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RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO
*
Pedagoga. Mestra em Educação. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.
2 A GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA
mercado livre, restando aos países e às classes sociais a adaptação. Esse termo faz vaga
referência à economia, sendo preferível referir-se à globalização do capital ou à mundializa-
ção, para tratar do capital produtivo aplicado na indústria e em serviços ou do capital que se
valoriza na forma de dinheiro.
Chesnais (1996) defende que se pense a mundialização como uma fase do pro-
cesso de internacionalização do capital e da sua valorização, que ocorre nas regiões em
que há recursos ou mercados. Ela é resultante da fase de acumulação ininterrupta do capi-
tal, desde 1914, e das políticas de liberalização, privatização, desregulamentação e des-
mantelamento das políticas sociais e democráticas, iniciadas na década de 1980. A mundia-
lização da economia de mercado privatizada, desregulamentada e liberalizada, deixa o capi-
talismo sem regras, procedimentos e instituições que permitam constituir o Estado previden-
ciário nacionalmente. A internacionalização do capital desmantela as barreiras internas entre
as funções financeiras e a interdependência dos segmentos do mercado. Isso impõe uma
linha de conduta que implica, para a maioria dos países, na perda da capacidade de condu-
zir desenvolvimento independente, no desaparecimento de especificidades dos mercados
nacionais e na impossibilidade de muitos Estados levarem políticas próprias.
Desde a década de 1990, segundo Chesnais (1996), houve um aumento das
operações puramente financeiras dos grupos industriais, de modo que uma parte elevada do
capital que nasce na esfera produtiva, pelo investimento e pela mobilização da força de tra-
balho, é captada ou transferida para a financeira. Esta esfera representa o movimento de
mundialização do capital, que se valoriza automaticamente, independente de Estados, em-
presas menores, classes e grupos sociais despossuídos. Nesta esfera, ocorrem vários pro-
cessos de valorização em que o dinheiro valoriza a si mesmo, através de mecanismos como
a aplicação em fundos ou a securitização e negociação de dívidas públicas. Contudo, por si
só, a esfera financeira nada cria e, quando deixa de ser alimentada pelo capital proveniente
da esfera produtiva, intensificam-se as crises financeiras.
Chesnais (1995) analisa que se a esfera financeira representa um campo fecha-
do em que o que um ganha o outro perde, as transferências continuam ocorrendo a partir da
esfera produtiva. Esse capital é proveniente de taxas de juros reais e positivos e da capaci-
dade de Estados, coletividades regionais ou locais e de empresas
2.1 O Neoliberalismo
neoliberalismo não trouxe o crescimento produtivo, visto que as aplicações nos mercados
financeiros internacionais desestimularam o comércio mundial de mercadorias reais.
No mundo globalizado, o Estado deve intervir, principalmente, para proteger o
capital. O papel das instituições políticas é fundamental no sentido de prover as condições
necessárias para que as economias possam competir mundialmente. Para tanto, Castells
(2000, p.107) afirma que o atual Estado desenvolvimentista intervém na economia, a fim de
apoiar “o desenvolvimento tecnológico das indústrias do país e de sua infra-estrutura de
produção como forma de promover a produtividade e ajudar ‘suas’ empresas a competir no
mercado mundial”. O autor considera que a desregulamentação dos mercados e a privatiza-
ção de empresas estatais são pré-requisitos para o crescimento econômico, para aumentar
a riqueza e o poder no país. Os Estados devem direcionar “políticas para o aumento da
competitividade coletiva das empresas sob sua jurisdição” e da “qualidade dos fatores de
produção em seus territórios”. Porém, o impacto no crescimento econômico dependerá do
“conteúdo real dessas medidas e de sua conexão com estratégias de intervenção positiva,
tais como políticas tecnológicas e educacionais que aumentem os recursos e talentos do
país no âmbito da produção informacional” (CASTELLS, 2000, p.108-109).
A combinação do neoliberalismo com a globalização da economia, nos anos de
1980, foi fundamental para a sua difusão ou imposição aos países mais pobres. A globaliza-
ção permitiu que o ideário, as políticas e as reformas neoliberais assumissem proporções
mundiais. O endividamento externo da América Latina e a crise econômica mundial levaram
a que lhe fosse imposta a agenda neoliberal, que, segundo Draibe (1993), se constituía por
três pontos básicos: 1) a descentralização do poder do Governo Federal para as instâncias
locais e para a iniciativa privada; 2) as políticas focalizadas de assistência aos setores da
sociedade mais atingidos pelo desemprego e pela pobreza, agravados pela estratégia neoli-
beral; 3) a privatização de empresas estatais, transferindo a produção de bens e serviços
para o setor privado.
