Não se vê, mas se sente. Mestre em psicologia pela O vento balança galhos e flores, Universidade Federal de Santa A fé separa homens e almas do que existe e do que possa existir, Catarina, especialista em Se podemos chorar ou se podemos sorrir. psicologia clínica Queria nesse momento poder voar, Email: doriswaldow Pra do alto das nuvens orientar @hotmail.com Os anjos-crianças a seguir o caminho da inocência. Escutando canções de belas palavras, DENISE FRANCO DUQUE Regando flores com amor. Especialista em psicologia (MONTANHA RUSSA) clínica, coordenadora do Familiare Instituto Sistêmico. RESUMO: Este artigo está baseado no recorte de ABSTRACT: This article is based on a study case Supervisora e orientadora um atendimento psicoterápico realizado em um of psychotherapy conducted through a project of deste trabalho projeto da 6ª Delegacia de Polícia juntamente com the 6th Police Station along with an Institute of Email: deniseduque@ um instituto de Terapia Relacional Sistêmica. Trata- Relational Systemic Therapie. The patient had matrix.com.br -se de um caso no qual um paciente acusado de been accused of pedophilia, requested assistance pedofilia solicitou ajuda à delegacia, da qual foi at police station and was sent for psychological encaminhado para atendimento psicológico. O tex- attention. This text aims to discuss the psycho- to tem por objetivo discutir as possibilidades de therapist work in cases as this one when the vic- atuação do profissional psicólogo frente a uma ví- tim can had become an abuser, reflecting the re- tima que pode também ter se tornado um agressor, percussions of violence in his life. It is based on bem como as repercussões da violência na vida do the Systemic perspective, including the Bronfen- indivíduo. Toma por base teórica a perspectiva Sis- brenner bioecological development theory and têmica, incluindo o desenvolvimento bioecológico family life cycle, and violence, death and bereave- de Bronfenbrenner e o ciclo vital da família. Utiliza- ment studies. The reflections in this paper highli- ram-se, ainda, estudos sobre violência, morte e ght the need of professional undress their prejudi- luto. As reflexões feitas neste texto apontam para a ces, recognizing the patient as a human being in necessidade do profissional despir-se de seus pre- distress. As well as, the need to have the profes- conceitos, reconhecendo o paciente como um ser sional role as an agent of change and health well humano em sofrimento, bem como a necessidade understood. It was also underlined the repercus- deste ter clareza do seu papel enquanto agente de sions of the violence suffered, who settled in the saúde e mudanças. Verificou-se ainda, as reper- form of physical and emotional symptoms. cussões da violência sofrida, que se estabelece- ram na forma de sintomas físicos e emocionais. KEYWORDS: violence, transfer trauma, profes- sional activity PALAVRAS-CHAVE: violência, transmissão dos Recebido em: 05/05/2013 traumatismos, atuação profissional. Aprovado em: 06/06/2013
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O trabalho como terapeuta clínico traz O caso a ser relatado e discutido a se- 52 NPS 46 | Agosto 2013 consigo algumas surpresas e desafios guir é o resultado de um desses atendi- que nos colocam numa posição em mentos que foi absorvido pelo progra- que se torna impossível trabalhar sem ma e realizado pela autora. que haja novas e profundas reflexões Trata-se de um homem acusado de acerca do seu papel, seus sentimentos, ter cometido abuso sexual em crianças ideais e valores. Este artigo é fruto de (pedofilia). Ao aceitar atender MR*, uma dessas ocasiões na qual tive a vi-me diante de um grande desafio oportunidade de me despir de medos e que, tendo em vista meu histórico com preconceitos para poder auxiliar no crianças e minha tendência em sensi- processo de reconstrução de uma vida bilizar-me com as mesmas, me coloca- marcada pela violência e pela dor. ria numa posição delicada de não jul- A violência é aspecto cada vez mais gar um ser humano que, criminoso ou presente e preocupante em nossa so- não, pedia ajuda. ciedade. Ao sairmos às ruas, ou sim- O desenvolvimento desse texto teve plesmente ligarmos o televisor, esta- como objetivo exemplificar e discutir mos sujeitos a ver e ouvir notícias as repercussões da violência na vida resultantes da crescente violência que do indivíduo, além das possibilidades nos cerca. São casos diários de agres- de atuação do profissional psicólogo sões físicas, sexuais, psicológicas, ne- frente a um caso no qual a vítima po- gligências e até mortes. Tudo isso en- deria também ter se tornado um volve um grande sofrimento para a(s) agressor. Este estudo de caso, voltado vítima(s) e sua(s) família(s), e, tam- para a descrição de fenômenos com bém, segundo pesquisas como as de cunho exploratório e descritivo, foi Camargo (2002) e Vecina (2002), é desenvolvido por meio da análise pre- produto e produtor de sofrimento dominantemente qualitativa dos aten- do(s) agente(s) da violência, já que, se- dimentos e baseia-se no estudo clíni- gundo as autoras, as pesquisas indi- co realizado. cam que há a possibilidade de, muitas Os dados analisados são frutos de vezes, o agressor ter sido também uma um recorte do processo terapêutico do vítima de agressão. Dessa maneira, Sr. MR, de 35 anos, ocorrido entre toda a sociedade vem sofrendo inten- 2007 e 2008. Uma vez que este é um samente com a dor de conviver com a trabalho de cunho científico e permeia violência e o medo, nem sempre sa- aspectos éticos e profissionais, o pa- bendo/conseguindo aliviar tal sofri- ciente foi devidamente informado so- * MR é a sigla utilizada para mento. bre a intenção deste, bem como dos referir-se à pessoa atendida, Assim, com o intuito de auxiliar al- meus objetivos, e, após tê-los aceito, preservando-se sua identidade em sigilo. A sigla é a abreviatura gumas famílias que necessitavam de assinou o Termo de Consentimento das palavras “Montanha atendimento psicológico a ressignifi- Livre e Esclarecido. Além disso, MR Russa”, termo utilizado pelo paciente no decorrer da primeira car suas relações, superando suas difi- teve acesso ao material final escrito do sessão como forma de culdades emocionais e seus conflitos caso e autorizou o uso de seus textos descrever sua constante familiares, foi criado um programa no escritos durante o processo terapêuti- sensação de ansiedade, e adotado pela equipe da qual alguns voluntários se dispuseram co, para fins científicos. delegacia como forma de a financiar parte dos atendimentos às Como psicóloga clínica com forma- manter o anonimato. Além disso, o termo contém uma famílias que chegavam à 6ª Delegacia ção em terapia relacional sistêmica, metáfora que é também de Polícia (DP) e que não conseguiam tomo como aporte epistemológico a considerada um instrumento terapêutico, conforme discutido ser absorvidos pelos escassos progra- teoria sistêmica, também conhecida no decorrer do trabalho. mas de atendimento da rede pública. como ciência complexa ou novo-para-
