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DHÂRANÂ SMETAK - EUBIOSE E A
Henrique José de Souza ALQUIMIA DO SOM
Mario Chagas e Claudia
Grande é o erro daqueles que Storino
confundem, o Espírito ou In-
teligência (Nous) com a Alma Em comemoração ao cente-
(Psyké). Não menos os que nário de nascimento de Anton
confundem a Alma com o cor- Walter Smetak - dedicado dis-
po (Soma). Da união do Espí- cípulo da Ciência Iniciática das
rito com a Alma nasce a Razão; da união da Alma com o Idades, artista criador de futuros, alquimista do som e
Corpo nasce a Paixão. transformador de realidades – elaboramos o singelo texto,
dividido em cinco movimentos.
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A EUBIOSE NA MÚSICA O PROFESSOR SMETAK
Anton Walter Smetak - UM DEPOIMENTO
Carlos Carvalho
A música clássica requer grande
palco, orquestras sinfônicas, Em 1968-69 estudava oboé
cantores, requisitos cênicos, nos Seminários Livres de Mú-
iluminação etc. Ela nos conduz sica da UFBa em Salvador,
a representações cósmicas”. onde conheci o Prof. Smetak,
que lecionava violoncelo, to-
cava na Orquestra e desenvolvia uma pesquisa com ins-
trumentos musicais.
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SMETAK: VONTADE, OU- A PARTE OCULTA DA
SADIA E SABEDORIA HISTÓRIA DO BRASIL
José Luiz Conrado Vieira Francisco Feitosa
“Grande é o erro daqueles que confundem, o Espírito ou Inteligência (Nous) com a Alma (Psyké). Não
menos os que confundem a Alma com o corpo (Soma). Da união do Espírito com a Alma nasce a Razão; da
união da Alma com o Corpo nasce a Paixão.
Desses três elementos, a Terra deu o corpo; a Lua, a alma, e o Sol, o Espírito. Por isso que todo Homem
justo, consciente de todas essas verdades, é, ao mesmo tempo, durante a sua vida física, um habitante da
Terra, da Lua e do Sol”. – Plutarco (De Ísis e Osíris).
Obras
Publicou centenas de artigos na revista Dhâranâ, di-
vulgada a partir da Sociedade Brasileira de Eubiose e ainda
quatro livros: “O Tibete e a Teosofia” (1928-32), em parceria
com seu amigo e também ocultista Mario Roso de Luna; “O
Verdadeiro Caminho da Iniciação” (1940); “Ocultismo e Teo-
sofia” (1949), sob pseudônimo de Laurentus; e “Os Mistérios
do Sexo” (1ª edição em 1965).
Mas a grande obra literária de Henrique José de Souza são suas Cartas de Revelação, escritas de 1924 até 1963, contendo
as linhas-mestras do movimento eubiótico e as instruções diretivas da Sociedade Brasileira de Eubiose, projetadas até o século
XXI. Essa imensa pregação epistolar foi revista e resumida, sob sua orientação, na década de 1940, descartando-se os originais do
período precedente. Pela desatenção de colaboradores, perdeu-se uma parte, mas restam ainda, organizadas cronologicamen-
te e classificadas por assunto, através de exaustivo índice remissivo, cerca de 4 mil páginas datilografadas, que se mantém em
bibliotecas reservadas para consulta de membros efetivos da Sociedade Brasileira de Eubiose.
Além de literato, foi músico e poeta, sendo de sua autoria a extensa coletânea de músicas (e letras) que enriquecem o cená-
rio das ritualísticas da Eubiose.
