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Casa da Fonte

 
 
 
 
 
 

Desenvolvimento Infantil &


 
 
 

Alterações Comportamentais
 
 
 
na Infância
Educadora: Ana Cláudia Ferreira

 
 
 
 
 
 
 
 
 

Novembro 2007
Desenvolvimento Infantil & Alterações Comportamentais da Infância    2 

ÍNDICE 
Psicologia do Desenvolvimento ................................................................................ 3 
“Desenvolvimento” e as suas Concepções ........................................................... 3 
Piaget e o Desenvolvimento Cognitivo ................................................................. 5 
Freud e o desenvolvimento ................................................................................ 10 
Erikson e o desenvolvimento psicossocial .......................................................... 15 
A relação Mãe ‐ Filho .......................................................................................... 19 
Alterações Comportamentais da Infância .............................................................. 22 
Depressão Infantil ............................................................................................... 22 
Depressão em Função da Idade ...................................................................... 23 
Perturbações de Ansiedade ................................................................................ 27 
Perturbação de Ansiedade de Separação ....................................................... 28 
Aversão a falar – Mutismo Selectivo .............................................................. 29 
Fobias Específicas ............................................................................................ 29 
Perturbação de Hiperactividade e de Défice de Atenção ................................... 31 
Perturbações da Eliminação ............................................................................... 33 
Enurese ........................................................................................................... 33 
Encoprese ........................................................................................................ 35 
Perturbações do Sono ......................................................................................... 37 
Dificuldades de Aprendizagem ........................................................................... 40 
Perturbação Obsessivo‐compulsivo Infantil ....................................................... 44 
Agressividade e Desobediência .......................................................................... 47 
Perturbação do Comportamento.................................................................... 48 
Efeito de vivências traumáticas na infância e Adolescência ............................... 50 
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Bibliografia .............................................................................................................. 53 
 

 
 

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 

“DESENVOLVIMENTO” E AS SUAS CONCEPÇÕES 

Compreender as mudanças contínuas do ser humano operadas ao longo da vida e 
descobrir  as  razões  dessas  mudanças  tem  constituído  um  desafio  para  a  Psicologia, 
nomeadamente para os psicólogos do desenvolvimento. 
Por  desenvolvimento  entende‐se  o  conjunto  de  mudanças  contínuas  no  ser 
humano ao longo da sua existência. 
O  conceito  de  desenvolvimento  pressupõe  assim  uma  sequência  de  alterações 
graduais  que  levam  a  uma  maior  complexidade  no  interior  de  um  sistema  ou 
organismo.  Na  evolução  de  cada  indivíduo  desenham‐se  estádios  que  seguem  uma 
ordem praticamente imutável, mas o tempo de permanência em cada um deles varia 
conforme o indivíduo. 
A  psicologia  do  desenvolvimento  é  uma  área  especializada  da  Psicologia  que  só 
amadureceu no século XIX. Até à contemporaneidade, era impossível o aparecimento 
desta  área  de  investigação,  devido  aos  estereótipos  que  se  mantinham  acerca  do 
conceito de criança e da pouca importância que lhe era concedida. 
Uns  tinham  uma  visão  negativa  da  infância,  encarando  a  criança  como  uma 
espécie de selvagem quase sem humanidade, incluindo‐a na mesma categoria em que 
mantinham  os  primitivos  e  os  deficientes  mentais.  Outros  consideravam  que  as 
crianças tinham uma mente como a dos adultos, sendo a única diferença entre ambos 
o  crescimento  e  não  o  desenvolvimento;  constituindo  a  criança  como  um  adulto  em 
miniatura. 
Desta  forma,  o  estatuto  próprio  da  criança  não  era  reconhecido,  o  que  tinha 
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reflexos  negativos  na  educação  familiar  e  escolar  que  lhe  exigiam  condutas  muito 
próximas das do adulto, sem que ela pudesse comportar‐se da forma pretendida. 
As  grandes  mudanças  quanto  ao  modo  de  encarar  a  criança  deve‐se  à  teoria 
evolucionista  de  Darwin,  estilhaçadora  da  fronteira  intransponível  entre  animal  e ser 
humano,  abre  caminho  a  uma  nova  perspectiva  em  psicologia  genericamente 
apelidada de organicismo por oposição ao maturacionismo.   

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Maturacionismo:  Gesell  encabeça  a  defesa  do  modelo  maturacionista, 
acreditando que o desenvolvimento se deve fundamentalmente a processos internos 
de maturação do organismo. Segundo o maturacionismo, as diferenças observadas ao 
longo  do  desenvolvimento  ocorreriam  numa  sequência  geneticamente  determinada, 
devendo muito pouco às influências ambientais externas.  
Mecanicismo: Os psicólogos behavioristas (comportamentais) são adeptos de um 
modelo  mecanicista,  segundo  o  qual  o  organismo  humano  reage  passivamente  às 
imposições  do  meio  externo,  que  determinam  as  suas  progressivas  modificações. 
Resumidamente, podemos dizer que psicólogos como Watson e Skinner negligenciam 
qualquer  interferência  de  factores  internos  associados  ao  organismo.  Reduzindo  o 
organismo  ao  binómio  Sujeito=Estímulo‐Resposta,  acreditam  que  as  diferenças 
detectadas na evolução do indivíduo se devem exclusivamente às situações do meio. 
Organicismo:  Os  psicólogos  que  defendem  o  modelo  organicista  assumem  uma 
perspectiva interaccionista, em que consideram que o desenvolvimento é um processo 
dinâmico  em  que  factores  maturacionais,  genéticos  e  da  experiência  externa  se 
combinam no decorrer dos diferentes estádios do indivíduo ao longo da vida.   O 
modelo organicista realça o carácter adaptativo do processo de desenvolvimento, uma 
vez que considera que ao progredir na sequência dos estádios, o organismo dispõe de 
mecanismos  psicológicos  diferentes  e  qualitativamente  superiores  de  intervenção  no 
meio.  Essas  intervenções,  por  sua  vez,  contribuem  para  reorganizar  os  mecanismos 
psicológicos,  fazendo  com  que  o  indivíduo  fique  melhor  apetrechado  para  ajustar 
adequadamente os comportamentos às exigências do meio.  Novembro de 2007

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PIAGET E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO 

Jean  Piaget  elaborou  uma  teoria  do  desenvolvimento  a  partir  do  estudo  da 
inteligência da criança e do adolescente. A sua teoria permitiu que se acabasse com a 
concepção  de  que  a  adolescência  da  criança  era  semelhante  à  do  adulto,  existindo 
entre elas mera diferença quantitativa. 
Segundo  Piaget,  a  inteligência  precede  o  pensamento,  desenvolvendo‐se  por 
etapas  progressivas  que  exigem  processos  de  adaptação  ao  meio.  Deste  modo,  o 
desenvolvimento  pressupõe  a  maturação  do  organismo,  bem  como  a  influência  do 
meio físico e social. 
Para  compreendermos  a  teoria  de  Piaget,  é  necessário  ter  em  conta  alguns 
conceitos: 
9 Esquema: em cada etapa de desenvolvimento  estão presentes esquemas 
mentais, que formam uma estrutura quando coordenados entre si. 
9 Adaptação:  a  inteligência  é  uma  adaptação  ao  meio  ambiente,  feita 
através da assimilação e da acomodação. 
9 Assimilação:  é  o  processo  de  integração  dos  dados  da  experiência  nas 
estruturas do sujeito.  
9 Acomodação: é a modificação constante das estruturas do sujeito para se 
adaptar aos novos elementos provenientes do meio. Entre a assimilação e 
a  acomodação  desenrola‐se  a  coordenação  que  permite  que  ocorra  o 
desenvolvimento intelectual progressivo. 
9 Organização: o pensamento actua de forma organizada e de acordo com o 
meio, isto é, a adaptação ao meio conduz à organização do pensamento e 
o pensamento organizado estrutura melhor os objectos do meio. 
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9 Estádios: são fases ou etapas qualitativamente diferentes por que passa o 
desenvolvimento  intelectual.  O  desenvolvimento  intelectual  ocorre  por 
etapas  sucessivas,  em  que  as  estruturas  intelectuais  se  desenvolvem 
progressivamente. Cada novo estádio representa uma forma de equilíbrio 
cada  vez  maior,  que  permite  uma  adaptação  mais  adequada  às 
circunstâncias. 

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Em  todos  os  estádios  existe  uma  interacção  entre  o  sujeito  e  o  mundo,  feita 
através  da  assimilação  e  da  acomodação.  Estes  dois  mecanismos  possibilitam  a 
construção  das  novas  estruturas  ou  esquemas.  Inicialmente  são  esquemas  de  acção 
que quando interiorizados se transformam em esquemas operatórios. 
O  desenvolvimento  pode  explicar‐se  através  de  diferentes  factores,  como  a 
hereditariedade,  a  maturação  interna,  que  não  actua  sozinha  e  por  isso  é  um  factor 
insignificante. O segundo factor é a experiência física, a acção dos objectos. A lógica da 
criança advém das acções exercidas sobre os objectos. O terceiro factor prende‐se com 
a educação, que por si só é insuficiente, sendo necessária a assimilação por parte da 
criança.  O  quarto  factor  é  a  equilibração,  ou  seja,  o  equilíbrio  entre  os  três  factores 
anteriores. 
O  desenvolvimento  da  inteligência  faz‐se  pelo  interacção  constante  entre  a 
criança e o meio. Piaget distingue quatro estádios de desenvolvimento: 
 
1. Estádio da inteligência sensório‐motora: desde o nascimento até aos 2 
anos.  Neste  estádio  a  criança  não  se  distingue  dos  objectos  que  a  rodeiam,  nem 
compreende  as  relações  entre  os  objectos  independentemente  dela.  Em  vez  de 
palavras e conceitos, a criança serve‐se de percepções e movimentos organizados em 
esquemas de acção. Na presença de um objecto novo, a criança procura compreendê‐
lo pelo uso, sacudindo‐o por exemplo. Durante estes 2 anos, ao nível da 
acção,  a  criança  constrói  noções  fundamentais  para  o 
desenvolvimento ulterior, como a noção de objecto permanente e a 
de causalidade. Se taparmos com um lenço um objecto do interesse do 
bebé, este não afasta o obstáculo para lhe chegar, pois ao desaparecer do seu campo 
perceptivo, o objecto deixou de existir para ele. No fim deste período, já compreende 
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a  permanência  do  objecto,  mesmo  quando  é  escondido  em  sítios  diferentes.  Aos  18 
meses, o bebé já é capaz de chegar aos objectos que quer, isto é, já é capaz de fazer 
relações objectivas de causalidade, na medida em que se serve de meios apropriados 
para  alcançar  os  seus  fins.  Trata‐se  de  uma  causalidade  egocêntrica,  ligada  à  acção 
própria,  caracterizada  pela  ausência  de  relações  objectivas  entre  o  meio  e  o  fim  a 
atingir. 

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2. Estádio  das  representações  pré‐operatórias:  dos  2  aos  7  anos.  A 
entrada neste estádio é marcada pelo aparecimento da função semiótica ou simbólica, 
que  assinala  o  início  do  pensamento.  A  função  simbólica  é  a  capacidade  de  criar 
símbolos para substituir ou representar os objectos e de lidar mentalmente com eles. 
A  linguagem,  a  imagem  mental  e  o  jogo  simbólico  são  manifestações  da  função 
simbólica.  A  linguagem  permite  à  criança  comunicar  com  os  outros.  Neste  período  a 
criança  é  muito  egocêntrica,  pelo  que  o  diálogo  é  inexistente,  mesmo 
quando brinca com outras crianças, pois fala para si sem se interessar 
pelas respostas dos outros. Neste sentido, devemos falar de monólogo 
colectivo,  em  vez  de  diálogo.  O  jogo  simbólico  também  é  marcado  pelo 
egocentrismo, pois a criança torna o real no real dos seus desejos, transformando os 
objectos  naquilo  que  quer.  A  esta  capacidade  da  criança  chamamos  realismo.  A 
emissão  de  palavras  significa  que  a  criança  já  possui  imagens  mentais.  Piaget  fala  a 
este  respeito  de  pré‐conceitos,  na  medida  em  que  a  criança,  não  dispondo  ainda  de 
esquemas  de  generalização,  é  incapaz  de  distinguir  com  nitidez  “todos”  de  “alguns”. 
Neste  período,  os  esquemas  de  acção  são  substituídos  por  esquemas  de 
representação,  assinalando  o  início  da  inteligência  representativa  ou  pensamento.  A 
criança manifesta curiosidade por aquilo que a rodeia, mas interpreta as coisas sempre 
em  função  de  si,  o  que  torna  o  pensamento  incipiente  e  altamente  egocêntrico.  O 
pensamento  que  começa  neste  período  apresenta  as  seguintes  características:  o 
antropomorfismo,  que  se  refere  à  visão  animista  ou  antropomórfica  da  criança, 
característica  deste  período,  a  criança  concebe  as  coisas  como  vivas  e  dotadas  de 
intenção  e  sentimentos,  à  semelhança  do  que  se  possa  com  os  seres  humanos.  O 
antropomorfismo  deste  pensamento  também  se  manifesta  na  noção  de  causalidade 
da  criança.  Em  face  dos  acontecimentos,  a  criança  pergunta:  “o  que  é?”;  “porquê?”. 
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Estas questões não exigem apenas resposta causal, mas também final, na medida em 
que  ela  entende  que  tudo  é  orientado  para  um  fim.  O  raciocínio  da  criança  procede 
por  vaga  analogia  associativa.  Isto  significa  que  criança  vai  recorrer  a  uma 
generalização ainda imprecisa e sem controlo. Por exemplo, se a criança vir um tigre 
na  televisão  vai  dizer  que  se  trata  de  um  gato,  dadas  as  suas  características  serem 
idênticas  às  de  um  gato.  Piaget  designa  este  tipo  de  raciocínio  de  raciocínio 

