não  a  omissão  do  administrador  público,  em
tratar de uma iminente situação calamitosa.

os  órgãos  de  fiscalização  devem  coibir  a  utilização  de  casos  de  emergência  “subjetivos”  como  falsas  justificativas
para a burla ao certame, evitando­se a conhecida situação em que o gestor, por sua intencional inoperância ou até
por desídia, permite ou dá azo à situação emergencial para se utilizar da faculdade permitida por este dispositivo
(24).

Mais  recentemente,  contudo,  o  Tribunal  de  Contas  da  União  tem  se  manifestado  segundo  as  bases  lançadas  pelo
Acórdão nº46/2002 do Plenário – em que foram admitidas as dispensas de licitação com base na situação emergencial,
ainda  que  oriundas  da  omissão  de  planejamento  do  gestor,  havendo,  contudo,  a  sua  responsabilização  (25)  –  e  do
Acórdão nº 1.876/2007, também do Plenário do TCU:

A  situação  prevista  no  art.  24,  VI,  da  Lei  nº  8.666/93  não  distingue  a  emergência  real,  resultante  do  imprevisível,
daquela resultante da incúria ou inércia administrativa, sendo cabível, em ambas as hipóteses, a contratação direta,
desde  que  devidamente  caracterizada  a  urgência  de  atendimento  a  situação  que  possa  ocasionar  prejuízo  ou
comprometer  a  segurança  de  pessoas,  obras,  serviços,  equipamentos  e  outros  bens,  públicos  ou  particulares.  A
incúria  ou  inércia  administrativa  caracteriza­se  em  relação  ao  comportamento  individual  de  determinado  agente
público,  não  sendo  possível  falar­se  da  existência  de  tais  situações  de  forma  genérica,  sem  individualização  de
culpas (26).

É de se ver que tal entendimento foi paulatinamente aplicado pelo TCU, até que em meados de 2008, passou­se a ser
acatado com mais frequência.

No entanto, a jurisprudência desta Corte de Contas evoluiu, mediante Acórdão n. 46/2002 – Plenário, no sentido de
que  também  seria  possível  a  contratação  direta  quando  a  situação  de  emergência  decorresse  da  falta  de
planejamento, da desídia administrativa ou da má gestão dos recursos públicos, devendo­se analisar, para fins de
responsabilização, a conduta do agente público que não adotou tempestivamente as providências cabíveis. (27)

Após  evolução  jurisprudencial  desta  Corte,  perfilhada  pelo  Acórdão  nº  46/2002  do  Plenário,  e  aplicada  no  âmbito
dos Acórdãos nº 2369/2009 e 285/2010 do Plenário e do Acórdão nº 3521/2010 da Segunda Câmara, passou­se a
admitir  a  aplicação  do  dispositivo  em  comento  mesmo  em  casos  decorrentes  de  incúria  ou  negligência
administrativa,  porque  “a  inércia  do  servidor,  culposa  ou  dolosa,  não  pode  vir  em  prejuízo  de  interesse  público
maior a ser tutelado pela Administração”. Nesse caso, devendo­se apurar a responsabilidade do agente público que
não adotou tempestivamente as providências a ele cabíveis. (28)

A jurisprudência do TCU é pacífica sobre a matéria. Para caracterizar situação emergencial passível de dispensa de
licitação, deve restar evidente que a contratação imediata é a via adequada e efetiva para eliminar iminente risco de
dano ou de comprometimento da segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou
particulares. A emergência, per si, é suficiente para justificar a dispensa do processo licitatório. […] Nos termos da
Lei  8.666/1993,  além  do  cenário  de  urgência,  a  contratação  direta  deve  se  restringir  aos  bens  necessários  ao
atendimento  da  situação  calamitosa.  […]  Entretanto,  ainda  que  comprovada  a  necessidade  de  atendimento
imediato  a  determinada  situação,  cumpre  avaliar  eventual  incúria  ou  inércia  administrativa  causadora  da  situação
calamitosa,  o  que  pode  ensejar  responsabilização  dos  gestores  faltosos.  É  necessário,  dessa  forma,  estabelecer
corretamente as linhas de responsabilidades, de modo a divisar a conduta daqueles que concorreram para originar
a situação emergencial e, eventualmente, de agentes que apenas atuaram para elidir o risco de dano. (29)

Por fim, e segundo atualmente se tem visto nas decisões da Corte de Contas, o administrador que der causa à dispensa
de  licitação  com  fulcro  no  artigo  24,  IV,  da  Lei  nº  8.666/93,  poderá  proceder  à  contratação  direta,  mesmo  que,  e  em
situação jurídica inafastável, venha a ser responsabilizado por omissão e falta de planejamento (30).