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digmática*, para embasar minhas re- lações entre dois ou mais microssiste- Da montanha russa ao vento! flexões sobre o trabalho realizado. Se- mas nos quais a pessoa participa ativa- Doris Waldow 53 Denise Franco Duque gundo esse referencial, sempre que mente, tais como relações entre a pensamos o indivíduo devemos consi- família e a escola), que, por sua vez, derá-lo dentro de seu contexto, isto é, estão inseridos nos exossistemas (am- ponderando o mundo e as relações biente em que a pessoa não participa que o cercam e/ou cercaram durante de forma direta, ativa, mas nos quais toda a sua vida. O mundo é visto em ocorrem eventos que afetam e são afe- sua complexidade, como um imenso tados pelo sujeito, tais como o ambien- sistema, uma teia, em que tudo e todos te de trabalho dos pais) e o macrossis- estão conectados e no qual, fenôme- tema que permeia todos os outros nos biológicos, psicológicos, sociais e sistemas formando uma rede de inter- ambientais são interdependentes. A conexões que se diferenciam de uma ciência novo-paradigmática apoia-se cultura para outra (tais como econo- em três pressupostos: o da complexi- mia, política, religião, sistema de leis, dade, o da instabilidade e o da inter- entre outras características inerentes a subjetividade (Vasconcellos, 2002). cada cultura). Todos os sistemas se Dentro dessa teoria, o indivíduo é veem influenciados pelo cronossiste- visto em constante interação com o ma que se refere à passagem do tempo mundo que o cerca, sendo ambos con- em termos históricos (diz respeito tan- siderados integrantes de uma rede co- to às continuidades quanto às mudan- nectada a tudo que se retroalimenta ças e interrupções ao longo do ciclo numa complexa interdependência. O vital do indivíduo e das gerações) ser humano não é apenas um alguém (Bronfenbrenner, 2011; Polônia, Des- isolado, mas está no mundo. É um su- sen & Silva, 2005). jeito que, apesar de manter sua indivi- Dentro desse mesmo pensamento, dualidade, não pode ser compreendi- torna-se importante para o terapeuta do sem levar-se em conta todas as suas estar atento à família, a qual, segundo conexões. Cada atitude que adota afeta Minuchin (1982), é considerada a Ma- outros aspectos da vida, seja nos pró- triz de Identidade e possui como fun- prios seres humanos, seja no meio am- ções a proteção de seus membros e a biente. transmissão e adaptação desses à cul- Minuchin, Colapinto e Minuchin tura. Constitui-se em um sistema (1999) apontam ainda que o sistema é complexo, que apresenta uma estrutu- formado por inúmeros subsistemas. ra composta por subsistemas integra- Bronfenbrenner (1996) contribui com dos e interdependentes que se organi- o esclarecimento dessa ideia ao des- zam baseando-se em relações crever a existência de vários deles: o hierárquicas e de poder de acordo com microssistema, o mesossistema, o as diferentes funções exercidas pelos * Ciência novo-paradigmática, exossistema e o macrossistema, aos membros da família, Ela se define segundo Vasconcellos (2002), é quais se adiciona atualmente o cronos- como um sistema social único e dinâ- a ciência baseada num novo sistema. mico, que estabelece uma relação bidi- paradigma no qual o mundo é complexo, instável e Segundo ele, o indivíduo está inse- recional e de mútua influência com o influenciado pela subjetividade rido em microssistemas (atividades, contexto sócio-histórico-cultural no do pesquisador. A mesma autora (2005) afirma que este é papéis e relações interpessoais expe- qual está inserida. Ou seja, a família um termo transitório sendo em rienciadas pela pessoa, tais como fa- como matriz da identidade tem como breve dispensado em função de um reconhecimento amplo do mília e amigos), os quais se encontram função promover no sujeito o senti- pensamento sistêmico como o em relação com os mesossistemas (re- mento de pertencimento, por meios de novo paradigma da ciência.
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modelos de identificações que o auxi- fica no meio de um mar de problemas, 54 NPS 46 | Agosto 2013 liam a conhecer quem é e quais são resolvendo o que está fora da terra? suas origens, bem como possibilitar Talvez entenda porque as ondas que- seu crescimento e individuação, de di- bram a tranquilidade e afogam meus ferenciação de seus pais e irmãos (Mi- sentimentos mais inocentes... nuchin, 1982). Lembranças da infância, de quando Devido a essa necessidade de desen- um sorriso era como um pôr do sol volvimento da própria família de numa tarde de verão, modo a permitir o crescimento de seus Uma lágrima regava um milhão de membros, costuma-se pensar que a fa- sonhos e um sonho era o que bastava mília passa por estágios de transição para continuar correndo na direção do ao longo de seu ciclo de vida, durante horizonte. os quais há, em geral, aumento de es- Mas na vida a luz nunca pode aca- tresse por maior ou menor desestabili- bar, porque um segundo de escuridão zação do sistema. Essa instabilidade é na alma é o suficiente pra acordar em gerada por necessidade do sistema de- pesadelos. senvolver novas aprendizagens a fim Talvez nunca cheguei bem ao fundo de incorporar padrões de funciona- deles para entender que o ar acaba no mento cada vez mais complexos. Car- momento que você não acredita no ven- ter e McGoldrick (2001) propõem to que balança seus cabelos. uma divisão em 8 estágios normativos (Montanha Russa) do ciclo vital da família: o lançamento do jovem adulto solteiro; a união das MR chegou pontualmente à sessão famílias no casamento – o casal; tor- e com olhar cabisbaixo entrou e sen- nando-se pais – famílias com filhos tou-se no sofá. Respirou fundo e sem pequenos; a transformação do sistema que eu perguntasse qualquer coisa familiar na adolescência; famílias no começou a falar: “Vou começar desde meio da vida – lançando os filhos e se- o início, quando eu tinha nove anos...” guindo em frente; e família em estágio e assim iniciou contando as sucessi- tardio de vida. Destacam ainda vicissi- vas tragédias ocorridas em sua vida. tudes, como divórcio e recasamento, Aos prantos, contou da morte por as- morte prematura, e doenças crônicas. sassinato do seu pai, de como se tor- Dar atenção à família e sua história, nara um menino em situação de rua, ao contexto socioeconômico, às cren- de como tinha conhecido o homem ças e valores e às etapas da vida funda- que o tirara das ruas, lhe ensinara menta minha prática, pois possibilita uma profissão e que o “sacaneara”* identificar os desafios de cada etapa com o corpo durante aproximada- para os diferentes membros da família, mente um ano e de como foi sua vida bem como as repercussões das situa- desde então. ções vividas nos diferentes momentos Contou ainda sobre a reação de sua de desenvolvimento. mãe quando finalmente, após anos, re- velou a ela o abuso sofrido e da sua consequente crise de diabetes após re- RELATO E DISCUSSÃO DO CASO ceber a notícia. Relatou como se sente desanimado e sem vontade de viver, * “Sacanagem” foi a palavra Hoje começo minha história... com muitas dores no peito e no abdô- utilizada por MR durante muito tempo para denominar o abuso Durante 34 anos vivo nessa ilha da men (“como se estivesse o tempo todo sexual sofrido. magia, mas o que fazer se meu coração em uma montanha russa”) e os cons-
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tantes pesadelos nos poucos momen- que seu pai o chamara e mais alguns Da montanha russa ao vento! tos que conseguia dormir. irmãos que se encontravam em casa Doris Waldow 55 Denise Franco Duque Diante de tantas desgraças, sensibi- para subir o morro, pois soubera que lizada com tudo o que ouvia, voltei a um de seus filhos estava sendo agredi- pensar na situação que o trouxera até do. Ao chegarem lá, os agressores fugi- ali e buscando ser sincera lhe esclareci ram, voltando em instantes com armas a situação ética frente à questão. Afir- em punho atirando no peito do pai e mei que sabia da denúncia de pedofilia do irmão pivô da situação. que corria contra ele e que, mesmo A partir de então, MR passou a pe- não cabendo a mim descobrir se o fato rambular pelas ruas, sem rumo, vol- ocorrera ou não, eu precisava de ga- tando para casa apenas ao anoitecer, rantias de que, caso houvesse veraci- até que, aos 12 anos, resolveu ir traba- dade na denúncia, o abuso não volta- lhar para ajudar sua mãe. Conseguiu ria a acontecer. Esclareci ainda que, um emprego de vendedor de picolé, o ouvindo a dor que MR sofreu e conti- que, algum tempo depois, lhe propor- nua sofrendo por causa do abuso, não cionou conhecer um homem que lhe poderia permitir que ele fizesse o mes- tirou da vida que tinha para ensinar- mo com outra criança. MR