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Nome: Marcos Vinicios Pereira de Almeida

Professor: Thiago Suman Santoro

(I) Introdução

Em 1781, o filósofo prussiano Immanuel Kant lança a primeira edição da


Crítica da Razão Pura (Kritik der reinen Vernunft); com mudanças substanciais em
1787, é relançada a segunda edição da mesma obra. Essa primeira Crítica é sem sombra
de dúvidas uma das mais importantes obras da filosofia Ocidental, e, precisamente, da
filosofia moderna. Ademais, nesta obra, Kant faz uma síntese entre a filosofia empirista
(dos pensadores Locke, Hume e Berkeley) e a filosofia racionalista (de Descartes,
Leibniz e Christian Wolff).
Um dos conceitos principais desta obra é a definição das duas formas de
conhecimento: a priori e a posteriori. A priori é o conhecimento que não depende da
experiência sensível, enquanto que a posteriori é o conhecimento empírico. Essas duas
formas de conhecimento constituem o “eu penso” kantiano, ou melhor, o sujeito
transcendental. Essa definição do sujeito transcendental é uma das mais importantes
contribuições da filosofia kantiana para a modernidade e que mudou radicalmente a
ciência - tendo a autoconsciência como condição para o conhecimento. Claro, Kant nos
apresenta uma noção do “eu penso” diferente do Cogito cartesiano – que é onde o
conhecimento imediato é também a existência dada. Porém, a partir do § 25 que Kant
determina o que é consciência-de-si, e isso fez com que o debate sobre “eu penso”
tivesse outro significado. Em primeiro lugar, a autoconsciência é diferente do sentido
interno onde se dá o espaço e o tempo como foi explicado na Estética Transcendental;
em segundo lugar, consciência-de-si é diferente de conhecimento-de-si, “A consciência
própria está, pois, ainda bem longe de ser um conhecimento-de-si próprio [...]”1, pois, a
consciência-de-si não é uma intuição sensível ou empírica. Portanto, a consciência-de-si
é uma atitude própria do entendimento. Com efeito, a pergunta sobre o “eu penso” gera
um problema no § 25 da Crítica da Razão Pura: a consciência-de-si seria só um ato do

1
KANT, I. Crítica da Razão Pura. Tradução de Fernando Costa Mattos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
entendimento ou um fundamento real? Pois, no § 25, surge esse problema; “O “eu
penso” exprime o ato de determinar a minha existência”, ou seja, de que a existência é
dada na autoconsciência. Portanto, o que seria essa existência dada na autoconsciência,
como ocorre essa relação? Para entender melhor esse problema é preciso esclarecer
melhor as características da apercepção transcendental: identidade e existência.

O objetivo do presente artigo é investigar um problema presente na


Dedução Transcendental e que em envolve também os Paralogismos da Crítica da
Razão Pura de Emmanuel Kant; acerca da autoconsciência, identidade e existência. A
metodologia consistiu no exame da bibliografia dos comentadores e do próprio
pensador, da crítica e reelaboração dos pontos de vista apreendidos do exame da
bibliografia.

(II) As principais características da consciência "Eu penso"

Para entender a identidade do sujeito em Kant é preciso entender o seu


conceito de autoconsciência e como isso é elaborado. O conceito de ligação é muito
importante para entender essa unidade da autoconsciência, pois, uma ligação em geral é
um ato espontâneo. Essa ligação é realizada pela unidade sintética do diverso. Mas Kant
logo esclarece que essa unidade sintética não é a mesma categoria de unidade, a saber, a
unidade sintética antecede todos os conceitos da ligação: "Essa unidade que antecede a
priori todos os conceitos da ligação, não deve ser confundida com aquela categoria da
unidade..." (B 131). A ligação do múltiplo das representações é uma ligação da
identidade do sujeito, isto é, a identidade é o ato de ligar as múltiplas representações em
uma síntese lógica, e essa ligação é pura espontaneidade - a espontaneidade é um
conceito importante de Kant para entender a autoconsciência2. Para Kant, o que pode
manter o ato de ligação é o entendimento, por isso a atividade da síntese do diverso é
um pensar e não um intuir. O primeiro princípio é que as representações são dadas; o
segundo princípio é que as representações podem ser sintetizadas em uma
autoconsciência. Sem isso seria impossível conhecer. Por quê? Ora, segundo Kant, sem

