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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

REAÇÕES A CENÁRIOS DE INFIDELIDADE CONJUGAL: SÃO O


AMOR E O CIÚME EXPLICAÇÕES?

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

JANE PALMEIRA NÓBREGA CAVALCANTI

JOÃO PESSOA, FEVEREIRO DE 2007


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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

REAÇÕES A CENÁRIOS DE INFIDELIDADE CONJUGAL: SÃO O


AMOR E O CIÚME EXPLICAÇÕES?

JANE PALMEIRA NÓBREGA CAVALCANTI

PROF. DR. VALDINEY VELOSO GOUVEIA


ORIENTADOR

JOÃO PESSOA, FEVEREIRO DE 2007


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JANE PALMEIRA NÓBREGA CAVALCANTI

REAÇÕES A CENÁRIOS DE INFIDELIDADE CONJUGAL: SÃO O


AMOR E O CIÚME EXPLICAÇÕES?

Banca Avaliadora:

________________________________________________
Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia (Orientador)

________________________________________________
Prof. Dr. Júlio Rique Neto (Membro)

________________________________________________
Prof. Dr. Genário Alves Barbosa (Membro)

________________________________________________
Profª. Drª. Cleonice Pereira dos Santos Camino (Suplente)
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Dedicatória

Hoje e sempre, à criança que doou uma de suas córneas ao meu filho Itamar.
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E por falar em relações amorosas....

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,


y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma


emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.


Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio


claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.


Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

(Poema XV, Pablo Neruda)


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AGRADECIMENTOS

Ao amigo e orientador Valdiney Veloso Gouveia pelos ensinamentos acadêmicos e de


vida, pelo seu apoio, compreensão e incentivo.

Aos amigos e professores Cleonice Camino e Júlio Rique pelos ensinamentos e pela
preciosa contribuição.

Ao professor Genário Barbosa por acrescentar novas idéias a esta dissertação.

Aos professores que tive durante o curso de mestrado pelas reflexões e desenvolvimento
acadêmico.

A CAPES pelo auxílio de pesquisa, viabilizando meios no processo e conclusão deste


percurso.

A Gracinha e Vitória pelo apoio e carinho.

A todos os aplicadores de questionários, pois sem eles a realidade não teria sido
analisada e confrontada.

A todos os participantes anônimos.

A todos os amigos e ex-mestrandos Carlos Eduardo, Sandra Chaves, Estefânea, Valeschka


e Célia pelo incentivo no início desta jornada.

Aos ex-alunos PIBIC Viviane, Marcílio e Karla pelo companheirismo e pela ajuda em
todos os momentos.

A equipe (PIBIC, mestrado e doutorado) do BNCS por tudo que vivenciamos e


aprendemos juntos: Luciana, Clis, Diógenes, Carlos Antônio, Tiago, Gislene, Adriana,
Fátima e Artur.

Também, por fazerem parte da minha vida, participando de momentos fundamentais no


decorrer deste mestrado, agradeço aos queridos amigos e doutorando: Patrícia por me
incentivar nos primeiros passos que dei em busca desta jornada, e a Walberto, por me
ensinar a fazer ciência e que, juntamente com sua esposa Sandra, participam e estimulam
meus anseios de um futuro tão desejado.

Porém, de modo totalmente especial, agradeço ao que posso nomear de “melhor


surpresa” ocorrida neste processo: a nova e verdadeira amizade com a minha linda e
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querida Pollyane, pessoa essencial em todas as fases desta dissertação. Gratidão esta, que
ultrapassa, certamente, as linhas aqui escritas por ser, antes de tudo, o mais puro afeto.

Finalmente, gostaria de agradecer as pessoas mais importantes da minha vida: ao meu


marido Alexandre, aos meus filhos Itamar e Gabriel, por compreenderem os momentos de
minha ausência, aos meus queridos pais, amigos e demais parentes. Por último, e
principalmente, a Deus por ter me proporcionado saúde, determinação e coragem para
enfrentar todos os obstáculos desta longa caminhada, mas ao mesmo tempo me
presenteando com muitas vitórias e me fortalecendo para acreditar que ainda é possível
sonhar.
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REAÇÕES A CENÁRIOS DE INFIDELIDADE CONJUGAL:


SÃO O AMOR E O CIÚME EXPLICAÇÕES?

RESUMO. O objetivo principal desta dissertação foi conhecer as reações a cenários de


infidelidade conjugal, avaliando como os construtos amor e ciúme poderiam se
correlacionar com tais reações. Planejaram-se dois estudos. No primeiro, procurou-se
levantar as razões e reações mais freqüentes à infidelidade conjugal no contexto brasileiro.
Neste, participaram 165 estudantes provenientes dos ensinos fundamental, médio e
universitário da cidade de João Pessoa, com idade média de 23,5 anos e que foram
solicitados a indicar: três razões (motivos) principais para a traição nos relacionamentos
amorosos e três possíveis reações ao ato da infidelidade conjugal. Os dados foram
analisados por juízes e puderam ser categorizadas em razões afetivas, sexuais e morais, e
como reações de perdão, vingança, indiferença, agressão verbal e/ou física, sofrimento
psicológico e separação. O segundo estudo procurou conhecer como as pessoas julgavam
as reações de um personagem fictício a cenários de infidelidade conjugal e como o amor e
o ciúme se associariam a tais reações. Neste caso, participaram 307 pessoas com
relacionamento heterossexual estável, provenientes de instituições de ensino superior de
João Pessoa, com idade média de 23,4 anos. Contando com um delineamento fatorial 2 x 2
x 2 em que, através de “cenários”, foram manipulados três fatores: sexo do ator-traidor
(feminino ou masculino), condição sócio-econômica do casal (igualdade ou desigualdade)
e razão da infidelidade (sexual ou afetiva), estes foram solicitados a julgarem as reações a
infidelidade mais prováveis por parte do ator-traído. Os participantes também
responderam a Escala Triangular do Amor, a Escala de Ciúme Romântico, questões sobre
suas experiências diretas e indiretas de infidelidade e perguntas demográficas (sexo, idade,
classe socioeconômica, religião e orientação sexual). Os resultados evidenciaram que a
idade dos participantes influencia no julgamento das reações a cenários de infidelidade
conjugal, bem como o sexo do ator-traidor. Neste constatou-se que quando o sexo do ator-
traidor é masculino, há uma maior probabilidade de a mulher (ator-traído) reagir com
perdão, agressão física e/ou verbal e sofrimento psicológico. Por outro lado, quando o
sexo do ator-traidor é feminino, há uma maior possibilidade de o homem (ator-traído)
reagir com vingança e separação. Verificou-se que a reação separação correlacionou-se
positivamente com o componente de amor intimidade. Coerentemente, as reações agressão
física e/ou verbal e sofrimento psicológico correlacionaram-se positivamente com exclusão
e negativamente com não-ameaça, componentes do ciúme Finalmente, confirmou-se a
importância dos cenários de infidelidade para o estudo das reações a traição conjugal,
sugerindo-se novas pesquisas para reaplicação destes achados.

Palavras-chave: Infidelidade, traição, amor, ciúme.


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REACTIONS TO MARITAL INFIDELITY SCENARIOS:


COULD LOVE AND JEALOUSY EXPLAIN?

ABSTRACT: The main objective of this dissertation was to know reactions to marital
infidelity scenarios, exploring how the constructs love and jealousy could be correlated to
these reactions. Two studies were planned. In the first study, it was made an attempt to
identify the most frequent reasons and reactions to marital infidelity in the Brazilian
context. The participants were 165 elementary, high-school, and university students from
João Pessoa, with mean age of 23.5 years. They were asked to indicate three main reasons
(motives) for unfaithfulness in intimate relationships, and three possible reactions to the act
of conjugal infidelity. The data were analysed by judges, who categorized them in
affective, sexual and moral reasons, and the reactions as forgiveness, revenge, indifference,
verbal and/or physical aggression, psychological suffering, and separation. The second
study aimed at knowing how people judged the reactions of a fictional character to
scenarios of marital infidelity, and how love and jealousy were associated to these
reactions. In this study, the participants were 307 university students, who were in a stable
heterosexual relationship, with a mean age of 23.4 years. A 2 x 2 x 2 factorial design was
used, where three factors were manipulated in the scenarios: gender of the actor-traitor
(female or male); socioeconomic status of the couple (equality or inequality); and reason
for infidelity (sexual or affective). The participants were asked to judge the most likely
reactions to infidelity by the actor-victim. They have also answered the Triangular Love
Scale, the Romantic Jealousy Scale, questions about their direct and indirect infidelity
experiences, and demographic questions (sex, age, socioeconomic status, religion, and
sexual orientation). The results evinced that the participant’s age influences the judgement
towards the reactions to conjugal infidelity scenarios, as well as the sex of the actor-
cheater. It was observed that when the actor-cheater is male there is a greater likelihood
that the woman (actor-victim) will react with forgiveness, physical and/or verbal
aggression, and psychological suffering. On the other hand, when the actor-traitor is
female, there is a greater likelihood the man (actor-victim) will react with revenge and
separation. It was verified that the separation reaction is positively correlated to the
intimacy dimension of love. Physical and/or verbal aggression reactions and psychological
suffering coherently correlated positively with jealousy dimensions of exclusion, and
negatively with the unthreatening dimension. Finally, the importance of the infidelity
scenarios for the study of marital unfaithfulness is established, suggesting new studies to
replicate these findings.

Keywords: Infidelity, betrayal, love, jealousy.


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ÍNDICE

LISTA DE QUADROS.................................................................................................. 11
ÍNDICE DE FIGURAS.................................................................................................. 12
LISTA DE TABELAS................................................................................................... 13
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 14
CAPÍTULO I – A INFIDELIDADE CONJUGAL................................................... 019
1.1 – A Infidelidade: Definição, breve contextualização histórica e evidências
empíricas.......................................................................................................................20
1.2 - Principais Razões para Infidelidade............................................................. 30
1.2.1 – Razões Afetivas e Razões Sexuais para Infidelidade............................. 31
1.3 - Reações à infidelidade.................................................................................... 33
1.3.1 – Tipos de Reações à Infidelidade Conjugal.............................................. 34
1.3.2 – Fatores Demográficos............................................................................. 37
1.3.3 – Fatores de Disposições Internas.............................................................. 38
CAPÍTULO II – O AMOR.......................................................................................... 40
2.1 - Diferentes Concepções................................................................................... 41
2.2 - Teoria Triangular do Amor........................................................................... 52
CAPÍTULO III – O CIÚME........................................................................................ 60
3.1 - Definições e Enfoques Empíricos.................................................................. 61
3.1.1 – Personalidade e Ciúme............................................................................ 63
3.1.2 – Teoria Sociocultural, Sociocognitiva e Ciúme....................................... 65
3.1.3 - Teoria Psicológica Evolucionária e Ciúme............................................. 68
CAPÍTULO IV - CORRELATOS DA INFIDELIDADE CONJUGAL.................. 73
4.1 – Estudo 1 - Razões e Reações à Infidelidade Conjugal................................ 74
4.1.1 – Método.................................................................................................... 74
4.1.1.1 - Delineamento e Hipóteses........................................................ 74
4.1.1.2 – Amostra.................................................................................... 74
4.1.1.3 – Instrumentos............................................................................. 75
4.1.1.4 – Procedimento............................................................................ 75
4.1.1.5 – Análise dos Dados.................................................................... 76
4.1.2 – Resultados............................................................................................... 77
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4.1.3 – Discussão................................................................................................ 79
4.2 – Estudo 2 - Reações a Cenários de Infidelidade Conjugal......................... 82
4.2.1 – Método.................................................................................................... 82
4.2.1.1 - Delineamento e Hipóteses........................................................ 82
4.2.1.2 – Amostra.................................................................................... 83
4.2.1.3 – Instrumentos............................................................................. 86
4.2.1.4 – Procedimento............................................................................ 89
4.2.1.5 – Tabulação e Análise dos Dados............................................... 90
4.2.2 – Resultados............................................................................................... 91
4.2.2.1 – Os Participantes e a Experiência com a Infidelidade............... 91
4.2.2.2 – Parâmetros psicométricos das medidas.................................... 99
4.2.2.2 – Testando hipóteses................................................................... 98
4.2.2.3 – Reações a Cenários de Infidelidade, Amor e Ciúme................ 103
4.2.3 – Discussão................................................................................................ 106
4.2.3.1 – Parâmetros Psicométricos........................................................ 107
4.2.3.2 – Principais Resultados............................................................... 109
CAPÍTULO V – DISCUSSÃO GERAL..................................................................... 126
5.1 – Quanto às Limitações das Pesquisas................................................................ 129
5.2 – Quanto aos Principais Resultados.................................................................... 130
5.3 – Aplicabilidade e Direções Futuras................................................................... 135
CAPÍTULO VI – REFERÊNCIAS............................................................................. 142
ANEXOS
1 – Questionário de Razões e Reações à Infidelidade
2 – Cenários de Infidelidade
3 – Escala Triangular do Amor
4 – Escala de Ciúme Romântico
5 – Questionário Sócio-demográfico
6 – Termo de Consentimento Livre Esclarecido
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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Freqüência de “casos extraconjugais” entre 6.846 participantes do Estudo da


Vida Sexual do Brasileiro....................................................................................................23

Quadro 2. Porcentagem (%) de relacionamento extraconjugal entre 6.846 homens e


mulheres de 13 diferentes estados brasileiros......................................................................24

Quadro 3. Delineamento Fatorial dos Cenários de Infidelidade........................................86


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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Componentes básicos do amor e suas combinações ou tipos de amor segundo a


Teoria Triangular do Amor de Sternberg.............................................................................55
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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição de Freqüência quanto às Variáveis Demográficas.................... 75


Tabela 2. Freqüência das Razões para Infidelidade Conjugal....................................... 77
Tabela 3. Freqüência das Reações à Infidelidade Conjugal.......................................... 78
Tabela 4. Amostra dos Participantes que Compuseram a Amostra Total..................... 84
Tabela 5. Caracterização Demográfica dos Participantes do Estudo Final................... 086
Tabela 6. Freqüência das Respostas dos Participantes referente às Questões sobre
Experiências de Infidelidade................................................................................................92
Tabela 7. Estrutura Fatorial da Escala Triangular do Amor.......................................... 94
Tabela 8. Estrutura Fatorial da Escala de Ciúme Romântico........................................ 97
Tabela 9. Matriz de Correlação das Reações à Infidelidade, Amor e Ciúme................ 104
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INTRODUÇÃO
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Considerada como o maior determinante da dissolução de um relacionamento

amoroso, a infidelidade tornou-se, na atualidade, objeto de diversas matérias e reportagens

na mídia em geral. Porém, embora seja tema de constante discussão e atenção no âmbito da

clínica psicológica, poucas pesquisas empíricas têm sido encontradas a respeito no Brasil.