garantiu -lhe tudo o que sabe sobre sua profis- que desde a denúncia fugia de situa- são atual. Infelizmente, esse mesmo ções em que encontrasse meninos de homem também abusou dele sexual- rua, evitando seu impulso de querer mente por mais ou menos um ano. ajudar* aqueles que estão vivendo o A partir de então, MR disse ter vira- mesmo que ele próprio vivenciou. do um rapaz revoltado, brigão e sem Além disso, expliquei as normas e amor à vida. Bebia muito e arranjava os objetivos do projeto, contratando brigas, pois eram as formas que tinha com MR que os encontros se dariam de se sentir aliviado. Com o tempo pa- semanalmente, que a falta consecutiva rou de beber e começou a usar maco- sem aviso prévio significariam a desis- nha, hábito que deixou logo, pois per- tência do processo terapêutico e a per- cebeu que a droga o deixava ainda da da vaga no projeto, falei sobre o si- mais deprimido. Buscou ajuda com gilo profissional e sobre um pagamento um psicólogo, com quem lembrou a simbólico para o tratamento. situação de abuso sofrida, mas não conseguiu abrir a questão pelo fato de se sentir envergonhado e “menos ho- A HISTÓRIA DE MR mem” frente a um terapeuta do sexo masculino, o que dificultou a conti- MR é o filho caçula de uma família hu- nuidade do tratamento. Consultou-se milde de 14 irmãos, sendo 7 filhos da ainda com um psiquiatra, mas tam- primeira família do pai, 1 de um pri- bém não persistiu com a medicação meiro relacionamento da mãe e 6 do devido à sensação de torpor e comple- casamento entre ambos. Cresceu em to desânimo que os remédios lhe cau- Florianópolis, numa época em que savam. Além disso, ambos eram da bairros, hoje totalmente urbanizados, rede particular e MR não possuía con- ainda eram repletos de campos e árvo- dições de manter os custos. * MR utiliza a palavra “ajuda” quando se refere às crianças res, dos quais tem lembranças saudo- MR relatou sua indignação frente a que abordava, pois, para ele, sas e idealizadas. crianças em situação de rua, com seu desejo era o de tirá-las das ruas atentando para os perigos Aos 9 anos, presenciou a morte de quem conversava e tentava ajudar, fa- de viver uma vida na seu pai, vítima de assassinato. Conta lando-lhes da importância do estudo e marginalidade e nas drogas.
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do prejuízo causado pelas drogas. Um Para compreender melhor a história 56 NPS 46 | Agosto 2013 dos primeiros passos tomados por MR de vida e a família do paciente, utilizei- foi o reconhecimento de que projetava -me do genograma (Figura 1), buscan- naquelas crianças sua própria infância, do identificar os vínculos significativos fazendo o que queria que tivessem fei- e as repetições de padrões de compor- to por ele. Porém precisou perceber tamento numa leitura trigeracional. que elas não lhe davam ouvidos en- MR demonstrou entusiasmo e interes- quanto ele se colocava em novas situa- se no exercício, lembrando-se de mui- ções de risco, que serão discutidas tas pessoas e histórias “esquecidas”. O adiante. Aos poucos chegou a conclu- exercício nos permitiu observar deter- são de que antes de pensar nos outros minadas repetições ao longo das gera- precisaria cuidar de si, curar suas pró- ções passadas, tais como dependência prias feridas para poder seguir em química, mortes trágicas e situações de frente. distúrbios mentais na família. MR tem vivido sua vida com muito Busquei entender também as rela- desânimo, dores no corpo (principal- ções que se estabeleciam entre os mente no peito), pesadelos com a membros da família, que apresenta- morte do pai e sua própria morte que vam padrões rígidos, mas com bastan- não o deixam dormir, dedicando-se te afeto. Ao explorarmos a história da quase que exclusivamente ao seu sus- família, MR encontrou dificuldade em tento e aos cuidados de sua mãe. Cos- certos momentos, o que o fez, aos pou- tumava preocupar-se com as necessi- cos buscar mais informações sobre sua dades de todas as pessoas antes das origem. suas próprias. Ajudava a muitos, mas O documento gerado pelo exercício não pedia ajuda, nem compartilhava se fez presente e continuou sendo cons- sua dor com ninguém. As únicas pes- truído inúmeras vezes no decorrer da soas a quem confiou o segredo do abu- terapia, permitindo que usufruíssemos so sofrido são uma ex-namorada, sua de sua riqueza em diferentes etapas do mãe e eu, agora. processo.
Figura 1: Genograma da Família de MR.
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Segundo Dessen e Braz (2005), en- sável por “ter de pegar um copo que Da montanha russa ao vento! tender a história de vida de MR, o con- está caindo”, e, por mais maldosas que Doris Waldow 57 Denise Franco Duque texto em que viveu e em que vive, os tivessem sido suas palavras, o tama- períodos de vida nos quais acontece- nho desproporcional do “castigo” que ram fatos importantes em sua vida e o se impunha, pude, aos poucos, ajudar momento no qual se encontra é funda- MR a redimensionar a tragédia e a res- mental para ver o indivíduo dentro de ponsabilidade pelas situações vividas. uma perspectiva sistêmica. O genogra- Foi necessário que o paciente fizesse o ma auxilia na organização dos dados e exercício de imaginar outra criança, permite uma melhor visualização da com a mesma idade, para que pudesse estrutura e dos padrões da família em finalmente perceber a fragilidade des- questão. No decorrer do atendimento ta, frente à tamanha violência. Apenas de MR foi instrumento fundamental, desprovido das questões emocionais não só para mim enquanto terapeuta, que lhe torturavam há tanto tempo, mas também para o paciente, que con- que MR pode pela primeira vez perce- seguiu organizar suas ideias, histórias e ber quão injusto estava sendo consigo a própria família, ao mesmo tempo em mesmo, responsabilizando-se pela que pode se dar conta de muitos fato- morte de seu pai. Esse foi um dos as- res aos quais não havia dado impor- pectos mais difíceis de todo o processo tância até o momento. de luto. O sentimento de culpa é relatado como sendo muito comum nos casos MR E SUAS PERDAS de perdas trágicas. Segundo Walsh e McGoldrick (1998), nas perdas trági- A morte do pai foi um dos temas mais cas e inesperadas, em que questões po- abordados nas sessões com MR. Aos dem ter ficado em aberto e a família poucos o paciente trouxe detalhes des- sem tempo para se despedir, são co- sa perda e da sensação de culpa que o muns sentimentos de incompreensão, aflige diariamente. MR conta que en- dor e culpa e a sensação de que aquilo quanto estava no morro com seu pai e poderia de alguma forma ter sido evi- irmãos, viu os agressores voltando tado. com as armas nas mãos e não conse- Isso ficou claro em todas as sessões guiu avisá-los. Descreve uma sensação em que o assunto da morte foi predo- “como se visse que um copo de água minante. Percebia um intenso questio- iria cair e despedaçar-se sem conse- namento sobre o que poderia ter feito guir chegar a tempo de pegá-lo” e disse e não fez. Poderia ter avisado o pai? sentir-se assim constantemente, o que Poderia ter evitado o acidente? Deve- o deixa ansioso e inseguro. ria ter medido suas palavras em situa- Somando-se a ISS,o MR relata uma ções anteriores? Tais fantasias de oni- cena ocorrida uma semana antes da potência criavam a falsa noção de que morte de seu pai, quando numa briga MR poderia ter tido a situação sob seu com um garoto do bairro afirmara: controle. Parecia ser mais fácil lidar “Você nem tem pai mesmo...” Desde com a raiva de si mesmo do que aceitar então, sente-se culpado e punido por o sentimento de raiva pelo pai que se ter proferido tais palavras infantis. colocou em situação de risco e o aban- Trabalhando a questão da incapaci- donou tão precocemente, e dos assas- dade e principalmente da impossibili- sinos que lhe tiraram a vida de forma dade de uma criança se tornar respon- fria e implacável.