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transductivo.  O  raciocínio  dedutivo  é  também  próprio  desta  fase  da  vida  da  criança. 
Se,  nesta  fase,  colocarmos  em  fila  oito  fichas  brancas,  separadas  por  pequenos 
intervalos  e  pedirmos  a  uma  criança  que,  com  fichas  pretas,  construa  uma  fila  igual, 
veremos que fará uma fila do mesmo comprimento da branca, mas sem se preocupar 
com  a  correspondência  termo  a  termo.  Conclui‐se  assim,  que  a  criança  avalia  a 
quantidade pela percepção do espaço ocupado, ou seja, pela configuração global, sem 
se deter na análise das relações entre os objectos.  
3. Estádio  das  operações  concretas:  dos  7  aos  11  anos.  Nesta  fase,  as 
estruturas  intuitivas  transformam‐se  num  sistema  de  relações  de  tipo  operatório,  o 
que significa que as acções interiorizadas ou acções mentais que já se manifestam no 
período precedente tornam‐se agora reversíveis e designam‐se por operações. Piaget 
realizou  várias  experiências  para  estudar  a  reversibilidade  de  pensamento,  presente 
nas operações que as crianças são capazes de efectuar neste estádio: 
9 Conservação:  se  deitarmos  em  2  copos  iguais  a  mesma  quantidade  de 
água e se fizermos notar a uma criança de 4 ou 5 anos que o líquido se encontra 
ao  mesmo  nível  nos  2  copos,  ela  admiti‐lo‐á  imediatamente.  Porém,  se,  em 
seguida, deitarmos o líquido de um dos copos para um recipiente mais estreito e 
mais alto e lhe perguntarmos qual é o que contém mais água, ela apontará para 
o recipiente alto e estreito. Isto significa que a criança no estádio anteriormente 
referido  ainda  não  atingiu  o  nível  operatório,  uma  vez  que  não  é  capaz  de 
regressar mentalmente ao ponto inicial. As suas “operações” não possuem ainda 
a reversibilidade. Quando uma criança atinge o pensamento operatório, afirmará 
sem reservas que a quantidade de líquido não se alterou pelo facto de ter sido 
mudado de um vaso para o outro. Poderá mesmo servir‐se de argumentos para 
justificar a sua resposta. São três os tipos de argumentos a que pode recorrer: o 
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da identidade, o da reversibilidade e o da compensação. Identidade→ é a mesma 
água porque não se pôs nem se tirou nenhuma. Reversibilidade→ 
é  a  mesma água  porque,  se  voltasse  a  deitar  no  copo  pequeno, 
ficava  como  dantes.  Compensação→  é  a  mesma  água  porque 
este copo é mais alto mas também é mais estreito. Quando 
uma criança justifica de uma destas formas, significa que já 

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está de posse do esquema da conservação da quantidade. Ainda neste período, 
adquirirá a conservação de peso, de volume, etc. 
9 Classificação:  se  colocarmos  uma  criança,  ainda  em  estádio  pré‐
operatório  perante  brinquedos  ou  figuras  de  animais,  em  que  haja  oito  cães 
“caniche”, dois cães “terrier” e três gatos e lhe pedirmos para fazer colecções de 
animais, ela fará três grupos simples, um de “terriers”, outro de cães “caniches” 
e  outro  de  gatos.  A  criança  já  tem  assim  a  noção  de  inclusão  em  classes.  A 
confusão entre “todos” e “alguns”, característica dos períodos anteriores, tende, 
portanto,  a  desaparecer  nesta  fase.  Contudo,  as  estruturações  lógicas 
apresentam  ainda  algumas  limitações.  As  operações  são  concretas,  recaindo 
directamente  sobre  os  objectos  e  situações  actuais,  não  sendo  ainda  capaz  de 
raciocinar sobre situações hipotéticas. 
4. Estádio  das  operações  formais:  dos  11  aos  15  anos.  Ao  contrário  do 
anterior  estádio,  durante  a  adolescência  desenvolve‐se  a  inteligência  formal,  que 
significa a entrada num domínio novo que é o do pensamento puro. Assim, nesta fase, 
o  adolescente  é  capaz  de  raciocinar  sobre  hipóteses  abstractas,  ou  seja,  proposições 
enunciadas verbalmente, ou através de outros símbolos, a partir dos quais se efectuam 
os encadeamentos típicos da lógica formal. 
Desta  forma,  o  adolescente  já  é  capaz  de  raciocinar 
dedutivamente  a  partir  de  hipóteses,  mas  também  é  capaz  de 
formular hipóteses para resolver um problema, as quais compara 
de  forma  sistemática  na  experiência,  até  encontrar  a  solução 
explicativa  mais  adequada.  Ao  mesmo  tempo,  surge  também  a 
possibilidade  de  compreender  princípios  abstractos, 
demonstrando  uma  grande  abertura  a  conceitos  científicos  e 
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filosóficos, que não demonstrava qualquer interesse em fases anteriores. 
Esta  nova  capacidade  para  pensar abstractamente  leva  o  adolescente a  fazer  da 
sua  própria  reflexão  um  objecto  sobre  o  qual  pode  reflectir.  Esta  atitude  reflexiva  é 
imbuída de um novo egocentrismo intelectual que se manifesta na convicção de que o 
seu pensamento está apto a resolver todos os problemas e de que se as suas ideias são 
indubitavelmente as melhores. O jovem actua como se os outros e o mundo tivessem 

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que se organizar em função dos seus pontos de vista, que apresenta e defende por via 
lógico‐argumentativa. Nesta fase, o adolescente é capaz de se colocar na perspectiva 
do outro, atingindo um novo equilíbrio eu‐mundo.  

FREUD E O DESENVOLVIMENTO  

Assim  como  Piaget  na  perspectiva  cognitiva,  também  Freud  considera  que  a 
compreensão  do  comportamento  exige  uma  análise  dos  fenómenos  psíquicos. 
Contudo,  se  a  perspectiva  cognitiva  encara  as  pessoas  como  processadoras  racionais 
de  informação,  a  perspectiva  psicodinâmica  procura  evidenciar  aspectos  em  que  a 
racionalidade  humana  falha:  enfatiza  as  motivações  inconscientes  e  o  papel 
desempenhado  pelas  vivências  emocionais  infantis  na  estruturação  da  personalidade 
do adulto. Segundo Freud, o nosso aparelho psíquico ou estrutura da personalidade, é 
formado  por  3  componentes  ou  sistemas  motivacionais,  também  designados  por 
instâncias do eu ou instâncias de personalidade, são elas o id, o ego e o superego.  
O  id,  é  constituído  por  todos  os  impulsos  biológicos,  como  a  fome,  a  sede  e  o 
sexo,  que  exigem  satisfação  imediata.  É  o  fundamento  da 
sobrevivência individual e da espécie. 
O  superego,  é  formado  pelo  conjunto  de  regras  e  proibições 
impostas primeiramente pelos pais e depois pela sociedade em geral 
e que foram interiorizados pelo indivíduo. É o fundamento da moral.  
O  ego,  é  o  elemento  decisor  dos  conflitos  travados  entre  o  id  e  o  superego,  é 
portanto, o fundamento racional da personalidade humana. 
Segundo  Freud,  estas  3  instâncias  estabelecem  entre  si  uma  relação  dinâmica, 
muitas  vezes  conflitual,  de  que  resulta  a  conduta  das  pessoas.  Assim,  o 
comportamento  de  umas  pessoas  compreende‐se  pela  supremacia  do  id  e  o 
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comportamento de outras compreende‐se pela supremacia do superego. 
A nível genético, o id é o primeiro elemento. Nasce com a criança, sendo a única 
motivação do bebé nos primeiros meses de vida, o que significa que a energia psíquica 
deriva apenas de tendências instintivas de natureza biológica, cujo único objectivo é a 
satisfação imediata na busca exclusiva do prazer. 

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O ego, de acordo com a teoria psicanalítica, surge relativamente cedo, à medida 
que  a  criança  vai  experienciando  e  se  vai  apercebendo  de  privações  e  recusas  no 
mundo exterior. O ego tem por função orientar as pulsões de acordo com as exigências 
da realidade, tornando possível a adaptação do indivíduo ao mundo externo, de forma 
a  ficar  apto  a  enfrentar  situações  geradoras  de  ansiedade.  Sendo  o  “árbitro”  na  luta 
entre  as  pulsões  inatas  e  o  meio,  o  ego  desenvolve  um  conjunto  de  mecanismos  de 
defesa  que  exercem  um  controlo  inconsciente  sobre  as  pulsões  que  ameaçam  o 
equilíbrio psíquico do indivíduo, canalizando‐as para formas indirectas e substitutivas 
da obtenção do prazer. 
O  superego  constitui  a  moral  do  indivíduo  e  tem  a  sua  origem  na  relação  da 
criança com os pais, que lhe fazem exigências, interdições e ameaças que pesam sobre 
a criança. Este controlo imposto a partir do exterior tende a ser interiorizado, pelo que 
por  volta  dos  7  anos,  o  superego  é  já  uma  instância  interna  que  actua  de  modo 
automático  e  espontâneo.  O  superego  é  formado  então  por  princípios  morais  e 
representa um conjunto de valores nucleares como a honestidade, o sentido de dever 
e de responsabilidade, as obrigações, entre outros. 
Contudo,  o  superego  não  elimina  a  actuação  do  id,  que  se  mantém  activo  ao 
longo  da  vida.  Toda  a  teoria  de  Freud  desenvolve‐se  à  roda  do  conceito  de  energia 
psicossexual ou líbido, cuja proveniência são as pulsões biológicas e instintivas do id. 
Freud defende que o desejo ou busca do prazer psicossexual surge no indivíduo antes 
da puberdade, logo a partir do nascimento. 
O  termo  prazer  psicossexual  é  usado  por  Freud  num  sentido  muito  amplo,  que 
inclui as sensações agradáveis resultantes da estimulação de diversas áreas do corpo e 
considera  que  a  energia  psicossexual  ou  líbido  deriva  de  processos  metabólicos.  Os 
órgãos  envolvidos  na  digestão  e  procriação,  fundamentais  para  a  sobrevivência  do 
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indivíduo e da espécie, são zonas erógenas, ou seja, fontes instintivas de prazer sexual.  
Desde  modo,  a  criança  atravessa  uma  série  de  estádios,  cada  um  dos  quais  se 
associa a sensações de prazer ligadas a uma zona erógena específica. O controlo destas 
sensações  origina  conflitos  cuja  resolução  influencia  a  formação  da  personalidade 
adulta,  pelo  que  para  alcançar  a  maturidade  psicológica,  o  indivíduo  deve  resolver 
positivamente os conflitos próprios de cada etapa. Assim, as pessoas que experienciam 

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um  excesso  de  frustração  ou  de  satisfação  dos  sentimentos  sexuais  de  cada  período 
poderão permanecer psicologicamente presas a esse estádio, fenómeno designado por 
fixação, segundo Freud. 
O  Estádio  oral  decorre  desde  o  nascimento  até  aos  12/18  meses.  Durante  este 
período  a  boca  é  a  principal  fonte  de  prazer,  tornando‐se  numa  zona  erógena,  dado 
que  não  se  presta  apenas  à  satisfação  das  necessidades  alimentares  do  bebé,  como 
também se constitui como fonte de prazer sensual, pelo que nesta fase, seja ou não 
alimento, tudo o que a criança agarra é levado à boca. O seio materno é 
então  fonte  de  grande  satisfação  que  lhe  permite  estabelecer  uma 
relação afectiva de proximidade com a mãe, cuja natureza marca o modo 
como futuramente se relacionará com o mundo. No início deste estádio, a 
criança  vive  um  estado  de  indiferenciação  eu‐mundo  com  o  qual  contacta 
fundamentalmente através da boca e é por isso que durante alguns meses se limita a 
mamar no seio, na chupeta ou no biberão passivamente. Posteriormente, ela própria 
procura  agarrar  qualquer  objecto,  chegando  a  mordê‐lo,  de  acordo  com  o 
desenvolvimento  de  uma  oralidade  mais  agressiva,  para  a  qual  contribui  o 
aparecimento de dentição. 
Segundo  Freud,  a  fixação  neste  estádio  conduz  à  tendência  exagerada  para 
comportamentos  de  gratificação  oral,  como  por  exemplo,  comer,  beber,  beijar  e 
fumar. 
Neste  período,  começa‐se  a  estruturar  a  personalidade,  desenvolvendo‐se 
algumas  características  com  dimensões  bipolares,  de  acordo  com  o  excesso  de 
satisfação ou de desprazer. 
Posteriormente,  Freud  coloca  a  criança  no  Estádio  anal,  que  decorre  dos  12/18 
meses aos 3 anos. Neste período, mais especificamente aos 2 anos, a criança começa a 
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desenvolver  o  controlo  muscular  ligado  à  defecação,  sendo  que  a  descarga  reflexa 


produzida  pela  pressão  nos  músculos  do  esfíncter  anal,  torna‐se  agradável.  Deste 
modo, tanto reter, como expulsar fezes torna‐se numa fonte de prazer, constituindo a 
região anal como a zona erógena desta fase. Também por esta altura, 
os  pais  preocupam‐se  com  a  criação  de  hábitos  de  higiene.  Se  a 
exigência dos pais for demasiado rígida a criança tende a reter as fezes 

