Sunteți pe pagina 1din 31

DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF.

FÁBIO BATISTA CÁCERES

ÍNDICE SISTEMÁTICO

APRESENTAÇÃO 02
1 - CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO ESTUDO BANCÁRIO 03
2 - APLICAÇÃO DO CDC AOS BANCOS 04
3 - CONCESSÃO DE CRÉDITO COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 07
3.1 - JUROS 07
3.1.1 – JUROS REMUNERATÓRIOS 08
3.1.1.2 – LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS PELO CDC 09
3.1.2 – JUROS MORATÓRIOS 11
3.2 – CORREÇÃO MONETÁRIA 12
3.3 – MULTA MORATÓRIA (MULTA POR ATRASO) 12
3.4 – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA 13
3.5 – POSSIBILIDADE DE CAPITALIZAÇÃO DE JUROS POR BANCOS 15
3.6 – COBRANÇA DE TARIFAS E ENCARGOS DE TERCEIRO 17
3.7 – POSSIBILIDADE DE TUTELA ANTECIPADA (LEI 12.810/13 DE 15.05.13) 17
4 – PRÁTICA JURÍDICA EM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 19
4.1 – QUESTÕES PRÁTICAS 19
4.2 – PROBLEMAS PRÁTICOS - RACIOCÍNIO JURÍDICO E TREINO 22
5. – CONTRATO DE LEASING OU ARRENDAMENTO MERCANTIL 25
5.1 – A CONSTRUÇÃO JURÍDICA DO LEASING NO BRASIL 25
6 – PRÁTICA JURÍDICA EM CONTRATOS DE LEASING 29
6.1 – QUESTÕES PRÁTICAS 29
6.2 – PROBLEMAS PRÁTICOS PARA RACIOCÍNIO JURÍDICO E TREINO 30

1
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

APRESENTAÇÃO

O presente curso é destinado ao profissional do Direito que deseja familiarizar-se com os


principais temas que envolvem o campo do Direito Bancário.
Na qualidade de Professor de Direito, sempre fui cobrado por meus alunos nas aulas de
“contratos bancários” para confeccionar uma obra capaz de imprimir minha principal característica didática,
que é transformar institutos jurídicos complexos em idéias de fácil assimilação, potencializando, sempre,
uma boa compreensão por parte dos discentes.
Ainda, com especial atenção a constante necessidade de atualização da obra, neste ano de
2013 houve a abordagem dos recentes julgados do Superior Tribunal de Justiça acerca dos assuntos
Bancários.
Sem qualquer pretensão de esgotar o assunto, a presente obra é uma singela resposta a essa
cobrança e traz ao leitor, de forma clara e absolutamente didática, as ferramentas necessárias para
compreender e desenvolver teses jurídicas atreladas aos principais institutos jurídicos que norteiam o
estudo financeiro, tal como a idéia central de formulação dos juros; o que é anatocismo; estrutura do
contrato bancário de alienação fiduciária; leasing e suas peculiaridades; além de teses jurídicas para defesa
de consumidores em juízo; e, teses jurídicas para defesa de instituições financeiras.
Boa leitura!
Prof. Fábio Batista Cáceres

2
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

1. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO ESTUDO BANCÁRIO

O Direito Bancário, desde a Assembléia Constituinte instalada em 1987 sempre foi objeto de
grandes discussões no parlamento brasileiro.
Tanto é verdade, que a atual Constituição Federal Brasileira, fruto da Assembléia
supramencionada, deu especial atenção ao tema, eis que materializou em seu artigo 192 a vontade
constitucional para tratar das matérias afetas ao sistema financeiro nacional.
O artigo 192 da Constituição Federal sofreu profunda reformulação no ano de 2003, mas sua
antiga redação era demasiadamente abrangente, pois além de delimitar a regulamentação do sistema
financeiro somente por meio de edição de lei de natureza complementar, ainda dispunha da limitação dos
juros remuneratórios a patamar de 12% ao ano, conforme podia ser observado no derrogado parágrafo 3º
do artigo 192.
Pois bem. Como dito, o artigo 192 determinava que todo o sistema financeiro era tangenciado
pelos preceitos constitucionais estabelecidos em seu próprio bojo, ou ainda, por meio da edição de lei
complementar.
Importante ressaltar que a Lei 4595/64 que criou o Sistema Financeiro Nacional e traçou as
políticas do Banco Central do Brasil (BACEN) foi recepcionada pela atual Carta Republicana, de modo que
hoje ainda temos a regulamentação do sistema pelas políticas traçadas pelo Banco Central do Brasil –
BACEN.
No ano de 2003 foi promulgada a Emenda Constitucional 40 que alterou significativamente o
artigo 192 da CF/88, tranformando-o em um caput, nada mais dispondo acerca dos juros remuneratórios.
Referido artigo, na sua atual redação, determina que todo o sistema financeiro será regulamentado por lei
complementar, lembrando que o Banco Central, como visto, também regulamenta o setor.
Nesse diapasão, temos que hoje os Bancos estão sujeitos a duas grandes ordens, quais
sejam:
a) edição de lei complementar que regulamente o sistema; ou
b) políticas traçadas pelo Banco Central.
Essas são as considerações que devemos fazer no que toca a constitucionalização do tema.

3
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

2. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS BANCOS

Como já vimos de forma preambular, a constituinte de 1987, procurou dar especial atenção às
atividades ligadas às instituições financeiras.

Tanto é verdade, que a Carta Republicana previa em seu artigo 192, caput, incisos e
parágrafos, toda a regulamentação da atividade bancária e a forma de atuação do Conselho Monetário
Nacional (CMN). Como exemplo, vale lembrar a norma que constava no parágrafo 3º do aludido artigo 192,
que determinava de forma explícita a aplicação de limitação de taxa de juros reais em 12% ao ano, inclusive
com as sanções previstas na chamada “Lei de Usura” (Dec 22.626/33), em caso de inobservância da
norma.

Registre-se, ainda, que o referido artigo 192 determinava que todo o sistema monetário
nacional seria tangenciado por meio de lei complementar. Diante disso, outra conclusão não havia, senão
pelo entendimento de que o artigo 192 era uma norma constitucional de eficácia limitada, eis que, a
plenitude dos seus efeitos, estava diretamente subordinada a advento de lei complementar.

O poder constituinte reformador entendeu por bem alterar de forma significativa o artigo 192 da
Constituição Federal. Realmente o fez por meio da promulgação da Emenda Constitucional 40/2003, que
suprimiu do aludido artigo todos os seus incisos e parágrafos, inclusive no que tange à limitação de juros
em 12% ao ano.

Destarte, permaneceu no referido artigo disposição no sentido de que o Sistema Financeiro


Nacional permanece estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e a servir os
interesses da coletividade, em todas as partes que o compõe, e, que o Sistema Financeiro Nacional será
regulado por lei complementar.

Basta simples interpretação gramatical para verificar-se que, ainda que reformado pelas
disposições da EC 40/2003, o artigo 192 permanece sendo uma norma constitucional de eficácia contida,
ou seja, sua plenitude de eficácia depende, necessariamente, de lei complementar.

Ressalte-se que o poder constituinte originário, diga-se de passagem, em seu artigo 5º, inciso
XXXII, estabeleceu como garantia individual e coletiva, a defesa do consumidor pelo Estado, na forma da
lei.

Pois bem. Diante disso, em 1990 foi promulgada a Lei 8.078, diga-se, lei ordinária, intitulada
como o Código de Defesa do Consumidor. Tal lei abarcou de forma abrangente todas as relações tidas
como de consumo, ou seja, aquelas de produção, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos realizados pelos fornecedores ou importadores aos

4
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

consumidores finais, e ainda, a prestação de serviço nas mesmas hipóteses, nos termos dos artigos 2º e 3º
da referida lei.

As instituições financeiras, registre-se, não foram esquecidas pela severidade das disposições
do CDC, pois a natureza de suas atividades está explicitamente regulada pelo parágrafo 2º, do artigo 3º.

A partir de então, vêm se alastrando no Poder Judiciário nacional verdadeira batalha


doutrinária acerca da aplicabilidade do CDC às instituições financeiras, vez que antagônica a regra do
parágrafo 2º do artigo 3º com as disposições do artigo 192 da Carta Magna que determina de forma
expressa que o Conselho Monetário Nacional será regulado por lei complementar.

Após anos de discussão e teses até discrepantes, pergunta-se: o CDC se aplica ou não às
instituições financeiras?

Há os que entendem que sim, dentre eles ministros do Supremo Tribunal Federal, juízes,
advogados, promotores e demais juristas.

Não obstante, há os que entendem que não, dentre eles alguns integrantes das classes
supracitadas.

Objetivando que o CDC não tivesse aplicação aos bancos nas relações com seus clientes, a
Confederação Nacional das Instituições Financeiras (Consif), ajuizou perante o STF a ADI (Ação Direta de
Inconstitucionalidade), autuada sob nº 2.591, para declarar inconstitucional o parágrafo 2º do artigo 3º do
CDC, pois, como estudado, o Sistema Financeiro Nacional deve ser regulado por lei complementar e não
por lei ordinária, como é do caso do CDC.

Referida ADI foi julgada em sessão plenária pelo Supremo Tribunal Federal no dia 7/6/06, e,
por maioria de votos (nove a dois), julgou-se improcedente o pedido formulado pela Consif, concluindo pelo
entendimento de que as relações de consumo de natureza bancária ou financeira devem ser protegidas
pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Entendeu o STF, sucintamente, que a norma do parágrafo 2º do artigo 3º do CDC não é


inconstitucional (a contrario sensu constitucional), pois a Constituição Federal estudada de forma
principiológica quis que o CDC fosse aplicado aos consumidores inclusive de instituições financeiras, eis
que tal atividade é de interesse da coletividade e deve inclusive ser regulada pelo artigo 5º, inciso XXXII da
Carta Magna.

