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(I) Introdução
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KANT, I. Crítica da Razão Pura. Tradução de Fernando Costa Mattos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
entendimento ou um fundamento real? Pois, no § 25, surge esse problema; “O “eu
penso” exprime o ato de determinar a minha existência”, ou seja, de que a existência é
dada na autoconsciência. Portanto, o que seria essa existência dada na autoconsciência,
como ocorre essa relação? Para entender melhor esse problema é preciso esclarecer
melhor as características da apercepção transcendental: identidade e existência.
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Segundo a Clélia: “Com isso, Kant entende que o conceito de autoconsciência permite ao sujeito torna-
se consciente de uma espontaneidade. Essa espontaneidades supões um “eu-representação” vazio ou
uma simples representação do “eu” que é a consciência transcendental, uma autoconsciência que
unifica todas as demais consciências. Esse “eu” nos é desconhecido porque a autoconsciência é
incondicionada; assim ele é uma representação sem conteúdo e sua obscuridade, seu caráter
imperscrutável é o que Strawson adjetiva como seu significado não-denotativo, o qual designa a própria
consciência em geral” (MARTINS, 1998, p. 72).
o ato da síntese seria impossível pensar em um triângulo, p. ex. Portanto, no ato da
síntese, no juízo "eu penso", as representações são reunidas em um “eu” idêntico.
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“No fundamento da mesma, no entanto, só podemos colocar a representação simples, e por si mesma
inteiramente vazia de conteúdo, do eu, do qual não se pode sequer dizer que seja um conceito, mas
apenas uma mera consciência que acompanha todo conceito” (B 404).
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Essa unidade do pensar é subjetiva e não objetiva: “...e que nós só exigimos unidade absoluta do
sujeito para um pensamento porque, do contrário, não se poderia dizer “eu penso” (o diversos em uma
representação). Pois, ainda que todo o pensamento pudesse ser dividido e distribuído entre muitos
sujeitos, o eu subjetivo não pode ser dividido e distribuído; isto é o que pressupomos em todo
pensamento” (A 354).
(III) “Eu sou” como afirmação da autoconsciência
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KANT, I. Crítica da Razão Pura. Tradução de Fernando Costa Mattos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
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FILHO, Raul Landim. Do eu penso cartesiano ao eu penso kantiano.
www.sociedadekant.org/studiakantiana/index.php/sk/article/download/11/94.
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Idem.
do entendimento e intuições sensíveis, assim como a distinção pensar e intuir. Então, a
questão é: aonde aparece esse “saber” ou percepção da existência na autoconsciência?
Segundo o Prof. Raul Landim, deve-se pesquisar o sentido de “existir” na obra kantiana
para esclarecer esse problema. O termo existir, “existência”, para Kant, tem critério de
uso. No sentido lógico, existir é realizar unidade dos predicados, enquanto que existir
no sentido transcendental é formar os objetos, a realidade efetiva (que foi explicado no
‘Esquematismo’). Assim, o “eu penso” tem que ser pensado no sentido lógico:
existência [Dasein] é atribuído à autoconsciência, que é um ato do pensar.8 Neste
sentido, a substância também é pensada no sentido lógico, [...] um algo que somente
pode ser pensado como sujeito (sem ser um predicado de algo diverso)”9. Segundo
Kant, A consciência contém a simples existência (B 422). A autoconsciência só é
possível por causa da simples existência (A 367): a simples existência é percebida, mas
vale ressaltar que essa percepção é uma atividade da apercepção transcendental e não
uma intuição10.
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Idem
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KANT, I. Crítica da Razão Pura. Tradução de Fernando Costa Mattos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
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Kant concorda com Descartes nesse ponto: “Por isso também Descartes, com razão limitava toda
percepção, no sentido mais estrito, à proposição “eu (como um ser pensante) sou”. É evidente, com
efeito, que, se o externo não está em mim, eu não posso encontra-lo em minha apercepção, nem
tampouco na percepção, a qual, na verdade, é tão somente a determinação da apercepção” (A 368).
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FILHO, Raul Landim. Do eu penso cartesiano ao eu penso kantiano.
www.sociedadekant.org/studiakantiana/index.php/sk/article/download/11/94.
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“Sem termos desta existência um conhecimento, também não podemos, por decorrência, tecer
considerações sobre seu ‘local’ [...]” (MARTINS, 1998, p. 79).
podemos colocar fora de nós para conhece-lo como uma intuição13. Ademais, segundo a
autora, o “eu penso” se dá no “eu sou” como juízo analítico. Porque a existência é não-
categorial. Isso ocorre, talvez, no próprio carácter da existência como substância, como
não predicado (B 404, B 149, B 419)14.
Não obstante, mesmo que a existência seja neutra e não-categorial, ela não é um dado
receptivo espaço-temporal, a saber, ela é não-temporal, não é um juízo sintético.
Ademais, a “substância” é a suposição de toda predicação, e por isso o “eu sou” não é
um predicado, o sujeito não pode ser um predicado. Do mesmo modo, segunda Clélia,
Kant diz que a existência não-categorial também não é uma intuição intelectual, a
mesma está apenas no nível do pensar e não do intuir16.
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“Na síntese transcendental do diverso das representações em geral, por outro lado, e portanto na
unidade sintética originária da apercepção, eu sou consciente não de mim mesmo como me apareço
[...]” (B 157).
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“O “eu sou”, porque pensa a existência, na consciência, desvinculada das categorias (existência não é
aqui categoria – B 423 n.) e possibilita um pensar a si próprio sem se referir à experiência, é apenas um
juízo analítico, o que significa, em outras palavras, que a unidade lógica do sujeito é pensada como uma
unidade analítica e que o “eu penso” da autoconsciência pura está para a existência como juízo
analítico” (MARTINS, 1998, p. 80).
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Idem.
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(B 428).
De acordo com a Prof. Clélia, o “saber” da existência repousa na
percepção17: a saber, diferenciando percepção de apercepção; percepção é um ato da
apercepção transcendental. Ora, o sujeito tem consciência de sua condição numérica
para conhecer, isso é uma percepção indefinida (Unbestimmte Wahrnehmung). Na
percepção indefinida o sujeito é consciente do seu próprio saber e de sua própria
existência: „A pura apercepção, assim entendemos, não deve ser confundida com a
percepção indefinida – o „Sein“ é apreendido por esta (A 368), a qual está na
autoconsciência, que por sua vez contém a existência“ (MARTINS, 1998, p. 85).
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Que de acordo com Kant: “[...] que minha própria existência possa ser apenas objeto de uma simples
percepção” (A 367).
Referências: