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APRESENTAÇÃO

O que é e o que
pretende este livro?
Mais um livro sobre alfabetização? Ainda discussões sobre métodos de
alfabetização?
Supondo que leitores e leitoras estarão se fazendo essas perguntas – eu
me faria essas perguntas tendo em mãos um livro com um título deste, de
uma autora que tanto já publicou sobre o tema... –, procuro nestas primeiras
palavras respondê-las, situando este livro na minha trajetória de estudiosa
e pesquisadora da alfabetização e do letramento. Tomo para isso, como se
verá, três textos que me parecem ser, nessa trajetória, marcos representativos
de momentos que precedem este livro.
Este livro é fruto de décadas de reflexões sobre a escola pública. Nela
iniciei minha vida profissional, antes mesmo de graduada na licenciatura em
Letras, e, para a jovem de classe média, que cursara todo o ensino básico em
escola privada, essa vivência da escola pública representou um verdadeiro
rito de passagem: momento em que o objetivo restrito de ensinar português
a “semelhantes”, que era o que minha formação deixava supor que me cum-
pria fazer, converteu-se no objetivo desafiador de compreender crianças de
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camadas populares, as características dos contextos escolares que lhes eram


oferecidos, as diferenças nos usos da língua e nos significados e sentidos
que os textos tinham para elas, as razões das dificuldades que enfrentavam
para se alfabetizar...
Esse objetivo continuou a me guiar na vida universitária, em que leituras,
pesquisas, docência, publicações sempre foram marcadas pela reflexão sobre
o ensino para as crianças das camadas populares, e pela busca de respostas
para insistentes perguntas: por que crianças das camadas populares recebem
uma educação de pouca qualidade? Por que passamos décadas e décadas
lutando pela qualidade da educação pública e nunca conseguimos atingir
essa qualidade? É possível ter qualidade na educação pública? Como? Quais
os caminhos?
Naturalmente, considerando minha formação em Letras, essa reflexão e
essas perguntas focalizaram o ensino e a aprendizagem da língua materna, e
foram de certa forma inicialmente compartilhadas no livro que publiquei nos
anos 1980: Linguagem e escola: uma perspectiva social. O que particularmente
me desafiava naquele momento eram os problemas das relações oralidade-
escrita em diferentes grupos sociais e suas consequências e interferências na
aprendizagem da língua escrita, desafio que se foi dirigindo progressivamente
para a questão que se revelava fundamental e determinante: a aprendizagem
inicial da língua escrita, a alfabetização.
Naqueles mesmos anos 1980, com a chegada entre nós do “construti-
vismo”, as polêmicas e divergências sobre alfabetização, sobre métodos de
alfabetização, já presentes nas décadas anteriores, recrudesceram – disso se
falará no primeiro capítulo deste livro. O artigo “As muitas facetas da alfa-
betização”, publicado em 1985, no número 52 dos Cadernos de Pesquisa,
pode ser considerado o primeiro marco em minha trajetória de estudiosa
e pesquisadora da alfabetização: ele representa uma primeira tentativa de
compreender os argumentos em defesa de diferentes posições sobre o pro-
cesso de alfabetização, o que me levou a sugerir as “muitas facetas” desse
processo e a possibilidade não de opô-las, mas de conciliá-las.
Passados quase 20 anos, o segundo marco: o artigo de 2004, “Letra-
mento e alfabetização: as muitas facetas”, publicado na Revista Brasileira de
Educação, n. 25; um contraponto, como o defini, ao artigo anterior, fruto
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de novas leituras, novas pesquisas, novas reflexões, que me levaram a propor


uma reorganização das “muitas facetas” em duas dimensões, indissociáveis,
mas diferentes em sua natureza e processos de aprendizagem, portanto,
também em processos de ensino: alfabetização e suas múltiplas facetas, e
letramento, também em suas múltiplas facetas.
Mas ainda não me pareciam suficientemente claros os processos de apren-
dizagem inicial da língua escrita, envolvendo alfabetização e letramento,
como também não me pareciam contraditórias as posições a favor deste ou
daquele método ou a favor de nenhum método. Para melhor compreender
processos e posições, busquei dois caminhos que pude trilhar graças à apo-
sentadoria, no início deste século.
Por um lado, leitora obsessiva que sempre fui (tenho fixadas em quadro,
na minha biblioteca, as palavras de Jorge Luis Borges no poema “O leitor”:
“Que outros se vangloriem das páginas que escreveram; eu me orgulho das
que li”), avancei no caminho da ampliação e aprofundamento do conhe-
cimento sobre a aprendizagem da língua escrita: dediquei-me à busca e à
leitura exaustivas da produção científica sobre essa aprendizagem, nacional
e internacional, procurando identificar e esclarecer as “muitas facetas” nas
áreas da Psicogênese, da Psicologia Cognitiva, da Linguística, da Psicolin-
guística, da Fonologia, da Sociolinguística... O grande número de referên-
cias bibliográficas e de notas de rodapé ao longo e ao fim deste livro, que
o leitor há de perdoar (e agora cito Alberto Manguel, em “Uma história da
leitura”: “Todo escrito depende da generosidade do leitor”), reflete não só a
intensidade dessas leituras, mas também o grande apoio que elas me deram
para chegar à proposta que neste livro é feita como resposta à questão dos
métodos de alfabetização, anunciada no título deste livro.
Por outro lado, e sentindo que era necessário articular teorias e práticas,
busquei o caminho do retorno à escola pública, onde tinha iniciado minha
vida profissional: era preciso, depois de quase 40 anos de vida universitá-
ria, reviver o cotidiano e a realidade da escola pública, das salas de aula,
das práticas de alfabetização. Durante cinco anos atuei como voluntária
em uma creche comunitária, colaborando com as professoras, moças da
comunidade, para o desenvolvimento e aprendizagem de crianças, então
de 0 a 6 anos. Em seguida, tendo a creche encerrado suas atividades
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em decorrência de dificuldades de administração e manutenção, venho


atuando como voluntária, já há mais de 8 anos, na rede pública de um
município mineiro, desenvolvendo, ao lado de gestores e professores, um
projeto de alfabetização e letramento na educação infantil e séries iniciais
do ensino fundamental, numa inserção de parceria e colaboração, vivendo
“de dentro” as relações teorias-práticas, de que tanto falamos nas instân-
cias de formação de professores, mas que, foi o que concluí, tão pouco
compreendia. O artigo publicado em 2014 nos Cadernos Cenpec (v. 4, n.
2), em que relato essa minha reinserção na escola pública – “Formação de
rede: uma alternativa de desenvolvimento profissional de alfabetizadores/
as” –, é o terceiro e mais recente marco em minha trajetória: articula-se
com os dois artigos citados anteriormente, de certa forma evidenciando
a prática dos conceitos que neles eu propunha.
Posso agora responder às perguntas que dão título a esta apresentação.
O que é este livro? Este livro é resultado da trajetória resumidamente
descrita antes: trajetória de muita leitura e reflexão, entre as paredes da minha
biblioteca, sobre a aprendizagem e o ensino da língua escrita, ao mesmo
tempo confrontadas com a vivência dessa aprendizagem e ensino entre as
paredes de escolas públicas, em que teorias e resultados de pesquisa foram
e têm sido confrontados com práticas de professores/as reais, com crianças
reais, em contextos reais.
O que este livro pretende? A expectativa, mais que isso, o desejo e
a esperança é que este livro seja capaz de revelar ao leitor a possibilidade
de articulação entre teorias e resultados de pesquisa de vários campos de
conhecimento sobre a alfabetização que, voltando-se cada um para a faceta
que privilegia, podem e devem associar-se na orientação de um processo de
aprendizagem e ensino da língua escrita em que as “muitas facetas” atuem
integradamente: em lugar de método de alfabetização, alfabetização com
método, como proponho no último capítulo.
Talvez o leitor estará se fazendo ainda uma terceira pergunta: uma autora
que tanto insiste na indissociabilidade entre alfabetização e letramento, por
que este livro só aborda a alfabetização? E o letramento? A resposta será
encontrada no primeiro capítulo, permeia todo o livro e está claramente
explicitada no capítulo final: que seja convincente...
Apresentação • 13