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ou a expulsá‐las nos momentos mais inoportunos.  
Segundo  Freud,  a  educação  do  asseio  demasiado  restritiva  ou  tolerante  pode 
determinar 2 tipos de personalidade adulta: 
9 Retentivo‐anal,  onde  se  observam  características  como  avareza, 
obstinação, meticulosidade, ordem compulsiva. 
9 Expulsivo‐anal, onde se observa a tolerância, a submissão, a generosidade 
excessiva e desordem. 
Dos 3 aos 5/6 anos, a criança encontra‐se no Estádio fálico, cujo objecto da líbido 
são  os  órgãos  genitais.  Isto  porque  é  nesta  fase  que  a  criança  descobre  que  o  corpo 
dos rapazes e das raparigas e diferente, pelo que a criança obtém prazer ao tocar nos 
órgãos  genitais.  Se  os  pais  ensinam  aos  filhos  que  isso  é  vergonhosos,  os  rapazes 
podem  contrair  o  medo  da  castração  e  as  raparigas  a  “inveja  do  pénis”.  Rapazes  ou 
raparigas podem apresentar, futuramente, dificuldades de relacionamento sexual.  
Nesta  fase,  as  crianças  vivem  a  primeira  experiência  de  amor 
heterossexual.  O  rapaz  nutre  uma  atracção  especial  pela  mãe,  ao 
mesmo  tempo  que  desenvolve  uma  agressão  competitiva  em  relação 
ao  pai;  contudo,  procura  imitá‐lo  para  conquistar  a  mãe, 
desenvolvendo  assim  o  conceito  de  masculinidade.  Freud 
designou esta vivência “complexo de Édipo”. No caso da rapariga, esta sente‐se atraída 
pelo  pai,  vendo  a  mãe  como  um  obstáculo  à  realização  dos  seus  desejos,  embora 
procure  parecer‐se  com  ela,  de  forma  a  seduzir  o  pai,  construindo  o  conceito  de 
feminilidade; esta vivência é designada “complexo de Electra”. 
Quando  estes  complexos  não  são  bem  resolvidos,  quer  porque  as  fantasias 
sexuais  infantis  são  satisfeitas  por  defeito  ou  por  excesso,  pode  ocorrer  uma  fixação 
nesta  fase,  da  qual  resultam  dimensões  bipolares  de  personalidade:  orgulho‐
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humildade; sedução‐retraimento; promiscuidade‐castidade.  
Dos 5/6 anos aos 12/13 anos, a criança encontra‐se no Estádio de latência. Nesta 
fase, os desejos sexuais estão praticamente ausentes. Esta situação de apaziguamento 
das pulsões sexuais deve‐se à amnésia infantil, processo pelo qual a criança reprime no 
inconsciente  as  experiências  fortes  do  estádio  fálico.  A  criança  canaliza  a  energia 
psíquica para actividades de outro tipo. A curiosidade sexual cede lugar à curiosidade 

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intelectual que a entrada na escola ajuda a desenvolver, também na medida em que 
afasta  a  criança  do  mundo  familiar  carregado  de  afectividade  e  portanto  a 
exploração,  a  descoberta,  a  procura  e  a  invenção  ocupam  a  criança 
num  número  de  actividades  de  acordo  com  os  seus  gostos  ou  metas  a 
atingir.  Durante  este  período  de  acalmia  sexual,  a  criança  procura 
tornar‐se numa espécie de “criança‐modelo” bem comportada e apreciada pelos pais, 
professores e amigos. 
O  aparelho  psíquico  constituído  pelas  3  instâncias  ‐  id,  ego,  superego  ‐  está 
completamente  organizado  nesta  fase,  pelo  que  a  estrutura  da  personalidade  se 
encontra praticamente formada. No estádio seguinte, o desenvolvimento psicossexual 
está terminado. 
Após  o  estádio  de  latência,  Freud  considera  o  Estádio  Genital,  desencadeado 
depois  da  puberdade.  Nesta  fase,  a  sexualidade  desperta  de  novo  e  com  grande 
intensidade,  facto  explicável  pela  maturação  orgânica e  aos  impulsos  desencadeados 
pela  consequente  produção  de  hormonas  sexuais.  Este  estádio  torna‐se  assim  uma 
repetição  dos  períodos  precedentes,  pelo  que  se  reactivam  os  conflitos  vividos  na 
infância.  O  complexo  de  Édipo  é  revivido  pelo  adolescente  de  uma  forma  muito 
especial, o amor vivido no período fálico em relação ao progenitor do sexo oposto é 
agora  canalizado  para  uma  atracção  heterossexual  por  pessoas  alheias  ao  universo 
familiar.  A  satisfação  dos  impulsos  da  líbido  é  procurada  pela  prática  de  actividades 
sexuais de natureza genital. Os jovens que atingem este estádio após terem resolvido 
os conflitos inerentes às fases anteriores, estão preparados para o exercício de actos 
ligados  à  reprodução,  bem  como  para  assumir  as  responsabilidades  da  idade  adulta. 
Não há fixação neste período, visto ser a última etapa desenvolvimento psicossexual. 
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ERIKSON E O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL 

A perspectiva de Erikson caracteriza‐se pela sua ênfase nos aspectos psicossociais.  
Erikson  apresenta  uma  teoria  de  desenvolvimento,  cujos  pressupostos  são  os 
seguintes: 
9 A energia que orienta o desenvolvimento é essencialmente de natureza 
psicossocial,  havendo  portanto  uma  valorização  da  interacção  entre  a  personalidade 
em transformação e o meio social; 
9 O  desenvolvimento  é  um  processo  contínuo  que  se  inicia  com  o 
nascimento e se prolonga até ao final da vida; 
9 A  personalidade  constrói‐se  à  medida  que  a  pessoa  progride  por 
estádios psicossociais que, no seu conjunto, constituem o ciclo da vida; 
9 Em  cada  estádio  manifesta‐se  uma  crise  que  é  vivida  em  função  de 
aspectos biológicos, individuais e sociais. A crise consiste num conflito ou dilema que 
deve  ser  resolvido,  sendo  que  existe  uma  solução  positiva  e  negativa  para  cada  um 
deles; 
9 Os  conflitos  estão,  desde  o  nascimento,  latentes  no  indivíduo,  só  se 
tornando patentes e predominantes em fases específicas da vida; 
9 Quando  as  crises  são  resolvidas  de  forma  positiva,  resultam  em 
equilíbrio  e  saúde  mental,  já  as  soluções  negativas  das  crises  conduzem  ao 
desajustamento e ao sentimento de fracasso; 
9 Ajustamento  ou  desajustamento  não  são  situações  ou  estados 
definitivos. Em fases subsequentes, o indivíduo pode passar por experiências positivas 
e negativas que contrariem as vivências tidas em estados anteriores. 
Desta  forma,  o  conceito  de  crise,  segundo  Erikson,  é  fundamental  para  a 
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construção  da  personalidade  que  se  desenvolve  em  função  da  resolução  de  crises 
sucessivas.  De  acordo  com  a  forma  como  a  crise  for  resolvida,  a  pessoa  situar‐se‐á 
mais ou menos adequadamente no contexto social. 
As  crises  psicológicas  que  permitem  ao  indivíduo  adquirir  sentimentos,  como 
confiança  em  si  próprio,  autonomia,  iniciativa,  ou  pelo  contrário,  falta  de  confiança, 

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sentimentos de inferioridade e culpabilidade, surgem ao longo da vida, distribuídas por 
8 idades, em cada uma das quais aparecem virtudes específicas. 
Erikson emprega o termo virtude com o significado de uma aquisição positiva que 
ocorre  quando  a  resolução  da  crise  é  favorável.  Esta  aquisição  constitui  um  ganho 
psicológico,  emocional  e  social  que  se  pode  traduzir  por  um  valor,  por  uma 
característica de personalidade, por uma competência, por uma qualidade pessoal ou 
por um sentimento. 
1. Bebé:  vai  desde  o  nascimento  até  aos  18  meses.  O  conflito  típico  desta 
idade  é:  Confiança  versus  Desconfiança. 
Durante  este  período,  o  relacionamento  com  a 
mãe é da maior importância. Se a mãe alimenta 
bem  o  filho,  se  o  aconchega  e  acarinha,  brinca  e  fala 
ternamente com ele, o bebé desenvolve o sentimento de que o ambiente 
é  agradável  e  seguro,  criando  uma  atitude  básica  de  confiança  e  face  ao 
mundo. Contudo, se pelo contrário, o comportamento da mãe não satisfaz 
o  bebé,  este  desenvolve  medos  e  suspeitas  que  contribuem  para  a 
formação  de  uma  atitude  negativa  de  desconfiança.  A  virtude 
desenvolvida  durante  este  período  é  a  esperança.  Esta  fase  corresponde 
ao estádio oral da teoria de Freud.  
2. Criança  de  tenra  idade:  situa‐se  desde  os  18  meses  até  aos  3  anos.  O 
conflito  típico  desta  idade  é  a  Autonomia  vs.  Vergonha  e  dúvida.  Nesta 
fase,  as  crianças  sentem  ainda  necessidade  de  protecção,  mas 
simultaneamente,  gostam  de  experimentar.  Por  isso,  sentem‐se  bem 
sempre  que  podem  exercitar  as  suas  capacidades  motoras: 
correr, puxar, empurrar, segurar, largar são actividades que 
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treinam e procuram desenvolver. Se os pais encorajarem 
a  criança  a  exercitar  estas  habilidades,  ela  desenvolve  o 
controlo  dos  seus  músculos,  o  que  contribui  para  o 
domínio  do  seu  próprio  corpo  e  do  ambiente  que  a 
rodeia. Desta forma, a criança ganha autonomia. No entanto, 
se a criança for impedida de usar as suas capacidades ou se 

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lhe  é  exigido  que  use  essas  capacidades  precocemente,  a  criança 
desenvolve  sentimentos  negativos,  como  a  vergonha  e  a  dúvida.  A  boa 
resolução entre aquilo que a criança quer e o que os outros exigem dela, 
resulta na sua força de vontade, virtude própria desta idade. Este período 
aproxima‐se do estádio anal da teoria de Freud. 
3.  Criança  em  idade  pré‐escolar:  dos  3  aos  6  anos.  O  conflito  próprio 
desta fase é Iniciativa vs. Sentimento de culpa. O desejo de experimentar 
mantém‐se  e  amplia‐se  com  a  aquisição  de  novas 
capacidades intelectuais, como o pensamento e a 
linguagem,  que  usa  como  outras  formas  de 
explorar  a  realidade.  Com  elas  toma  iniciativas, 
idealiza  façanhas,  realiza  tarefas  e  exibe‐se.  Se  os  pais  compreendem  e 
aceitam  o  jogo  activo  das  crianças,  estas  sentem  que  o  seu  sentido  de 
iniciativa  é  valorizado.  Porém,  se  os  pais  se  impacientam  e  consideram 
disparatadas  as  suas  perguntas,  brincadeiras  e  actividades,  as  crianças 
sentem‐se  culpadas  e  inseguras,  evitando  agir  de  acordo  com  os  seus 
próprios  desejos.  A  virtude  própria  deste  período  é  a  tenacidade, 
desenvolvida quando o conflito é resolvido de forma positiva. Este período 
aproxima‐se do estádio fálico da teoria de Freud. 
4.  Criança em idade escolar: dos 6 aos 12 anos. O conflito próprio desta 
idade  é  Diligência  vs.  Sentimento  de  inferioridade.  A  criança  descobre  o 
universo  da  escola,  onde  se  espera  que  faça  grandes 
aprendizagens, a nível académico e social. Sonha com 
o  sucesso,  desenvolvendo  esquemas  cognitivos 
para  se  tornar  excelente  nas  tarefas 
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desempenhadas.  Quando  as  crianças  se  sentem 


menos  capazes  do  que  os  seus  pares,  sentem‐se 
inferiores. No entanto, se sentirem que são bem sucedidas e acreditarem 
nas suas capacidades e no seu valor pessoal, empenham‐se com prazer no 
trabalho, desenvolvendo a diligência. A virtude desenvolvida nesta fase é a 

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competência  ou  perícia.  Este  período  aproxima‐se  do  estádio  de  latência 
da teoria de Freud. 
5.  Adolescente:  dos  12  aos  20  anos.  O  conflito  próprio  desta  idade  é 
Identidade  vs.  Confusão.  Nesta  idade,  o  adolescente 
apercebe‐se  da  sua  singularidade  como  pessoa, 
adquirindo  a  noção  de  que  é  um  ser  único,  com 
identidade  própria,  mas  inserido  num  meio  social 
onde tem vários papéis a desempenhar. O adolescente 
vai  ter  de  integrar  diversas  auto‐imagens:  jovem,  amigo,  estudante, 
seguidor,  líder,  trabalhador,  homem  ou  mulher  numa  única  imagem,  é  a 
partir delas que escolhe uma carreira profissional e um estilo de vida. Se 
nos  períodos  anteriores  conseguiram  obter  confiança  básica,  autonomia, 
iniciativa  e  diligência,  os  adolescentes  constroem  mais  facilmente  a  sua 
identidade.  Se  pelo  contrário,  manifestam  dificuldades  em  saber  o  que 
são,  o  que  querem,  que  opções  seguir  e  que  papel  desempenhar,  vivem 
situações  difíceis  de  confusão  e  indecisão.  A  virtude  desenvolvida  nesta 
fase é a lealdade (consigo próprio) ou fidelidade. Este período aproxima‐se 
ao estádio genital da teoria de Freud. 
Erikson  ainda  refere  as  fases  de  jovem  adulto  (20  aos  35  anos),  onde  o  conflito 
típico  é  Intimidade  vs.  Isolamento;  a  de  adulto  (35  anos  aos  65  anos),  em  que  o 
conflito é Generatividade vs. Estagnação; e, a de idoso (65 anos em diante), em que o 
conflito típico deste período é a Integridade vs. Desespero.   Novembro de 2007

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A RELAÇÃO MÃE ‐ FILHO 

Piaget,  Freud  e  Erikson,  cada  um  na  sua  perspectiva,  considerava  uma  “nova” 
infância,  em  que  a  criança,  desde  o  nascimento,  vai‐se  desenvolvendo  a  nível 
intelectual, afectivo e social, respectivamente. 
Todos  estes  psicólogos  evidenciam  que  o  desenvolvimento  é  dinâmico  e  que 
necessita  de  uma  relação  com  outrem.  A  mãe  é  então  o  primeiro  agente  através  do 
qual a criança se relaciona com o meio, desenvolvendo com ela as primeiras relações 
afectivas e iniciando o seu processo de relacionamento com o mundo físico e social. 
Estas  concepções  contemporâneas  acerca  do  que  é  a  criança  nos  primeiros 
tempos,  mudaram  o  modo  como  a  mãe  assume  os  cuidados  maternais,  pelo  que  a 
criança  apresenta  necessidades  que  não  são  exclusivamente  comer,  dormir,  estar 
limpa e agasalhada. 
Às  necessidades  fisiológicas  juntam‐se  outras  que  se  não  forem  satisfeitas, 
comprometerão o desenvolvimento harmonioso da personalidade individual. 
Muitos  psicólogos  se  têm  dedicado  ao  estudo  da  privação  do  afecto materno.  A 
este respeito, a psicanalista Ana Freud efectuou observações em infantários fundados 
no  tempo  da  guerra  para  acolher  os  filhos  das  mães  trabalhadoras  cujos  maridos  se 
tinham  alistado  em  combate.  Estas  crianças  eram  bem  cuidadas  em  termos  de 
alimentação  e  higiene,  no  entanto,  quase  todas  apresentavam  perturbações 
emocionais e atraso no desenvolvimento, cujas causas foram atribuídas à ausência de 
afecto materno. 
Também  o  psicanalista  americano  Spitz  efectuou 
estudos  semelhantes,  observando  crianças  abandonadas 
que passaram a viver, desde os primeiros meses de vida, em 
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orfanatos e outras instituições similares. Spitz concluiu que a 
privação  dos  cuidados  e  aconchego  maternos  levavam  à 
morte  precoce,  dificuldades  no  relacionamento  interpessoal  manifestados  por 
condutas  que  passam  pela  insensibilidade  a  outrem  e  pela  tendência  para,  a  todo  o 
custo, cobrar o afecto e a atenção dos outros. 

