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MINISTÉRIO GOEL

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Pr. A. Carlos G. Bentes
DOUTOR EM TEOLOGIA
PhD em Teologia Sistemática

PSICOLOGIA
PASTORAL
ACONSELHAMENTO BÍBLICO
“A SUA UNÇÃO VOS ENSINA A RESPEITO DE TODAS AS COISAS” (1 Jo 2.27)

“A sabedoria é a coisa principal; adquire pois, a sabedoria; sim com tudo o que possuis
adquire o conhecimento” (Pv 4.7)
1
SUMÁRIO

DEFINIÇÃO DE ACONSELHAMENTO BÍBLICO ......................................................3


I. O que não é aconselhamento bíblico. ........................................................................3
II. O que é aconselhamento bíblico................................................................................4
III. Aconselhamento noutético .....................................................................................6
IV. QUAIS COMPROMISSOS TEOLÓGICOS SÃO ESSENCIAIS PARA O
MÉTODO NOUTÉTICO DE ACONSELHAMENTO? ................................................12
V. A Teologia no Aconselhamento Bíblico. ................................................................13
VI. O valor do aconselhamento bíblico. .....................................................................15
ASPECTOS FÍSICOS E ESPIRITUAIS DO ACONSELHAMENTO .........................15
COMPARAÇÃO DE MODELOS DE ACONSELHAMENTO ...................................19
PSICOTEOLOGIA I: Onde psicologia e teologia se reencontram ................................25
Neuroteologia ..................................................................................................................30
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................40

2
ACONSELHAMENTO BÍBLICO 1

DEFINIÇÃO DE ACONSELHAMENTO BÍBLICO

I. O que não é aconselhamento bíblico.


O aconselhamento bíblico não é função de um especialista. O aconselhamento
bíblico é uma obrigação de todos os membros que estão bem solidificados, uma
preocupação não apenas dos pastores, mas de toda a igreja de Deus em prover base sólida
para o crescimento cristão.
Já que várias distorções da verdade têm surgido com o nome de aconselhamento
bíblico, antes de definirmos com precisão o que é aconselhamento bíblico precisamos
saber o que não é aconselhamento bíblico.

Em primeiro lugar, o aconselhamento bíblico não é uma atividade reservada para os


especialistas. Paulo, em Rm 15, nos diz que o que um conselheiro cristão precisa é estar
em comunhão com Cristo, nos versos de 1 a 13 ele mostra o que Cristo fez por nós e no
14, como consequência disso diz: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso
respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para
vos admoestardes uns aos outros”. Deixando claro que o que precisamos para sermos bons
conselheiros é sermos salvos.

Em segundo lugar devemos notar que o aconselhamento bíblico não é uma atividade
opcional para a Igreja. Podemos ver na atitude de Paulo que ele dava grande ênfase ao
aconselhamento. Em At 20.31 ele nos mostra a intensidade com a qual ele realizava este
serviço dizendo que o fazia dia e noite, e o fazia até o ponto de chorar por eles. Em Cl 1.28
ele nos mostra a amplitude desta obra quando diz que anunciou a todo homem.
Por último devemos notar que o propósito do aconselhamento bíblico não é o bem-estar do
homem, mas a glória de Deus. Numa época em que a felicidade do homem esta acima de
tudo, devemos notar que, ao contrário do que faz a psicologia, que se preocupa em como o
homem pode alcançar o bem-estar, o aconselhamento noutético tem o propósito de
glorificar a Deus. Paulo nos Adverte quanto a isso em Cl 1.28,29 dizendo: “O qual nós
anunciamos, advertindo (νουθετοῦντες - nouthetountes)2 a todo homem e ensinando a
1
ALMEIDA, Marcos Emanoel P. de. O ACONSELHAMENTO BÍBLICO.
2
νουθετέω [nouthetéō]. Admoestar, instruir, aconselhar At 20.31; Rm 15.14; 1Co 4.14; Cl 1.28; 3.16; 1Ts 5.12,14; 2Ts 3.15;
Tt 1.11. Dar instrução quanto à fé e a vida correta – “instruir, ensinar, instrução, ensino.
3
todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em
Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a
sua eficácia que opera eficientemente em mim”.
Podemos notar aqui o propósito de suas admoestações era “apresentar todo homem
perfeito em Cristo” e não que todo homem alcance felicidade aqui na terra, isto poderia até
acontecer, mas é apenas a consequência de uma vida vivida dentro dos padrões que
agradam a Deus.

II. O que é aconselhamento bíblico.


Rm12.8: “... ou que exorta, use esse dom em exortar...”
“No período do Novo Testamento, os que tinham o dom da exortação (Rm 12.8 -
παρακαλῶν - parakalōn) eram orientados a desenvolvê-lo com esmero, dando ao corpo de
Cristo a capacidade de desenvolvimento harmonioso”.3 Parakalōn é uma declinação de
parakaleō que por sua vez vem do substantivo paraklētos.
O aconselhamento é um serviço ao próximo.
“Anatole Bailly define conselheiro ou terapeuta (θεραπεύω)4 como alguém que se
dispõe a “servir”, “servir ao outro”, “servir a qualquer um”; é aquele que se envolve com o
outro, dispensando-lhe cuidado e atenção; que percebe o outro que se apresenta
desprotegido, sem direção e impossibilitado de perceber um rumo para viver; é aquele que
se envolve com aplicação e investe tempo para auxiliar quem se apresenta com demandas
insolúveis. Esse terapeuta vai aplicar-se no auxílio do necessitado, doando-se em
cuidado”.5
Ap 22.2: “No meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da vida,
que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a
cura (θεραπείαν - therapeían) das nações”.
Um dia, após o Milênio, na Nova Terra, todas as nações serão curadas, física,
psíquica e espiritualmente ao comerem das folhas da árvore da vida. O Supremo Terapeuta
– Jesus Cristo trará cura holística.

Cl 3.16: “A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-


vos [διδάσκοντες]6 e admoestai-vos [νουθετοῦντες]7 uns aos outros, com salmos, hinos e
cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações”.
As palavras “noutéticas” no Novo Testamento são nouthetéō que ocorre oito vezes e
nouthesia três.
O verbo “aconselhar”, em Cl 3.16, no grego, é νουθετέω - nouthetéō e significa,
especificamente, admoestar, advertir e exortar. Com base em tal palavra, surgiu o conceito

3
SILAS, Molochenco. Curso Vida Nova de Teologia Básica – Aconselhamento: São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 18.
4
Θεραπεύω, servir At 17.25. Cuidar de, daí curar, restaurar Mt 4.23s; Mc 3.2, 10; Lc 4.23, 40; 14.3; Ap 13.3. [terapêutico].
5
SILAS, Molochenco. Op. Cit., p. 21,22.
6
διδάσκω, ensinar (Mc 1.21; At 15.35; 1Co 11.14; Cl 3.16; Ap 2.14).
7
νουθετοῦντες. Verbo particípio presente voz ativa nominativo masculino plural de νουθετέω [nouthetéō].
4
de aconselhamento noutético, isto é, de que os cristãos devem se ajudar mutuamente, não
apenas os ministros, a fim de que possamos nos desenvolver espiritualmente.
Duas palavras gregas são usadas na Bíblia para o aconselhamento bíblico νουθετέω
(nouthetéō) e παρακαλέω (parakaleō). Parakaleō ocorre 109 vezes e paraklēsis 29.
Baseados nos usos destes dois termos tentaremos formular nossa definição de
aconselhamento bíblico.

O primeiro termo (nouthetéō)8 tem três significados básicos:


1. Admoestar (At 20.31; Rm 15.14; 1 Co 4.14; 1Ts 5.12,14);
2. Aconselhar (Cl 3.16) e;
3. Advertir (Cl 1.28; 2Ts 3.15).
E sempre dá a ideia de mostrar ao irmão o seu erro através da Palavra de Deus e
auxiliá-lo na correção deste.

O segundo termo (parakaleō), de acordo com Walter Bauer, tem cinco significados.
1. Chamar alguém ao lado (At 28.20).
2. Nos dá a ideia de convidar (Lc 8.41; At 8.31; 13.42; 28.20).
3. Um terceiro significado é o de requerer, apelar para, rogar (Mt 8.31,34; Lc 7.4;
Rm 12.1; 1 Co 15.16).
4. O quarto significado é o de confortar, encorajar, incentivar (Lc 16.25; At 16.40; 2
Co 1.4; Cl 2.2).
5. O último significado é o de consolar, conciliar, falar de maneira amigável (Mt
5.4; Lc 15.28; 1Co 4.13; 14.31; Ef 6.22).

Paracletos9

No grego secular, do século IV a.C. em diante, o substantivo paraklētos referia-se a


uma “pessoa chamada a ajudar, convocada para dar assistência”. Podia ser entendido
como “alguém que ajuda no tribunal”, em correspondência com a palavra latina
advocatus. No Antigo Testamento, a noção de “uma advocacia do Espírito divino a favor
do homem nas circunstâncias da sua vida terrena” está mais clara no livro de Jó (Jó 5.1;
16.19; 19.25-27). No Novo Testamento, essa ideia de um “Deus-Mediador-Go’el é vista,
por exemplo, na maneira por que tanto o Espírito Santo quanto o Senhor assunto aos céus
intercedem por nós “no tribunal celestial” (Rm 8.26,27,34).
A palavra Paráclētos literalmente significa em grego, alguém chamado para estar ao
lado de outra ou para o seu auxílio. Era usada com referência a um assistente legal,
conselheiro ou advogado. Descreve fortemente alguém que defende a causa de outra.
Paráclētos é traduzido na Bíblia King James como advogado e a nota de rodapé nos
informa:

8
Nouthetéō (νουθετέω). νουθετῶν, νουθετεῖν, νουθετοῦντας, νουθετεῖτε, νουθετοῦντες. admoestar, advertir, exortar.
9
HURDING, Roger F. A ÁRVORE DA CURA. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 444,445.
5
“A palavra advogado vem do latim advocatus que é equivalente exato do adjetivo
verbal passivo grego paráklētos (Jo 14.16; 1 Jo 2.1), formado pelas palavras gregas para
(ao lado de) e klētos (chamado). Usado de forma única por João para se referir ao Espírito
Santo, e cujo amplo significado inclui: Conselheiro, Ajudador, Consolador, Encorajador.10
Baseados nestes usos podemos dizer que o verdadeiro aconselhamento bíblico
envolve ensinar ao irmão a viver de maneira a agradar a Deus aqui na terra, confortando-o
em suas dificuldades, incentivando-o a permanecer firme em Cristo, visando o pleno
desenvolvimento do irmão e a glória de Deus através deste.

III. Aconselhamento noutético11


Um dos principais escritos de Adams foi “Conselheiro Capaz” (1970).
Adams experimentou frustração ao aconselhar cristãos carentes com métodos
freudianos e rogerianos; Aquiesce ao abandono, por parte de O. Hobart Mowrer, do
“modelo médico” de “doença mental”, e propõe um “modelo moral” que destaca a culpa
real e a responsabilidade pessoal.
Pressuposições:
Adams: “a metodologia do aconselhamento necessariamente deve originar-se do
ponto de vista bíblico de Deus, do homem e da criação, sempre apropriando-se do mesmo”
(Adams, O manual do Conselheiro Cristão). Com base nisto, Adams sustenta que só há
dois conselhos: o conselho divino e o conselho demoníaco – Postura de exclusão, ou
posição do tipo “Cristo contra a cultura”, que reflete bem a dicotomia tertuliana.
A dicotomia de Adams faz com que admita que os problemas humanos derivam ou
do pecado (são hamartogênicos), ou de uma disfunção física. Não existe “meio-termo” que
justifique a idéia de doença mental, ou problemas psicológicos; chega a considerar
malignas a psicologia e a psicanálise.
A afirmação de Adams — que diz que o pecado é a causa de todos os problemas —
faz com que sua antropologia baseie-se no fato de que o homem jaz na depravação total
(Agostinho X Pelágio). A confissão auricular seria, então, a base do seu aconselhamento,
pois parte do pressuposto de que o feedback será positivo. O homem não é visto
holisticamente.
Todos os homens nascem totalmente depravados, incapazes de se salvar ou de
escolher o bem em questões espirituais. Para reforçarmos um pouco mais segue o que
Thomas Paul Simmons, D.Th escreve sobre o assunto. “As Escrituras ensinam que a
extensão do pecado no ser humano é total. Isto é o significado de depravação total”.
A depravação total quer dizer que o pecado permeou cada faculdade do ser humano
assim como uma gota de veneno permeia cada molécula de um copo de água. O pecado
urdiu cada faculdade no homem e assim ele polui todo ato seu.
Isso não quer dizer que todas as pessoas são tão más quanto elas poderiam ser.
Significa, antes, que todos os seres humanos são afetados pelo pecado em todo campo do
pensamento e da conduta, de forma que nada do que vem de alguém, separado da graça
10
Bíblia King James. Novo Testamento. Editoras: SRG Publicações, SBIA e Abba, 2007, p. 256.
11
http://exposicaoteologica.blogspot.com.br/2009/11/aconselhamento-noutetico-noutetico-vem.html.
6
regeneradora de Deus, pode agradá-lo. À medida que nosso relacionamento com Deus é
afetado, nós somos tão destruídos pelo pecado, que ninguém consegue entender
adequadamente Deus ou os caminhos de Deus. Tampouco somos nós que buscamos Deus,
e, sim, é ele quem primeiramente age dentro de nós para levar-nos a agir assim
A Bíblia, portanto, é suficiente, e responde diretamente ao ser humano.
A luz da tríade da cosmovisão cristã (Criação, Queda e Redenção) Adams tem
razão. Na Criação não havia qualquer tipo de doença, nem física, nem psicológica e nem
espiritual. Depois da Queda, surge a primeira paranoia – fobia de Deus (teofobia).12
Depois o corpo começou a morrer e segue-se a diversidade de doenças nas três dimensões:
somática, psicológica e pneumática.