Atualmente,  portanto,  entende­se  que  a  emergência  provocada  enseja  a  responsabilidade  do  agente  público  que  a
causou,  mas,  com  vistas  a  tutelar  o  interesse  público  em  resolver  a  situação  emergencial  ou  calamitosa,  poderá  a
Administração  Pública  sanar  a  situação  mediante  a  dispensa  de  licitação  com  fulcro  no  artigo  24,  inciso  IV,  da  Lei  nº
8.666/93.

Notas

(1) NIEBUHR, Joel de Menezes.Licitação pública e contrato administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 84.

(2) Art. 3º, da Lei nº 8.666/93 – A licitação destina­se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a
seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será
processada  e  julgada  em  estrita  conformidade  com  os  princípios  básicos  da  legalidade,  da  impessoalidade,  da
moralidade,  da  igualdade,  da  publicidade,  da  probidade  administrativa,  da  vinculação  ao  instrumento  convocatório,  do
julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.
(3)  TELLES,  Antônio  A.  de  Queiroz.  Bens  insuscetíveis  de  licitação  no  direito  brasileiro.  São  Paulo:  Revista  dos
Tribunais, 1985. p. 60.

(4) TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de licitações públicas comentadas. Salvador: JusPodivm, 2010, p. 114.

(5) NIEBUHR, Joel de Menezes. Dispensa e inexigibilidade de licitação pública. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 41.

(6) Idem, p. 41.

(7) CUNHA, Bruno Santos; CARVALHO, Thiago Mesquita Teles de. Súmulas do TCU. Salvador: JusPodivm, 2014, p. 47.

(8)  JUSTEN  FILHO,  Marçal.  Curso  de  direito  administrativo.  São  Paulo:  Saraiva,  2005.  p.  344.  apud  TORRES,  Ronny
Charles Lopes de. Leis de licitações públicas comentadas. Salvador: JusPodivm, 2010. p. 114.

(9) DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2012. p. 391.

(10) CUNHA, Bruno Santos; CARVALHO, Thiago Mesquita Teles de. Súmulas do TCU. Salvador: JusPodivm, 2014, p. 52.

(11) DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2012. p. 393.

(12) DOTTI, Marinês Restelatto.Contratação emergencial e desídia administrativa. Brasília: Revista da AGU, Ano IV, n.
6, abr. 2005, p.112.

(13) TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de licitações públicas comentadas. Salvador: JusPodivm, 2010. p. 194.

(14) TORRES, Ronny Charles Lopes de.Leis de licitações públicas comentadas. Salvador: JusPodivm, 2010, p. 194.

(15) ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 308.

(16) FURTADO, Lucas Rocha. Curso de licitações e contratos administrativos. São Paulo: Atlas, 2001. p. 73.

(17) TCU, Acórdão nº 3267/2007, Primeira Câmara, Sessão 16/10/2007.

(18) TCU, Decisão nº 347/1994, Plenário.

(19) TCU, Decisão nº 300/1995, Segunda Câmara, Dou 28/9/1995.

(20) TCU, Acórdão nº 1.327/2007, Plenário, Dou 6/7/2007.

(21) TCU, Acórdão nº 3.153/2006, Segunda Câmara, Dou 31/10/2006.

(22) TCU, Acórdão nº 1.030/2008, Plenário, Dou 6/6/2008.

(23) TCU, Acórdão nº 45/2010, Plenário, Dou 24/11/2010.

(24) TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de licitações públicas comentadas. Salvador: JusPodivm, 2010. p. 118.

(25) “O  reconhecimento  da  situação  de  emergência,  então  realmente  existente,  não  implica  convalidar  ou  dar  respaldo
jurídico à conduta omissiva dos administradores da entidade, a quem cabe toda a responsabilidade pela não­realização
da licitação em momento oportuno.” – TCU, Acórdão nº 46/2002, Plenário, Dou 8/3/2002.

(26) TCU, Acórdão nº 1.876/2007, Plenário, Dou 14/9/2007.

(27) TCU, Acórdão nº 3521/2010, Segunda Câmara, Dou 13/7/2010.

(28) TCU, Acórdão nº 287/2011, Segunda Câmara, Dou 28/1/2011.

(29) TCU, Acórdão nº 1217/2014, Plenário, Dou 14/5/2014.

(30) No  mesmo  sentido,  válida  a  leitura  da  Orientação  Normativa  nº  11  de  1/4/2009,  da  Advocacia  Geral  da  União:  “A
contratação  direta  com  fundamento  no  inc.  IV  do  art.  24  da  Lei  nº  8.666,  de  1993,  exige  que,  concomitantemente,  seja
apurado se a situação emergencial foi gerada por falta de planejamento, desídia ou má gestão, hipótese que quem lhe
deu causa será responsabilizado na forma da lei”.

Detalhes do Documento

Data: 25/06/2015
Publicado em: Boletim Governet de Licitações e Contratos ­ nº 123 ­ Julho/2015 ­ Pág. 635 •

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