2
Segundo a Clélia: “Com isso, Kant entende que o conceito de autoconsciência permite ao sujeito torna-
se consciente de uma espontaneidade. Essa espontaneidades supões um “eu-representação” vazio ou
uma simples representação do “eu” que é a consciência transcendental, uma autoconsciência que
unifica todas as demais consciências. Esse “eu” nos é desconhecido porque a autoconsciência é
incondicionada; assim ele é uma representação sem conteúdo e sua obscuridade, seu caráter
imperscrutável é o que Strawson adjetiva como seu significado não-denotativo, o qual designa a própria
consciência em geral” (MARTINS, 1998, p. 72).
o ato da síntese seria impossível pensar em um triângulo, p. ex. Portanto, no ato da
síntese, no juízo "eu penso", as representações são reunidas em um “eu” idêntico.

A apercepção pura é a consciência do "eu" enquanto autoconsciência. O "eu


penso" é um produto espontâneo dessa "apercepção originária" e por isso mesmo ele
pode ser considerado a representação primeira de todas as demais:

Essa representação, no entanto, é um ato da espontaneidade, i.


e., ela não pode ser vista como pertencente à sensibilidade. Eu a
denomino apercepção pura, para diferenciá-la da empírica, ou
também apercepção originária, pois ela é aquela autoconsciência
que, por reproduzir a representação eu penso que tem de poder
acompanhar todas as outras e é sempre a mesma, não pode ser
acompanhada de nenhuma outra (B 133).
Segundo Kant, o "eu" tem consciência das representações dadas no diverso
da intuição. Essa consciência constitui a autoconsciência, a identidade da apercepção
originária. Isso é totalmente diferente de uma "eu empírico", que é disperso e sem
unidade ou sem identidade com o sujeito:

Assim, somente porque eu posso ligar o diversos de


representações dadas em uma consciência é possível que eu me
represente a identidade da consciência nessas mesmas
representações [...] O pensamento de que todas essas
representações dadas na intuição me pertencem significa tão
somente que eu as unifico em uma autoconsciência, ou que pelo
menos posso unifica-las; e, ainda que ele próprio não seja ainda
a consciência da síntese das representações, ele todavia
pressupõe a possibilidade desta última, i. e., pela simples razão
de que eu posso compreender o diversos das mesmas em uma
consciência, eu as denomino, em conjunto, minhas
representações; pois do contrário eu teria um "eu" (Selbst) tão
multicolorido e diverso quantas são as representações que tenho
e das quais sou consciente. A unidade sintética do diverso das
intuições é, pois, enquanto dada a priori, o fundamento da
identidade da própria apercepção, que precede a priori todo o
meu pensamento determinado (B 135).
Segundo o filósofo prussiano, o "eu penso" é algo lógico, vaziou de conteúdo. Ou seja,
o "eu penso" na apercepção se refere ao pensamento - vazio de conhecimento - e não a
intuição. Segundo o Renato Duarte, a identidade da apercepção é numérica, mas formal,
isto é, lógica; à apercepção transcendental têm uma função coletiva, o sujeito do ato de
segunda ordem e cada instância: então “eu penso que X”; “eu penso que Y”, são
proposições de um mesmo sujeito (DUARTE, 2012, p. 441). Portanto, a apercepção
pura é uma consciência do "eu" que acompanha todas as representações, é uma
apercepção que abarcar tudo e os pensamentos estão inerentes ela, por isso é condição
para todo o conhecimento empírico. O "eu" é pensamento, não existe apercepção
transcendental independente dos pensamentos, a saber, estes pensamentos são referidos
a um "eu". Neste sentido que se encontra seu aspecto substancial e sua unidade lógica e
analítica (B 134 n.9) dos pensamentos. Isso é fundamento e condição para todo o
conhecimento empírico. Essa condição é subjetiva (a unidade do pensamento na
apercepção transcendental), todavia, o "eu penso" não produz as representações, ele
apenas às acompanhada pelo ato da própria espontaneidade:

Tomando em si mesmo, o pensamento é apenas a função lógica,


portanto a pura espontaneidade da ligação do diversos de uma
intuição meramente possível, e de modo algum apresenta o
sujeito da consciência como fenômeno, meramente porque não
leva em conta modo da intuição, se ela é sensível ou intelectual
(B 429).
A consciência do "eu", apercepção transcendental, é a sua unidade do
pensar, é a identidade numérica, a identidade de um só sujeito. Essas representações de
um "eu" é a prova apenas de que é um "eu" idêntico. A percepção como unidade de todo
o conhecimento empírico é a forma para todas as representações; por isso a ação de
ligar às representações por um juízo do pensar. Para Kant, pensar é julgar, então, a ação
de um juízo é a ligação das representações, e o "é" dessa ligação é a autoconsciência:
"[...] descubro que um juízo não é outra coisa se não o modo de submeter determinados
conhecimentos à unidade objetiva da apercepção. É para isso que se aponta, nos juízo, a
palavrinha relacional "é", diferenciando a unidade objetiva de representações dadas da
subjetividade" (B 142). Portanto, para Kant, diferente de muitos lógicos
contemporâneos de sua época, o juízo não é uma mera ligação de conceitos (como por
exemplo: "Esse corpo é pesado", mas "Eu sinto esse corpo pesado"), é no entanto, uma
ligação do diverso. A palavra relacional "é" significa uma ligação desse diverso, e
diferencia a relação objetiva e subjetivamente.

Segundo Kant, um sujeito é o mesmo em todos os juízos, isso não muda o


seu aspecto numérico; sou consciente de minha identidade imediata. Segundo o Renato,
a leitura da autoconsciência como atividade é uma auto-referência, d’uma consciência
do sujeito, de si próprio. O pronome “eu” refere-se a lógica da primeira pessoa, pode
servir como fio condutor para entender a auto-percepção em Kant como princípio de
identidade (DUARTE, 2012, P. 443). Quando o sujeito tem consciência de diferentes
estados ele é um e o mesmo. A apercepção, seguindo essa argumentação da identidade,
é a "que tudo abarca", é a consciência do "eu" como forma do pensamento, a saber, o
"eu penso" é um sujeito lógico, seu pensamento é formal e não um é conhecimento-de-
si, mas é consciência da forma da qual os pensamentos são pensados (MARTINS, 1998,
p. 73).

Sobre a consciência da identidade, segundo a Clélia, as funções lógicas e as


suas aplicações no múltiplo gera a consciência da identidade, enquanto que a
consciência empírica não é identidade, diferente da autoconsciência, que é a própria
identidade. De acordo com Kant; “Assim, somente porque eu posso ligar o diverso de
representações dadas em uma consciência é possível que eu me represente a identidade
da consciência nessas mesmas representações, i. e., a unidade analítica da apercepção só
é possível sob a pressuposição de alguma unidade sintética” (B 134). Portanto, essa
identidade é, para Kant, lógica: puro ato espontâneo de ligação é um princípio lógico e
analítico do puro pensar. É o princípio supremo do conhecimento. De acordo com a
Prof. Clélia, as limitações da espontaneidade não implicam na compreensão que temos
da autoconsciência, por isso a espontaneidade é tão importante para entender a
autoconsciência assim como suas funções lógicas, que são indeterminadas, pois, a
autoconsciência é um pensar e não um intuir (B 157).

Assim, o “eu penso” é vazio de conteúdo, obscuro e incondicionado3.


Porém, o “eu penso” tem fundamento - a identidade. A identidade é fonte de toda
ligações (Quell eller Verbindung), porque todas as representações devem estar ligadas a
um “eu idêntico”, pois a autoconsciência não produz, apenas liga4. Portanto, o “eu
penso” não é autoconhecimento, e sim uma autoconsciência, um pensamento da forma
(Form) da representação. A relação do “eu” com os pensamentos é formal, lógica, a
apercepção transcendental define as formas do pensamento.