Os Objetivos Noutéticos:
“Adams frequentemente se refere ao objetivo geral na ajuda aos outros como o de
‘mudança bíblica’. Reconhecendo-se que todo homem, mulher ou criança que busca
conselho pertence ou ao reino da luz ou ao reino das trevas, então a ‘mudança bíblica’
significa o processo de santificação, para os que pertencem ao primeiro, e a realidade da
conversão, para os do segundo” (HURDING, p. 320).
Admite uma espécie de pré-aconselhamento para aqueles que ainda não são cristãos
(“confrontar os não-salvos com a oferta universal do evangelho”).
Adams diz que “O propósito da pregação e do aconselhamento é alimentar o amor a
Deus e o amor ao próximo, como Deus manda”. O amor é visto como um “relacionamento
condicionado pela [...] observância responsável dos mandamentos de Deus”. Ao dizer isso,
expõe a necessidade de mudança de comportamento. E, quando diz que “... o crente
assevera jubilosamente a possibilidade de uma mudança rápida e completa”, crê que a
transformação individual desse comportamento pode ser instantânea.

O Método:

Adams parece estabelecer as Escrituras, bem como a atividade do Espírito, como


fundamentos para o aconselhamento. Ele diz: “O ponto que é preciso estabelecer é que,
uma vez que o Espírito Santo emprega Sua Palavra como o meio principal pelo qual os
cristãos podem crescer em santificação, o aconselhamento não pode ser eficaz (no sentido
bíblico do termo) isolado das Escrituras. A realidade do Espírito Santo presente no
aconselhamento implica, portanto, na presença das Escrituras Sagradas também”. E
adverte: “Aconselhamento feito sem as Escrituras só se pode esperar que será
aconselhamento sem o Espírito Santo”. Portanto, não há outro método eficaz.
Para Adams, sua metodologia resume-se basicamente na “técnica bíblica”, e para
ele esta consiste no que denomina aconselhamento noutético. Muito mais do que apenas
explicar em que consiste o seu método, Adams parece fazer uma apologia de tal modo que
procura absolutizar seu modelo moral. A “técnica bíblica” de Adams pode ser evidenciada
12
Teofobia. Medo de Deus: Teo = Deus; Fobia= Medo. É um neologismo para referir-se ao sentimento de aversão a Deus e
aos princípios da religião (Wikipédia).
7
em suas palavras: “... quanto mais diretivo eu me tornava (simplesmente dizendo aos
consulentes o que Deus exigia deles), mais ajuda real as pessoas recebiam”. Essa postura
ignora, também, a advertência de muitos quanto à prática de dar conselhos em dificuldades
mais sérias que exigiriam o encaminhamento.

Adams sugere um transplante do “vocábulo grego para a língua portuguesa” a fim


de que esse conceito se estabeleça com mais clareza. Entretanto, arrisca os termos
“admoestar”, “exortar” e “ensinar”, como equivalentes mais próximos.
Na confrontação noutética, existe pelo menos três elementos básicos:
a) – efetuar mudança de conduta e de personalidade;
b) – confrontação verbal pessoa a pessoa (nesse momento Adams faz um destaque
especial à ênfase noutética em torno do “o quê”, no lugar do “por quê” [este muito
presente nos “métodos comuns de aconselhamento”], uma vez que já se sabe o “por quê”);
e;
c) – a noutétese motivada pelo amor, para o bem do cliente e para glória de Deus.

A Pedra de toque do aconselhamento bíblico: 2Tm 3.15-17: “15 e que desde a


infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em
Cristo Jesus. 16 Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para
repreender, para corrigir, para instruir em justiça; 17 para que o homem de Deus seja
perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra”.

Todos os cristãos, enquanto Corpo de Cristo, devem ocupar-se com a atividade


noutética segundo Cl 3.16: “A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a
sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos
espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações”.
Abordagem exclusivamente diretiva de Adams: o aconselhamento noutético (por ser
bíblico) deve ser visto como autoritativo, uma vez que mede a “autoridade de Deus”.
Além disto, também é disciplinador por desafiar o indivíduo à uma mudança de
comportamento.

O Método: Como se dá?

“Na primeira sessão, o cliente preenche um ‘formulário de dados pessoais’, para dar
ao conselheiro um ponto de partida factual sobre sua saúde, formação religiosa, tipo de
personalidade, estado civil, histórico familiar e percepção do ‘problema principal’. Antes
de esse ‘problema principal’ ser tratado, quer um casamento em ruína, quer sentimentos de
inferioridade, quer inclinações homossexuais, verifica-se qual a condição do cliente diante
de Deus.
“Caso seja um cristão, o aconselhamento pode prosseguir; senão, o evangelho é
primeiramente oferecido, porque, no que diz respeito ao incrédulo”:
1. “Deus não nos autorizou a reformar o exterior das pessoas”;
8
2. “Agir assim seria distorcer a verdadeira natureza de sua esplêndida redenção em
Cristo”;
3. “Os clientes podem confiar em qualquer mudança externa ‘com a falsa segurança
de que os problemas foram resolvidos’”.
Até onde se pode perceber, o método usado no aconselhamento noutético
exclusivisa os aspectos cognitivo e comportamental. Mudança noutética seria, então,
mudança na forma de pensar e no comportamento. O seu “método iceberg de dar
prioridade ao visível”, desconsidera os sentimentos para focalizar apenas o
comportamento. Adams ignora qualquer possibilidade de que haja algo por detrás dos
fatos. Para ele, a doença tem que ser vista como doença.
Gostaríamos de ressaltar, ainda, uma nota de rodapé exposta na página “13” do seu
livro “Conselheiro Capaz”. Ao dirigir terapias de grupo, sete horas por dia, em sua
experiência ao lado de Mowrer, Adams conclui: “Cheguei depois à conclusão de que esse
tipo de atividade com grupos de pessoas é antibíblico e, portanto prejudicial”.
Sendo a Psicologia Pastoral, de primeira mão, destinada à Igreja, concordamos com
Adams à luz da Cosmovisão Cristã. Porém, reconhecemos um universo desconhecido da
mente humana e além da Bíblia, usaremos todos os recursos científicos nesta viagem
noética para ajudar aquele que procura aconselhamento.
Roger F.Hurding afirma:
“Será que precisamos adotar essas posturas excludentes sobre a personalidade
humana? Aqui, o pensamento de Adams parece ser o resultado de excluir fatores
psicológicos e emocionais, por não se encaixarem em seu esquema. Tais perspectivas
inconvenientes devem de alguma maneira estar ligadas à esfera do físico ou do
comportamental – se problemáticos, têm de ser logo relacionadas a uma doença orgânica
ou a um pecado. Essa camisa-de-força parece estar bem distante do complexo
entrelaçamento de sentimentos, experiências, pensamentos e ações encontrados em alguns
dos ditos provérbios, como: “A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa
palavra o alegra” (Pv 12.25), “A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o
desejo cumprido é árvore de vida” (Pv 13.12) e “O coração alegre aformoseia o rosto, mas
com a tristeza do coração o espírito se abate” (Pv 15.13)”.13
Adams esquece dentro do conceito da cosmovisão (Criação) o pensamento sobre a
igualdade de todos os seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus.
“Outro princípio subjacente da Criação é a igualdade. Se todos partem do mesmo
Criador, não há razão e muito menos justificativa para um ser humano seja considerado
superior ou inferior ao outro, por isso a premissa judaico-cristã que todos merecem ser
tratados sem distinção, independentemente da cor, raça, sexo, etnia ou religião. O
fundamento do tratamento igualitário é o próprio Deus que não faz acepção de pessoas (At
10.34). Por esse motivo, o apóstolo Paulo escreve: Nisto não há judeu nem grego; não há
servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl
3.28). Dinesh D´Souza lembra que “o caráter precioso e a igualdade de valor de cada vida
13
HURDING, Roger F. A ÁRVORE DA CURA. 1ª ed. São Paulo, SP: SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA,
1995, p. 331.
9
humana é um conceito cristão”. Os cristãos sempre acreditaram que Deus atribui a cada
vida humana que cria um valor infinito e que ama a cada pessoa de igual modo. No
Cristianismo, você não é salvo por meio de sua família, tribo ou cidade”.
Noutético vem da palavra de origem grega “νουθεσία - nouthesia”14, que
literalmente significa “O ato de pôr em mente” (formado de nous (νοῦς), “mente”, e
títhemi (τίθημι), “pôr”)15. O termo nouthesia é “o treinamento pela palavra”, quer por
incentivo, ou, se necessário, por reprovação ou reclamação. Em contraste com isso, o
sinônimo “παιδεία - Paideía”16 enfatiza treinar por ação, embora as palavras sejam usadas
em cada aspecto.
O aconselhamento Noutético é um tipo de admoestação cujo objetivo é proporcionar
orientação para uma vida correta diante de Deus. O que subentende também correção e a
denúncia a qualquer padrão que seja incoerente com o viver cristão. A atividade noutética
conforme ensina o Novo Testamento, indica que todos os cristãos, e não somente os
pastores, devem ocupar-se no ensino e confrontar-se mutuamente (Rm 15.14). Porém, a
atividade noutética caracteriza-se principalmente como parte integrante do ministério
pastoral. Ao se despedir dos presbíteros de Éfeso, Paulo descreve, em (Atos 20.31), a
atividade que desenvolvera enquanto estivera com eles, e os exortou a continuarem a
mesma obra entre o povo.
Paulo foi um missionário, e onde quer que demorasse um pouco mais, atirava-se à
sólida obra pastoral necessária para a edificação das pessoas na fé, sendo a atividade
noutética parte proeminente dessa obra, razão porque suas cartas estão cheias de nomes de
pessoas específicas, com as quais se envolvera muito intimamente. Ele não se limitava a
pregar nas praças, mas lidava com as pessoas como indivíduos, grupos e famílias,
confrontando-as nouteticamente. Existem três elementos da confrontação noutética que
precisamos considerar aqui. Quais sejam:
1 – A atividade noutética e a sua conjunção com “didaskō.17 Didaskō [διδάσκω] é
uma palavra grega e significa “Dar instrução”, “Ensino” (Cl 3.16). Em outros textos,
contudo, o termo vai além do conceito de “ensino”. A confrontação noutética sempre
envolve um problema e pressupõe um obstáculo que tem que ser vencido. A palavra
didaskō não envolve, necessariamente, um problema. Sugere, simplesmente, a
comunicação de informação. Não inclui coisa alguma que diga respeito ao ouvinte, mas se
refere exclusivamente à atividade do instrutor. A pessoa que está sendo ensinada pode
estar ansiosa ou não por receber a instrução. Pode ter gastado razoável quantia ou ter
percorrido longas distâncias para recebê-las ou então pode reagir como o típico aluno
recalcitrante.
A noutese localiza aquele que faz a confrontação e aquele que a sofre, pressupondo,
especificamente, a necessidade que se verifique mudança na pessoa confrontada, a qual
14
νουθεσία, ας, ή admoestação, instrução, recomendação (1Co 10.11; Ef 6.4; Tt 3.10).
15
Τίθημι e τιθέω — ativo e passivo — pôr, colocar, constituir — a. genericamente pôr, colocar Mt 12.18;27.60; Mc 16.6; Lc
11.33;14.29; Jo 11.34; At 3.2;13.29; Rm 9.33;14.13; 2Co3.13 ; 2Pe2.6.
16
παιδεία, ας, ή treinamento, disciplina (Ef 6.4; 2Tm 3.16; Hb 12.5,7,8,11).
17
Didaskō - διδάσκω, ensinar (Mc 1.21; At 15.35; 1Co 11.14; Cl 3.16; Ap 2.14). ύμας διδάξει πάντα – ele vos instruirá em
todas as coisas (Jo14.26).
10
pode opor ou não alguma resistência. A ideia de alguma coisa errada, algum pecado,
alguma obstrução, algum problema, alguma necessidade que precise ser reconhecida e
tratada, é uma ideia fundamental. O propósito básico da noutese é o de efetuar mudança de
conduta e de personalidade.
2 - A atividade noutética e a sua conjunção com a “Palavra”. O segundo elemento
inerente ao conceito de confrontação noutética é que os problemas são resolvidos por
meios verbais. É o treinamento mediante a palavra de encorajamento, quando isso basta,
ou de admoestação, de reprovação, de censura, quando estas se fazem necessárias. Assim,
ao conceito de noutese deve-se acrescentar a dimensão adicional de confrontação verbal
pessoa a pessoa, cujo objetivo é realizar mudança de comportamento e de caráter no
consulente. No seu uso cristão, visa pôr em ordem o indivíduo, mediante a mudança de
seus esquemas de conduta, de modo que estes se enquadrem nos padrões bíblicos. A
mudança de personalidade, segundo as Escrituras, envolve confissão, arrependimento e o
desenvolvimento de novos padrões de conduta. Tudo entendido como obra do Espírito
Santo, pois tudo o que constitui esse ministério é por Ele tornado eficaz. Os métodos
comuns de aconselhamento recomendam longas “excursões” retrospectivas rumo às
confusões dos porquês e para-quês da conduta. O aconselhamento noutético aplica-se
intensamente à discussão do o quê. O que foi feito? O que precisa ser feito para corrigi-lo?
O que deverá constituir as futuras reações e respostas? A ênfase é no o quê, visto que já se
sabe o “porquê’, antes de iniciar-se o aconselhamento. A razão pela qual as pessoas se
envolvem em problemas em suas relações com Deus e com o próximo está em sua
natureza pecaminosa.
3 - A atividade noutética e a sua conjunção com o “benefício ou ajuda”. O motivo
subjacente à atividade noutética é que sempre se tem em mente que a correção verbal visa
beneficiar o interessado. Esse terceiro elemento implica em mudar aquilo que, na vida do
consulente, o está ferindo. A meta deve ser a de enfrentar diretamente os obstáculos e
vencê-los verbalmente, não com o fim de puni-lo, mas sim o de ajudá-lo. A ideia de
castigo, mesmo o de cunho disciplinar, não é contemplada no conceito de confrontação
noutética. A noutese é motivada pelo amor e profundo interesse, sendo que os consulentes
são aconselhados e corrigidos por meios verbais para seu bem. O objetivo final é que Deus
seja glorificado.
No seu uso bíblico, a confrontação Noutética visa a pôr em ordem o
individual mediante a mudança de seus esquemas de conduta de modo que estes se
enquadrem nos padrões bíblicos, ou seja; levando o a uma mudança de personalidade, ao
que segundo as Escrituras envolve confissão, arrependimento e consequentemente o
desenvolvimento de novos comportamentos e padrões bíblico, sendo tudo isso entendido
como obra do Espírito Santo.
Exemplos bíblicos dessa atividade Noutética nas confrontações de Natã com Daví,
depois do pecado que este cometeu quanto a Urias e Bate-Seba (2Samuel 12) e de Jesus
com Pedro (João 21). Na censurável conduta de Eli registrada em (1Sm 3.13), vemos um
caso de fracasso; justamente pela negligência da confrontação Noutética. Ele de falar com
urgência suficiente, com rigor suficiente, e com a seriedade suficiente, para produzir
11
genuínas mudanças neles. Já em (1Sm 2.22), há o fato, o registro de uma última tentativa
fraca e fútil, feita tardiamente.
PSICOLOGIA ACONSELHAMENTO
- Não orientador (como psicólogo a pessoa é como - Orientador. Vai ao centro da verdade bíblica.
um espelho). Rebate os problemas levando a A base para a verdade que rege todas as
pessoa a achar sua própria resposta. esferas de comportamento é a Bíblia.
- Eu construo a minha personalidade. “As suas - Deus me constrói. (1Pe 2.5). Jesus é o
respostas estão em você mesmo”. cumprimento profético do “Eu sou”. As respostas
que precisamos estão em Jesus.
- Eu trabalho na minha personalidade. Eu descanso em Deus (Sl 23)
- Eu defendo minha personalidade. - Deus é minha defesa e proteção.
- “Eu sou rei e eu reino” (Síndrome de - Importa . que . Ele (Jesus) cresça e eu diminua.
Nabucodonosor). (Jo 3.30).
- Sou vulnerável em face do acusador. A tentativa - Vencemos o acusador (Rm 8.37). Obedecer a
de suprimir a culpa só piora nossa situação em consciência provendo ajustes necessários na nossa
relação a ataques demoníacos. vida nos preserva em perfeita paz e autoridade.
- O alvo é sentir bem. Amar os prazeres é o - Chegar à obediência de Cristo. A felicidade é
princípio da falência da alma. apenas um efeito colateral desta motivação.

