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Pr. A. Carlos G. Bentes
DOUTOR EM TEOLOGIA
PhD em Teologia Sistemática
PSICOLOGIA
PASTORAL
ACONSELHAMENTO BÍBLICO
“A SUA UNÇÃO VOS ENSINA A RESPEITO DE TODAS AS COISAS” (1 Jo 2.27)
“A sabedoria é a coisa principal; adquire pois, a sabedoria; sim com tudo o que possuis
adquire o conhecimento” (Pv 4.7)
1
SUMÁRIO
2
ACONSELHAMENTO BÍBLICO 1
Em segundo lugar devemos notar que o aconselhamento bíblico não é uma atividade
opcional para a Igreja. Podemos ver na atitude de Paulo que ele dava grande ênfase ao
aconselhamento. Em At 20.31 ele nos mostra a intensidade com a qual ele realizava este
serviço dizendo que o fazia dia e noite, e o fazia até o ponto de chorar por eles. Em Cl 1.28
ele nos mostra a amplitude desta obra quando diz que anunciou a todo homem.
Por último devemos notar que o propósito do aconselhamento bíblico não é o bem-estar do
homem, mas a glória de Deus. Numa época em que a felicidade do homem esta acima de
tudo, devemos notar que, ao contrário do que faz a psicologia, que se preocupa em como o
homem pode alcançar o bem-estar, o aconselhamento noutético tem o propósito de
glorificar a Deus. Paulo nos Adverte quanto a isso em Cl 1.28,29 dizendo: “O qual nós
anunciamos, advertindo (νουθετοῦντες - nouthetountes)2 a todo homem e ensinando a
1
ALMEIDA, Marcos Emanoel P. de. O ACONSELHAMENTO BÍBLICO.
2
νουθετέω [nouthetéō]. Admoestar, instruir, aconselhar At 20.31; Rm 15.14; 1Co 4.14; Cl 1.28; 3.16; 1Ts 5.12,14; 2Ts 3.15;
Tt 1.11. Dar instrução quanto à fé e a vida correta – “instruir, ensinar, instrução, ensino.
3
todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em
Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a
sua eficácia que opera eficientemente em mim”.
Podemos notar aqui o propósito de suas admoestações era “apresentar todo homem
perfeito em Cristo” e não que todo homem alcance felicidade aqui na terra, isto poderia até
acontecer, mas é apenas a consequência de uma vida vivida dentro dos padrões que
agradam a Deus.
3
SILAS, Molochenco. Curso Vida Nova de Teologia Básica – Aconselhamento: São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 18.
4
Θεραπεύω, servir At 17.25. Cuidar de, daí curar, restaurar Mt 4.23s; Mc 3.2, 10; Lc 4.23, 40; 14.3; Ap 13.3. [terapêutico].
5
SILAS, Molochenco. Op. Cit., p. 21,22.
6
διδάσκω, ensinar (Mc 1.21; At 15.35; 1Co 11.14; Cl 3.16; Ap 2.14).
7
νουθετοῦντες. Verbo particípio presente voz ativa nominativo masculino plural de νουθετέω [nouthetéō].
4
de aconselhamento noutético, isto é, de que os cristãos devem se ajudar mutuamente, não
apenas os ministros, a fim de que possamos nos desenvolver espiritualmente.
Duas palavras gregas são usadas na Bíblia para o aconselhamento bíblico νουθετέω
(nouthetéō) e παρακαλέω (parakaleō). Parakaleō ocorre 109 vezes e paraklēsis 29.
Baseados nos usos destes dois termos tentaremos formular nossa definição de
aconselhamento bíblico.
O segundo termo (parakaleō), de acordo com Walter Bauer, tem cinco significados.
1. Chamar alguém ao lado (At 28.20).
2. Nos dá a ideia de convidar (Lc 8.41; At 8.31; 13.42; 28.20).
3. Um terceiro significado é o de requerer, apelar para, rogar (Mt 8.31,34; Lc 7.4;
Rm 12.1; 1 Co 15.16).
4. O quarto significado é o de confortar, encorajar, incentivar (Lc 16.25; At 16.40; 2
Co 1.4; Cl 2.2).
5. O último significado é o de consolar, conciliar, falar de maneira amigável (Mt
5.4; Lc 15.28; 1Co 4.13; 14.31; Ef 6.22).
Paracletos9
8
Nouthetéō (νουθετέω). νουθετῶν, νουθετεῖν, νουθετοῦντας, νουθετεῖτε, νουθετοῦντες. admoestar, advertir, exortar.
9
HURDING, Roger F. A ÁRVORE DA CURA. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 444,445.
5
“A palavra advogado vem do latim advocatus que é equivalente exato do adjetivo
verbal passivo grego paráklētos (Jo 14.16; 1 Jo 2.1), formado pelas palavras gregas para
(ao lado de) e klētos (chamado). Usado de forma única por João para se referir ao Espírito
Santo, e cujo amplo significado inclui: Conselheiro, Ajudador, Consolador, Encorajador.10
Baseados nestes usos podemos dizer que o verdadeiro aconselhamento bíblico
envolve ensinar ao irmão a viver de maneira a agradar a Deus aqui na terra, confortando-o
em suas dificuldades, incentivando-o a permanecer firme em Cristo, visando o pleno
desenvolvimento do irmão e a glória de Deus através deste.
Os Objetivos Noutéticos:
“Adams frequentemente se refere ao objetivo geral na ajuda aos outros como o de
‘mudança bíblica’. Reconhecendo-se que todo homem, mulher ou criança que busca
conselho pertence ou ao reino da luz ou ao reino das trevas, então a ‘mudança bíblica’
significa o processo de santificação, para os que pertencem ao primeiro, e a realidade da
conversão, para os do segundo” (HURDING, p. 320).
Admite uma espécie de pré-aconselhamento para aqueles que ainda não são cristãos
(“confrontar os não-salvos com a oferta universal do evangelho”).
Adams diz que “O propósito da pregação e do aconselhamento é alimentar o amor a
Deus e o amor ao próximo, como Deus manda”. O amor é visto como um “relacionamento
condicionado pela [...] observância responsável dos mandamentos de Deus”. Ao dizer isso,
expõe a necessidade de mudança de comportamento. E, quando diz que “... o crente
assevera jubilosamente a possibilidade de uma mudança rápida e completa”, crê que a
transformação individual desse comportamento pode ser instantânea.
O Método:
“Na primeira sessão, o cliente preenche um ‘formulário de dados pessoais’, para dar
ao conselheiro um ponto de partida factual sobre sua saúde, formação religiosa, tipo de
personalidade, estado civil, histórico familiar e percepção do ‘problema principal’. Antes
de esse ‘problema principal’ ser tratado, quer um casamento em ruína, quer sentimentos de
inferioridade, quer inclinações homossexuais, verifica-se qual a condição do cliente diante
de Deus.
“Caso seja um cristão, o aconselhamento pode prosseguir; senão, o evangelho é
primeiramente oferecido, porque, no que diz respeito ao incrédulo”:
1. “Deus não nos autorizou a reformar o exterior das pessoas”;
8
2. “Agir assim seria distorcer a verdadeira natureza de sua esplêndida redenção em
Cristo”;
3. “Os clientes podem confiar em qualquer mudança externa ‘com a falsa segurança
de que os problemas foram resolvidos’”.
Até onde se pode perceber, o método usado no aconselhamento noutético
exclusivisa os aspectos cognitivo e comportamental. Mudança noutética seria, então,
mudança na forma de pensar e no comportamento. O seu “método iceberg de dar
prioridade ao visível”, desconsidera os sentimentos para focalizar apenas o
comportamento. Adams ignora qualquer possibilidade de que haja algo por detrás dos
fatos. Para ele, a doença tem que ser vista como doença.
Gostaríamos de ressaltar, ainda, uma nota de rodapé exposta na página “13” do seu
livro “Conselheiro Capaz”. Ao dirigir terapias de grupo, sete horas por dia, em sua
experiência ao lado de Mowrer, Adams conclui: “Cheguei depois à conclusão de que esse
tipo de atividade com grupos de pessoas é antibíblico e, portanto prejudicial”.
Sendo a Psicologia Pastoral, de primeira mão, destinada à Igreja, concordamos com
Adams à luz da Cosmovisão Cristã. Porém, reconhecemos um universo desconhecido da
mente humana e além da Bíblia, usaremos todos os recursos científicos nesta viagem
noética para ajudar aquele que procura aconselhamento.
Roger F.Hurding afirma:
“Será que precisamos adotar essas posturas excludentes sobre a personalidade
humana? Aqui, o pensamento de Adams parece ser o resultado de excluir fatores
psicológicos e emocionais, por não se encaixarem em seu esquema. Tais perspectivas
inconvenientes devem de alguma maneira estar ligadas à esfera do físico ou do
comportamental – se problemáticos, têm de ser logo relacionadas a uma doença orgânica
ou a um pecado. Essa camisa-de-força parece estar bem distante do complexo
entrelaçamento de sentimentos, experiências, pensamentos e ações encontrados em alguns
dos ditos provérbios, como: “A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa
palavra o alegra” (Pv 12.25), “A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o
desejo cumprido é árvore de vida” (Pv 13.12) e “O coração alegre aformoseia o rosto, mas
com a tristeza do coração o espírito se abate” (Pv 15.13)”.13
Adams esquece dentro do conceito da cosmovisão (Criação) o pensamento sobre a
igualdade de todos os seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus.
“Outro princípio subjacente da Criação é a igualdade. Se todos partem do mesmo
Criador, não há razão e muito menos justificativa para um ser humano seja considerado
superior ou inferior ao outro, por isso a premissa judaico-cristã que todos merecem ser
tratados sem distinção, independentemente da cor, raça, sexo, etnia ou religião. O
fundamento do tratamento igualitário é o próprio Deus que não faz acepção de pessoas (At
10.34). Por esse motivo, o apóstolo Paulo escreve: Nisto não há judeu nem grego; não há
servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl
3.28). Dinesh D´Souza lembra que “o caráter precioso e a igualdade de valor de cada vida
13
HURDING, Roger F. A ÁRVORE DA CURA. 1ª ed. São Paulo, SP: SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA,
1995, p. 331.
9
humana é um conceito cristão”. Os cristãos sempre acreditaram que Deus atribui a cada
vida humana que cria um valor infinito e que ama a cada pessoa de igual modo. No
Cristianismo, você não é salvo por meio de sua família, tribo ou cidade”.
Noutético vem da palavra de origem grega “νουθεσία - nouthesia”14, que
literalmente significa “O ato de pôr em mente” (formado de nous (νοῦς), “mente”, e
títhemi (τίθημι), “pôr”)15. O termo nouthesia é “o treinamento pela palavra”, quer por
incentivo, ou, se necessário, por reprovação ou reclamação. Em contraste com isso, o
sinônimo “παιδεία - Paideía”16 enfatiza treinar por ação, embora as palavras sejam usadas
em cada aspecto.
O aconselhamento Noutético é um tipo de admoestação cujo objetivo é proporcionar
orientação para uma vida correta diante de Deus. O que subentende também correção e a
denúncia a qualquer padrão que seja incoerente com o viver cristão. A atividade noutética
conforme ensina o Novo Testamento, indica que todos os cristãos, e não somente os
pastores, devem ocupar-se no ensino e confrontar-se mutuamente (Rm 15.14). Porém, a
atividade noutética caracteriza-se principalmente como parte integrante do ministério
pastoral. Ao se despedir dos presbíteros de Éfeso, Paulo descreve, em (Atos 20.31), a
atividade que desenvolvera enquanto estivera com eles, e os exortou a continuarem a
mesma obra entre o povo.
Paulo foi um missionário, e onde quer que demorasse um pouco mais, atirava-se à
sólida obra pastoral necessária para a edificação das pessoas na fé, sendo a atividade
noutética parte proeminente dessa obra, razão porque suas cartas estão cheias de nomes de
pessoas específicas, com as quais se envolvera muito intimamente. Ele não se limitava a
pregar nas praças, mas lidava com as pessoas como indivíduos, grupos e famílias,
confrontando-as nouteticamente. Existem três elementos da confrontação noutética que
precisamos considerar aqui. Quais sejam:
1 – A atividade noutética e a sua conjunção com “didaskō.17 Didaskō [διδάσκω] é
uma palavra grega e significa “Dar instrução”, “Ensino” (Cl 3.16). Em outros textos,
contudo, o termo vai além do conceito de “ensino”. A confrontação noutética sempre
envolve um problema e pressupõe um obstáculo que tem que ser vencido. A palavra
didaskō não envolve, necessariamente, um problema. Sugere, simplesmente, a
comunicação de informação. Não inclui coisa alguma que diga respeito ao ouvinte, mas se
refere exclusivamente à atividade do instrutor. A pessoa que está sendo ensinada pode
estar ansiosa ou não por receber a instrução. Pode ter gastado razoável quantia ou ter
percorrido longas distâncias para recebê-las ou então pode reagir como o típico aluno
recalcitrante.
