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Os seguidores da 'Torá' têm como regra não acusar legalmente alguém da mesma
crença e resolver os casos em um tribunal rabínico
Por Mariana Zylberkan
ACUSADOS - (De cima para baixo) Moises Marcos Aschendorf Ejczis, Ivan Uderman e Isaac Chocron:
personagens envolvidos nos últimos anos em casos de abuso de menores, e cena de vídeo anexada a um
processo na Argentina (foto maior) (./.)
Um dos lugares mais sagrados de Israel, o Muro das Lamentações simboliza a aliança de
Deus com o povo judeu. Ele é o que restou do chamado Segundo Templo de Jerusalém,
reformado durante o reinado de Herodes. Ali, na estrutura formada por pedras de calcário,
fiéis rezam todos os dias e visitantes costumam colocar nas suas brechas mensagens escritas.
Uma campanha em curso na internet faz uma alusão a esse marco, mas dentro de um
contexto muito diferente: no lugar da reverência espiritual, a ideia é simbolizar a mácula por
atos que não podem mais permanecer nas sombras. Criada em 2014 por uma ONG em Nova
York, nos Estados Unidos, a página Wall of Shame (Muro da Vergonha, em português) já
catalogou 190 judeus acusados de pedofilia ao redor do mundo. O movimento é uma
tentativa pioneira de fazer com que lideranças da religião comecem a enfrentar o problema.
Em todo o mundo, começam a vir à tona escândalos semelhantes. Nos Estados Unidos, 38
ex-alunos de um colégio judaico em Nova York recentemente acusaram rabinos de abusos
cometidos entre os anos 60 e 80. Molestado na infância por dois rabinos, o australiano
Manny Waks se tornou um ativista contra a pedofilia em sinagogas ao redor do planeta.
Recentemente, esteve em São Paulo para visitar rabinos e conscientizá-los da importância do
tema. “O Brasil é um dos países mais atrasados no combate a crimes sexuais em sinagogas”,
diz.
Os líderes da religião no país rechaçam esse tipo de crítica. Em nota enviada a VEJA, o
presidente da Federação Israelita de São Paulo, Luiz Kignel, afirma que “fatos deploráveis,
quando conhecidos pela liderança comunitária, são orientados para busca das autoridades
policiais competentes. Qualquer sugestão de que haja uma conduta de acobertamento de
casos de pedofilia na comunidade judaica é totalmente falsa e serve para reforçar
sentimentos antijudaicos”. Embora o número de denunciados pelo Muro da Vergonha seja
pequeno diante dos 15 milhões de judeus espalhados pelo mundo, a existência de uma
campanha do tipo representa um indício de que a comunidade judaica acordou e sente que é
preciso fazer muito mais a fim de combater e punir os monstros que se aproveitam da
condição de líderes espirituais para se aproximar de menores de idade e molestá-los.