Os aconselhadores pastorais são fluentemente bilíngues:18


“Os aconselhadores pastorais são capazes de falar as linguagens da psicologia e da
fé (bíblica). Por um lado, eles devem conhecer a linguagem da psicologia e do
aconselhamento. Portanto, aconselhadores pastorais devem familiarizar-se e fazer uso de
conceitos e recursos psicológicos relacionados ao desenvolvimento humano, à
personalidade e à psicopatologia, além de contribuições de outras ciências humanas. Por
outro lado, os aconselhadores pastorais devem ser hábeis na linguagem da fé e da teologia.
Por isso, devem ser capazes de realizar diagnósticos pastorais de questões espirituais e
auxiliar as pessoas a formularem e compreenderem auto-avaliações e discernimentos
espirituais”.

IV. QUAIS COMPROMISSOS TEOLÓGICOS SÃO ESSENCIAIS PARA O


MÉTODO NOUTÉTICO DE ACONSELHAMENTO?19
Em geral, o conselheiro bíblico procura afirmar as doutrinas fundamentais da fé na
tradição da Reforma Protestante.
Embora a abordagem noutética não seja integracionista, há uma diversidade
teológica e denominacional entre os seus defensores. Por exemplo, há conselheiros
dispensacionalistas, aliancistas, episcopais, presbiterianos, batistas, etc. O aconselhamento
bíblico não é sectário e é interdenominacional. Mas as doutrinas acima apresentadas são o
marco distintivo daqueles que se intitulam conselheiros bíblicos.

18
SCHIPANI, Daniel S. O Caminho da Sabedoria no Aconselhamento Pastoral. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2003, p. 76.
19
http://prcarlosmendes.blogspot.com.br/2009/10/quais-compromissos-teologicos-sao.html
12
V. A Teologia no Aconselhamento Bíblico.

O aconselhamento bíblico, por definição, tem como base as Escrituras, e uma vez
que a Teologia é a ciência que busca sistematizar o conteúdo bíblico em tópicos, faz-se
claro que o aconselhamento bíblico e a Teologia Sistemática devem andar lado a lado.
Devemos notar que as duas se completam. A Teologia é a fonte de conteúdo para o
aconselhamento bíblico, e o aconselhamento bíblico é onde a Teologia Sistemática entra
em prática. Esta seção visa demonstrar a ligação entre as várias doutrinas e o
aconselhamento bíblico.

No estudo da Teologia Sistemática há um fio de prata. Ele liga todos os módulos da


Teologia Sistemática: Bibliologia, Teontologia, Cristologia, Antropologia, Angelologia,
Hamartiologia, Soteriologia, Eclesiologia, Pneumatologia e Escatologia. O fio de prata da
Teologia Sistemática é a doutrina da Redenção, doutrina esta balizada na Pessoa
Teantrópica do Redentor – Go’el - ‫ גאל‬- O Parente Remidor.
Rompendo-se o fio de prata da Teologia da Sistemática esta morre. O fio de prata da
teologia é o Plano da Redenção alicerçado na Doutrina do Parente Remidor – O Go’el -
Jesus Cristo, o Resgatador dos Judeus, dos Gentios, da Igreja e do Cosmos.
Os três grandes atos da Santa Trindade na recuperação da humanidade perdida são:
eleição por parte do Pai, redenção por parte do Filho, chamada por parte do Espírito Santo
- como sendo dirigidos às mesmas pessoas, garantindo infalivelmente a salvação delas.
A Cosmovisão Cristã é a base profunda sobre a qual as outras doutrinas da redenção
estão alicerçadas. E a tríade da Cosmovisão Cristã: Criação, Queda e Redenção é a pedra
angular da doutrina da redenção.
A redenção, portanto, foi designada para cumprir o propósito divino da eleição. Esta
eleição envolve os três povos (Judeus, Gentios e Igreja).
Esta Redenção é eterna: Cl 1.14: “Em quem temos a redenção, a saber, a remissão
dos pecados”; Hb 9.12: “e não pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio
sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção”.
O plano da redenção é o âmago da teologia. Deus veio para remir: o homem, o
planeta Terra, Israel e o Cosmos.

A. Bibliologia.
De nosso estudo de bibliologia descobrimos que a Bíblia é a Palavra inspirada de
Deus, inerrante em seu conteúdo, a revelação da vontade de Deus para o homem. Conclui-
se que, como fonte de nosso aconselhamento devemos recorrer a ela para sabermos como
fazer a vontade de Deus, que é o propósito do aconselhamento. E que podemos Ter a
certeza de que encontraremos nela tudo o que precisamos para um aconselhamento eficaz.

B. Teontologia.
A Teontologia nos leva a reconhecer que só existe um Deus que merece todo o
nosso louvor, pois Ele é o criador e mantenedor de todo o universo. Logo, devemos Ter
13
em mente que nosso aconselhamento deve levar o homem a conhecer e se relacionar de
forma harmônica com este Deus.

C. Cristologia.
Na doutrina de Cristo entramos em contato com o plano redentor de Deus para o
homem, e com a solução proposta por Deus para o mal que se enraizou no ser humano a
partir de sua queda. Concluímos que a única solução possível para o mal do homem se
encontra na pessoa e obra do nosso Senhor Jesus Cristo e não em nada de bom que o
homem possa fazer.

D. Pneumatologia.
Estudando acerca do Espírito Santo vemos que é ele quem convence o mundo do
pecado, que é o real problema da humanidade, inferimos daí que não se não estivermos na
dependência do Espírito Santo nada do nosso esforço terá resultado.

E. Antropologia.
A doutrina do homem nos fala acerca do homem criado por Deus em estado de
perfeição, e da ansiedade do homem por não mais poder desfrutar de um relacionamento
aberto com Deus. Então nosso aconselhamento deve levá-lo a desejar a restauração deste
dois elementos.

F. Hamartiologia.
É no estudo da doutrina do pecado que encontramos a descrição perfeita do estado
do homem e de suas necessidades. Um aconselhamento que leva em conta o fator pecado,
e todo o mal que ele causou, na vida do homem está mais apto para conseguir a solução
para o problema do homem. A Queda afetou o homem em todas as dimensões: material e
imaterial.

G. Soteriologia.
Um aconselhamento que já mostrou ao homem a sua condição, através da doutrina
do pecado, mostra também a grandiosidade da transformação que precisa sofrer. É na
doutrina da salvação que está a cura para o mal do homem, a esperança para a sua vida. A
redenção é holística, restaurando tudo aquilo que foi degenerado.

H. Eclesiologia.
A doutrina da igreja nos mostra a necessidade que o homem tem de participar do
corpo de Cristo, e crescer junto com este corpo, o aconselhamento cristão levará o homem
a reconhecer a necessidade de comunhão com outros que, como ele, buscam a glória de
Deus em suas vidas.

14
I. Escatologia.
A doutrina das ultimas coisas dá ao fiel a certeza da restauração que ele precisa e
que irá acontecer um dia, quando Cristo voltar.