Por exemplo, em consulta ao Index Psi não foi encontrado nenhum artigo original

publicado nos últimos cinco anos em que aparecessem as palavras infidelidade e/ou

traição. Pode-se constatar, entretanto, levantamentos sobre o comportamento e perfil

sexual da população brasileira, coordenado por Carmita Abdo (Abdo, 2004; Abdo & cols.,

2002), do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Em seu livro,

Descobrimento Sexual do Brasil, são apresentados dados referentes à sexualidade e,

conseqüentemente, à infidelidade, porém informações puramente descritivas onde a

temática da traição conjugal não é a questão principal, mas sim comportamento decorrente

da sexualidade humana.

Apesar de a temática envolver questões individuais e emocionais extremamente

intensas, que requer, antes de tudo, uma investigação com todos os cuidados plausíveis,

além da sua relevância inquestionável, cientistas têm procurado identificar os fatores

envolvidos nos comportamentos dos considerados infiéis. Em outros contextos, como

Estados Unidos, Alemanha, Escócia, Holanda, Austrália e China, pesquisas têm

documentado sensações e percepções dos indivíduos que enfrentam ou imaginam a

possibilidade de vivenciar uma história real de infidelidade (Becker & cols., 2004; Buunk

& Dijkistra, 2004; Chang, 1999; Egan & Angus, 2004; Goldenberg & cols., 2003;

Mileham, 2007; Previti & Amato, 2004; Schützwohl, 2004; Shackelford, Goetz & Buss,

2005; Whitty, 2003).

Pode-se dizer que, tanto para os homens como para as mulheres, o ato da

infidelidade, em geral, é tratado como momento de absoluto transtorno (Shackelford, Buss


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& Bennett, 2002), com extremo sofrimento e com uma árdua prova para uma convivência

comprometida (Mairal, 2004). A propósito, segundo Buss e Shackelford (1997), estudos

empíricos sugerem que o sofrimento das mulheres não é maior que o sofrimento dos

homens e, embora os casos extraconjugais possam ser uma atividade dissimulada e, mais

freqüentemente secreta, estima-se que no curso de uma união cerca de 30 a 60% dos

homens e 20 a 50% das mulheres cheguem a trair seu cônjuge. Entretanto, os autores

enfatizam que apesar das estatísticas indicarem que homens traem mais que as mulheres,

aqueles têm tipicamente um maior número de casos extraconjugais por não haver

necessariamente envolvimento emocional, ao contrário das mulheres. Além disso, a

infidelidade feminina é mais provável em conduzir ao divórcio do que a infidelidade dos

homens, no entanto as características sócio-demográficas dos indivíduos não são

necessariamente preditores para um ato de infidelidade, ou seja, a traição não é

consistentemente mais prevalente, por exemplo, entre qualquer grupo socioeconômico em

particular. Porém, no tocante a características de personalidade, para alguns terapeutas,

pessoas com algum tipo de sofrimento psicológico, com baixa tolerância à frustração,

insegurança (especialmente para homens) e características de narcisismo, são mais

prováveis de envolverem-se em casos extraconjugais.

A respeito do conhecimento até então produzido acerca da temática, observa-se que

áreas de conhecimento como a Antropologia, a Sociologia e a Psicologia têm se dedicado a

estudar a infidelidade entre os casais, sendo algumas com ênfase em variáveis mais

societais (por exemplo, influência cultural e/ou religiosa) e outras mais individuais (por

exemplo, as crenças, os valores, estilo de personalidade, tipos de amor) em suas

considerações. Na ciência psicológica, por exemplo, as pesquisas desenvolvidas

encontram-se principalmente na área da Psicologia Social e Psicologia Clínica.


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Em alguns estudos sobre esta temática, têm-se relatado razões sexuais e razões

afetivas como as principais motivações para se cometer um ato de infidelidade (Becker &

cols., 2004; Schützwohl, 2004; Shackelford, Buss & Bennett, 2002). Quanto às reações,

verifica-se que quando uma pessoa descobre a traição de seu(sua) companheiro(a) uma

série de sensações desagradáveis são experimentadas e decisões são enfrentadas. Portanto,

decidiu-se aqui considerar um conjunto de variáveis específicas que potencialmente

contribuem para a compreensão das possíveis reações dos indivíduos na ocasião do

desvelar da infidelidade conjugal. Considerando que a infidelidade, em uma cultura

católica-cristã como a brasileira, pode significar ruptura de papéis convencionais,

implicando uma ameaça para a família, procura-se, mais especificamente, compreender

como as pessoas julgam as possíveis reações a um ato de traição. Para tanto, busca-se

conhecer a influência de dois construtos-chave em Psicologia Social – os tipos de amor e o

ciúme romântico - para explicar as reações à infidelidade.

Diante desta colocação, procurou-se organizar o marco teórico da presente

dissertação em três capítulos principais. O Capítulo I aborda a infidelidade conjugal,

procurando defini-la e contextualizá-la historicamente, apresentando estudos sobre as

razões, a variabilidade de reações e a influência dos fatores demográficos para o estudo da

traição. Também são apresentados fatores de disposição interna, todavia, estes são

discutidos com maiores detalhes nos capítulos posteriores por se tratar, na presente

dissertação, das variáveis propostas como explicativas das reações à infidelidade conjugal.

Em seguida, no Capítulo II, expõe-se o amor avaliando-o enquanto fenômeno

determinante nas relações românticas e, conseqüentemente, nos casos extraconjugais. Por

fim, no Capítulo III, apresenta-se a temática do ciúme analisando as concepções das

diferenças de gênero com elucidação acerca da personalidade, das teorias sociocultural e


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sociocognitiva e, especialmente, das explicações psicológicas evolucionárias relacionando-

as com a infidelidade.

Esta primeira parte da dissertação, eminentemente teórica, culminará com a

apresentação do Capítulo IV, onde constam, respectivamente, o Estudo 1 e o Estudo 2. No

primeiro são analisadas as razões e as reações à infidelidade conjugal no contexto

brasileiro, através do levantamento de categorias. No segundo estudo, conforme o objetivo

geral proposto, procura-se conhecer como as pessoas julgam as reações a cenários de

infidelidade conjugal e em que acepção os tipos de amor e o ciúme romântico se

correlacionam com tais reações. O método referente aos dois estudos englobam os

delineamentos e as hipóteses sugeridas, as amostras, os instrumentos considerados e uma

breve explicação das análises estatísticas realizadas. Os resultados serão apresentados,

procurando descrever os principais achados avaliados por meio das variáveis de interesse e

ainda as discussões correspondentes aos resultados dos estudos acima citados. Finalmente,

expõe-se no Capítulo V uma discussão geral da presente dissertação. Nesta ocasião serão

consideradas as eventuais limitações da pesquisa realizada, os principais achados, a

possibilidade de aplicabilidade e as indicações sobre prováveis temas que deverão merecer

a atenção de pesquisadores interessados em conhecer um pouco mais sobre a infidelidade

conjugal. A listagem das referências, presente no Capítulo VI, e os anexos figurarão na

continuação, encerrando esta dissertação.


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CAPÍTULO I – A INFIDELIDADE CONJUGAL


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1 – A INFIDELIDADE CONJUGAL

1.1 - A Infidelidade: Definição, breve contextualização histórica e evidências

empíricas.

Manter um relacionamento romântico pode ser considerado como algo

extremamente complexo, com uma série de conflitos e desafios, entre eles, problemas

financeiros, diferenças de personalidade, porém o que talvez assuma maior ameaça à união

conjugal seja a infidelidade (Shackelford, Goetz & Buss, 2005). Nesta perspectiva, a

infidelidade é considerada como o maior fator de “transgressão” e “violação” à

exclusividade conjugal. Segundo Afifi, Falato e Weiner (2001), refere-se ao

comportamento romântico e/ou sexual fora do relacionamento considerado fixo, estável ou

duradouro, e pode ser cometido por solteiros ou casados que possuem uma expectativa de

exclusividade no seu relacionamento.

Entre os antepassados humanos, um único evento de infidelidade sexual cometido

pela mulher colocaria em risco a certeza da paternidade masculina sem a possibilidade de

confirmação; já na perspectiva da mulher ancestral, um único ato de infidelidade sexual

cometido pelo homem não acarretaria este valor de risco, pois a genética materna não era

comprometida (Shackelford, Buss & Bennett, 2002). Tal posicionamento está vinculado à

perspectiva psicológica evolucionária, cujos pormenores serão descritos posteriormente.

Falar cientificamente da infidelidade humana demanda do pesquisador um

levantamento teórico, não apenas contemporâneo, mas histórico, considerando que este

fenômeno é tão remoto quanto à própria existência humana. Embora a presente dissertação

não tenha como finalidade maior desenvolver uma discussão mais aprofundada acerca da

contextualização histórica da infidelidade humana, faz-se necessário registrar brevemente

alguns eventos ou momentos contribuintes à compreensão da traição conjugal, ou melhor,


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fatos que proporcionaram uma modificação no tratamento ou na maneira de abordar esta

temática, necessariamente, agregada ao casamento e à família.

Até o século V, quando a Igreja ainda não interferia na celebração das núpcias, a

união dos casais era um ato privado ocorrido entre os nobres, com a função de transmissão

da herança, de títulos e a formação de alianças políticas. Por ser considerada como parte do

patrimônio familiar, a mulher se entregava ao homem e assim selava-se a união de duas

famílias, conseqüentemente, a fidelidade incondicional da esposa era imprescindível ao

casamento, de modo que o adultério feminino implicava o abandono ou mesmo a morte da

esposa transgressora (Araújo, 2002). O amor esteve presente na literatura ocidental pelo

menos desde o século XII, período em que o casamento passou a ser influenciado e

considerado sagrado pela Igreja. Segundo Féres-Carneiro (1998), a literatura sobre a

história da sexualidade ocidental distingue um fenômeno muito importante e prevalente até

o século XVIII, a diferença entre o amor conjugal e o amor-paixão.

O amor conjugal, mesmo com raras exceções, tinha por função, em todos os níveis

da sociedade, unir duas famílias para que elas se perpetuassem muito mais do que

satisfazer o amor de duas pessoas. Já o amor-paixão era essencialmente extraconjugal e a

sexualidade era vivida com prazer (Araújo, 2002; Féres-Carneiro, 1998). Pelo menos até a

Revolução Francesa, momento ainda regido pelos preceitos da moral cristã, a sexualidade

era limitada à procriação; qualquer método contraceptivo era proibido e toda atividade

sexual fora do matrimônio era considerado pecado. Apenas a partir do século XVIII este

quadro se modifica e as duas formas de amor, reconhecidas como tradicionalmente

opostas, são aproximadas, impondo aos cônjuges que se amem ou que pareçam se amar e

que tenham expectativas a respeito do amor. Desta forma, o erotismo extraconjugal entra

no casamento e o amor-paixão passa a ser visto como modelo.


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Araújo (2002) destaca que a união que associa amor, sexualidade e casamento é

uma invenção da era burguesa e, com ela, surgiu um elemento revolucionário, pois

proclamava uma nova ordem das coisas, uma mudança radical dos valores até então

vigentes, renovando os modos de vida pessoal, social e familiar.

A chamada revolução sexual, constatada a partir do século XX, motivou o processo

de liberação dos costumes e deu origem a diversas mudanças relativas ao gênero e a

afetividade (Araújo, 2002; Bystronski, 1995). Para Gomes e Paiva (2003) os movimentos

sociais da década de 1960, como o feminismo, a liberação do divórcio, o desenvolvimento

da pílula anticoncepcional e, mais posteriormente na década de 1980, o surgimento da

AIDS, também contribuíram substancialmente para importantes mudanças nas estruturas

familiares da época. A desestabilização social causada por este panorama, junto com a

satisfação pela conquista do que pode ser encarado como independência, crescimento e

movimento em direção a uma vida mais livre e melhor, gera também ansiedades, dúvidas e

equívocos, afirma Bystronski (1995). Logo, como mencionam Gomes e Paiva (2003):

“O homem se torna frágil perante uma sociedade competitiva e


estressante (...) A mulher entra em sérios conflitos na escolha entre
maternidade e/ou ascensão profissional, o que permite, hoje, o
estabelecimento de casamentos sem filhos, por opção pessoal” (p. 5).

O processo da entrada do afeto nas relações conjugais e familiares é “multisecular”.

As mudanças conjugais contemporâneas revelam a transformação de uma definição

institucional antiga do casamento para uma definição interna e amplamente subjetiva do

casal. Essa evolução aconteceu a longo prazo, mas conheceu uma aceleração decisiva nas

últimas décadas (Bozon, 2003). A propósito, o momento mais contemporâneo e culminante

para a alteração no tratamento de um ato de infidelidade, especificamente no Brasil,

ocorreu com as reformas do Código Penal Brasileiro (Lei Nº 11.106, de 28/03/2005), onde
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foi revogado o art. 240 que previa o crime de adultério, cuja pena variava de 15 dias a seis

meses de detenção, considerada em desuso no meio jurídico (Volpe Filho, 2005).