A noutese localiza aquele que faz a confrontação e aquele que a sofre, pressupondo,
especificamente, a necessidade que se verifique mudança na pessoa confrontada, a qual
14
νουθεσία, ας, ή admoestação, instrução, recomendação (1Co 10.11; Ef 6.4; Tt 3.10).
15
Τίθημι e τιθέω — ativo e passivo — pôr, colocar, constituir — a. genericamente pôr, colocar Mt 12.18;27.60; Mc 16.6; Lc
11.33;14.29; Jo 11.34; At 3.2;13.29; Rm 9.33;14.13; 2Co3.13 ; 2Pe2.6.
16
παιδεία, ας, ή treinamento, disciplina (Ef 6.4; 2Tm 3.16; Hb 12.5,7,8,11).
17
Didaskō - διδάσκω, ensinar (Mc 1.21; At 15.35; 1Co 11.14; Cl 3.16; Ap 2.14). ύμας διδάξει πάντα – ele vos instruirá em
todas as coisas (Jo14.26).
10
pode opor ou não alguma resistência. A ideia de alguma coisa errada, algum pecado,
alguma obstrução, algum problema, alguma necessidade que precise ser reconhecida e
tratada, é uma ideia fundamental. O propósito básico da noutese é o de efetuar mudança de
conduta e de personalidade.
2 - A atividade noutética e a sua conjunção com a “Palavra”. O segundo elemento
inerente ao conceito de confrontação noutética é que os problemas são resolvidos por
meios verbais. É o treinamento mediante a palavra de encorajamento, quando isso basta,
ou de admoestação, de reprovação, de censura, quando estas se fazem necessárias. Assim,
ao conceito de noutese deve-se acrescentar a dimensão adicional de confrontação verbal
pessoa a pessoa, cujo objetivo é realizar mudança de comportamento e de caráter no
consulente. No seu uso cristão, visa pôr em ordem o indivíduo, mediante a mudança de
seus esquemas de conduta, de modo que estes se enquadrem nos padrões bíblicos. A
mudança de personalidade, segundo as Escrituras, envolve confissão, arrependimento e o
desenvolvimento de novos padrões de conduta. Tudo entendido como obra do Espírito
Santo, pois tudo o que constitui esse ministério é por Ele tornado eficaz. Os métodos
comuns de aconselhamento recomendam longas “excursões” retrospectivas rumo às
confusões dos porquês e para-quês da conduta. O aconselhamento noutético aplica-se
intensamente à discussão do o quê. O que foi feito? O que precisa ser feito para corrigi-lo?
O que deverá constituir as futuras reações e respostas? A ênfase é no o quê, visto que já se
sabe o “porquê’, antes de iniciar-se o aconselhamento. A razão pela qual as pessoas se
envolvem em problemas em suas relações com Deus e com o próximo está em sua
natureza pecaminosa.
3 - A atividade noutética e a sua conjunção com o “benefício ou ajuda”. O motivo
subjacente à atividade noutética é que sempre se tem em mente que a correção verbal visa
beneficiar o interessado. Esse terceiro elemento implica em mudar aquilo que, na vida do
consulente, o está ferindo. A meta deve ser a de enfrentar diretamente os obstáculos e
vencê-los verbalmente, não com o fim de puni-lo, mas sim o de ajudá-lo. A ideia de
castigo, mesmo o de cunho disciplinar, não é contemplada no conceito de confrontação
noutética. A noutese é motivada pelo amor e profundo interesse, sendo que os consulentes
são aconselhados e corrigidos por meios verbais para seu bem. O objetivo final é que Deus
seja glorificado.
No seu uso bíblico, a confrontação Noutética visa a pôr em ordem o
individual mediante a mudança de seus esquemas de conduta de modo que estes se
enquadrem nos padrões bíblicos, ou seja; levando o a uma mudança de personalidade, ao
que segundo as Escrituras envolve confissão, arrependimento e consequentemente o
desenvolvimento de novos comportamentos e padrões bíblico, sendo tudo isso entendido
como obra do Espírito Santo.
Exemplos bíblicos dessa atividade Noutética nas confrontações de Natã com Daví,
depois do pecado que este cometeu quanto a Urias e Bate-Seba (2Samuel 12) e de Jesus
com Pedro (João 21). Na censurável conduta de Eli registrada em (1Sm 3.13), vemos um
caso de fracasso; justamente pela negligência da confrontação Noutética. Ele de falar com
urgência suficiente, com rigor suficiente, e com a seriedade suficiente, para produzir
11
genuínas mudanças neles. Já em (1Sm 2.22), há o fato, o registro de uma última tentativa
fraca e fútil, feita tardiamente.
PSICOLOGIA ACONSELHAMENTO
- Não orientador (como psicólogo a pessoa é como - Orientador. Vai ao centro da verdade bíblica.
um espelho). Rebate os problemas levando a A base para a verdade que rege todas as
pessoa a achar sua própria resposta. esferas de comportamento é a Bíblia.
- Eu construo a minha personalidade. “As suas - Deus me constrói. (1Pe 2.5). Jesus é o
respostas estão em você mesmo”. cumprimento profético do “Eu sou”. As respostas
que precisamos estão em Jesus.
- Eu trabalho na minha personalidade. Eu descanso em Deus (Sl 23)
- Eu defendo minha personalidade. - Deus é minha defesa e proteção.
- “Eu sou rei e eu reino” (Síndrome de - Importa . que . Ele (Jesus) cresça e eu diminua.
Nabucodonosor). (Jo 3.30).
- Sou vulnerável em face do acusador. A tentativa - Vencemos o acusador (Rm 8.37). Obedecer a
de suprimir a culpa só piora nossa situação em consciência provendo ajustes necessários na nossa
relação a ataques demoníacos. vida nos preserva em perfeita paz e autoridade.
- O alvo é sentir bem. Amar os prazeres é o - Chegar à obediência de Cristo. A felicidade é
princípio da falência da alma. apenas um efeito colateral desta motivação.
18
SCHIPANI, Daniel S. O Caminho da Sabedoria no Aconselhamento Pastoral. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2003, p. 76.