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As observações de Bowlby são mais recentes e foram feitas em crianças de tenra 
idade. Bowlby concluiu que quando as crianças são afastadas da família por períodos 
de tempo superiores a 3 meses, vêm a sofrer de perturbações que se desenvolvem em 
3 fases: inicialmente, mostram desespero; em seguida, irritação e cólera, mesmo em 
relação à família; por último caem num estado de indiferença e apatia.  
O  vínculo  afectivo  que  se  estabelece  entre  o  filho  e  a  mãe  e  que  se  traduz  pelo 
desejo da presença desta e do seu contacto tem uma origem de cariz emocional, cuja 
satisfação  reside  em  experiências  gratificantes  como:  estar  ao  colo,  ser  embalado, 
abraçado e beijado, receber afagos, festas e carícias.  
Harlow  realizou  experiências  notáveis  em  que  macacos  eram  criados  por  duas 
mães artificiais, sendo que uma era feita de arame, tinha uma espécie de biberão onde 
eles  se  alimentavam;  outra,  revestida  de  material  felpudo,  proporcionava  aos 
macaquinhos  um  contacto  macio  e  agradável.  Harlow  verificou  que  os  animaizinhos 
estabeleceram  um  vínculo  afectivo  com  a  mãe  de  veludo,  permanecendo  a  maior 
parte  do  tempo  abraçados  a  ela  na  procura  do  conforto  que  a  “mãe  de  arame”  não 
lhes  podia  dar.  Mesmo  quando  sentiam  fome  ou  queriam  explorar  objectos  nas 
imediações,  procuravam  uma  posição  que  lhes  permitisse  não  perderem  o  contacto 
com a mãe mais confortável. Mal se apercebiam da presença de objectos estranhos, 
corriam para ela e agarravam‐se‐lhe com todas as forças. Pouco depois, acalmavam‐se 
ao seu colo e observavam os objectos. Pareciam estar a viver um conflito entre o medo 
que  o  “estranho”  lhes  provocava  e  a  curiosidade  que  sentiam  pela  “novidade”. 
Progressivamente,  iam  explorando  os  objectos,  usando  a  mãe  como  base  de  apoio: 
corriam a tocar num objecto e regressavam rapidamente; voltavam aos objectos mais 
calmamente e, alguns, transportavam os objectos para junto dela. 
Harlow  concluiu  assim,  que  após  estabelecido  o  vínculo  afectivo,  a  “mãe  de 
Novembro de 2007

veludo”  proporcionava‐lhes  sentimentos  de  segurança  que  contribuíam  para  a  perda 


de receio quando pretendiam satisfazer a sua necessidade.   
Inicialmente,  Harlow  pensou  que  as  mães  felpudas  satisfaziam  as  necessidades 
emocionais  dos  bebés  macacos,  pois  entre  os  3  e  os  6  meses  pareciam  saudáveis  e 
normais.  No  entanto,  não  se  tornaram  adolescentes  nem  adultos  com  padrões  de 
comportamento  semelhantes  aos  dos  outros  macacos.  Harlow  verificou  o  seguinte: 

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apresentavam comportamentos compulsivos, movendo‐se em círculos ou baloiçando o 
corpo para trás e para diante; não revelavam qualquer interesse por outros macacos 
ou  pessoas;  eram  sexualmente  desajustados,  não  se  relacionando  normalmente com 
macacos  do  sexo  oposto;  quando  algumas  macacas  ficaram  grávidas  mostravam‐se 
incapazes  de  cuidar  dos  filhos  e  rejeitavam‐nos  agressivamente.  Alguns  dos 
macaquinhos recém‐nascidos morreram mesmo. 
A  razão  destas  perturbações  foi  atribuída  à  privação  ou  défice  de  estimulação 
sensorial,  perceptiva  e  social  que  os  macacos  sofreram  na  situação  de  isolamento. 
Apesar de se ligarem afectivamente à mãe substituta, esta não interagia com eles, não 
havendo um intercâmbio de sinais, pelo que as mães substitutas não lhes ensinaram a 
“comportar‐se  em  sociedade”.  Das  observações  de  Harlow  podemos  concluir  que  o 
bebé  precisa  de  criar  laços  afectivos  com  alguém,  mas  também  de  viver  num  meio 
social estimulante onde possa interagir com os outros e aprender a comportar‐se em 
sociedade. 

Novembro de 2007

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ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DA INFÂNCIA 
Estudar  os  problemas  do  comportamento  na  infância  implica  considerar  duas 
questões  centrais:  compreender  o  comportamento  no  contexto  do  desenvolvimento 
infantil  (normas  de  comportamento  próprias  para  cada  intervalo  de  idade)  e 
compreender o percurso do desenvolvimento dos problemas de comportamento. 
As  variáveis  relacionadas  com  a  idade  afectam  também  a  consideração  de  um 
comportamento  como  problemático:  é  importante  que  se  conheça  que 
comportamentos são adequados e em que idade. 

DEPRESSÃO INFANTIL 

A Depressivo Infantil (DI) é uma perturbação do humor capaz de comprometer o 
desenvolvimento  da  criança  ou  do  adolescente  e  interferir  com  seu  processo  de 
maturidade psicológica e social. São diferentes as manifestações da depressão infantil 
e dos adultos, possivelmente devido ao processo de desenvolvimento que existem na 
infância e adolescência. Estima‐se que 3% da população infantil seja afectada pela DI. 
Podem ser diferentes as etiologias que podem contribuir para a existência de um 
quadro de DI: 
1. Perda do Objecto  (Spitz) – Este autor é o primeiro que fala de Depressão 
Infantil. Segundo autor a sintomatologia é fruto da perda de atenção materna 
(ou do prestador de cuidados), quanto maior for esse período mais sintomas 
apresentará a criança.  
2. Inadaptação dos reforços – Quando a criança 
tem uma necessidade, manifesta atenção e a 
resposta não se adequa ao seu pedido. 
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3. Não existe contingências entre os 
comportamentos – Estímulo ‐Resposta não têm 
uma relação constante e não se correspondem, a criança sente‐se 
desorientada. 

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4. Atribuições inadequadas (Beck) – valores e crenças que são destruídos por 
mudança de ambiente, se for muito frequente podem conduzir a 
sintomatologia depressiva. 
5. Outros aspectos familiares – problemas conjugais, problemas financeiros, 
expectativas exageradas por parte dos pais, falta de contacto, morte de um 
familiar (directo ou indirecto), maus tratos, filho indesejado, alcoolismo, entre 
outros. 
6. Causas biológicas. 

DEPRESSÃO EM FUNÇÃO DA IDADE 

Depressão do bebé e criança muito pequena (2‐3 anos) 

9 Choramingos, retraimento, indiferença, olhar apagado, isolada. 
9 Depressão anaclítica: prostração, abatida, indiferente ao meio, retirada. 
Segundo Bowlby as consequências da separação podem ser: 
9 Fases de protesto, de desespero e de desligamento; 
9 Carência familiar grave e caos educativo; 
9 Ausência de manifestações de alerta; 
9 Ausência na participação de jogos próprios para a idade; 
9 Ausência de gorjeios e balbucia;  
9 Ausência de curiosidade exploratória; 
9 Ausência  de  auto‐estimulações:  balanceio,  lamúrias  e  condutas  auto‐
agressivas; 
9 Atraso do desenvolvimento psicomotor; 
9 Atraso da linguagem; 
9 Atraso global do desenvolvimento. 
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Depressão da criança pequena (3 aos 5/6 anos) 

9 Perturbações  comportamentais:  isolamento  ou  retraimento,  calma 


excessiva,  agitação,  irritabilidade  significativa,  condutas  auto  e  hetero‐
agressivas,  condutas  masturbatórias,  oscilações  do  humor  alternando  os 
estados de agitação com os de choro. 

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9 Aquisições  sociais  perturbadas:  nada  de  jogos,  nenhuma  autonomização 
nas condutas da vida quotidiana. 
9 Perturbações  somáticas:  dificuldades  do  sono,  pesadelos,  sonolência 
diurna, anorexia ou bulimia, enurese, encoprese. 

Depressão da criança maior (5/6 anos aos 12/13 anos) 

9 Manifestações  ligadas  ao  sofrimento  depressivo:  auto‐desvalorização, 


auto‐depreciação, humor depressivo, fracasso escolar. 
9 Condutas  ligadas  ao  protesto  e  à  luta  contra  os  afectos  depressivos 
(distúrbios  do  comportamento):  cólera,  impulsividade,  agressividade, 
furtos repetidos, mentiras e fuga, fracasso escolar. 
9 Frequência:  3%  a  25%,  em  que  3%  equivale  à  depressão  do  adulto  e  os 
25% são equivalentes depressivos. 
9 Evolução  para  estado  depressivo  (não  frequente),  distúrbios  do 
comportamento e psicossomáticos 
9 Contexto  etiopatológico:  existência  da  perda  ou  separação,  ambiente 
familiar. 

Reacção de Dor e Aflição Prolongadas: 

Este  estado  pode  manifestar‐se  por  qualquer  etapa  da  sequência:  protesto, 
desespero e desinteresse. 
1. A  criança  chora,  chama  e  busca  o  progenitor  ausente,  recusando  quaisquer 
tentativas de consolo por outras pessoas. 
2. Retraimento  emocional  que  se  manifesta  por  letargia,  expressão  facial  de 
tristeza e falta de interesse nas actividades apropriadas para a idade. 
3. Desorganização dos horários de comer e dormir. 
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4. Regressão ou perda de hábitos já adquiridos, como por exemplo, fazer xixi e/ou 
coco na roupa (ou cama), falar como se fosse mais novo. 
5. Desinteresse  paradoxal,  que  se  manifesta  por  indiferença  às  recordações  da 
figura cuidadora (fotografia ou menção do nome), ou mesmo uma espécie de 
"ouvido selectivo", que parece não reconhecer essas pessoas. 

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6. Como comportamento alternativo, a criança pode mostrar‐se exactamente ao 
contrário das características acima; torna‐se extremamente sensível a qualquer 
recordação  do(a)  cuidador(a),  apresentando  mal‐estar  agudo  diante  de 
qualquer estímulo que lembre a pessoa. 

Luto da Criança 

Para entender o impacto que causa na criança a perda por morte de uma figura de 
forte  vínculo  afectivo  (mãe,  pai,  irmãos),  é  preciso  entender  a  teoria  da  vinculação, 
inicialmente pesquisada por Bowlby.  
Existem 3 fases do luto, assim caracterizadas: 
Busca  ou  protesto  ‐  o  intenso  desejo  de  recuperação  da  pessoa  amada  e 
perdida,  que  leva  a  comportamentos  de  busca  inócua,  produz  uma  forte  reacção  de 
protesto pela impossibilidade de se alcançar o objectivo desejado. 
Desespero  e  desorganização  ‐  o  conflito  permanente  entre  o  desejo  e  sua 
frustração,  leva  ao  desespero,  pois  não  se  abdica  do  vínculo  estabelecido  com 
facilidade  e  sem  sofrimento.  O  pensamento,  constantemente  concentrado  nessa 
tarefa,  deixa  pouca  possibilidade  para  se  dedicar  a  outras  actividades,  revelando  o 
quanto é importante o trabalho de busca de uma resolução para o conflito; o mundo 
parece estar fora de contexto, tanto quanto este parece estar fora de contexto para o 
mundo. 
Recuperação  e  restituição  ‐  o  conflito  pode  ser  solucionado  a  partir  de  uma 
nova construção do vínculo com o falecido, o que preserva a relação noutro patamar; 
o sofrimento diminui gradualmente, permitindo um retorno da atenção para o mundo 
e trazendo a possibilidade do estabelecimento de novas relações. 
Stroebe,  Stroebe  e  Hansson  (1993)  apresentam  um  levantamento  das  respostas 
emocionais esperadas no processo normal de luto. Acrescentam que, em casos de luto 
Novembro de 2007

complicado,  estes  aspectos  podem  apresentar‐se  com  intensidade  ou  duração 


alteradas,  apontando  para  a  impossibilidade  do  processo  esperado  e  constituindo‐se 
um indicativo da não resolução do luto. 
1. Choque, entorpecimento e dificuldade de acreditar na realidade; 
2. Pesar  e  tristeza,  acompanhados  por  dor  mental  e  sofrimento,  com  choro  e 
lamentação; 

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3. Senso de perda devido ao reconhecimento da ausência e da impossibilidade de 
recuperação; 
4. Raiva é comum e pode voltar‐se contra a pessoa falecida, familiares, médicos, 
amigos e mesmo contra o próprio ego; 
5. Culpa  e  arrependimento,  que  aparecem  sob  as  formas:  culpa  por  sobreviver, 
pela  responsabilidade  da  morte  ou  pelo  sofrimento  que  ela  trouxe  e,  ainda, 
pela deslealdade do falecido; 
6. Ansiedade  e  receios  que  aparecem  sob  a  forma  de  insegurança,  medos  ou 
crises de angústia; 
7. Imagens  repetitivas  da  pessoa  falecida  próxima  da  morte,  da  doença,  com 
carácter intrusivo e fora de controlo; 
8. Desorganização  mental  apresentando  graus  variados  de  distracção,  confusão, 
esquecimento ou falta de coerência; 
9. Sobrecarga de tarefas e dificuldades para sua realização, que trazem a sensação 
de estar a perder o controlo, de desamparo e sentir‐se incapaz de enfrentar a 
realidade; 
10. Alívio,  especialmente  após  doença  longa  e  sofrida,  pelo  término  do 
sofrimento; 
11. Solidão,  que  se  expressa  como  sentir‐se  só  mesmo  quando  em  grupo  e  com 
picos de sentimentos intensos de isolamento. 

