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1. Apresentação e introdução
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primento de meios de pagamento (PMPP + DV) para o adequado funcio-
namento da economia.
O sistema financeiro, em particular o mercado aberto, realiza a compa-
tibilização dos fluxos de caixa correntes e futuros pela transfonnação de
magnitudes, prazos e riscos, embutida nos instrumentos de captação e
aplicação disponíveis. Assim, os agentes econômicos com sobras de caixa
aplicam esses recursos no mercado aberto, ímanciando, na outra ponta, os
agentes com déficit de caixa, servindo as taxas de juros como balizamento
para essas transações.
Outro n:otivo pelo qual o mercado não se "zera" sozinho, através do sis-
tema ímanceiro, decorre da existência de vazamentos de caixa no sistema.
Esses vazamentos estão· associados ao impacto monetário das contas do
balanço de pagamentos, às oscilações dos recursos do Tesouro Nacional
(TN) mantidos no Banco Central e às contas de depósitos do público não'
bancário no Banco Central.
No tocante ao balanço de pagamentos, o Banco Central compra e ven-
de cruzeiros em troca de moedas estrangeiras a taxas que passaram a ser
flutuantes após a decretação do Plano Collor, em março de 1990. Quando
as vendas de cruzeiros excedem as compras, produz-se ganho líquido de
disponibilidades pelo sistema, o qual deve ser absorvido pelo Banco Cen-
tral através de operações defensivas de mercado aberto. Verifica-se o in-
verso no caso de as compras excederem as vendas.
As oscilações de recursos do Tesouro no Bacen, decorrentes de fluxos
de receitas e despesas, constituem outra fonte de vazamentos de caixa. Em
caso de recolhimento de receita fiscal ou de colocação líquida de títulos
no mercado primário, observa-se aumento de receita do Tesouro e perda
de recursos pelo sistema. Como o Tesouro não recicla esses recursos ime-
diatamente, o Bacen deve atuar por meio de operação defensiva com o ob-
jetivo de suprir a perda temporária de reservas. Na medida em que o Te-
souro gasta os recursos, o Banco Central passa a recolher gradualmente os
valores anteriormente injetados no mercado.
Outro fator de vazamento está associado ao conjunto de diversos dep6-
sitos que o público não-bancário mantém no Bacen, tais como o com-
puls6rio sobre os depósitos de poupança dos agentes do SBPE, depósitos
registrados em moedas estrangeiras (DRME), os recolhimentos ao FND,
aquisições de ouro no mercado interno, além dos redescontos de liquidez.
As oscilações dessas contas no Bacen correspondem a ganhos ou perdas
de reservas que o banco deve tentar compensar no sentido inverso.
Diariamente, na abertura do mercado, o Demab, com base nas estimati-
vas sobre as variações dos fatores de entesouramento e de vazan:ento, es-
tabelece suas metas operacionais para o dia, em termos de reservas a inje-
tar ou a retirar, conforme a situação de liquidez do mercado, ou em termos
de taxas de juros de curtíssimo prazo (overnight).
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fensiva no mercado ~cundário, no sentido de compensar a perda de re-
servas. No caso inverso, de gasto do Governo ou de resgate de títulos, o
efeito é o de aumento de reservas, o que suscita a conseqüente necessida-
de de operação defensiva de mercado aberto para enxugar a liquidez.
Como, em tese, a dívida pública s6 deveria ter o objetivo de pennitir o
rmanciamento não-inflacionário do Tesouro, sem afetar a liquidez global
do sistema econômico, mesmo que temporariamente, constata-se, de certa
maneira, efeito distorcivo em relação à sua função específica.
Tal arranjo institucional também facilitou o modus operandi inadequa-
do do Governo no tocante ao rmanciamento do déficit público, pelo me-
nos até 1988. No Brasil, ao contrário de alguns países, como os EUA, o
Tesouro não rmanciava o déficit apenas com a poupança financeira pree-
xistente. Ou seja, o Tesouro não pré-rmanciava o déficit, conforme a pro-
gramação de receitas e gastos previamente estabelecida.
Pelo menos no longo período entre 1970 e 1988, o excesso de gastos
sobre as receitas foi feito a priori, ficando o problema de seu rmancia-
mento a ser resolvido posteriormente, de alguma maneira.
Com a crescente dificuldade na colocação líquida de titulos junto ao
mercado, por volta de 1979, o Bacen passou a absorver volumes cada vez
maiores em sua carteira, adiantando concomitantemente recursos novos ao
Tesouro.
Com o fim de neutralizar o efeito inflacionário dos gastos adicionais do
Tesouro, o Bacen era obrigado a vender liquidamente titulos no mercado
secundário para enxugar a liquidez excessiva. Assim, respaldado pelas co-
locações de titulos na sua carteira em volume superior aos resgates, o
Banco Central foi, ao longo do tempo, um vendedor líquido de títulos,
enquanto em outros países o Banco Central normalmente tende a atuar
como comprador líquido de titulos do mercado, com o objetivo de injetar
moeda em volume compatível com o crescimento da renda nacional que se
projeta para um determinado período.
A injeção de recursos novos na economia através de gastos do Governo
induzia o aumento da liquidez do sistema, ou seja, ao crescimento das so-
bras de caixa dos agentes econômicos, cujos recursos, pela sua pr6pria ca-
racterística de curto prazo, não financiam investimentos de longa matu-
ração, capazes de aumentar a capacidade produtiva da economia.
