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ADMINISTRAÇÃO
Neli Klix Freitas, Jurema Alcides Cunha
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de papel: uma, com linhas incompletas, para o
sujeito completar o desenho, e as demais para
Para a administração do teste, o psicólogo en- que desenhe uma casa, uma árvore, uma pes-
trega ao sujeito três folhas de papel em bran- soa (completa), uma pessoa do sexo oposto
co, lápis e borracha, solicitando-lhe que dese- (completa), ele mesmo (completo) e qualquer
nhe uma casa, uma árvore e uma pessoa. Con- outra coisa que queira. Segue-se um questio-
tudo, Hammer (1991) propõe que se dê uma nário de quinze perguntas, numa base de faz-
folha de cada vez, colocando-a com a dimen- de-conta.
são maior horizontalmente na frente do sujei- Hammer (1991) faz a complementação dos
to, para o desenho da casa, e verticalmente, desenhos acromáticos com uma fase cromáti-
para o desenho da árvore e da pessoa. Já Gro- ca, que constitui um recurso para explorar “ca-
th-Marnat (1999) lembra a versão que foi su- madas mais profundas da personalidade” (p.1),
gerida por Burns e Kaufman, em 1970, em que permitindo obter um quadro “da hierarquia de
é fornecida uma única folha de papel para que conflitos e defesas do paciente” (p.31). Neste
o sujeito nela faça os três desenhos. Essa pro- caso, são fornecidas mais três folhas em bran-
posta é valiosa para se analisar as inter-rela- co, borracha e lápis de cor. As instruções são
ções dos três desenhos. as mesmas, e, após a fase cromática, é feito
Costumeiramente, a fase gráfica é seguida um interrogatório como anteriormente.
por uma fase verbal. Nesta, pode-se utilizar Morris (1976) salienta também a importân-
uma abordagem mais aberta, sugerindo ao cia das observações durante a testagem. De-
sujeito que fale sobre a casa, a árvore e a pes- vem-se registrar as reações do sujeito às ins-
soa que desenhou, que conte uma história truções, que podem envolver indícios de an-
usando os três elementos, ou, ainda, pode ser siedade, resistência, desconfiança ou, pelo con-
usado um procedimento mais estruturado. No trário, de cooperação ou de aceitação passiva
Anexo E, pode ser encontrada uma lista de per- da tarefa. Além disso, devem-se anotar o tem-
guntas utilizada no interrogatório. po de reação e os comportamentos verbais e
Para muitos psicólogos, a administração do não-verbais. Caso o sujeito manifeste ansieda-
HTP resume-se a essas fases. Não obstante, en- de, resistência ou desconforto, recomenda-se
contram-se outras versões. Topper e Boring dizer que não se preocupe em chegar a uma
(1969) propuseram a utilização de sete folhas produção artística, porque não se pretende
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avaliar sua aptidão, mas sim a maneira como outras pessoas significativas, “uma vez que as
desenha. projeções que fazemos em outras pessoas (in-
cluindo nossos pais) são, na verdade, projeções
externas de autopercepções e de sentimentos”
INTERPRETAÇÃO (p.142).
Hammer (1991) acha que os três desenhos
Simbolismo da casa, árvore e pessoa. Para ana- proporcionam simultaneamente informações
lisar os desenhos da casa, árvore e pessoa, é em diferentes níveis de personalidade. O dese-
essencial “considerar as áreas mais amplas da nho da pessoa revela “o grau de ajustamento
personalidade investigadas por esses três con- num nível psicossocial”, enquanto a árvore,
ceitos” (Hammer, 1991, p.125). como investiga os “sentimentos e auto-atitu-
De um modo geral, pensa-se na casa como des mais duradouros e profundos” (p.41), é o
o lar e suas implicações, subentendendo o cli- desenho menos suscetível a mudanças em si-
ma da vida doméstica e as inter-relações fami- tuações de reteste. Por outro lado, consideran-
liares, tanto na época atual como na infância. do a pessoa e a árvore como extremos de um
Em conseqüência, há uma tendência para as continuum, a casa estaria em algum ponto
crianças expressarem suas relações com pais e entre ambas. Já os desenhos cromáticos suple-
irmãos, enquanto as pessoas casadas vão re- mentam os acromáticos, porque atingem ca-
fletir, no desenho, aspectos de suas relações madas mais profundas da personalidade, em
adultas com os demais membros. Contudo, razão do impacto emocional da cor, de sua
quanto mais comprometido estiver o sujeito, associação com aspectos infantis (lápis de cor,
mais existe a probabilidade de projeções de usados na infância) e em decorrência do fato
relações mais regressivas. Nesta linha de pen- de que o sujeito, ao chegar à fase cromática,
samento, entender-se-ia o ponto de vista de está afetivamente mais vulnerável do que no
que, “para algumas pessoas, a casa reflete suas início da tarefa.
