Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Autonomia Privada
Sendo caraterizada como a possibilidade de alguém estabelecer efeitos jurídicos que se irão
repercutir na sua esfera jurídica, existindo uma permissão genérica de conduta, é caraterizada pelo Prof
Menezes Cordeiro. Consiste num espaço de liberdade, desde que sejam respeitados certos limites, das
partes poderem livremente desencadear os efeitos jurídicos que pretendem. o como uma permissão
normativa genérica de produção de efeitos jurídicos.
Pelo contrário, no direito subjectivo existe uma esfera de competência, já que relativamente a certo
bem, ele é o objecto de um direito subjectivo, efectua-se a sua atribuição exclusivamente a uma pessoa,
uma vez que todos os outros sujeitos vêm a ser excluídos dessa atribuição. Por isso no direito subjectivo
existe uma permissão normativa específica.
Autonomia privada – liberdade de produção reflexiva de efeitos jurídicos, na medida em que os
efeitos jurídicos produzidos irão repercutir-se na esfera dos sujeitos que os produzem. Essa produção
reflexiva de efeitos depende da utilização do negócio jurídico.
Negócio jurídico – acto da autonomia privada marcado pela presença de liberdade de celebração e de
estipulação.
1
Facto jurídico Lato sensu Acto jurídico Lato sensu
[evento ao qual o Direito Acto jurídico stricto sensu:
associa determinados efeitos:
manifestação da liberdade de celebração
constituição, modificação,
vontade humana
transmissão
Negócios jurídicos (ex lege)
ou extinção de SJ]
NJ: ambas liberdades
Facto jurídico Stricto sensu
[eventos naturais ou humanos voluntários que não
relevem em termos de eficácia – Ex: enriquecimento
sem causa]
Os negócios unilaterais só em certos casos poderão dar origem a obrigações, uma vez que o art.
457.º (princípio da tipicidade) refere que a promessa unilateral de uma prestação só obriga nos casos
previstos na lei.
O que carateriza o contrato enquanto negócio jurídico é que ambas as partes estão de acordo em
relação aos efeitos jurídicos produzidos, estabelecendo assim, através de duas declarações negociais
harmonizáveis entre si, uma disciplina jurídica comum com repercussão nas respetivas esferas jurídicas.
A liberdade contratual é assim, a possibilidade conferida pela ordem jurídica a cada uma das partes
de autorregular, através de um acordo mútuo, as suas relações para com a outra parte, por ela livremente
escolhida, em termos vinculativos para ambas (art. 406º nº1).
Referência à liberdade de extinção contratual, por mútuo acordo (art. 406.º). Nestes casos a extinção
do contrato anterior resulta de um contrato extintivo em relação ao qual existe liberdade de celebração
e liberdade de estipulação. Uma consequência importante no âmbito do Direito das Obrigações é a
supletividade das suas regras, isto é, elas podem ser afastadas pela vontade das partes.
2
Restrições à liberdade de celebração
Uma importante restrição à liberdade de celebração consiste na obrigação de celebração do
contrato. Nesses casos, a outra parte pode exigir essa celebração (art. 817.º) ou inclusivamente obter
sentença que produza os mesmo efeitos que o contrato prometido (art. 830.º). A não celebração constitui
ilícito obrigacional e gera obrigação de indemnização. Nessa situação a liberdade de celebração apenas
existe para a parte que não esteja vinculada a essa obrigação, e que por isso pode exigir a celebração do
contrato ou renunciar a ela.
A simples injustiça do dano sofrido não é suficiente para se ter direito à indemnização. Daí que o dano
seja normalmente suportado por quem o sofreu, como fazendo parte do risco geral da vida. Em muitas
ocasiões ocorre um fenómeno que se denomina de imputação de danos. Quando a lei considera existir,
não apenas um dano injusto para o lesado, mas também uma razão de justiça. A situação de alguém
que o direito considera estar em posição mais adequada à suportação do dano é denominada de
responsabilidade civil (483.º), cuja transferência para o património do responsável efectua-se
mediante a constituição da obrigação de indemnizar. Tradicionalmente a imputação fazia-se pela culpa
do lesante, cuja consequência é a do lesado não ter direito a indemnização, a menos que demonstre a
culpa (art. 487.º/1 do CC). O rigor deste regime foi atenuado pela consagração de presunções de culpa
do lesante (arts. 491.º, 492.º e 493.º). Posteriormente, foi-se desenvolvendo a ideia de que a
imputação de danos poderia mesmo dispensar a culpa do lesante, e daí surge a responsabilidade pelo
risco, (483.º/2 do CC), onde se inserem vários casos (arts. 500.º, 501.º, 502.º, 503.º ou 509.º). Por ex.,
se alguém atropela outrem, este terá de indemnizar, mesmo que não tenha culpa.
