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Brasil esteve à beira do comunismo


nos anos 1960? História não mostra
isso - 01/10/2019
Carlos Madeiro Colaboração para o UOL, em Maceió 01/10/2019
04h00
9-13 minutes

Já se falou muitas vezes que o golpe militar de 1964 foi dado


para evitar que o Brasil virasse um "nova Cuba". E que o
presidente deposto à época, João Goulart, planejava mudar o
regime capitalista para o comunista em aliança com líderes
internacionais de esquerda.

Entretanto, não há respaldo na história do país que justifique


essa teoria, exceto uma versão difundida à época da ditadura
para que o governo se mantivesse no poder.

O presidente Jair Bolsonaro disse em discurso na ONU


(Organização das Nações Unidas) que, "nos anos 60, agentes
cubanos foram enviados a diversos países para colaborar
com a implementação de ditaduras". "Há poucas décadas
tentaram mudar o regime brasileiro e de outros países da
América Latina. Foram derrotados", continuou.

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Relatos e documentos históricos colhidos pelo UOL mostram


que nunca houve qualquer possibilidade real de revolução
comunista ou mudança de regime nos anos 1960, seja por
falta de apoio popular, de organização e de grande
participação em grupos de esquerda radical ou mesmo pela
repressão violenta do Estado.

Uma das versões sempre apresentadas --e confirmadas por


militares à época da ditadura-- era a de que o presidente João
Goulart estaria guinando o país ao comunismo, o que foi
contestado por todos os especialistas ouvidos pelo UOL
assim como seu filho. "As pessoas na América Latina não são
inclinadas ao comunismo. Justiça social não é algo marxista
ou comunista", disse o presidente deposto em entrevista em
1967.

Em conversa com o UOL, João Goulart Filho disse que Jango


"nunca foi comunista". Ele conta que, após a crise de 1961
(com a renúncia de Jânio Quadros), Jango apresentou o
plano de metas para a implantação das "reformas de base". O
principal ponto era a efetivação reforma agrária. Como o tema
tinha resistência grande de forças políticas conservadoras,
Jango acabou se aproximando de alas da esquerda.

"Eram medidas necessárias ao desenvolvimento do


empresariado estritamente nacional, com a economia voltada
ao mercado interno, protegendo as nossas estatais
estratégicas", conta.

Foi a partir daí que veio a reação dos grandes latifundiários.

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"Eles usavam a terra não como instrumento de produção ao


serviço da questão social, mas apenas como ativos do seu
balanço empresarial", diz.

A ideia de seu pai era realizar uma reforma agrária que


distribuiria, na época, 1 milhão de títulos de propriedade "nos
moldes das reformas agrárias feitas nos EUA e no México no
século 19".

"A reforma agrária era o pesadelo das elites rurais brasileiras,


que não paravam de afirmar, caluniar, denegrir o governo
classificando-o de 'comunista'. A reforma agrária de Jango era
uma reforma capitalista", diz, negando o tom socialista das
propostas.

Havia ameaça pós-1964?

Documentos confidenciais do Exército já mostravam que a


"ameaça" comunista não se tratava de uma ameaça real. Um
informe do SNI (Serviço Nacional de Informações) datado de
9 de outubro de 1964 traz um extenso relato avaliando o
comunismo no mundo e admite, entre outros pontos, que "o
comunismo internacional perdeu o sentido revolucionário na
Europa Ocidental e desgasta-se, dia a dia, nos países da
Cortina de Ferro".

"Cortina de Ferro" era o termo que definia a divisão da Europa


Ocidental, capitalista, do Leste Europeu, onde estava a URSS
(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, hoje
majoritariamente território russo).

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No mesmo documento, os militares deixam claro que o


"comunismo internacional tem sérias preocupações com o
processo de Revolução Brasileira". O termo revolução, no
caso, é usado como substituto de golpe de 1964.

Trecho de documento que cita o perigo do comunismo na


América do Sul

Imagem: Reprodução

No texto, os militares analisam que não há clima para a


instalação do comunismo por conta das contradições "por
demais violentas" do Brasil, afirmando que o povo não
aceitaria "pacificamente as influências externas".

Cita, entre outros pontos, que o nordestino é "integrado à


terra, não admitindo modificações", e que a região amazônica
"está praticamente despovoada".

Historiador: "Nunca houve ameaça aos militares"

Na opinião do historiador e professor da UFRJ (Universidade


Federal do Rio de Janeiro) Carlos Fico, que há anos estuda o
tema, em nenhum momento da história do país houve

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possibilidade da implantação do comunismo. "Todos os


grupos eram desorganizados, muito frágeis. Não havia base,
nem apoio popular para a busca dessa implantação", explica.