19
http://prcarlosmendes.blogspot.com.br/2009/10/quais-compromissos-teologicos-sao.html
12
V. A Teologia no Aconselhamento Bíblico.
O aconselhamento bíblico, por definição, tem como base as Escrituras, e uma vez
que a Teologia é a ciência que busca sistematizar o conteúdo bíblico em tópicos, faz-se
claro que o aconselhamento bíblico e a Teologia Sistemática devem andar lado a lado.
Devemos notar que as duas se completam. A Teologia é a fonte de conteúdo para o
aconselhamento bíblico, e o aconselhamento bíblico é onde a Teologia Sistemática entra
em prática. Esta seção visa demonstrar a ligação entre as várias doutrinas e o
aconselhamento bíblico.
A. Bibliologia.
De nosso estudo de bibliologia descobrimos que a Bíblia é a Palavra inspirada de
Deus, inerrante em seu conteúdo, a revelação da vontade de Deus para o homem. Conclui-
se que, como fonte de nosso aconselhamento devemos recorrer a ela para sabermos como
fazer a vontade de Deus, que é o propósito do aconselhamento. E que podemos Ter a
certeza de que encontraremos nela tudo o que precisamos para um aconselhamento eficaz.
B. Teontologia.
A Teontologia nos leva a reconhecer que só existe um Deus que merece todo o
nosso louvor, pois Ele é o criador e mantenedor de todo o universo. Logo, devemos Ter
13
em mente que nosso aconselhamento deve levar o homem a conhecer e se relacionar de
forma harmônica com este Deus.
C. Cristologia.
Na doutrina de Cristo entramos em contato com o plano redentor de Deus para o
homem, e com a solução proposta por Deus para o mal que se enraizou no ser humano a
partir de sua queda. Concluímos que a única solução possível para o mal do homem se
encontra na pessoa e obra do nosso Senhor Jesus Cristo e não em nada de bom que o
homem possa fazer.
D. Pneumatologia.
Estudando acerca do Espírito Santo vemos que é ele quem convence o mundo do
pecado, que é o real problema da humanidade, inferimos daí que não se não estivermos na
dependência do Espírito Santo nada do nosso esforço terá resultado.
E. Antropologia.
A doutrina do homem nos fala acerca do homem criado por Deus em estado de
perfeição, e da ansiedade do homem por não mais poder desfrutar de um relacionamento
aberto com Deus. Então nosso aconselhamento deve levá-lo a desejar a restauração deste
dois elementos.
F. Hamartiologia.
É no estudo da doutrina do pecado que encontramos a descrição perfeita do estado
do homem e de suas necessidades. Um aconselhamento que leva em conta o fator pecado,
e todo o mal que ele causou, na vida do homem está mais apto para conseguir a solução
para o problema do homem. A Queda afetou o homem em todas as dimensões: material e
imaterial.
G. Soteriologia.
Um aconselhamento que já mostrou ao homem a sua condição, através da doutrina
do pecado, mostra também a grandiosidade da transformação que precisa sofrer. É na
doutrina da salvação que está a cura para o mal do homem, a esperança para a sua vida. A
redenção é holística, restaurando tudo aquilo que foi degenerado.
H. Eclesiologia.
A doutrina da igreja nos mostra a necessidade que o homem tem de participar do
corpo de Cristo, e crescer junto com este corpo, o aconselhamento cristão levará o homem
a reconhecer a necessidade de comunhão com outros que, como ele, buscam a glória de
Deus em suas vidas.
14
I. Escatologia.
A doutrina das ultimas coisas dá ao fiel a certeza da restauração que ele precisa e
que irá acontecer um dia, quando Cristo voltar.
Para entendermos o processo bíblico de mudança faz-se necessário Ter uma visão
correta do que a Bíblia diz ser a condição do homem.
Para isso vamos passar pela história do homem desde a sua criação.
Deus criou um homem perfeito, com capacidades de se relacionar com outros seres, com
capacidade para dominar sobre a criação e com a necessidade de se relacionar com Ele.
16
Neste relacionamento homem Deus, havia papéis definidos que deveriam ser
respeitados para um relacionamento saudável. Deus como criador tinha muito a ensinar ao
homem, era seu conselheiro por excelência, um dos conselhos mais importantes era, você
não deve comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas o homem não gostou de
receber conselhos apenas de Deus e buscou outro conselheiro, como um ser livre, ele teria
responsabilidades sobre suas ações e colheria as consequências delas, e a consequência
desta escolha do homem foi a perda de vários dos privilégios que o homem tinha com
Deus.
Algumas delas são: ele ganhou o conhecimento do bem e do mal, mas não podia
mas escolher entre eles pois seu desejo agora só se voltaria para o mal; ele sofreu
consequências físicas, a partir dali o homem começara a morrer física e espiritualmente; O
homem também perdera o relacionamento tão precioso que tinha com Deus, para se tornar
seu inimigo, e devemos notar que esta é uma das maiores consequências para um ser que
foi criado para se relacionar com Deus, isto trouxe frustração profunda ao homem, mesmo
que ele não saiba disso, pois uma de suas necessidades básicas não estava mais sendo
atendidas.
Desde então o homem tem se degenerado cada dia mais e o que podemos ver é
sociedade totalmente frustrada por não se relacionar com Deus, voltando-se para práticas
místicas, pois estão descobrindo que eles têm sede de algo espiritual, o ateísmo não
resolveu o problema do homem, agora ele se volta ao misticismo, que também falhará.
A mudança que o homem precisa, de acordo com a Bíblia, não é uma restauração
das estruturas sociais, Cristo não pregou um evangelho de igualdade social, mas pregou
um evangelho de transformação radical.
O homem não precisa de um pequeno retoque para se tornar aceitável diante de
Deus, ele precisa ser totalmente transformado, precisa que o seu coração de pedra seja
arrancado e seja colocado um coração de carne.
A tarefa de transformar vidas não é algo fácil que o próprio homem pode conseguir,
nem mesmo os melhores métodos de transformação já desenvolvidos pelo homem pode
levá-lo a transformação que ele precisa, nem a maior força de vontade que já foi vista
sobre a terra é útil na restauração que o homem precisa sofrer. Jeremias nos mostra a
grandeza de tal tarefa quando afirma: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o
leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumado a fazer o
mal”. Esta é a situação do homem, totalmente acostumado a fazer o mal, com o seu
coração totalmente corrompido de forma que não pode mais escolher entre o bem e o mal.
Mas no meio de todo este quadro há uma esperança para o homem, uma transformação tão
radical quanto a que ele precisa, uma transformação que vai mudar toda a sua essência,
que vai trocar todos os seus valores.
Cristo descreve esta transformação em Jo 3, quando fala de um novo nascimento,
nada dessa velha vida serve para ser reaproveitado então o homem tem que nascer de
novo. O processo de mudança também é bem explicado pelo apóstolo Paulo, dizendo:
17
“No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis20 do velho homem, que se
corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso
entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade”. A Bíblia Jerusalém traduz: “A remover o vosso modo de vida
anterior — o homem velho, que se corrompe ao sabor das concupiscências enganosas.”.
Podemos ver descrito aqui o que cremos ser o processo correto para a transformação
na vida daquele que é tocado por Deus. Podemos ver que ele tem que abandonar as velhas
práticas que antes faziam parte de seu viver diário, o que nós podemos chamar, usando a
terminologia bíblica, de despojar. E uma vez despojado, ou seja, retirado tudo aquilo que
estava contaminado no homem, toda a sua velha natureza, ele pode agora ser revestido de
uma nova natureza, uma natureza agora capaz de novo de se relacionar com Deus, e
auxiliada pelo Espírito Santo a poder de novo escolher a fazer o bem.
Assim o homem consegue esta transformação, primeiro sendo transformado pelo
Espírito Santo, dando a ele nova vida e depois agindo em cooperação com Espírito Santo
buscando uma vida de santificação, ou seja, sendo de novo restaurado a imagem de Cristo,
como fora criado. A melhor definição de santificação dada é a do apóstolo Paulo, quando
ele afirma: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a
glória do Senhor, somos transformados [µεταµορφούµεθα - µεταµορφόοµαι]21, de glória
em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Podemos notar aqui
todos os passos da transformação. Primeiro nosso rosto foi desvendado, foi restaurada a
nossa visão, ocorreu a nossa regeneração. E em seguida nós somos auxiliados pelo
Espírito Santo a nos tornarmos a imagem de Cristo de forma gradual (2Co 3.18).
Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando
repouso; e, não o achando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, tendo voltado, a
encontra varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do
que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o
primeiro.
Note que ali havia apenas transformação exterior, mas não havia revestimento, então
a sua situação se tornara pior, mas a verdadeira transformação não deixa a casa vazia, mas
a enche com o Espírito Santo, dando assim condições de haver mudança real.
20
Despojar. ἀποθέσθαι. άπόθεσις, εως, ή remoção,despojamento, deixar (1Pe 3.21; 2Pe 1.14).
21
µεταµορφόοµαι – metamorfóomai. Μεταμορφοω – metamorfoō: mudar de forma, transformar, transfigurar.
18
COMPARAÇÃO DE MODELOS DE ACONSELHAMENTO
A. Psicologia profunda.
Criado por Sigmund Freud, defende que o homem é um animal que age
instintivamente, o homem é dividido em id, ego e superego. Como animal o homem não
tem nenhuma responsabilidade sobre suas ações e o sentimento de culpa é apenas fruto de
padrões impostos pelos outros homens. Freud defendia que a solução para o problema do
homem era tornar todo o seu potencial real, fortalecendo o seu ego. Esta posição tem uma
perspectiva errada acerca do homem, pois não o retrata como totalmente depravado, exalta
o homem em si mesmo como alguém bom que só precisa de uma pequena reformulação de
conceitos.
B. Neo-Adlerianos.
Criado por Alfred Adler, desenvolveu a psicologia individual. Para Adler o
homem é um animal socialmente governado e seu problema é o complexo de inferioridade
só que a responsabilidade deste problema não é individual, mas da sociedade. São erros
nos pensamentos e valores da sociedade, e falta de confiança em si mesmo que fazem o
homem se sentir culpado. Então o homem precisa buscar a superioridade e controlar o seu
próprio destino, para isso ele tem que mudar a maneira de pensar para sentir-se e
comportar-se melhor. Esta posição está totalmente baseada em princípios antibíblicos
20
como o orgulho e a ideia de que o homem é uma vítima, quando a Bíblia afirma
claramente que o homem não tem nada em que se gloriar, ele é um pecador desesperado e
só pode ser transformado por Jesus Cristo, tem ainda uma visão errada da condição do
homem achando que ele pode se curar apenas mudando seus pensamentos, quando o que
ele precisa é de uma verdadeira regeneração.
C. Comportamental.
Desenvolvida por Burrhus Frederic Skinner, esta teoria vê o homem como um
animal que pode ser condicionado para fazer tanto o bem como o mal, ele defende a ideia
de “tabula rasa”, o grande problema do homem é a falha ambiental e, portanto ele não
deve ser responsabilizado, na verdade Skinner vê o homem como um ser amoral. O
tratamento indicado para Skinner é que o maio ambiente do homem seja mudado, uma vez
que é ele que condiciona o homem. A culpa para Skinner não é real, uma vez que o
homem é amoral e que não há mal absoluto então a solução para o problema da culpa é
modificar o padrão do homem de acordo com suas necessidades. Esta teoria esta em
contraste gritante com o padrão bíblico, pois ela ignora o homem como um ser espiritual e
tira do homem todo o senso de liberdade e responsabilidade que Deus atribuiu a ele,
também cria no homem uma mentalidade de que o homem é vítima do que lhe acontece já
que é o meio ambiente que é o responsável o que também contraria o ensino bíblico. E
ainda defende uma teoria acerca do homem que o transforma em mero produto do meio
ambiente, quando o que nós vemos na Bíblia é que é o homem que levou o meio ambiente
para o mal quando caiu (Gn 3.17).
D. Teoria racional-emotiva.
Criada por Albert Ellis. Ellis Vê o homem como basicamente bom e com muito
potencial interno. O problema do homem é que ele é vítima de crenças falhas e irracionais
acerca de si mesmo que foram implantadas nele desde a sua infância, então a culpa não é
do homem, mas do sistema de crenças deste, que é quem cria no homem um pensamento
errôneo de que ele é culpado e este pensamento resulta em comportamento neurótico que
prejudicam o homem, logo, o homem deve eliminar esta visão de errônea da vida e
adquirir uma visão real, de acordo com a sua razão de sua vida, ele tem que mudar
ativamente o seu conceito de vida para poder desfrutar todo o seu potencial interno. Esta
cosmovisão é totalmente antibíblica e humanística, que engana o homem dando a ele a
esperança de encontrar mudanças em conceitos dentro de si mesmo quando o único lugar
que existe solução real é junto a Jesus Cristo. Também contradiz a declaração bíblica de
que o homem está totalmente corrompido pelo pecado e não pode fazer nada, em si
mesmo, para mudar este quadro, esta mudança que é muito mais radical do que a mera
troca de conceitos só pode ser efetuada por Deus.