Referência: Wikipédia
E m comemoração ao centenário
de nascimento de Anton Wal-
ter Smetak¹ - dedicado discípulo da Ciên-
cia Iniciática das Idades, artista criador
de futuros, alquimista do som e transfor-
mador de realidades – elaboramos o sin-
gelo texto que se segue, dividido em cinco
movimentos. No primeiro, apresentamos
o percurso do artista do oriente para o
ocidente, seguindo o Itinerário da deusa
IO; no segundo, descrevemos num alegro
de chori sol e lua² o seu contato com os
Gêmeos Espirituais e o seu vínculo ins-
titucional com a Sociedade Brasileira de
Eubiose; em seguida, abordamos o seu
trabalho de criação de instrumentos e
sons; no quarto movimento destacamos o
seu papel de mestre e inspirador de uma
nova geração de artistas; por fim, tam-
bém num alegro de chori sol e lua, bus-
camos explicitar um pouco mais, sem ne-
nhuma intenção conclusiva, as relações
de Smetak com a Eubiose.
¹ O presente texto adotou como referência as pesquisas e os textos elaborados para a exposição comemorativa do centenário de
nascimento de Walter Smetak, apresentada em março de 2013, em São Lourenço (MG), durante o 4º Encontro Nacional da Ordem do
Ararat, com a supervisão de Jefferson Henrique de Souza e Felícia Clélia Forlenza de Souza.
²Chori é um instrumento de cordas criado por Smetak com utilização de cabaças e outros materiais, para ser tocado com arco. Chori
indica, nas palavras de seu criador, algo que “não chora nem ri”; nada impede, no entanto, que possamos compreendê-lo como um
instrumento que chora e ri, ao mesmo tempo. Chori Sol e Lua utiliza-se de duas cabaças e, de algum modo, remete-nos aos Gêmeos
Espirituais, Henrique e Helena, Pai e Mãe cósmicos.
³ O professor Henrique José de Souza indica que o “K” pode ser lido como um ideograma de quem “Kaminha”. Nesse sentido, o “K” de Smetak
pode sugerir a sua tendência de “Kaminhante”.
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Ver SILVA, Adriana Pucci Penteado de Faria e. A arquitetônica das plásticas sonoras de Smetak. Revista Intercâmbio, vol. XX: 1-24, 2009. São
Paulo: LAEL/PUC-SP.
A excentricidade e o experimentalismo de
Smetak atrairam a atenção de artistas visuais e
músicos eruditos e populares. A partir de 1969, a
oficina do Mago do Som passou a ser frequentada
por Gilberto Gil, Rogério Duarte e Tuzé de Abreu;
além deles também foram seus discípulos Tom
Zé, Gereba, Carlos Carvalho, Ernst Widmer,
Rufo Herrera, Milton Gomes, Lindembergue
Cardoso, Marcos Roriz, Lucemar A. Ferreira,
Djalma Correia, Jamary Oliveira e Marco Antônio
Guimarães, criador do grupo Uakti. Hélio Oiticica,
em texto de 1967 denominado Esquema Geral
da Nova Objetividade, ao referir-se à vanguarda
artística brasileira, inclui o “baiano Walter Smetak
com seus instrumentos de cor (musicais)”.
Para “tirar som” dos seus instrumentos Smetak
criou, com os amigos e discípulos do Seminário
de Música da UFBa, o «Grupo dos Mendigos»
que realizou apresentações na Bahia e em São
Paulo. Em 1975, com produção de Caetano Veloso
e Roberto Santana e montagem de Gil e Caê,
gravou o disco Smetak e em 1980, com o conjunto Instrumento “Caossonância”
Microtons, foi a vez do Interregno, seu segundo e
último disco.
O autor se foi, mas a obra ficou. Além das
filhas Barbara Smetak e Jorgea Smetak e dos
filhos Tercio Henrique Smetak, Honorato Smetak O “Descompositor Contemporâneo” faleceu
e Uibitu Smetak5, nascidos do ventre de Julieta, no dia 30 de maio de 1984, em Salvador, mas antes
o “Louco do Porão” deixou muitos “herdeiros”, indicou aos mais próximos que voltaria em 2005
amigos, discípulos e uma grande obra que continua para cuidar de sua obra.
reverberando.