VI. O valor do aconselhamento bíblico.


O valor do aconselhamento bíblico reside exatamente no que ele discorda da
psicologia moderna, suas concepções acerca da natureza do homem, do problema que ele
enfrenta e da solução para este.
Enquanto a psicologia vê o homem como inerentemente bom, que só precisa de bons
estímulos, e de que o mal da sociedade que o cerca seja afastado para não influenciar seu
comportamento. A Bíblia o descreve como um ser inteiramente corrompido, que só busca
o que é mal aos olhos de Deus e incapaz de fazer o bem. Partindo de uma perspectiva
correta, uma vez que é dada por Deus, ela pode ajudar melhor o homem e não torná-lo
cada vez mais desesperado, como podemos ver no príncipe do existencialismo, Jean Paul
Sartre: “O homem está condenado a liberdade”. A Bíblia oferece a solução para o homem
sim, mas não para um “homem bom”, mas para um homem totalmente depravado.
Para a psicologia o problema do homem está em sua falta de auto-afirmação, ou no
meio ambiente corrompido em que ele habita. A Bíblia apresenta o pecado como problema
maior do homem e isto é que gera sua falta de auto-afirmação e um meio ambiente
pervertido pelo próprio homem.
A cura para o mal do homem está na reestruturação do meio ambiente, como nos diz
a psicologia moderna, ou em qualquer outro fator que esteja ao alcance do homem. Mas a
Bíblia nos fala de uma transformação radical que não pode ser feita pelo próprio homem,
mas tem que ser operada por Deus, aonde ele vai se despojar do velho homem e se revestir
de um novo homem, uma transformação total, não uma mera correção de atitudes mas
uma transformação de essência.

ASPECTOS FÍSICOS E ESPIRITUAIS DO ACONSELHAMENTO

Para podermos auxiliar alguém em seus problemas é necessária uma perspectiva


correta acerca da natureza do problema que aquela pessoa esta enfrentando.
Nossa posição acerca da natureza do próprio homem influi diretamente em nossa atitude
ao tratar dos problemas do homem.
Se nós cremos que o homem é moralmente bom, com o desejo de fazer as coisas
certas e que o atrapalha é uma sociedade corrompida, um meio ambiente desfavorável ou
falta de recursos para que possa agir do modo correto, nosso esforço deve ser empregado
em corrigir os defeitos e falhas da sociedade, melhorar o meio ambiente em que o homem
vive e dar-lhe recursos para que ele consiga agir de modo correto.
Mas se cremos que o homem é inerentemente mau, que o seu coração está
totalmente revoltado contra Deus e que ele não quer e não pode fazer nada de bom, nosso
15
esforço será em levar o homem a reconhecer a sua incapacidade e colocar sua vida aos pés
dAquele que pode fazer uma transformação total na sua vida.
Se nós cremos que por trás de todo mau comportamento do homem há algum fator
biológico que o esteja pressionando a agir de determinada maneira, nossa atitude deve ser
a de curar o corpo físico do indivíduo para que ele possa voltar a agir dentro dos padrões
corretos.
Mas se, por outro lado, não aceitamos o que os psicólogos chamam de “doença
mental”, mas vemos por trás de atitudes como depressão maníaca, esquizofrenia e outros
pecados encobertos na vida das pessoas, nosso alvo deve ser o de levar estas pessoas a
confrontarem os seus pecados com o auxílio do nosso Senhor Jesus Cristo.
Vamos analisar os dois lados do problema (físico e espiritual), com episódios ocorridos na
vida do nosso Senhor para podermos buscar o discernimento necessário para reconhecer o
que é doença verdadeiramente e o que vem como resultado e até pecado direto na vida da
pessoa.
O primeiro caso é o do cego de nascença curado pelo Senhor (Jo 9). É importante
para o nosso estudo aqui a pergunta inicial feita pelos discípulos ao Mestre: “Mestre, quem
pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” podemos inferir daqui uma
pressuposição importante para nossa análise, os discípulos criam que havia doenças que
eram resultados de pecados. E devemos notar também que Cristo não combateu esta ideia
deles, o que era de se esperar se ela não fosse verdadeira, então podemos inferir que Cristo
também acreditava que havia doenças que eram decorrentes do pecado, mas aquele não
era o caso e o próprio Cristo não o recriminou por pecado algum, apenas efetuou a sua
cura física, sem colocar no cego mais sofrimento, afirmando que ele estava sofrendo por
causa de seu pecado quando não era.
O segundo caso que nós vamos analisar é o caso do paralítico do tanque de Betesda
(Jo 5). Neste caso podemos ver de novo a crença de Jesus de que havia doenças que eram
decorrentes de pecado, e que neste caso, o paralítico, provavelmente estava naquela
situação exatamente por causa de seu pecado, pois Cristo o advertiu a não pecar mais para
que não sucedesse a ele coisa pior. Note que Cristo não ousou confrontar o pecado do
pecador quando foi o caso, mas ele não o fez na outra ocasião. Logo, nós, como
conselheiros devemos estar em constante dependência de Deus para não nos tornarmos
como os amigos de Jó que só aumentaram ainda mais seu sofrimento, acusando-o de um
pecado que ele não tinha cometido, mas também não devemos tratar tudo como causas
naturais, pois é nosso dever guiar as pessoas em pecado a restauração com Deus.

O PROCESSO BÍBLICO DE MUDANÇA

Para entendermos o processo bíblico de mudança faz-se necessário Ter uma visão
correta do que a Bíblia diz ser a condição do homem.
Para isso vamos passar pela história do homem desde a sua criação.
Deus criou um homem perfeito, com capacidades de se relacionar com outros seres, com
capacidade para dominar sobre a criação e com a necessidade de se relacionar com Ele.
16
Neste relacionamento homem Deus, havia papéis definidos que deveriam ser
respeitados para um relacionamento saudável. Deus como criador tinha muito a ensinar ao
homem, era seu conselheiro por excelência, um dos conselhos mais importantes era, você
não deve comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas o homem não gostou de
receber conselhos apenas de Deus e buscou outro conselheiro, como um ser livre, ele teria
responsabilidades sobre suas ações e colheria as consequências delas, e a consequência
desta escolha do homem foi a perda de vários dos privilégios que o homem tinha com
Deus.
Algumas delas são: ele ganhou o conhecimento do bem e do mal, mas não podia
mas escolher entre eles pois seu desejo agora só se voltaria para o mal; ele sofreu
consequências físicas, a partir dali o homem começara a morrer física e espiritualmente; O
homem também perdera o relacionamento tão precioso que tinha com Deus, para se tornar
seu inimigo, e devemos notar que esta é uma das maiores consequências para um ser que
foi criado para se relacionar com Deus, isto trouxe frustração profunda ao homem, mesmo
que ele não saiba disso, pois uma de suas necessidades básicas não estava mais sendo
atendidas.
Desde então o homem tem se degenerado cada dia mais e o que podemos ver é
sociedade totalmente frustrada por não se relacionar com Deus, voltando-se para práticas
místicas, pois estão descobrindo que eles têm sede de algo espiritual, o ateísmo não
resolveu o problema do homem, agora ele se volta ao misticismo, que também falhará.
A mudança que o homem precisa, de acordo com a Bíblia, não é uma restauração
das estruturas sociais, Cristo não pregou um evangelho de igualdade social, mas pregou
um evangelho de transformação radical.
O homem não precisa de um pequeno retoque para se tornar aceitável diante de
Deus, ele precisa ser totalmente transformado, precisa que o seu coração de pedra seja
arrancado e seja colocado um coração de carne.
A tarefa de transformar vidas não é algo fácil que o próprio homem pode conseguir,
nem mesmo os melhores métodos de transformação já desenvolvidos pelo homem pode
levá-lo a transformação que ele precisa, nem a maior força de vontade que já foi vista
sobre a terra é útil na restauração que o homem precisa sofrer. Jeremias nos mostra a
grandeza de tal tarefa quando afirma: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o
leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumado a fazer o
mal”. Esta é a situação do homem, totalmente acostumado a fazer o mal, com o seu
coração totalmente corrompido de forma que não pode mais escolher entre o bem e o mal.
Mas no meio de todo este quadro há uma esperança para o homem, uma transformação tão
radical quanto a que ele precisa, uma transformação que vai mudar toda a sua essência,
que vai trocar todos os seus valores.
Cristo descreve esta transformação em Jo 3, quando fala de um novo nascimento,
nada dessa velha vida serve para ser reaproveitado então o homem tem que nascer de
novo. O processo de mudança também é bem explicado pelo apóstolo Paulo, dizendo:

17
“No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis20 do velho homem, que se
corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso
entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade”. A Bíblia Jerusalém traduz: “A remover o vosso modo de vida
anterior — o homem velho, que se corrompe ao sabor das concupiscências enganosas.”.
Podemos ver descrito aqui o que cremos ser o processo correto para a transformação
na vida daquele que é tocado por Deus. Podemos ver que ele tem que abandonar as velhas
práticas que antes faziam parte de seu viver diário, o que nós podemos chamar, usando a
terminologia bíblica, de despojar. E uma vez despojado, ou seja, retirado tudo aquilo que
estava contaminado no homem, toda a sua velha natureza, ele pode agora ser revestido de
uma nova natureza, uma natureza agora capaz de novo de se relacionar com Deus, e
auxiliada pelo Espírito Santo a poder de novo escolher a fazer o bem.
Assim o homem consegue esta transformação, primeiro sendo transformado pelo
Espírito Santo, dando a ele nova vida e depois agindo em cooperação com Espírito Santo
buscando uma vida de santificação, ou seja, sendo de novo restaurado a imagem de Cristo,
como fora criado. A melhor definição de santificação dada é a do apóstolo Paulo, quando
ele afirma: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a
glória do Senhor, somos transformados [µεταµορφούµεθα - µεταµορφόοµαι]21, de glória
em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Podemos notar aqui
todos os passos da transformação. Primeiro nosso rosto foi desvendado, foi restaurada a
nossa visão, ocorreu a nossa regeneração. E em seguida nós somos auxiliados pelo
Espírito Santo a nos tornarmos a imagem de Cristo de forma gradual (2Co 3.18).

Só o processo bíblico de despojar / revestir pode realmente provocar a mudança que


o homem precisa, e nós podemos ver isto desde a conversão onde o pecador é despojado
da velha natureza e revestido de uma nova natureza. Temos também o apoio do próprio
Senhor Jesus Cristo, no episódio da expulsão dos demônios quando ele explica que:

Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando
repouso; e, não o achando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, tendo voltado, a
encontra varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do
que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o
primeiro.

Note que ali havia apenas transformação exterior, mas não havia revestimento, então
a sua situação se tornara pior, mas a verdadeira transformação não deixa a casa vazia, mas
a enche com o Espírito Santo, dando assim condições de haver mudança real.

20
Despojar. ἀποθέσθαι. άπόθεσις, εως, ή remoção,despojamento, deixar (1Pe 3.21; 2Pe 1.14).
21
µεταµορφόοµαι – metamorfóomai. Μεταμορφοω – metamorfoō: mudar de forma, transformar, transfigurar.
18
COMPARAÇÃO DE MODELOS DE ACONSELHAMENTO

Quando defendemos o método do aconselhamento bíblico, pressupomos que em


comparação com os outros métodos ele apresenta vantagens que vão realmente fazer uma
grande diferença, que eles têm pressupostos diferentes e que os pressupostos do
aconselhamento bíblico estão mais de acordo com a realidade do homem como o descreve
a Bíblia. Esta seção visa fazer uma comparação entre o aconselhamento bíblico e os outros
tipos de aconselhamento.
I. Comparando a epistemologia dos conselheiros.
A maioria absoluta dos conselheiros de hoje vivem em uma cosmovisão totalmente
ateísta que não pretende levar Deus a sério, eles estão tão secularizados que não
conseguem enxergar nada que vá além deste mundo algo que não esteja ligado apenas com
o físico, mas algo que nos una a um Deus, que é transcendente e imanente ao mesmo
tempo, ao Deus real. Logo, sua fonte de epistemologia esta totalmente ligada aos seus
estudos, ao que eles podem descobrir através dos sentidos, ou teorias produzidas pela
razão humana, ou ainda, algo ligado a suas intuições, mas descartam completamente
qualquer fonte de revelação exterior.
Os conselheiros bíblicos, ao contrário, têm ao seu dispor, além da verdadeira
ciência, a verdadeira fonte de informação acerca dos homens, e assim podem fazer uma
melhor análise de sua situação real. Esta fonte pode ser dividida em duas áreas, que nós
chamamos geral e especial.
A fonte de revelação geral é o que Deus colocou a disposição de todos os homens de
todas as épocas e lugares para que eles possam saber como viver uma vida que agrada a
Deus, mesmo sem conhecer a este Deus. Como agentes dessa revelação nós temos a
natureza, o salmista nos mostra todas as pessoas da terra têm acesso a este conhecimento:
“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.
Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há
linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra
se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda
para o sol, o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a
percorrer o seu caminho. Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu
percurso; e nada refoge ao seu calor”.
Deus se revelou a todos os homens para que todos pudessem ter o direito de
conhecê-lo, mas o homem não valorizou este conhecimento trocando-o por várias outras
fontes de sabedoria mundana, o apóstolo Paulo nos mostra o que o homem fez com esta
revelação de Deus:
“A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que
detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto
entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o
seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde
o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais
homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.18-20).
19
Aqui o apóstolo deixa claro que Deus deixou ao homem a verdadeira fonte de
conhecimento, mas ele perverteu esta fonte com a sua injustiça, e por isso eles não têm
desculpas a apresentar diante de Deus, como se não conhecessem a verdade, porque foram
eles que apagaram a verdade divina de suas vidas.
Há ainda a segunda área de revelação, que é a revelação geral. Que a manifestação
de Deus a homens específicos em tempos e lugares específicos, esta revelação tem o
propósito salvífico de restaurar a comunhão entre Deus e o homem fazendo com que o
homem conheça a salvação providenciada por Deus para ele. Esta é a mais completa fonte
de conhecimento do homem, pois nela encontramos tudo para que possamos viver uma
vida agradável a Deus, enquanto a primeira nos leva a reconhecer que estamos perdidos
sem Deus, esta nos apresenta o Deus que pode nos salvar. Paulo descreve assim seu valor:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra”.
Neste texto podemos ver seu alto valor para o aconselhamento bíblico, ela é útil
para: ensinar, repreender, corrigir e educar. E ainda tem o mesmo propósito do
aconselhamento bíblico que é o de levar todo homem a maturidade em Cristo visando a
glória de Deus.