O historiador cita que, desde a Revolução Cubana, em 1959,


grupos da esquerda e comunistas tentaram em vários países
implantar o regime, mas o Brasil não foi um em que isso
tenha ocorrido de fato. "Antes do golpe de 1964, essas
tentativas foram muito tímidas no Brasil, não houve
significativa adesão à opção pela luta armada", afirma.

"O golpe não veio para coibir uma tentativa efetiva de


implantação do comunismo, muito menos o presidente João
Goulart pode ser tido como comunista. Ele era no máximo um
reformista", diz, citando as reformas de base que eram o pilar
do governo de Jango.

Fico afirma que, depois do golpe --especialmente após do Ato


Institucional Número 5, de 1968--, as ações armadas da
esquerda revolucionária cresceram, mas sem nunca chegar a
ameaçar o poder militar.

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Corpo de militante morto pelo Exército no Araguaia, no Pará

Imagem: Arquivo Nacional

"Elas eram muito desarticuladas, foram poucas, relativamente


inexpressivas, embora sejam sempre muito lembradas. Então,
até 1970, essas ações armadas não foram muito relevantes e
foram rapidamente reprimidas pela ditadura de maneira brutal
e clandestina", afirma.

Fico ainda se lembra do maior grupo de guerrilha durante a


ditadura, a do Araguaia, organizada pelo Partido Comunista
do Brasil, no sul do Pará, no início dos anos 1970.

O movimento ficou restrito à região e acabou com a morte e


desaparecimento de 62 militantes e camponeses. "A chamada
guerrilha não deu em nada e também foi reprimida com
brutalidade pelo Exército", conta.

João Goulart e Maria Teresa Fontella Goulart, primeira-dama,


recebem a primeira-dama do Paraguai em fevereiro de 1964

Imagem: Arquivo Nacional

Por conta da brutalidade do caso, o Brasil foi condenado, em

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2010, pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos a


investigar o caso e empenhar esforços para encontrar os
restos mortais dos desaparecidos.

Para Lucas Paolo Vilalta, coordenador da área de Memória,


Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog, na década de
1950 e início da década de 1960, o país passou por
mudanças sociais e culturais que "soavam como
transformação ameaçadora" para a classe média e a elite.

"Na época [pré-ditadura] havia artistas, intelectuais e


operários comunistas organizados em partidos, que
dialogavam com o que acontecia em outros países e que
havia uma pressão social —de distintos setores— pela
efetivação das reformas de base", diz

Ele afirma que, na época, houve uma percepção dessas


classes mais abastadas de que havia uma política de
distribuição agrária do país que "ameaçava o patrimonialismo
brasileiro".

"A própria pauta desenvolvimentista e a discussão sobre o


uso da terra colocava as elites em alvoroço. Mas, com relação
à iminência do comunismo em 1964, o que temos é um total
despropósito", diz.

Vilalta lembra que um dos argumentos lembrados é que o


país tinha infiltrados da KGB (Serviço Secreto da extinta
URSS) no país.

"Pesquisas mas recentes indicam que havia espiões da KGB.

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Isso não deveria ser uma novidade alarmante para ninguém,


dado que o mundo estava dividido e polarizado. Agora há um
problema gigantesco de escala ao extrapolar isto traduzindo
essa presença como a comprovação fática de que havia um
golpe comunista em curso que foi evitado por um contragolpe
militar", afirma.

"Limpeza" no Exército

Segundo a procuradora Eugênia Gonzaga, que foi presidente


da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos
Políticos (criada em 1995), um dos detalhes marcantes da
ditadura brasileira é que houve uma "limpeza" no Exército
logo após o golpe, que retirou os militares que discordavam
sobre a narrativa de que comunistas desejavam tomar o
poder brasileiro. Com isso, diz, foi mais fácil fortalecer uma
intensa propaganda contra o risco do comunismo.

"Entre 1964 e 1968, eles mandaram embora milhares de


militares, inclusive de altas patentes. Quem não defendia
essa visão era defenestrado. Quem está lá até hoje são as
pessoas que defendem isso, como era a visão do [coronel
Carlos Alberto Brilhante] Ustra e é a de Bolsonaro", explica.

Durante depoimentos que ela acompanhou de militares na


comissão —da qual ela fez parte entre 2014 e 2019)— e
como procuradora, ela lembra ter ouvido muitos falarem da
"ameaça do comunismo". "Ouvi muito que o Brasil iria se
transformar em uma imensa Cuba. Acho que incutiram isso

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na cabeça, e muitos ali acreditavam, se autojustificam com


esse argumento até hoje", relata.

Para a procuradora, a ascensão de Bolsonaro mostra como o


Brasil não conseguiu lidar bem com as marcas da ditadura.
"Um dos requisitos da justiça de transição é a educação
interna das instituições que apoiaram o golpe, e o Brasil não
conseguiu fazer isso. O Exército inclusive fez o contrário:
deixou em seu quadro pessoas que apoiam essa visão de
autoritarismo", finaliza.

Reprodução
automática em 5s

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