E. Terceira força.
Teoria desenvolvida por Carl Ransom Rogers. Rogers foi profundamente
influenciado pela cosmovisão otimista de sua época e cria que o homem poderia
21
transformar toda a sociedade em redor, via o homem como bom, com muito potencial
interior e em estado de maturidade, pronto para dar novos frutos, o problema é que ele
vivia em um meio ambiente que atrapalhava seu desenvolvimento, logo, a
responsabilidade pelos problemas da sociedade não é do homem já que é apenas uma
vítima do meio ambiente e em consequência disso a visão da culpa humana não era
importante. O tratamento para o seu problema era uma buscar uma solução interna
ajudando o homem a transformar todo o seu potencial em realidade, o homem não deveria
sentir culpa já que tudo o que ele fizesse para estar confortável consigo mesmo era certo e
até mesmo necessário. Esta teoria contradiz o padrão bíblico no que diz respeito a fonte da
cura, não podemos encontrar cura para os nossos problemas em nós mesmos porque nós é
que somos a fonte dos nossos problemas, nossa cura não é externa mas vem do Senhor
Jesus Cristo, ainda não podemos fazer tudo o que quisermos para o nosso bem-estar pois
nosso propósito aqui não é o de buscar prazeres mas buscar a glória de Deus.
F. Sistemas de famílias.
Desenvolvido por Ackerman, sua visão do homem é que ele é o produto de
relacionamentos defeituosos e falhos, não só os relacionamentos do homem são falhos,
mas eles o soam porque todo o sistema é falho e o homem está apenas, casualmente,
seguindo o círculo, cumprindo sua função dentro do sistema, logo, a culpa não é do
homem, pois ele é apenas um peão do universo. O tratamento a ser seguido é descrito
como alterar a maneira como os diversos relacionamentos são desenvolvidos. Esta
cosmovisão não esta de acordo com os dados bíblicos porque, mais uma vez, ela troca os
efeitos pela causa, os relacionamentos defeituosos são os efeitos do mal que existe no
homem e não a causa deste, e a cura para estes relacionamentos defeituosos não se
encontram no homem natural, mas só podem começar a serem experimentados por aqueles
que foram regenerados.
G. Bíblico.
O modelo bíblico foi desenvolvido pela maior autoridade antropológica existente, o
criador do próprio homem, e que por isso conhece o homem como mais ninguém. Neste
modelo o homem é tido como um ser criado para glorificar a Deus e seu problema consiste
em que ele se desviou de seu propósito original e agora é pecador por escolha própria e
encontra-se em rebelião total contra Deus, como foi o homem se desviou por escolha
própria ele é responsável por seus atos e a visão da culpa que ele tem é real e resulta de
seus pecados. O tratamento oferecido não é encontrado no próprio homem, mas é uma
justificação baseada na fé em Deus, seguida por uma santificação progressiva que irá
gradativamente restaurando o homem a sua condição original, para resolver o seu
problema o homem tem que admitir a sua culpar e buscar a resposta em Deus.
23
“Após tantos anos estudando a psiquê humana, cheguei à seguinte conclusão: quem
não sofre, não experimenta medo, não toma iniciativas, não quer mudar, não discute e não
arrisca nada e no final das contas, morre psiquicamente”.
“Na vida sempre vale a pena arriscar, seja lá como for”.22
“Sei, também, que se começa a viver no instante em que se decide não mais fugir do
sofrimento, não buscando mais satisfação das necessidades pessoais, mas aceitando o
imponderável, o mistério, a insatisfação, a incapacidade, o insucesso, as oposições, as
diferenças, e Deus”.23
22
ALBISETTI, Valério. De Freud a Deus. São Paulo: Paulinas, 1997, p. 37.
23
Ibid, p. 94.
24
PSICOTEOLOGIA I: Onde psicologia e teologia se reencontram24
Gilson de Almeida Pinho (2012)
Objetivo geral
Analisar as razões da aproximação entre psicologia e teologia.
Objetivos específicos
1. Conceituar psicoteologia.
2. Identificar a importância da psicoteologia.
3. Identificar alguns motivos do antagonismo entre cristianismo e psicologia.
4. Identificar o motivo da aproximação entre cristianismo e psicologia.
1. A importância da psicoteologia
26
fora da religião. O radicalismo dos religiosos fez com que perdessem o direito à autoria de
tais conceitos.
É importante também destacar que, em 1948, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) definiu “Saúde é um estado completo de bem estar físico, mental e social, e não
simplesmente a ausência de doenças e enfermidades”. Em 1983, a OMS ampliou esse
conceitos para: “Saúde é um estado dinâmico de bem estar físico, mental, espiritual e
social, e não simplesmente a ausência de doenças e enfermidades”. Ou seja, hoje, a
espiritualidade é vista como um fator importante para a saúde das pessoas, sendo estudada
pela Psicologia Existencialista, Psicologia da Saúde, Psicologia Positiva e outras
abordagens psicológicas. Quem está tirando vantagem disso são os budistas e os espíritas,
enquanto que os cristãos estão limitados em sua atuação devido ao posicionamento que
assumiram num passado recente.
A psicoteologia busca conhecer a espiritualidade humana de maneira mais crítica,
mas de modo algum quer desmistificar a religião, ao contrário, busca conhecer o
misticismo humano e os fenômenos religiosos, sem se deixar levar pelos fanatismos ou
pelo radicalismo dos pré-conceitos religiosos. A psicoteologia de maneira alguma visa
menosprezar a ação do Espírito Santo na vida do crente, nem tampouco é uma
denominação ou linha filosófico-doutrinária, é, sim, um instrumento a mais para os
cristãos melhor desempenharem seu ministério e explicar sua fé: “... estando sempre
preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”
(1Pe 3.15b).
Quando a psicologia surgiu como ciência em fins do séc. 19, o relacionamento com
o cristianismo não foi dos melhores devido aos posicionamentos adotados pela nova
ciência, mas também não era de antagonismo declarado, e muitos psicólogos eram
cristãos, como o caso de Karl Gustav Jung (1875-1961) e Paul Tillich (1886-1965).
Merece destaque o caso de um amigo íntimo de Freud chamado Oskar Pfister (1873-
1956), pastor da igreja reformada suíça e psicanalista. Freud e Pfister mantiveram
correspondência entre 1909 e 1939, quando Freud morreu. Ambos divergiam em suas
ideias religiosas, mas se respeitavam.
Logo a situação de atrito entre religião e psicologia se tornaria inevitável e
agressiva. Em parte isso ocorreu devido às críticas de Freud, e vários psicólogos contra as
manifestações religiosas, responsabilizando-as por muitas das manifestações
psicopatológicas de seus pacientes. Albert Ellis (1913-2007) dizia que a religião
geralmente é a causa de desequilíbrio psicológico, e sempre é um sintoma dele. Ele
propunha como solução para os problemas psicológicos ajudar as pessoas e a sociedade a
abandonarem tais crenças religiosas.
O atrito não ocorreu só por parte dos psicólogos, mas também por causa das reações
radicais dos religiosos contra vários conceitos psicológicos, sem mesmo se darem ao
trabalho de analisarem a validade ou não dos mesmos. Por exemplo, muitos casos que no
27
passado eram vistos como possessão demoníaca, hoje são classificados como alguma
forma de psicopatologia ou sintoma de alguma psicopatologia (alucinação, delírio,
comportamento bizarro etc.). Quantas vezes os cristão criticaram o uso de medicamentos
antipsicóticos, e hoje muitos deles fazem uso de tais medicamentos.
Mas havia um terceiro elemento responsável por esse atrito, o qual normalmente é
ignorado: a ação da teologia liberal dos sécs. 19 e 20. Essa linha teológica tendia a aceitar
as conclusões da ciência moderna com relação a assuntos de natureza religiosa, isso
incluía a psicologia. Se houvesse algum atrito entre o que a ciência dizia e o que a religião
pregava, prevalecia a palavra da ciência. Com isso, os cristãos conservadores se opuseram
a tudo que os teólogos liberais criam e acreditavam, isso incluía a psicologia.
Tem sido difícil para os cristãos não responder de modo defensivo a semelhantes
desafios. Para muitas pessoas, a psicologia parece ser a inimiga da fé.
Semelhantemente, a religião tem considerado muitos psicólogos como inimigos do
bem-estar pessoal. A psicologia e o cristianismo são inimigos mútuos, na ideia
dessas pessoas (Benner, 1988, vol. III, p. 200).
Se por um lado, as diferenças entre cristianismo e psicologia são enormes, por outro
lado, elas têm muitos pontos em comum, por exemplo: ambas entendem que os homens
são seres espirituais e morais, e, portanto, não podem ser reduzidos a um conjunto simples
de reações neurológicas. Vários conceitos teológicos podem ajudar a entender conceitos
psicológicos, e vice-versa (por exemplo: a eterna discussão entre predestinação e livre
arbítrio, a conversão e a mudança de vida, a diferença entre conversão e adesão a uma
igreja etc.), bem como, podem promover o desenvolvimento psicológico, e vice-versa.
Os primeiros defensores da união psicologia-teologia foram Seward Hiltner (1910-
84), professor do seminário presbiteriano de Princeton, e John Sanford (1929-2005),
ministro episcopal.
Hiltner cunhou o conceito do “aconselhamento pastoral”, em 1948, ao buscar a
ajuda das técnicas psicoterapêuticas aliadas à fundamentação bíblica para a cura interior
das pessoas. Hiltner, Wayne Edward Oates (1917-99), Paul Johnson (1928-) e Granger
Westberg (1913-99) fundaram, em 1963, a Associação Americana de Conselheiros
Pastorais (American Association of Pastoral Counselors – AAPC), cuja missão é “trazer
cura, esperança e integridade aos indivíduos, famílias e comunidades, ampliando e
equipando o cuidado espiritualmente e psicologicamente fundamentada no
aconselhamento e na psicoterapia”. Fundaram também a Associação de Educação Pastoral
Clínica (Association for Clinical Pastoral Education – ACPE), cujo objetivo é o
treinamento clínico de pastores e capelães para a atuação na clínica psicoterápica com
fundamentação bíblica. Graças a essas entidades, e outras congêneres que surgiram
posteriormente, é cada vez maior o número de clérigos que passaram a servir nos hospitais
e nos órgãos de saúde mental.
28
Além de entidades como as mencionadas acima, também surgiram jornais revistas
dedicados a divulgar a ação conjunta da psicologia e da religião, tais como The Journal of
Religion and Health (Jornal da Religião e Saúde), em 1961, e The Journal for the
Scientific Study of Religion (Jornal do Estudo Científico da Religião).
29
Neuroteologia
1. Estudo sobre como o cérebro humano pode ter evoluído para produzir
experiências (Neuroteologia evolutiva).
2. Estudo do desenvolvimento espiritual, do sentido de Deus e do Sagrado, e de
experiências religiosas em crianças. Do nascimento ate a infância (Neuroteologia
desenvolvimental).
3. Estudo do comportamento espiritual e religioso da raça humana por toda a
história, e de ancestrais de humanos como o Homo habilis e o Homo erectus, e espécies
próximas como o Homo de Neanderthal (Neuroteoantropologia).
4. Estudo do comportamento religioso e experiências religiosas em primatas e
outros mamíferos com inteligências avançada (Zooneuroteologia) Principais dúvidas
dentro da Neuroteologia.
A meditação pode levar a pessoa a ter emoções religiosas, como a sensação de estar
em contato com Deus.
Evolução - Porque e como as experiências espirituais evoluíram?
Idade – Bebês ou crianças podem ter experiências espirituais? Quando o cérebro
humano fica apto a ter experiências espirituais? Existe alguma relação neurológica com o
fato de que a maioria dos líderes religiosos tiveram suas epifanias nos seus 30 anos?
30
Alucinógenos e Enteógenos – Porque algumas substâncias causam experiências
espirituais?
Sexo – Como as experiências espirituais se diferem entre homens e mulheres?
Podemos estabelecer uma relação entre essas diferenças com o Dimorfismo sexual do
cérebro da espécie humana?
Sonhos - Qual é a relação entre experiências espirituais e sonhos? O indivíduo pode
ter experiências espirituais enquanto dorme?
Hipnose – A experiência espiritual compartilha mecanismos com a hipnose?
Música - Cerimônias religiosas quase sempre envolvem música, e música pode
gerar sentimentos religiosos, e experiências espirituais. Porque isso acontece?
Genética – A herança genética pode influenciar na facilidade de ter experiências
espirituais. O gene o (VMAT2) chamado de gene divino da ao ser humano a predisposição
de ter experiências espirituais?