No tocante as evidências empíricas acerca da infidelidade na América do Sul, são

freqüentes as pesquisas sobre o comportamento sexual das pessoas. Por exemplo, no Chile

em 2000, um estudo nacional sobre o comportamento sexual desta população revelou que

há uma maior tolerância à infidelidade masculina do que à infidelidade feminina. Nesta

pesquisa, os resultados apontaram que os participantes em geral concordam com a traição

masculina em quase 14%, por outro lado, em relação às mulheres esta concordância

diminui para 6%. No Brasil, dados recentes, descritos no Estudo da Vida Sexual do

Brasileiro, apresentados por Abdo (Abdo, 2004; Abdo & cols., 2002), compara a

infidelidade entre 6.846 homens e mulheres (ver Quadro 1).

Quadro 1. Freqüência de “casos extraconjugais” entre 6.846 participantes do Estudo da


Vida Sexual do Brasileiro (Abdo, 2004).

Experiência de caso extraconjugal Sim Não

Homens (n = 3.740) 50,6% 49,4%

Mulheres (n = 3.106) 25,7% 74,3%

Como pode ser verificado no quadro acima, dos 3.740 homens que participaram

da pesquisa, 50,6% admitiram estar tendo ou já ter tido uma aventura amorosa. No caso

das 3.106 mulheres entrevistadas, 25,7% confessaram, na época que as informações foram

coletadas, estarem vivenciando um caso extraconjugal ou que já haviam vivenciado uma

relação fora do relacionamento estável (casados, noivado, namoro). O estudo mostra

também que o grau de infidelidade entre os sexos varia de uma região para outra, conforme

apresentado no Quadro 2.
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Quadro 2. Porcentagem (%) de relacionamento extraconjugal entre 6.846 homens e


mulheres de 13 diferentes estados brasileiros (Abdo, 2004).

Estados brasileiros Homens infiéis (n = 3.740) Mulheres infiéis (n = 3.106)


(%) (%)

Bahia 64,0 25,2

Ceará 61,1 26,7

Goiás 59,5 27,7

Mato Grosso do Sul 56,3 23,6

Minas Gerais 52,2 29,5

Pará 62,1 20,3

Paraná 42,8 19,3

Pernambuco 49,2 26,5

Rio de Janeiro 56,7 34,8

Rio Grande do Norte 51,8 30,2

Rio Grande do Sul 59,9 31,7

Santa Catarina 50,3 23,3

São Paulo 44,2 24,1

A partir dos resultados da traição nos diferentes estados brasileiros, descritos neste

quadro, é possível constatarmos que é na Bahia onde os homens, em geral, são mais infiéis

(64%). Quanto às mulheres, foram as cariocas que apresentaram a maior freqüência de

casos extraconjugais (34,8%). No Paraná, tanto os homens quanto as mulheres obtiveram

os menores índices de infidelidade entre os estados participantes do estudo (42,8% e

19,3%, respectivamente). O Pará chama a atenção pela discrepância. Ali, 62% dos homens

já foram infiéis, comportamento observado em apenas 20% das mulheres, porém Abdo

adverte que por se tratar de uma região onde as pessoas não estão acostumadas a participar
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de pesquisas sobre a sexualidade, alguns podem estar mentindo por vergonha, outros

exagerando para se mostrar viris. Além disso, no que se refere às regiões participantes, a

autora lembra que o grau de sinceridade das pessoas ao responderem o questionário, a

satisfação com seus relacionamentos “oficiais” e até mesmo o nível de “ousadia sexual”

dos indivíduos, podem contribuir para tais variações entre um estado e outro.

Faz-se mister destacar que no Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, a amostra foi

composta em sua maioria por pessoas da região Sudeste (56%), com características

demográficas, culturais e de estilo de vida diferentes, por exemplo, dos indivíduos da

região Nordeste. Além do mais, não houve a delimitação da opção sexual e do estado civil

dos participantes, ou seja, todos, independentes de serem homossexuais ou bissexuais,

casados/companheiros, solteiros, separados ou viúvos, participaram igualmente da

pesquisa. Também, os casos extraconjugais confessados pelos sujeitos foram tanto

referentes ao passado (se já traiu antes) como ao presente (se está traindo no momento).

Aliás, um último e principal ponto a ser enfatizado é que, dos 13 estados participantes da

pesquisa realizada por Abdo (2004), a Paraíba, semelhante a outros estados das várias

regiões do Brasil, não foi contemplada. Fato este que torna as aspirações da presente

dissertação fundamentais para uma análise acerca da freqüência de casos extraconjugais.

A propósito, além das evidências até então destacadas sobre a infidelidade,

configuram-se as diferenças de gênero como fator predominante para a compreensão do

contexto sobre a traição. As diferenças entre os sexos são claras; a primeira delas

biológica, mais especificamente o desejo. Segundo Parisotto e cols. (2003), o impulso

sexual feminino, bem como o masculino, tem uma base hormonal. A testosterona é o

hormônio responsável pela libido e a progesterona tem um efeito “antilibidinoso”, o que

explica as flutuações do desejo nas diversas fases do ciclo menstrual feminino. No entanto,

os homens demandam um nível dez vezes maior de testosterona comparado às mulheres.


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No orgasmo, também ocorrem diferenças quanto ao gênero. Uma vez que o orgasmo

masculino está ligado à ejaculação, ele tem por característica a funcionalidade, sendo a

satisfação ligada ao funcionamento fisiológico. Prontamente o orgasmo feminino, estando

destituído da função reprodutiva, é essencialmente erótico, não estando especificamente

vinculado à zona erógena, como no masculino, ligado ao pênis, sendo imprecisa a sua

localização, afirmam os autores.

Para Parisotto e cols. (2003), com relação às estratégias sexuais, e sob a ótica da

concepção evolucionista, três diferenças básicas universais entre os sexos foram detectadas

na escolha de parceiros sexuais. Os homens tendem a valorizar mais do que as mulheres a

aparência física e a juventude como critérios de saúde e fertilidade, já as mulheres,

comparadas aos homens, valorizam mais as capacidades econômicas. Porém, os autores

lembram que isso não quer dizer que as mulheres não valorizem os aspectos físicos; elas

também o fazem, todavia menos do que os homens. Em seu estudo sobre a sexualidade e

conjugalidade das relações de gênero na França contemporânea, Bozon (2003) aponta que:

a) poucos homens e mulheres casados dizem que o desejo feminino prevalece. As

mulheres, mais que os homens, declaram que o desejo masculino é dominante, já os

homens são mais numerosos ao dizerem que a vontade de ter a relação era igualmente

compartilhada. À medida que aumenta a duração da vida conjugal, as declarações de

desejo feminino e de desejo compartilhado declinam, e aumentam, sobretudo, as

“divergências” entre homens e mulheres;

b) as mulheres que têm filhos pequenos acham que as relações sexuais nesse

momento se devem, especialmente, ao desejo do homem, porém os homens

freqüentemente continuam a vê-las como uma atividade igualmente desejada por um e por

outro. Bozon (2003) explica que “as coisas se passam como se as mulheres achassem que

seu desejo pessoal e sua participação ativa fossem menos indispensáveis à vida sexual do
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casal” (p.145). Os homens, por seu lado, declaram com mais ênfase do que suas parceiras

que o desejo é compartilhado. Contudo, o autor ressalta que isso não indica,

necessariamente, uma atitude conjugal deles;

c) mesmo nos casais estáveis, que fundam uma família, as divergências em relação

à sexualidade, que podem se traduzir concretamente por um desacordo em relação à

freqüência das relações desejadas, são um fato corriqueiro, deste modo é ilusório acreditar

que o fato de viver junto conduza os cônjuges a criar um universo comum de sexualidade;

d) o desejo masculino e o desejo feminino não são simétricos num casal. Nas

representações corriqueiras, uma mulher pode dizer que não tem desejo, sem que sua

identidade social sofra por isso, especialmente depois que ela se tornou mãe. Mas a

identidade do homem é potencialmente ameaçada em caso de ausência do desejo. Existe

uma espécie de consenso em considerar que o desejo masculino tem mais direito a se

expressar, ou mais legitimidade, do que o desejo feminino;

e) a maioria dos homens acredita que se pode ter relações sexuais com alguém sem

estar apaixonado, enquanto as mulheres desaprovam esta idéia. Também, a maioria dos

homens pensa que pode ter aventuras sexuais durante o casamento, do mesmo modo que a

atração sexual leva forçosamente a transar com alguém e que pode haver amor sem

fidelidade, ou que as infidelidades passageiras reforçam o amor. As mulheres, ao contrário,

muito mais que os homens, mostram-se chocadas com as trocas de parceiros, tanto quanto

com a pornografia. Enfim, Bozon (2003) adverte que enquanto os homens são vistos como

pessoas desejantes e independentes, as mulheres continuam a ser vistas como objetos a

serem possuídos.

No que se refere ao afeto, por exemplo, Díaz-Loving (2004), ao pesquisar sobre as

configurações e integração dos componentes psicossociais nas relações entre casais

mexicanos, observou que enquanto os homens incluem a tranqüilidade e as relações


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sexuais como sendo o ideal de amor, as mulheres não vêem estas variáveis como parte

principal para o relacionamento romântico, pois apreciam mais a comunicação com o

esposo como concepção de amor ideal.

Um outro ponto fundamental, são as diferenças mentais entre homens e mulheres,

discriminadas no que Baron-Cohen (2004), em seu livro Diferenças Essenciais: A verdade

sobre o cérebro de homens e mulheres, chamou de sistematização e empatia. Para o autor

o cérebro masculino é predominantemente programado para sistemas de construção e

compreensão, logo, descobre intuitivamente como as coisas funcionam, extrai as regras

subjacentes que governam o comportamento do sistema e assim consegue não só entendê-

lo, mas calcula o que vai acontecer ou inventa um novo. Por outro lado, o cérebro feminino

é predominantemente programado para empatia com maior capacidade de identificar

emoções e pensamentos de outra pessoa, respondendo com uma emoção apropriada.

Portanto, tem a finalidade de compreender, de prever o comportamento e estabelecer o

envolvimento emocional.

Mais uma peculiaridade sobre as relações de gênero, destacada por Borges (2005),

é a dicotomia em que se encontra a mulher contemporânea. Se no mundo do trabalho e da

carreira exige-se dela persistência na obtenção de seu sucesso, no território do desejo ela

deve tornar-se passiva, ao menos quando se trata de estimular o desejo masculino. Se a

mesma posição ativa exigida e estimulada no campo da carreira é utilizada no campo

afetivo, e se a mulher decide manifestar seu desejo em relação ao homem, os adjetivos em

forma de elogios a sua postura rapidamente tornam-se pejorativos. Assim, a mulher

batalhadora, guerreira e persistente torna-se sufocante, insistente e cansativa, ressalva a

autora.

Apesar dessa constatação, Ramos, Carvalho e Leal (2005) afirmam que muitas são

as conseqüências dos sucessivos acontecimentos sociais, políticos e econômicos assistidos


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no mundo ocidental. Observa-se a uma profunda mutação das atitudes e dos

comportamentos sexuais entre os gêneros, que inexoravelmente provocou uma

modificação no modo como são vividas as relações e práticas sexuais das gerações

ulteriores.

Não obstante, é essencial salientar que esta dissertação não traz como principal

intenção uma exposição detalhada sobre as questões de gênero. Estas não são consideras

como uma variável de estudo, mas analisadas enquanto elemento absolutamente intrínseco

das relações heterossexuais, ou seja, as questões de gênero são subjacentes ao próprio ato

de infidelidade entre homens e mulheres, sendo, portanto, parte da natureza humana, não

apenas de caráter biológico, mas social, político e econômico. Tratar das questões de

gênero como variável de estudo acarretaria em uma discussão minuciosa sobre, por

exemplo, o sexismo por abordar uma forma de preconceito existente dentro do contexto

social, onde as mulheres, apesar de serem consideradas puras e frágeis, buscam controlar

os homens através de seus atributos sexuais (Glick & Fiske, 1996). Logo, este construto

resulta, necessariamente, em uma outra variável a ser pesquisada em ocasiões futuras.

Embora a infidelidade seja hoje em dia elemento constante em matérias e

reportagens da mídia em geral, abordando diversos conceitos e contextos, além de ser um

dos principais componentes que desestabiliza a vida dos casais e, por conseguinte, tema

emergente dos processos terapêuticos nas clínicas de psicologia, poucas pesquisas

científicas têm sido encontradas a respeito. Na seqüência, são apresentadas variáveis sobre

a traição que, de acordo com a consulta realizada ao Index Psi, não são evidenciadas no

Brasil. A saber, principais razões para infidelidade e reações à infidelidade conjugal.


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1.2 - Principais Razões para Infidelidade

Em alguns estudos sobre a infidelidade conjugal, têm-se relatado razões para se

cometer um ato de traição. Alguns destes motivos são apontados por Blow e Hartnett

(2005), especificamente, os de ordem moral e/ou cultural (grau de religiosidade, status

social principalmente para os homens), fatores biológicos (idade, sexo), fatores subjetivos

(como a personalidade) e os de cunho social e econômico (nível de escolaridade, renda

financeira, emprego).