A título de exemplo, vale transcrever o entendimento do Ministro Celso de Mello, que consta no
informativo de notícias do site do STF: “o Código de Defesa do Consumidor (CDC) cumpre esse papel ao
regulamentar as relações de consumo entre bancos e clientes. O Sistema Financeiro Nacional (SFN)

5
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

sujeita-se ao princípio constitucional de defesa do consumidor e o CDC limita-se a proteger e defender o


consumidor, o que não implica interferência no SFN”, assim concluindo pela aplicabilidade das regras do
CDC às atividades bancárias.

Em síntese, pelo que se analisa, a decisão do STF tem efeito erga omnes em razão de ter sido
proferida em ADI.

Assim sendo, nenhum juiz, em tese, pode decidir em discordância com o julgamento da ADI,
mas a verdade é que tal matéria acaba por ser tornar pacificada, pois existe a tendência natural do
Judiciário seguir o entendimento do STF.

Diante disso, cabe aos advogados das instituições financeiras serem sapientes, e caso a caso,
rebaterem todas as disposições regradas pelo CDC, pois como analisado, lutar contra a aplicabilidade
desse dispositivo significa nadar contra a maré, como o dito popular.

Vale registrar que compete ao causídico refutar ponto a ponto as disposições do CDC em face
dos contratos bancários objetos dos litígios judiciais, defendendo que as taxas de juros praticadas pelos
bancos possuem limitações estritamente nas resoluções do Banco Central do Brasil (Bacen). Este
entendimento, inclusive, encontra-se agasalhado na Súmula 296 do Superior Tribunal de Justiça (STJ): “Os
juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de
inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual
contratado”.

Ainda, como tese de defesa, pode-se utilizar a Súmula 596 do STF: “As disposições do Dec.
22626/33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por
instituições públicas ou privadas que integram o sistema financeiro nacional”.

Com a declaração de constitucionalidade do parágrafo 2º, do artigo 3º do CDC, a relação de


consumo entre os bancos e seus clientes fica configurada.

Assim, obviamente os advogados de consumidores deverão analisar as situações jurídicas


estabelecidas por seus clientes com os olhos voltados às disposições do CDC, o que evidentemente dá
maior força protetiva a parte mais frágil nas lides forenses.

Em suma, essas são as considerações pertinentes ao tema objeto de estudo nesse capítulo.

6
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

3 – CONCESSÃO DE CRÉDITO COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Essa forma contratual é bastante usada na atividade bancária, especialmente na viabilização


de aquisição de veículos automotores e motos.
Referido negócio jurídico possui algumas peculiaridades interessantes, eis que a instituição
financeira (contratada) concede ao particular, em regra consumidor (contratado), determinada quantia em
dinheiro para viabilizar a aquisição de um determinado produto.
Sendo assim, estabelece-se entre contratante e contratado um verdadeiro laço de confiança,
afinal, a parte contratada disporá de considerável quantia em dinheiro ao contratante, que obviamente é
pessoa desconhecida – relação de fidúcia = confiança.
Por outro lado, em que pese ter precedido à contratação uma verdadeira pesquisa das
condições financeiras do consumidor, o fato é que pela relação de fidúcia estabelecida, a instituição
financeira solicita alguma garantia contratual na hipótese de inadimplemento, até porque, sabemos, como
essa modalidade contratual se posterga no tempo, podem ocorrer situações capazes de modificar a
condição financeira do consumidor, como desemprego, por exemplo.
Assim, o consumidor para finalizar o contrato, concede em fidúcia ao contratado (Banco) o bem
que adquire com a concessão de crédito, oportunidade em que se aperfeiçoa essa interessante figura
jurídica.
Note-se que o objeto do contrato de concessão de crédito por alienação fiduciária é o
DINHEIRO e não o BEM, sendo este último, mera “garantia fiduciária”.
O objetivo da parte contratada (Banco) é ser recapitalizado da quantia em dinheiro emprestada,
com a devida remuneração que da operação decorre, conforme veremos adiante.
Todavia, na hipótese de inadimplemento contratual (descumprimento do negócio pelo
consumidor) o Banco passa a ostentar a PROPRIEDADE DO BEM DADO EM GARANTIA, oportunidade em
que pode reavê-lo por meio do ajuizamento de ação de busca e apreensão.
Como o objeto da contratação foi o DINHEIRO e não o BEM, a instituição financeira contratada
procederá a um leilão, com a finalidade de arrecadar dinheiro para “quitar” a dívida do consumidor, ou ao
menos amortizar parte do que é devido. Em regra, o valor objeto da arrecadação em leilão só amortiza parte
do débito, e o consumidor continua devendo vultosa quantia a instituição financeira contratada. Por quê isso
acontece? Ora, como vimos, o objeto do contrato de concessão de crédito com alienação fiduciária é o
DINHEIRO e o consumidor inegavelmente paga muito caro pelo dinheiro que “pega emprestado”, o que faz
com que o próprio bem adquirido seja insuficiente a “quitar” o débito inadimplido.
Passaremos adiante a estudar a composição estrutural dessa modalidade contratual.

3.1 – JUROS

Tema interessante no estudo bancário é o relativo ao instituto dos juros. Isso porque, os juros
compõem a estrutura de praticamente todos os contratos bancários, já que sua natureza pode sugerir uma
remuneração do agente financeiro pela quantia em dinheiro emprestada, ou ainda, uma punição do
contratante consumidor por ter inadimplido determinada parcela. Vejamos.

7
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

3.1.1 – JUROS REMUNERATÓRIOS

Nessa modalidade de juros, como o próprio nome nos revela, há uma “remuneração” do agente
financeiro pelo empréstimo em dinheiro.
Ora, se os Bancos “vivem” de emprestar dinheiro a terceiros, obviamente precisam, como
qualquer outra pessoa, experimentarem uma remuneração em decorrência desse trabalho.
Assim, os juros de natureza remuneratória possuem a finalidade exclusiva de propiciar ao
agente financeiro uma remuneração decorrente da quantia em dinheiro emprestada.
A grande discussão jurídica que paira sobre essa modalidade de juros é no que toca a
mecanismos jurídicos que autorizem sua limitação, já que sabemos todos, os juros praticados no Brasil são
demasiadamente avultosos e prejudiciais a saúde financeira de qualquer cidadão que se socorra de
empréstimo em uma determinada instituição financeira.
Conforme visto no capítulo 1 da presente obra denominada “CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO
ESTUDO BANCÁRIO” o Sistema Financeiro Nacional – SFN está sujeito a regulamentação por duas ordens
jurídicas, quais sejam: a) Banco Central do Brasil – BACEN; e, b) Lei Complementar.
O BACEN como o próprio nome nos revela antes de ser Central é um “Banco”, logo nunca
demonstrou qualquer interesse em limitar os juros praticados no Brasil, deixando que o próprio mercado
regule, por intermédio da concorrência.
Por outro lado, não temos lei complementar no Brasil que limite os juros remuneratórios
praticados, o que nos sugere a ausência de lei ou regulamentação no setor.
É bem verdade, que a Constituição Federal no artigo 192, parágrafo 3º, limitava os juros
remuneratórios em patamar de 12% ao ano. Todavia, como exaustivamente visto, a Emenda Constitucional
– EC nº 40 de 2003 suprimiu do artigo 192 todos os seus “incisos” e “parágrafos”, transformando-o em um
único caput, que por sua vez, remete a regulamentação do setor a Lei Complementar e BACEN.
Assim, pode-se afirmar que hoje no Brasil lamentavelmente não existe, ao menos no campo
normativo, nenhuma norma que limite os juros praticados pelas instituições financeiras.
Aliás, nunca é demais registrar, que alguns advogados “desavisados” postularam em juízo
recentemente a limitação dos juros remuneratórios, fundamentando a tese no derrogado parágrafo 3º do
artigo 192 da Constituição da República.
Pior, magistrados também “desavisados” proferiam sentenças limitando os juros
remuneratórios com fundamento no derrogado parágrafo 3º do artigo 192 da Constituição Federal.
O tema sendo nitidamente de natureza constitucional, não raras vezes desaguava no Supremo
Tribunal Federal – STF, que por sua vez, para eliminar lides calcadas em tese não mais existente na CF/88,
optou por editar a SÚMULA VINCULANTE DE Nº 7, oportunidade em que se registrou o que todos já
sabiam, ou pelo menos deveriam saber, no sentido de que desde 2003 com o advento da EC 40 que retirou
do texto constitucional do artigo 192 o parágrafo 3º não se fala mais em limitação de juros remuneratórios
no Brasil.

8
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

No mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça – STJ sumulou a tese de que a cobrança de
juros remuneratórios superiores à 12% ao ano, por si só, não indica qualquer abusividade – vide súmula
382 do STJ.
Logo, tem-se que NÃO HÁ QUALQUER NORMA JURÍDICA que limite os juros remuneratórios
praticados no Brasil, mas não se pode esquecer que o CDC é aplicável aos Bancos, o que nos sugere uma
criação de tese limitadora dos juros, com fundamento no CDC, conforme veremos.