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Ao analisar a história de vida do pa- MR ficou muito emocionado, mas 58 NPS 46 | Agosto 2013 ciente, percebia-se que ele não conse- não conseguiu falar uma única palavra guia superar a perda. MR apresentava para seu pai. Ele olhava para a foto à muitos dos sintomas descritos pelas sua frente e chorava sem conseguir ex- autoras Walsh e McGoldrick (1998) e pressar seus sentimentos. Aos poucos por Strobe e Strobe (1987) frequente- procurei verbalizar o que imaginava mente encontrados em pessoas enluta- que o pai gostaria de dizer para seu fi- das, em diferentes etapas do ciclo de lho caçula. O rapaz ouviu atentamente vida. A depressão, a ansiedade, a cul- e aos poucos voltou a olhar para mim. pa, a raiva/hostilidade, a falta de pra- Com o horário da sessão estourado, zer, a solidão, a agitação, a fadiga e o encerrei assinalando que MR podia re- choro o acompanhavam, bem como encontrar seu pai e conversar com ele dores somáticas, perda do apetite, o a partir das lembranças que tem e que distúrbio de sono, a perda de energia e, seria importante poder lhe dizer o que na adolescência, ingestão de psicotró- nunca foi dito. A atividade possibilitou picos. Alem disso, relatava ter pesade- ainda, que nas sessões seguintes pu- los em que revivia o assassinato do pai, dessem ser trazidas lembranças das si- ou vivenciava seu próprio assassinato tuações vividas anteriormente às tra- e sentia dores na mesma região em que gédias e introduziu a possibilidade de o pai havia sido baleado. resolver questões não resolvidas. Me- Segundo as fases do luto relatadas ses depois, MR relatou que, no aniver- por Bromberg (1994), pode-se dizer sário de óbito do pai, conseguiu visitar que MR havia estacionado entre a se- seu túmulo e conversar com ele. gunda e a terceira etapas, ou seja, entre Em outro momento, MR relatou a o anseio e protesto (desejo de reencon- angústia sofrida nas horas após o as- trar a pessoa morta e raiva pela pessoa sassinato do pai, nas quais ninguém ter partido) e o desespero (acompa- podia chorar ou falar do assunto já que nhado de apatia e depressão pela to- a mãe, que “sofria dos nervos”, ainda mada de consciência da irreversibili- não sabia da morte. Descreveu a cena dade), pois os sentimentos que relatava de seu pai deitado, já sem vida no sofá, ainda eram de desejo de reencontrar a sua fantasia (desejo) de que estivesse pessoa morta e de desespero, apatia e apenas dormindo e o silêncio que pai- depressão. rava na casa até que a tia revelasse a A partir dos relatos cada vez mais tragédia à mãe. Quando finalmente detalhados, bem como dos meus ques- esta soube do ocorrido teve uma “crise tionamentos, ansiedade e culpa foram de nervos” e mais uma vez os filhos cedendo pouco a pouco. Nesse mo- encontraram forças para suportar a mento sugeri que MR escolhesse algu- morte e o desespero, evitando fragili- mas fotos de sua família a fim de tra- zar ainda mais a matriarca. Somente balhar com elas. O paciente trouxe no velório, MR finalmente permitiu-se várias delas que foram observadas e chorar de forma tímida e secreta. Os explicadas até que me detive em uma membros da família sofriam calados foto do pai. A partir de então pedi li- acreditando que assim diminuíam a cença à MR para “chamá-lo” à sessão e dor do próximo. Cada membro da fa- solicitei que o paciente pensasse no mília isolou-se em sua dor, calando em que gostaria de falar para seu pai e no seu peito a dor latente da falta, da cul- que acha que ele lhe diria. pa, do medo, do desânimo, da confu- são, da raiva etc.
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Após o evento, MR diz ter se senti- apenas desgraças, mas que ocorreram Da montanha russa ao vento! do cada vez mais solitário. A família também situações positivas, as quais Doris Waldow 59 Denise Franco Duque teve muita dificuldade de se reorgani- fazem parte da sua história e conse- zar sem a presença da figura paterna, quentemente da sua identidade. recaindo sobre a mãe o sustento finan- Para MR, a dor foi intensa, pois ceiro da casa e o auxílio no cuidado além de perder um membro da famí- dos netos. Além disso, amigos e padri- lia, perdeu aquele que efetivamente nhos afastaram-se da família, deixan- cuidava dele e de quem ainda precisa- do-a cada vez mais isolada em sua dor va muito. MR perdeu o pai, cuja im- e seus problemas. Não obstante, a falta portância na família se dava em fun- de comunicação agravava as dificulda- ção do estabelecimento de regras, des, deixando ao encargo de cada um sustento financeiro e porto seguro. lidar com a situação e sentimentos iso- Além disso, vivenciar a morte do ladamente. O paciente relata que nem pai provocou em MR reações que são na escola encontrava conforto, tendo descritas em psiquiatria como caracte- os professores, movidos pelo senti- rísticas de um estresse pós-traumático. mento de pena, relevado as atitudes de MR passou a reviver constantemente a MR frente aos estudos, sem serem ca- cena fúnebre. Acordado se percebia pazes de poder ouvir e acolher o aluno relembrando o drama e quando dor- em sua dor. mia tinha muitos pesadelos com a As características da família de MR cena do assassinato de seu pai. Por esse dificultaram a possibilidade de elabo- motivo costumava manter-se constan- ração do luto. Segundo McGoldrick e temente ocupado, evitando ficar quie- Walsh (1998), quando a família não to, e dormindo o mínimo possível. consegue manter a coesão e permitir a Com os constantes pesadelos, che- diferenciação dos membros, quando gava cada vez mais exausto às sessões. apresenta dificuldade em se comuni- Trabalhamos o conteúdo dos sonhos car e de falar sobre a dor da perda, que se davam sempre em torno da quando existe a escassez de recursos morte de seu pai ou da sua própria econômicos e quando não existe uma morte. Com isso passou-se a explorar rede de apoio que auxilie a família nes- o significado da morte para o paciente. se momento, a elaboração do luto se Sugeri que fizesse um exercício de re- torna muito mais lenta ou até mesmo corte e colagem, no qual buscaria em impossível, dificultando seus mem- revistas imagens que representassem a bros a seguir em frente na tarefa de morte. O paciente trouxe fotos de as- continuar vivendo. sassinato, violência, dor e desamparo. MR mostrou-se muito magoado A partir desse material, foi discutido com a incapacidade dos adultos perce- como MR se sentia ao ver tais imagens berem sua dor, repetindo constante- e como imaginava que iria morrer. Ele mente o quanto queria ter podido falar associava à morte toda cena em que sobre tudo isso naquela época, tendo um ser humano não é respeitado em alguém que o acolhesse, escutasse e sua condição humana e se imaginava guiasse. Apenas falando exaustiva- numa morte parecida com a do seu mente sobre o assunto, ele pôde, pela pai: com arma de fogo, com tiros no primeira vez, questionar sua culpa e peito. começar a olhar para os momentos fe- A ligação com seu pai fez com que lizes que antecederam aquela tragédia, MR não só imaginasse sua morte se- constatando que a sua vida não fora melhante, como fez com que ele se co-