A compreensão das razões “naturais” da procura por prazer fora do casamento

poderia, talvez, facilitar o enfrentamento desses acontecimentos. Parisotto e cols. (2003)

ressaltam que mulheres em período fértil são biologicamente mais suscetíveis à

infidelidade quando comparadas a elas mesmas em período não-ovulatório, e que suas

preferências masculinas mudam nessa fase do ciclo (busca por homens com características

simétricas e aparentando boa genética). Do ponto de vista do desenvolvimento

psicossexual, a infidelidade não seria esperada, visto que na cultura ocidental, a traição é

considerada como parte de conflitos intrapsíquicos não elaborados, asseguram estes

autores.

Segundo Egan e Angus (2004), os homens, tipicamente, enfatizam menos o afeto

nos relacionamentos sexuais, têm um grande desejo em encontros sexuais secretos e

desejam um número maior de parceiras sexuais do que as mulheres. Buss e Shackelford

(1997) salientam que é no primeiro ano de casamento que o comportamento infiel é mais

comum. Além disso, em geral, os homens tendem a julgar o caso extraconjugal masculino

como mais justificável ou aceitável do que a traição de uma mulher (Whitty, 2005).

De acordo com Buss (2002), o “desejo” atua neste contexto, como determinante de

quem atrai e de quem seduz, conseqüentemente, influencia nas táticas de atração onde é

possível satisfazer tal desejo ou contrariá-lo. Atender ao desejo e poder manter o parceiro
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fixo nesta relação significa continuar o compromisso. A não satisfação gera a separação do

casal. Este autor salienta que os seres humanos possuem notável criatividade para

combinar estratégias em relacionamentos amorosos, por isso não é incomum que pessoas

que investem intensivamente em uma relação estável (com filhos, projetos de vida em

comum etc.) mantenham, simultaneamente, um ou mais casos extraconjugais. Por meio

desta categoria das vontades e anseios, abre-se espaço ao surgimento de causas que

promovem a infidelidade, como intenção de satisfazer os desejos não cumpridos de atrair e

ser atraído.

Neste sentido, verifica-se que são as razões sexuais e as razões afetivas as mais

freqüentemente relatadas nos estudos que tratam da infidelidade conjugal (Becker & cols.,

2004; Goetz & cols., 2005; Preveti & Amato, 2004; Sagarin & cols., 2003; Schützwohl,

2004; Shackelford, Buss & Bennett, 2002; Whitty, 2003). Diante desta perspectiva, são

expostas seqüencialmente as justificativas sexuais e afetivas enquanto principais

motivações para se cometer um ato de traição.

1.2.1 - Razões Afetivas e Razões Sexuais para Infidelidade

Segundo Barta e Kiene (2005), um dos primeiros cientistas sociais a distinguir

infidelidade sexual e afetiva foi Alfred Kinsey, na década de 1940. Kinsey e alguns

colaboradores observaram que os homens eram mais prováveis do que as mulheres em

declarar que o envolvimento extraconjugal é puramente por questões físicas, motivado por

uma maior variedade e freqüência sexual, implicando na ausência de envolvimento afetivo.

Os homens apresentariam razões de cunho mais sexual enquanto as mulheres

evidenciariam as razões afetivas.

Fernandez e cols. (2006), ao estudarem as diferenças sexuais em uma amostra da

Espanha e do Chile, composta por pessoas com relacionamento estável, verificaram através
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de cenários hipotéticos de infidelidade sexual e afetiva, que os participantes do sexo

masculino relataram mais que as mulheres, aflição quando a traição é sexual. As mulheres

demonstraram mais que os homens angústia à infidelidade afetiva. Segundo os autores, os

resultados deste estudo são consistentes com os conceitos de traição na perspectiva

evolucionária, previamente conduzidos em países europeus, norte-americanos e asiáticos.

Um exemplo correspondente à infidelidade sexual, de acordo com Barta e Kiene

(2005), são os envolvimentos com os “profissionais do sexo” ou com pessoas conhecidas,

mas que não vivenciam uma relação de compromisso, por sua vez, os encontros tendem a

durar apenas uma noite e geralmente atribui-se à espontaneidade, podendo haver o

consumo de álcool ou de outras substâncias no momento em que o envolvimento sexual

ocorreu. Por conseguinte, Buss e Shackelford (1997) advertem que o consumo de bebidas

alcoólicas torna realmente os indivíduos mais suscetíveis a cometer um ato de infidelidade

conjugal, especialmente os casos com implicação puramente sexual.

Quanto à infidelidade afetiva, Barta e Kiene (2005) apontam que os

relacionamentos através da Internet podem ser correlacionados a este tipo de traição por

não haver necessariamente contato visual e/ou físico, ao contrário, este ambiente

possibilita uma atmosfera emocional intensa. Estes autores destacam que na infidelidade

sexual o comportamento é motivado pelo desejo e pela experiência sexual, e não pelo

anseio de encontrar um parceiro para compartilhar sua intimidade, diferente da infidelidade

afetiva que envolve uma quantidade mínima de confiança uma vez que pode perdurar por

muitos anos.

A qualidade e a satisfação da relação ou do casamento é para Buss e Shackelford

(1997) um dos mais óbvios preditores para se cometer um ato de infidelidade. Embora

ocorram similaridades entre gêneros no que se refere à insatisfação da união devido à falta

de amor, carinho, atenção, tal descontentamento é mais enfatizado nas mulheres tornando-
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as ao mesmo tempo suscetíveis à traição. Contudo, para os homens a probabilidade para

tornarem-se infiéis está relacionada igualmente com a qualidade do sexo no casamento.

Este fato está associado com uma maior probabilidade dos homens envolverem-se

sexualmente com diferentes pessoas. Outra razão potencial para insatisfação são as fontes

de conflito existentes dentro da união. As queixas por um dos parceiros de que o outro está

evitando relações sexuais, por exemplo, podem conduzir a um suscetível ato de traição. O

ciúme, como outro tipo de conflito, pode estar vinculado com sinais que um ou ambos os

companheiros estão “paquerando” com outras pessoas.

Segundo Egan e Angus (2004), aqueles que são infiéis tendem a ser cautelosos ao

discutir tal atividade. Isto ocorre devido aos elementos do comportamento que não são

confortavelmente admitidos: necessidades sexuais e emocionais não apropriadas,

oportunismo, irresponsabilidade e o implemento de se enganar intencionalmente, deste

modo “a infidelidade fornece meios de examinar o lado mais escuro e mais problemático

do ser humano” (p. 575).

1.3 - Reações à infidelidade

Embora a infidelidade seja considerada como universal, sua prática é raramente

aceitável socialmente (Egan & Angus, 2004). Quando uma pessoa descobre a traição de

seu companheiro uma série de decisões são enfrentadas, entre elas a de perdoar e

permanecer junto ou a de terminar a relação. Além disso, é provável que o companheiro

traído sinta uma série de sensações desagradáveis que inclui depressão, raiva, problemas

relacionados com auto-estima e ciúme.

Homens e mulheres vivenciaram diferentes problemas adaptativos ao longo da

história, associados com diferentes formas de infidelidade (Buss, 2002), portanto,

Shackelford, Buss e Bennett (2002) propõem que as diferenças de gênero afetam


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diretamente nas reações à infidelidade desvelada, tal fato depende também da natureza da

traição, ou seja, se afetiva ou sexual. Os gêneros diferem em suas respostas à infidelidade

emocional e sexual (Schützwohl, 2004; Schützwohl & Koch, 2004), sendo as mulheres

relativamente mais propensas a intensificar suas respostas nos casos emocionais e os

homens nos casos sexuais.

Para Sagarin e cols. (2003) as evidências empíricas apóiam a hipótese de que

homens e mulheres, quando perguntados qual o tipo de infidelidade os afligiria mais, os

homens são muito mais prováveis do que mulheres em selecionar a infidelidade sexual, e

quando estes são instruídos a imaginar sobre um dos dois tipos de infidelidade, as medidas

da atividade cutânea e dos batimentos cardíacos comprovam que ambos diferem quanto

aos impactos emocionais causados pela infidelidade.

Nos resultados sugeridos por Becker e cols. (2004) em estudo sobre diferenças

sexuais e respostas emocionais aos aspectos sexuais e afetivos da infidelidade, a raiva e a

aversão são eliciadas em maior proporção nas reações à infidelidade do tipo sexual do que

à infidelidade do tipo afetiva, tanto para homens quanto para mulheres. É o ciúme à

infidelidade afetiva que melhor discrimina mulheres de homens. Além disso, as mulheres

relatam suas reações emocionais mais intensamente em comparação aos homens. Pessoas

que, de uma maneira geral, estão envolvidas em relacionamentos estáveis, também expõem

mais densamente suas respostas emocionais do que as que não possuem relacionamentos

estáveis.

1.3.1 - Tipos de Reações à Infidelidade Conjugal

O embasamento teórico aqui levantado salienta algumas reações individuais

peculiares enquanto resposta à infidelidade conjugal, seja afetiva ou sexual, descritas

seqüencialmente.
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Perdão

Para Shackelford, Buss e Bennett (2002), especificamente, os homens, mais do que

as mulheres, encontram maior dificuldade em perdoar quando a companheira comete um

ato de infidelidade sexual, que lhes causa maior insegurança e sofrimento. Ao contrário,

mulheres mais do que homens, encontram maior dificuldade em perdoar quando o

companheiro comete um ato de infidelidade afetiva. Esta disposição feminina a perdoar

traições puramente sexuais acontece sempre quando não se acompanha de compromissos

emocionais, como, por exemplo, uma relação esporádica com uma prostituta (Mairal,

2004).

Afifi, Falato e Weiner (2001), ao analisarem os danos causados à qualidade do

relacionamento após uma traição, verificaram que quando uma pessoa revela seu ato de

infidelidade pode através do pedido de perdão reparar o prejuízo causado. Deste modo, o

desvelar de um caso extraconjugal pode ser benéfico, pois permite ao “transgressor” a

oportunidade de desculpar-se, buscando outras estratégias para minimizar a ameaça à

estabilidade do casal. Logo, nem todas as pessoas terminam o relacionamento após um

caso de infidelidade. Shackelford, Buss e Bennett (2002) afirmam que algumas pessoas

questionam se há amor na relação extraconjugal; outros ingressam em processo terapêutico

na tentativa de conhecer a raiz do problema e assim manter a relação; também procuram

conhecer detalhes sobre o “affair” para determinar mais precisamente a natureza da

ameaça e a duração do relacionamento, além de outras particularidades do envolvimento

extraconjugal.

Bozon (2003), em seu estudo sobre as relações de gênero na França contemporânea,

destaca que entre as décadas de 1970 a 1990 ocorreram várias mudanças nestas relações.

As mulheres antes declaravam que a infidelidade de um homem casado era algo perdoável.

Mais recentemente, no início da década de 1990, a tolerância tradicional está desgastada, e


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a maioria delas já não considera aceitáveis as aventuras extraconjugais dos parceiros.

Assim, ao invés da tolerância em relação aos homens, a crescente autonomia das mulheres

manifesta uma exigência maior às suas relações amorosas, na medida em que ficou mais

fácil interromper uma relação não satisfatória.

Vingança

Algumas pessoas ao descobrirem um caso extraconjugal do parceiro reagem

também com traição, ou seja, com vingança a fim de compensar a solidão, reparar a

ofensa, para ferir e humilhar, assegura Mairal (2004). Este tipo de resposta advêm

principalmente da infidelidade sexual. Caso a pessoa não busque de fato envolver-se com

outra pessoa como forma de vingança, ao menos estará mais vulnerável quando a ocasião

ocorrer. O autor ressalta que indivíduos mais impulsivos e com baixa tolerância a

frustrações são os mais propensos à vingança.

Agressão Verbal e/ou Física

No estudo realizado por Lary e cols. (2004) acerca da Aids e violência na Tanzânia,

país subdesenvolvido e com um dos maiores números de casos dessa doença no mundo, a

infidelidade aparece como um catalisador para a agressão. Homens e mulheres

identificaram um caso real ou suspeito de infidelidade como a causa mais comum para

agirem com violência em seus relacionamentos. Os homens afirmaram que após

suspeitarem da traição da parceira, tornaram-se violentos, além de avaliarem tal atitude

como justificativa correta para o uso da força física. Muitas mulheres também

consideraram a infidelidade uma alegação para a agressão dos homens.

De acordo com Buss e Shackelford (1997) o ciúme e a possessão que acompanham

a desconfiança levam alguns homens a cometerem atos de violência chegando inclusive a


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uma ação homicida. Díaz-Loving (2004), em estudo com uma amostra mexicana,

considerou a hostilidade e a afeição como fruto das diferenças entre os sexos. As mulheres

apresentam em geral características mais positivas (por exemplo, delicadeza, ser carinhosa

com os outros) do que negativas (como agressividade, cinismo) e percebem estas

características como opostas. Os homens, ao contrário, entendem a hostilidade e a afeição

como compatíveis e isto pode resultar em um número maior de casos de agressão. Esta

diferença entre os sexos aponta para um dos problemas básicos da psicodinâmica do

homem mexicano: sendo forte o bastante para proteger a família, mas ao mesmo tempo

sensível para o cuidado desta.

Separação

A infidelidade é universalmente considerada como o maior determinante da

dissolução de um relacionamento amoroso (Afifi, Falto & Weiner, 2001; Buss, 2002; Buss

& Shackelford, 1997; Chang, 1999; Graaf & Kalmijn, 2006; Previti & Amato, 2004;

Shackelford, Buss & Bennett, 2002). No tocante a possibilidade de rompimento da relação,

os homens tendem a separar-se quando a infidelidade é de caráter sexual, já as mulheres

tendem a terminar a relação quando a infidelidade ocorre com caráter afetivo (Shackelford,

Buss & Bennett, 2002). A propósito, Graaf e Kalmijn (2006) observaram em uma amostra

composta por pessoas que já eram divorciadas que os homens mais que as mulheres

consideraram que a infidelidade foi o motivo principal para a ocorrência do rompimento

destas relações.

