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Judeus quebram tabu ao denunciar casos de pedofilia

Os seguidores da 'Torá' têm como regra não acusar legalmente alguém da mesma
crença e resolver os casos em um tribunal rabínico
Por Mariana Zylberkan

20 set 2019, 09h50 - Publicado em 20 set 2019, 06h30

ACUSADOS - (De cima para baixo) Moises Marcos Aschendorf Ejczis, Ivan Uderman e Isaac Chocron:
personagens envolvidos nos últimos anos em casos de abuso de menores, e cena de vídeo anexada a um
processo na Argentina (foto maior) (./.)

Um dos lugares mais sagrados de Israel, o Muro das Lamentações simboliza a aliança de
Deus com o povo judeu. Ele é o que restou do chamado Segundo Templo de Jerusalém,
reformado durante o reinado de Herodes. Ali, na estrutura formada por pedras de calcário,
fiéis rezam todos os dias e visitantes costumam colocar nas suas brechas mensagens escritas.
Uma campanha em curso na internet faz uma alusão a esse marco, mas dentro de um
contexto muito diferente: no lugar da reverência espiritual, a ideia é simbolizar a mácula por
atos que não podem mais permanecer nas sombras. Criada em 2014 por uma ONG em Nova
York, nos Estados Unidos, a página Wall of Shame (Muro da Vergonha, em português) já
catalogou 190 judeus acusados de pedofilia ao redor do mundo. O movimento é uma
tentativa pioneira de fazer com que lideranças da religião comecem a enfrentar o problema.

Único brasileiro na lista do Muro da Vergonha, Moises Marcos Aschendorf Ejczis, de 34


anos, vive em São Paulo. Em 2017, ele foi preso por tentativa de assédio a um menino de 11
anos e responde em liberdade a processo por aliciamento de menor. Ejczis se aproximou do
garoto quando ele jogava bola em um parque e lhe prometeu um controle de videogame
novo em troca de seu número de telefone. Na mesma conversa, perguntou se o menino se
masturbava e se já havia tocado em alguém. Desconfiado, o menor deu o contato do celular
da mãe, mas foi seu padrasto quem começou a trocar mensagens com Ejczis, fazendo-se
passar pela criança. Antes de marcar o encontro em uma lanchonete, o homem disse ao
menino que fosse “limpinho e cheiroso”, e ainda perguntou se o “tinha achado bonito e
gostoso”. A polícia foi chamada ao local para realizar o flagrante. Um mês antes, Ejczis já
havia sido indiciado em Osasco, na Grande São Paulo, por “estupro de vulnerável”.

Denúncias de casos de violação sexual de menores por religiosos se tornaram recorrentes no


âmbito da Igreja Católica, que se viu obrigada a discutir o assunto publicamente após a
enxurrada de vítimas que decidiram levar suas histórias para os tribunais ao longo das
últimas décadas. Na comunidade judaica, mais reduzida e fechada, os seguidores
da Torá têm como regra não acusar legalmente alguém da mesma crença. Nesses casos, os
conflitos são discutidos por um tribunal rabínico e a questão acaba sendo resolvida sem a
intervenção da Justiça. Brasileiro casado com uma argentina, o empresário Avraham Fromer
quebrou a regra de silêncio depois que sua filha de 8 anos, que também é brasileira, foi
molestada pelo rabino Isaac Chocron em Buenos Aires, onde a família mora. “Ele a levava
para os fundos da sinagoga, colocava a menina no colo e a tocava”, afirma Fromer. O caso
foi encaminhado à Justiça da Argentina, mas não andou por falta de provas. Na semana
passada, o pai reuniu o que seriam novas evidências do comportamento do rabino, incluindo
um vídeo no qual ele passa a mão no corpo de uma menor, na esperança de reabrir o
processo. Fromer não teve melhor sorte ao procurar ajuda dentro da comunidade judaica, até
mesmo no Brasil. Segundo ele, foram feitos cerca de cinquenta contatos com lideranças
religiosas. “Recebi a orientação de manter o assunto somente no âmbito da comunidade”, diz
Fromer. “A política para acobertar os crimes desse tipo é institucionalizada.”
Além do caso de pedofilia envolvendo Ejczis, tramita ação criminal no Brasil contra o rabino
Ivan Uderman, que é acusado de abuso sexual infantil. A denúncia partiu de sua ex-mulher e
a vítima é o filho do casal, na época com 4 anos. Uderman mora atualmente em Jerusalém,
onde dirige uma instituição de ensino religioso e organiza cerimônias de bar mitzvá
(iniciação religiosa de rapazes) no Muro das Lamentações. O rabino já vivia em Israel
quando a Justiça de São Paulo o condenou a catorze anos de prisão por crime sexual, em
junho passado. A decisão é de primeira instância, e ele recorre em liberdade. Uderman nega
as acusações e diz que o processo é uma artimanha da ex para mantê-lo longe da criança
após o divórcio conturbado do casal. Em outro caso da mesma natureza, a Interpol emitiu um
alerta no ano passado para que a Justiça brasileira prendesse o rabino israelense Daniel
Berdichevski, acusado de estupro, agressões contra familiares e suborno de testemunhas em
seu país de origem. Ele morava em uma rua nobre no bairro de Higienópolis, na região
central de São Paulo, e tinha se casado com uma brasileira. Berdichevski nega tudo. Sua
extradição para Israel foi autorizada pelo STF há cerca de três meses.

CAMPANHA – Fromer: “política institucionalizada de acobertar crim es”

CAMPANHA – Fromer: “política institucionalizada de acobertar crimes” (Antonio Milena/.)

Em todo o mundo, começam a vir à tona escândalos semelhantes. Nos Estados Unidos, 38
ex-alunos de um colégio judaico em Nova York recentemente acusaram rabinos de abusos
cometidos entre os anos 60 e 80. Molestado na infância por dois rabinos, o australiano
Manny Waks se tornou um ativista contra a pedofilia em sinagogas ao redor do planeta.
Recentemente, esteve em São Paulo para visitar rabinos e conscientizá-los da importância do
tema. “O Brasil é um dos países mais atrasados no combate a crimes sexuais em sinagogas”,
diz.
Os líderes da religião no país rechaçam esse tipo de crítica. Em nota enviada a VEJA, o
presidente da Federação Israelita de São Paulo, Luiz Kignel, afirma que “fatos deploráveis,
quando conhecidos pela liderança comunitária, são orientados para busca das autoridades
policiais competentes. Qualquer sugestão de que haja uma conduta de acobertamento de
casos de pedofilia na comunidade judaica é totalmente falsa e serve para reforçar
sentimentos antijudaicos”. Embora o número de denunciados pelo Muro da Vergonha seja
pequeno diante dos 15 milhões de judeus espalhados pelo mundo, a existência de uma
campanha do tipo representa um indício de que a comunidade judaica acordou e sente que é
preciso fazer muito mais a fim de combater e punir os monstros que se aproveitam da
condição de líderes espirituais para se aproximar de menores de idade e molestá-los.

Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2019, edição nº 2653

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