AGRADECIMENTOS
Nas palavras anteriores, situei este livro em minha trajetória de estu-
diosa e pesquisadora sobre a alfabetização. Trajetórias não são trilhadas
em solidão; nelas, são companheiros e parceiros todos os com quem con-
vivemos, com quem pesquisamos, com quem trocamos ideias, com quem
compartilhamos dúvidas. Assim, não há como agradecer individualmente
a todos que, de uma forma ou de outra, comigo viveram e têm vivido
o compromisso e a responsabilidade com a educação das crianças das
camadas populares nas escolas públicas. Como representantes de todos a
quem tanto devo, nomeio os colegas do Centro de Alfabetização, Leitura
e Escrita – Ceale – da Faculdade de Educação da Universidade Federal
de Minas Gerais, há 25 anos dedicados incansavelmente à pesquisa, à
docência, à colaboração com o poder público na luta pela qualidade da
alfabetização e letramento das crianças brasileiras.
É necessário, porém, destacar dois colegas a quem solicitei leitura crítica
deste livro e que, com admiráveis dedicação e competência, acompanharam
passo a passo sua elaboração, lendo, analisando, criticando cada capítulo:
Artur Gomes de Morais, da Universidade Federal de Pernambuco (ufpe), que
me emprestou seu olhar de profundo conhecedor da Psicolinguística da
Alfabetização; e Sara Mourão Monteiro, da Universidade Federal de Minas
Gerias (ufmg), alfabetizadora por muitos anos, pesquisadora da alfabeti-
zação, formadora de alfabetizadores, que me emprestou sua experiência e
compreensão das relações teorias-práticas em alfabetização.
Recordando o quanto me custou ter acesso à bibliografia tanto nacional
quanto internacional quando escrevia minha tese de livre-docência, nos
distantes anos 1960 (quantos microfilmes solicitei à Biblioteca do Congres-
so, nos Estados Unidos! Vinham pelo correio, e eu os lia penosamente em
máquinas leitoras que projetavam – mal – os artigos em tela!), não posso
deixar de agradecer a estas entidades abstratas, ou aos responsáveis por elas:
às bibliotecas virtuais Scielo e Periódicos Capes, de fundamental importância
para a escrita deste livro, porque me disponibilizaram prontamente, no
conforto de minha mesa de trabalho, artigos da produção científica nacional
e internacional. No entanto, algumas vezes nem mesmo essas admiráveis
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bibliotecas virtuais respondiam à minha obsessão por referências, e então


quem sempre me acudiu, com presteza e boa vontade, e por isso faço a ele
aqui meus agradecimentos, foi meu grande amigo e competente bibliotecário
da Faculdade de Educação da ufmg, Ricardo Miranda, que nunca deixou de
conseguir os documentos que solicitei, por mais raros que fossem.
Agradecimentos profundos devo às professoras da creche comunitária
com quem partilhei, durante meus 5 primeiros anos de retorno à educação
pública, a inserção de crianças pequenas no mundo da escrita, e sobretudo
às professoras com quem, nos últimos 8 anos, venho atuando, lado a lado,
dia a dia, na alfabetização e letramento de crianças da rede de educação do
município de Lagoa Santa (mg) na educação infantil e nos anos iniciais do
ensino fundamental. Sem esta vivência das práticas de alfabetização na rea-
lidade da escola pública eu não saberia compreender com clareza as relações
entre teorias e práticas, definir a contribuição, ou não, que aquelas dão a
estas, as correções que estas impõem àquelas. Sei que o leitor identificará,
ao longo da leitura deste livro, a presença nele das crianças, das professoras,
das práticas pedagógicas nas escolas públicas do município de Lagoa Santa.
Este livro levou alguns anos a ser escrito... Posso garantir que sem o
apoio, o estímulo, a incansável paciência de meus editores Jaime Pinsky
e Luciana Pinsky, este livro talvez não tivesse chegado ao fim... Agradeço
enormemente a eles o permanente incentivo, ajudando-me a controlar meu
excessivo perfeccionismo.
É costume que autores agradeçam à família seu apoio durante a produção
de um livro. Neste caso, este agradecimento tem sentido especial, porque o
apoio foi demandado por uma autora, chefe de família, dirigente de “casa
matriz” de filhos e filhas, noras, netos e netas, que aceitaram meses e meses
de uma biblioteca de portas fechadas, com um aviso pedindo silêncio... A
essa família devo a possibilidade e oportunidade de ter escrito este livro; é
a ela que ele é dedicado.

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