1.3.2 – Fatores Demográficos

Segundo Blow e Hartnett (2005), o perfil demográfico dos indivíduos pode

contribuir para um possível envolvimento extraconjugal, por exemplo, sexo, idade, grau de
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religiosidade, além da cultura e questões econômicas. Quanto ao sexo, constata-se que os

homens predominantemente são os mais infiéis considerando que na maioria dos casos as

pessoas do sexo masculino não atribuem laços afetivos à relação extraconjugal (Buss &

Shackelford, 1997). Entretanto, Becker e cols. (2004), em recente pesquisa, apontam que

as diferenças do sexo não emergem necessariamente reações de raiva, mágoa ou aversão.

Na verdade, o que provoca tais reações é o tipo de infidelidade, ou seja, se sexual ou

afetiva.

No que se refere à idade, aqueles entre 16 e 18 anos que tiveram uma grande

variedade de relacionamentos sexuais, revelaram-se mais prováveis de envolverem-se em

situações futuras de traição (Blow & Hartnett, 2005). Além disso, no tocante ao grau de

religiosidade, observa-se que quanto maior o envolvimento do individuo com uma religião,

menor será a probabilidade de que este venha a vivenciar uma situação de infidelidade.

Quanto à cultura e as questões econômicas, segundo Mairal (2004), nada pode

afirmar que o ser humano é um animal de natureza monógama ou polígama. Existem, por

exemplo, tribos onde os homens possuem muitas mulheres, inclusive em distintos espaços

geográficos; em outras são as “rainhas” que contam com um harém de homens. Sem

dúvida, o que é evidente é que na cultura ocidental os indivíduos apresentam atitudes e

comportamentos demasiadamente distintos relacionados à infidelidade e ao ciúme. A saída

das mulheres de casa, sua incorporação ao trabalho e sua maior liberdade de movimento e

opinião, passaram a facilitar as relações sexuais com outros homens e isto explicaria, por

exemplo, uma maior tensão e insegurança masculina.

1.3.3 - Fatores de Disposições Internas

Conforme descrito anteriormente, em alguns estudos sobre a infidelidade conjugal

têm-se enfatizado variáveis societais e outras mais individuais, como, por exemplo, as
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crenças, os valores e a personalidade. Para Bystronski (1995), independentemente das

especificidades histórico-sociais, é no seio das relações interpessoais onde surgem as

emoções mais fortes, os prazeres do amor, a dor da rejeição, a raiva do conflito, e é

também nos relacionamentos íntimos que os problemas são psicologicamente mais

penosos, principalmente para as relações amorosas heterossexuais.

A presente dissertação apóia-se especialmente em variáveis individuais, porém no

campo das relações interpessoais, no tipo de amor que uma determinada pessoa possa

sentir por outra, bem como na inquietação e no desejo de posse do ser amado, provocados

pelo ciúme. Neste sentido, permite a busca por conhecer a influência destes, enquanto

construtos-chave na Psicologia Social, para explicar as reações à infidelidade conjugal.

Com desígnio de comprovar se os tipos de amor e o ciúme romântico são de fato correlatos

das reações à traição, faz-se necessário a exposição de conceitos acerca destes construtos,

além do apanhado teórico e empírico de estudos atuais sobre os mesmos.


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CAPÍTULO II – O AMOR
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2 – O AMOR

2.1 - Diferentes Concepções

Recentemente, uma matéria publicada em maio de 2006 pela revista Aventuras na

História, especializada em temas sobre esta área do conhecimento, o amor ganhou

destaque com a justificativa de ter acompanhado a humanidade desde sempre e por está

presente em todas as culturas, sendo, portanto, universal, apesar das transformações que

este sentimento adquiriu ao longo do tempo. A matéria esclarece que poemas escritos há

mais de 3 mil anos, no Egito, podem ser considerados como prova dos primeiros registros

sobre o amor que se tem notícia na história da humanidade. Mesmo com limitações para

saber exatamente como eram os relacionamentos e sentimentos antes da invenção da

escrita, imagina-se que, assim como a família, o amor nasceu com a descoberta do fogo.

Na realidade, o conceito de amor nos dias atuais não é mais o mesmo de

antigamente, aponta Mairal (2004), mas sim produto de um largo processo de elaboração

coletiva e em suas influências mais evidentes estão elementos da época clássica e da

filosofia platônica (por exemplo, em algum lugar existe minha outra metade perfeita), do

amor cortesão (o amor é como uma enfermidade da alma a que não podemos subtrair,

porém que nos procura os sentimentos mais puros e elevados), do Romantismo (o amor é

uma paixão que nos arrasta mais fortes que nós, que nos obceca) e do Cristianismo com,

por exemplo, Santo Agostinho, São Tomás etc. (o natural é a vinculação amor-

sexualidade-matrimônio entre um só homem e uma só mulher).

No campo empírico, o amor tornou-se recentemente objeto de investigação

científica, embora tenha sido secularmente atributo de especulação de filósofos, poetas e

compositores (Bystronski, 1995). A estrutura e a dinâmica do fenômeno do amor tem sido

fonte de estudo de pesquisadores, em especial, os da Psicologia Social que se dedicam ao

conhecimento de temáticas referentes às relações interpessoais como relacionamentos


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românticos e sexualidade (Alferes, 2002; Engel, Olson & Patrick, 2002; Gao, 2001;

Hendrick & Hendrick, 1986; Serrano & Carreño, 1993; Yela, 1997).

Segundo Bystronski (1995), a contribuição da psicologia tem um de seus marcos no

estudo da atração interpessoal que deflagrou nas décadas de 60 e 70 do século XX, com

representantes, entre outros, como Harold Kelley com estudos sobre relacionamentos

íntimos, e Zick Rubin que contribuiu para a investigação sistemática do amor ao

diferenciar o simples “gostar” de “amar” (Alferes, 2002). Até então o amor era

conceituado como uma atitude mantida por uma pessoa em relação a uma outra pessoa

particular, envolvendo predisposições para pensar, sentir e comportar-se de determinado

modo relativamente àquela pessoa. Mais recentemente, os estudos sobre o amor

começaram então a apontar na direção deste sentimento como sendo algo

multidimensional.

Nesta linha, segundo Kim e Hatfield (2004), o amor revela-se como um importante

preditor para felicidade, satisfação e emoções positivas. Sendo assim, o ato de beijar, a

relação sexual e o companheirismo nos relacionamentos amorosos contribuem para o

contentamento entre o casal. A cultura e o gênero são apontados por estes autores como

determinantes para a compreensão de como as pessoas definem o amor:

 A cultura pode influenciar na suscetibilidade para o amor, também por quem as

pessoas tendem a se apaixonarem e como esta relação amorosa progride. Para Gao

(2001) o amor caracteriza relacionamentos românticos através do social e da

cultura, e isto pode variar de um relacionamento para o outro e de uma cultura a

outra. Ao comparar culturas individualistas e coletivistas, Kim e Hatfield (2004)

destacam que a maioria das pessoas em culturas individualistas casam por amor e

tendem a acreditar que o amor é o fator mais importante para o casamento. Já nas

culturas coletivistas, é comum que as pessoas casem sob a influência da família ou


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por interesse social e econômico, não envolvendo necessariamente o amor pelo

outro.

 Quanto ao gênero, Kim e Hatfield (2004) afirmam que o amor para os homens

envolve mais paixão, já para as mulheres o amor abarca sobretudo o

companheirismo. Esta concepção, segundo os autores, tem como respaldo a teoria

evolucionária, cujo conceito do amor é definido apenas como experiências

emocionais vivenciadas durante o processo da evolução do homem e que tem

contribuído conseqüentemente para reprodução da espécie.

Segundo Costa (2005), o anseio por uma relação amorosa que envolva plenamente

os amantes continua sendo uma aspiração generalizada nas sociedades modernas. Desta

forma, o amor romântico segue desempenhando papel central como ideal amoroso e

desencadeador das emoções correspondentes. No entanto, esse desejo coexiste com

mudanças importantes no padrão romântico da relação a dois. De acordo com Mairal

(2004), a infidelidade é interpretada muitas vezes como sendo fruto do desamor. Sendo

assim, um dos elementos nucleares da concepção do amor, é que o casal compartilha tudo,

assim a intimidade individual se dissolve para formar uma intimidade comum, todavia no

mundo real quase nenhum casal participa absolutamente toda sua intimidade. A

infidelidade é considerada um desses “ocultamentos”, porém grave, que supõe sempre uma

dura prova para a estabilidade matrimonial. Entretanto, as doenças, as alterações

transitórias (como o consumo de bebidas alcoólicas) são situações que podem explicar a

infidelidade com independência do amor que existe entre o casal, assegura Mairal (2004).

Ao tratar do amor, na mídia em geral, nas diversas novelas, filmes e poemas, os

personagens são retratados como eternos perseguidores de estímulos ardentes e excitantes,

destacam Kim e Hatfield (2004). Assim, não considerando a enorme obsessão apresentada

pela mídia sobre o amor, as pessoas ironicamente concordam que este sentimento não é
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simplesmente uma indução para a felicidade, mas sim um misterioso e complexo aspecto

da vida humana.

Para compreensão das várias questões em torno do amor, os modelos globais das

relações interpessoais íntimas, isto é, os modelos do amor, formam um conjunto articulado

de noções sobre as condições causais e a evolução temporal do amor e do modo como tais

condições influenciam e são influenciadas pela interação e/ou eventos exteriores (Alferes,

2002). Em uma revisão das principais vertentes teóricas no estudo científico do amor,

Bystronski (1995) destaca alguns modelos fundamentais: inicialmente, Amor Passional,

Amor Pragmático e Amor Altruísta, e, seqüencialmente, apresenta o Comprometimento

como modelo de explicação causal e as Cores do Amor e a Teoria Triangular do Amor

como modelos de análise sistemática, descritos a seguir.

Modelo do Amor Passional

Este modelo enfatiza o aspecto “precisar” do fenômeno amor, incluindo

necessidades de afiliação e dependência, sentimentos de exclusividade, absorção, ao lado

de atração física, paixão e idealização do parceiro. Essencialmente, excitação sexual, bem

como as condições que levam a ela, e o curso temporal do amor desempenham um papel

fundamental neste modelo. A idealização do ser amado ou a fantasia de gratificações

ilimitadas na relação com o outro, parece excluí-lo do campo do dever e haver das trocas

sociais e afetivas (Alferes, 2002). Desta forma, o amor aqui é tratado como

fundamentalmente passional onde seu surgimento é súbito, mas sua duração é breve; como

um fenômeno intrigante na sua irracionalidade e recorrente recusa a uma explicação

definitiva. Por ser efêmero e vulnerável, as idéias mais ou menos conscientes que este

amor proporciona constituem parte das condições causais do amor e são determinadas não
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só por nossas experiências amorosas,mas também pela cultura e vida familiar, afirma

Bystronski (1995).

Modelo do Amor Pragmático

Com ressalvas nos componentes “confiança” e “tolerância”, o amor é aquele que

ocorre entre adultos maduros, comum em relacionamentos duradouros, como o casamento.

O “cuidado” aqui aparece como estratégia para obter e manter a recíproca por parte do

outro. O modelo do amor pragmático, contrariamente ao modelo do amor passional,

desenvolve-se mais lentamente e sob maior controle por parte dos envolvidos, assim cada

um sente que retira da relação mais ou menos o mesmo que coloca. Logo, a

compatibilidade de atitudes, as necessidades complementares, a confiança e a compreensão

mútua, além do respeito e lealdade, são fundamentais. No que se refere à pesquisa

empírica, conceitos introduzidos pelas Teorias da Troca Social apóiam as idéias deste

modelo através do princípio da eqüidade e processos auto-reguladores. Para Bystronski

(1995) o amor pragmático, ainda que seja menos intenso e mais tranqüilo, é sobretudo mais

estável.

Modelo do Amor Altruísta

Este modelo enfatiza o componente “cuidado” do amor, porém é intrinsecamente

determinado e não possui o intuito de eliciar comportamentos similares. O princípio geral é

que benefícios altruístas oferecidos a um parceiro são guiados somente pelas necessidades

deste e não envolve considerações sobre as necessidades daquele que ora oferece os

benefícios. Conseqüentemente, é cuidando do outro e fazendo todo o possível pela sua

felicidade que o indivíduo motivado por este tipo de amor encontra sentido e satisfação em

sua própria vida.


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Comprometimento

Para Bystronski (1995) o comprometimento é um fenômeno difícil de definir,

porém existe um consenso nos trabalhos sobre este tema de que quando alguém fala de

comprometimento está falando de estabilidade da relação, por isso promove e mantêm a

interação entre indivíduos mesmo quando os fatores que favorecem sua adesão são fracos.

Do mesmo modo, para Adams e Jones (1997), o compromisso é um fator importante para o

desenvolvimento e contínuo equilíbrio dos relacionamentos fixos. Por ser um importante

preditor para os aspectos positivos dos relacionamentos, estes autores exemplificam que

quanto maior o compromisso, mais as pessoas tendem a ajudar o outro, a comunicarem-se

e solucionar problemas mais eficazmente, além de serem mais satisfeitas com a vida.

Embora sejam reconhecidas algumas conceituações de comprometimento, é a partir

de uma análise causal que pode-se apurar as regularidades e as principais mudanças nos

padrões do compromisso com a relação. Bystronski (1995) aponta que esta análise deve

levar em consideração três grupos principais: 1) causas pessoais com características

relativamente duradouras dos indivíduos como traços de personalidade, atitudes e

habilidades; 2) causas relacionais quando a harmonia na interação reflete uma combinação

da adaptação entre duas pessoas; e 3) causas ambientais referentes ao ambiente físico (por

exemplo, o lugar onde vivem) e/ou social como as normas e os valores no qual a relação

está inserida.