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locasse em situações de perigo nas para o paciente visualizar a vida era 60 NPS 46 | Agosto 2013 quais essa morte “esperada” pudesse muito difícil, já que só via dor, morte e acontecer. Como já apontado anterior- separação à sua frente. Mesmo assim, mente, MR buscava ajudar as crianças aos poucos MR pôde começar a cuidar em situação de rua (principalmente da saúde, fazer planos para o futuro, quando envolvidas com tráfico). Nessa reestabelecer contatos com amigos e “ajuda” falava sobre o que poderia familiares, demonstrando que de algu- acontecer, ganhava a amizade e con- ma forma o desejo de viver estava bro- fiança, e buscava descobrir quem era o tando em sua alma. mandante (traficante) para denunciá- Outra perda significativa para MR -lo anonimamente. Com isso o pacien- estava atrelada às questões de abuso. O te se colocava em alto risco, já que, no paciente relatava com frequência a dor tráfico, essas situações são comumente que sentia ao ver crianças perambulan- resolvidas a tiros. do pelas ruas. Dizia sentir vontade de Recorrendo ao genograma, pude- ajudá-las e, aos poucos, pôde perceber mos perceber que histórias de assassi- o quanto essa iniciativa de ajuda o re- natos e outras mortes trágicas foram metia a própria situação vivida, na qual uma constante na família de MR, as- não foi ajudado. Ele constantemente sim como o silêncio e a impossibilida- afirmava que nada disso teria aconteci- de de falar sobre esses assuntos. Ao do se alguém tivesse olhado para ele, visualizar esse fato o paciente se es- ajudado em sua dor, permitindo a ele pantou e reforçou seu autoquestiona- chorar e falar sobre o assunto, incenti- mento frente suas atitudes de risco de vando-o a não deixar a escola etc. Ao morte, bem como se permitiu olhar e mesmo tempo dizia que percebeu que questionar tantas mortes ocorridas. seu esforço de nada adiantava, já que as MR contou as histórias e motivos de crianças pareciam não querer ouvir o cada morte na família e pela primeira que uma pessoa mais velha tinha a di- vez, se permitiu repensar a responsa- zer, sofrendo conseqeências inespera- bilidade do pai na sua própria morte. das como a denúncia por sua iniciativa Concomitante a isso, foi possível re- de estender a mão. fletir sobre as consequências dessa Descreveu uma situação de uma morte e da impossibilidade de comuni- criança que era violentada pelo pai em cação, que levaram ao isolamento, à casa e do seu desânimo frente ao de- desestruturação, abandono da escola, senrolar da história. Conta como o trabalho infantil, perambulação pelas menino lhe pedira um par de tênis e ruas, depressão e pouca perspectiva de ele, lembrando-se da situação vivida vida, já que MR apresentava comporta- na sua própria infância, propôs um mentos nitidamente suicidas e dema- trato: deu-lhe um cachorrinho (filhote siada dificuldade de projetar o futuro. de sua cadela) lembrando-se de como A partir dessa discussão, sugeri a re- lhe ajudara ter um animal de estima- alização do contraponto do exercício, ção como companheiro nas horas difí- onde MR deveria buscar imagens que ceis e lhe prometeu um tênis caso ele lhe remetessem à vida. O paciente re- cuidasse muito bem do filhote no de- cebeu algumas revistas e folhas de pa- correr de um mês. Algum tempo de- pel para levar e fazer com calma em pois perguntou ao garoto como estava casa, mas essa tarefa nunca foi cumpri- o cachorro para poder cumprir sua da. Algumas sessões depois discuti- promessa, e o garoto respondeu que mos sobre a dificuldade em realizá-la: havia matado o cachorro, pois este fa-
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zia muito barulho. Isso deixou MR de- que possibilitava o usufruto de diver- Da montanha russa ao vento! solado. sos benefícios em troca de situações Doris Waldow 61 Denise Franco Duque Ao relatar a cena e constatando a doloridas e constrangedoras. O pa- violência e o desperdício do seu tem- ciente não se permitia julgar AB pelas po, MR começou a perceber que não suas atitudes já que, ao mesmo tempo seria ajudando os outros que o faria em que o “sacaneava”, estendia- lhe a sentir-se melhor, mas que precisava mão e ensinava coisas tão importantes começar a cuidar da sua própria crian- para sua vida. ça interior. Aquela que foi tantas vezes Segundo Arruabarrena e Joaquim ferida e que agora, finalmente voltava (1999), MR sofreu um abuso caracteri- a ganhar voz e se permitia pedir ajuda zado como violação, o qual seria nor- para ser cuidada e consolada. Além malmente menos prejudicial visto a disso, passou a questionar se ele pró- maior possibilidade de a família se prio teria dado atenção caso alguém unir para proteger a criança. Mas fren- tivesse tentado alertá-lo. te ao fato de a família encontrar -se O abuso sofrido foi um dos temas desorganizada pela tragédia que a aco- mais difíceis de serem tocados em te- meteu, o rapaz sentia-se impedido de rapia. Com muita dificuldade MR co- relatar o caso, poupando os demais meçou a falar dessa vivência. Disse membros de mais uma dor. que quando decidiu trabalhar para Furniss (2002) corrobora com a dis- ajudar a mãe, começou a vender picolé cussão ao descrever fatores que agra- nas ruas e bares e conheceu AB*, que vam a situação vivida. Ao se pensar na num primeiro momento lhe ofereceu história de MR, pode-se dizer que o atenção, ajuda e um emprego, o que abuso foi agravado pela grande dife- até então não havia recebido de nin- rença de idade entre a pessoa que co- guém. AB incentivou MR a retomar meteu o abuso e a vítima (cerca de 30 seus estudos e lhe ensinou uma profis- anos), a importância que o abusador são. Era atencioso e amoroso, mas seus tinha para MR que aumenta o parado- carinhos passaram de simples mani- xo entre proteção e abuso, o tempo festações de afeto para se tornarem ca- prolongado da situação e a ausência de rícias vividas sob forma de tortura figuras parentais protetoras. pelo rapaz. AB passou a abusar sexual- Nos encontros em que se falou nes- mente de MR, que sabia que aquilo se tema, busquei ajudar MR a identifi- não era correto, mas não sabia para car seus sentimentos em relação ao quem falar nem o que fazer. abuso. O paciente, aos poucos identifi- Pfeiffer e Salvagni (2005) atestam cou sentimento de vergonha, impo- essa lei do silêncio, quando descobrem tência, culpa e raiva, semelhantes aos em seus estudos que a real prevalência que sentia frente a perda do pai. do abuso é desconhecida, visto a difi- MR afirmava ter vergonha do que culdade que muitas crianças sentem aconteceu com ele, sentindo-se “me- em revelar. Barudy (1999) apresenta as nos homem” por ter sido usado formas como o agressor consegue esse sexualmente, o que interfere nos seus silêncio, exercendo controle sobre sua relacionamentos atuais, já que não vítima, seja através da sugestão, de consegue esconder de sua companhei- mentiras, de chantagens afetivas, da ra o que vivera, ao mesmo tempo em intimidação ou da utilização da vio- que tem medo de não ser compreendi- lência. No caso de MR, o agressor lhe do. MR relatou que após lembrar-se da * AB será a sigla para nomear o incutia um sentimento ambivalente, já cena (nas consultas com o primeiro vitimizador de MR.
