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A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA, O NEOLIBERALISMO E AS TRANSFORMAÇÕES


NO MUNDO DO TRABALHO

Luciane Terra dos Santos Garcia*

RESUMO

Neste trabalho, analisamos a globalização da economia e neoliberalismo que


marcam o ciclo atual de expansão do capitalismo, bem como as suas conse-
qüências nas relações trabalhistas. O contexto mundial é caracterizado pela
concorrência global e desigual entre os países, os quais implementam políti-
cas de liberalização econômica e desregulamentação de proteções sociais,
desmantelando importantes conquistas dos trabalhadores. Isso implica em
profundas mudanças na sociedade e, em especial, nas relações trabalhistas,
que se tornam marcadas pela instabilidade e pela exploração cada vez maior
da força de trabalho.

Palavras-chave: globalização, neoliberalismo, trabalho.

ABSTRACT

In this work, we analyze the globalization of economy and neoliberalism, that


mark the current cycle of expansion of the capitalism, as well as its
consequences in labor relations. The world-wide context is characterized by
the global and not equal competition between the countries, which implement
politics of economic liberalization and deregulation of social protections,
dismantling important conquests of workers. This implies in deep changes in
the society and, in special, in the labor relations, that become marked by
instability and by an each time bigger exploration of the labor force.

Keywords: globalization, neoliberalism, work.

1 INTRODUÇÃO

A reestruturação do capitalismo é um processo cíclico que influencia as práticas


sociais. A reorganização das forças produtivas e econômicas e um processo civilizatório
mundial ganham intensidade e expressam o atual ciclo de expansão do capitalismo. Iniciou-
se uma nova fase de universalização do capital em reação às políticas keynesianas de regu-
lamentação do mercado e às políticas sociais do Welfare State que se consolidaram após a
Segunda Guerra Mundial. Na ocasião, as elites enfraquecidas foram obrigadas a aceitar a
intervenção do Estado na economia e conceder direitos e proteções às classes trabalhado-
ras. Foi determinante para o sucesso dessas políticas de bem-estar a divisão do mundo em
duas polaridades político-ideológicas conflitivas, o capitalismo e o comunismo, pois, era ne-
cessário afastar o perigo da eminência comunista no ocidente.

*
Pedagoga. Mestra em Educação. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.

São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005


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As políticas de bem-estar social deram-se, principalmente, após a Segunda


Guerra Mundial e referem-se ao "financiamento público das despesas sociais consagradas
ao ensino, aos serviços de saúde, às pensões, à indenização de desemprego” (BRU-
NHOFF, 1991, p. 55). Isto foi possível graças à existência de um compromisso de classes
que liga o Estado, o patronato e os sindicatos em um conjunto de concessões múltiplas.
Contudo, com a crise da década de 1970, o Estado de bem-estar sofreu dificuldades finan-
ceiras e a sua legitimidade e eficácia são questionadas.
O período de crescimento econômico deu condições para que investissem em
inovações técnicas industriais. O desenvolvimento de novas tecnologias da informação e a
desregulamentação dos mercados possibilitaram a conexão de uma rede global de merca-
dos que conferiu maior mobilidade ao capital, integrando mundialmente os mercados finan-
ceiros. Assim, neste trabalho, realizamos uma revisão bibliográfica, em que analisamos a
globalização da economia e a revitalização do liberalismo que condicionam a reestruturação
do mundo do trabalho, bem como as suas conseqüências para a esfera social, política e
econômica em âmbito mundial.

2 A GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA

A nova economia tem como característica básica o fato de ser informacional e


global, segundo Castells (2000, p.87). Isto porque a produtividade e a competitividade dos
agentes econômicos dependem de suas capacidades para gerar, processar e aplicar a in-
formação com base no conhecimento, e porque as atividades produtivas, o consumo e a
circulação se organizam globalmente. Na atualidade, a economia gira em torno de grandes
áreas de influência que atuam interligadas: América do Norte, União Européia e região do
Pacífico asiático. O resto do mundo compete entre si, em relação de dependência, ou en-
contra-se desconectado economicamente.
Castells (2000, p.129) demonstra que a renda se polariza em nível mundial, exis-
tindo também uma crescente “diferenciação de crescimento econômico, capacidade tecno-
lógica e condições sociais entre as áreas do mundo, entre países, nos países e até nas re-
giões”. Essa diferenciação tem raízes históricas e se deve à diferente capacidade de os paí-
ses utilizarem as novas tecnologias da informação, à possibilidade de acesso aos grandes
mercados e ao papel dos governos na promoção da competitividade dos seus países na
economia capitalista global.
Esse cenário é profundamente excludente e, na concepção de Chesnais (1995),
o termo globalização, de acordo com o discurso dominante, é a expressão das forças de

