CONTRATO BANCÁRIO. LIMITAÇÃO DOS JUROS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA A FUNDAMENTO DA DECISÃO ORA AGRAVADA. SÚMULA 287 DO STF. REPERCUSSÃO GERAL NÃO EXAMINADA EM FACE DE OUTROS FUNDAMENTOS QUE OBSTAM A ADMISSÃO DO APELO EXTREMO. AGRAVO DESPROVIDO.
DECISÃO: Trata-se de agravo nos próprios autos objetivando a
reforma de decisão que inadmitiu recurso extraordinário, manejado com arrimo na alínea b do permissivo constitucional, contra acórdão que assentou, verbis:
“APELAÇÃO - AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO
BANCÁRIO - RELAÇÃO DE CONSUMO - AUSÊNCIA DE CONTRATO NOS AUTOS - LIMITAÇÃO DOS JUROS - POSSIBILIDADE - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - CUMULAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - REPETIÇÃO DO INDÉBITO - FORMA SIMPLES. Cuidando-se de relação de consumo e havendo pedido do consumidor, a revisão do contrato pode ser realizada (art. 6º, V, primeira parte, do CDC), de sorte a abranger as cláusulas contratuais abusivas. É permitido à instituição financeira aplicar taxas de juros remuneratórios superiores às limitações fixadas pelo Decreto 22.626/33 (12% ao ano), em razão da edição da Lei 4.595/64, desde que não reste claramente demonstrada a exorbitância do encargo. Precedentes STJ. Se o contrato celebrado pelas partes não foi juntado aos autos, ou foi juntada apenas a primeira página, os juros remuneratórios passam a ser limitados a 12% ao ano, a fim de evitar prejuízo ao mutuado, que poderia ter pactuado juros menores à taxa do mercado. A capitalização dos juros é vedada, mesmo quando convencionada entre as partes, salvo as exceções expressamente previstas na Lei. Na forma da Súmula 264 do STJ, o percentual a ser cobrado a título de comissão de permanência possui dois limites: o primeiro respeita a previsão contratual; a segunda baliza é a taxa utilizada no mercado, que somente é aplicada na hipótese de lacuna do ajuste ou do contrato fixar percentual maior. A cobrança da comissão de permanência durante o período de inadimplemento contratual, não pode ser cumulada com correção monetária, juros remuneratórios e moratórios, nem com multa contratual. Precedentes do STJ. As quantias indevidamente cobradas devem ser restituídas. No entanto, a repetição deve ser feita de forma simples, ante a ausência de má-fé por parte da instituição financeira, que agiu respaldada nas cláusulas constantes do contrato celebrado entre as partes. DES. TIAGO PINTO: CÉDULA DE CRÉDITO - BANCÁRIO JUROS LIMITAÇÃO A 12% - INVIABILIDADE- CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS - APLICAÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 2.170-36/2001 - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA – MANUTENÇÃO SEM CUMULAÇÃO COM DEMAIS ENCARGOS. Os Tribunais Superiores já firmaram entendimento de que as instituições financeiras não estão abrangidas pelas limitações impostas pela Lei de Usura, portanto, não há limitação da taxa de juros a 12% a.a. É prevalente o entendimento do STJ no sentido de que após a edição da Medida Provisória n. 1.963-17/2000, reeditada sob o n. 2.170-36/2001, é cabível a cobrança de juros capitalizados em período inferior a um ano nos contratos celebrados após a sua edição (31/3/2000), quando há disposição contratual expressa nesse sentido. A comissão de permanência não pode ser cumulada com outros encargos e seu valor não pode superar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato. DES. ANTÔNIO BISPO: REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO - CDC - APLICABILIDADE – CLÁUSULAS ABUSIVAS - ARTIGO 51 - NULIDADE DE PLENO DIREITO - JUROS REMUNERATÓRIOS - CAPITALIZAÇÃO – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA HONORÁRIOS – SUCUMBÊNCIA – NORMA DO § 3º DO ARTIGO 20 DO CPC – IMPOSITIVIDADE - TABELA DA OAB – VALOR FIXADO PELA ENTIDADE As operações de crédito de qualquer espécie, desde que realizadas entre os bancos, na qualidade de policitantes e seus consumidores, destinatários do dinheiro disponibilizado via contrato de adesão submetem-se à proteção do Código de Defesa do Consumidor. A nulidade de pleno direito determinada no artigo 51 do CDC deve ser declarada não em favor de uma das partes, mas em nome da sociedade, traduzindo-se como um dever do Julgador, decorrente do mesmo espírito que embasa o artigo 187 do CCB, norma que também reconhece que pratica um ilícito aquele que excede manifestamente os limites impostos pelo fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. O CCB, artigo 591, traz regulação sobre a incidência de juros, sendo esse o limite que tem de ser observado nas relações jurídicas de direito privado, sendo inconteste a impropriedade de qualquer regulação originada de dispositivos outros que não a Lei. A lei obriga; as Súmulas, diferentemente, apenas se prestam como orientação e, quando dotadas de efeito vinculante, como o próprio nome diz, geram meros vínculos incapazes de revogar expressa disposição legal. As prescrições originadas desses