Para que essas sobras de caixa não aumentassem exageradamente o
consumo ou a especulação de estoques, enÍun, hão provocassem a exacer-
bação da demanda, tomava-se necessário o oferecimento de aplicação fi-
nanceira de curto prazo por parte das instituições financeiras, lastreadas
em titulos públicos, que aquelas absorviam em grande volume por força
de atuação vendedora do Banco Central.
A necessidade de absorção de volume expressivo de titulos pelo mer-
cado induzia à superalavancagem da carteira de titulos e ao corresponden-
te aumento de risco de seu carregamento pelas instituições rmanceiras,
configurando o fenômeno do oversold, principalmente no período 1984-89,
ou seja, a posição de sobrevenda do Bacen, que acabava vendendo ao
mercado mais do que a sua capacidade normal de absorção de títulos.
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(convertido pelo câmbio oficial, ou aproximadamente US$ 5 bilhões, pelo
paralelo).
Tabela 1
,Operações com títulos junto ao público
Fluxo mensal em USS milhões
(conversão pela taxa oficial de venda)
Fonte: Bacen!Depec.
( -) colocação de títulos ou retirada de recursos.
(+) resgate de títulos ou injeção de recursos.
Fonte: BacenlDepec.
4. Experiência norte-americana
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fundos entre suas contas nos bancos COmercUllS e seus salGOS sacáveis por
cheques nos 12 Bancos da Reserva Federal.
Grande parte da receita tributária do Tesouro americano é destinada à
conta de imposto e empréstimo (Tax and loan account), que o rresmo
mantém junto aos bancos arrecadadores. Nessa sistemática, o banco arre-
cadador pode solicitar ao Tesouro a manutenção de recursos por um de-
terminado prazo, pagando taxas de juros correspondente a alguns pontos
abaixo da taxa de "federal funds". (de troca de reservas bancárias).
O Tax and loan accoUnJ do Tesouro nos bancos comerciais funciona
como um importante amortecedor do nível de reservas, evitando osci-
lações bruscas no mesmo, que seriam decorrentes de movirrentações lí-
quidas de fundos entre o Tesouro e o resto da economia.
Sempre que necessário, o Tesouro transfere fundos de suas contas nos
bancos comerciais para as suas contas no FED. No sentido inverso, quan-
do há entrada de recursos pela colocação líquida de títulos, o Tesouro
transfere esse excesso de fundos para as suas contas de empréstimos junto
à rede bancária. Toda a movirrentação financeira da dívida pública (colo-
cações, resgates e pagamento de juros) é lançada.diretamente na conta do
Tesouro, no FED.
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evolução diária deste agregado e das oscilações da taxa de juros de mer-
cado daí decorrentes" .
Nesse sentido, existem algumas evidências de que a influência das os-
cilações da conta do Tesouro sobre a flutuação total das reservas bancá-
rias é bastante significativa, conforme a tabela 3.
Tabela 3
Fatores de oscilações das reservas bancárias
Variação acumulada no mês
Participação perCentual sobre o fluxo de reservas (%)
Fonte: BCB-Demab-Conep.
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mentária e das operações da dívida pública. Em conseqüência, seria mi-
nimizada a interferência das operações no mercado primário sobre os ní-
veis de reservas do sistema. Isso, por sua vez, resultaria na menor neces-
sidade de atuação do Banco Central através de operações defensivas no
mercado secundário no sentido de compensar as oscilações de reservas.
Em suma, a política monetária ficaria mais imune aos efeitos da política
fiscal.
2. Como corolário do item anterior, haveria maior eficácia do mercado
aberto com instrumento de regulação da oferta monetária, permitindo, in-
clusive, melhores condições para a atuação das operações dinâmicas.
3. Dando respaldo ao· próprio preceito constitucional, seriam criadas difi-
culdades adicionais ao possível funcionamento do mecanismo de rman-
ciamento do déficit público pelo Banco Central, na medida em que a ma-
nutenção de conta do Tesouro nos bancos comerciais exige, embora não
necessariamente, o pré-rmanciamento do déficit orçamentário junto ao
próprio mercado.
4. Com o funcionamento ativo do mercado de troca de reservas bancárias,
as instituições financeiras passariam a atuar mais autonomamente para a
"zeragem" de suas posições, tornando-as menos dependentes do redes-
conto de liquidez do Banco Central. Além disso, as taxas de juros de cur-
to prazo seriam determinadas pelo mercado, sem necessidade de sinali-
zação pelo Bacen.
5. Como benefício adicional na área de finanças públicas, a manutenção
de contas do Tesouro nos bancos comerciair. eliminaria a defasagem entre
a arrecadação de impostos e o efetivo crédito de recursos na conta do Te-
souro. Na atual sistemática, a defasagem é de dois dias, que dificilmente
pode ser reduzida devido à limitação administrativa.
6. A explicitação da remuneração pela prestação do serviço é mais ade-
quada ao Tesouro do que a remuneração implícita na aplicação do float.
Anexo 1
Abstract
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Referências bibliográficas
Miranda, José Luiz; França, Paulo Oscar & Fernandes, André Romar. D(~
vida pública e mercado aberto nos EUA. Rio de Janeiro, Andima, 1985.
(Coleção Mercado Aberto, n. 2.)