3
“No fundamento da mesma, no entanto, só podemos colocar a representação simples, e por si mesma
inteiramente vazia de conteúdo, do eu, do qual não se pode sequer dizer que seja um conceito, mas
apenas uma mera consciência que acompanha todo conceito” (B 404).
4
Essa unidade do pensar é subjetiva e não objetiva: “...e que nós só exigimos unidade absoluta do
sujeito para um pensamento porque, do contrário, não se poderia dizer “eu penso” (o diversos em uma
representação). Pois, ainda que todo o pensamento pudesse ser dividido e distribuído entre muitos
sujeitos, o eu subjetivo não pode ser dividido e distribuído; isto é o que pressupomos em todo
pensamento” (A 354).
(III) “Eu sou” como afirmação da autoconsciência

O “eu penso” como intuição indeterminada do ato do entendimento, onde a


existência é dada. Ou seja, é o próprio “ato de pensar e não o ato de intuir”. Esses
momentos do “eu penso” na Dedução Transcendental deixam claro um problema
presente nos Paralogismos, onde Kant distingue o “sujeito lógico” e o “sujeito real”, e
deixa a entender que o sujeito lógico, no caso o “eu penso”, é apenas aquela
“consciência” que acompanha todos os atos sintéticos; “[...] é o veículo de todos os
conceitos em geral”5. Segundo o Prof. Raul Landim Filho, “Além disso, no primeiro
paralogismo da edição A [348-351], Kant introduz as noções de sujeito lógico, que
designa a função de unidade pressuposta em todo ato do entendimento. O ‘eu’ do juízo
“eu penso” poderia então designar o que designa a expressão ‘sujeito lógico’, isto é, a
condição de unidade dos atos de pensamento”6. Por conseguinte, essa afirmação
contraria o § 25 da Dedução Transcendental, onde Kant, também, afirmar que
“consciência-de-si expressa o ato de determinar a minha existência”, e que está mais
próximo do “sujeito real” do que “sujeito lógico”, porque, de acordo com o Raul
Landim, a consciência-de-si expressa ou envolve um conhecimento incipiente do
sujeito, pois, exprime a consciência da existência do sujeito enquanto determinante, e
por isso mesmo não poderia ser interpretada como uma mera “consciência formal”7.
Esse conhecimento expresso pela autoconsciência, “eu penso”, é real, por assim dizer.
Esse ato indeterminado do entendimento é um “pensar e não um intuir”, como diria
Kant. Entretanto, o Prof. Landim nos diz que esse é um conhecimento insipiente do
sujeito, é algo possível. É um problema, mas podemos buscar entender que “saber” é
esse do “eu sou” como determinação para a autoconsciência.
Portanto, se a autoconsciência é algo meramente formal, apenas uma
consciência da unidade da multiplicidade do diverso, ela não pode conter um
conhecimento real, um objeto empírico, apenas pelo ato do entendimento. Essa contraria
a reflexão de que a “existência já é dada” (o que envolve um conhecimento insipiente
do sujeito, pelo próprio ato do entendimento) no “eu penso”, na autoconsciência. Isso é
um problema que contraria a noção kantiana de que conhecimento envolve as categorias

5
KANT, I. Crítica da Razão Pura. Tradução de Fernando Costa Mattos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
6
FILHO, Raul Landim. Do eu penso cartesiano ao eu penso kantiano.
www.sociedadekant.org/studiakantiana/index.php/sk/article/download/11/94.
7
Idem.
do entendimento e intuições sensíveis, assim como a distinção pensar e intuir. Então, a
questão é: aonde aparece esse “saber” ou percepção da existência na autoconsciência?
Segundo o Prof. Raul Landim, deve-se pesquisar o sentido de “existir” na obra kantiana
para esclarecer esse problema. O termo existir, “existência”, para Kant, tem critério de
uso. No sentido lógico, existir é realizar unidade dos predicados, enquanto que existir
no sentido transcendental é formar os objetos, a realidade efetiva (que foi explicado no
‘Esquematismo’). Assim, o “eu penso” tem que ser pensado no sentido lógico:
existência [Dasein] é atribuído à autoconsciência, que é um ato do pensar.8 Neste
sentido, a substância também é pensada no sentido lógico, [...] um algo que somente
pode ser pensado como sujeito (sem ser um predicado de algo diverso)”9. Segundo
Kant, A consciência contém a simples existência (B 422). A autoconsciência só é
possível por causa da simples existência (A 367): a simples existência é percebida, mas
vale ressaltar que essa percepção é uma atividade da apercepção transcendental e não
uma intuição10.