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psicólogo) contou a história a uma na- Ao ser questionado sobre quem sa- 62 NPS 46 | Agosto 2013 morada e essa, por imaturidade (17-18 bia da história, contou suas duas expe- anos), espalhou suas questões tão inti- riências negativas em dividir esse far- mas a “amigos”. Dessa forma seus rela- do com alguém. Além da situação cionamentos tornaram-se curtos e su- vivenciada com a namorada, relata perficiais, terminando sempre antes de que há alguns anos contou à sua mãe se tornarem mais íntimos. sobre o abuso vivido e que a reação da A impotência sentida pela incapaci- mesma foi difícil pois, segundo o pa- dade de pedir ajuda foi outro senti- ciente, a mãe sentindo-se culpada por mento relatado por MR que se via no- nunca ter percebido, teve uma compli- vamente incapaz de mudar o “destino”, cação da diabetes. Por esse motivo, remetendo-o à morte do pai e da sua MR encarcerou sua história de tristeza incapacidade de avisá-lo do perigo. e dor, nunca mais tocando no assunto Também a raiva foi um sentimento ex- com ninguém. plorado por mim, já que ela existia, Como fruto desses episódios o pa- mas contra si mesmo e contra os adul- ciente desenvolveu atitudes que o per- tos que não percebiam que algo estava mitiram fugir de seus sentimentos de errado. MR não conseguia sentir raiva vergonha e impotência, podando-se de AB, o que precisou ser trabalhado em seus relacionamentos e buscando para que o vitimizador, enquanto ajudar aos outros, como forma de me- adulto, fosse responsabilizado pelos lhorar o mundo e inconscientemente seus atos. Com o tempo, MR relatou ajudar a si mesmo. Com a possibilida- que chegou a ir atrás de AB, anos de- de de reconhecer os danos vividos, pois, pois gostaria de ouvir dele o mo- MR pôde começar a olhar para dentro tivo de ter abusado, mas desistiu no de si, deixando de buscar nos outros caminho achando que não valeria a sua recuperação. pena procurá-lo. Além disso, foi posssível fazer uma A culpa foi mais uma vez um senti- ponte entre essa situação e comporta- mento muito presente em seu relato. mentos relatados anteriormente. MR Sentia-se culpado por ter se envolvido demonstrava atitudes suicidas, depres- nessa situação, por ter permanecido sivas, hiperativas, apresentando ainda nela por tanto tempo e por achar que, transtorno do sono e dificuldade de de alguma forma, provocava os abu- aprendizagem. Esses podem ser enten- sos. Esse é mais um sentimento descri- didos como reação à perda trágica e to por Mattos (2002) e Furniss (2002) precoce do seu pai, mas também, se- como efeito do abuso, seja pela estig- gundo Barudy (1999), como trauma- matização social, isolamento, baixa tismos gerados pela situação de abuso. autoestima e diminuição da atenção, Pressupondo que a violência gera concentração e rendimento escolar violência, como explicita Tilmans-Os- (Mattos, 2002), seja pelo sentimento tyn (2000), em sua tese sobre a trans- de ter, mesmo que de forma passiva, missão intergeracional dos traumatis- participado do ato e nunca ter contado mos, poder-se-ia romper o ciclo da a ninguém (Furniss, 2002). Foi neces- violência ao ajudar o indivíduo a se sário muito trabalho para que MR pu- conectar ao sofrimento vivido que é o desse atribuir a responsabilidade do mesmo da vítima. Com a elaboração abuso à AB, podendo compreender e dos danos sofridos, o paciente pode fi- passar a sentir menos vergonha e cul- nalmente integrar sua história e ver pa pela situação vivenciada. que sua vida não foi apenas marcada
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pelas perdas e pela dor. Segundo Mil- tro, o cuidado com os familiares, a pre- Da montanha russa ao vento! ler (1997), é preciso ajudar o paciente ocupação com problemas do país etc. Doris Waldow 63 Denise Franco Duque a olhar para sua trágica história, para Já nas primeiras sessões, bem como que sua vida deixe de ser determinada na realização do genograma, destaca- pela mesma e ele possa se sentir poten- ram-se o carinho e cuidado que MR te sem precisar repetir o mal que lhe demonstrava para com seus familiares, foi feito, odiando o que é odiável e sendo o único que se relacionava de amando o que deve ser amado. forma positiva com todos os membros Ao reforçar constantemente minha da família. Como filho mais novo, o condição de que não poderia aceitar paciente tomou para si a tarefa de zelar que qualquer abuso pudesse estar pela mãe e por alguns de seus sobri- acontecendo, independentemente dele nhos, preocupando-se também com o ter ou não ocorrido, e relacionar a bem-estar de seus irmãos. questão com o sofrimento de MR, A partir dessa constatação, busquei possibilitei a ressignificação da experi- conhecer os eventos extraordinários ência passada, pois auxiliei o paciente da vida, que fizeram com que ele se entrar em contato com sua dor e co- tornasse uma pessoa tão responsável, nectá-la com a dor da possível vítima preocupada com a mãe, com os ir- (caso tenha realmente existido). Ao mãos, com os amigos e com a humani- compreender que a dor e a confusão dade. MR passara a perceber que sua que MR poderia estar gerando em al- vida não havia sido constituída somen- guém seria a mesma que sentiu quan- te de desgraça e que em algum lugar ele do AB abusava dele, o fez conectar-se havia aprendido a se preocupar com os com o outro sem precisar oprimi-lo outros e a aproveitar as coisas que con- para sentir-se mais potente. Além dis- siderava boas, como subir em árvores, so, pode usufruir e reproduzir as expe- dar um abraço, mergulhar no mar/rio. riências positivas que viveu com seu Essas lembranças que tomavam for- agressor, sem se identificar com ele na mas e novos contornos nas conversa- agressão. Passou a poder lembrar com ções terapêuticas,eram ressaltadas e afeição o que teve de bom (afeto, in- muitas vezes exploradas com a finali- centivo, atenção) e a odiar o que real- dade de ampliá-las. Além disso, eu in- mente foi ruim (o abuso). centivava o paciente para que dividisse essas redescobertas com pessoas signi- ficativas, a fim de reatar relações per- O RESGATE DAS BOAS VIVÊNCIAS E didas ou mesmo reforçar relações afe- SUPERAÇÕES DE MR tivamente enfraquecidas pelo tempo e pelas perdas vividas. Dessa forma, MR Ao tempo em que explorava, no sentido pôde reaproximar-se de amigos e fa- de ressignificar as vivências traumati- miliares, aprendendo a compartilhar zantes vividas por MR, busquei, nos di- descobertas e situações positivas, bem ferentes exercícios propostos e nos diá- como reconhecer os sentimentos que logos estabelecidos no decorrer das o invadiam frente aos eventos negati- sessões, identificar e ressaltar os eventos vos. Como exemplo, podemos consi- positivos que fizeram parte da história derar a iniciativa de MR de reaproxi- de vida de MR. Esses eventos começa- mar-se de sua madrinha, podendo ram a ser questionados a partir de habi- ouvir os motivos de tal afastamento, lidades observadas por mim, como a falar do seu sofrimento e, a partir do facilidade em se colocar no lugar do ou- perdão, reatar a relação.