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A Ciência Iniciática das Idades ou Eubiose esteve presente na vida de Walter Smetak de modo tão intenso que, além de manifestar-se em sua vida
profissional e em sua atividade artística, revela-se em sua vida íntima e pessoal, como pode ser percebido pelos nomes que escolheu para os seus
filhos.
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O processo de avatarização corresponde em linguagem junguiana
ao processo de individualização
“A música clássica requer grande palco, orquestras sinfônicas, cantores, requisitos cênicos,
iluminação etc. Ela nos conduz a representações cósmicas”.
Smetak
tem valor como meio, e não como conclusão e de Dürer daquela época, já demonstrando a
sublime verdade, sendo ela apenas um condutor deficiência de um cristianismo dogmático, estas
para maior mistério. Meio para alcançar, meio representações já não eram mais representantes
como Mayâ, e grande passo de Om para Tat, dali de alguma coisa tulkuística. Isso é que foi visível
para SAT, SATOM, tornando-se o valor de SAT em todos os aspectos, e nada mais, determinando
OM equivalente à quarta He do lod-HE-Vau-he, a luz astral do céu azul, lugar de reconhecimento
formando a base fundamental de um novo ciclo, devacânico, que outrora era a Divina Mãe ou
síntese deste e perfeito equilíbrio de todos os Akasha, em forma de um Ramakrisna.
acontecimentos provindos ainda da Atlântida Veio depois AMA-DEUS, aquele que amou
– TAT LÂNDIA ou seja hoje o novo sistema Deus, Mozart, cujas músicas nos contam do
geográfico predominando como SAT LÂNDIA. segundo Trono humano e Divino, fazendo sentir a
Necessário se faz falar dos máximos marcos onipotência divina na Natureza. Não emocional,
componentes de alguns autores do período, ao e como tom moderníssimo na sua facilidade e
alcance da nossa memória. Seja firmado isso com felicidade de conversação e doçura.
os nomes de Palestina, Bach, Mozart, Beethoven, E vem Beethoven, o libertador das
Mendelssohn, Wagner e, por último, Debussy, formas tradicionais, baseando-se ainda em
Ravel, Stravinsky e Hindemith, que podemos Mozart, transformando esses elementos em
considerar como uma alma-grupo. grandiosa rebeldia assúrica, super-humana, e
A época de Palestina significa a música sublimando-se, ele mesmo, nessas três etapas –
religiosa mais pura da Cantata cantada, de um Transformação, Superação e Metástase. Serve ele
Cristianismo já sectário, alcançando em Bach o de exemplo da palavra renúncia. A metástase de
seu apogeu. Música de efeito grandioso na sua Beethoven é comprovada pela sua Ressurreição.
mística gótica, contemplativa, elevando o homem Uma das características de Beethoven são as
pelos céus, em vez de para dentro da terra, a olhar pancadas como sforzatto, causando verdadeiros
extrospectivamente em vez de introspectivamente, turbilhões de sílfides, dando a impressão como
música verdadeiramente exotérica em vez de se um gigante estivesse batendo no portal de
esotérica, adorando uma divindade como se ela uma montanha, pedindo entrada no mistério ali
fosse de forma humana, lembrando os quadros existente, como se gritasse “Abre-te Sésamo da
Mas, isso já é mais finalidade que, 12 – Arcano 12, ou seja, o sacrificado ou as notas
propriamente, caminho. Já é fora da Eubiose. É musicais que se sacrificaram para uma finalidade.