Pensar a proposição no “eu penso a existência é dada”, é pensar um sujeito


como consciente dos atos de pensamento, dos atos de entendimento, e da própria ideia
de identidade como condição de experiência possível, “De fato, o eu está presente em
todo ato de pensamento como condição de unidade dos atos de entendimento. A
consciência dessa função de identidade exprime a consciência de que algo é pensado
como sujeito”11. Sendo assim, existência no “eu penso” tem sentido lógico, enquanto
ato do entendimento, e não esquematizado. Segundo a Prof. Clélia, o “eu sou” não pode
ser localizado, por isso não podemos ter conhecimento da existência. Assim, o “eu sou”
não seria o mesmo que “eu penso”, caso conseguíssemos localizar a “existência” como
um objeto empírico12. É impossível dizer que a existência é um objeto dado
imediatamente, pois Kant mesmo nos lembra que a existência não é um objeto que

8
Idem
9
KANT, I. Crítica da Razão Pura. Tradução de Fernando Costa Mattos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
10
Kant concorda com Descartes nesse ponto: “Por isso também Descartes, com razão limitava toda
percepção, no sentido mais estrito, à proposição “eu (como um ser pensante) sou”. É evidente, com
efeito, que, se o externo não está em mim, eu não posso encontra-lo em minha apercepção, nem
tampouco na percepção, a qual, na verdade, é tão somente a determinação da apercepção” (A 368).
11
FILHO, Raul Landim. Do eu penso cartesiano ao eu penso kantiano.
www.sociedadekant.org/studiakantiana/index.php/sk/article/download/11/94.

12
“Sem termos desta existência um conhecimento, também não podemos, por decorrência, tecer
considerações sobre seu ‘local’ [...]” (MARTINS, 1998, p. 79).
podemos colocar fora de nós para conhece-lo como uma intuição13. Ademais, segundo a
autora, o “eu penso” se dá no “eu sou” como juízo analítico. Porque a existência é não-
categorial. Isso ocorre, talvez, no próprio carácter da existência como substância, como
não predicado (B 404, B 149, B 419)14.

A autoconsciência como “sujeito lógico”, o ente pensante, é o meio termo,


é a condição para o ato do entendimento. E por isso é “pensado como sujeito” – no
sentido lógico, claro –, como algo possível. Segundo o Raul Landim – que parece estar
de acordo com a Prof. Clélia - pode ser legitimamente uma substância:

No ‘Primeiro Paralogismo da Substancialidade’ em [A] a expressão ‘sujeito


absoluto’ desempenha o papel de termo médio. O termo médio do
paralogismo em [B] é a expressão “pensado como sujeito”. Ambas as
expressões (“pensado como sujeito” e “sujeito absoluto”) podem designar
ou bem o sujeito lógico, isto é, o sujeito considerado como condição de
unidade dos atos do entendimento ou bem um sujeito real, isto é, uma coisa
que jamais seria um acidente (determinado) de qualquer outra coisa, que só
pode ser pensada como sujeito e que, portanto, pode legitimamente ser
considerada como substância. A análise de Kant mostra que a expressão
“sujeito real” se refere a coisas reais que seriam substâncias, enquanto que o
termo “sujeito” na premissa menor do paralogismo refere-se a uma condição
dos atos do entendimento, independentemente da relação desses atos com
intuições15.