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PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE 

A  ansiedade  é  uma  resposta  normal  que  surge  quando  a  pessoa  se  sente 
ameaçada  ou  em  perigo.  A  ansiedade  torna‐se  um  problema  quando  aparece  em 
situações  em  que  não  existe  perigo  real  ou  quando  se  mantém  depois  de  ter 
desaparecido a fonte de stress. 
As  perturbações  de  ansiedade  mais  frequentes  na  clínica 
infantil são: as fobias específicas (fobia aos animais, à escuridão, 
aos  ruídos  intensos  e  a  fobia  escolar),  a  ansiedade  de 
separação  e  o  retraimento  social  com  aversão  a  falar  e 
mutismo selectivo. 
As  crianças  experimentam  diversos  medos  ao  longo  do  seu  desenvolvimento, 
muitos  deles  são  transitórios,  de  intensidade  leve  e  específicos  de  uma  determinada 
idade.  Muitos  autores  consideram  estes  medos  evolutivos  e  parte  integrante  do 
desenvolvimento  normal  e  necessário  ao  desenvolvimento  da  criança.  Os  medos 
proporcionam  ferramentas  para  fazer  face  e  ultrapassar  situações  adversas, 
desagradáveis ou perigosas. Devemos pois distinguir entre medos evolutivos e outros 
medos mais intensos ou fobias.  
Entre os medos mais comuns na infância encontram‐se os seguintes: 

Criança até aos 2 anos 

9 Perda súbita da base de sustentação, estimulação visual ou auditiva muito intensa, 
estranhos, separação das figuras de vinculação, feridas, do escuro e animais. 

Criança dos 3 aos 5 anos 

9 Estimulação visual ou auditiva intensa, separação, dano físico, pessoas com roupas 
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estranhas, do escuro e animais. 

Criança dos 6 aos 8 anos 

9 Separação  das  figuras  de  vinculação,  dano  físico,  do  escuro,  animais,  seres 
imaginários, solidão, pesadelos e escola. 

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Criança dos 9 aos 12 anos 

9 Animais,  dano  físico,  pesadelos,  escola,  relações  interpessoais,  aspecto  físico  e 


morte. 

PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO 

A  ansiedade  na  perturbação  de  ansiedade  de  separação  é  experimentada  pela 


criança  quando  é  separada  na  realidade  ou  supostamente  dos  seus  entes  queridos, 
especialmente da mãe. Aparece quando a criança tem de se afastar dos pais, quando 
vai  por  exemplo  para  a  escola,  mas  também  ocorre  quando  os  pais  têm  de  viajar, 
quando a criança vai a uma visita de estudo, a casa de um familiar ou de um amigo. 
Assim, a fonte de ansiedade é a separação dos pais por qualquer motivo. 
As crianças com Ansiedade de Separação podem ser incapazes de permanecer 
num quarto sozinhas, podem exibir um comportamento muito adesivo à pessoa de 
forte vínculo afectivo (normalmente a mãe), costumam andar juntos como uma 
sombra atrás dos pais, não só fora de casa como por toda a casa e sofrem muito diante 
da possibilidade de ficarem separadas. 
As características mais frequentes são: 
1. A criança apresenta sintomas que excedem 
o que seria esperado no desenvolvimento. 
2. A ansiedade cria comprometimento 
significativo em alguma área das funções 
da criança. 
3. Os sintomas de ansiedade persistem por um tempo inadequado. 

Os transtornos ansiosos podem ser debilitantes para crianças e adolescentes e 
stressantes para as famílias, podem comprometer significativamente o 
Novembro de 2007

desenvolvimento e o equilíbrio emocional. Por isso, o tratamento rápido e 
apropriado pode ser efectivo em aliviar os sintomas e ajudar a criança a retornar à 
função normal. 

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AVERSÃO A FALAR – MUTISMO SELECTIVO 

Dependendo da gravidade da perturbação podemos falar de mutismo selectivo ou 
de aversão generalizada a falar. 
O  mutismo  selectivo  consiste  num  padrão  de  fala  em  que  a 
criança,  apesar  de  ter  capacidade  para  falar,  saber  falar  e 
compreender  a  linguagem  falada,  recusa‐se  a  fazer, 
seleccionando  determinadas  situações  ou  pessoas  com  quem 
falar. 
Na  aversão  generalizada  a  falar,  a  criança  tem  dificuldade 
para o fazer em determinadas situações mas, consegue fazê‐lo com um volume baixo, 
utilizando frases curtas ou monossílabos. Nestes casos os adultos descreveriam como 
uma criança tímida que lhe custa falar, mas que o faz quando lhe é exigido. 

FOBIAS ESPECÍFICAS 

Dentro  das  fobias  específicas  vamos  falar  daquelas  que  são  mais  específicas  da 
infância: a fobia escolar e a fobia social. 

Fobia Escolar 

Apesar do medo da escola ser muito frequente na infância, a Fobia escolar é uma 
perturbação pouco frequente, no entanto é a fobia mais frequente na clínica infantil 
devido às implicações que apresenta em termos de aprendizagem escolar e social da 
criança.  Em  termos  dos  três  sistemas  de  resposta,  os  comportamentos  que  estas 
crianças apresentam são: 
1. Nível  Motor:  A  criança  evita  ir  à  escola  ou  foge  da  mesma.  Expressa 
verbalmente a sua recusa a ir à escola. Queixa‐se de doenças ou de dores. 
Mostra  um  comportamento  negativista:  não  se  veste,  não  toma  o 
Novembro de 2007

pequeno‐almoço, não encontra ou suja a roupa. Se os pais a obrigam a ir à 
escola chora, grita, treme, agarra‐se a eles, pede para voltar para casa. Se 
devido  à  pressão  dos  pais  e  professores  permanece  na  escola,  apresenta 
comportamentos desajustados, faz fitas, ou é muito passiva, não fala e não 
brinca. 

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2. Nível  Fisiológico:  A  criança  experimenta  um 
importante  aumento  na  sua  actividade 
fisiológica.  Aparecem  respostas  como 
transpiração,  tensão  muscular  elevada,  ritmo 
cardíaco  acelerado,  desmaios,  disfunções  do 
estômago, vómitos, diarreias, urgência para urinar. Com frequência podem 
apresentar dores de cabeça ou alterações na alimentação e no sono. 
3. Sistema  Cognitivo:  A  criança  tem  pensamentos  ou  imagens  negativas 
sobre  situações  escolares.  Antecipa  consequências  desfavoráveis:  os 
colegas  vão  gozar  com  ela,  o  professor  vai  ralhar,  é  pior;  avalia 
negativamente as suas próprias capacidades e/ou a situação; preocupa‐se 
pelas suas próprias reacções somáticas; pensa ou representa em imagens 
respostas de fuga/evitação da aula ou da escola. 

Fobia Social 

Esta perturbação caracteriza‐se pela excessiva evitação do contacto com pessoas 
desconhecidas,  crianças  e  adultos.  A  timidez  interfere  nas  relações  sociais  com  os 
colegas, reagindo com medo ou ansiedade perante situações em que têm de interagir 
com  outras  pessoas.  As  crianças  com  fobia  social  podem  chorar,  gaguejar,  ficarem 
paralisadas, abraçarem familiares próximos, e até recusar‐se a falar. 

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PERTURBAÇÃO DE HIPERACTIVIDADE E DE DÉFICE DE ATENÇÃO 

Na  Perturbação  de  Hiperactividade  com  Défice  de  Atenção  (PHDA)  as  crianças 
costumam  ser  descritas  mais  ou  menos  como  sendo  inquietas  desde  pequenas.  “Em 
casa  corre  daqui  para  lá  o  dia  todo,  sem  que  nada  o  detenha,  nem  sequer  o  perigo. 
Tira os brinquedos do lugar, atira todos pelo chão e, quase sem usá‐los, agarra outros 
e  outros,  sem  deter‐se  em  nenhum.  Interrompe  permanentemente  os  adultos  e  as 
outras  crianças,  respondendo  impulsivamente  e  de  forma  exagerada.  Na  escola  é 
evitado, mesmo assim ele chama os colegas para pedir ajuda com os trabalhos sem, no 
entanto,  os  copiar  a  tempo”.  A  criança  pode  ser  portadora  PHDA.  É  uma  das 
perturbações mentais mais frequentes nas crianças em idade escolar, atingindo 3 a 5% 
delas, na faixa etária dos 6 anos. 
Na realidade, determinar qual o nível de actividade normal de uma criança é um 
assunto  polémico.  A  maioria  dos  pais  tem  uma  certa  expectativa  em  relação  ao 
comportamento  dos  filhos  e,  normalmente,  esta  expectativa  inclui  um  certo  grau  de 
agitação,  desarrumação  e  desobediência,  características  que  são  aceitas  como 
indicativos de saúde e vivacidade infantil. 
Porém, algumas vezes podemos estar perante de um quadro de Hiperactividade 
Infantil, que foge da simples questão de comportamento.  
As  crianças  portadoras  de  PHDA  ultrapassam  a  festiva  barreira  das  partidas 
engraçadinhas, deixam de ser adoráveis diabinhos e transformam‐se num verdadeiro 
transtorno  na  vida  dos  pais,  professores  e  todos  que  estiverem  à  sua  volta.  Elas 
parecem ignorar as regras de convívio social e, devido aos problemas que provocam, 
acabam por ser consideradas de má índole ou carácter, mal‐educadas pelos pais.  
A Perturbação de Défice de Atenção é caracterizado primariamente por: 
1. Dificuldade  de  atenção  e  concentração,  característica  que  pode  estar 
Novembro de 2007

presente desde os primeiros anos de vida; 
2. A criança tende a mostrar‐se "desligada", tem dificuldade em organizar‐se 
e,  muitas  vezes,  faz  erros  em  tarefas  devido  à  desatenção.  Estas 
características tendem a ser mais notadas por pessoas com quem convive; 
3.  Constantemente esquecem informações, compromissos, datas ou tarefas; 

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4. Costumam perder ou não se lembram onde colocam as coisas; 
5. Têm dificuldades em seguir regras, normas e instruções que lhe são dadas. 
6. Têm aversão a tarefas que requerem muita concentração e atenção, como 
trabalhos de casa. 
 
Em  cerca  de  metade  dos  casos  pode  ainda  apresentar  hiperactividade,  como 
movimento incessante de mãos e pés, dificuldade de permanecer sentado ou dentro 
da  sala  de  aula,  fala  muito,  mexe‐se  muito  e  tem  dificuldade  em  realizar  qualquer 
tarefa estando quieta. 
Em  alguns  casos,  pode  acontecer  também  a  impulsividade  caracterizada  pela 
incapacidade de esperar a sua vez, interrompendo as pessoas durante uma conversa e 
também pelo impulso de falar as respostas antes que as perguntas sejam terminadas.  

Novembro de 2007

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PERTURBAÇÕES DA ELIMINAÇÃO 

ENURESE 

A enurese pode ser definida como a micção involuntária e frequente (pelo menos 
uma  vez  por  mês)  numa  idade  na  qual  o  controlo  da  bexiga  já  devia  existir. 
Normalmente a partir dos 5 a 6 anos de idade é que passamos a considerar relevante 
este problema, já que até esta idade muitas crianças normais ainda estão a adquirir o 
controlo completo sobre a micção.  
A enurese denomina‐se nocturna quando a micção involuntária ocorrer durante a 
noite (ou durante o sono) e diurna se ocorrer durante o dia. A enurese diz‐se primária 
se a criança nunca adquiriu o controlo de urina e secundária se surge após um período 
de controlo normal superior a 6 meses.  
A enurese nocturna é um problema muito comum. Calcula‐se que afecte 15% das 
crianças  aos  5  anos,  7%  aos  10  anos,  3%  aos  12  anos  e  1%  aos  20  anos.  Embora 
frequente, muitas crianças com enurese nocturna não são levadas ao médico por esse 
motivo.  A  enurese  nocturna  não  tratada  cura  espontaneamente  ao  ritmo  de  10‐20% 
dos casos por ano. No entanto, 10% das crianças enurécticas vão manter a enurese na 
idade adulta se não forem tratadas.  
Raramente, a enurese nocturna pode ser um sintoma de doenças variadas como 
infecções  urinárias,  doenças  renais  ou  distúrbios  hormonais.  No  entanto,  na  grande 
maioria dos casos não se encontra associada a nenhuma doença em particular. Nestas 
crianças parece haver um atraso do desenvolvimento do controle da bexiga. Algumas 
crianças  têm  bexigas  de  menor  capacidade  (bexigas  pequenas)  ou  não  conseguem 
reduzir  a  produção  de  urina  durante  o  sono  fazendo  com  que  não  consigam 
"aguentar". Outra causa possível é o sono profundo, acredita‐se que algumas crianças 
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que têm o sono mais pesado não acordam quando a bexiga fica cheia, a certa altura o 
músculo da bexiga tem uma contracção reflexa e leva à perda de urina.  
A  enurese  nocturna  tem  uma  elevada  incidência  familiar,  isto  é,  passa  muitas 
vezes  de  pais  para  filhos.  Quase  metade  das  crianças  cujo  pai  ou  a  mãe  tiveram 
enurese  poderá  também  ter  este  problema.  Se  ambos  os  progenitores  tiveram 
enurese essa probabilidade sobe para mais de 50%. 

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A enurese representa um pesado fardo para a criança e para a família, não só por 
afectar  a  auto‐estima  numa  idade  em  que  ela  é  extremamente  importante  para  o 
desenvolvimento da personalidade, mas também por que acarreta custos económicos 
e  sociais  consideráveis,  que  vão  aumentando  com  o  crescimento  da  criança.  Além 
disso,  a  enurese  pode  limitar  uma  série  de  actividades  comuns  e  importantes  na 
infância,  como  dormir  na  casa  de  amigos,  excursões  escolares,  campos  de  férias, 
campeonatos desportivos, visitas a familiares, entre outros. Uma criança com enurese 
evita todas estas actividades com medo que o seu “segredo” seja revelado.  

Tratamento Comportamental 

Compreende medidas que visam motivar a criança ou alterar hábitos que possam 
predispor à enurese: 
9 Comportamento  positivo  dos  pais  (educadores),  incentivando  a  criança  quando 
consegue passar uma noite ou várias noites sem fazer xixi. Deve‐se recompensar o 
esforço mais do que o sucesso.  
9 Manter a criança envolvida no tratamento: uso do "diário miccional".  
9 Não  castigar  a  criança,  visto  que  não  ‘molha’  a  cama  para  chamar  a  atenção  ou 
porque é preguiçosa, não tem nenhum controlo sobre o problema. Castigá‐la só vai 
fazê‐la sentir‐se pior.  
9 Se a criança tiver obstipação esse problema deve ser resolvido. 
9 Evitar excesso de líquidos à noite.  
9 Fazer xixi antes de se deitar.  

 
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ENCOPRESE 

A  definição  científica  de  encoprese  é  a  passagem  involuntária  de  fezes  em 


momentos inapropriados, ao longo de mais de 6 meses, em crianças com idade mental 
e cronológica superior a 4 anos.  Ou seja, é a perda de fezes nas cuecas, durante um 
período  superior  a  6  meses,  em  crianças  com  idade  para  saberem  que  não  o  devem 
fazer. 
Esta situação é relativamente frequente, estimando‐se que ocorra em cerca de 1% 
a 2% das crianças com idade inferior a 10 anos, sendo mais frequente nos meninos. 
Em geral, não há qualquer doença de base responsável por este problema. Cerca 
de 80% das crianças têm história de obstipação (prisão de ventre) ou de dor ao defecar 
há alguns anos. 
Normalmente  a  forma  como  ocorre  é  simples  de  entender.  Primeiro,  a  criança 
tem dor ao defecar. A dor é provocada pelas cólicas ou pelo facto de as fezes serem 
mais duras. Para evitar a dor, a criança acaba por reter as fezes, evitando a ida à casa 
de  banho.  Com  o  tempo,  o  recto  vai‐se  distendendo,  perdendo  sensibilidade,  e 
acabam por se acumular quantidades cada vez maiores de fezes duras. A certa altura, 
o recto está totalmente preenchido por fezes duras, quase sem sensibilidade, e cada 
vez que chegam novas fezes líquidas à parte terminal do intestino, conseguem passar 
pelo  ânus  sem  que  a  criança  se  aperceba,  acabando  assim  por  sujar  as  cuecas 
involuntariamente.  
Inicialmente,  só  passam  pequenas  quantidades,  razão  pela  qual  os  pais  não  se 
apercebem da situação ou julgam que a criança está a limpar‐se mal após ir à casa de 
banho.  Com  o  tempo,  a  quantidade  começa  a  aumentar  e,  como  estas  fezes  não 
passam pelas fases de digestão normal do intestino, tornam‐se pegajosas e com muito 
mau cheiro. Em geral, esta situação manifesta‐se mais frequentemente durante o dia, 
Novembro de 2007

enquanto a criança está activa, e muito raramente de noite, durante o sono. 
A  encoprese  não  é  considerada  uma  alteração  do  comportamento  normal  da 
criança.  Devido  à  encoprese,  a  criança  pode  passar  a  manifestar  alterações 
comportamentais,  nomeadamente  baixa  de  auto‐estima,  mau  rendimento  escolar  e 
até conflitos com os pais. Frequentemente, estas situações tendem a arrastar‐se por a 
criança, com vergonha, negar e não aceitar que tem este problema. 

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Nesta  situação  é  necessário  retirar  as  fezes  duras  que  estão  no  recto.  Esta  fase 
pode demorar alguns dias e em geral só é possível com a ajuda de clisteres. Depois de 
esvaziado  o  recto  e  toda  a  parte  terminal  do  intestino  é  necessário  evitar  que  a 
situação  se  repita,  assegurando  a  ida  diária  à  casa  de  banho.  Normalmente  é 
necessário medicar com laxantes orais, que tornarão as fezes moles e evitarão que a 
defecção  seja  dolorosa.  Esta  terapêutica  deve  durar  meses  até  que  se  tenha 
estabelecido uma rotina diária. 
Quanto à dieta, recomenda‐se que seja rica em fibras, ou seja, sopa de legumes 
todos os dias e saladas. Também é importante que beba muita água para que as fezes 
sejam mais moles. 

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PERTURBAÇÕES DO SONO 

Uma boa noite de sono… 

Um  sono  tranquilo,  repousante,  que  cumpra  as  funções  de  recuperação  de 
energia  e  permita  o  bem‐estar  físico  e  mental  para  enfrentar  as  actividades  do 
quotidiano é uma necessidade e o desejo de muitas crianças, adolescentes e pais. 
As  necessidades  de  sono  são  variáveis  e  diminuem  com  a  idade;  enquanto  os 
bebés  precisam  de  16  a  18  horas  de  sono,  para  a  maioria  dos  adultos  7  a  8  horas  é 
suficiente para um bom desempenho das tarefas diárias. Os adolescentes, ao contrário 
do que muitas vezes afirmam, funcionarão melhor com 9 a 10 horas de sono por dia. 

Quando o sono não cumpre a sua função… 

As perturbações do sono afectam‐nos de forma significativa tanto ao nível físico 
como ao nível psicológico, intelectual (no aproveitamento das capacidades cognitivas), 
nas  manifestações  comportamentais  e  na  estabilidade  emocional.  E  se  isto  é 
preocupante  no  adulto,  mais  o  é  em  crianças  e  adolescentes.  Curiosamente,  as  suas 
consequências  nem  sempre  são  atribuídas  à  patologia  do  sono  mas  a  outros 
problemas,  o  que  leva  a  que  muitas  vezes  estas  complicações  não  sejam 
diagnosticadas  nem  tratadas,  prolongando‐se  no  tempo  sem  que  as  pessoas  tenham 
consciência da sua real causa. 
As  dificuldades  relativas  ao  sono  podem  estar  associadas  a  outras  perturbações 
do  desenvolvimento  infantil,  como  por  exemplo  a  hiperactividade  e  dificuldade  em 
focar e manter a atenção, perturbações no comportamento, fraco rendimento escolar, 
perturbações do espectro do autismo, entre outras. 

Que perturbações do sono existem? 
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Há um grande número de perturbações associadas ao sono mas, de acordo com a 
Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, podemos subdividi‐las em quatro 
grupos gerais: 
•  Dissónias:  resultam  em  insónia  ou  sonolência  excessiva  e  estão  associadas  a 
perturbações do sono nocturno ou da vigília (ex: insónia psicofisiológica, narcolepsia, 
síndrome da apneia obstrutiva do sono, higiene do sono pouco adequada…) 

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• Parassónias: fenómenos indesejáveis que ocorrem sobretudo durante o sono 
(pesadelos, terrores nocturnos, sonambulismo, sonilóquio, enurese nocturna, 
síndrome de morte súbita infantil…) 
• Perturbações associadas a doenças médicas, neurológicas ou psiquiátricas 
(epilepsia, cefaleias e asma nocturnas, distúrbios devidos a ansiedade ou pânico, entre 
tantas outras). 
• Prováveis perturbações do sono (situações clínicas por categorizar). 

A criança dorme mesmo bem? 

Enquanto  são  bebés  e  dormem  no 


quarto dos pais, é mais fácil acompanhá‐los. 
A  partir  do  momento  em  que  a  criança  se 
desenvolve  e  conquista  um  espaço  próprio 
para  dormir,  esta  vigilância  deixa 
naturalmente  de  acontecer  de  forma  tão 
constante. 
Assim sendo, a menos que a criança acorde durante a noite ou conte o que lhe 
aconteceu de noite no dia seguinte (no caso dos pesadelos), estas situações passam 
frequentemente desapercebidas. Ou então, o que pode ser mais problemático, nem 
sequer são percebidas pela própria criança. 
Não obstante, há alguns sinais que a criança exibe durante o dia que podem 
alertar para problemas durante a noite: sonolência excessiva, recusa em ir dormir ou 
em ir sozinha para a cama, agitação psicomotora, dificuldade em manter a atenção e 
concentração, impulsividade, problemas de memória, agressividade face aos pares e à 
família, comportamentos de oposição, alterações do humor, ansiedade (derivadas de 
medos, fobias, problemas emocionais) e problemas na aprendizagem. 
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Para  além  dos  fenómenos  que  acontecem  ao  longo  da  noite  e  que  são  mais  ou 
menos percebidos, poderão haver outros factores que estejam a impedir que a criança 
beneficie das horas de sono necessárias para a sua idade. 
A  menos  que  estejam  habituadas  desde  tenra  idade,  as  crianças  fazem 
frequentemente birras para atrasar o ir para a cama. Os motivos são os mais variados: 
querem ver televisão, brincar ou não querem dormir sozinhas por medo do escuro, dos 

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ladrões  ou  dos  monstros  dos  seus  pesadelos.  Certo  é  que,  entre  gritos  e  discussões 
que  desgastam  e  que  acabam  por  se  constituir  em  fontes  diárias  de  confronto,  as 
crianças acabam por deitar‐se cada vez mais tarde. Isto é igualmente verdade para os 
adolescentes que, entre a televisão, a playstation e a internet atrasam cada vez mais a 
sua  hora  de  adormecer,  mesmo  com  a  consciência  dos  horários  matutinos.  Assim 
sendo  acabam  por  não  beneficiar  de  um  sono  eficaz,  quer  em  quantidade,  quer  em 
qualidade. Não obstante, haverá mais cedo ou mais tarde um momento em que todos 
se deitam e a casa entra no silêncio desejado, mas isto não significa que todos estejam 
a dormir. É mesmo natural que o adolescente tenha dificuldades em adormecer devido 
a ansiedades próprias da sua etapa desenvolvimentista ou a problemas que sente no 
quotidiano.  Quando  os  acordares  nocturnos  envolvem  o  choro  dos  filhos,  por 
pesadelos  ou  terrores  nocturnos,  ou  o  deambular  pela  casa  nos  casos  de 
sonambulismo,  todos  entram  em  estado  de  alerta  e  o  sono  de  toda  a  família  fica 
comprometido.  Desta  forma,  as  perturbações  do  sono  acabam  por  desregular  os 
padrões de sono‐vigília de todo o agregado familiar, com consequências significativas 
nos  ambientes  escolares  e  laborais  e  com  prejuízo  das  relações  interpessoais  e 
familiares. 

O que fazer? 

Após  avaliar  todos  os  factores  predisponentes  e  de  manutenção  do  problema, 
bem  como  o  impacto  deste  no  desenvolvimento  e  na  qualidade  de  vida  da 
criança/adolescente  e  agregado  familiar.  Esta  intervenção  pode  incidir  em  vários 
domínios,  nomeadamente:  esclarecimentos  sobre  a  perturbação  propriamente  dita; 
estruturação  de  rotinas  relacionadas  com  a  vigília  e,  em  maior  detalhe,  com  o 
momento  do  deitar;  estruturação  de  hábitos  alimentares;  elaboração  de 
problemáticas emocionais subjacentes; desenvolver formas adequadas para lidar com 
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o  problema  (estilos  de  coping,  relaxamento);  e  ajudar  os  professores  a  lidar  com 
crianças que apresentem alguns dos sinais acima mencionados na sala de aula. 
Através  de  um  acompanhamento  cuidado  e  multidisciplinar,  espera‐se  não  só  a 
resolução  possível  do  problema,  como  a  diminuição  da  frequência  e  intensidade  da 
sintomatologia  associada  e,  principalmente,  a  coesão  e  reestruturação  individual  e 
familiar subjacente a noites de sono tranquilo. 