II. Comparando os métodos dos conselheiros.

Os métodos utilizados pelos conselheiros são contrastantes com o método bíblico,


nesta seção iremos analisar os métodos utilizados a luz das Sagradas Escrituras.

A. Psicologia profunda.
Criado por Sigmund Freud, defende que o homem é um animal que age
instintivamente, o homem é dividido em id, ego e superego. Como animal o homem não
tem nenhuma responsabilidade sobre suas ações e o sentimento de culpa é apenas fruto de
padrões impostos pelos outros homens. Freud defendia que a solução para o problema do
homem era tornar todo o seu potencial real, fortalecendo o seu ego. Esta posição tem uma
perspectiva errada acerca do homem, pois não o retrata como totalmente depravado, exalta
o homem em si mesmo como alguém bom que só precisa de uma pequena reformulação de
conceitos.

B. Neo-Adlerianos.
Criado por Alfred Adler, desenvolveu a psicologia individual. Para Adler o
homem é um animal socialmente governado e seu problema é o complexo de inferioridade
só que a responsabilidade deste problema não é individual, mas da sociedade. São erros
nos pensamentos e valores da sociedade, e falta de confiança em si mesmo que fazem o
homem se sentir culpado. Então o homem precisa buscar a superioridade e controlar o seu
próprio destino, para isso ele tem que mudar a maneira de pensar para sentir-se e
comportar-se melhor. Esta posição está totalmente baseada em princípios antibíblicos
20
como o orgulho e a ideia de que o homem é uma vítima, quando a Bíblia afirma
claramente que o homem não tem nada em que se gloriar, ele é um pecador desesperado e
só pode ser transformado por Jesus Cristo, tem ainda uma visão errada da condição do
homem achando que ele pode se curar apenas mudando seus pensamentos, quando o que
ele precisa é de uma verdadeira regeneração.

C. Comportamental.
Desenvolvida por Burrhus Frederic Skinner, esta teoria vê o homem como um
animal que pode ser condicionado para fazer tanto o bem como o mal, ele defende a ideia
de “tabula rasa”, o grande problema do homem é a falha ambiental e, portanto ele não
deve ser responsabilizado, na verdade Skinner vê o homem como um ser amoral. O
tratamento indicado para Skinner é que o maio ambiente do homem seja mudado, uma vez
que é ele que condiciona o homem. A culpa para Skinner não é real, uma vez que o
homem é amoral e que não há mal absoluto então a solução para o problema da culpa é
modificar o padrão do homem de acordo com suas necessidades. Esta teoria esta em
contraste gritante com o padrão bíblico, pois ela ignora o homem como um ser espiritual e
tira do homem todo o senso de liberdade e responsabilidade que Deus atribuiu a ele,
também cria no homem uma mentalidade de que o homem é vítima do que lhe acontece já
que é o meio ambiente que é o responsável o que também contraria o ensino bíblico. E
ainda defende uma teoria acerca do homem que o transforma em mero produto do meio
ambiente, quando o que nós vemos na Bíblia é que é o homem que levou o meio ambiente
para o mal quando caiu (Gn 3.17).

D. Teoria racional-emotiva.
Criada por Albert Ellis. Ellis Vê o homem como basicamente bom e com muito
potencial interno. O problema do homem é que ele é vítima de crenças falhas e irracionais
acerca de si mesmo que foram implantadas nele desde a sua infância, então a culpa não é
do homem, mas do sistema de crenças deste, que é quem cria no homem um pensamento
errôneo de que ele é culpado e este pensamento resulta em comportamento neurótico que
prejudicam o homem, logo, o homem deve eliminar esta visão de errônea da vida e
adquirir uma visão real, de acordo com a sua razão de sua vida, ele tem que mudar
ativamente o seu conceito de vida para poder desfrutar todo o seu potencial interno. Esta
cosmovisão é totalmente antibíblica e humanística, que engana o homem dando a ele a
esperança de encontrar mudanças em conceitos dentro de si mesmo quando o único lugar
que existe solução real é junto a Jesus Cristo. Também contradiz a declaração bíblica de
que o homem está totalmente corrompido pelo pecado e não pode fazer nada, em si
mesmo, para mudar este quadro, esta mudança que é muito mais radical do que a mera
troca de conceitos só pode ser efetuada por Deus.

E. Terceira força.
Teoria desenvolvida por Carl Ransom Rogers. Rogers foi profundamente
influenciado pela cosmovisão otimista de sua época e cria que o homem poderia
21
transformar toda a sociedade em redor, via o homem como bom, com muito potencial
interior e em estado de maturidade, pronto para dar novos frutos, o problema é que ele
vivia em um meio ambiente que atrapalhava seu desenvolvimento, logo, a
responsabilidade pelos problemas da sociedade não é do homem já que é apenas uma
vítima do meio ambiente e em consequência disso a visão da culpa humana não era
importante. O tratamento para o seu problema era uma buscar uma solução interna
ajudando o homem a transformar todo o seu potencial em realidade, o homem não deveria
sentir culpa já que tudo o que ele fizesse para estar confortável consigo mesmo era certo e
até mesmo necessário. Esta teoria contradiz o padrão bíblico no que diz respeito a fonte da
cura, não podemos encontrar cura para os nossos problemas em nós mesmos porque nós é
que somos a fonte dos nossos problemas, nossa cura não é externa mas vem do Senhor
Jesus Cristo, ainda não podemos fazer tudo o que quisermos para o nosso bem-estar pois
nosso propósito aqui não é o de buscar prazeres mas buscar a glória de Deus.

F. Sistemas de famílias.
Desenvolvido por Ackerman, sua visão do homem é que ele é o produto de
relacionamentos defeituosos e falhos, não só os relacionamentos do homem são falhos,
mas eles o soam porque todo o sistema é falho e o homem está apenas, casualmente,
seguindo o círculo, cumprindo sua função dentro do sistema, logo, a culpa não é do
homem, pois ele é apenas um peão do universo. O tratamento a ser seguido é descrito
como alterar a maneira como os diversos relacionamentos são desenvolvidos. Esta
cosmovisão não esta de acordo com os dados bíblicos porque, mais uma vez, ela troca os
efeitos pela causa, os relacionamentos defeituosos são os efeitos do mal que existe no
homem e não a causa deste, e a cura para estes relacionamentos defeituosos não se
encontram no homem natural, mas só podem começar a serem experimentados por aqueles
que foram regenerados.

G. Bíblico.
O modelo bíblico foi desenvolvido pela maior autoridade antropológica existente, o
criador do próprio homem, e que por isso conhece o homem como mais ninguém. Neste
modelo o homem é tido como um ser criado para glorificar a Deus e seu problema consiste
em que ele se desviou de seu propósito original e agora é pecador por escolha própria e
encontra-se em rebelião total contra Deus, como foi o homem se desviou por escolha
própria ele é responsável por seus atos e a visão da culpa que ele tem é real e resulta de
seus pecados. O tratamento oferecido não é encontrado no próprio homem, mas é uma
justificação baseada na fé em Deus, seguida por uma santificação progressiva que irá
gradativamente restaurando o homem a sua condição original, para resolver o seu
problema o homem tem que admitir a sua culpar e buscar a resposta em Deus.

III. Comparando as pressuposições dos conselheiros.


Uma das áreas em que nasce todas as diferenças entre os modelos de
aconselhamento são as pressuposições. Podemos notar claramente que é tolice tentar unir
22
estas correntes com o cristianismo porque suas diferenças não são apenas interpretações de
fatos que não concordam, mas são pressuposições que são totalmente divergentes, logo, é
impossível haver união entre elas.
Os psicólogos, em geral, pressupõe que Deus não existe, que o homem deve se
preocupar apenas com as causas naturais, defendem o reducionismo e o individualismo,
são relativistas pragmáticos e buscam apenas os prazeres desta vida, se consideram vítimas
da situação e tem tendências gnósticas.
Nenhumas dessas pressuposições podem ser aceitas por cristãos que busca glorificar
a Deus acima de tudo, pois elas tiram o homem de seu lugar apropriado, o inocenta de suas
culpas e responsabilidades, despreza Deus a algo incerto e buscam encontrar realização
penas nesta vida sem si importar com a vida porvir.

IV. Comparando as teorias de motivação dos conselheiros.


Outra área contrastante entre o modelo de aconselhamento bíblico e os outros
modelos são as teorias de motivação que eles usam com seus aconselhados.
Os outros modelos de aconselhamento usam motivações puramente humanísticas
para despertar os seus aconselhados a realizarem-se plenamente, entre estas motivações
podemos notar que a vida do corpo é algo muito valorizado por eles enquanto que o
padrão bíblico é que devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e ele cuidará de
tudo o que necessitamos (Mt 6.33). Outra fonte de motivação muito usada é o sexo, mas o
padrão bíblico é que devemos possuir nosso corpo em santificação, pois ele é santuário do
Espírito Santo. Há ainda um apelo as posses materiais quando Deus ordena que nós
devemos ser ricos para com Deus (Lc 12.20). Outra fonte de motivação são as causas
sociais e mais uma vez a Bíblia nos ensina que nós devemos nos preocupar mais com a
glória de Deus do que com a dos homens (Jo 12.43). Uma Quinta fonte de motivação é o
poder para realizar coisas, mas de novo a Bíblia nos ensina que o maior no reino dos céus
é o servo (Lc 22.26). A autoestima também é uma grande fonte de motivação, mas de
novo podemos ver que a Bíblia diz que devemos nos colocar aos pés de Jesus para seguí-
lo (Lc 9.23). Também é utilizada a sede do homem de buscar significado para a vida e a
Bíblia nos ensina que o significado da vida está em temer a Deus (Ec 12.13). O homem
também busca, a todo custo, evitar a dor e conseguir prazer, mas o ensino bíblico é que
passaremos por problemas enquanto estivermos aqui na terra, mas temos a certeza de que
um dia não mais veremos a dor e o sofrimento (Ap 22.1-5).
Logo, torna-se evidente que a motivação humana, por mais atraente que possa
parecer aos nossos olhos, não é eficaz e nem pode ser alcançada enquanto nós vivermos
aqui nesta terra, cabe, portanto, ao conselheiro bíblico desviar a visão do aconselhado do
supostos benefícios que ele pode conseguir enquanto estiver aqui na terra para levá-lo a
contemplar as recompensas dadas por Deus para aqueles que creem nele.

Finalizamos citando frases de Valério Albisetti:

23
“Após tantos anos estudando a psiquê humana, cheguei à seguinte conclusão: quem
não sofre, não experimenta medo, não toma iniciativas, não quer mudar, não discute e não
arrisca nada e no final das contas, morre psiquicamente”.
“Na vida sempre vale a pena arriscar, seja lá como for”.22
“Sei, também, que se começa a viver no instante em que se decide não mais fugir do
sofrimento, não buscando mais satisfação das necessidades pessoais, mas aceitando o
imponderável, o mistério, a insatisfação, a incapacidade, o insucesso, as oposições, as
diferenças, e Deus”.23

22
ALBISETTI, Valério. De Freud a Deus. São Paulo: Paulinas, 1997, p. 37.
23
Ibid, p. 94.
24
PSICOTEOLOGIA I: Onde psicologia e teologia se reencontram24
Gilson de Almeida Pinho (2012)

Objetivo geral
Analisar as razões da aproximação entre psicologia e teologia.

Objetivos específicos
1. Conceituar psicoteologia.
2. Identificar a importância da psicoteologia.
3. Identificar alguns motivos do antagonismo entre cristianismo e psicologia.
4. Identificar o motivo da aproximação entre cristianismo e psicologia.

Psicoteologia é a área do conhecimento humano que tem sua fundamentação teórica


em três fontes principais: (1) na teologia e na religião; (2) na psicologia, filosofia e nas
ciências sociais (sociologia, antropologia, ética etc.); e (3) nas neurociências (neurologia,
neuroanatomia, neurofisiologia, psicofisiologia, psiquiatria, psicossomática etc.) e na
bioética; sendo sua aplicação voltada para três focos principais: (1) o estudo dos
fenômenos espirituais sob uma óptica científica, com mais rigor técnico; (2) o estudo da
alma humana como elo entre o corpo e o espírito, e como fator de saúde global; e
principalmente (3) na aplicação da prática do aconselhamento pastoral com maior rigor
ético e manejo técnico-científico.
A teologia estuda as revelações de Deus (ou deuses) aos homens e as manifestações
dos grupos sociais em relação a Deus ou às suas divindades (religião). A psicologia estuda
basicamente o comportamento humano como manifestação da mente e/ou personalidade
humana, focando no homem como ser biopsicossocial. A psicoteologia estuda o homem
em sua dimensão biopsicossocial e espiritual.

1. A importância da psicoteologia

A psicoteologia é uma área muito nova de estudo, pois só começou a partir da


década de 1990, e isso ocorreu graças às novas descobertas das neurociências sobre o
cérebro e a mente humana. Atualmente muitas faculdades teológicas oferecem cursos de
pós-graduação em psicoteologia. Algumas enfatizam mais os aspectos teológicos, outras
enfatizam os aspectos psicológicos, outras enfatizam os aspectos neurocientíficos, e outras
enfatizam sua aplicação na prática da psicoterapia pastoral.
O mundo atual tem passado por transformações rápidas e radicais, e o que não
faltam às pessoas são os problemas decorrentes da vida moderna: problemas de saúde
física, problemas emocionais, familiares, sociais, de moradia, de segurança, financeiros,
políticos, espirituais etc. Esses problemas são agravados pelas mudanças de costumes,
24
PINHO, Gilson de Almeida. Pós-graduação em Ciência da Religião Módulo I. Londrina, PR: Seminário Teológico Hosana,
2013.
25
novos padrões éticos e morais, crise nas crenças e valores etc. Com tudo isso, o estresse,
a angústia, a depressão, a ansiedade, o pânico etc. se alastram como epidemia, deixando as
pessoas desorientadas e precisando de ajuda para sobreviver, para enxergar seus
problemas, enxergar a si mesmas e precisando de orientação pessoal. Os conselheiros e
cuidadores sociais, sejam eles profissionais seculares (psicólogos, educadores, terapeutas,
consultores e outros) ou líderes religiosos (pastores, padres e outros orientadores
espirituais), precisam de mais conhecimentos de suas profissões e de suas áreas de
atuação, de mais conhecimentos gerais e de melhor manejo técnico-científico para ajudar
seus pacientes, clientes ou ovelhas de seu rebanho, e outras mais que vem de fora na busca
de explicações ou de uma razão para se viver.
Os profissionais seculares, ao ignorarem o homem como ser espiritual, nem sempre
dão as respostas mais eficazes para os problemas que lhe são trazidos. Os líderes
espirituais, por ignorarem o homem como ser biopsicossocial, e porque nem sempre
sabem fazer o manejo técnico correto em seus atendimentos, acabam caindo no mesmo
erro. Nas igrejas, o aconselhamento pastoral tradicional tem se mostrado insuficiente e
muitas vezes ineficaz porque as condições ambientais e circunstanciais mudaram.
De nada adianta aos cristãos sinceros (mas incultos) criticarem os líderes que
buscam novas fontes de conhecimento, em especial na psicologia, pois cedo ou tarde eles
mesmos ou alguém de seu conhecimento enfrentarão situações onde o simples
aconselhamento poderá não ser suficiente, por mais correto que seja. E não adiantará dizer
que basta focar somente na Bíblia ou na ação do Espírito Santo para realizar um
aconselhamento eficaz, eficiente e efetivo. Por mais fé que se demonstre ter, é preciso
buscar algo mais. É como um bom músico ou cantor cristão, por mais dom artístico e
unção espiritual que tenham, eles precisam estudar, treinar e aprimorar sua técnica.
No passado, as igrejas insensatamente se posicionaram contra a vida moderna e
caíram em ridículo, como, por exemplo, ao criticarem a invenção dos veículos de
transporte (em especial a construção de ferrovias e o uso de aviões); ou criticarem os
meios de comunicação (muitos ainda se lembram como os cristãos combateram a televisão
e o computador como instrumentos do Diabo); ou criticarem as descobertas médicas
(transfusão de sangue, transplante de órgãos, métodos anticoncepcionais etc.) e muitas
outras coisas tão comuns na vida moderna e de uso frequente dentro das próprias igrejas.
Muitos cristãos se opuseram a tudo isso, mas por fim, todos acabaram aderindo a esses
confortos. O mesmo está ocorrendo atualmente com relação ao conceito de psicoteologia,
mas logo essa crítica cairá no esquecimento.
É importante lembrar que a psicologia, a psicanálise, a psicoterapia e outras áreas
afins nasceram dentro do ambiente judaico-cristão, mas infelizmente, e de modo ignorante
e radical, muitos cristãos tomaram uma atitude precipitada de oposição a elas.
Consequentemente tais áreas do conhecimento evoluíram à margem da vida religiosa e,
muitas vezes, até mesmo de modo antagônico às práticas religiosas. Conceitos como
transferência (comunhão), mudança de paradigmas (conversão), terapia (cura da alma)
etc., os quais poderiam continuar vinculados à vida religiosa, hoje só têm conceituação

26
fora da religião. O radicalismo dos religiosos fez com que perdessem o direito à autoria de
tais conceitos.
É importante também destacar que, em 1948, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) definiu “Saúde é um estado completo de bem estar físico, mental e social, e não
simplesmente a ausência de doenças e enfermidades”. Em 1983, a OMS ampliou esse
conceitos para: “Saúde é um estado dinâmico de bem estar físico, mental, espiritual e
social, e não simplesmente a ausência de doenças e enfermidades”. Ou seja, hoje, a
espiritualidade é vista como um fator importante para a saúde das pessoas, sendo estudada
pela Psicologia Existencialista, Psicologia da Saúde, Psicologia Positiva e outras
abordagens psicológicas. Quem está tirando vantagem disso são os budistas e os espíritas,
enquanto que os cristãos estão limitados em sua atuação devido ao posicionamento que
assumiram num passado recente.
A psicoteologia busca conhecer a espiritualidade humana de maneira mais crítica,
mas de modo algum quer desmistificar a religião, ao contrário, busca conhecer o
misticismo humano e os fenômenos religiosos, sem se deixar levar pelos fanatismos ou
pelo radicalismo dos pré-conceitos religiosos. A psicoteologia de maneira alguma visa
menosprezar a ação do Espírito Santo na vida do crente, nem tampouco é uma
denominação ou linha filosófico-doutrinária, é, sim, um instrumento a mais para os
cristãos melhor desempenharem seu ministério e explicar sua fé: “... estando sempre
preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”
(1Pe 3.15b).

2. Cristianismo versus psicologia

Quando a psicologia surgiu como ciência em fins do séc. 19, o relacionamento com
o cristianismo não foi dos melhores devido aos posicionamentos adotados pela nova
ciência, mas também não era de antagonismo declarado, e muitos psicólogos eram
cristãos, como o caso de Karl Gustav Jung (1875-1961) e Paul Tillich (1886-1965).
Merece destaque o caso de um amigo íntimo de Freud chamado Oskar Pfister (1873-
1956), pastor da igreja reformada suíça e psicanalista. Freud e Pfister mantiveram
correspondência entre 1909 e 1939, quando Freud morreu. Ambos divergiam em suas
ideias religiosas, mas se respeitavam.
Logo a situação de atrito entre religião e psicologia se tornaria inevitável e
agressiva. Em parte isso ocorreu devido às críticas de Freud, e vários psicólogos contra as
manifestações religiosas, responsabilizando-as por muitas das manifestações
psicopatológicas de seus pacientes. Albert Ellis (1913-2007) dizia que a religião
geralmente é a causa de desequilíbrio psicológico, e sempre é um sintoma dele. Ele
propunha como solução para os problemas psicológicos ajudar as pessoas e a sociedade a
abandonarem tais crenças religiosas.
O atrito não ocorreu só por parte dos psicólogos, mas também por causa das reações
radicais dos religiosos contra vários conceitos psicológicos, sem mesmo se darem ao
trabalho de analisarem a validade ou não dos mesmos. Por exemplo, muitos casos que no
27
passado eram vistos como possessão demoníaca, hoje são classificados como alguma
forma de psicopatologia ou sintoma de alguma psicopatologia (alucinação, delírio,
comportamento bizarro etc.). Quantas vezes os cristão criticaram o uso de medicamentos
antipsicóticos, e hoje muitos deles fazem uso de tais medicamentos.
Mas havia um terceiro elemento responsável por esse atrito, o qual normalmente é
ignorado: a ação da teologia liberal dos sécs. 19 e 20. Essa linha teológica tendia a aceitar
as conclusões da ciência moderna com relação a assuntos de natureza religiosa, isso
incluía a psicologia. Se houvesse algum atrito entre o que a ciência dizia e o que a religião
pregava, prevalecia a palavra da ciência. Com isso, os cristãos conservadores se opuseram
a tudo que os teólogos liberais criam e acreditavam, isso incluía a psicologia.

Tem sido difícil para os cristãos não responder de modo defensivo a semelhantes
desafios. Para muitas pessoas, a psicologia parece ser a inimiga da fé.
Semelhantemente, a religião tem considerado muitos psicólogos como inimigos do
bem-estar pessoal. A psicologia e o cristianismo são inimigos mútuos, na ideia
dessas pessoas (Benner, 1988, vol. III, p. 200).

3. A aproximação entre cristianismo e psicologia

Se por um lado, as diferenças entre cristianismo e psicologia são enormes, por outro
lado, elas têm muitos pontos em comum, por exemplo: ambas entendem que os homens
são seres espirituais e morais, e, portanto, não podem ser reduzidos a um conjunto simples
de reações neurológicas. Vários conceitos teológicos podem ajudar a entender conceitos
psicológicos, e vice-versa (por exemplo: a eterna discussão entre predestinação e livre
arbítrio, a conversão e a mudança de vida, a diferença entre conversão e adesão a uma
igreja etc.), bem como, podem promover o desenvolvimento psicológico, e vice-versa.
Os primeiros defensores da união psicologia-teologia foram Seward Hiltner (1910-
84), professor do seminário presbiteriano de Princeton, e John Sanford (1929-2005),
ministro episcopal.
Hiltner cunhou o conceito do “aconselhamento pastoral”, em 1948, ao buscar a
ajuda das técnicas psicoterapêuticas aliadas à fundamentação bíblica para a cura interior
das pessoas. Hiltner, Wayne Edward Oates (1917-99), Paul Johnson (1928-) e Granger
Westberg (1913-99) fundaram, em 1963, a Associação Americana de Conselheiros
Pastorais (American Association of Pastoral Counselors – AAPC), cuja missão é “trazer
cura, esperança e integridade aos indivíduos, famílias e comunidades, ampliando e
equipando o cuidado espiritualmente e psicologicamente fundamentada no
aconselhamento e na psicoterapia”. Fundaram também a Associação de Educação Pastoral
Clínica (Association for Clinical Pastoral Education – ACPE), cujo objetivo é o
treinamento clínico de pastores e capelães para a atuação na clínica psicoterápica com
fundamentação bíblica. Graças a essas entidades, e outras congêneres que surgiram
posteriormente, é cada vez maior o número de clérigos que passaram a servir nos hospitais
e nos órgãos de saúde mental.

28
Além de entidades como as mencionadas acima, também surgiram jornais revistas
dedicados a divulgar a ação conjunta da psicologia e da religião, tais como The Journal of
Religion and Health (Jornal da Religião e Saúde), em 1961, e The Journal for the
Scientific Study of Religion (Jornal do Estudo Científico da Religião).

