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Quando menos esperava, uma palavra bateu a porta e pediu para entrar, era
um verbo, e o melhor, em latim, era muito raro aparecer palavras que originam, sempre
se recebe palavras originadas, palavras ou raízes atrás de seu paradeiro, mas agora era
uma palavra latina atrás de seus filhos, momento raro e único para x-6 mostrar seu
talento.
A palavra era tão grande que x-6 teve que juntar três cadeiras para cabê-la,
ela se chamava capĕre, que em latim significa “pegar”. A palavra desconsolada sentou-
se e exclamou:
- Detetive, preciso de sua ajuda, ando por aí como uma desconhecida, atrás
de meus paradeiros, sei que geralmente isso não acontece por aqui, mas quero saber
quem eu originei, sei que, se estou aqui, não é a toa.
X-6, perplexo com a situação, percebera que, quando alguém diz que o latim
morreu, quão mentiroso essa pessoa é, ele ainda vive, mas nós o ignoramos.
- Não tenho tempo a perder, x-8 me garantiu que você faria agora.
X-6 sabendo que a palavra já havia ido ao x-8, e com certeza ele a mandara
aqui para ele começar a trabalhar, decidiu começar imediatamente:
- Daí vamos para a raiz que sai de você, no caso cap-, daí gera raízes
apofônicas como cep-, cip-, cup-, a raiz cap- está no italiano capire. Em português o ato
de pegar está na palavra captar, captura, ora, não são palavras que denominam ‘pegar
alguma coisa’? A vítima da captura se faz a caça, não estranhe a presença do “ç”, ele se
dá por um processo assibilação do “t”, do seu particípio, captus, para “ç” ou até mesmo
“z”. Quando alguém não pega o outro pelo carisma não se pode dizer que se trata de
uma pessoa cativante? Mas se pegar essa pessoa, e colocá-la em um lugar, não se pode
dizer que ela é uma cativa por estar em um cativeiro? Todas essas palavras vêm de
você.
A palavra ia anotando tudo com a máxima destreza sem perder uma só linha:
- Tem mais.
- Espero que tenha bastante papel. Veja. Quando se diz que a pessoa pode
pegar um serviço, dizemos que ela é capaz, pois tem a capacidade de ‘pegar as coisas’.
Tudo que abarca o que pegamos vai gerar o sentido de caber, daí a metáfora de que algo
que não cabe é algo sem cabimento, portanto, é uma coisa descabida. Agora, vamos
para a raiz apofônica cep-, escute e anote. Quando pegamos alguma coisa, no sentido de
entender, dizemos que percebemos algo, para isso é necessária a percepção, gerando
também a palavra perceptível. Tanto é que em Portugal, a palavra ‘perceber’ é sinônimo
de ‘entender’. Em alemão, greifen é ‘pegar’ e ‘begreifen’, seu derivado, significa
‘entender’. Quando se pega algo de volta, dizemos que estamos recebendo o que nos
pertence. Disso, irá nascer variantes como recebimento ou recepção, ‘ato de receber’,
portanto, aquele que recebe é o recepcionista. Mas há coisas que não pegamos, daí vem
a decepção. Se alguém nos oferece algo que queremos e pegamos para nós, dizemos
que aceitamos a tal oferta. Quando se pega algum sentido, dizemos que temos conceito
a respeito do que se pensa, tal palavra pode ser ainda a reunião de tudo o que se pensa
sobre alguém, mas quando pegamos essas idéias antes de conhecê-la estamos tendo
preconceito? Mas nem sempre conceber é pegar, ou gerar conceitos. Pode-se também
gerar a vida. De um lado, tem-se concepção, de outro temos Conceição, que é o nome
próprio em homenagem a gravidez da Virgem Maria, quando a gravidez é indesejada,
toma-se os anticoncepcionais.
- Pois é – dizia x-6 orgulhoso – e das boas, nunca imaginei uma palavra para
pegar tantas outras e nos dar para nosso humilde português. Mas ainda tem mais,
esqueceu de sua apofônica cup-?
- Pronto, fiz conforme o combinado, aqui está tudo que ele me disse – e
entregou o papel.
X-8 agradeceu:
Enquanto isso, X-6 ficava em seu escritório esperando uma palavra, mas mal
sabia ele estava aguardando a visita da equipe da palavra.