Não obstante, mesmo que a existência seja neutra e não-categorial, ela não é um dado
receptivo espaço-temporal, a saber, ela é não-temporal, não é um juízo sintético.
Ademais, a “substância” é a suposição de toda predicação, e por isso o “eu sou” não é
um predicado, o sujeito não pode ser um predicado. Do mesmo modo, segunda Clélia,
Kant diz que a existência não-categorial também não é uma intuição intelectual, a
mesma está apenas no nível do pensar e não do intuir16.

13
“Na síntese transcendental do diverso das representações em geral, por outro lado, e portanto na
unidade sintética originária da apercepção, eu sou consciente não de mim mesmo como me apareço
[...]” (B 157).
14
“O “eu sou”, porque pensa a existência, na consciência, desvinculada das categorias (existência não é
aqui categoria – B 423 n.) e possibilita um pensar a si próprio sem se referir à experiência, é apenas um
juízo analítico, o que significa, em outras palavras, que a unidade lógica do sujeito é pensada como uma
unidade analítica e que o “eu penso” da autoconsciência pura está para a existência como juízo
analítico” (MARTINS, 1998, p. 80).
15
Idem.
16
(B 428).
De acordo com a Prof. Clélia, o “saber” da existência repousa na
percepção17: a saber, diferenciando percepção de apercepção; percepção é um ato da
apercepção transcendental. Ora, o sujeito tem consciência de sua condição numérica
para conhecer, isso é uma percepção indefinida (Unbestimmte Wahrnehmung). Na
percepção indefinida o sujeito é consciente do seu próprio saber e de sua própria
existência: „A pura apercepção, assim entendemos, não deve ser confundida com a
percepção indefinida – o „Sein“ é apreendido por esta (A 368), a qual está na
autoconsciência, que por sua vez contém a existência“ (MARTINS, 1998, p. 85).

Portanto, segundo a Prof. Clélia, a percepção do “eu sou” na


autoconsciência é direta: “eu” pressupões as qualidades e o que deseja saber, e isso
ocorre diretamente, a saber, o que ocorre na autoconsciência é direto. Portanto, na
autoconsciência o sujeito tem consciência de sua própria existência diretamente, isso
não tem nada a ver com objeto sensível. Em B 422 n. 66, Kant esclarece esse problema
de uma maneira clara:

O "eu penso" é, como já foi dito, unia proposição empírica e contém


em si a proposição "eu existo". Não posso, contudo, dizer "tudo o
que pensa existe", pois então a propriedade do pensamento tornava
todos os seres que a possuem, noutros tantos seres necessários. Por
isso, a minha existência também não pode considerar-se deduzida da
proposição "eu penso", como Descartes julgou (pois de outra forma
devia supor-se, previamente, "tudo o que pensa existe"), mas é-lhe
idêntica. Exprime uma intuição empírica indeterminada, isto é, uma
percepção (o que prova, por consequência, que já a sensação, I que
pertence à sensibilidade, serve de fundamento a esta proposição de
existência); mas precede a experiência, que deve determinar o objeto
da percepção pela categoria em relação ao tempo e a existência não
é, neste caso, categoria alguma, pois a categoria está relacionada,
não com um objeto dado indeterminadamente, mas com um objeto,
de que tem um conceito e do qual se quer saber se existe ou não
também fora desse conceito. Uma percepção indeterminada significa
aqui apenas alguma coisa de real, que é dada, mas somente para o
pensamento em geral, portanto, não como fenômeno; também (B
422 n. 66).

17
Que de acordo com Kant: “[...] que minha própria existência possa ser apenas objeto de uma simples
percepção” (A 367).
Referências:

KANT, I. Crítica da Razão Pura. Tradução de Fernando Costa Mattos. 3. ed.


Petrópolis: Vozes, 2012.
CAYGILL, Howard. Dicionário Kant. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
FILHO, Raul Landim. Do eu penso cartesiano ao eu penso kantiano.
www.sociedadekant.org/studiakantiana/index.php/sk/article/download/11/94.

MARTINS, Clélia. Aparecida. Autoconsciência pura, Identidade e Existência. São


Paulo, 21/22: 67-89, 1998/1999.

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