Ao procurarem essa verdade integrada, esses cristãos têm sustentado fortemente a


autoridade final das Escrituras, mas sem temer uma confrontação direta com os
aparentes pontos de tensão em conflito. Paul Tournier e Gary Collins são dois
escritores bem conhecidos dessa tradição. The Journal of Psychology and Theology
e The Journal of Psychology and Christianity contêm os escritos de muitos outros.
Várias organizações também estão associadas a essa posição. A Associação Cristã
para Estudos Psicológicos é um, grupo internacional de mais de mil profissionais
cristãos no ramo da saúde mental, dedicados à integração entre a psicologia e a
teologia. De modo semelhante, vários programas de pós-graduação foram
desenvolvidos desde 1960, com o alvo explícito de fornecer treinamento dentro do
contexto da integração entre a psicologia e a teologia cristã (Benner, 1988, vol. III,
pp. 200-201).

4. Os objetivos comuns da psicologia e da religião

O foco da psicoteologia está em ver o homem como um ser completo:


biopsicossocial e espiritual.
A psicoteologia é vista como uma área nova de estudo, mas na realidade não é algo
novo e, sim, um diálogo entre a psicologia e a teologia, as quais haviam se separado pelas
desavenças criadas no início da história da psicologia científica, em fins do séc. 19 e ao
longo da maior parte do séc. 20, mas que estão se reencontrando graças à atuação de
pessoas mais tolerantes de ambas as linhas de pensamento, graças às descobertas das
neurociências e, principalmente, pelo fato de que ambas têm muitos pontos em comum,
entre os quais está o desenvolvimento global do ser humano.
Obviamente há divergências entre ambas, e muitas das quais são irreconciliáveis,
mas nada que o respeito mútuo às suas respectivas áreas de atuação, sem radicalismos, não
possa contornar. O diálogo entre teologia e psicologia tem muito mais a oferecer a ambas,
ao homem e ao cristianismo.

Embora haja tensões entre a teologia e a psicologia, devemos continuar a procurar


maneiras de as duas se encaixarem [...] Cada disciplina tem sua tarefa sem igual e
deve respeitar os domínios da outra. Ao mesmo tempo, há uma relação interessante
e íntima entre a tarefa de salvar e curar almas e a tarefa de salvar mentes, psiquês e
personalidades das garras do desespero. Isto realmente é pertinente, porque a igreja
deve ocupar-se com a totalidade da personalidade. A psicologia da religião,
portanto, procura introduzir no estudo científico da religião e/ou da fé um respeito
mútuo para com as percepções tanto da teologia como da psicologia, a fim de
compreender a natureza e o comportamento do homem de modo mais completo
(Butman, 1988, vol. III, p. 206).

29
Neuroteologia

O que é a neuroteologia? E como são feitos seus estudos?

É o estudo das áreas cerebrais envolvidas cem mecanismos da fé e da meditação.

Foram feitas experiências com monges e freiras em clausura mostrando como e


quando áreas cerebrais se alteravam durante a meditação e a oração. Viu-se que, em estado
meditativo, eles apresentam alterações reais e detectáveis. Há mudanças na química do
sangue e das ondas cerebrais.

“Neuroteologia”, também conhecida como Bioteologia ou Neurociência Espiritual


estuda os processos cognitivos que produzem experiências subjetivas tradicionalmente
categorizadas com religiosas ou espirituais e relacioná-las com padrões de atividade no
cérebro, descobrir como e porque elas evoluíram nos humanos, e os benefícios dessas
experiências. O assunto tem formado a base de vários livros de ciência popular.

Áreas de estudo da Neuroteologia

O MRI scanner é um instrumento que ajuda a estudar o cérebro em funcionamento.


E um instrumento de grande ajuda para a Neuroteologia.

Existem varias áreas de estudo dentro da neuroteologia. Algumas delas são:

1. Estudo sobre como o cérebro humano pode ter evoluído para produzir
experiências (Neuroteologia evolutiva).
2. Estudo do desenvolvimento espiritual, do sentido de Deus e do Sagrado, e de
experiências religiosas em crianças. Do nascimento ate a infância (Neuroteologia
desenvolvimental).
3. Estudo do comportamento espiritual e religioso da raça humana por toda a
história, e de ancestrais de humanos como o Homo habilis e o Homo erectus, e espécies
próximas como o Homo de Neanderthal (Neuroteoantropologia).
4. Estudo do comportamento religioso e experiências religiosas em primatas e
outros mamíferos com inteligências avançada (Zooneuroteologia) Principais dúvidas
dentro da Neuroteologia.

A meditação pode levar a pessoa a ter emoções religiosas, como a sensação de estar
em contato com Deus.
Evolução - Porque e como as experiências espirituais evoluíram?
Idade – Bebês ou crianças podem ter experiências espirituais? Quando o cérebro
humano fica apto a ter experiências espirituais? Existe alguma relação neurológica com o
fato de que a maioria dos líderes religiosos tiveram suas epifanias nos seus 30 anos?

30
Alucinógenos e Enteógenos – Porque algumas substâncias causam experiências
espirituais?
Sexo – Como as experiências espirituais se diferem entre homens e mulheres?
Podemos estabelecer uma relação entre essas diferenças com o Dimorfismo sexual do
cérebro da espécie humana?
Sonhos - Qual é a relação entre experiências espirituais e sonhos? O indivíduo pode
ter experiências espirituais enquanto dorme?
Hipnose – A experiência espiritual compartilha mecanismos com a hipnose?
Música - Cerimônias religiosas quase sempre envolvem música, e música pode
gerar sentimentos religiosos, e experiências espirituais. Porque isso acontece?
Genética – A herança genética pode influenciar na facilidade de ter experiências
espirituais. O gene o (VMAT2) chamado de gene divino da ao ser humano a predisposição
de ter experiências espirituais?
Espécies – Primatas e mamíferos com inteligência avançada como o elefante ou
golfinhos podem ter experiências espirituais? Humanos primitivos podiam ter experiências
espirituais, elas eram semelhantes a de humanos modernos??
Definindo e medindo a experiência e sentimentos espirituais/religiosos
Neuroteologia tenta explicar a atual base neurológica para aquelas experiências, que
são popularmente chamadas de espirituais, religiosas, ou místicas (e outros termos) para
formas anormais de cognição, que quase sempre envolvem um ou mais dos seguintes
itens:
A gravura de Flammarion é usada frequentemente para ilustrar a experiência
religiosa.
Exercícios de respiração como o Pranayama podem causar experiências religiosas.
Inefabilidade - a experiência não pode ser adequadamente ser colocada em palavras;
Noético: o indivíduo sente que ele aprendeu alguma coisa de valor da experiência;
Inexistência do espaço e tempo: a experiência causa a sensação de que não existe
mais tempo e espaço;
Sagrado: a experiência cria a sensação de que tudo é sagrado e divino;
União: sentimento de união com tudo no universo, união com Deus ou alguma força
maior que o indivíduo.
Outra Realidade: sentimento de que uma nova realidade ou a realidade definitiva foi
revelada a ele.

Realidade Divina - Consciência do absoluto


Sensações Positivas: a experiência é bem prazerosa e causa sentimento
profundamente positivo;
Efemeridade: a experiência é temporária; o indivíduo rapidamente volta ao estado
normal da mente;
Passiva: a experiência acontece para o indivíduo quase sem o seu controle.
Dissolução do Ego: consciência do “eu” desaparece.
Essas experiências são vistas como base de diferentes formas de religião e crenças.
31
Eventos que podem causar experiências espirituais

Técnicas de concentração, meditação, contemplação e que focam a atenção.


1. A Oração
2. Rituais religiosos
3. Experiências de quase morte
4. Exercícios de respiração (Ex : Pranayama)
5. Música
6. Dança
7. Jejum prolongado
8. Consumo de substâncias psicoativas (Como DMT (Ayahuasca), Salvia
divinorum, Peiote e várias outras).

Partes do cérebro relacionadas a experiências espirituais

O Lobo frontal em cinza; Lobo parietal em amarelo; Várias partes do cérebro estão
relacionadas com experiências místicas. São elas: Lobo occipital em verde; Lobo temporal
em rosa.
32
O Lobo parietal: Diminuição de neuro-sinapses25 levando a sensação de união com
o universo.

O Lobo frontal: Concentração ampliada (meditação) bloqueia impulsos neurais


externos, como sons, toque, frio, calor.
O Lobo temporal: Ativação intensa de emoção, como alegria extrema.
O Lobo occipital: Processa imagens que facilitam praticas espirituais (Símbolos
religiosos como a estrela de Davi, cruz, velas, etc.) História e Metodologia de estudo.

Cientistas há muito tempo têm especulado que sentimentos religiosos poderiam


estar ligados a lugares específicos no cérebro. Um dos mais antigos escritos sobre o
assunto datam de 1892, nos quais alguns textos sobre doenças cerebrais falavam de uma
ligação entre “emoção religiosa” e epilepsia.
Em estudos na década de 1950 e de 1960, foram tentados o uso de EEGs para
estudar o comportamento das ondas cerebrais relacionado com estados espirituais. Em

25
As sinapses são junções especializadas em que uma célula influencia diretamente outra célula através da transmissão de um
sinal elétrico ou químico. No caso dos neurônios as terminações dos axônios estabelecem ligações com as dendrites ou com o
corpo celular dos neurônios seguintes.
33
1975, o neurologista Norma Geschwidn descreveu pacientes epilépticos com intensa
experiência religiosa.

Durante a década de 1980s o Dr. Michael Persinger estimulou o lobo temporal de


pacientes humanos com um campo magnético fraco usando um equipamento que ele
chamava de capacete de Deus (God helmet). Os pacientes relataram ter a sensação de
“uma presença celestial no quarto”. Esse trabalho ganhou atenção na época, mas não foi
explicado o mecanismo que causava esses efeitos. Em 1987, Michael Persinger publicou
um livro sobre o assunto intitulado “Neuropsychological Bases of God Beliefs”.

Numa tentativa de focalizar o crescente interesse no campo, em 1994, o professor


Laurence O. McKinney publicou o primeiro livro com o termo neuroteologia no título:
“Neurotheology: Virtual Religion in the 21st Century” (Neuroteologia: Religião Virtual no
Século XXI), escrito para uma audiência leiga. O livro ganhou grande interesse de pessoas
como o Dalai Lama e o eminente teólogo Harvey Cox.

Um livro de 1998 sobre o assunto ganhou muita atenção foi “Zen and the Brain”,
escrito pelo Neurologista e Praticante de Zen, James H. Austin.

No final da década de 90, os neurocientistas Andrew Newberg e Eugene d’Aquili


usaram várias técnicas de neuroimagem em budistas experientes em profunda meditação, e
nos anos subsequentes fizeram testes em freiras enquanto estavam rezando. Andrew
Newberg e Eugene d’Aquili escreveram vários livros sobre o assunto:

1. Em 1999, “A mente mística: entendo a biologia da experiência religiosa”


2. Em 2002, “Porque Deus não quer ir embora: Ciência do cérebro e a biologia da
crença”.
3. Em 2006, “Porque acreditamos no que acreditamos: Descobrindo sobre nossa
necessidade biológica por significado, espiritualidade e verdade”
4. Em outubro de 2007, “Nascidos para acreditar: Deus, Ciência, e a origem da
crença ordinária e extraordinária”.

Alguns recentes estudos com o uso de neuroimagem para localizar as regiões no


cérebro ativas durante experiências que os pacientes associam como espiritual. David
Wulf, um psicólogo da Wheaton Universidade de Massachusetts, disse que o “estudo de
imagens do cérebro com os novos e poderosos aparelhos de neuroimagem como o MRI
scanner (imagem), junto com a consistência do histórico de experiências espirituais por
várias culturas, pela história e por religiões, sugerem um ponto em comum , e que isso
reflete a estrutura e processos no cérebro humano. Ecoando antigas teorias de que
sentimentos associados com experiências místicas ou religiosas são aspectos normais do
funcionamento do cérebro sob circunstâncias extremas, e não comunicação direta com
Deus ou outras entidades.”

34
Alguns cientistas dizem que a neuroteologia pode reconciliar religião e ciência, mas,
se não conseguir, a neuroteologia pode desenvolver métodos seguros e precisos de indução
a experiências espirituais para pessoas que não conseguem tê-las facilmente. Por causa dos
efeitos positivos que essas experiências causam em pessoas que já a tiveram, alguns
cientistas especulam que a habilidade de induzi-las artificialmente pode transformar a vida
de algumas pessoas, tornando-as mais felizes, saudáveis e com melhor concentração.