3.1.1.2 – LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS PELO CDC – UMA CONSTRUÇÃO


JURISPRUDÊNCIAL

Considerando que o CDC se aplica aos Bancos, conforme estudado no capítulo 2 denominado
“APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS BANCOS”, podemos apontar que
referido Código possui uma gana de instrumentos jurídicos desenvolvidos especialmente para proteger o
consumidor de cláusulas abusivas e/ou onerosas.
Basta uma simples análise do CDC para extrairmos do seu texto que é direito básico do
consumidor rever e alterar as cláusulas contratuais que o coloquem em desvantagem exagerada (artigo 6º,
inciso V). No mesmo sentido, estabelece o artigo 51 do CDC no capítulo da proteção contratual que SÃO
NULAS DE PLENO DIREITO as cláusulas abusivas e que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada (artigo 51, inciso IV).
O problema reside basicamente em identificar o que é “abusivo” ou “exagerado”, na medida em
que o CDC não dispõe de nenhuma tabela para apontar referidos abusos, e nem poderia ser diferente, já
que as relações sociais são dinâmicas e seria humanamente impossível prever todas as situações de
“abusos”, ficando a cargo do intérprete da norma, caso a caso, identificar eventuais situações sugestivas de
abusividade.
Nesse sentido, como vimos na presente obra, não há norma jurídica que limite os juros
remuneratórios praticados pelos Bancos, o que sugere que as instituições financeiras estão autorizadas a
cobrar juros de forma “livre”.
Porém, sabemos que existem no Brasil mais de uma centena de Bancos que exploram o
mercado de concessão de crédito direito ao consumidor, e, com base nessa premissa, podemos extrair o
conceito de abusividade repudiada pelo CDC quando uma instituição financeira cobra taxa de juros que
discrepa demasiadamente das taxas praticadas pelos concorrentes em contratos da mesma modalidade.
Exemplo: João necessita de crédito para adquirir seu sonhado veículo automotor. Existem no
mercado centenas de Bancos dispostos a “emprestar” o dinheiro necessário para que João possa adquirir
seu carro. Todos os Bancos, na média, cobram a quantia de 2% a.m. de juros remuneratórios de João, mas
o Banco Dindin, na mesma modalidade de crédito, cobra juros de 8% a.m.. Nota-se que a taxa de juros
cobrada pelo Banco Dindin é 300% maior do que a média do mercado. Nesse sentido, caso João, desatento
ou desavisado, contrate com o Banco Dindin a taxa de juros de 8% a.m., quando no mesmo período os
demais Bancos, na média, cobravam 2%, é obvio que João foi submetido a uma desvantagem exagerava e
a uma cláusula abusiva frente “as práticas do mercado”, podendo socorrer-se de demanda judicial com a

9
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

finalidade de reduzir a taxa de juros praticada no seu contrato ao patamar de 2% a.m., expurgando exatos
6% a.m. de cada parcela, o que ensejará na redução significativa da sua dívida frente ao Banco credor.
Nesse sentido, são inúmeros os acórdãos oriundos do Superior Tribunal de Justiça, no qual
destaco o mais recente:

EDcl no REsp 1242833 / SC


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL
2011/0052788-4

Relator(a)

MIN. MASSAMI UYEDA (1129)

Órgão Julgador

T3 - TERCEIRA TURMA

Data do Julgamento

04/10/2011

Data da Publicação/Fonte

DJe 13/10/2011

Ementa

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - CARÁTER INFRINGENTE - RECEBIMENTO COMO


AGRAVO REGIMENTAL - FUNGIBILIDADE RECURSAL - POSSIBILIDADE -
RECOLHIMENTO PRÉVIO DA MULTA IMPOSTA PELO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO,
DO CPC - NECESSIDADE APENAS NO SEGUNDO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO —
PRECEDENTES - JUROS REMUNERATÓRIOS - AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO EXPRESSA
- LIMITAÇÃO EM 12% AO ANO - ENTENDIMENTO CONTRÁRIO À JURISPRUDÊNCIA
DESTA CORTE - APLICAÇÃO DA TAXA MÉDIA DE MERCADO - CAPITALIZAÇÃO
MENSAL DOS JUROS - ACÓRDÃO RECORRIDO EM DESACORDO COM A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR - RECURSO IMPROVIDO.

Acórdão

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior
Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, a Turma, por unanimidade, receber os
embargos de declaração como agravo regimental e negar-lhe
provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a).
Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Nancy
Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator. Impedido o Sr. Ministro
Ricardo Villas Bôas Cueva.

10
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Assim, em suma, é possível a discussão judicial da limitação dos juros remuneratórios, mas
com a tese supramencionada, que se alinha perfeitamente ao entendimento do Superior Tribunal de Justiça
– STJ.
Ademais, outro ponto que merece registro, já que a presente obra é um verdadeiro manual
auxiliar ao profissional do direito, é o fato de se saber qual é a taxa média de mercado praticada pelos
bancos, para que se possa extrair a tese de abusividade. Pois bem, no sítio do Banco Central do Brasil é
possível verificar TODAS AS TAXAS DE JUROS COBRADAS NO BRASIL, DE TODAS AS OPERAÇÕES
DE CRÉDITO.
Acesse o link abaixo e descubra você mesmo:
http://www.bcb.gov.br/?TXJUROS
Importante ressaltar que o BACEN é uma instituição oficial, portanto a impressão da tabela de
juros é uma excelente fonte de prova para demonstração de abusividade, quando se confronta os juros
contratados, com os que deveriam ser cobrados de acordo com a média de mercado.
Por fim, destaque-se que o advogado, na hipótese de discussão dos juros remuneratórios
praticados pelos Bancos, deverá necessariamente apontar qual é a cláusula contratual que prevê referidos
juros e pedir expressamente a sua revisão, sob pena de inviabilizar tutela jurisdicional nesse sentido.
Referido raciocínio encontra guarida na súmula 381 do Superior Tribunal de Justiça e agora também no
artigo 285-B do CPC (redação dada pela lei 12.810/13), que proíbe aos magistrados conhecerem de ofício
da abusividade de cláusulas contratuais na relação de consumo estabelecida entre Bancos e seus clientes.

3.1.2 – JUROS MORATÓRIOS

Outra modalidade de juros que compõe a estrutura dos contratos bancários são os juros
moratórios.
Por mora, entende-se que sua incidência se dá na “demora”, ou seja, na hipótese de
inadimplemento contratual (descumprimento contratual).
Os juros moratórios não se confundem com os juros remuneratórios, eis que o primeiro só
incide na hipótese de atraso nos pagamentos e sua natureza é evidentemente de encargo punitivo pelo
inadimplemento, porquanto que o segundo possui natureza de remuneração do agente financeiro pelo
capital emprestado.
Logo, não há qualquer irregularidade no contrato bancário quanto prevê a incidência dos dois
juros, eis que, como visto, possuem natureza jurídica absolutamente diversa e a cumulação não implica em
capitalização (cobrança de juros sobre juros – anatocismo).
Os juros moratórios sempre tiveram limitação legal no Brasil. No Código Civil de 1916, que
entrou em vigor em 1917, já constava a limitação dos juros moratórios em 0,5% a.m.
No mesmo sentido, o atual Código Civil promulgado em 2002 e que entrou em vigor em 2003
também limitou os juros moratórios à taxa básica de juros – SELIC.
Considerando que referida taxa básica é flutuante, pacificou-se na jurisprudência que o
percentual dos juros moratórios deverá observar a ordem máxima de 1% a.m., conforme consta na súmula
379 do Superior Tribunal de Justiça.

11
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Em suma, os juros moratórios só devem incidir na hipótese de inadimplemento contratual na


ordem máxima de 1% a.m. e sua cobrança em contratos com previsão de juros remuneratórios não indica
qualquer irregularidade, considerando sua natureza absolutamente diversa, como visto.

3.2 – CORREÇÃO MONETÁRIA

Lidar com dinheiro é uma tarefa complexa. Isso porque envolve uma série de desdobramentos
econômicos, dentro os quais o famoso deságio monetário, que significa desvalorização natural da moeda.
Ora, se uma instituição financeira concede crédito com projeção de recompor o capital emprestado no
decorrer de anos, é evidente que o valor recapitalizado, de forma idêntica a concedida não terá o mesmo
“poderio” financeiro, já que houve depreciação econômica da moeda por conta do deságio monetário.
Almejando evitar esse tipo de prejuízo, fora desenvolvido pela matemática financeira, o instituto
da correção monetária, de modo que o dinheiro é submetido a um índice oficial capaz de corrigi-lo e mantê-
lo com o real valor de comprar, mesmo que no decorrer de anos.
Nesse sentido, considerando que as instituições financeiras lidam com concessão de crédito,
cujo retorno será consumado no decorrer de anos, elas optam por corrigir monetariamente o valor
emprestado, utilizando como lastro sempre um índice oficial previamente fixado pelo governo, em regra, o
INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor.
Ou seja, em linhas gerais é comum encontrarmos nos contratos bancários a incidência, além
dos juros remuneratórios, também da correção monetária, lembrando que corrigir monetariamente o
dinheiro não é obter lucro e sim deixar de perder dinheiro no decorrer dos anos.

3.3 – MULTA MORATÓRIA (MULTA POR ATRASO)

A multa moratória é outro mecanismo normalmente encontrado nos contratos bancários.


Sua finalidade, somada aos juros moratórios e demais encargos que estudaremos adiante, é
de também DESESTIMULAR O CONSUMIDOR A INADIMPLIR o contrato de concessão de crédito.
Sua natureza é de clausula penal moratória e seu percentual, nas hipóteses de relação de
consumo, não deve superar a monta de 2% sobre o valor da parcela inadimplida, conforme se extrai da
melhor doutrina e jurisprudência acerca do assunto.
Não há qualquer irregularidade na cobrança cumulada da multa moratória com os juros
moratórios, pois ambos pertencem ao conglomerado intitulado “encargos de mora”, cujo admissão é
plenamente aceitável no Judiciário Brasileiro.
Não raras vezes, encontra-se em instrumentos negociais de instituições financeiras a previsão
de multas superiores ao limite de 2%, com nítida violação a construção jurisprudencial que se alinha aos
ditames do Código de Defesa do Consumidor para evitar qualquer tipo de abusividade. Na hipótese de se
observar a cobrança em discrepância ao limite supramencionado, entendemos que pode ser exigida a
devolução dos valores cobrados e efetivamente pagos em excesso, em quantia equivalente ao dobro do
que se pagou indevidamente, conforme dicção que se extrai da leitura do parágrafo único do artigo 42 do
Código de Defesa do Consumidor.