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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 

São  alunos  que  apresentam  discrepância  entre  o  seu  potencial  estimado  de 
aprendizagem  e  as  suas  realizações,  têm  uma  inteligência  normal,  mas  fracassam  na 
vida  académica.  São  crianças  que  se  revelam  distraídas,  muito  activas,  esquecidas  e 
tagarelas. 
Estas crianças também podem apresentar diferentes tipos de problemas ao nível 
da leitura, da escrita e da matemática. 
Não  devemos  tratar  as  Dificuldades  de  Aprendizagem  (DA)  como  se  fossem 
problemas  insolúveis  mas,  antes  disso,  como  desafios  que  fazem  parte  do  próprio 
processo  da  Aprendizagem,  a  qual  pode  ser  normal  ou  não‐normal.  Também  parece 
ser consensual a necessidade imperiosa de se identificar e prevenir precocemente as 
DA, de preferência ainda na pré‐escola. 
É muito importante a avaliação global da criança ou adolescente, considerando as 
diversas possibilidades de alterações que resultam das DA, para que o tratamento seja 
o mais específico e objectivo possível. 
Também existem diferentes problemáticas que podem estar associadas: 
9 Dislexia – Não têm dificuldade em compreender e utilizar a linguagem. O 
seu problema centra‐se na codificação fonológica (fonética verbal) que os 
faz  fracassar  na  soletração,  leitura  e/ou  escrita  ‐  isto  é  quando  têm  de 
transformar letras ou palavras num código verbal. 
9 Disgrafia ‐  disfuncionalidade da escrita: irregularidade no tamanho, forma, 
inclinação, traçado, espaçamento e ligações entre letras. 
9 Disortografia – perturbação específica da escrita que altera a transmissão 
do  código  linguístico  ao  nível  dos  fonemas,  dos  grafemas,  da  associação 
correcta entre estes e regras de ortografia. 
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9 Discalculia – dificuldades na simbolização dos números e na habilidade de 
calcular. Vão desde a incapacidade de reconhecer um número, dificuldade 
para  efectuar  operações  aritméticas,  dificuldades  em  compreender  o 
mecanismo da numeração, reter vocabulário matemático, realizar cálculos 
mentais, realizar as operações básicas e ordenar e sequencializar números. 

Educadora: Ana Cláudia Ferreira


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Primeiramente devemos questionar se, de facto, a criança apresenta DA ou se o 
seu  rendimento  não  satisfaz  as  expectativas  do  professor  (da  escola).  Um 
desenvolvimento  incomum  nem  sempre  denuncia  alguma  patologia  (a  gravidez  de 
gémeos  é  anormal  estatisticamente  e  normal  medicamente),  podendo  reflectir 
dificuldades pessoais eminentemente circunstanciais.  
Na realidade, temos visto que a família só é mobilizada 
a  procurar  ajuda  especializada  para  suas  crianças  quando 
fica  evidente  ou  ameaçado  o  rendimento  escolar  e  a 
aprendizagem.  Infelizmente,  na  maioria  das  vezes  esta 
ajuda  é  procurada  incorrectamente  na  medida  em  que  a 
família se sente ameaçada por algum estigma cultural. 
 As dificuldades escolares podem ocorrer em 4 situações: 
1. Quando há severo prejuízo do interesse da criança; 
2. Quando a performance global da criança está prejudicada; 
3. Quando há prejuízo da atenção; 
4. Quando há prejuízo na cognição, que se subdivide em: 
a. ‐ Prejuízo na apreensão de informações; 
b. ‐ Prejuízo no processamento das informações 

1 ‐ Quando há severo prejuízo do interesse 

Afastadas  causas  de  natureza  orgânica,  tais  como  anemia,  reumatismo 


infeccioso, infecções, diabetes, estados de intoxicação, a Depressão Infantil é a maior 
causa de desinteresse.  
O  Desinteresse  está  intimamente  relacionado  ao  Humor  ou  Afecto,  quando 
estamos mal‐humorados e/ou deprimidos, não nos interessamos por nada. Portanto, o 
interesse  é  um  problema  afectivo,  tanto  que,  nos  quadros  depressivos,  um  dos 
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sintomas mais expressivo pode ser o desinteresse. Para entendê‐lo, o primeiro passo é 
estudar os sintomas básicos da depressão.  

2 ‐ Quando a performance global da criança está prejudicada 

Esses casos de DA são decorrentes de factores que comprometem o rendimento 
mental como um todo. Aqui não está em destaque o interesse do aluno na escola mas, 

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sobretudo, uma incapacidade de trabalhar mentalmente as informações. Neste ponto, 
embora em menor intensidade, também a Depressão Infantil pode ocasionar sintomas 
de  baixo  rendimento  psíquico  global,  entretanto,  são  as  Deficiências  Mentais  as 
patologias  que  mais  ocasionam  prejuízo  do  rendimento  mental  de  maneira  mais 
contundente. 
Na  Depressão  Infantil  ou  do  Adolescente,  o  sintoma  básico  responsável  pelo 
prejuízo do interesse chama‐se Inibição (Psíquica) Global. Trata‐se de uma espécie de 
lentificação dos processos psíquicos na sua globalidade, como se fosse uma dormência 
generalizada de toda a actividade mental. Em graus variáveis, esta inibição geral torna 
o indivíduo apático, desinteressado, lento, desmotivado, com dificuldade em suportar 
tarefas elementares do quotidiano e com grande perda da capacidade de raciocínio e 
de tomar iniciativas.  
Em  relação à  Deficiência  Mental,  segundo  a  classificação da  OMS  ‐  (Organização 
Mundial  da  Saúde),  a  gravidade  do  quadro  seria  classificada  em  4  níveis:  profundo, 
grave, moderado e leve. 
Não  são  os  três  níveis  mais  graves  de  Deficiência  Mental  a  preocupar  o 
diagnóstico  causal  das  DA.  Esses  pacientes  mostram  claramente  o  grau  de 
comprometimento intelectual que apresentam. O problema está na Deficiência Mental 
Leve,  às  vezes  limítrofe  entre  o  normal  e  o  sub‐normal.  Nestes  casos  o  aluno 
desenvolve‐se  sofregamente  durante  um  certo  tempo,  mas,  a  partir  de  um 
determinado nível de exigência mental começam a apresentar dificuldades. 

3 ‐ Quando há prejuízo da atenção 

Evidentemente a Perturbação de Hiperactividade e de Défice de Atenção (PHDA) é 
a  principal  situação  psiconeurológica  que  compromete  a  atenção  da  criança  ou 
adolescente.  Os  portadores  de  PHDA  são  frequentemente  rotulados  de 
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"problemáticos", "desmotivados",  "malcriados", "indisciplinados", "irresponsáveis" ou, 
até mesmo e, erradamente, "pouco inteligentes". 
Pode  haver  frequentes  mudanças  de  uma  tarefa  para  outra,  elas  podem  iniciar 
uma  tarefa,  passar  para  outra,  depois  voltar  a  atenção  para  outra  antes  de 
completarem qualquer uma de suas incumbências. Estas crianças frequentemente não 

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respondem  a  solicitações  ou  instruções  e  não  conseguem  completar  os  trabalhos 
escolares, tarefas domésticas ou outros deveres.  
A Ansiedade Patológica na Infância e Adolescência também 
interfere negativamente na atenção das crianças (Fobia Escolar, 
Ansiedade  de  Separação).  Estas  crianças  podem  apresentar 
grande relutância ou recusa a irem à escola e, uma vez lá, ficam 
tão ansiosas que não conseguem prestar a atenção necessária.  

4 ‐ Quando há prejuízo na cognição 

4.1 ‐ Na apreensão da informação 
Qualquer  alteração  neuropsiquiátrica,  funcional  ou  orgânica,  suficiente  para 
comprometer o sistema sensorial, seja a nível periférico, como por exemplo, a surdez e 
a  cegueira,  seja  a  nível  central,  como  as  lesões  cerebrais,  interfere  sobremaneira  na 
apreensão dos estímulos. Evidentemente, se a pessoa não consegue ouvir ou ver, a sua 
aprendizagem estará seriamente comprometida. 
4.2 ‐ No processamento da informação 
A síntese das sensações que vêm do exterior sob a forma de estímulos, de forma a 
constituir  percepções  conscientes  do  que  acontece  fora  da  pessoa,  dá‐se  nas  zonas 
corticais  do  Sistema  Nervoso  Central  (SNC).  A  anestesia,  surdez  ou  cegueira  podem 
resultar  da  lesão  de  um  órgão  sensorial  periférico,  do  nervo  que  leva  estas 
informações até o cérebro (nervos aferentes) ou de uma zona cortical do SNC, onde se 
projectam  essas  sensações.  Em  qualquer  das  circunstâncias  está  seriamente 
prejudicada a apreensão da informação. 
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PERTURBAÇÃO OBSESSIVO‐COMPULSIVO INFANTIL 

As “manias”, alguns tiques e pensamentos que não saem da cabeça podem fazer 
parte do quadro de Perturbação Obsessivo Compulsivo (POC) e, embora este quadro 
tenha geralmente início na adolescência ou começo na idade adulta, ele pode aparecer 
na infância de forma tão comum como nos adultos. A idade de início costuma ser um 
pouco  mais  precoce  nos  homens  mas,  de  qualquer  forma,  cerca  de  33  a  50%  dos 
pacientes com POC referem que o início do transtorno foi na infância ou adolescência. 
As  características  principais  do  POC  são  obsessões  ou  compulsões  recorrentes  e 
suficientemente  graves  para  consumirem  tempo  ou  causar  sofrimento  acentuado  à 
pessoa. 
Com frequência o início da perturbação é gradual, mas em alguns casos pode ser 
agudo e a média de idade para o seu aparecimento é dos 6 aos 11 anos. A maioria dos 
indivíduos  tem  um  curso  crónico  de  vaivém  dos  sintomas,  com  exacerbações 
possivelmente relacionadas com a ansiedade, depressão e stress.  
O  conteúdo  das  obsessões  é  muito  variado,  independente  da 
cultura,  as  ideias  podem  aparecer  sob  formas  de  pensamentos, 
frases,  imagens  ou  impulsos.  A  criança,  em  geral,  tenta  resistir  e 
livrar‐se  da  ideia  obsessiva  e  quando  tem  sucesso,  obtém  alívio 
apenas  temporariamente.  Mas,  de  modo  geral,  a  ideia  obsessiva  é 
sempre um pensamento ou ideia permanente na cabeça, mesmo contra a vontade do 
indivíduo e o grande esforço mental despendido ao tentar controlar os pensamentos 
pode ser exaustivo, e normalmente não é notado pelas outras pessoas.  
Pode  haver  um  medo  patológico  de  perder  o  controlo  e  realizar  algum  acto 
inadequado  socialmente;  envergonhar  pessoas,  engasgar‐se,  entornar  comida,  etc. 
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Estes medos acabam por fazer a criança retrair‐se socialmente.  
As ideias obsessivas de sujidade e contaminação, normalmente andam à volta de 
pó, suor, urina, pêlos, sangue, germes, doenças, toxinas, etc. A criança pode ter ideias 
obsessivas  quanto  à  sua  própria  auto‐estima,  achando‐se  suja,  prostituta  (rapariga), 
homossexual (rapazes), pecadora entre outros. Podem existir temas impessoais como, 
por  exemplo,  fazer  contas,  problemas  matemáticos,  figuras  geométricas,  solução  de 

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quebra‐cabeças  e  enigmas,  cadeados,  fechaduras,  joguinhos  e  outros  dispositivos  de 
segurança, ordenação dos mais variados objectos, determinadas palavras e números. 
De modo geral, é bom ter em mente que estas ideias são as mais variadas possíveis, 
chegando ao limite do bizarro. 
A  compulsão  é  um  comportamento  sistemático,  repetitivo  e  intencional 
executado numa ordem pré‐estabelecida. A acção em geral não tem um fim próprio e 
procura prevenir a ocorrência de um determinado evento ou situação com conotação 
ameaçadora para o sujeito. Por exemplo: “se eu não bater na madeira 3 vezes, alguém 
de minha família terá cancro”... “se eu não tocar no objecto que vou levantar 2 vezes 
antes  de  pagar,  ele  pode  cair  no  chão  e  partir‐se”...  “se  eu  não  rezar  2  vezes  esta 
oração, o diabo leva‐me”.  
As atitudes compulsivas das crianças podem ser mal compreendidas pelos pais, os 
quais  tentam  corrigir  com  advertências,  castigos  ou  agressões.  É  difícil  também, 
algumas  vezes,  distinguir  um  tique  de  um  comportamento  compulsivo,  será 
aconselhado sempre fazer o despiste de POC. O acto compulsivo é precedido por uma 
sensação de urgência, seguida de alívio temporário da ansiedade após a realização do 
mesmo. A pessoa tem consciência que tais actos são irracionais e não confere prazer 
na sua execução, apesar do ritual diminuir sua ansiedade. 
Nas  crianças  é  comum  a  dificuldade  em  relatar  e  descrever  os  sintomas, 
principalmente  solicitar  ajuda,  o  que  dificulta  o  diagnóstico  e  o 
início do tratamento. 
As  mais  comuns  são  as  compulsões  de  limpeza  e 
descontaminação, como por exemplo, lavar repetidamente 
as  mãos,  roupas,  objectos  pessoais,  limpar,  lavar  ou  esterilizar  objectos  (roupas, 
sapatos, cadeiras, toalhas) que tenham sido “contaminados” de alguma forma. Isso dá‐
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se através de lavagem das mãos, esterilização com álcool, banhos prolongados, rituais 
de limpeza determinados, uso abundante desinfectantes. A compulsão de verificação 
diz  respeito  à  necessidade  imperiosa  e  involuntária  de  conferir  ou  examinar 
repetidamente, para estar seguro, determinados actos ou circunstâncias. Por exemplo, 
voltar  inúmeras  vezes  para  verificar  se  a  porta  está  fechada,  o  gás  desligado,  a  luz 
apagada,  a  janela  fechada,  a  gaveta  fechada,  etc.  Os  rituais  de  verificação  são 

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preventivos,  procurando  assegurar  que  nenhuma  catástrofe  irá  acontecer.  A 
compulsão  de  repetir  ou  tocar,  é  muito  comum  também,  uma  vez  que  a  própria 
característica das compulsões é a repetição. Acender e apagar a luz muitas vezes para 
aliviar a ansiedade da dúvida de ter deixado acesa, beijar inúmeras vezes uma imagem 
ou  objecto  sagrado  para  aliviar  a  ansiedade  de  que  pode  acontecer  alguma  coisa  de 
mal,  etc.  Com  frequência,  a  repetição  implica  um  número  definido  de  vezes.  Assim 
uma pessoa pode lavar as mãos 13 vezes, ou repetir uma oração 18 vezes. Os rituais 
compulsivos  implicam  repetir  de  maneira  precisa,  seguindo  regras  arbitrárias  e 
mágicas, praticamente litúrgicas. Compulsão de simetria e ordem “obriga” o individuo 
a  colocar  objectos  numa  ordem  e  simetria  pré‐determinadas,  como  por  exemplo, 
arrumar  as  camisas  pela  cor,  simetricamente  ou  uma  gaveta  obsessivamente 
organizada, ou os objectos sobre a mesa de modo pré‐estabelecido. 
Quando  se  desconfia  de  POC  os  pais  (educadores)  devem  tentar  identificar  nas 
crianças a existência de lesões cutâneas devido à lavagem excessiva das mãos, gasto 
excessivo de sabão e papel, trejeitos e tiques, tempo excessivo para a realização das 
tarefas  (de  casa  e  da  escola),  buracos  nos  cadernos  ocasionados  por  apagar 
seguidamente,  solicitação  para  familiares  responderem  à  mesma  pergunta,  medo 
persistente e absurdo de doenças, aumento excessivo na quantidade de roupas para 
lavar,  tempo  excessivo  para  fazer  a  cama,  medo  persistente  e  absurdo  de  que  algo 
terrível aconteça a alguém. 