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mercado livre, restando aos países e às classes sociais a adaptação. Esse termo faz vaga
referência à economia, sendo preferível referir-se à globalização do capital ou à mundializa-
ção, para tratar do capital produtivo aplicado na indústria e em serviços ou do capital que se
valoriza na forma de dinheiro.
Chesnais (1996) defende que se pense a mundialização como uma fase do pro-
cesso de internacionalização do capital e da sua valorização, que ocorre nas regiões em
que há recursos ou mercados. Ela é resultante da fase de acumulação ininterrupta do capi-
tal, desde 1914, e das políticas de liberalização, privatização, desregulamentação e des-
mantelamento das políticas sociais e democráticas, iniciadas na década de 1980. A mundia-
lização da economia de mercado privatizada, desregulamentada e liberalizada, deixa o capi-
talismo sem regras, procedimentos e instituições que permitam constituir o Estado previden-
ciário nacionalmente. A internacionalização do capital desmantela as barreiras internas entre
as funções financeiras e a interdependência dos segmentos do mercado. Isso impõe uma
linha de conduta que implica, para a maioria dos países, na perda da capacidade de condu-
zir desenvolvimento independente, no desaparecimento de especificidades dos mercados
nacionais e na impossibilidade de muitos Estados levarem políticas próprias.
Desde a década de 1990, segundo Chesnais (1996), houve um aumento das
operações puramente financeiras dos grupos industriais, de modo que uma parte elevada do
capital que nasce na esfera produtiva, pelo investimento e pela mobilização da força de tra-
balho, é captada ou transferida para a financeira. Esta esfera representa o movimento de
mundialização do capital, que se valoriza automaticamente, independente de Estados, em-
presas menores, classes e grupos sociais despossuídos. Nesta esfera, ocorrem vários pro-
cessos de valorização em que o dinheiro valoriza a si mesmo, através de mecanismos como
a aplicação em fundos ou a securitização e negociação de dívidas públicas. Contudo, por si
só, a esfera financeira nada cria e, quando deixa de ser alimentada pelo capital proveniente
da esfera produtiva, intensificam-se as crises financeiras.
Chesnais (1995) analisa que se a esfera financeira representa um campo fecha-
do em que o que um ganha o outro perde, as transferências continuam ocorrendo a partir da
esfera produtiva. Esse capital é proveniente de taxas de juros reais e positivos e da capaci-
dade de Estados, coletividades regionais ou locais e de empresas

[...] de ‘honrar seus compromissos’. As prioridades da política econômica de muitos


governos [...] tornaram-se o pagamento dos juros e do principal das dívidas públicas
e a garantia de taxas reais positivas implementando políticas sob a égide do comba-
te à inflação. (CHESNAIS, 1995, p.21-22).

No mundo globalizado, as empresas realizam novas combinações entre os in-


vestimentos internacionais, o comércio e a cooperação internacional interempresas coliga-

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das para assegurar expansão internacional e racionalizar operações. As grandes empresas,


corporações e conglomerados transnacionais traçam políticas de produção, comercialização
e conquista de mercado, planejam e controlam estratégias de acumulação, induzindo as
decisões governamentais dos países, regiões e do mundo, a fim de que ajam conforme os
seus interesses. Assim, a globalização do capital leva a um declínio da autonomia do Esta-
do-nação, visto que a sua soberania é reduzida, pois diretrizes e decisões importantes pas-
sam a ser compartilhadas com os centros de poder mundiais. Embora o Estado-nação seja
combatido pelas estruturas de poder globais, estas se apóiam nele para administrarem a
dívida interna e externa e desregulamentarem a economia, entre outros aspectos. Conse-
qüentemente, à medida que a acumulação capitalista se transforma, leva a uma mudança
na forma do Estado. Esse redimensionamento do papel do Estado nos dias atuais está inti-
mamente associado ao declínio do modo de produção fordista e ao crescimento da produ-
ção flexível, no contexto da globalização econômica, legitimando a revitalização dos ideais
liberais.

