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1 - Breve histórico
Roustaing traz de novo essas idéias. Se, como pretende os quatro Evangelhos
fossem comentados agora pelos próprios evangelistas, constituiriam uma obra de
altíssimo valor, que viria reforçar a Codificação. Mas as contradições e erros são tão
grandes que têm prestado um desserviço ao Espiritismo. Por isso, é profundamente
lamentável que a Federação Espírita Brasileira dê tamanho valor a essa doutrina
desagregadora.
Ismael Gomes Braga, dirigente da FEB, em seu livro "Elos Doutrinários" culpa os
kardecistas pelo fracasso do movimento espírita francês: "Nos lugares onde os
inimigos visíveis e invisíveis de Roustaing venceram a campanha que maquinaram,
o Espiritismo e Kardec entraram em declínio e, ou desapareceram totalmente, ou
estão adormecidos. Está demonstrado, pois, que atacar a obra de Roustaing é, de
fato, atacar e minar o edifício todo da Terceira Revelação, lançar o descrédito sobre
a fonte mesma do espiritismo." ( ... )"Não nos iludamos com esses pretensos
defensores de Kardec. Eles são os únicos inimigos perigosos do espiritismo, por isso
que se dizem espíritas, escrevem e falam em nome da Doutrina e ardilosamente lhe
vão minando os alicerces eternos: os Evangelhos e a Mediunidade". Para ele, os
livros de Roustaing são um curso superior de Espiritismo.
Luciano dos Anjos, em artigo publicado no "Reformador", órgão da FEB, em 1973,
afirma que a FEB é uma instituição extraterrena, nada mais sendo do que uma
projeção de sua verdadeira sede que está no alto. Francisco Thiesen, ex-presidente
da FEB, no "Reformador"de abril de 1987, diz que "Kardequizar é sectarizar".
2 - Afirmações de Roustaing
1 - Jesus, sendo um Espírito Crístico, não teve um corpo carnal, mas um corpo
fluídico, com todas as aparências de matéria.
2- A gravidez de Maria foi aparente: "Foi obra do Espírito Santo (noção católica),
porque foi obra dos Espíritos do Senhor e, como tal, aparente e fluídica, de maneira
a produzir ilusão, a fazer crer numa gravidez real". Quer dizer: Maria participou de
uma grande farsa. "Os espíritos prepostos à preparação do aparecimento do
Messias na Terra reuniram em torno de Maria fluidos apropriados que lhe operaram
a distensão do abdômem e o entumesceram." ( ... )"Seu parto foi igualmente obra
do Espírito Santo, porque também foi obra dos Espíritos do Senhor e só se deu na
aparência, tal como a gravidez." Vejam-se o misticismo e a arrogância, fazendo os
"Espíritos do Senhor" virem fazer os partos aqui na Terra ...
3 - O leite mamado por Jesus era devolvido pelos espíritos ao sangue da mãe, sem
que ela o soubesse.
4 - O corpo fluídico justifica atos da vida de Jesus, como andar sobre as águas e
desaparecer do sepulcro.
S - Os Espíritos crísticos, puríssimos, não podem encarnar, por isso, Jesus não
poderia ter corpo de matéria.
6 - Tudo, na vida de Jesus, foi apenas aparente, havendo ilusão para todos os que
o seguiam.
7- Deveria vir o "Espírito Regenerador", representando o Consolador prometido por
Jesus, com o papel do Espírito Santo da Igreja Romana. Esta afirmação reduz a
zero a universalidade da missão do Espiritismo e as manifestações mediúnicas. "Os
vossos médiuns só entrarão no gozo completo de suas faculdades medianímicas
quando estiver entre os homens o Regenerador, Espírito que desempenhará a
missão superior de conduzir a humanidade ao estado de inocência, isto é, ao grau
de perfeição a que ela tem de chegar". ( ... )" Debaixo da influência e da direção do
Regenerador, caminha o chefe da Igreja Católica, a qual será, então, católica na
legítima acepção desse termo, pois estará em vias de tornar-se universal, como
sendo a Igreja de Cristo."
"O Mundo Maior decidiu que Kardec contaria com a coordenação de uma plêiade de
auxiliares de sua obra, designados particularmente para coadjuvá-lo, nas
individualidades de ]ean-Baptiste Roustaing, que organizaria o trabalho da fé; de
Léon Denis, que efetuaria o desdobramento filosófico; de Gabriel Delanne, que
apresentaria a estrada científica; e de Camille Flammarion, que abriria a cortina dos
mundos."
9 - Vem agora o absurdo dos absurdos, defendido por Roustaing. Trata-se dos
"criptógamos carnudos". Para ele, os espíritos "ateus" sofrem o castigo da primitiva
encarnação humana, transformando-se em larvas, que Roustaing denomina
"criptógamos carnudos". Seriam uma espécie em que se encarnam espíritos
humanos que regrediram aos planos vegetal e animal. Em Botânica, criptógamos é
o termo usado para designar os vegetais que possuem órgãos reprodutores ocultos.
O acréscimo "carnudo" faz lembrar músculos, carne, e por isso, os remete ao reino
animal. Nesses seres encarnariam espíritos humanos que regridem ao reino vegetal
ou animais extremamente elementares.
O homem aporta a essas terras no estado de esboço, como tudo que se forma nas
terras primitivas. O macho e a fêmea não são nem desenvolvidos, nem fortes, nem
inteligentes. Mal se arrastando nos seus grosseiros invólucros, vivem, como os
animais, do que encontram no solo e lhes convenha. As árvores e o terreno
produzem abundantemente para a nutrição de cada espécie. Os animais carnívoros
não os caçam. A previdência do Senhor vela pela encarnação de todos. Seus únicos
instintos são os da alimentação e os da reprodução".
No livro "O Verbo e a Carne", na página 43, Herculano Pires comenta: "Essa é a
revelação da revelação. Roustaing copia e desfigura Kardec, acrescentando aos
seus ensinos os maiores absurdos. Note-se que essas criaturas estranhas, em
forma de larvas e lesmas, são encarnação de espíritos humanos que haviam
atingido alta evolução sem passar pela encarnação humana. Depois de
desenvolverem a razão em alto grau e de haverem colaborado com Deus nos
processos da Criação, chegando mesmo a orientar criaturas humanas, voltam à
condição de criptógamos carnudos.
Mas por que falam os reveladores em substâncias humanas? Por que não
simplificam as coisas dizendo simplesmente que esses espíritos decaídos vão
encarnar-se em lesmas? Por que é preciso enganar os espiritistas que aceitam
Kardec e sabem que a evolução espiritual é irreversível, que o espírito humanizado
não pode regredir ao plano animal?"
Encontramos em Léon Denis, "Depois da Morte", 9º edição, FEB, página 124: "A
alma se elabora no seio dos organismos rudimentares. No animal, está apenas em
estado embrionário: no homem adquire o conhecimento e não pode mais
retrogradar".
3 - REFUTAÇÃO DE ROUSTAING
Vamos tentar refutar, item por item, os argumentos falaciosos dos roustainguistas,
mas nada melhor do que iniciar citando os ensinos poderosos do Codificador, que
constituem nosso esclarecimento, nossa luz, nosso farol. Representam não a
opinião sem validade de um homem, fanatizado e presunçoso, que quer impingir
suas idéias como se fossem os ensinos dos quatro evangelistas, mas sim, a opinião
coletiva de Espíritos de alta evolução, que trouxeram a Doutrina Espírita.
1- Corpo Fluídico . Vejamos o que diz "A Gênese"· Capítulo XV . item 65: "A
permanência de Jesus sobre a Terra apresenta dois períodos: aquele que precede e
aquele que segue sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção até o
nascimento, tudo se passa com sua mãe como nas condições comuns da vida. A
partir do nascimento até sua morte, tudo em seus atos, sua linguagem e nas
diversas circunstâncias de sua vida, apresenta os caracteres inequívocos de sua
corporeidade. Depois de sua morte, ao contrário, tudo revela nele o ser fluídico. A
diferença entre os dois estados é tão fundamentalmente traçada que não é possível
assemelhá·las ...
A coesão não existe nos corpos fluídicos; a vida, neles não repousa no
funcionamento de órgãos especiais e neles não se podem produzir desordens
análogas; um instrumento cortante em qualquer outro, ali penetra como num
vapor, sem lhe ocasionar lesão alguma. Eis porque os seres fluídicos designados
por agêneres não podem ser mortos.
Depois do suplício de Jesus, seu corpo lá ficou, inerte e sem vida; foi sepultado
como os corpos comuns, e todos puderam vê-lo e tocá·lo. .. Se Jesus pôde morrer,
é que tinha corpo carnal".
2 - O leite mamado por Jesus - A aceitação de que ele era devolvido pelos espíritos
ao sangue da mãe é de um absurdo verdadeiramente irritante. Mais tarde, quando
jovem e adulto, ele se alimentava como as outras pessoas. O que acontecia com
esses alimentos? Seriam desmaterializados? Por que recorrer a hipóteses
estapafúrdias? Será desonroso crer que ele tinha um corpo orgânico como o nosso?
3 - Andar sobre as águas - Não é preciso recorrer à fé para aceitar que Jesus
pairasse acima das águas, mesmo tendo corpo material. Em "A Gênese" - capítulo
XIV - item 42, encontramos: "Jesus, mesmo vivo, pôde aparecer sobre a água sob
uma forma tangível, enquanto seu corpo carnal se encontrava alhures; é a hipótese
mais provável".
Kardec escrevia e os Espíritos ensinavam, há 150 anos. Mas ele mesmo insistia em
que "o Espiritismo caminhará com a ciência". E caminhou. A própria física moderna
trouxe-nos explicações, impossíveis naquela época, e que hoje são banais, citando
ocorrências em que a força de atração da gravidade é vencida. Assim é que, dentro
dos "sputniks", os astronautas flutuam no ar.
"Os Espíritos superiores podem vir aos mundos inferiores e mesmo aí se encarnar.
Dos elementos constitutivos do mundo em que entram eles extraem os materiais
do envoltório fluídico ou carnal apropriado ao ambiente onde se encontram. Fazem
como grande senhor que deixou suas belas roupas para vestir-se
momentaneamente com trajes plebeus, sem que, por isso, deixe de ser grande
senhor. É assim que Espíritos das ordens mais elevadas podem se manifestar aos
habitantes da Terra, ou encarnar-se entre eles, em missão". "Os Espíritos
chamados a viver naquele meio dele extraem seu perispírito; mas
conforme seja o próprio Espírito mais ou menos purificado, seu perispírito
se forma de partes mais puras ou mais grosseiras do fluido próprio ao
mundo no qual se encarna."
Roustaing não deixa dúvidas quando afirma que Jesus não sofreu dores físicas ou
orgânicas e que seu sofrimento foi apenas moral. Reconhecemos que a dor moral
tenha sido bem maior que a dor corporal, dado o comando que tinha sobre a
matéria. Não precisaria sofrer a dor material, que é, para os homens, a
oportunidade de resgate e útil para a evolução.
Em Mateus, 17: 17, encontramos: "ó geração incrédula e perversa! Até quando
estarei convosco? Até quandos vos sofrerei?"
"Havendo, pois, Cristo padecido na carne, armai-vos também vós outros desta
mesma consideração: que aquele que padecer na carne cessou seus pecados." (l ª
Epístola de São Pedro - Capo 4-1)
Herculano Pires, em "O Verbo e a Carne", à página 56, pergunta: "Quais os motivos
da penetração de Roustaing no Brasil? Como e por que ele conseguiu enraizar-se
na chamada 'casa mater'? Por que nos defrontamos agora com uma recrudescência
dessa pseudo-doutrina? Parece-nos que tudo se resume numa questão de formação
religiosa, tendo por fundo a formação nacional brasileira e o período medieval do
nosso desenvolvimento nacional. O roustainguismo chegou ao Brasil num momento
crítico, quando a nossa cultura estava sendo abalada por várias infiltrações
européias. Entre essas, o Espiritismo, que chegara da Franca e empolgara alguns
espíritos cultos na segunda metade do século XIX. O roustainguismo se apresentou
como integrado ao Espiritismo e tocava de perto a sensibilidade mística de alguns
ex-católicos. A obra trazia um grande alívio aos espíritas místicos, pois quebrava a
frieza racional da obra de Kardec e restituia ao Cristo a sua condição sobrenatural.
Esta é a nossa posição, apoiado nas Obras Básicas de Allan Kardec e nos
estudos de seus mais fiéis seguidores, contra o roustainguismo, uma das
piores deturpações do Espiritismo.
Ary Lex