“Gene Divino”

A hipótese do gene divino propõe que alguns seres humanos carregam um gene que
lhes dão a predisposição para episódios interpretados por algumas pessoas como revelação
religiosa. A ideia foi postulada e promovida pelo geneticista Dr. Dean Hamer, diretor da
Unidade Estrutura do gene e regulação, no Instituto nacional do câncer nos Estados Unido.
Hamer escreveu um livro sobre o assunto intitulado, O gene divino: Como a fé e pré-
programada dentro dos nossos genes . (The God Gene: How Faith is Hardwired into our
Genes)

De acordo com a hipótese, o gene divino (VMAT2), não é “codificado” para a


crença em Deus, mas é arranjado fisiologicamente para produzir sensações associadas, por
alguns, com a presença de Deus ou outras experiências místicas, ou mais especificamente
espiritualidade como um estado da mente.

Que vantagens evolutivas isso pode levar, e de que esses efeitos vantajosos são
efeitos colaterais , são questões que ainda estão para serem totalmente exploradas. Dr.
Hames teorizou que a transcendência faz as pessoas ficarem mais otimistas, o que leva
elas a ficarem mais saudáveis e com mais probabilidade de terem muitos filhos.

A Inteligência Espiritual26

No início do século XX, o QI (Quociente de Inteligência) tornou-se assunto


constante de conversas. Nossa inteligência intelectual, ou racional, é a que usamos para
solucionar problemas lógicos ou de grande importância. Psicólogos desenvolveram testes
para avaliá-la, e estes tornaram-se instrumentos para classificar o grau de inteligência dos
indivíduos, indicando suas habilidades e talentos. Quanto mais alto o QI do indivíduo,
dizia a teoria, maior sua inteligência

Em meados da década de 1990, Daniel Goleman popularizou pesquisas realizadas


por diversos neurocientistas e psicólogos, demonstrando que a inteligência emocional –
que, como abreviação conveniente, chamamos de QE nos dá percepção de igaul
importância. O QE nos dá percepção de nossos sentimentos e dos sentimento dos outros.
Dá-nos empatia, compaixão. Motivação e capacidade de reagir apropriadamente á dor e ao

26
ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL. Rio de Janeiro: Viva Livros, 2012, p. 18-21.
35
prazer. Conforme observou Goleman, o QE constitui requisito básico para o emprego
efetivo do QI. Se estão lesionadas as áreas cerebrais com as quais sentimos, nós pensamos
com menos eficiência.

No fim do século XX, um conjunto de dados científicos, ainda não assimilados,


mostrou-nos que há um terceiro “Q”. A descrição total da inteligência humana pode ser
finalmente completada com a discussão da inteligência espiritual ou, abreviadamente, QS
– Quociente Espiritual (Spiritual Quocient). Por QS nos referimos à inteligência com que
abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor; a inteligência com a qual
podemos inserir nossos atos e nossa vida em um contexto mais amplo, mais rico, mais
gerador de significado; a inteligência co a qual podemos avaliarmos que um curso de ação
ou caminho na vida faz mais sentido do que outro. O Quociente Espiritual (QS) é o
embasamento necessário para o funcionamento eficaz do QI e do QE. É a nossa
inteligência final.

Nem o QI nem o QE, separadamente ou combinados, são suficientes para explicar a


enorme complexidade da inteligência humana nem a riqueza da alma do homem e de sua
imaginação. O QS permite que seres humanos sejam criativos, mudem as regras, alterem
situações. Permite-nos trabalhar com limites, participar do “jogo infinito”. O QS nos dá
capacidade de escolher. Presenteia-nos com um senso moral, uma capacidade de amenizar
normas rígidas com compreensão e compaixão, bem como com a capacidade de saber
quando a compaixão e a compreensão chegaram a seus limites. Usamos o QS para lutar
com questões acerca do bem do mal, e imaginar possibilidades irrealizadas – sonhar,
aspirar, superar situações difíceis.

A base do QS opera dentro do cérebro – das funções neurológicas unificadoras do


cérebro – e integra todas nossas inteligências. O QS nos torna as criaturas plenamente
intelectualizadas, emocionais e espirituais que somos.

Em condições ideais, as três inteligências básicas funcionam juntas e se apóiam


mutuamente. O modo como funciona nosso cérebro permite que elas tenham condições de
fazer isso, mas todas – o QI, o QE e o Qs – apresentam uma área própria em que são mais
fortes e podem também funcionar separadamente. Isto é, não somos necessariamente
poderosos ou fracos em todas as três ao mesmo tempo. Não precisamos ter um poderoso
QI ou QS para termos um QE alto. Poderemos ser fortes em QI e fracos em QE, e assim
por diante.

TRÊS PROCESSOS PSICOLÓGICOS

Toda a psicologia tem por fundamento dois processos (QI e QE). A inteligência
espiritual (QS) introduz um terceiro e, portanto exige expansão da psicologia como ciência
e uma compreensão mais profunda do Eu humano.

36
Inicialmente, Freud definiu os dois processos psicológicos como primári e
secundário. O primeiro está associado ao Id, aos instintos, ao corpo, às emoções e ao
inconsciente. O segundo está ligado ao Ego, à mente consciente, racional. Para Freud, este
último era o mais alto, superior: “Onde o Id era, o Ego será”. Outros autores, seguindo
Freud, enfatizaram ocasionalmente a maior importância do processo primário. Toda
psicologia subsequente, porém, incluindo a ciência cognitiva, manteve a estrutura dos dois
processos. O processo primário poderia ser denominado QE (com base na “fiação neural
associativa” do cérebro e o secundário, QI (com base na “fiação neural serial” do cérebro).

Fundamentada como está nesses dois processos, a psicologia ocidental, na verdade


interpõe um espaço vazio, um buraco, no centro do Eu. Os processos primário e
secundário rivalizam entre si por controle e expressão. Nem a razão nem as emoções
podem apelar para qualquer outra coisa além de si mesma. Não têm origem comum, por
meio da qual possam ser integradas e transformadas. Não incluem uma dimensão
transpessoal. O eu jungiano ou “função transcendental” jungiana, constitui uma tentativa
de estabelecer uma ponte entre as duas margens. A neurobiologia porém, ainda não havia
se desenvolvido o suficiente durante a vida de Jung (falecido em 1961) e não podia
oferecer base científica para sua psicologia.

O QS (com base no terceiro sistema neural, as oscilações neurais sincronizadas que


unificam os dados em todo o cérebro) oferece-nos, pela primeira vez, um terceiro e viável
processo. Esse processo unifica, integra e reveste-se do potencial de transformar o material
surgido dos outros dois processos (QI e QE). Facilita um diálogo entre a razão e a emoção,
entre a mente e o corpo. Fornece um núcleo para crescimento e transformação, oferece ao
Eu um centro ativo, unificador, gerador de sentido.

A descoberta de que o QS fornece à psicologia um processo terciário exige o


desenvolvimento de um novo modelo psicológico do Eu e da personalidade humana. Os
modelos anteriores tiveram duas “camadas”: a externa, ou a personalidade consciente,
racional; e a interna, formada de associações e motivações, na maior parte inconscientes.
O terceiro processo introduz uma terceira camada, um ponto central.

Danah Zohar afirma que o QS é aquele que repousa na parte mais profunda do Eu
conectada com a sabedoria que nos chega de além do Ego ou da mente consciente. Nós
diríamos que procede do espírito humano (na visão tricótoma). O QS é anterior a todos os
valores específicos e a qualquer cultura específica. É por conseguinte, anterior também a
qualquer forma que a expressão religiosa possa assumir. Torna possível (e talvez até
mesmo necessário) o religioso, mas independe da religião.

37
“O MÓDULO DEUS”27

Os lóbulos temporais estão estreitamente ao sistema límbico, ao centro de emoções


e à memória do cérebro. Nesse sistema, há duas partes de importância crucial, a amídala,
uma estrutura pequena em forma de noz no centro da área límbica, e o hipocampo, que é
essencial para registrar experiências na memória. O trabalho do Dr. Persinger demonstrou
que, quando esses centros são estimulados, ocorre o aumento de atividade nos lobos
temporais. Reciprocamente, o aumento de atividade nos lobos produz fortes efeitos
emocionais. O envolvimento do hipocampo, crucial para a memória, significa que, mesmo
que a maioria das experiências espirituais dos lobos leve apenas alguns segundos, elas
podem produzir uma forte e duradoura influência emocional por toda a vida da pessoa –
não raro descrita como “transformadora da vida”. O envolvimento do sistema límbico
demonstra também a importância do fator emocional na experiência religiosa ou
espiritual, em contraste com a mera crença, que pode ser inteiramente intelectual.

Neurobiólogos como Persinger e Ramachandran batizaram a área dos lóbulos


temporais ligada à experiência religiosa ou espirituais como “o ponto Deus”, ou “módulo
Deus”.

27
ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL. Rio de Janeiro: Viva Livros, 2012, p. 106-108.
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Lóbulo da Ínsula

Suas principais funções são fazer parte do Sistema Límbico.


O sistema límbico é a unidade responsável pelas emoções e comportamentos sociais
e sexuais e com o processamento da memória;
Os processos místicos ou espirituais valem-se das mesmas estruturas neurais que o
processo sexual, mas isso não significa que sejam o mesmo tipo de experiência. Segundo
Paul D. Maclean, o êxtase sexual é gerado no hipotálamo – estrutura mais primitiva do
sistema límbico (Lobo da ínsula).
As experiências transcendentais, por lado, dependem de estruturas mais elevadas da
cognição, sobre os lobos frontais, o lobo temporal direito e outras áreas de associação.
O cérebro e o corpo28

Falando a respeito de cérebro e corpo, Jacob Bronowsky, expoente da cultura


judaica e filósofo natural, escreveu algo que se aplica, igualmente, à visão da
singularidade da pessoa. Ele disse que a totalidade do ser humano não deve ser violada
pela separação de cérebro e corpo. “Não existe um observador, pequeno que seja, que
fique observando na câmara escura dentro da nossa cabeça”. O que há de errado no
dualismo cartesiano de mente e corpo?, ele pergunta. O erro é que imaginamos o cérebro
como sendo apenas um receptor e processador de informações que instrui os músculos do
corpo, já falseamos todo o procedimento. “Assim que se separa o cérebro do músculo e se
pergunta ao primeiro que ordem ele vai dar, adultera-se a natureza do cérebro”. A
totalidade mente-corpo forma uma unidade, portanto uma ação não é ação de um ou de
outro, mas da totalidade da pessoa”.
28
GOMES, Wadislau Martins. Aconselhamento Redentivo. 1ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 149.
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BIBLIOGRAFIA
1. ALBISETTI, Valério. De Freud a Deus. São Paulo: Paulinas, 1997.
2. ALMEIDA, Marcos Emanoel P. de. O ACONSELHAMENTO BÍBLICO.
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histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Edições Vida Nova, 1988.
4. BUTMAN, Richard Eugene. Psicologia da religião. In ELWELL, Walter A.
Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Edições Vida Nova, 1988.
5. Dicionário Grego - Português e Portugûes - Greco - Isidro Pereira, S. J.
6. Dicionário do Novo Testamento Grego - W. C. Taylor.
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Danker.
9. PINHO, Gilson de Almeida. Alma – O verdadeiro homem interior: Uma introdução à
psicologia bíblica. São José dos Campos, 2002.
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Leopoldo, RS: Sinodal, 2003.
11. SILAS, Molochenco. Curso Vida Nova de Teologia Básica – Aconselhamento: São
Paulo: Vida Nova, 2008.
12. http://exposicaoteologica.blogspot.com.br/2009/11/aconselhamento-noutetico-
noutetico-vem.html.
13. http://prcarlosmendes.blogspot.com.br/2009/10/quais-compromissos-teologicos-
sao.html.

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Biografia do autor
O pastor Antônio Carlos Gonçalves Bentes é capitão do Comando da Aeronáutica,
Doutor em Teologia pela American Pontifical Catholic University (EUA), conferencista,
filiado à ORMIBAN – Ordem dos Ministros Batistas Nacionais, Pós graduado em
Ciências da Religião e Psicologia Pastoral, professor dos seminários batistas: STEB,
SEBEMGE e Koinonia e também das instituições: Seminário Teológico Hosana,
UNITHEO e Escola Bíblica Central do Brasil, atuando nas áreas de Teologia Sistemática,
Teologia Contemporânea, Apologética, Escatologia, Pneumatologia, Teologia Bíblica do
Velho e Novo Testamento, Hermenêutica, e Homilética. Reside atualmente em Lagoa
Santa, Minas Gerais. Exerce o ministério pastoral na Igreja Batista Getsêmani em Belo
Horizonte - Minas Gerais. É casado com a pastora Rute Guimarães de Andrade Bentes,
tem três filhos: Joelma, Telma e Charles Reuel, e duas netas: Eliza Bentes Zier e Ana
Clara Bentes Rodrigues.

Pedidos ao Pr. A. Carlos G. Bentes


E-mail: pastorbentesgoel@gmail.com

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