Aumentar a satisfação com a relação supostamente contribui para o

comprometimento, assim na medida em o casal desenvolve uma história de interações

positivas, a relação adquire um valor secundário de gratificação. Porém, Adams e Jones

(1997) salientam que mesmo havendo compromisso, a satisfação com a união não é

necessariamente uma conseqüência deste, por exemplo, nos casos em que a dissolução do

casamento é desaprovada pela família e pelos amigos, e um dos cônjuges empenha-se para
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mantê-lo a todo custo. Esta idéia baseia-se principalmente nos modelos de compromisso

que envolvem o senso de obrigação moral ou a crença do casamento como uma instituição

sagrada.

De acordo com Bystronski (1995), os investimentos irrecuperáveis também têm um

peso decisivo nos julgamentos da pessoa quanto a manter ou deixar a relação, pois além de

perder os eventuais benefícios que a relação oferece, todos os investimentos de tempo,

dinheiro, esforço também serão perdidos. Os custos sociais de terminar a relação podem do

mesmo modo contribuir para estabilidade casal, por exemplo, quando duas pessoas são

socialmente definidas como “casal”, o término da relação implica necessariamente em

julgamentos por parte do seu círculo social. Todavia, tanto a pressão social que trabalha no

sentido da manutenção de um casamento como um possível envolvimento extraconjugal

que conseqüentemente enfraquece uma união são geralmente diferentes para homens e

mulheres dependendo, entre outras coisas, das diferenças culturais e dos fatores

demográficos.

Outro fator importante para o comprometimento é o autoconceito (Bystronski,

1995). A fim de não provocar nenhum abalo a auto-estima, devido uma provável

dissonância criada pela decisão de permanecer ou não em um relacionamento, a pessoa se

compromete porque se sente responsável por seu comportamento passado, então o

abandono da relação implicaria na revisão de seu autoconceito enquanto indivíduo

responsável, confiável e consistente. Como se pode constatar, o conceito de

comprometimento, semelhante às outras considerações e variáveis pertencentes à temática

das relações íntimas, refere-se a um conjunto complexo de componentes, com propriedades

dinâmicas (Adams & Jones, 1997), onde se incluem fenômenos observáveis, estruturas

causais subjacentes e explicações históricas para as razões existentes.


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As Cores do Amor

Sem dúvida a teoria mais conhecida no mundo, esta taxonomia do amor baseia-se

na pressuposição de que tal sentimento é um fenômeno plural. De acordo com Bystronski

(1995), foi por meio do psicólogo canadense John Alan Lee na década de 1970 que o amor

passou a ser estabelecido como uma analogia das cores, pois há uma tendência de

classificar com uma só palavra as relações satisfatórias – amor – com a existência de uma

única coisa correspondente a esta palavra e de medi-la em termos de quantidade, como se o

amor fosse preto e branco. Situando uma analogia das cores, seu objetivo é justamente

mostrar que, assim como faz mais sentido explicar as diferentes cores do que definir a cor

em si, faz mais sentido tentar distinguir os vários estilos de amor de que perseguir uma

definição do amor que expresse a possível essência do que seria o amor verdadeiro.

Portanto, como a preferência pelas cores, o estilo de amor de uma pessoa pode variar

durante a vida e de uma relação para outra.

O grego e o latim são as línguas onde Lee vai buscar os termos para compor sua

classificação dos estilos de amor, formando um círculo fechado. Em sua tipologia, da

mesma maneira como existem as cores primárias – vermelho, amarelo e azul – das quais se

formam todas as outras cores do arco-íris, os três estilos primários de amor são Eros,

Ludus e Storge (Bystronski, 1995; Engel, Olson & Patrick, 2002; Hendrick & Hendrick,

1986; White, Hendrick & Hendrick, 2004), sendo que todos os outros estilos de amor

resultam de alguma combinação destes três. Por conseguinte, os estilos de amor secundário

são Mania (Eros + Ludus), Pragma (Ludus + Storge) e Agape (Eros + Storge). Na

seqüência, apresenta-se uma descrição abreviada de cada um deles:

1. Eros: Trata-se da busca por um parceiro cuja aparência física corresponda à imagem

ideal que o indivíduo tem na mente. Chamados de amantes eróticos, o amor aqui começa
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sempre de forma avassaladora e estão sempre prontos aos riscos do amor, pois sabem que o

parceiro ideal é uma raridade. Geralmente querem uma relação exclusiva, mas não são

possessivos nem temem possíveis rivais. Consideram que ter encontrado e viver seu amor

ideal é a mais importante atividade em suas vidas.

2. Storge: É o estilo de amor onde o indivíduo “se acostuma” com o parceiro ao invés de

“apaixonar-se” por ele, por este motivo, a relação romântica pode começar a partir de um

relacionamento de pura amizade. Há o desenvolvimento da afeição e comprometimento

com o outro, deste modo o amante estórgico não tem nenhum tipo de ideal físico em mente

nem seleciona conscientemente seus parceiros, também não está “à procura” de um amor,

em vez disso, ele seleciona atividades de sua preferência e, através delas, conhece pessoas

que fazem e gostam das mesmas coisas. Na medida em que o relacionamento progride,

desenvolve-se um sentimento de posse, porém de forma silenciosa que só será

demonstrada se uma ameaça real ocorrer.

3. Ludus: O amante lúdico espera é que o amor seja prazeroso e não comprometedor.

Bystronski (1995) afirma que estas pessoas são na verdade “colecionadoras de

experiências de amor” que serão relembradas com prazer. O grau de envolvimento é

cuidadosamente controlado e, conseqüentemente, o ciúme é para eles algo sem sentido e

lastimável. Neste estilo de amor há clareza das regras e por isso é complicado mentir,

entretanto as relações são normalmente de vida curta. Acham uma variedade de tipos

físicos igualmente atraentes e podem mudar de um para o outro facilmente. Amantes

lúdicos evitam ver o parceiro com muita freqüência como uma forma de impedir o excesso

de envolvimento; sexo é distração e o amor não é a atividade mais importante da vida.

4. Mania (Eros + Ludus): Neste estilo o amante é obsessivamente preocupado com o

objeto de amor, intensamente ciumento e possessivo e precisa sempre de reafirmações de

que é amado. Ao mesmo tempo ele recua temendo amar demais sem que antes haja
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garantia de que há recíproca. A busca ansiosa de amor funciona como compensação para

sua baixa auto-estima. A mistura de dois estilos primários – Eros e Ludus – faz com que o

amante maníaco tenha desejo por relacionamentos intensos, fisicamente estimulantes,

típico de Eros; e com habilidade de apaixonar-se por quase todo mundo como

característica do estilo Ludus. Assim, existe uma forte necessidade de estar apaixonado,

todavia com o receio de que o amor vá ser doloroso e difícil. Amantes maníacos

demonstram excessivo ciúme e demandam demonstrações de mais amor e

comprometimento.

5. Pragma (Ludus + Storge): Os atributos buscados pela pessoa neste estilo de amor

podem incluir medidas sociológicas, tais como a que diz que pessoas de mesma religião,

opção política e classe social ou interesses pessoais como o esporte favorito, têm mais

chances de serem compatíveis umas com as outras. O amante pragmático escolhe o

parceiro como se já fosse um amigo e usa manipulação consciente para encontrar um. A

procura por um parceiro sensato e não por um excitante romance. Se a relação não

funciona, o pragmático vai em frente, ludicamente, em busca de outro, por isso encontrar

um par compatível é um problema prático a ser resolvido através de esforço. Geralmente

desprezam demonstrações excessivas de ciúme, mas admiram reciprocidade de atenção e

de comprometimento. Para o amante neste estilo, encontrar um par compatível é desejável

para uma vida feliz, mas não essencial (Bystronski, 1995).

6. Agape (Eros + Storge): É a clássica visão cristã do amor em que este sentimento é

altruísta, universalista, sempre gentil e paciente, nunca ciumento e nunca demanda

reciprocidade. É um estilo de amor raramente encontrado na prática. Amantes com esta

característica consideram amar um dever, sentem um intenso dever de cuidar do ser amado

e se chegam à conclusão de que seu parceiro estaria melhor com outro, são capazes de

abdicá-lo em beneficio de seu concorrente.


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Além destes estilos que são compostos a partir da união dos três estilos primários

de amor, é possível a identificação de outros três estilos classificados como terciários

(Bystronski, 1995; Hendrick & Hendrick, 1986): Eros Lúdico, Eros Estórgico e Ludus

Estórgico, compostos pela combinação de características típicas dos tipos primários e/ou

secundários. Assim como as cores do arco-íris, esta tipologia admite a existência de quase

infinitos estilos de amor, portanto, os descritos acima são aqueles encontrados em

pesquisas empíricas como sendo os estilos mais básicos, a partir dos quais os outros se

compõem. Além disso, estilos puros dificilmente são encontrados e ao caracterizar cada

um deles, esta taxonomia faz uma espécie de caricatura, destacando o que há de peculiar

em cada estilo e as diferenças entre eles. Do mesmo modo, o estilo de amor de uma pessoa

pode variar com relação ao tempo, às experiências e o tipo de parceiro.

Teoria Triangular do Amor

Dentre os vários modelos teóricos, a Teoria Triangular do Amor é considerada a

mais atual e utilizada pela literatura científica e, semelhante ao modelo teórico As Cores do

Amor, sugerido por Lee, fornece também taxonomias do amor (Bystronski, 1995). Esta

teoria foi proposta por Robert J. Sternberg, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e

conjetura três componentes essenciais ao fenômeno do amor: Intimidade, Paixão e

Compromisso. A partir da década de 1980, os trabalhos realizados por Sternberg sobre o

amor tornaram-se fonte de referência teórica e empírica indispensáveis para os estudos que

se propunham analisar o amor de maneira sistemática. Por este motivo, nesta ocasião A

Teoria Triangular do Amor será especialmente exposta no tópico seguinte, pois além de

adotar um modelo classificatório do amor, ajustando-se adequadamente aos estudos que

tratam da infidelidade conjugal, aos moldes desta dissertação, é igualmente a mais

atualizada e difundida no mundo científico, como já salientado anteriormente.


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2.2 - Teoria Triangular do Amor

De acordo com a perspectiva da Teoria Triangular do Amor sugerida por Sternberg

(1997), este sentimento pode ser classificado em três componentes principais: Intimidade,

Paixão e Compromisso, formando vértices de um triângulo (Alferes, 2002; Engel, Olson &

Patrick, 2002; Serrano & Carreño, 1993). Este, por vez, é uma metáfora mais do que

simplesmente um modelo geométrico. No contexto desta teoria, cada elemento manifesta

um aspecto diferente do amor (Gao, 2001):

Intimidade (topo do vértice do triângulo): A intimidade é um dos componentes dinâmicos

mais valiosos. Refere-se aqueles sentimentos que promovem proximidade, vínculo e

conexão nos relacionamentos amorosos. Incluem em seu campo de ação aqueles

sentimentos que enaltecem, essencialmente, a experiência de aconchego na relação, a

felicidade e a comunicação (Gao, 2001; Hernandez, 1999). A intimidade existe nos

relacionamentos em que estão presentes os seguintes elementos:

1. O desejo de promover o bem-estar de outra pessoa.

2. A felicidade de poder compartilhar experiências de vida.

3. O discernimento de respeito mútuo.

4. A compreensão mútua de se manter presente nos momentos difíceis da vida do

parceiro.

5. A concepção íntima de compartilhar a vida, bem como bens materiais.

6. A disposição de dar e receber apoio emocional.

7. A capacidade de se comunicar além dos níveis superficiais ou práticos.

8. O reconhecimento mútuo do valor do parceiro em sua vida.


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Paixão (vértice esquerdo do triângulo): A paixão é o elemento que se refere às

movimentações que conduzem ao romance, atração física, relação sexual (Gao, 2001) e

fenômenos relacionados ao amor, propriamente dito. Consiste em fontes motivacionais que

levam à experiência apaixonada, como a excitação. Num relacionamento amoroso, as

necessidades sexuais podem predominar. De qualquer modo, outras necessidades, tais

como auto-estima, sentir-se satisfeito, afiliação, dominância, submissão e auto-atualização,

podem também contribuir para a experiência da paixão (Sternberg, 1997). Dos três é o

mais fácil de ser reconhecido, mas isso não significa que seja o mais fácil de definir ou

controlar. Embora a paixão seja uma sensação física, a atividade sexual preenche muitas

necessidades emocionais (Hernandez, 1999). Portanto, descreve-se como:

1. As sensações românticas.

2. A atração física e o desejo de estar junto.

3. A satisfação e o contentamento sexual mútuos.

4. A excitação física e emocional.

Compromisso (vértice direito do triângulo): Trata-se, num aspecto mais restrito, de uma

decisão por amar o outro, e num aspecto mais abrangente, o compromisso desse alguém

para manter este amor. Estes dois aspectos do componente compromisso não precisam

necessariamente estar juntos; compete amar alguém mesmo que o outro não esteja

comprometido a manter este amor ou um pode estar empenhado com o relacionamento

reconhecendo que não é amado pela outra pessoa (Sternberg, 1997). O comprometimento é

essencial para um relacionamento duradouro e isto inclui (Hernandez, 1999):

1. A certeza de que o que se sente é um tipo especial de amor.

2. A disposição para simbolizar ou articular esse amor de algum modo.


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3. A compreensão de que o relacionamento é mais do que um capricho passageiro.

4. A decisão de investir no relacionamento por um determinado período de tempo

(“para sempre”, “a longo prazo” etc.).