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AGRESSIVIDADE E DESOBEDIÊNCIA 

A desobediência e o comportamento agressivo na infância, são duas das principais 
queixas dos pais e educadores, aparecem com frequência juntos na clínica infantil. 
Entende‐se por desobediência quando a criança se recusa a realizar aquilo que se 
pede, aquilo que se diz para não fazer ou deixar de fazer algo transgredindo uma regra 
estabelecida. 
Trata‐se  de  um  problema  com  grande  prevalência  na  infância,  no  entanto  é 
necessário ter em conta que são comportamentos que tendem a desaparecer com a 
idade, pelo que são importantes aspectos como a frequência, duração e intensidade, 
assim  como  o  grau  de  deterioração  familiar  e  social  para  estabelecer  a  difícil  linha 
entre  o  normal  e  o  patológico.  Quando  o  comportamento  de  desobediência  é 
extremamente  grave  recebe  o  nome  de  Perturbação  de  Oposição,  quando  essa 
gravidade  é  comportamental  recebe  o  nome  de  Perturbação  de  Comportamento 
(Conduta/Deliquência). 
O  comportamento  agressivo  caracteriza‐se  por  comportamentos  específicos  tais 
como  um  comportamento  destrutivo, 
combativo, crueldade, irritabilidade, desafio 
à  autoridade,  irresponsabilidade, 
necessidade  de  chamar  à  atenção,  baixos 
níveis  de  sentimento  de  culpa.  Este 
comportamento  é  frequente  na  infância  e 
começa  a  diminuir  por  volta  dos  4  ou  5  anos,  embora  em  algumas  crianças  possa 
manter‐se  durante  mais  tempo.  Alguns  autores  afirmam  que  um  comportamento 
demasiado  agressivo  na  infância  pode  ser  um  claro  sinal  de  um  intenso 
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comportamento agressivo na idade adulta. 

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PERTURBAÇÃO DO COMPORTAMENTO 

Dentro  da  psiquiatria  da  infância  e  da  adolescência,  um  dos  quadros  mais 
problemáticos  tem  sido  o  chamado  Perturbação  de  Comportamento  (PC),  o  qual  se 
caracteriza por um padrão repetitivo e persistente de conduta anti‐social, agressiva ou 
desafiadora, por um período mínimo de seis meses.  
Para  ser  considerado  uma  PC,  este  tipo  de  comportamento  problemático  deve 
alcançar violações importantes, além das expectativas apropriadas à idade da pessoa 
e,  portanto,  de  natureza  mais  grave  que  as  partidas  ou  a  rebeldia  normal  de  um 
adolescente.  Este  tipo  comportamento  delinquente  parece  preocupar  muito  mais  os 
outros do que a própria criança ou adolescente que sofre da perturbação.    
O  indivíduo  não  tem  em  consideração  os  sentimentos,  direitos  e  bem‐estar  dos 
outros,  faltando  um  sentimento  apropriado  de  culpa  e  remorso  que  caracteriza  as 
"boas  pessoas".  Normalmente  há  uma  demonstração  de  comportamento  insensível, 
podendo acusar os colegas e tentar culpar qualquer outra pessoa ou circunstâncias por 
eventuais más acções. A baixa tolerância a frustrações das pessoas com PC favorece as 
crises de irritabilidade, explosões temperamentais e agressividade exagerada. 
 Entende‐se  por  "baixa  tolerância  a  frustrações"  uma  incapacidade  em  tolerar 
dificuldades  existenciais  comuns  a  todas  as  pessoas  que  vivem  em  sociedade,  uma 
falta  de  capacidade  em  lidar  com  os  problemas  do  quotidiano  ou  com  as  situações 
onde as coisas não acontecem do modo esperado. 
Estas  crianças  ou  adolescentes  costumam  apresentar  precocemente  um 
comportamento violento, reagindo agressivamente a tudo e a todos, supervalorizando 
o seu exclusivo prazer, ainda que em detrimento do bem‐estar alheio.  
Elas  podem  também  exibir  um  comportamento  de  provocação,  ameaça  ou 
intimidação, podem iniciar lutas corporais frequentemente, inclusive com eventual uso 
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de  armas  ou  objectos  capazes  de  provocar  dano  físico,  como  por  exemplo,  tacos  e 
bastões, tijolos, garrafas, facas ou arma de fogo.  
Outra característica é a crueldade com outras pessoas e/ou com animais.  
As  perturbações  do  comportamento  acabam  por  causar  graves  prejuízos  no 
funcionamento  social,  escolar  ou  ocupacional,  favorecendo  uma  espécie  de  círculo 
vicioso:  perturbação  de  conduta,  prejuízo  sócio‐ocupacional,  repressões  sociais, 

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rebeldia, mais perturbação de conduta. O PC é um diagnóstico especialmente infantil 
ou  da  adolescência  pois,  depois  dos  18  anos,  persistindo  os  sintomas  básicos 
(contravenção),  o  diagnóstico  deve  ser  alterado  para  Perturbação  da  Personalidade 
Anti‐Social.    
Não se sabe ainda uma causa única para o PC. Uma multiplicidade de diferentes 
tipos de stressores sociais e a vulnerabilidade de personalidade parece associado com 
estes  comportamentos  anti‐sociais.  Durante  muitos  anos,  as  teorias  sobre 
comportamentos  eram  de  natureza  sociológica.  Certamente  influencia  no 
desenvolvimento de uma PC as atitudes e comportamentos familiares, assim como a 
exclusão  sócio‐económica,  a  inversão  dos  valores,  a  desestrutura  familiar  e  um 
número de ocorrências sociais, políticas e económicas referidas por investigadores das 
mais variadas áreas.   

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EFEITO DE VIVÊNCIAS TRAUMÁTICAS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 

Tem  havido  solicitação  crescente  aos  profissionais  da  saúde  mental  o  estudo, 
conduta e intervenção nas necessidades de crianças e adolescentes expostos a eventos 
traumáticos  individualmente  ou  em  grupo.  Alguns  estudos  revelam  que  crianças  e 
adolescentes  têm  alto  risco  de  desenvolver  diferentes  problemas  comportamentais, 
psicológicos  e  neurobiológicos  como  consequência  de  vivências  traumáticas  ou 
experiências de vida stressantes. 
Cada vez mais se analisam as variedades de eventos traumáticos precoces ou em 
tenra idade e sua verdadeira importância no desenvolvimento de quadros conhecidos 
como  Perturbação  de  Stress  Pós‐Traumático,  Perturbação  de  Ansiedade,  Depressivos 
ou  mesmo  nos  sintomas  de  luto  traumático  das  crianças.  Apesar  da  dedicação  de 
muitos  investigadores,  ainda  faltam  estudos  bem  desenhados  e  cientificamente 
expressivos para análise dos sintomas, quadro clínico, consequência e tratamento da 
Perturbação de Stress Pós‐Traumático em crianças e adolescentes.  
O que se observa na clínica diária, é que algumas crianças e adolescentes vítimas 
de  traumas  adaptam‐se  e  recuperam  de  maneira  surpreendente,  apesar  da 
experiência pela qual passaram ou que testemunharam. Portanto, constata‐se através 
da revisão de pesquisas sobre o tema, existir uma grande variedade de respostas aos 
eventos  traumáticos  em  crianças  e  adolescentes  e,  assim,  fica  cada  vez  mais  difícil 
atribuir as consequências e emoções posteriores a uma 
causalidade vivencial precoce.  
A  pergunta  que  se  faz  é  se  existiriam,  e  quais 
seriam,  os  factores  protectores  individuais,  fazendo 
com que algumas pessoas pareçam menos vulneráveis 
que outras em relação às vivencias traumáticas. 
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Discute‐se  se  existe  uma  personalidade  mais  imune  às  vivências  traumáticas  ou, 
por outro lado, se o apoio social e familiar seria o factor decisivo para estas crianças 
recuperarem, impedindo assim uma consequência mais patológica do trauma.  
Num estudo com 109 adolescentes que sofreram abuso sexual, incluindo toques 
sexuais,  beijos,  carícias  nas  mamas  ou  nos  genitais,  tentativas  de  penetração  e 

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penetração  por  alguém  da  família  ou  de  fora  dela,  50%  tiveram  diagnóstico  de 
Perturbação de Stress Pós‐Traumático, aproximadamente 33% foram assintomáticas e 
o restante teve outros problemas não significativos do ponto de vista sintomático (Bal, 
2004).  Ora,  ao  contrário  do  que  poderíamos  pensar,  não  é  a  expressiva  e  maciça 
maioria  das  crianças  submetidas  a  traumas  que  desenvolve  transtornos  emocionais 
significativos. 
Isto  leva‐nos  a  crer  que  existem  outros  factores  e  variáveis  que  influenciam  nas 
respostas  emocionais  aos  traumas,  como  por  exemplo,  características  da 
personalidade,  sensibilidade  afectiva  e  emocional  individual,  a  estrutura  de  apoio 
familiar e social e, obviamente, a própria natureza do trauma. 
O  maior  volume  de  pesquisas  sobre  o  impacto  psicológico  dos  traumas  em 
crianças e adolescentes, entretanto, concentra‐se nos abusos, maus‐tratos e violência 
doméstica em geral. Com diferentes graus de adaptação e recuperação, crianças que 
sofreram  abuso  e  maus‐tratos  correm  maior  risco  de  desenvolverem  os  seguintes 
quadros:  Perturbação  de  Stress  Pós‐Traumático,  Alexitimia,  Perturbação  de  humor, 
Abuso  de  drogas,  Problemas  de  Comportamento  Sexual,  Dissociação  Psicológica  e 
Somatizações. 
É  grande  o  número  de  pesquisas  sobre  efeitos  de  experiências  traumáticas  em 
crianças  e  adolescentes,  porém,  da mesma  forma  que  algumas  pesquisas  apontam  o 
desenvolvimento  de  transtornos  emocionais  depois  dessas  experiências  outras 
pesquisas falam em não consequências ou até em consequências positivas, como é o 
caso do chamado “crescimento pós‐traumático”.  
De  qualquer  forma,  um  facto  relevante  é  que  nem  todas  as  crianças  e 
adolescentes  submetidos  a  experiências  traumáticas  desenvolvem  graves 
consequências.  
Novembro de 2007

Também  têm  sido  feitas  pesquisas  no  que  concerne  a  alterações  orgânicas 
provocadas  pelas  experiências  traumáticas.  Além  destas  eventuais  alterações 
endócrinas,  também  se  tem  relacionado  as  experiências  traumáticas  e  stress  a 
alterações funcionais e/ou anatómicas do Sistema Nervoso Central. 
De  maior  relevância  são  as  variáveis  pessoais  e  culturais  que  influenciam  nas 
respostas  às  experiências  traumáticas.  As  variáveis  pessoais  dizem  respeito  à 

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constituição  da  própria  personalidade  e  a  ocorrência  de  transtornos  emocionais 
prévios  e  predisposições  para  os  mesmos.  Esta  hipótese  acaba  por  atribuir  à  pessoa 
uma  importância  maior  que  à  vivência,  pelo  menos  na  maioria  dos  casos.  Não  se 
consegue  provar  que  indivíduos  são  sociopatas  devido  a  experiências  traumáticas 
sofridas  precocemente,  por  exemplo.  Nem  que  as  crianças  são  hiperactivas  por 
carência afectiva. Tudo isto parece mais relacionado com o DNA do que com o destino. 
Existem  experiências  fortemente  traumáticas  capazes  de  mobilizar  grande 
número de pessoas, como é o caso de catástrofes naturais e situações produzidas pelo 
ser  humano,  como  as  guerras,  terrorismo  e  violência  de  grandes  proporções.  Estas 
experiências,  sem  dúvida,  podem  produzir  mazelas  emocionais  significativas  em 
grande  número  de  crianças,  adolescentes  e  adultos.  Mesmo  assim,  estas 
consequências não aparecerão em 100%. 
Já  as  consequências  das  experiências  traumáticas  particularmente  vividas,  como 
perdas  pessoais  ou  separações  conjugais  deverão  ser  melhor  investigadas,  uma  vez 
que as variáveis são muitas, assim como são muitas as maneiras das pessoas reagirem 
a  elas.  Inclusive,  parece  que  em  determinadas  circunstâncias  as  crianças  reagem 
melhor que os adultos. 

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