relações com a mãe” (Groth-Marnat, 1984, Impressão geral. Na análise do desenho, em
p.141), já que a interação infantil mais carac- primeiro lugar é essencial identificar a impres-
terística é com a figura materna. Assim, a casa são geral que causa. Pressupondo-se que a
envolve a percepção de família, seja numa óti- casa, a árvore e a pessoa especificamente de-
ca atual, passada ou, ainda, num futuro ideali- senhadas tenham sido selecionadas por terem
zado, mas também aspectos do ego que tem uma significação simbólica para o sujeito, como
tal percepção, que podem representar um auto- temas importantes de sua vida passada ou por
retrato (Hammer, 1991). se associarem com aspectos mais profundos
A árvore e a pessoa permitem investigar o de sua personalidade, algo de muito pessoal
que se costuma chamar de auto-imagem e se comunica pela impressão geral transmitida
autoconceito (Hammer, 1991) ou “diferentes pelos conteúdos projetados. Um salgueiro, por
aspectos do self” (Groth-Marnat, 1999, p.525). exemplo, batido pelo vento, sugere sentimen-
Aspectos projetados na árvore associar-se-iam tos e atitudes bem diversos de um carvalho
com conteúdos mais profundos da personali- frondoso, assim como a figura de um príncipe
dade, enquanto, na pessoa, revelariam “a ex- altaneiro provoca uma impressão contrastan-
pressão da visão de si mesmo mais próxima da te com a de um mendigo maltrapilho deitado
consciência e de sua relação com o ambiente” numa calçada. Campos (1977) faz comentários
(Hammer, 1991, p.126). Não obstante, existe sobre a impressão global de vazio, de nudez,
uma hipótese de que a árvore reflete a relação transmitida por alguns desenhos, enquanto
com o pai, assim como o desenho da casa en- outros se caracterizam por harmonia e, ainda
volveria aspectos da relação com a mãe. Gro- outros, por inquietude.
th-Marnat (1984) diz que não é absurda a pres- Interpretação de aspectos projetivos e ex-
suposição de que as três figuras explorariam pressivos globais. Van Kolck (1975) e Campos
sentimentos sobre si mesmo ou em relação a (1977) recomendam o exame de uma série de
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pode ser atribuída à imaturidade. Da mesma modificada se ela se apresenta com uma quan-
maneira, só é adequado fazer interpretações tidade densa de fumaça, o que pode refletir
com enfoque projetivo com base em aspectos tensão ou sugerir conflito nas relações fami-
que podem envolver coordenação visomanual liares (Hammer, 1991).
e organização perceptoespacial, se puderem ser A linha de solo dá indícios sobre o contato
desconsiderados outros fatores etiológicos com a realidade, principalmente no que se re-
para a explicação das dificuldades encontradas. fere à qualidade e à firmeza do traço. Os cami-
O tamanho do telhado relaciona-se com a nhos devem ser examinados com cuidado. Em
medida em que a fantasia distorce ou invade o princípio, significam vias de acesso e de comu-
funcionamento mental. Em casos extremos, o nicação, mas também podem ser usados como
telhado acaba por se constituir na representa- barreiras ou meios de proteção, dificultando
ção total da casa toda, em que são acrescenta- as interações. Os demais acessórios, como cer-
das portas e janelas, tipo de desenho mais fre- cas, arbustos, flores, etc., sempre devem ser
qüentemente encontrado em pacientes esqui- considerados em termos de sua finalidade de
zofrênicos. Num outro extremo de um conti- facilitar o intercâmbio com o mundo externo
nuum, a ausência de telhado verifica-se em ou, pelo contrário, de estabelecer meios de
sujeitos geralmente incapazes de regressão a defesa ou de proteção.