12
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

3.4 – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

Componente financeiro muito usado pelos Bancos, mas pouco compreendido pelos
consumidores é a comissão de permanência. Afinal, o que é comissão de permanência? Vejamos. Quando
se contrata com uma instituição financeira ela projeta de forma simétrica, de acordo com a data de
vencimento das parcelas, exatamente os dias em que será recapitalizada, mês a mês, da quantia objeto da
concessão do crédito.
Nesse sentido, toda vez que o consumidor deixa de efetuar o pagamento da parcela na data
aprazada, ainda que incidam os encargos de mora que servem como desestímulo, o fato é que o Banco
passa a experimentar prejuízos e dissabores decorrentes do atraso. Assim, criou-se o instituto da comissão
de permanência, ou seja, quando o consumidor por inadimplemento permanece “indevidamente” com o
dinheiro do Banco em seu poder, ele pagará à instituição financeira credora uma comissão pelo tempo que
permanecer com o dinheiro, ou seja, a já pontuada “comissão de permanência”.
A maior problemática que se enfrenta com a comissão de permanência é que sua implantação
e limitação devem ser ditadas pelo BACEN, instituição governamental que evita traçar parâmetros de sua
utilização, o que gera contumazes abusos no mercado de consumo bancário.
Existem instituições financeiras que ousam cobrar de comissão de permanência diária, na
hipótese de atraso, valores que chegam a somar o próprio valor da parcela inadimplida no decorrer de um
mês, o que denota evidente abuso de poder econômico.
Todavia, sabiamente o Judiciário, por meio de diversos julgados, especialmente aqueles
oriundos do Superior Tribunal de Justiça tem reiteradas vezes se manifestado no sentido de que a
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA É INACUMULÁVEL COM TODOS OS DEMAIS ENCARGOS DE MORA.
Ou seja, caso a instituição financeira opte por cobrar do consumidor a comissão de
permanência, deverá eliminar do contrato na hipótese de inadimplemento a cobrança da multa moratória de
2%, dos juros moratórios de 1% a.m., além da correção monetária que possa incidir sobre referidos valores.
Ou cobra-se a comissão de permanência, ou cobra-se os demais encargos de mora!
Nesse sentido, transcrevemos alguns julgados do Superior Tribunal de Justiça que tratam do
assunto, todos lastreados nas súmulas 30, 294 e 296 do mesmo Tribunal. Vejamos:

AgRg no Ag 1095350 / SE
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO
2008/0190081-3

Relator(a)

Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI (1145)

Órgão Julgador

T4 - QUARTA TURMA

Data do Julgamento

13
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

06/10/2011

Data da Publicação/Fonte

DJe 13/10/2011

Ementa

CIVIL E PROCESSUAL. BANCÁRIO. CARTÃO DE CRÉDITO. TAXA DE JUROS


REMUNERATÓRIOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL. TAXA MÉDIA DE
MERCADO. PRECEDENTES. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. AFASTAMENTO EM FACE
DA COBRANÇA DE DEMAIS ENCARGOS DA MORA (SÚMULAS 30, 294 E 296 DO
STJ).
1. A jurisprudência do STJ firmou seu posicionamento no sentido de
que em não havendo pacto de juros remuneratórios, prevalece a taxa
média de mercado (SEGUNDA SEÇÃO, REsp 1112880/PR, Rel. Min. Nancy
Andrighi, DJe 19.5.2010).
2. Nos termos das Súmulas 30, 294 e 296 do STJ, a comissão de
permanência é inacumulável com os demais encargos da mora.
3. Agravo regimental parcialmente provido para permitir a cobrança
dos juros remuneratórios à taxa média de mercado.

Acórdão

A Turma, por unanimidade, deu parcial provimento ao agravo


regimental, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs.
Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi e Luis Felipe Salomão
(Presidente) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Raul Araújo.

Processo

AgRg no REsp 1254966 / RS


AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL
2011/0113606-2

Relator(a)

Ministro MASSAMI UYEDA (1129)

Órgão Julgador

T3 - TERCEIRA TURMA

Data do Julgamento

27/09/2011

Data da Publicação/Fonte

DJe 18/10/2011

14
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Ementa

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO REVISIONAL - COMISSÃO


DE PERMANÊNCIA - LICITUDE NA COBRANÇA, DESDE QUE NÃO CUMULADA COM
JUROS REMUNERATÓRIOS, CORREÇÃO MONETÁRIA OU ENCARGOS DA MORA -
DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA - EXISTÊNCIA DE ENCARGOS ABUSIVOS NO
PERÍODO DA NORMALIDADE - AGRAVO IMPROVIDO.

Acórdão

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da
TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a
seguir, a Turma, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do(a) Sr(a).
Ministro(a)
Relator(a). Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de Tarso
Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva e Nancy Andrighi votaram com
o Sr. Ministro Relator.

Nesse diapasão, outra conclusão não senão a de que na hipótese de cobrança de comissão de
permanência fica vedada a possibilidade de cobrança de todos os demais encargos de mora.
Todavia, as regras de experiência nos apontam que infelizmente nenhuma instituição financeira
observa a construção jurisprudência ora demonstrada, pois inegavelmente cobram, de forma cumulada, a
comissão de permanência com todos os demais encargos de mora, ensejando a possibilidade de se
postular judicialmente que se expurgue do contrato referidos excessos.
O mais importante, é que de maneira recente, complementando a súmula 30 já existente e
longa data e que PROIBE A CUMULAÇÃO DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA COM CORREÇÃO
MONETÁRIA, o STJ editou a recentíssima súmula 472 que PROIBE A CUMULAÇÃO DE COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA COM MULTA, JUROS REMUNERATPÓRIOS E JUROS MORATÓRIOS, além de limitá-la
a soma de todos esses encargos!
Ou seja, muitos consumidores que estão com considerável atraso na parcela dos seus
financiamentos, a partir desta pacificação na jurisprudência, poderão postular judicialmente que durante o
período de inadimplência paguem SOMENTE A COMISSÃO DE PERMANÊNCIA, com EXCLUSÃO DOS
JUROS REMUNERATÓRIOS, JUROS MORATÓRIOS, MULTA E CORREÇÃO MONETÁRIA!
Uma boa oportunidade de ganhos financeiros com a COIBIÇÃO DESTE ABUSO!

3.5 – POSSIBILIDADE DE CAPITALIZAÇÃO DE JUROS POR BANCOS – ANATOCISMO

Sem sombra de dúvidas esse é o tema mais instigante no estudo do direito bancário. Saber se
os Bancos a grosso modo estão autorizados a cobrar juros de forma capitalizada (juros sobre juros) é uma
das respostas mais desejadas por todos da comunidade jurídica que atua na área bancária.
É comum a discussão de que alguns métodos de amortização de dívida, tal como, o do sistema
Price, propiciam a capitalização, ou não, de juros. O fato é que referida matéria é objetada pelos tribunais

15
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

superiores, sob a tese de que analisar referida tese implica em análise fática e probatória, o que destoa da
finalidade dos tribunais superiores sujo mixter é analisar exclusivamente questões de direito. Nesse sentido,
vale a súmula de nº 7 do Superior Tribunal de Justiça que inadmite a reanálise por aquele tribunal de provas
carreadas aos autos dos processos.
Porém, independentemente da carência de posição jurídica dos tribunais superiores acerca
desses diversos métodos de amortização de saldos devedores, o fato é que a matéria acaba por ficar em
plano de fundo, na medida em que a relevância recai exclusivamente na possibilidade dos Bancos
cobrarem ou não seus juros remuneratórios de forma capitalizada, questão que evidentemente autoriza a
utilização, na hipótese de resposta afirmativa, de qualquer dos métodos financeiros de amortização, ainda
que gere capitalização.
Desde o ano de 1933 o Brasil repudia veementemente a “usura”, ou seja, a cobrança de juros
sobre juros, tecnicamente conhecida como forma de capitalizar juros. Tal argumento encontra lastro no
Decreto Lei de nº 22.626/33 que veda de forma cristalina a possibilidade de cobrança de juros sobre juros.
A matéria sob essa óptica estaria pacificada, se não fossem as inúmeras controvérsias
existentes no Judiciário, especialmente e, principalmente, quando os olhos estão voltados à análise de
contratos bancários. Senão vejamos!
Conforme já sinalizado alhures, desde a edição do Decreto Lei 22.626/33 há um latente
repúdio jurídico à usura no Brasil, tecnicamente conhecida como cobrança de juros sobre juros.
O Supremo Tribunal Federal entende que é vedada no Brasil a possibilidade de cobrança de
juros sobre juros, conforme pode ser observado pela atenta leitura do enunciado da súmula de nº 121.
Referida súmula é de evidente caráter geral e aplicável de forma indistinta a todos que desejam
capitalizar juros de forma composta, sinalizam pela evidente impossibilidade.
E nem se diga que a súmula 596 (mais atual) do também Supremo Tribunal Federal afasta a
aplicação das disposições do Decreto Lei 22.626/33 aos Bancos, pois referida indução é FALSA e SEM
SUSTENTAÇÃO, já que referida súmula TRATA EXCLUSIVAMENTE DO ARTIGO 1º DO DECRETO que
aborda a questão da limitação dos juros! Vide no sítio do próprio Supremo Tribunal Federal que a súmula
596 tem referência legislativa EXCLUSIVA AO ARTIGO 1º DO DECRETO LEI 22.626/33.
Nesse sentido, resta espancada a tese de possibilidade de cobrança de juros sobre juros por
Bancos!
O penúltimo argumento que os Bancos podem sustentar é a posição firmada recentemente no
STJ, no sentido de que os Bancos podem capitalizar juros de forma composta, desde que expressamente
pactuado, entendendo-se por pactuado o juros anuais previstos no contrato que superam, por simples conta
aritmética, a soma dos juros mensais (Resp 973.827/RS).
Nem com referido posicionamento nos convencemos de que os Bancos podem cobrar juros
sobre juros, pois o Supremo Tribunal Federal (hierarquicamente acima do STJ) PROIBE A COBRANÇA,
AINDA QUE EXPRESSAMENTE PACTUADA, nos termos da súmula 121, repita-se.
Já o último argumento sustentado pelos Bancos para defender a cobrança de juros sobre juros
está calcado na Medida Provisória 2.170-36/01 que em seu artigo 5º autoriza as instituições financeiras a
capitalizarem juros compostos, com periodicidade inferior a um ano.