enunciados, portanto, não têm o condão de obstar a aplicação da lei, o que, se compreendido de outra maneira, implicaria na supressão dos efeitos de legislação editada segundo a forma constitucionalmente estabelecida, equivalendo à revogação da norma ou no mínimo, à negativa de sua vigência. Esta dinâmica além de desrespeitar a separação dos Poderes, cria situação afrontosa ao ordenamento jurídico pátrio, tanto mais que deste ato inibitório se cria uma exceção favorável a uma minoria, que agride também o princípio da isonomia. Por força do artigo 22 incisos VI e VII, artigo 48, XIII e parágrafo 1º do artigo 68, todos da CF/88, o Poder Executivo não detém competência para tratar de questão atinente a matéria financeira, cambial e monetária, bem assim aquelas pertinentes às instituições financeiras e suas operações, por se tratar de competência exclusiva do Congresso Nacional, não se prestando, por isso, as medidas provisórias, para autorizarem a capitalização dos juros. Afasta-se a aplicação do artigo 591 do NCCB segunda parte no caso de relação de consumo, já que a cobrança capitalizada dos juros em qualquer periodicidade afigura-se como prática abusiva e, estando a prestação de serviços financeiros submetida ao rol não exaustivo exposto no artigo 51 do CDC, prevalecem quanto ao tema as estipulações desta norma especial, a qual precedeu a edição do novo código civil (regra geral). A comissão de permanência deve ser substituída pelo INPC, índice que melhor reflete a flutuação da moeda. Diante de relação de consumo pode o magistrado modificar as estipulações concernentes à cobrança de taxas administrativas e qualquer outra iniquidade que venha a ser constatada. A fixação dos honorários de sucumbência deve obedecer ao que determina o § 3º do artigo 20 do CPC. Se o valor da causa for irrisório deve ser aplicada a Tabela da OAB. A tabela da Ordem dos Advogados do Brasil deve ser adotada como um parâmetro mínimo quando do arbitramento da verba patronal, meios de evitar a condenação ao pagamento de quantias insignificantes a este título.”
Nas razões do apelo extremo, sustenta preliminar de repercussão
geral e, no mérito, não aponta quais dispositivos da Constituição Federal teriam sido violados. O Tribunal a quo negou seguimento ao recurso extraordinário por entender que incide o óbice da Súmula 281 do STF.
É o relatório. DECIDO.
Ab initio, a repercussão geral pressupõe recurso admissível sob o
crivo dos demais requisitos constitucionais e processuais de admissibilidade (artigo 323 do RISTF). Consectariamente, se o recurso é inadmissível por outro motivo, não há como se pretender seja reconhecida “a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso” (artigo 102, § 3º, da Constituição Federal). A agravante não atacou o fundamento da decisão agravada relativo ao óbice da Súmula 281 do STF. Esta Suprema Corte firmou jurisprudência no sentido de que a parte tem o dever de impugnar os fundamentos da decisão agravada, sob pena de não ter sua pretensão acolhida, por vedação expressa do enunciado da Súmula 287 deste Supremo Tribunal Federal, de seguinte teor: “Nega-se provimento ao agravo, quando a deficiência na sua fundamentação, ou na do recurso extraordinário, não permitir a exata compreensão da controvérsia”. Nesse sentido, colacionam-se os seguintes julgados:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DEVER DE IMPUGNAR TODOS OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INOBSERVÂNCIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 287. INOVAÇÃO RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. I - O agravo não atacou os fundamentos da decisão que inadmitiu o recurso extraordinário, o que torna inviável o recurso, conforme a Súmula 287 do STF. Precedentes. II - O argumento expendido no presente recurso referente à suposta admissibilidade recursal com base no art. 102, III, c, da Constituição traduz inovação recursal, haja vista não ter sido mencionada nas razões do apelo extremo. III - Agravo regimental improvido.” (ARE 665.255-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe de 22/5/2013).
“Agravo regimental no agravo de instrumento. Processual.
Ausência de impugnação de todos fundamentos da decisão agravada. Óbice ao processamento do agravo. Precedentes. Súmula nº 287/STF. Prequestionamento. Ausência. Incidência da Súmula nº 282/STF. 1. Há necessidade de impugnação de todos os fundamentos da decisão agravada, sob pena de se inviabilizar o agravo. Súmula nº 287/STF. 2. Ante a ausência de efetiva apreciação de questão constitucional por parte do Tribunal de origem, incabível o apelo extremo. Inadmissível o prequestionamento implícito ou ficto. Precedentes. Súmula nº 282/STF. 3. Agravo regimental não provido.” (AI 763.915-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe de 7/5/2013).
Ex positis, DESPROVEJO o agravo, com fundamento no artigo 21, §
1º, do RISTF. Publique-se. Brasília, 15 de setembro de 2016. Ministro LUIZ FUX Relator Documento assinado digitalmente