serviço do ego, “em personalidades reprimidas
e com orientação concreta” (Hammer, 1991,
p.128). Já o reforço do telhado denota esfor- INTERPRETAÇÃO DO DESENHO DA ÁRVORE
ços defensivos contra impulsos que buscam
expressão na fantasia. A árvore, além dos aspectos já discutidos sobre
Portas e janelas representam canais de co- simbolismo, de acordo com Buck, conforme
municação ou vias de acesso ao mundo exter- Burns e Kaufman (1978), representa o cresci-
no. Portanto, a sua ausência significa inacessi- mento, e, como Campos (1977) comenta, pode
bilidade, isolamento. Tentativas do ego de per- revelar sentimentos do sujeito em várias fases
manecer inacessível também são indicadas pela de seu desenvolvimento, simbolizado pela pro-
colocação da porta muito acima da linha de gressão da raiz até a copa. Assim, o tronco re-
solo, inclusive sem o acesso por degraus. Já a fletiria sentimentos de poder e a força do ego,
porta de tamanho muito grande sugere fortes a estrutura dos galhos forneceria indícios sobre
necessidades de dependência, e a porta aber- como o sujeito percebe sua capacidade de en-
ta, “intensa necessidade de reforço emocional contrar satisfação no ambiente e a organiza-
de fora” (Hammer, 1991, p.129). Ainda que as ção total teria que ver com seus sentimentos
janelas constituam uma forma de contato se- sobre o próprio equilíbrio emocional. Entretan-
cundária com o ambiente (Hammer, 1991), to, em termos essenciais, conforme o ponto
podem denotar uma diminuição na interação, de vista de vários autores, citados por Groth-
na medida em que aparecem fechadas ou tran- Marnat (1984), a representação de uma árvo-
cadas, pois tal tipo de representação já teria re pressupõe um tronco e, pelo menos, um
um sentido defensivo. Por outro lado, o acrés- galho. “Se esses elementos críticos estão fal-
cimo de cortinas, persianas ou o desenho da tando, deve ser considerada uma deterioração
janela apenas parcialmente aberta, são com- intelectual” (p.139).
patíveis com a existência de interações com o A impressão geral do desenho é, em gran-
ambiente, mas controladas. de parte, determinada pela colocação no pa-
A presença ou não de chaminé pode ser pel e pelo tipo de árvore.
explicada por motivos socioculturais. Mas, ape- A árvore bem centrada relaciona-se com
sar disso, é freqüentemente representada, por equilíbrio e bom relacionamento com ambos
se prestar como um símbolo de “calor psicoló- os sexos. A colocação para a esquerda já não
gico”, conforme Buck, em referência de Gro- sugere equilíbrio emocional e se associa com
th-Marnat (1984). Porém, tal hipótese deve ser forte influência materna, ao passo que, para a
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produções gráficas, eventualmente atribuindo-
a a aspectos emocionais, quando outros fato-
res estão em jogo.
INDICADORES DIAGNÓSTICOS
Traços psicóticos
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c) figura humana frágil, mas organizada,
sugerindo impotência; ênfase na cabeça e no
tronco; semblante triste; figura simétrica rela-
cionada com controle obsessivo;
De um modo geral, os desenhos apresen-
tam tamanho pequeno, sem sugestão de mo-
vimento, com traçado débil, trêmulo, cortado,
inibido. A localização pode variar, mas, habi-
tualmente, são desenhos soltos “no ar”. Nas
Figuras 35.4, 35.5 e 35.6, têm-se as produções
no HTP de uma mulher, de 41 anos, com crise
depressiva, em razão da perda recente de um
filho de 16 anos por leucemia.
Figura 35.7 Desenho da casa de uma mulher, de 43 Figura 35.9 Desenho da pessoa de uma mulher, de 43
anos, com traços hipomaníacos (HTP). anos, com traços hipomaníacos (HTP).
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