16
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Desejar sustentar a legalidade da capitalização de juros de maneira composta com fulcro na


Medida Provisória 2170-36/2001 é absolutamente desarrazoado, por incontáveis problemas técnicos.
Por primeiro, deve-se destacar que a Medida Provisória 2.170-36/01 trata em sua mens legis
de Cédula de Crédito Rural, o que nem de longe reflete a hipótese de financiamento de veículos, motos,
casas e etc. Obviamente, referida Medida Provisória não pode ser aplicada de forma extensiva e ampliativa
a todas as operações realizadas por Bancos, quando sua vocação legislativa nos remete
EXCLUSIVAMENTE AO SEGMENTO DE CRÉDITO RURAL.
Ainda, não se pode desconsiderar o relevante contexto jurídico, de que a Medida Provisória nº
2.170-36/01 está sendo combatida no Supremo Tribunal Federal, por meio da ADIn Cautelar nº 2316, onde
tanto o Min. Relator Carlos Ayres Britto, como também o Min. Marco Aurélio FORAM FAVORÁVEIS AO
DEFERIMENTO DA ADI.
Na ADIn 2316, o Partido Liberal (atual Partido da República – PR) alega inconstitucionalidade
da Medida Provisória por ofensa ao ordenamento jurídico, bem como por inconstitucionalidade formal, uma
vez que a matéria deveria ser regulada por lei complementar, nos termos da combinação constitucional dos
artigos 62, §1°, III e 192 da CF. Vejamos:
"Art. 62, § 1º, III. É vedada a edição de medidas provisórias sobre
matéria:
III - reservada a lei complementar;"
"Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a
promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos
interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem,
abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis
complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do
capital estrangeiro nas instituições que o integram."
Por fim, o PL (atual PR) alega que a capitalização de juros de maneira composta, além de
gerar encarecimento do crédito e onerosidade excessiva, é injusta, exemplificando:
"(...) utilizando-se uma máquina financeira ou resolvendo-se
complexas fórmulas matemáticas tem -se que a mesma taxa de Juros
de 10 % ao mês, quando capitalizada mensalmente, corresponde a
213, 84% ao ano", além do que "cobrar juros de juros representa
cobrar juros de um montante que a instituição financeira não
emprestou".
Ou seja, não se sustenta a tese, no sentido de permitir a manutenção de um método que
nitidamente gera a incidência de juros sobre juros, sob o argumento de que a Medida Provisória 2.170-
36/01 autoriza os Bancos a praticarem usura!

3.6 – COBRANÇA DE TARIFAS E ENCARGOS DE TERCEIRO

Outro ponto que merece destaque no presente curso é a cobrança de Taxa de Abertura de
Crédito, Serviços de Terceiros e demais taxas correlatas ao tema.

17
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

A pergunta se faz é: podem os Bancos transferirem ao cliente referidas despesas e


bonificações ofertadas a parceiros comerciais?
Imaginamos que não!
Ora, as resoluções 3518/2007 e 3919/2010 do Conselho Monetário Nacional – CMN dão conta
de que cobrar qualquer tarifa a título de abertura de credito e serviços não especificados claramente no
contrato é irregular.
Ademais, a análise de referidas resoluções agregadas ao que dispõe o Código de Defesa do
Consumidor em seu artigo 6º, inciso VI, dão conta de que transferir ao consumidor os encargos de uma
operação bancária é absolutamente abusivo, pois referidas “despesas”, como em qualquer outra prestação
de serviço, presumem-se embutidas nos custos oriundos para a realização do negócio, que por sua fez,
estão provisionais nas margens de lucro dos Bancos.
Ou seja, s.m.j., na hipótese de cobrança de referidas “Taxas” nos contratos de operações de
crédito bancário, deve o Banco contratado, por apego ao que dispõe o Código de Defesa do Consumidor,
em seu parágrafo único, do artigo 42, restituí-las em dobro, pois evidentemente indevida a cobrança.

3.7 – DA POSSIBILIDADE DE TUTELA ANTECIPADA PARA DEPÓSITO DO VALOR CALCULADO COM


LASTRO EM REGIME DE JUROS SIMPLES (LEI 12.810/13 – ART. 285-B, PARÁGRAFO ÚNICO)

Recentemente o tema relativo ao objeto da presente tutela antecipada em sede de discussão


judicial de contatos bancários foi normatizado pela lei 12.810/13, que inseriu no Código de Processo Civil o
artigo 285-B.

Conforme pode ser observado pelo caput do artigo 285-B, nas discussões judiciais atreladas
à empréstimo, financiamento e arrendamento mercantil deverá a parte especificar as cláusulas que
pretende controverter (nada de novo, pois tal exigência já era regulada pela súmula 381 do STJ).

Interessante direito nasce na observância do caput do artigo 285-B que discorre que a parte
DEVERÁ QUANTIFICAR O VALOR INCONTROVERSO. Por primeiro, o que é INCONTROVERSO?

Ora, não resta dúvida de que o “valor incontroverso” é aquele que a parte pretende
voluntariamente pagar, até porque se o valor incontroverso fosse aquele previsto no contrato NÃO
HAVERIA NECESSIDADE DO COMANDO DA LEI DETERMINAR A SUA QUANTIFICAÇÃO, JÁ QUE
ESTAMPADO NO INSTRUMENTO.

Nessa esteira, o parágrafo único do artigo 285-B CLARAMENTE DETERMINA QUE A


PARTE DEVERÁ PAGAR O VALOR INCONTROVERSO NO TEMPO E FORMA CONTRATADOS.

Ora, é nítida a falha jurídica de parte do comando estabelecido no parágrafo único. Isso
porque, se a lei no caput obriga a parte a quantificar o incontroverso, obviamente, é impossível que se
pague o incontroverso NA FORMA contratada, até porque o Banco resistirá em emitir carnê com o valor
unilateralmente apontado pela parte consumidora.

Assim, considerando que ao Magistrado cabe alinhar o verdadeiro alcance das leis, ainda que
para isso tenha que se socorrer da equidade, nos termos do decreto 4657/42, é bastante prudente que haja
autorização para depósito judicial do valor incontroverso, no tempo contratado, a TÍTULO DE TUTELA
ANTECIPADA.

18
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

4 – PRÁTICA JURÍDICA EM CONTRATOS DE CONCESSÃO DE CRÉDITO POR ALIENAÇÃO


FIDUCIÁRIA

Neste capítulo, discorreremos sobre temas recorrentes nas lides forenses atrelados ao contrato
bancário de concessão de crédito por alienação fiduciária, de modo a auxiliar o leitor no desenvolvimento de
adequado raciocínio jurídico para se desvencilhar das armadilhas jurídicas encontradas no Judiciário.
Considerando a posição mista da presente obra, obviamente serão abordadas, aliás como já
feito no estudo teórico, técnicas de êxito para consumidores e, de igual forma, para Bancos, de modo a
atender ao propósito de fomentar debates acerca dos desdobramentos jurídicos habitualmente enfrentados
pelos profissionais do direito que atuam nas diferentes áreas do contencioso bancário.
Por uma questão didática, passamos a trabalhar nesse tópico com questões comumente
suscitadas em sala de aula e que certamente contribuirão ao correto raciocínio jurídico dos leitores.

4.1 – QUESTÕES PRÁTICAS

1) Como advogado de Banco posso rebater a tese e limitação de juros remuneratórios de


forma simples? Ou seja, no sentido de que não existe ordem jurídica limitadora no Brasil?

Sim! Infelizmente existe um despreparo por aqueles que advogam para consumidores, na
medida em que por “desinformação” sustentam teses de limitação de juros equivocadamente na derrogada
previsão constitucional do parágrafo 3º do artigo 192 da CF/88. Basta rebater a tese com a súmula
vinculante de nº 7 do STF e súmula 382 do STJ que tratam do assunto.

2) Como advogado de Consumidor então não é mais possível litigar para reduzir o limite
de juros remuneratórios nos contratos bancários, por conta da súmula vinculante de nº 7 do STF e
súmula 382 do STJ?

Claro que é possível! Mas não com a arcaica tese de limitação constitucional dos juros
remuneratórios. A possibilidade de limitação, conforme explicado detalhadamente nessa obra está calcada
na tese de aplicação do CDC aos Bancos e no sentido de considerarmos abusivas as cláusulas contratuais
pactuadas em desacordo com as “práticas do mercado”, conforme pacífica jurisprudência do STJ.

3) Considerando que o veículo/moto é mera garantia do contrato de alienação fiduciária,


como faço para questionar com o Banco eventual problema de documentação do bem, ou ainda
problemas mecânicos que prejudiquem o bom uso?

Essa é uma excelente pergunta e de fácil resposta. Como estudado nesta obra, de fato o bem
representa mera garantia do contrato de financiamento, cujo objeto, sabemos, é o próprio dinheiro
emprestado. Logo, teoricamente, o Banco não possui nenhuma responsabilidade pelo bem, até porque, não
vendeu veículo e sim dinheiro, não tendo legitimidade para responder por negócio jurídico diverso – compra

19
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

e venda celebrada com o lojista. Todavia, na prática sabemos que os Bancos atuam dentro das lojas de
veículos e agem como verdadeiros “parceiros comerciais”. Tanto é verdade, que nos dias atuais nem
mesmo prepostos de Bancos são encontrados no interior das lojas, ficando o próprio lojista encarregado de
recolher na assinatura dos consumidores nos famosos “kit´s de financiamento”. Ora, o Banco precisa do
lojista para vender seu dinheiro e o Lojista precisa do Banco para vender seu carro. Aqui temos uma
parceria de sucesso! Nesse sentido, demonstrada referida parceria, entendemos que o contrato de
financiamento deixa de ser negócio jurídico distinto e passa a ter conotação de contrato acessório,
oportunidade em que deve seguir a “sorte” do principal, dada a evidente ligação subjetiva existente entre
aqueles que compõem a cadeia de fornecimento do produto (Loja) e serviço (Banco). Sendo assim, outra
conclusão não há, senão a de que havendo problemas de documentação do veículo e/ou mecânicos que
inviabilizem o bom uso do bem, devem responder objetivamente e solidariamente por este fato tanto a loja
como o Banco, ainda que a medida corretiva seja extrema e gere a anulação de ambos os contratos com a
devolução dos valores desembolsados pelo consumidor, remetendo as partes ao status quo ante.