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Busquei, dessa forma, desenvolver Questionamentos acerca do “ser” 64 NPS 46 | Agosto 2013 os potenciais cognitivos e emocionais psicoterapeuta e restabelecer sua autoestima a partir Trabalhar com um paciente, vítima dos aspectos positivos da sua história de violência e ao mesmo tempo acusa- de vida e dessas boas vivências. do de ser um agressor trouxe questio- Outro acontecimento que chamou namentos a minhas convicções éticas e minha atenção foi o fato de MR come- morais. Aceitar o desafio de atender çar a buscar ser cuidado, ao invés de MR exigiu um exercício constante de apenas sempre zelar pelos outros. Ao despir-me dos meus preconceitos para iniciar o tratamento, MR morava com poder olhar o ser humano que ali se um de seus sobrinhos em sua própria desnudava. Foi um exercício constante casa, mas com o decorrer do tempo, de entrar em contato com a criança in- mudou-se para a casa de sua mãe, onde terior do paciente ao mesmo tempo pôde se deixar cuidar. Juntos (mãe, pa- em que não podia me esquecer da pos- drasto, tia e ele) alugaram uma casa sibilidade da violência atual e das mar- num bairro tranquilo, próximo à praia cas que poderiam estar sendo deixadas e à natureza, da qual MR sempre afir- sobre outras crianças. mou gostar e permitiu-se receber colo, Dois fatores em essência permiti- comer da comida de sua mãe e apro- ram-me atender o paciente. O primei- veitar a natureza ao seu redor. ro diz respeito à possibilidade de me Começou também a pensar em desfazer dos preconceitos e ver a pes- constituir sua própria família, voltar a soa não como um pedófilo e sim como estudar, tocar e cantar e arrumar um um ser humano que é muito mais do emprego fixo que lhe trouxesse mais que sua patologia. O segundo diz res- tranquilidade financeira. MR come- peito ao meu papel enquanto profis- çou a tomar as rédeas de sua vida, fa- sional, que neste momento não é o de zendo novos vínculos, planos e lutan- julgar se “culpado” ou “inocente”, mas do para que estes se tornassem sim, o de ajudar a pessoa a minha fren- realidade. te a superar perdas e seguir em frente, Mais um fator interessante que de- sem precisar repetir sua história como monstra o processo do paciente foi o forma de buscar alívio. fato de indiretamente também a mãe A leitura de Vecina (2002) e Furniss ter se beneficiado com as sessões de (2002) contribuiu para propiciar essa MR. Apesar de nunca ter vindo a ne- tranquilidade, pois esses autores dis- nhuma sessão, mesmo tendo sido con- cutem a necessidade de compreensão e vidada algumas vezes, a mãe de MR empatia do profissional para que possa passou a pensar sobre a sua história de alcançar e entender a dor do paciente e vida e junto com o filho descobriu que vê-lo como uma pessoa inteira, que vai tinha irmãos que foram adotados por além do estigma “abusador”. A partir outras famílias. Juntos foram atrás dos textos dos autores, pude me acal- desses irmãos e descobriram que um mar frente à distinção entre essa com- deles morava numa cidade próxima. preensão e a responsabilidade pelo Perguntando de casa em casa encon- abuso cometido. traram-no e com isso resgataram parte A partir desses fatores me permiti da historia e ampliaram sua rede de conhecer MR sem me preocupar se era relacionamentos. No último Natal, ou não culpado, sabendo que cabia a esse novo integrante foi convidado a mim ajudar a criança ferida, enquanto participar da festa. a justiça se encarregaria de julgar e res-
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ponsabilizar o adulto pelo possível cri- perada, gera no indivíduo marcas do- Da montanha russa ao vento! me cometido. loridas que dificultam olhar a vida de Doris Waldow 65 Denise Franco Duque Além disso, a terapia se constituiu frente, pois mantém os sentimentos e num desafio de se “falar do que não pensamentos no passado, mesmo que pode ser falado”, isto é, falar do possí- o sujeito se esforce para esquecê-la. vel abuso realizado sem que se tenha Assim, ela repercute de forma devasta- a necessidade de ter a certeza do fato. dora na vida. Respeitar o paciente, livrar-se da Além disso, foi possível discutir as questão dele ser ou não culpado e tra- possibilidades de atuação do profissio- tar das feridas ao mesmo tempo em nal frente ao dilema de a vítima ser que se trabalhava a prevenção foi um também um possível agressor e as ca- exercício ambíguo, mas extremamen- pacidades que esse precisa desenvolver te eficaz. Mesmo sem a certeza de ter para poder olhar cada um deles sem ou não a minha frente um pedófilo, esquecer-se do outro. Ver o ser huma- pude me conectar com MR, com sen- no como um ser inteiro torna-se fun- timentos e as marcas deixadas pela damental nesse momento, podendo dor do abuso que ele próprio sofreu, observar a existência do preto e do ajudando-o a se identificar (desen- branco sem precisar transformá-lo em volver empatia) com uma possível ví- cinza. É ver a criança sofrida sem tirar, tima caso ela existisse. Pudemos ain- nem deixar de trabalhar, a responsabi- da criar estratégias para que ele lidade do adulto. deixasse de se colocar em situações Quanto à avaliação da terapia pode- que facilitassem a ocorrência de um -se dizer que os primeiros frutos me abuso, ou que permitissem essa inter- emocionam, pois após quase um ano pretação. de acompanhamento psicoterápico Outro aprendizado essencial no tra- constatou-se uma melhora significati- tamento foi a necessidade de respeitar va na qualidade de vida do indivíduo, o tempo do indivíduo. Várias sessões que apresentou diminuição nas dores foram utilizadas para se falar de assun- abdominais, melhora no sono, maior tos mais amenos, como organização capacidade de lidar com datas difíceis financeira ou música, que foram inter- (aniversário da morte do pai, dia dos pretados como a sinalização de que o pais), busca por ambientes e relações paciente precisava de tempo para dige- de cuidado e novas perspectivas para rir e poder voltar aos assuntos difíceis. sua vida. Mattos (2002) destaca esse ponto O paciente iniciou uma caminhada como essencial para a possibilidade de para dentro de si. Aprendeu a expres- elaboração e superação do trauma. sar seus sentimentos, seja a partir de conversas como por meio da expres- são musical, a se deixar ser cuidado, a ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS valorizar-se frente aos seus sentimen- tos e ao seu trabalho e a responsabili- A análise dessa experiência permitiu zar-se pela sua vida enquanto adulto. * MR tinha uma paixão pela poesia e pela música, e explorar e identificar as repercussões Pode-se dizer que MR está aprenden- costumava expor suas ideias da violência na vida do indivíduo. O do a amar a si mesmo. escrevendo poesias ou letras para melodias criadas por seus caso juntou vários tipos de violência, Os textos* escritos por MR, que fo- colegas. Esses textos eram que geraram no paciente uma paralisia ram sendo apresentados a mim no de- utilizados nas sessões, como ponto de partida para as frente à vida. Poder-se-ia dizer que a correr do processo terapêutico, de- reflexões acerca da sua postura violência, quando não elaborada e su- monstraram os diferentes momentos no mundo e/ou da sua história.