Os três componentes do amor interagem entre si. Por exemplo, grande intimidade

pode levar a uma grande paixão ou compromisso, assim como compromisso pode levar a

uma grande intimidade ou, com pouca probabilidade, a uma grande paixão. Em geral, os

componentes são visto isoladamente, mas interagem entre si (Engel, Olson & Patrick,

2002). Embora todos os três sejam partes importantes de um relacionamento amoroso, sua

preponderância pode diferenciar de um relacionamento para outro ou no transcorrer do

tempo dentro de um mesmo relacionamento (Serrano & Carreño, 1993). Certamente,

diferentes tipos de amor podem ser gerados, limitando-se as circunstâncias das diferentes

combinações dos componentes (Sternberg, 1997).

É importante compreender que estes tipos de amor são, de fato, casos delimitados:

o não relacionamento é uma probabilidade quando apenas um componente está presente. Já

o não-amor, refere-se simplesmente a ausência de todos os três componentes. Os três

elementos geram sete possíveis tipos quando combinados (Engel, Olson & Patrick, 2002).

Cada um destes casos dá origem a diferentes tipos de amor (ver Figura 1):

Carinho: surge quando um sujeito experimenta somente o componente intimidade da teoria

e há ausência dos componentes paixão e compromisso;

Amor apaixonado: resulta da vivência do componente paixão e a ausência dos demais;

Amor vazio: emana da determinação de um dos indivíduos de estar compromissado com o

outro, mas há ausência dos componentes de intimidade e paixão;


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Amor companheiro (companheirismo): deriva da combinação dos componentes de

intimidade e compromisso;

Amor ilusório (irreal, insensato): resulta da combinação dos componentes de paixão e

compromisso e ausência do componente intimidade;

Amor romântico: fruto do acordo entre os elementos paixão e intimidade, com a falta do

elemento compromisso;

Amor completo (realizado): é o resultado da combinação plena dos três componentes.

In timidade
(carinho)

Amor Romântico Co mpanheirismo


Am or Completo
ou Realizado

Paixão Compro misso


Amo r Ilusório
(amor apaixonado) (amor vazio))
Figura 1. Componentes básicos do amor e suas combinações ou tipos de amor, segundo a
Teoria Triangular do Amor de Sternberg (1997).

Sternberg (1997) destaca ainda que a geometria deste triângulo depende de dois

fatores: da quantidade de amor e do equilíbrio harmônico do amor. Diferenças na

quantidade de amor estão representadas por diferentes áreas do triângulo: quanto maior a

quantidade de amor, maior será a área do triângulo. Quando há equilíbrio nos três

componentes, o triângulo pode ser representado como um amor igualmente equilibrado

cuja representação será de um triângulo eqüilátero. O amor não envolve somente um único

triângulo, mas certamente outros, onde somente alguns são de interesses, tanto teórico
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como prático. Por exemplo, é possível contrastar triângulos ideais com os reais. A pessoa

não tem somente um triângulo representando o seu amor por outro, mas também um

triângulo representando uma pessoa ideal para aquela relação que seria baseada na

experiência em outras relações com o mesmo tipo de amor (Hernandez, 1999). Também é

possível distinguir entre “auto-percepção” e “percepção-dos-outros”. Em outras palavras, o

sentimento de uma pessoa num relacionamento pode ou não corresponder ao quão

significante é a percepção do outro em relação ao sentimento na mesma relação.

É importante ressaltar a diferença entre triângulos de sentimento e triângulos de

interação (ação). Uma coisa é sentir de uma determinada maneira o significado do outro; e

outra coisa é agir de forma consistente com esse sentimento. Cada um dos três

componentes do amor tem um conjunto de ações associados. Por exemplo, a intimidade

pode ser manifesta através de ações que visam dividir o tempo com o indivíduo,

expressando empatia pelo outro, comunicando-se de forma honesta, assim por diante. Já o

compromisso pode ser expresso através da fidelidade sexual, engajamento na relação,

casamento etc. É claro que as ações que expressam um componente em particular podem

ser diferentes, em algum nível, de pessoa para pessoa. Não obstante, é importante

considerar que o triângulo do amor sempre é expresso através de ações, simplesmente

porque as ações têm diversos efeitos nos relacionamentos, afirma Sternberg (1997). O

autor, do mesmo modo, assegura ao descrever os três componentes do amor, que nem

sempre estes fazem parte de um relacionamento afetivo, nem possuem peso igual para

todos. Este exemplo pode ser verificado através do amor pela família que, geralmente,

consiste de intimidade e compromisso, sem paixão. Ou das relações em ambiente de

trabalho com grande intimidade, mas que raramente se transformam em amizades

duradouras ou relacionamentos românticos, explica o autor.


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Segundo Hernandez (1999), o modelo de Sternberg determina propriedades

diferentes para os três componentes do amor: (1) Intimidade e compromisso são mais

estáveis do que a paixão, que tende a flutuar amplamente; (2) É possível exercer um grande

controle sobre o compromisso e algum controle sobre a intimidade, mas muito pouco sobre

a atração física ou paixão; (3) O reconhecimento consciente da paixão é sempre alto, ao

passo que o reconhecimento da intimidade e do compromisso pode variar; (4) A paixão

tem papel importante nos relacionamentos a curto prazo; (5) A intimidade desenvolve-se

com o tempo, e o compromisso depende de um prazo longo; (6) A intimidade é comum na

maioria dos relacionamentos amorosos, seja ele de amantes, de pessoas da família ou de

amigos, ao passo que a paixão só é comum nos relacionamentos românticos, e o

compromisso raramente se apresenta em outros tipos de relacionamento; e (7) A paixão

depende do envolvimento psicofisiológico, ao passo que o compromisso depende

relativamente menos, e a intimidade, apenas moderadamente.

Não obstante, a Teoria Triangular do Amor de Sternberg, semelhante ao que ocorre

com outras teorias psicométricas do amor, depara-se com algumas limitações, mesmo que

sob o ponto de vista descritivo e heurístico seja, nomeadamente, predominante para o

estudo sistemático dos relacionamentos românticos. Segundo Alferes (2002), a principal

limitação deste modelo resulta do fato de não se basear diretamente na análise dos

processos evolutivos e psicossociais envolvidos nas relações amorosas.

Um importante exemplo dos estudos científicos que buscam superar algumas

limitações da teoria de Sternberg sobre o amor, são os desenvolvidos por Carlos Yela

(1997, 2006), da Faculdade de Psicologia da Universidade Complutense de Madri. Nos

resultados de suas pesquisas, Yela encontrou uma estrutura sintetizada em quatro fatores:

Paixão Erótica, Paixão Romântica, Intimidade e Compromisso. Deste modo, foi plausível
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promover alguns refinamentos às inconsistências teóricas e empíricas do modelo

Triangular do Amor.

Para Yela (1997), boa parte dos problemas nas relações amorosas e sexuais origina-

se na ignorância e em falsas crenças que provocam decepções, frustrações e desenganos.

Por isso, este autor determina alguns elementos básicos para uma compreensão coerente

deste contexto:

a) Se as pessoas reconhecem que em uma relação amorosa existem distintos tipos

de fatores, uns passionais e outros não, e que em função de muitas variáveis, internas e

externas à relação, o amor alterar em intensidade, talvez estes indivíduos tenham melhores

condições para enfrentar mudanças;

b) Se as pessoas aprendem que a intensidade dos distintos componentes amorosos

tende, em geral, a flutuar de uma determinada maneira ao longo da relação amorosa, dando

lugar a três fases principais: primeiro o amor romântico precedido por uma breve fase de

enamoramento passional e seguida por uma larga fase de amor companheiro com máxima

intimidade e compromisso, talvez não se produzam tantas expectativas incompletas, nem

se viva com grande pesar e decepção, processos absolutamente normais (por exemplo, a

diminuição progressiva da paixão sentida nos primeiros meses ou anos);

c) Se as pessoas aprendem a reconhecer que a redução da paixão é algo natural e

inevitável, e que posteriormente a relação amorosa entra em outra fase em que essa paixão

é substituída por outra série de fatores positivos que não existiam antes ou existiam com

menor intensidade (sentimento de unidade e vínculo estável, confiança, compreensão

mútua, apoio etc.), então não deveriam atormentar-se ao comprovar que depois de “x” anos

já não sentem a paixão desenfreada do primeiro dia, nem achar que não há mais o

“verdadeiro amor” entre o casal.


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Por fim, como lembra Alferes (2002), “a conjunção amor/sexo não é uma

necessidade biológica, nem um imperativo social, mas apenas, uma das possíveis soluções

histórico-culturais para o problema da articulação entre reprodução biológica e vinculação

social” (p. 141). Nesta linha, Díaz-Loving (2004) pondera que de fato o mais importante é

que ambos os sexos procurem sempre perceber e sentir que dar e receber amor e afeição, a

fim de estabelecerem um amor agradável em conjunto, abre as porta a relacionamentos

mais românticos e mais igualitários.

Além do amor, um outro fenômeno amplamente estudado no domínio das relações

íntimas, é o ciúme. Embora seja freqüentemente relacionado a outras variáveis que

envolvem fundamentalmente a união romântica dos casais, como a satisfação conjugal e as

táticas de manutenção das relações, o ciúme é igualmente enfatizado nos estudos que

abarcam a temática da infidelidade conjugal. Neste sentido, no próximo capítulo da

presente dissertação encontram-se pormenorizados os modelos e achados empíricos sobre

o ciúme.
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CAPÍTULO III – O CIÚME


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3. - O CIÚME

3.1 - Definições e Enfoques Empíricos

De acordo com Alferes (2002), o controle dos recursos e as estratégias de

manutenção do poder no âmbito das relações interpessoais íntimas dão geralmente lugar a

conflitos, caso as condições causais que estiverem na sua origem não sejam removidas ou

modificadas. O ciúme surge, portanto, como uma das condições antecedentes a estes

conflitos sociais. Seja ou não de caráter patológico, seja justificado ou não pelo

comportamento do parceiro, o ciúme constitui uma das principais causas de dissolução das

relações íntimas organizadas em torno da sexualidade e reguladas normativamente pelos

padrões de conjugalidade heterossexual, afirma este autor.

A propósito, White (1981) define o ciúme como um “complexo de pensamentos,

sentimentos e ações que seguem as ameaças da auto-estima e/ou ameaças da existência ou

qualidade da relação” (p. 296). Segundo Ramos, Yazawa e Salazar (1994), apesar de serem

várias as definições a respeito do ciúme romântico, a maioria é perpassada pela idéia de

três elementos comuns: (1) uma reação frente a uma ameaça percebida; (2) que parte de

um rival real ou imaginário; e (3) que tem como objetivo eliminar os riscos da perda do

amor. Embora seja uma experiência que envolva diferentes níveis de tristeza, irritação e

ansiedade, o ciúme para a ciência psicológica engloba principalmente a experiência de

aflição ou desconforto diante de uma situação concreta ou fantasiosa que pode

desestabilizar da relação do casal (Sheets & Wolfe, 2001).

Ao ser considerado como fenômeno universal, não exclusivo dos seres humanos,

pois muitos animais são capazes de demonstrar condutas inquestionavelmente ciumentas,

Monclús (2005) adverte que o ciúme se manifesta em todas as idades, porém com

características próprias. Na fase adulta, são comuns as situações em que ocorrem,

especialmente, as de cunho sexual e/ou afetiva. No entanto, estas não abarcam todas as
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possibilidades. Algumas vezes o ciúme é experimentado quando um indivíduo deseja ter

para si, uma pessoa que está envolvida com outra; outras vezes, não é exatamente o amor,

mas o amor próprio e o sentimento de possessão que o provoca; também, em certas

ocasiões, na possibilidade de infidelidade afetiva, o ciúme ocorre pela atenção que o

parceiro recebe de uma terceira pessoa.

Para Torres, Ramos-Cerqueira e Dias (1999) na prática clínica, psicológica ou

psiquiátrica, um dos principais pontos para se avaliar um indivíduo com preocupações de

ciúme seria a racionalidade ou não dessas apreensões, assim como o grau de limitação ou

prejuízo que acarretam. Portanto, buscar conhecer se o ciúme é ou não patológico é

essencial, tendo em vista que as preocupações com fidelidade não são raras nem

necessariamente bizarras, ao contrário são na maioria das vezes compreensíveis.

Como destaca Harris (2004), o antigo poder exercido pelo ciúme tem inspirado

poesias, novelas, peças teatrais, pinturas e óperas. Também chamou a atenção de

psicólogos que usaram uma variedade de teorias para sua compreensão científica. As

interpretações do ciúme focalizavam, sobretudo, uma visão freudiana, observadas

especialmente na literatura psiquiátrica. Segundo esta autora, mais recentemente, tem-se

averiguado outras explicações, por exemplo, no que se refere à natureza ou origem deste

doloroso e perigoso fenômeno do amor romântico.

Por refletir uma resposta negativa à participação emocional ou sexual real, prevista

ou não, do parceiro com outra pessoa, Buunk (1997) afirma que muitos pesquisadores têm

igualmente questionado, em função do ciúme, como as pessoas responderiam ao

perceberem determinados comportamentos de intimidade do parceiro com uma terceira

pessoa. Estes estudos são fundamentados em acepções teóricas. Três delas serão tratadas

na presente dissertação, primeiro devido ao número expressivo de pesquisas realizadas e

segundo por serem essenciais para a compreensão do ciúme nas relações íntimas no
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contexto atual, são elas: Personalidade, Teorias Sociocultural e Sociocognitivista e, a mais

expressiva, Teoria Psicológica Evolucionária.

3.1.1 – Personalidade e Ciúme

Segundo Harris (2004), alguns indivíduos apresentam ciúme com maior

intensidade, são mais frágeis às provocações advindas deste e, por outro lado, uns parecem

ser menos suscetíveis a senti-lo. Este complexo de emoções é freqüentemente relacionado

às características de personalidade, tais como insegurança e baixa auto-estima. Apesar de

serem representantes da teoria psicológica evolucionária a ser descrita em seguida, Buss e

Shackelford (1997) destacam igualmente a importância dos traços individuais como

intensificadores do ciúme. Os autores explicam que muitas mulheres queixam-se de que

maridos possessivos e muito ciumentos as induziriam a um envolvimento extraconjugal

com outros homens.