4) Sou advogado de Banco e sempre coloco nas minhas peças de defesa em ações de
revisão contratual a tese de inalterabilidade contratual e necessidade de manutenção do contrato
conforme contratado, por força da máxima jurídica da pacta sunt servanda. Isso ainda existe?

Sim, existe. O problema é que os Bancos em suas defesas se restringem a postular pela
aplicação da pacta sunt servanda, ao invés de demonstrarem que no contrato existe a pacta sunt servanda
e que, portanto, ela deve ser prestigiada. Uma coisa é alegar a tese, outra, absolutamente diversa e mais
trabalhosa, é demonstrar sua existência no contrato, o que por certo, pode contribuir para a manutenção do
negócio jurídico nos exatos termos em que foi contratado.
Muito se discute acerca da possibilidade de “relativização” da pacta sunt servanda no direito
brasileiro. Ouso discordar dessa corrente doutrinária, para defender a necessidade de prestígio a “pacta”,
por uma questão de segurança jurídica que necessariamente deve permear os negócios jurídicos, e, ainda,
por conta de que referida tese além de desprestigiar nosso ordenamento jurídico frente ao direito
internacional, evidentemente reflete diretamente na timidez de ingresso de grandes empresas estrangeiras
em nosso país, o que prejudica não só a ordem jurídica, como também a geração de empregos;
recolhimentos de impostos; crescimento econômico; e etc.
Ora, imaginemos o Presidente de uma multinacional estrangeira ambicioso por instalar sua
grande empresa no território nacional interpelando seu departamento jurídico, no sentido de que como
funciona o Direito no Brasil, afinal de contas, a empresa despejará uma fortuna de dinheiro em celebração
de contratos e deseja ter alguma segurança quanto ao cumprimento dos negócios no país, oportunidade em
que é informado que no Brasil tudo é “relativo” e pode ser que o contrato seja cumprido, como também pode
ser que não! Veja caro leitor, que as implicações decorrentes de uma tese jurídica podem repercutir
negativamente, o que deve ser corrigido.
Na minha modesta opinião, a pacta sunt servanda existe e é absoluta, devendo ser prestigiada
por todos da comunidade jurídica, especialmente pelo Judiciário.

20
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Mas aí posso ser inquirido no seguinte sentido: mas o Judiciário na prática modifica contratos
diariamente. Cadê a pacta então? A resposta é relativamente simples, pois só existe pacta sunt servanda
em contratos que observam todos os preceitos no plano de existência e validade. Os contratos “ruins” como
tudo o que é “ruin” devem ser repelidos e remetidos ao “lixo”, pois são imprestáveis, e, nesse caso, não se
está “relativizando” a pacta sunt servanda, mas simplesmente declarando que o contrato NÃO POSSUI
PACTA SUNT SERVANDA, eis que inadequado e violador dos preceitos norteadores da existência e
validade dos negócios jurídicos.
Mas então qual contrato merece o prestígio da pacta sunt servanda? Ora, aquele que
apresenta na sua essência, os seguintes requisitos:
• Agente capaz (artigo 104 do CC/02);
• Objeto lícito, possível ou determinável (artigo 104 do CC/02);
• Forma não defesa (proibida) em lei (artigo 104 do CC/02);
• Declaração de vontade (artigo 112 do CC/02);
• Boa-fé objetiva (artigo 113 do CC/02);
• Boa-fé subjetiva (artigo 422 do CC/02); e
• Função Social (artigo 421 do CC/02).
Presentes esses elementos, os quais devem ser demonstrados “um a um” na petição,
entendemos que o contrato é “bom” e por isso não possui nenhuma mácula capaz de gerar sua alteração,
oportunidade em que deve ser prestigiado pela pacta sunt servanda!

5) Meu cliente está em dia com o pagamento do financiamento. Ainda assim podemos
discutir judicialmente as ilegalidades que pairam no instrumento?

Afirmativa é a resposta. Aliás, ouso dizer que essa é a situação ideal para se discutir a
legalidade de um contrato bancário, eis que seu cliente pode obter êxito na hipótese de procedência dos
pedidos formulados na petição inicial e não experimentará nenhum dissabor decorrente de mora, pois
adimplente, conforme dito.

6) Meu cliente já foi citado em uma ação de busca e apreensão e a liminar já foi
cumprida, tendo o veículo sido apreendido e levado pela Instituição Financeira. O que pode ser
feito?

Bom, nesse caso, a situação é delicadíssima, pois sabemos que nos contratos de
financiamento de veículos (concessão de crédito) por alienação fiduciária o cliente adquire dinheiro. Na
hipótese de inadimplência, fica plenamente justificada a busca e apreensão do bem. A defesa nessa
modalidade de ação é restrita, pois o consumidor pode purgar a mora (pagar a dívida) no prazo de 5 (cinco)
dias; comprovar que não estava em mora e que há algum erro na propositura da ação, hipótese que pode
ser acompanhada por uma reconvenção de dano moral ou até material caso o bem seja utilizado para
trabalho; e, por fim, alegar que jamais contratou com o Autor e que se trata de fraude, hipótese que será
provada na instrução processual.
21
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Se nenhuma das hipóteses acima estiver presente, uma ótima opção ao consumidor é
contestar a demanda com frágil tese de dificuldade financeira no adimplemento, ocasião que, sabemos, não
é capaz de afastar a mora e APRESENTAR RECONVENÇÃO DISCUTINDO A LEGALIDADE DOS
ENCARGOS, tais como: anatocismo; comissão de permanência cumulada com outros encargos; e etc.

4.2 – PROBLEMAS PRÁTICOS PARA DESENVOLVIMENTO DE RACIOCÍNIO JURÍDICO E TREINO

1 – Pró-banco) Cláudio, adquiriu da loja de veículos Y & S um veículo modelo Gol, ano 2000/2001, pela
quantia de R$19.000,00. Para viabilizar a aquisição de referido veículo fora feito um contrato de
financiamento por alienação fiduciária em garantia com o Banco Bank, para pagamento em 36 parcelas de
R$535,00.
Passado algum tempo, o veículo apresentou problemas mecânicos e Cláudio procurou a loja de veículos
que se recusou a resolver o problema, alegando “desgaste natural por uso”.
Inconformado, Cláudio parou de pagar o financiamento do veículo, oportunidade em que teve seu nome
lançado nos cadastros restritivos de crédito pelo Banco Bank. Sem alternativa, Cláudio procurou seu
advogado para obter orientação acerca de quais medidas podem ser adotadas para resolver o problema.
Fora proposta uma ação declaratória de anulabilidade contratual em desfavor do Banco e da Loja por conta
dos problemas existentes no veículo.
Na qualidade de Advogado do Banco Bank, esclareça o caso e apresente as medidas cabíveis.

Resposta central: deve-se alegar ilegitimidade de parte, na medida em que todo o reclamo da petição
inicial diz respeito a fatos estranhos ao contrato de financiamento, cujo objeto é o dinheiro, sendo o veículo
mera garantia. No mérito, sob a mesma idéia central, deve-se requerer a improcedência do pedidos, na
medida em que o consumidor inegavelmente celebrou dos negócios jurídicos com natureza absolutamente
diversas, ou seja, uma compra e venda de veículo automotor, e, um contrato de concessão de crédito, não
podendo o Banco responder por problemas que não digam e tampouco integrem seu negócio jurídico.

2 – Pró-banco) Cláudio, adquiriu da loja de veículos Y & S um veículo modelo Gol, ano 2000/2001, pela
quantia de R$19.000,00. Para viabilizar a aquisição de referido veículo fora feito um contrato de
financiamento por alienação fiduciária com o Banco Bank, para pagamento em 36 parcelas de R$535,00, a
juros de 5% a.m., mais encargos.
Passado algum tempo, Cláudio passou a entender que os juros de 5% a.m. eram altíssimos, já que
representavam 60% ao ano.
Inconformado, mas adimplente, Cláudio procurou seu advogado para obter orientação acerca de quais
medidas podem ser adotadas para resolver o problema. O advogado de Cláudio promove ação de revisão
contratual alegando que os juros são abusivos, pois superiores a 12% a.a., conforme súmula 379 do STJ;
que existe anatocismo na amortização dos juros, o que é vedado pelo Decreto Lei 22.626/33 (Lei de Usura)
e pela súmula 121 do STF. Postula pela revisão do contrato com redução dos juros ao patamar de 1% a.m.
e ainda que a amortização seja feita de forma a não gerar capitalização.
Na qualidade de Advogado do Banco Bank, esclareça o caso e apresente as medidas cabíveis.

22
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Resposta central: não há limite de cobrança de juros remuneratórios no Brasil, conforme se observa por
atenta leitura da súmula vinculante de nº 7 do STF e súmula de nº 382 do STJ. Quanto a tese de
anatocismo, cumpre destacar que Banco pode capitalizar juros a luz do entendimento consolidado no STF
quando da edição da súmula nº 596 que afasta a aplicação da Lei de Usura às instituições financeiras.

3 – Pró-consumidor) Cláudio, adquiriu da loja de veículos Y & S um veículo modelo Gol, ano 2000/2001,
pela quantia de R$19.000,00. Para viabilizar a aquisição de referido veículo fora feito um contrato de
financiamento por alienação fiduciária em garantia com o Banco Bank, para pagamento em 36 parcelas de
R$535,00.
Passado algum tempo, o veículo apresentou problemas mecânicos e Cláudio procurou a loja de veículos
que se recusou a resolver o problema, alegando “”desgaste natural por uso”.
Inconformado, Cláudio parou de pagar o financiamento do veículo, oportunidade em que teve seu nome
lançado nos cadastros restritivos de crédito pelo Banco Bank. Sem alternativa, Cláudio procurou seu
advogado para obter orientação acerca de quais medidas podem ser adotadas para resolver o problema.
Na qualidade de Advogado de Cláudio, esclareça o caso e apresente as medidas cabíveis.

