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Consumidor e a Internet
I- Contratos eletrônicos
A atual inclusão digital do homem, provocada pela crescente difusão da internet, acarretou
profundas e velozes transformações sociais.
Juridicamente, os contratos firmados por meio eletrônico podem ser chamados tanto de
contratos virtuais como de contratos eletrônicos (e-contracts), terminologia adotada
neste estudo.
O usuário passa a dispor da oferta de serviços e produtos de consumo de forma mais fácil,
ampla e descentralizada, diminuindo ou, até comumente, tornando inexistente as tratativas
preliminares nos contratos. Além do surgimento de novas formas de interação social.
As vantagens da utilização dos meios eletrônicos no comércio são inúmeras, entre elas a de
diminuir distâncias e facilitar a comunicação tão necessária aos comerciantes em geral. Além
da vantagem da redução dos custos da transação comercial em benefício das partes.
Todavia, existem desvantagens para os consumidores. A falta de segurança dos dados
pessoais informados e conexões feitas, a veracidade da informação sobre produtos e serviços
ofertados e a responsabilidade civil pelos vícios e acidentes de consumo são alguns aspectos
preocupantes.
Assim, muito embora não exista um comando especifico para o comércio eletrônico no
Código de Defesa do Consumidor, Lei n° 8078/90 (CDC), verificando-se a existência de uma
relação de consumo, todos os direitos protetivos previstos na defesa dos
consumidores aplicam-se aos contratos firmados no meio eletrônico.
Consequentemente, devido a sua versatilidade, rapidez e eficiência, e também por não haver
limites geográficos delimitadores, o comércio eletrônico tem uma natureza dinâmica e
internacional.
Isso ocorreu por desconhecimento em relação aos prazos aplicados, condições e direitos em
relação ao fornecedor estrangeiro, especialmente ao fornecedor que não possui filial ou
representante no território brasileiro.
Ademais, o mesmo artigo esclarece que no contrato internacional entre ausentes “...§2º - A
obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
proponente”.
Determinar, portanto, se o contrato eletrônico foi feito entre ausentes ou entre presentes é
de suma importância para saber qual a lei aplicável ao contrato. * 1
Entretanto, uma corrente doutrinária contrária à posição a que nos filiamos se apresenta no
sentido de que o direito fundamental de proteção do consumidor não pode ser prejudicado,
seja relativo à segurança, qualidade, garantias dos produtos ou serviços adquiridos através
de sites estrangeiros ou em relação ao próprio acesso à justiça.
Para essa corrente doutrinária, como há igualdade de direitos entre os contratos celebrados
de forma tradicional e aos contratos celebrados pela internet, aplica-se sempre a legislação
mais favorável ao consumidor.
14. Quando a alegada atividade ilícita tiver sido praticada pela internet, independentemente de foro
previsto no contrato de prestação de serviço, ainda que no exterior, é competente a autoridade judiciária
brasileira caso acionada para dirimir o conflito, pois aqui tem domicílio a autora e é o local onde houve
acesso ao sítio eletrônico onde a informação foi veiculada, interpretando-se como ato praticado no
Brasil, aplicando-se à hipótese o disposto no artigo 88, III, do CPC. REsp. 1168547/ RJ RECURSO
ESPECIAL 2007/0252908 -3 Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, T4 -QUARTA TURMA, 11/05/2010, DJe
07/02/2011.
O STJ tem permitido a prevalência da autonomia privada das partes, quando determinam,
no contrato internacional, o foro de eleição, desde que a lide discutida não envolva interesse
público. * 2
4. A eleição de foro estrangeiro é válida, exceto quando a lide envolver interesses públicos (REsp.
242.383/SP, Rel. DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/02/2005, DJ 21/03/2005 p. 360).
*3 Convenção 80/934/CEE sobre a lei aplicável às obrigações contratuais, aberta a assinatura em Roma
em 19 de junho de 1980.
Art. 5. 2: Se a celebração do contrato tiver sido precedida, nesse país, de uma proposta que lhe foi
especialmente dirigida ou de anúncio publicitário, e se o consumidor tiver executado nesse país todos os
atos necessários à celebração do contrato, ou se a outra parte ou o respectivo representante tiver
recebido o pedido do consumidor nesse país, ou se o contrato consistir numa venda de mercadorias e o
consumidor, ou se tenha deslocado desse país a um outro país e aí tenha feito o pedido, desde que a
viagem tenha sido organizada pelo vendedor com o objectivo de incitar o consumidor a comprar.
Há na relação de consumo uma presunção absoluta (iuri et de iure) da vulnerabilidade do
consumidor (Art. 5º, inc. XXXII CRFB). Ser consumidor é pressuposto para a aplicação da
legislação consumerista, mas uma vez caracterizado como destinatário final de produtos e
serviços, será sempre vulnerável (Art. 4º, inc. I do CDC).
Nessas relações, o consumidor na maioria das vezes é tratado como objeto e desconsiderado
em sua humanidade.
(Determina a convenção um caráter universal, designa que poderá ser aplicada lei de Estado que seja
parte do tratado, sem, no entanto, fazer parte da negociação).
a propagação do crédito, foram alguns dos fatos responsáveis pelo fenômeno mundial da
massificação das relações de consumo.
Trata a defesa do consumidor como cláusula pétrea, conforme o art. 60, § 4º, IV, do mesmo
diploma legal. A lei n° 8.078/90, portanto, é uma lei de base constitucional. E, ainda, de
acordo com seu Art. 1º, é de ordem pública e de interesse social.
Ressalta-se que o fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de internet ser gratuito
não desvirtua a relação de consumo, pois o termo “mediante remuneração”, contido no art.
3º, § 2º, do CDC, deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho indireto
do fornecedor.
Nesse sentido, também o CDC, como lei principiológica que é, apresenta como direito básico
do consumidor e, consequente dever do fornecedor, o princípio da informação (Art. 6º, inc.
III).
Essa lei busca proteger os direitos e garantias dos internautas, coibindo o ilícito, mantendo,
todavia, a preocupação de manter certos limites a esse controle, para não lesar a liberdade
dos usuários por meio de censuras impositivas.
A lei impede que determinados servidores, sites etc. recebam tratamento diferenciado,
privilegiado uns em detrimento de outros, lesando a liberdade dos consumidores e a livre
concorrência.
Esse dispositivo também veda a prática abusiva dos controladores da rede de criar bases de
dados com as preferências a partir do histórico do usuário em relação à publicidade e que
essa informação seja vendida para outras empresas que se utilizam dos dados para a venda
de produtos e serviços.
O Art. 10° do Marco Civil afirma que o provedor responsável por registros de conexão e de
acesso a aplicações de internet, bem como os dados pessoais e o conteúdo de comunicações
privadas, só pode divulgar tais registros mediante ordem judicial com o objetivo de formar
um conjunto probatório em processo judicial (art. 22).
O Art. 39 do CDC, rol exemplificativo, elenca algumas práticas comerciais contrárias à boa-fé
objetiva, que são aplicadas aos contratos de consumo nos comércio eletrônico, assegurando
direitos aos consumidores para possíveis abusos na comercialização de produtos ou de
oferta de serviços.
As práticas comerciais abusivas são práticas comerciais contrárias à boa-fé objetiva, práticas
desleais, que ultrapassando os limites do fim social e da finalidade econômica,
ensejam abuso do direito, ato ilícito, razão pela qual a sua ocorrência aumenta a
vulnerabilidade do consumidor.
O CDC de forma geral e o Decreto 7.962/2013 de forma específica para a contratação por
meio eletrônico garantem que os direitos do consumidor também sejam respeitados nas
compras realizadas pela internet.
As práticas comerciais abusivas ofendem à sociedade, haja vista que o CDC equiparou a
consumidor todas as pessoas expostas as práticas comerciais abusivas, conforme o Art. 29
da Lei.
Também o art. 4º, VI, do CDC, que estabelece o objetivo da Política Nacional das Relações
de Consumo, determina a “coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no
mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal”, desde que “possam causar prejuízos
aos consumidores”.
Um exemplo de prática abusiva nas contratações por meio eletrônico é o fato de que alguns
sites solicitam informações pessoais desnecessárias para contratação, colocando em risco a
privacidade e a segurança dos consumidores.
Os contratos eletrônicos são aqueles atípicos que se utilizam do meio eletrônico como forma
de contratação, consequentemente, os contratos solenes não admitem o meio eletrônico
para sua formação.
O CDC define os contratos de adesão (Art. 54 e ss) e seu método de interpretação, bem
como o Código Civil Brasileiro em seus artigos 423 e 424.
A formação dos contratos eletrônicos possui as mesmas fases que a dos demais contratos,
quais sejam as negociações preliminares (essa fase preliminar das tratativas contratuais, na
maioria das vezes, está ausente na contratação eletrônica), a oferta e a aceitação.
Nessa segunda fase, o contrato se inicia, vinculando o fornecedor pelo conteúdo veiculado.
Isto se encontra previsto no art. 30 do CDC e art. 427 do Código Civil.
Em uma análise teleológica, verifica-se que o CDC tem um cuidado especial em relação à
valorização da boa-fé objetiva, realizando a proteção do consumidor de uma forma menos
formalizada, conforme se verifica na proteção relativa à oferta e a publicidade de produtos e
serviços ( Art. 30 a 38 do CDC).
Nessa fase, o amparo está ligado também aos princípios da transparência e da confiança, nas
tratativas iniciais para formação dos contratos.