Aquilo, é a Lei. A música tornou-se Transformando o 5, dará o valor de 8). Resulta
matemática ou o próprio SAT vibrando em tudo. uma única tonalidade, que é o DÓ maior ou
escala de Atmã consciente, que não pode ser mais
Tornando-se este conhecimento libertador destruída.
da grande Mayâ, dando a possibilidade gratuita a
novos dirigentes de espetáculos interpretarem o Novos instrumentos surgirão cada vez mais
poder da música eubiótica. Toda interpretação fica desenvolvidos no Akasha, junto com os tocadores
bem clara e definida, mostrando sempre Aquilo ou artistas, também o sistema de notação, em
vibrando em tudo, fazendo-se a Música a Yoga das vez de 5, será o
massas humanas. Observa-se consequentemente o de 7 linhas, para
entrar em mais ... só na 5ª e 6ª raças-mãe
fenômeno na crítica que surge sobre os concertos, poderá ainda haver música;
a preferência que alguns dão a um compositor, a dimensões de
expressão. Serão na 7ª como estado de
um dirigente ou a um gênero de música. Temos o
usados com caráter consciência átmica, haverá
desejo, por uma parte, de achar aquele fulano o
de órgão-xilofone, um só entendimento, e então
maior de todos, levando as massas muitas vezes à
árvores de a música terá cumprido a sua
essa crítica, àquele que alcançou maior sucesso.
Mas, quase todos se esquecem de que foi o estado florestas inteiras, função, porque tudo se terá
de consciência que interpretou uma música, a produzindo som tornado luz e som
quem, por lei de atração, um público, um povo, pelos ventos,
se inclinou. Sabendo também que a diferença de causando
opiniões forma o contraste, que é a força da grande vibrações mais vivas que os nossos instrumentos
alavanca, ou em nosso caso, a crítica que surge dos de madeira velha e morta, misturando-se com
diversos partidários de estados de consciência, são estranhos acordes de campainhas. O som
duais, hoje na política “esta-dual” cria os grandes será cada vez mais livre do atrito, esse grande
movimentos e produções. No entanto, só na 5ª e obstáculo desaparecerá com a evolução dos
6ª raças-mãe poderá ainda haver música; na 7ª indivíduos. A individualidade da sociedade causa
como estado de consciência átmica, haverá um só o atrito, a união dessa sociedade o elimina, o qual
entendimento, e então a música terá cumprido a em toda produção desejada, produz uma série
sua função, porque tudo se terá tornado luz e som. de elementos fenomênicos não desejados, como
na técnica, o calor, o desgaste, as impurezas,
Outro exemplo interessante é a música na sua identificando-se até com falsificações, criando
forma de instrumentação: a música de câmara, uma outra lei, cuja atração magnética influi sobre
que de fato é a música das câmaras de iniciações o quaternário, quer dizer, esta matéria criada,
(Música de Câmara – últimos quartetos – de condenando-a em muitas encarnações seguintes,
Beethoven). E, neste gênero temos o solo, a em nosso caso, a composição de sempre novas
música uníssona de um instrumento, depois peças ou combinações de notas musicais, até que
o duo, terceto, quarteto, quinteto, sexteto; as 7 notas se unam à sua oitava. Como tudo em
septeto e octeto, que não são nada mais que matemática, representam as escalas com bemóis,
a Divindade em diversidade, fazendo vibrar a os mundos divinos, os sustenidos, os mundos
unidade respectiva, ou mostrando a luta entre a humanos e sobre-humanos. Se o Cristo carregou
magia branca e a negra, 5 x 7 das notas brancas uma cruz só, há outros cristos que carregam até
e pretas (alternadas) para conseguir tal cousa e, 6 cruzes,ou seja a escala de fá sustenido maior, a
então, temos aqui a música como caminho: Ka- qual se faz Idêntica ao Mundo Divino de Sol bemol
Tao-Bey. (7 brancas, 5 pretas, dando a soma de maior, ou a trocada, mudança harmônica, ou das
♪ Carlos Carvalho
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Este artigo, ressalvados alguns poucos ajustes aqui efetuados, foi originalmente publicado na edição nº 158 (março/2013), ano 13, do boletim
informativo Integre-se... para caminharmos juntos!, do Departamento de São Paulo - Lacerda Franco da Sociedade Brasileira de Eubiose (SBE),
na coluna intitulada “Querer, Saber, Ousar, Calar”.
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Membro da Série Interna do Departamento de São Paulo - Lacerda Franco da SBE
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