Resposta central: em que pese o problema recair sobre o bem objeto da compra e venda, o fato é que o
financiamento foi feito dentro das dependências da loja, pelo próprio lojista, demonstrando evidente parceria
comercial das partes Rés, o que justifica a presença do Banco no pólo passivo da demanda, pois seu
contrato, dadas as peculiaridades da parceria comercial, deixa de ter natureza jurídica distinta e passa a ser
acessório da compra e venda, pois resta evidente a natureza subjetiva de sucesso dos negócios. Afinal,
sabe-se, o Banco não vende seu dinheiro sem o veículo para “atrair” o consumidor, e, por outro lado, o
lojista não vende o carro sem o banco para “financiar”. Logo, a sorte do contrato de financiamento deve
seguir a solução da compra e venda, o que pode justificar sua anulação por problemas do veículo.

4 – Pró-consumidor) Cláudio, adquiriu da loja de veículos Y & S um veículo modelo Gol, ano 2000/2001,
pela quantia de R$19.000,00. Para viabilizar a aquisição de referido veículo fora feito um contrato de
financiamento por alienação fiduciária com o Banco Bank, para pagamento em 36 parcelas de R$535,00, a
juros de 5% a.m., mais encargos.
Passado algum tempo, Cláudio passou a entender que os juros de 5% a.m. eram altíssimos, já que
representavam 60% ao ano.
Inconformado, mas adimplente, Cláudio procurou seu advogado para obter orientação acerca de quais
medidas podem ser adotadas para resolver o problema.
Como advogado de Cláudio esclareça as medidas que podem ser adotadas para salvaguardar seus
direitos.

Resposta central: para se descobrir se os juros são “abusivos” é importante pesquisar no site do Banco
Central do Brasil a média de mercado praticada pelas demais instituições financeiras no período de
contratação. Se houver discrepância significativa, conforme estudado na presente obra, é possível que se

23
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

adéqüe os juros contratados aos praticados pelo marcado, sob fundamento de cláusula abusiva. Ainda,
pode-se discutir, em que pese controvertida a tese, a questão da capitalização dos juros, mas devidamente
municiado de um laudo técnico especializado, oportunidade em que a tese deverá ficar centrada na Lei de
Usura (22.626/33) e súmula 121 do STF.

24
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

5. – CONTRATO DE LEASING OU ARRENDAMENTO MERCANTIL

A figura jurídica do contrato de Leasing, como o próprio nome genuíno nos revela, advêm do
direito anglo saxônico e inicialmente foi desenvolvida para viabilizar a potencializar a atividade empresarial.
As empresas americanas com os olhos voltados a redução de custos para o desenvolvimento
empresarial na aquisição de equipamentos, passaram a desempenhar suas respectivas atividades, na
grande maioria das vezes, por intermédio do Leasing.
Mas o que é um contrato de Leasing ou Arrendamento Mercantil?
O Leasing, também conhecido como Arrendamento Mercantil, é uma figura contratual
complexa, eis que reune características de dois outros contratos, quais sejam: a) locação e b) compra e
venda.
Determinada pessoa, proprietária de um bem opta por “arrendá-lo” (como se fosse uma
locação) a terceiro, oportunidade em que teremos o proprietário figurando como “Arrendador” e, do outro
lado, o “Arrendatário” que é aquele que ficará na posse do bem. Ambos pactuam que o contrato terá um
determinado prazo de validade e que o “Arrendatário” pagará ao “Arrendador” na constância do negócio,
mensalmente um valor fixo, conhecido como “contraprestação” (como se fosse um aluguel) e que tem a
finalidade de remunerar o dono do bem. Após o término do contrato, o “Arrendatário” pode exercer 3 (três)
opções, quais sejam:
• Devolver o bem “arrendado” e buscar a extinção do negócio;
• Renovar o Leasing por um novo período de tempo; e
• Exercer a opção de compra do bem.
Caso opte o “Arrendatário” pela compra do bem, obviamente, deverá desembolsar uma quantia
em dinheiro equivalente ao preço do bem, pois até então o que se pagou possui natureza de
contraprestação. A quantia em dinheiro que deve ser desembolsada na hipótese de exercício da opção de
compra é conhecida como VRG – Valor Residual Garantido, eis que “garante” a compra do bem arrendado.
Em suma, essa é a essência da funcionalidade de um contrato de Leasing.

5.1 – A CONSTRUÇÃO JURÍDICA DO LEASING NO BRASIL E O POSICIONAMENTO


JURISPRUDÊNCIAL NAS HIPÓTESES DE RELAÇÃO DE CONSUMO

Como analisado anteriormente, o Leasing é um negócio jurídico com nítida natureza


empresarial, utilizado para que empresas, sem que necessitem de desembolso de vultosas quantias para
adquirir o maquinário necessário a sua funcionalidade, possam, com êxito, viabilizar a atividade empresária,
por meio da utilização do Leasing, onde há posse direta do “Arrendatário” e o pagamento de uma
contraprestação mensal ao dono “Arrendador”, mecanismo eficiente, pois evidentemente com custo de
capital de giro significativamente menor.
Todavia, as instituições financeiras, almejando explorar essa forma de atividade lucrativa,
criaram empresas de arrendamento mercantil, mas com finalidade diversa, pois o objetivo deixa de ser
empresarial e passa a recair no mercado de consumo, para “aquisição” de veículos, caminhões e motos.

25
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Neste tópico, é oportuno desenvolver uma apertada, mas necessária síntese, acerca do
contrato de Leasing e sua funcionalidade no Brasil, quando a hipótese se revela para o mercado de
veículos, caminhões e motos, de modo a justificar a tese de restituição do Valor Residual Garantido - VRG.
É sabido que a operação de Leasing se difere por absoluto dos contratos de concessão de
crédito por alienação fiduciária – financiamento de veículos.
Isso porque, no Leasing, ao contrário do financiamento, a empresa Arrendadora (Banco
atuando na forma de empresa de Arrendamento Mercantil) é que possui o direito real de propriedade sobre
o bem arrendado.
O Arrendatário (no caso o Consumidor) possui o direito de uso, mediante o pagamento de
contraprestação, figura similar ao aluguel pago pelo locatário ao locador para usar o bem locado, como já
visto.
Repita-se, pois nunca é demais relembrar que ao término do contrato, o Arrendatário
(Consumidor) tem a sua disposição, a possibilidade de exercer 3 (três) opções contratuais, quais sejam:
• adquirir o bem arrendado, mediante o pagamento do seu preço previamente ajustado – o
Valor Residual Garantido – VRG;

• devolver o bem à empresa Arrendadora sem nenhum custo adicional; ou

• renovar o Leasing por novo período de tempo.

Com isso, muitos consumidores celebram contratos de Leasing sem conhecer profundamente
sua funcionalidade, achando que é financiamento, oportunidade em que ao término do negócio, são
convocados a pagar o VRG para fins de aquisição do veículo, caso seja do interesse.
Assim, a figura jurídica do Leasing passou a perder força no Brasil, pois os consumidores
perderam interesse pelo negócio.
Sem alternativa, as empresas Arrendadoras passaram a diluir o VRG nas parcelas da
contraprestação, de modo a viabilizar ao consumidor que ao término do contrato que possam exercer a
opção de compra, sem para tanto, desembolsar qualquer quantia a título de VRG ao final.
Com base nisso, houve um efeito transversal na política traçada pelas empresas Arrendadoras,
pois os consumidores que realizaram negócios nesses moldes, foram ao Judiciário postular pela
descaracterização do Leasing com VRG diluído, sob o fundamento de que cobrar o VRG antecipadamente
transforma o Leasing em Compra e Venda à Prazo. Assim, postulavam pela devolução das
contraprestações, que se mostravam injustificadas, caso acolhida a tese de compra e venda.
Nesses termos, a tese fora prestigiada pelo Superior Tribunal de Justiça, que editou a
súmula 263 para consolidar o entendimento de que a cobrança antecipada do VRG descaracteriza o
Leasing, transformando-o em compra e venda à prazo.
Porém, de forma brilhante, as empresas Arrendadoras passaram a sustentar a tese de que a
diluição do VRG nas parcelas da contraprestação é uma forma de prestigiar o consumidor, eis que facilitaria
a aquisição do bem arrendado ao término do contrato, sem colocá-lo em desvantagem exagerada, pois não
necessitaria desembolsar, de uma só vez, a quantia a título de VRG.
26
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Alegaram, ainda, que diluir o VRG nas parcelas é prestigiar o consumidor e o próprio
Código de Defesa do Consumidor, já que a cláusula propicia não só um direito ao consumidor, mas
também e principalmente, o exercício desse direito.
Por fim, a tese prestigiava a afirmativa de que o VRG pago de forma diluída não transforma o
Leasing em Compra e Venda à Prazo, na medida em que o dinheiro desembolsado com essa finalidade é
do consumidor, ficando o Banco com sua retenção a título de caução.
Sem exitar, e nem poderia ser diferente, dado o brilhantismo das teses, o Superior Tribunal
de Justiça mudou radicalmente seu posicionamento para REVOGAR A SÚMULA 263 e EDITAR A
SÚMULA 293, válida até hoje, no sentido de que a diluição do VRG na contraprestação não
descaracteriza o Leasing e tampouco o transforma em Compra e Venda à Prazo, RECONHECENDO A
NATUREZA DE CAUÇÃO NA ANTECIPAÇÃO DO VRG NAS PARCELAS.
Hoje vale a súmula 293 como paradigma!
Mas, ENFATICAMENTE, nunca se pode esquecer, que referida súmula está evidentemente
lastreada na tese de que o VRG é do Consumidor, ficando as empresas Arrendadoras com os valores a
título de mera caução para viabilizar o exercício da opção de compra ao final do contrato, caso seja essa a
opção exercida pelo Arrendatário.
Passado esse esclarecimento acerca da figura do Leasing de bens automotores no Brasil e a
construção histórica da jurisprudência, é evidente que ficando o consumidor, POR QUALQUER RAZÃO,
impossibilitado de EXERCER A OPÇÃO DE COMPRA DO BEM, deve ser restituído dos VRG´s pagos
antecipadamente, já que os valores são de sua titularidade, além de possuírem, como reconhecem as
empresas Arrendadoras, mera natureza de caução.
A manutenção do VRG (preço do bem) com as empresas Arrendadoras caracteriza evidente
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA, pois ficam com o bem arrendado; o consumidor fica impossibilitado de
exercer a opção de compra; e, o consumidor fica sem os valores dos VRG´s pagos antecipadamente.
Nesse sentido, caminha a Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo em
recentíssimos pronunciamentos a respeito do tema. Vejamos:

0003668-17.2010.8.26.0361 Apelação
Relator(a): Arantes Theodoro
Comarca: Mogi das Cruzes
Órgão julgador: 36ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 10/11/2011
Data de registro: 11/11/2011
Outros números: 36681720108260361
Ementa: Arrendamento mercantil. Ação de reintegração de posse. Bem retomado pelo arrendante.
Devolução das importâncias antecipadas para formação do VRG. Cabimento, mas autorizada a
compensação com o débito do arrendatário. Recurso parcialmente provido.