2.1 O Neoliberalismo

A reforma do Estado é legitimada pelo neoliberalismo, cujos princípios básicos


são essencialmente: o individualismo exacerbado, o Estado mínimo e a desregulação do
mercado. A liberdade individual, segundo Friedman (1985), é a finalidade das organizações
sociais. Por conseguinte, qualquer intervenção do Estado sobre o mercado pode interferir
nessa liberdade. Assim, os programas sociais promovidos pelo Estado são considerados
como ameaça à liberdade individual por inibir a atividade e a concorrência entre os indiví-
duos. Na concepção desse liberal, o mercado protege os indivíduos da coerção, sem haver
a necessidade de uma autoridade centralizada, mas ele não elimina o governo, que é es-
sencial para interpretar as regras e pô-las em prática.
Anderson (1995) afirma que, na ótica neoliberal, o Estado deve ser parco em
gastos sociais e intervenções econômicas, mas forte para romper o poder dos sindicatos e o
controle do dinheiro. Para o autor, os países que seguem esse ideal devem manter a estabi-
lidade econômica como meta principal de governo. Para alcançá-la, o Estado deve conter
gastos sociais e criar um exército de reserva de mão-de-obra desempregada, desarticulan-
do, desse modo, o movimento sindical. Precisa realizar uma reforma fiscal que reduza os
impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas, a fim de liberá-los para a apli-
cação na produção. Com essas reformas, o país supostamente voltaria a crescer devido à
estabilidade monetária e aos incentivos referidos. Contudo, conforme mostra este autor, o

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neoliberalismo não trouxe o crescimento produtivo, visto que as aplicações nos mercados
financeiros internacionais desestimularam o comércio mundial de mercadorias reais.
No mundo globalizado, o Estado deve intervir, principalmente, para proteger o
capital. O papel das instituições políticas é fundamental no sentido de prover as condições
necessárias para que as economias possam competir mundialmente. Para tanto, Castells
(2000, p.107) afirma que o atual Estado desenvolvimentista intervém na economia, a fim de
apoiar “o desenvolvimento tecnológico das indústrias do país e de sua infra-estrutura de
produção como forma de promover a produtividade e ajudar ‘suas’ empresas a competir no
mercado mundial”. O autor considera que a desregulamentação dos mercados e a privatiza-
ção de empresas estatais são pré-requisitos para o crescimento econômico, para aumentar
a riqueza e o poder no país. Os Estados devem direcionar “políticas para o aumento da
competitividade coletiva das empresas sob sua jurisdição” e da “qualidade dos fatores de
produção em seus territórios”. Porém, o impacto no crescimento econômico dependerá do
“conteúdo real dessas medidas e de sua conexão com estratégias de intervenção positiva,
tais como políticas tecnológicas e educacionais que aumentem os recursos e talentos do
país no âmbito da produção informacional” (CASTELLS, 2000, p.108-109).
A combinação do neoliberalismo com a globalização da economia, nos anos de
1980, foi fundamental para a sua difusão ou imposição aos países mais pobres. A globaliza-
ção permitiu que o ideário, as políticas e as reformas neoliberais assumissem proporções
mundiais. O endividamento externo da América Latina e a crise econômica mundial levaram
a que lhe fosse imposta a agenda neoliberal, que, segundo Draibe (1993), se constituía por
três pontos básicos: 1) a descentralização do poder do Governo Federal para as instâncias
locais e para a iniciativa privada; 2) as políticas focalizadas de assistência aos setores da
sociedade mais atingidos pelo desemprego e pela pobreza, agravados pela estratégia neoli-
beral; 3) a privatização de empresas estatais, transferindo a produção de bens e serviços
para o setor privado.
Ao implementar essa agenda, os países latinos retraem-se da regulação econô-
mica, deixando que o mercado conduza as relações trabalhistas, a economia e a dinâmica
social. As medidas de descentralização de poderes e encargos inserem-se no princípio do
Estado mínimo, vêm sendo implementadas sob a alegação de que o setor privado é o mo-
delo de eficiência e eficácia que deve ser seguido e que os problemas podem ser melhor
gerenciados em nível local. Também a sociedade civil vem sendo chamada a assumir res-
ponsabilidades que anteriormente eram do Estado, a fim de tirar deste parte da responsabi-
lidade no investimento em setores estratégicos.
As políticas implementadas são marcadas por ataques aos direitos sociais e às
políticas que conferiam direitos aos cidadãos. Estas são substituídas por programas com-