A vinculação da oferta e publicidade apresenta uma das mais fortes mitigações à força
obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda), evidenciando a intervenção do Estado na
esfera privada dos contratantes (dirigismo contratual).
Em uma análise comparativa com o atual Código Civil Brasileiro (CC), a força vinculativa da
oferta consta no o Art. 427 do CC, embora de forma menos força vinculante que a efetivada
nas relações consumeristas.
Também consta no caput do Art. 429, do mesmo diploma legal, que determina que a oferta
pública equivale à proposta, como no caso dos contratos eletrônicos.
Todavia, o Art. 428 do CC determina algumas hipóteses em que a oferta não é obrigatória:
• Quando feita com prazo, a pessoa ausente e a resposta não for expedida dentro do
prazo ao proponente;
Entre presentes (chat, p. ex.), a aceitação é imediata. A oferta entre ausentes aplicáveis são
os Arts. 30,34,35 e 48 do CDC em preferência aos Art. 427 e seguintes do CC.
As práticas comerciais dos fornecedores devem levar em conta os deveres de boa-fé gerais,
como a informação, identificação do ofertante, identificação da própria oferta comercial,
segurança dos dados pessoais dos consumidores.
A doutrina considera o contrato eletrônico um contrato por escrito, sendo que o documento
eletrônico possui a qualidade de documento.
Trata-se do risco do empreendimento que deve ser suportado pelo fornecedor e não
repassado ao consumidor vulnerável.
Isso deve ser feito para que o consumidor tenha conhecimento e informação sobre seu
conteúdo, devendo ser permitida a sua impressão e, ainda, possibilitado
seu armazenamento digital. Aos contratos firmados no meio eletrônico, são admitidos
todos os meios de provas.
Em alguns casos, é necessária uma quantidade mínima de contratações para que seja
efetivado o contrato.
Esse tipo de marketing pela internet feito por sites de compras coletivas, como por
exemplo o Groupon, tem como objetivo a ampla divulgação de serviços e produtos de
empresas diversas, com extensa utilização das redes sociais para divulgação.
A jurisprudência pátria tem dado a responsabilidade solidária dos sites de compras coletivas
que propiciam a venda dos produtos e serviços pela internet, juntamente com o prestador do
serviço ou fornecedor do produto objeto do contrato, em relação aos eventuais danos
causados aos consumidores, não admitindo a cláusula de não indenizar existente na maiorias
desses contratos de adesão firmados com o site de compras coletivas.
Há, assim, responsabilidade objetiva também do site em relação ao consumidor que adquirir
os serviços ou produtos disponibilizados pela empresa parceira.
A Lei nº 8.078/1990 (CDC), em seu art. 43, regularizou os bancos de dados e cadastros de
consumidores.
As informações inseridas nos bancos de dados devem ser claras, objetivas e verdadeiras,
redigidas com linguagem de fácil compreensão (art. 43, § 1º, CDC). Caso o consumidor
detecte alguma inexatidão em seus dados, poderá exigir a correção. Em prazo não superior a
cinco dias úteis, o arquivista deve retificá-la.
Entretanto, não se pode deixar de mencionar o artigo 5º da CRFB, que prevê a garantia da
inviolabilidade da intimidade, vida privada, a honra e a imagem das pessoas.
O provedor de aplicações somente poderá ser responsabilizado se, após ordem judicial
específica, não tomar as providências necessárias para tornar indisponível o conteúdo
apontado como infringente.
Todavia, nos casos em que o conteúdo gerado por terceiros envolver cenas de nudez ou atos
sexuais, a simples notificação do usuário ou de seu representante legal basta para constituir
a responsabilidade subsidiária do provedor de aplicações pela violação da intimidade
decorrente da divulgação, caso ele não remova o conteúdo.
Respondem por fato próprio referente ao seu serviço ou produto responde diretamente o
fornecedor de forma objetiva, independente de culpa.
A diferença entre vício e fato do produto é que o vício afeta tão somente a funcionalidade do
produto ou do serviço. Restringe-se ao próprio bem e não inclui danos que eventualmente
causem a segurança do consumidor.
Quando esse vício for grave e repercutir sobre o patrimônio material ou moral do
consumidor, estaremos diante da responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (fato).
O fato é, portanto, um vício acrescido de um problema extra, um dano ao patrimônio
jurídico material ou moral do consumidor.
Dentre as modificações que atualmente se propõem ao CDC está a criação de uma seção
exclusiva para o comércio eletrônico.
Por fim, o projeto de lei pretende ampliar a competência do Procon para fixar medidas
corretivas ao fornecedor, como a substituição ou reparação do produto e a devolução da
contraprestação e, em caso de descumprimento da medida, possibilitar a imposição de multa
diária, ainda limitada ao valor do produto ou serviço.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. Constituição Federal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 out. 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 8 mar. 2016.