9000438-29.2008.8.26.0506 Apelação
Relator(a): Dyrceu Cintra

27
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Comarca: Ribeirão Preto


Órgão julgador: 36ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 10/11/2011
Data de registro: 10/11/2011
Outros números: 90004382920088260506
Ementa: Arrendamento mercantil. Ação de reintegração de posse. Reconvenção com pleito de
devolução do VRG pago antecipadamente. Parcial procedência da ação e da reconvenção. Apelo do
autor. Veículo retomado pelo arrendador. Parcelas do VRG já pagas que devem mesmo ser
devolvidas. Apelo improvido.

Assim, não resta alternativa senão reconhecermos, eis que a tese se coaduna com uma
questão exclusivamente de direito, que na impossibilidade do Arrendatário (Consumidor) exercer a opção
de compra do bem, é de rigor que se devolvam os valores desembolsados a título de Valor Residual
Garantidor – VRG, acrescido de juros de 1% ao mês, a partir dos respectivos desembolsos, além de
correção monetária.

**ATENÇÃO**

Pede-se a devida atenção do leitor ao recentíssimo posicionamento do Superior Tribunal de


Justiça acerca dos contratos de Leasing, por conta do julgamento repetitivo (afetado pelo art. 523-C do
CPC) que decorre da análise do Resp nº 1099212, onde os ministros, por maioria de votos, entenderam que
o VRG deve representar um lucro mínimo nas operações de Leasing, ficando sua restituição atrelada a
venda extrajudicial do bem. Ou seja, se o produto da venda do bem, somado ao VRG já pago pelo
Arrendatário for superior ao VRG previsto no contrato, neste caso, haverá o direito de restituição da
diferença apurada. Por outro lado, se o valor apurado com o produto da venda do bem, somado ao VRG
pago forem inferiores ao VEG previsto no contrato, neste caso, não haverá direito restituição.

28
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

6 – PRÁTICA JURÍDICA EM CONTRATOS DE LEASING OU ARRENDAMENTO MERCANTIL

Assim como feito no estudo do contrato de concessão de crédito com alienação fiduciária, de
igual forma, se faz importante para fixação da matéria e melhor compreensão do tema, que passemos a
analisar desdobramentos práticos atrelados aos contratos de Leasing, ora sob a óptica das instituições
financeiras, aqui chamadas de empresas de Arrendamento Mercantil, ora sob a óptica do consumidor, aqui
chamado de Arrendatário.

6.1 – QUESTÕES PRÁTICAS

1) Na hipótese do cliente sofrer uma ação de reintegração de posse e entregar o veículo


ao Arrendador é possível que se peça o VRG pago até a data da reintegração?

Sim, é possível. O VRG, segundo a melhor jurisprudência apontada na presente obra, deve ser
restituído ao consumidor com juros e correção monetária.

2) Sou advogado de Banco e desejo saber se posso defender alguma tese de justifique a
retenção do VRG. Existe?

Claro que sim. Direito é muito dinâmico e existem inúmeras teses que podem ser alegadas. A
mais usual é que por vezes é prestigiada pelo Judiciário está calcada na premissa de que o VRG representa
um lucro mínimo que o Arrendador deve obter na operação de Leasing, eis que o veículo é objeto de
constante depreciação. Outra tese que possui força é a de que as despesas decorrentes do
inadimplemento, tais como: honorários advocatícios; despesas processuais com custas; contraprestações
inadimplidas até a data de reintegração; e, multa contratual devem ser COMPENSADAS nos valores, o que
acaba por reduzir significativamente os percentuais restituíveis.

3) Considerando o caráter dúplice das ações possessórios, é possível pedir o VRG na


contestação da própria ação de reintegração de posse?

A resposta é controvertida, pois entendemos que o caráter dúplice das ações possessórias se
restringe ao objeto “posse” e todas as demais matérias, cuja alegação seja desejada pelo Réu devem ser
enfrentadas, por meio da apresentação de reconvenção, ou, por via de ação própria após a sentença
definitiva transitada em julgada da ação possessória, sendo que este ato (sentença) se torna uma prova
cabal de quer o consumidor está impossibilitado de exercer, de forma absoluta, a opção de compra do bem.

4) O que pode ser feito quando o veículo apresenta problemas mecânicos durante a
vigência do contrato de Leasing?

29
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

Duas respostas possíveis! A primeira delas é o direito do consumidor em exigir, com


fundamento no CDC a substituição do bem, pois obviamente o instrumento está viciado, já que o bem não
presta para o fim que se destina no contrato que é proporcionar o bom uso, mediante o pagamento de
contraprestação. A segunda resposta possível é requerer a rescisão contratual por culpa do agente
Arrendador que arrendou veículo impróprio ao fim que se destina, oportunidade em que surge o direito de
restituição dos VRG´s pagos até a data da declaração de rescisão.

5) Se o veículo for furtado/roubado e não possuir seguro como fica a situação do


contrato?

Entendemos que o contrato é extinto sem culpa do Arrendatário, hipótese em que também fica
impossibilitado de exercer a opção de compra e faz jus à restituição dos VRG´s pagos, salvo se o contrato
prever outra solução, por meio de cláusula específica.

6.2 – PROBLEMAS PRÁTICOS PARA DESENVOLVIMENTO DE RACIOCÍNIO JURÍDICO E TREINO

1 – (Problema Pró-consumidor) Cláudio, adquiriu da loja de veículos Y & S um veículo modelo Gol, ano
2000/2001, pela quantia de R$19.000,00. Para viabilizar a aquisição de referido veículo fora feito um
contrato de leasing com o Banco Bank, para pagamento em 36 parcelas de R$535,00, já computado o VRG
e Contraprestação.
Passado algum tempo, o veículo apresentou problemas mecânicos e Cláudio procurou a loja de veículos e
se recusou a resolver o problema, alegando “desgaste natural por uso”.
Inconformado, Cláudio parou de pagar o arrendamento do veículo, oportunidade em que teve seu nome
lançado nos cadastros restritivos de crédito pelo Banco Bank e obteve a informação de que será ajuizada
“ação de reintegração de posse”. Sem alternativa, Cláudio procurou seu advogado para obter orientação
acerca de quais medidas podem ser adotadas para resolver o problema.
Na qualidade de Advogado de Cláudio, esclareça o caso e apresente as medidas cabíveis.
Resposta central: Considerando que ainda não houve a propositura da ação de reintegração de posse em
desfavor do consumidor, entendemos que é possível ao consumidor promover demanda judicial com a
finalidade de requerer a substituição do bem, eis que o veículo concedido em arrendamento está com
problemas, e, que a ausência de pagamento se justifica pela teoria da “exceção do contrato não cumprido”,
de modo que em sede de tutela antecipada, poderá ser requerido ao juiz que determine a baixa dos
restritivos de crédito. Ainda, é possível que se promova uma ação de depósito do bem em juízo,
oportunidade em que se requererá a rescisão do contrato por culpa do Arrendador e, por via de
conseqüência, a restituição dos VRG´s pagos até a data da declaração da rescisão e que foram
efetivamente pagos. Por fim, é possível que se promova ação judicial em desfavor da loja aonde o veículo
fora adquirido requerendo a substituição do bem e no mesmo ato seja denunciada a lide ao Banco para
que, como Autor, auxilie o consumidor na demanda contra a loja, pois não equivocado pensar que o Banco
também foi vítima do bem comercializado pela loja. Em todas as hipóteses é possível requerimento de dano
moral, dados dos dissabores experimentados pelo consumidor.

30
DISCUSSÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS DE VEÍCULOS – PROF. FÁBIO BATISTA CÁCERES

2 – (Problema Pró-consumidor) Cláudio, adquiriu da loja de veículos Y & S um veículo modelo Gol, ano
2000/2001, pela quantia de R$19.000,00. Para viabilizar a aquisição de referido veículo fora feito um
contrato de leasing com o Banco Bank, para pagamento em 36 parcelas de R$535,00, já computado o VRG
e Contraprestação.
Passado algum tempo, o veículo apresentou problemas mecânicos e Cláudio procurou a loja de veículos e
se recusou a resolver o problema, alegando “”desgaste natural por uso”.
Inconformado, Cláudio parou de pagar o arrendamento do veículo, oportunidade em que teve seu nome
lançado nos cadastros restritivos de crédito pelo Banco Bank e foi citado para se defender em ação de
reintegração de posse. Sem alternativa, Cláudio procurou seu advogado para obter orientação acerca de
quais medidas podem ser adotadas para resolver o problema.
Na qualidade de Advogado de Cláudio, esclareça o caso e apresente as medidas cabíveis.
Resposta central: É possível que se alegue a ausência dos pagamentos por conta dos problemas
existentes no bem e, ainda, haja reconvenção em desfavor do Autor para que se postular a restituição dos
VRG´s pagos até a data da reintegração do bem, quando essa for concretizada. Outra tese possível, é
deixar o bem ser reintegrado, já que imprestável para bom uso e posteriormente se requerer em ação
própria a restituição dos VRG´s pagos até a data da reintegração de posse do bem.

31

S-ar putea să vă placă și