Ao implementar essa agenda, os países latinos retraem-se da regulação econô-
mica, deixando que o mercado conduza as relações trabalhistas, a economia e a dinâmica
social. As medidas de descentralização de poderes e encargos inserem-se no princípio do
Estado mínimo, vêm sendo implementadas sob a alegação de que o setor privado é o mo-
delo de eficiência e eficácia que deve ser seguido e que os problemas podem ser melhor
gerenciados em nível local. Também a sociedade civil vem sendo chamada a assumir res-
ponsabilidades que anteriormente eram do Estado, a fim de tirar deste parte da responsabi-
lidade no investimento em setores estratégicos.
As políticas implementadas são marcadas por ataques aos direitos sociais e às
políticas que conferiam direitos aos cidadãos. Estas são substituídas por programas com-
pensatórios dirigidos para os setores mais pobres da população. Sobre esta questão, Castel
(1999, p.537-538) afirma que as políticas de intervenção do Estado deixam de ser desenvol-
vidas em nome da integração – busca do equilíbrio social a partir do centro – para estarem
conduzidas em nome da inserção – definindo clientela e zonas de espaço social, desenvol-
vendo estratégias específicas para elas, por estarem em situação deficitária. A distinção
entre essas políticas se faz na relação entre seguridade social – todos os trabalhadores es-
tão cobertos – e ajuda social – recursos subsidiários àqueles não assegurados pelo trabalho
ou propriedade. O autor compreende que existe um novo perfil de pessoas carentes, as
quais não podem ser culpabilizadas pela situação de não-trabalho, mas precisam ser ajuda-
das a encontrar um lugar na sociedade, levando o Estado a programar políticas, de caráter
transitório, para a inserção social e profissional. A renda mínima de inserção é um meio de
obter condições de existência, que melhora, mas não transforma a condição de vida da mai-
oria dos beneficiários.
Tudo isso – o revigoramento do ideário liberal, a reforma do Estado, a mundiali-
zação do capital, além da reestruturação produtiva – provoca profundos impactos no mundo
do trabalho e nas suas relações, refletindo alterações na remuneração do trabalhador e na
quantidade dos postos de trabalho. Essas políticas, portanto, fracassam na preparação da
clientela para a integração, pois esbarram nos interesses empresariais e na conjuntura eco-
nômica e social.
Na visão de Marx (1978), o trabalho é atividade vital, é uma condição de vida pa-
ra a espécie humana. A perda desse vínculo é a perda de uma identidade, é o não-ser. Nos
dias atuais, a lógica do capital exclui parcelas significativas da população do trabalho, tor-
nando-os inadaptados socialmente. Marx fez a crítica ao trabalho que parecia ao homem
apenas um meio para manter a sua existência, alienando-lhe o corpo, a mente e a vida. Na
atualidade, a maioria dos trabalhadores sequer consegue colocar-se na posição de explora-
do, sendo reduzido à inutilidade.
Para que as conquistas dos trabalhadores pudessem ser desmontadas, foi pre-
ciso desarticulá-los politicamente. Conforme mostrou Anderson (1995), um dos objetivos do
neoliberalismo era romper com o poder dos sindicatos. Os sindicatos são elementos de or-
ganização das massas. Romper com a sua força implica em desarticular as classes traba-
lhadoras e nisso o ideário neoliberal foi muito bem sucedido. Nesse particular, Kurz (1996)
demonstra que, uma vez que a economia de mercado prevaleceu e a crítica radical ao capi-
talismo desapareceu, os sindicatos não representam mais a transcendência do sistema , por
isso, não evidenciam vantagens dignas para os seus membros. Perderam legitimidade por
serem incapazes de usar o sonho do socialismo de Estado e por não cogitarem alternativa
ao sistema. Assim, são obrigados a consentir às leis do mercado, deixando que os trabalha-
dores concorram individualmente e que o conceito de solidariedade se desqualifique por ser
instrumentalizado para o apego às gratificações sociais do mercado.
A flexibilização do emprego e das condições de trabalho, segundo as necessida-
des das empresas, torna o assalariado o único responsável pelo trabalho, ao mesmo tempo
em que o impede de referir-se a classes antagônicas e a medidas sociais coletivas. A classe
trabalhadora encontra-se fragilizada, visto que não se reconhece nos sindicatos, nem nos
seus partidos tradicionais.
3 À GUISA DE CONCLUIR...
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir; GENTILI, Pablo (Org.).
Pos-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. 4.ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1995.
CASTEL, Robert. A nova questão social. In: ______. As metamorfoses da questão social:
uma crônica do salário. 2.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
______. A mundialização do capital. Tradução de Silvana Finzi Foá. São Paulo: Xamã,
1996.
DRAIBE, Sônia Maria. As políticas sociais e o neoliberalismo: reflexões suscitadas pelas
experiências latino-americanas. Revista USP, n.17, mar/abr/maio, 1993.
IANNI, Octavio. A era do Globalismo. 3.ed. Rio de Janeiro. Civilização brasileira, 1997.
KURZ, Robert. A crise do sistema mundial produtor de mercadorias. In: ______. O colapso
da modernização: da derrota do socialismo de caserna à crise da economia mundial. 2.ed.
Rio de Janeiro: Paz e terra, 1992.