Espécies – Primatas e mamíferos com inteligência avançada como o elefante ou
golfinhos podem ter experiências espirituais? Humanos primitivos podiam ter experiências
espirituais, elas eram semelhantes a de humanos modernos??
Definindo e medindo a experiência e sentimentos espirituais/religiosos
Neuroteologia tenta explicar a atual base neurológica para aquelas experiências, que
são popularmente chamadas de espirituais, religiosas, ou místicas (e outros termos) para
formas anormais de cognição, que quase sempre envolvem um ou mais dos seguintes
itens:
A gravura de Flammarion é usada frequentemente para ilustrar a experiência
religiosa.
Exercícios de respiração como o Pranayama podem causar experiências religiosas.
Inefabilidade - a experiência não pode ser adequadamente ser colocada em palavras;
Noético: o indivíduo sente que ele aprendeu alguma coisa de valor da experiência;
Inexistência do espaço e tempo: a experiência causa a sensação de que não existe
mais tempo e espaço;
Sagrado: a experiência cria a sensação de que tudo é sagrado e divino;
União: sentimento de união com tudo no universo, união com Deus ou alguma força
maior que o indivíduo.
Outra Realidade: sentimento de que uma nova realidade ou a realidade definitiva foi
revelada a ele.
O Lobo frontal em cinza; Lobo parietal em amarelo; Várias partes do cérebro estão
relacionadas com experiências místicas. São elas: Lobo occipital em verde; Lobo temporal
em rosa.
32
O Lobo parietal: Diminuição de neuro-sinapses25 levando a sensação de união com
o universo.
25
As sinapses são junções especializadas em que uma célula influencia diretamente outra célula através da transmissão de um
sinal elétrico ou químico. No caso dos neurônios as terminações dos axônios estabelecem ligações com as dendrites ou com o
corpo celular dos neurônios seguintes.
33
1975, o neurologista Norma Geschwidn descreveu pacientes epilépticos com intensa
experiência religiosa.
Um livro de 1998 sobre o assunto ganhou muita atenção foi “Zen and the Brain”,
escrito pelo Neurologista e Praticante de Zen, James H. Austin.
34
Alguns cientistas dizem que a neuroteologia pode reconciliar religião e ciência, mas,
se não conseguir, a neuroteologia pode desenvolver métodos seguros e precisos de indução
a experiências espirituais para pessoas que não conseguem tê-las facilmente. Por causa dos
efeitos positivos que essas experiências causam em pessoas que já a tiveram, alguns
cientistas especulam que a habilidade de induzi-las artificialmente pode transformar a vida
de algumas pessoas, tornando-as mais felizes, saudáveis e com melhor concentração.
“Gene Divino”
A hipótese do gene divino propõe que alguns seres humanos carregam um gene que
lhes dão a predisposição para episódios interpretados por algumas pessoas como revelação
religiosa. A ideia foi postulada e promovida pelo geneticista Dr. Dean Hamer, diretor da
Unidade Estrutura do gene e regulação, no Instituto nacional do câncer nos Estados Unido.
Hamer escreveu um livro sobre o assunto intitulado, O gene divino: Como a fé e pré-
programada dentro dos nossos genes . (The God Gene: How Faith is Hardwired into our
Genes)
Que vantagens evolutivas isso pode levar, e de que esses efeitos vantajosos são
efeitos colaterais , são questões que ainda estão para serem totalmente exploradas. Dr.
Hames teorizou que a transcendência faz as pessoas ficarem mais otimistas, o que leva
elas a ficarem mais saudáveis e com mais probabilidade de terem muitos filhos.
A Inteligência Espiritual26
26
ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL. Rio de Janeiro: Viva Livros, 2012, p. 18-21.
35
prazer. Conforme observou Goleman, o QE constitui requisito básico para o emprego
efetivo do QI. Se estão lesionadas as áreas cerebrais com as quais sentimos, nós pensamos
com menos eficiência.
Toda a psicologia tem por fundamento dois processos (QI e QE). A inteligência
espiritual (QS) introduz um terceiro e, portanto exige expansão da psicologia como ciência
e uma compreensão mais profunda do Eu humano.
36
Inicialmente, Freud definiu os dois processos psicológicos como primári e
secundário. O primeiro está associado ao Id, aos instintos, ao corpo, às emoções e ao
inconsciente. O segundo está ligado ao Ego, à mente consciente, racional. Para Freud, este
último era o mais alto, superior: “Onde o Id era, o Ego será”. Outros autores, seguindo
Freud, enfatizaram ocasionalmente a maior importância do processo primário. Toda
psicologia subsequente, porém, incluindo a ciência cognitiva, manteve a estrutura dos dois
processos. O processo primário poderia ser denominado QE (com base na “fiação neural
associativa” do cérebro e o secundário, QI (com base na “fiação neural serial” do cérebro).
Danah Zohar afirma que o QS é aquele que repousa na parte mais profunda do Eu
conectada com a sabedoria que nos chega de além do Ego ou da mente consciente. Nós
diríamos que procede do espírito humano (na visão tricótoma). O QS é anterior a todos os
valores específicos e a qualquer cultura específica. É por conseguinte, anterior também a
qualquer forma que a expressão religiosa possa assumir. Torna possível (e talvez até
mesmo necessário) o religioso, mas independe da religião.
37
“O MÓDULO DEUS”27
27
ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL. Rio de Janeiro: Viva Livros, 2012, p. 106-108.
38
Lóbulo da Ínsula
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Biografia do autor
O pastor Antônio Carlos Gonçalves Bentes é capitão do Comando da Aeronáutica,
Doutor em Teologia pela American Pontifical Catholic University (EUA), conferencista,
filiado à ORMIBAN – Ordem dos Ministros Batistas Nacionais, Pós graduado em
Ciências da Religião e Psicologia Pastoral, professor dos seminários batistas: STEB,
SEBEMGE e Koinonia e também das instituições: Seminário Teológico Hosana,
UNITHEO e Escola Bíblica Central do Brasil, atuando nas áreas de Teologia Sistemática,
Teologia Contemporânea, Apologética, Escatologia, Pneumatologia, Teologia Bíblica do
Velho e Novo Testamento, Hermenêutica, e Homilética. Reside atualmente em Lagoa
Santa, Minas Gerais. Exerce o ministério pastoral na Igreja Batista Getsêmani em Belo
Horizonte - Minas Gerais. É casado com a pastora Rute Guimarães de Andrade Bentes,
tem três filhos: Joelma, Telma e Charles Reuel, e duas netas: Eliza Bentes Zier e Ana
Clara Bentes Rodrigues.
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