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pensatórios dirigidos para os setores mais pobres da população. Sobre esta questão, Castel
(1999, p.537-538) afirma que as políticas de intervenção do Estado deixam de ser desenvol-
vidas em nome da integração – busca do equilíbrio social a partir do centro – para estarem
conduzidas em nome da inserção – definindo clientela e zonas de espaço social, desenvol-
vendo estratégias específicas para elas, por estarem em situação deficitária. A distinção
entre essas políticas se faz na relação entre seguridade social – todos os trabalhadores es-
tão cobertos – e ajuda social – recursos subsidiários àqueles não assegurados pelo trabalho
ou propriedade. O autor compreende que existe um novo perfil de pessoas carentes, as
quais não podem ser culpabilizadas pela situação de não-trabalho, mas precisam ser ajuda-
das a encontrar um lugar na sociedade, levando o Estado a programar políticas, de caráter
transitório, para a inserção social e profissional. A renda mínima de inserção é um meio de
obter condições de existência, que melhora, mas não transforma a condição de vida da mai-
oria dos beneficiários.
Tudo isso – o revigoramento do ideário liberal, a reforma do Estado, a mundiali-
zação do capital, além da reestruturação produtiva – provoca profundos impactos no mundo
do trabalho e nas suas relações, refletindo alterações na remuneração do trabalhador e na
quantidade dos postos de trabalho. Essas políticas, portanto, fracassam na preparação da
clientela para a integração, pois esbarram nos interesses empresariais e na conjuntura eco-
nômica e social.

2.2 Mudanças no mundo do trabalho

A partir da década de 1970, a complementaridade das proteções sociais emba-


ralha-se pela incapacidade de o Estado conduzir políticas integradoras, universais e homo-
geneizadoras. Assim, medidas de inserção ocorrer-se-ão na precariedade da circunstância
de trabalho (CASTEL, 1999). Entre outros fatores, essa incapacidade se dá pela diminuição
dos gastos públicos no contexto da globalização do capital e das políticas neoliberais.
A mundialização do capital enfraquece os gastos públicos devido à diminuição
do recolhimento de tributos causados pelo desemprego e a queda no consumo e pela dimi-
nuição dos impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas. Chesnais (1995)
ressalta que a tendência de alguns países aliviarem a carga tributária sobre o capital e apli-
cações financeiras é compensado pelo aumento das dívidas públicas, o que recai na crise
fiscal dos Estados, diminuindo a sua capacidade de intervenção para sustentar as deman-
das. Somam-se a isso os ataques dos adeptos do neoliberalismo, levando “à redução do

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nível de emprego no setor público e à aceleração das privatizações e desregulações”


(CHESNAIS, 1995, p.26).
O capitalismo sem freio muda completamente o mundo do trabalho. Chesnais
(1995) compreende que a destruição dos postos de trabalho decorre tanto da introdução de
novas tecnologias, quanto, na mesma intensidade, da liberdade de ação que o capital indus-
trial adquiriu para investir e desinvestir como e onde queira, e também graças à liberação
dos câmbios. No caso dos investimentos, o processo de mundialização exerce forte pressão
no sentido de diminuir os salários e os preços das matérias-primas, a fim de restabelecer a
rentabilidade dos investimentos.
Diante dessas profundas transformações, Castel (1999) afirma que atualmente
há uma nova questão social que se manifesta a partir do enfraquecimento da condição sala-
rial. A problemática do emprego manifesta-se no desemprego e na precarização do trabalho
como conseqüência da reestruturação industrial e da competitividade. A estrutura da relação
salarial é questionada com a flexibilidade da produção, que exige que o operador se adapte
às flutuações da demanda.
Para que as empresas se tornem competitivas, podem recorrer à subcontratação
ou ao treinamento para a flexibilidade e polivalência. Adaptar as qualificações dos trabalha-
dores às transformações tecnológicas implica em seleção permanente. Portanto, a empresa,
que nos anos de crescimento econômico era considerada como uma matriz organizacional
de base da sociedade salarial, funciona cada vez mais como uma máquina de excluir, pro-
duzindo efeitos desastrosos com a coesão social, pois expressa a lógica do mercado (CAS-
TEL, 1999). Assim, em nome da concorrência e da competitividade, procura-se reduzir o
preço da força de trabalho e aumentar a sua produtividade. Isto se traduz na terceirização
dos serviços, na instabilidade nos empregos, tornando precária a situação do trabalhador,
visto que há uma carência de postos de trabalho assalariado.
Segundo Castel (1999, p.527-529), o processo de precarização do trabalho ocor-
re em áreas que já estavam estabilizadas, levando-o a considerar que: 1) “uma parte da
classe operária integrada e dos assalariados da pequena classe média está ameaçada de
oscilação”, visto que as garantias que existiam na sociedade salarial estão sendo desmon-
tadas; 2) “o trabalho aleatório representa uma nebulosa de contornos incertos, mas que ten-
de a se autonomizar”, porque as estatísticas mostram que os desempregados ou se resig-
nam com a inatividade ou ocupam um emprego ameaçado; 3) “a precarização do emprego e
o aumento do desemprego são, sem dúvida, a manifestação de um déficit de lugares ocu-
páveis na estrutura social”. Com isso, surge na sociedade um perfil de populações que es-
tão no mundo sem pertencerem a ele e que são, conseqüentemente, “inúteis para o mundo”.