A imputação de danos pode basear-se em permissões de sacrificar bens alheios no interesse próprio,
que têm como contrapartida o estabelecimento de uma obrigação de indemnização (arts. 81.º/2 e
339.º/2 do CC). Aqui temos a responsabilidade por factos ilícitos: - Imputação por culpa – a
responsabilidade baseia-se numa conduta ilícita e censurável do agente, que justifica dever ele
suportar em lugar do lesado os prejuízos resultantes dessa sua conduta. Tem uma função reparatória
do dano e sancionatório do lesante. - Imputação pelo risco – o fundamento que lhe está na base é uma
ideia de justiça distributiva. Risco-proveito (aquele que retira proveito de uma situação deve suportar
o prejuízo) risco Profissional (aquele que exerce profissão de risco deve suportar o dano) risco
autoridade (aquele que define condutas alheias deve suportar também os danos). - Imputação pelo
3
sacrifício – a lei permite, em homenagem a um valor superior, que seja sacrificado um bem ou direito
pertencente a outrem, atribuindo uma indemnização ao lesado como compensação desse sacrifício.
Boa fé
Vista pelo professor Menezes Cordeiro como uma tradução dos valores fundamentais do sistema. No
sentido objetivo, é uma regra de conduta. Estão em causa no vínculo obrigacional regras de
comportamento que proporcionarão a satisfação do direito de crédito mediante a realização da
prestação pelo devedor, sem que resultem danos para qualquer das partes.
- Responsabilidade pré-contratual (art. 227.º/1 do CC). - Integração dos negócios (art. 239.º do CC). -
Abuso de direito (art. 334.º do CC). - Resolução ou modificação dos contratos por alteração das
circunstâncias (art. 437.º/1 do CC). - Complexidade das obrigações (art. 726.º/2 do CC).
Estes institutos concretizam deveres acessórios de protecção (evita que surjam danos para as partes),
informação (sobre o objecto da negociação) e lealdade. O art 762.º/2 do CC manda aplicar estes
deveres tanto no cumprimento da obrigação como no exercício do direito. Os casos dos arts 334.º e
437.º correspondem a uma manifestação específica do princípio da boa fé que consiste em tornar
ilegítimo o exercício de certas posições jurídicas quando ele se apresenta como contrário a vectores
do sistema.
No direito Romano era permitido ao credor matar ou escravizar o devedor. Hoje ao credor é apenas
reconhecido a possibilidade de executar o património do devedor para obter a satisfação do seu
crédito. A ordem jurídica reconhece ao credor um direito à prestação e ao devedor um dever de
prestar, sem assegurar por alguma forma a realização desse direito ou o cumprimento desse dever
(art.817.º do CC). Ao definir a obrigação no art. 397.º do CC como o vinculo jurídico que provoca a
adstrição à realização de uma prestação, pressupõe-se o recurso a um tribunal para a segurar essa
prestação. O recurso para tribunal faz-se enquanto a prestação é possível, para exigir essa mesma
prestação (acção de cumprimento - art. 817.º). Caso a realização da prestação já não seja possível o
credor só poderá reclamar uma indemnização (incumprimento definitivo – arts. 978.º e 808.º - e
impossibilidade culposa de cumprimento – art. 801.º). O direito à indemnização tem fundamento na
responsabilidade civil causado pelo ilícito obrigacional.
O artigo 398º considera que a normal lógica obrigacional liga a proteção do credor perante um
interesse pecuniário, estando subjacentes interesses económicos, podendo existir situações
em que este interesse não é determinanten(caso dos danos não patrimoniais- 496º)
4
O artigo 398º/2 pode ter uma ligação com o artigo 280º
5
6