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de vida, iniciando com temas tristes e violência, quebrando preconceitos e 66 NPS 46 | Agosto 2013 revoltantes para se transformarem em possibilitando um novo olhar sobre o letras de musicas, poemas ou ensaios assunto. O desafio se tornou um imen- mais alegres e esperançosas. Também so aprendizado e o esforço um presen- a forma de encarar a vida e os desafios te, pela possibilidade de reconhecer o foram modificados, apesar de ainda lado sensível, amável e encantador de haver momentos em que a dor, a raiva Vento. O processo me ensinou o ver- e o medo se faziam presentes. dadeiro papel do psicólogo, suas pos- Todas essas mudanças me fazem sibilidades e suas limitações. Metafori- repensar o nome metafórico “Monta- camente, poder-se-ia comparar o nha Russa” dado ao paciente, surgin- indivíduo com uma folha de papel do a ideia de chamá-lo de “Vento”. A amassada que, na terapia pode ser de- ideia apareceu a partir de um dos úl- samassada e alisada, voltando a ser timos textos escritos pelo paciente possível utilizá-la para escrever as his- que se encontra no início desse tra- tórias de vida, mesmo que ela nunca balho e se refere ao desenvolvimento volte a ser lisa como antes, marcada da capacidade do indivíduo sentir-se pelas cicatrizes das feridas abertas pela mais livre e leve, apesar de, por vezes, violência vivida. ainda poder se tornar forte e destru- tivo. Todos esses fatores que puderam ser REFERÊNCIAS percebidos durante as sessões fazem acreditar que os objetivos propostos Andolfi, M. (1996). A terapia familiar: para a terapia foram sendo alcançados. um enfoque interacional. Campinas: Desde a primeira sessão foram traba- Workshopsy. lhadas formas de prevenção à violên- Arruabarrena, M. I., & Joaquim, P. cia, que parecem ter evitado, se não (1999). Maltratos a los niños en La extinguido, as situações que pudessem familia: evaluacion y tratamiento. propiciar a sua perpetuação, além do Madrid: Ediciones Pirámide. paciente ter “voltado a viver”. Barudy, J. (1999). Maltrato infantil eco- Também a possibilidade da forma- logia social: prevención y repara- ção de vínculos foi observada, primei- ción. Santiago do Chile: Editorial ramente comigo e aos poucos com Galdoc. pessoas próximas ao paciente, como Bowen, M. (1998). A reação da família familiares e amigos. Vento foi aumen- à morte In F. Walsh & M. McGoldri- tando sua rede, permitindo-se relaxar ck. Morte na família: sobrevivendo e dividir com ela seus anseios e suas às perdas (Cap. 4, PP. 105-117). Por- alegrias. to Alegre: Artmed. Bromberg, M. H. As feridas de Vento também pare- P. H. (1994). A psicoterapia em situ- cem cicatrizadas, dando espaço a lem- ações de perdas e luto. Campinas: branças boas do seu passado, bem Editorial Psy. como à possibilidade de novas boas Bronfenbrenner, U. (2011). Bioecologia vivências, o que indica ainda a amplia- do desenvolvimento humano: tor- ção das suas capacidades, autocon- nando os seres humanos mais huma- fiança e auto-estima. nos. Porto Alegre: Artmed. Também vivenciei muitas transfor- Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia mações em mim, tendo podido reava- do desenvolvimento humano: experi- liar e re-significar muitos aspectos da mentos naturais e planejados (Maria
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Adriana Veríssimo Veronese, trad). formar (e deformar) a vida emocio- Da montanha russa ao vento! Porto Alegre: Artes Médicas. nal dos filhos. (2a ed.). São Paulo: Doris Waldow 67 Denise Franco Duque Camargo, C. N. M. F. de (2002). Agres- Summus. sor ou vítima: a falta básica e as duas Minuchin, P., Colapinto, J., & Minu- faces da moeda. In D. C. A Ferrari, & chin, S. (1999). Trabalhando com T. C. C. Vecina. O fim do silêncio na famílias pobres. Porto Alegre: Artes violência familiar: teoria e prática Médicas. (Cap. 9, PP. 131-140). São Paulo: Minuchin, S. (1982). Famílias: funcio- Ágora. namento e tratamento. Porto Alegre: Carter, B., & Mc Goldrick, M. (2001). As Artes Médicas. mudanças no ciclo de vida familiar: Pfeiffer, L., & Salvagni, E. P. (2005). Vi- uma estrutura para terapia familiar são atual do abuso sexual na infân- (2a ed). Porto Alegre: Artes Médicas. cia e adolescência. Jornal de Pedia- Dessen, M.A., & Braz, M.P. (2005). A tria, 81(5). família e suas inter-relações com o Polônia, A. da C., Dessen, M. A., & Sil- desenvolvimento humano. In M.A. va, N. L. P. (2005) O modelo bioeco- Dessen, & A. L. Costa Júnior. A ciên- lógico de bronfenbrenner: contri- cia do desenvolvimento humano: buições para o desenvolvimento tendências atuais e perspectivas fu- humano. In M. A. Dessen, & A. L. turas (pp. 113 - 131). Florianópolis: Costa Júnior. A ciência do desenvol- Ed. Papa Livro. vimento humano: tendências atuais Furniss, T. (2002). Abuso sexual da e perspectivas futuras (pp.71-89). criança: uma abordagem multidisci- Porto Alegre: Artmed. (pp. 71-89). plinar. Porto Alegre: Artes Médicas. Tilmans-Ostyn, E. (2000). La terapia fa- Mattos, G. O. de (2002). Abuso sexual miliar frente la transmisión interge- em crianças pequenas: peculiarida- neracional de traumatismos. Revis- des e dilemas no diagnóstico e no ta Sistemas Familiares, 16(2), 49-65. tratamento. In D. C. A. Ferrari, & T. Vasconcellos, M.J.E. de. (2002). Pensa- C. C. Vecina. O fim do silêncio na mento sistêmico: o novo paradigma da violência familiar: teoria e prática ciência. (3a ed.). São Paulo: Papirus. (Cap. 13, pp. 174-200). São Paulo: Vecina, T. C. C. (2002). Do tabu à pos- Ágora. McGoldrick, M. (1998). Ecos sibilidade de tratamento psicosso- do passado: ajudando as famílias a cial: um estudo reflexivo da condi- fazerem o luto de suas perdas. In F. ção de pessoas que vitimizam Walsh, & M. McGoldrick. Morte na crianças e adolescentes. In D. C. A. família: sobrevivendo às perdas Ferrari, & T. C. C. Vecina. O fim do (Cap. 3, pp. 76-104). Porto Alegre: silêncio na violência familiar: teoria Artmed. e prática (cap. 14., pp. 201-212). São McGoldrick, M., & Walsh, F. (1998). Um Paulo: Ágora. tempo para chorar: a morte e o ciclo Walsh, F., & McGoldrick, M. (1998). A de vida familiar. In F. Walsh, & M. perda e a família: uma perspectiva McGoldrick. Morte na família: sobre- sistêmica. In F. Walsh, & M. McGol- vivendo às perdas (Cap. 3, pp. 56- drick. Morte na família: sobreviven- 75). Porto Alegre: Artmed. do às perdas (Cap. 1, pp. 27-55). Miller, A. (1997). O drama da criança Porto Alegre: Artmed. bem dotada: como os pais podem
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