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Na visão de Marx (1978), o trabalho é atividade vital, é uma condição de vida pa-
ra a espécie humana. A perda desse vínculo é a perda de uma identidade, é o não-ser. Nos
dias atuais, a lógica do capital exclui parcelas significativas da população do trabalho, tor-
nando-os inadaptados socialmente. Marx fez a crítica ao trabalho que parecia ao homem
apenas um meio para manter a sua existência, alienando-lhe o corpo, a mente e a vida. Na
atualidade, a maioria dos trabalhadores sequer consegue colocar-se na posição de explora-
do, sendo reduzido à inutilidade.
Para que as conquistas dos trabalhadores pudessem ser desmontadas, foi pre-
ciso desarticulá-los politicamente. Conforme mostrou Anderson (1995), um dos objetivos do
neoliberalismo era romper com o poder dos sindicatos. Os sindicatos são elementos de or-
ganização das massas. Romper com a sua força implica em desarticular as classes traba-
lhadoras e nisso o ideário neoliberal foi muito bem sucedido. Nesse particular, Kurz (1996)
demonstra que, uma vez que a economia de mercado prevaleceu e a crítica radical ao capi-
talismo desapareceu, os sindicatos não representam mais a transcendência do sistema , por
isso, não evidenciam vantagens dignas para os seus membros. Perderam legitimidade por
serem incapazes de usar o sonho do socialismo de Estado e por não cogitarem alternativa
ao sistema. Assim, são obrigados a consentir às leis do mercado, deixando que os trabalha-
dores concorram individualmente e que o conceito de solidariedade se desqualifique por ser
instrumentalizado para o apego às gratificações sociais do mercado.
A flexibilização do emprego e das condições de trabalho, segundo as necessida-
des das empresas, torna o assalariado o único responsável pelo trabalho, ao mesmo tempo
em que o impede de referir-se a classes antagônicas e a medidas sociais coletivas. A classe
trabalhadora encontra-se fragilizada, visto que não se reconhece nos sindicatos, nem nos
seus partidos tradicionais.

3 À GUISA DE CONCLUIR...

Deixando-se que as políticas de mercado conduzam as políticas econômicas e


as relações de trabalho, agravam-se as condições sociais. Isto ocorre principalmente no
terceiro mundo, mas no interior dos países ricos do Ocidente também aparecem os mesmos
sintomas de crise. Kurz (1992) aponta que a causa da crise é a diminuição do trabalho abs-
trato pela mediação da concorrência e alerta que o sistema ocidental não sobreviverá a um
colapso global e já vem sofrendo os efeitos do movimento do mercado: fome, desespero,
vingança, criminalidade interna, sabotagem técnica e científica e atentados. Apesar do a-
vanço da crise, ainda se procura fazer valer o princípio da rentabilidade. Contudo, à medida
que um número maior de sujeitos, empresas e nações é excluído do mercado mundial, di-

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minui a massa global de mais-valia disponível. À medida que a concorrência desigual no


mercado e a desindustrialização destroem a capacidade produtiva dos países pobres, deixa
de acontecer a transferência de rentabilidade dos países excluídos para os países ricos.
Kurz (1992) mostra ainda que a relação capitalista se encontra desenvolvida ao extremo e a
antiga crítica ao sistema se apresenta incapaz de transcender a si mesma.
É necessária, portanto, a crítica radical ao sistema, para formular um “novo prin-
cípio de emancipação social, firmá-lo sobre os pés e explicitá-lo em suas qualidades antie-
conômicas e antipolíticas” (KURZ, 1996, p.73). A globalização da economia e a orientação
neoliberal têm trazido conseqüências desastrosas para os trabalhadores, pois implicam em
queda dos salários, aumento do desemprego e do subemprego, empobrecendo ainda mais
o trabalhador, o que fomenta a polarização da sociedade em pobres e ricos em escala acen-
tuada. Embora o neoliberalismo se apresente como a salvação das economias mundiais,
tem produzido efeitos sociais perversos.

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