Uma possibilidade é que a personalidade esteja relacionada às diferenças

individuais expressadas nas atitudes que facilitam a ocorrência do ciúme. Nesta linha,

Buunk (1997) estudou como variáveis da personalidade afetavam o ciúme. Mesmo sendo

considerada pela literatura como algo contraditório, a ordem de nascimento foi apontada

em sua pesquisa como uma variável adicional a respeito das experiências na família de

origem e sua importância para o desenvolvimento da personalidade e, conseqüentemente,

para o ciúme, uma vez que a rivalidade entre irmãos seria um precursor desta situação no

indivíduo adulto. Supõe-se então que o filho primogênito teria que compartilhar o amor e a

atenção dos pais com os irmãos mais novos depois de ter experimentado uma atenção

exclusiva dos pais, conduzindo-o deste modo ao ciúme. Porém, os resultados do estudo de

Buunk (1997) apresentaram exatamente o inverso desta suposição, ou seja, foi verificado,

preliminarmente, que os irmãos mais novos eram mais ciumentos que os primogênitos,
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todavia adverte que o resultado referente a esta variável oferece poucos indícios

explicativos e ainda inconsistentes. Apesar da ressalva de Buunk (1997), esta mesma

constatação de que são os filhos mais novos os mais ciumentos, é igualmente concebida

pela perspectiva psicológica evolucionária, pois os pais investem seus recursos materiais e

afetivos, em maior proporção, nos filhos mais velhos, implicando que, mais que os

primogênitos, são os mais novos que têm durante toda sua infância que disputar o amor e a

atenção dos seus pais.

Considerando as possíveis respostas de ciúme que as pessoas podem apresentar, ao

perceberem algum envolvimento de intimidade do parceiro com uma terceira pessoa,

Buunk (1997) classificou em seu estudo três possíveis tipos de ciúme:

a) o ciúme reativo: fruto de uma resposta negativa ao envolvimento afetivo e/ou

sexual do parceiro com outra pessoa, seja esta real ou imaginada;

b) o ciúme preventivo: subseqüente ao ciúme reativo, esta resposta ocorre quando

há indícios ou sinais do interesse do parceiro em uma terceira pessoa; surgem então os

esforços para impedir o contato íntimo entre eles. O autor exemplifica que em casos como

estes, são comuns os homens que podem recorrer à violência em um esforço de limitar a

autonomia de suas mulheres. Isto seria resultado de sua insegurança sobre a mera

possibilidade de que sua esposa venha a ser infiel; inclusive existem algumas evidências de

que tal atitude masculina cause quadros de agorafobia em mulheres que vivenciam o

extremo ciúme de seus maridos;

c) o ciúme ansioso: o possível envolvimento sexual e/ou emocional do(a)

companheiro(a) com alguma outra pessoa implica em uma atividade do processo cognitivo

individual em que a pessoa imagina ou fantasia cenas do seu parceiro junto com o(a)

suposto(a) amante. Isto conduz à ansiedade, à angústia e à obsessão.


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Nos resultados deste estudo, Buunk (1997) observou que o ciúme é mais

característico nos indivíduos com índices elevados de neuroticismo, ansiedade social,

rigidez e hostilidade. Ao contrário dos homens, entre as mulheres, o ciúme era claramente

mais prevalente naquelas com baixa auto-estima, uma vez que as ameaças à relação afetam

muito mais as mulheres.

3.1.2 – Teoria Sociocultural, Sociocognitiva e Ciúme

Os vários aspectos inerentes aos relacionamentos sociais, não permitiriam uma

teoria simples que adequadamente capturasse a tamanha complexidade do ciúme. Neste

sentido, Harris (2004) ressalta com esta justificativa, que pesquisas têm enfocado fatores

culturais e cognitivos na incidência e expressão desta emoção (Sheets & Wolfe, 2001;

Goldenberg & cols., 2003). Tais enfoques exploram as diferenças sociais entre os sexos

cujas experiências de ciúme são mais pronunciadas nas culturas onde se atribui uma

intensa importância social à união conjugal, logo, a gratificação sexual deve ser

direcionada exclusivamente a esta.

Embora seja possível deduzir que o ciúme é uma emoção inata, para Monclús

(2005), não cabe nenhuma dúvida de que determinadas condutas o estimulam e o

fomentam, ao mesmo tempo em que outras tendem a minimizá-lo. Neste sentido, o ciúme

obedece, em seu desenvolvimento, a fatores socioculturais, referentes tanto a

macrosociedade, na qual o sujeito está genericamente inserido, como a microsociedade,

próxima e familiar em que se desenvolve. Este autor salienta que ambas as esferas têm seus

valores, seus critérios e seus tabus.

Sheets e Wolfe (2001) sugerem que as diferenças entre os sexos para explicar o

ciúme, emergem como conseqüência da aquisição de regras de socialização culturais sobre

o comportamento de homens e mulheres que vivenciam relacionamentos românticos.


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Também são moldados, muitas vezes, por princípios familiares que garantem os

sentimentos de possessão e pertença (Monclús, 2005). Embora a socialização ocorra em

níveis diferentes, Sheets e Wolfe (2001) esclarecem que a ameaça de infidelidade sexual

ou afetiva do parceiro incluem diferenças quanto:

a) às crenças sobre o relacionamento, que podem ser avaliadas culturalmente

através das distintas conotações da infidelidade sexual: mulheres vêem o amor como um

pré-requisito para o sexo, enquanto os homens têm freqüentemente relações sexuais sem

amor, isso implicaria que as mulheres seriam duplamente infiéis, ou seja, tanto

sexualmente como afetivamente;

b) à traição feminina, por ser considerada mais intensa que a infidelidade

masculina, isto é, por incluir ao mesmo tempo sexo e amor, conduz em maior proporção a

dissolução do relacionamento estável;

c) à infidelidade sexual do homem, uma vez que, em decorrência da difusão de que

o sexo masculino é naturalmente promíscuo, o ciúme da mulher é, portanto, menos intenso

na ocorrência deste tipo de traição. Esta característica é fruto dos papéis de gênero,

culturalmente atribuídos e assumidos por homens e mulheres;

d) à sustentação social de que as mulheres são mais sociáveis e cultivam,

freqüentemente, envolvimento emocional com outras pessoas, por isso, são mais

perceptíveis às possíveis ameaças à estabilidade da união ou sua real ocorrência. Isto

poderia explicar o ciúme mais intenso experimentado pelas mulheres quando imaginam a

infidelidade emocional dos companheiros.

Neste linha, para Goldenberg e cols. (2003), os fenômenos sociais, como o

comportamento estereotipado de gênero, refletem no processo de socialização cultural

através de sistemas comuns de opiniões, valores e papéis internalizados como auto-

conceito do indivíduo. Sendo assim, é preciso reconhecer como serão avaliados os


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relacionamentos românticos, isto é, os motivos para ser ciumento, o alvo do ciúme, quem o

expressa, a maneira de expressá-la e quem deve levar a culpa pela situação desagradável.

No que se refere à concepção sociocognitiva acerca do ciúme, a auto-avaliação

exerce uma função primordial, afirmam Goldenberg e cols. (2003). Por exemplo, é

possível que uma pessoa sinta mais ciúme quando os processos de manutenção da auto-

estima são comprometidos por uma ameaça à estabilidade do relacionamento e,

conseqüentemente, a torna mais sensível à iminência destas situações de perigo à harmonia

do casal. Deste modo, quando um “potencial rival” chama a atenção do parceiro,

componentes da auto-estima (como, o quão inteligente o “concorrente” é) promovem ou

elevam o ciúme, neste caso em ambos os sexos. Mais especificamente, as mulheres

enfatizam as relações interpessoais e estas lhe servem de parâmetro para a sua auto-

avaliação, já os homens, consideram a competência sexual como fundamental para a

manutenção da auto-estima.

Além das concepções acima descritas, Mairal (2004) adverte que as mudanças

ocorridas nas últimas décadas tornaram mulheres e filhos mais independentes dos homens,

principalmente se aqueles gozam de um bom nível de qualidade de vida. Os casais, agora,

podem manter relações sexuais com maior freqüência devido aos métodos

anticoncepcionais, a recuperação pós-parto dá-se rapidamente, as influências de limitações

morais e religiosas enfraqueceram, além dos testes laboratoriais que cada vez mais são

utilizados para confirmar a paternidade dos filhos. Portanto, neste contexto as influências

evolutivas perdem seu sentido, pois: “Como seres humanos, e não puramente como

animais, acreditamos que o que transmitimos fundamentalmente aos nossos descendentes,

não são traços biológicos, mas nossa maneira de ser, nosso carinho, nossa memória” (p.

13).
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3.1.3 – Teoria Psicológica Evolucionária e Ciúme

A partir da década de 1990 psicólogos evolucionários começaram a aplicar as

teorias de Darwin aos comportamentos dos seres humanos (Harris, 2004). Com isso, surge

uma nova teoria sobre a origem do ciúme. Através da história da evolução humana (Buss,

2002; Shackelford, Buss & Bennett, 2002), verificou-se que os indivíduos, ao longo dos

tempos, utilizaram enquanto estratégia de adaptação e reprodução, a busca de um

companheiro, e para esta relação tornar-se bem sucedida eram necessárias algumas

soluções para resolver certos problemas, incluindo, a procura por um parceiro com garantia

de fertilização e o devido afastamento de outras pessoas que por ventura pudessem atrair

ou “roubar” seu(sua) companheiro(a). Assim, o ciúme, como em outras emoções

associadas com ao vínculo conjugal, passou a ter um caráter diferente entre os homens e as

mulheres (Becker e cols., 2004; Goldenberg e cols., 2003; Harris, 2004; Shackelford,

2001).

Tais conceitos têm como base a perspectiva psicológica da teoria evolucionária das

diferenças de gênero. Logo, o ciúme enquanto resposta à infidelidade sexual e/ou

emocional do(a) companheiro(a) é analisado por Achim Schützwohl (2004) em pesquisas

pela Universidade de Bielefeld, na Alemanha, como resultado da divisão de papéis, ou

seja, a infidelidade sexual das mulheres podia por em risco o sucesso da reprodução

masculina e sem a certeza que os filhos gerados num relacionamento são verdadeiramente

seus. Este fato teria conseqüências substanciais para a auto-estima masculina, gerando,

portanto, episódios de ciúme (Ramos & Calegaro, 2001). O sucesso reprodutivo feminino,

ao contrário, não é posto em perigo na ocorrência da infidelidade sexual masculina,

considerando que a mulher tem sempre a certeza que os filhos gerados em seu ventre são

seus genuinamente. O ciúme feminino, por conseguinte, ocorre enquanto resposta à

infidelidade afetiva do homem. O comportamento infiel masculino conjuntamente com


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forte envolvimento afetivo com uma outra mulher, não sendo unicamente sexual, oferece

riscos à segurança da família já constituída ou ao relacionamento estável do casal. Com a

traição afetiva masculina, há possibilidade de perda ou, pelo menos, diminuição dos

investimentos financeiros e afetivos, antes direcionados unicamente à mulher e seus filhos.

Por isso, o desenvolvimento do ciúme feminino ocorre como forma de manutenção deste

relacionamento e, conseqüentemente, da segurança familiar (Grice & Seely, 2000).

Como conseqüência dessas ameaças, Schützwohl (2004) e Schützwohl e Koch

(2004) apresentam em suas análises os mecanismos de ciúme em que mulheres respondem

com emoções negativas mais fortes à infidelidade emocional e homens respondem mais

negativamente à infidelidade sexual. Quanto ao tempo de decisão de resposta a

questionamentos empregados nas pesquisas, os autores observaram que as mulheres que

selecionavam a infidelidade emocional alcançaram esta decisão mais rapidamente do que

as mulheres que optaram pela infidelidade sexual, entretanto observaram o contrário no

que se refere ao tempo de decisão dos homens. Estes resultados suportam a suposição de

que os homens e as mulheres que selecionam um tipo de infidelidade confiaram em sua

tendência inicial de resposta sugerida por seu respectivo mecanismo de ciúme.

A perspectiva evolucionária fornece orientações para identificar as fontes do

conflito conjugal prováveis em causar forte impacto para auto-estima. Isto inclui, dentre

outras, a infidelidade sexual (Shackelford, 2001). Além disso, têm-se relatado que a aflição

à infidelidade sexual, especialmente em homens, é mais saliente quando estes foram

vítimas de traição no passado. Isto sugere, em alguma extensão, que a intensidade da

reação emocional à infidelidade requer experiência real e por isso espera-se que os

indivíduos que foram vítimas da infidelidade relatem ciúme em maior intensidade. Vale

salientar que para muitos estudiosos evolucionários e teóricos da emoção, como, por
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exemplo, Becker e cols. (2004) e Buss (2002), o ciúme é meramente um composto de

outras emoções.

Além da escassez de pesquisas acerca das reações diante da infidelidade sexual e

afetiva, a teoria evolucionária sofre críticas, principalmente no que se refere às relações

entre gêneros. Para Ramos e Calegaro (2001) a Psicologia Evolucionária, ao decompor os

relacionamentos entre homens e mulheres a partir da relação indissociável entre sexo e

procriação, reconhece o ciúme como um mecanismo de defesa desenvolvido para esta

empreitada. Os autores citados enfatizam que o ponto de vista da teoria evolucionária:

“é enfocado a partir de uma visão sexista, pois considera que a


evolução moldou padrões diferenciados para homens e mulheres,
segundo os quais eles desenvolveram o ciúme como resposta à
infidelidade sexual e elas contra a infidelidade emocional. Os
dados mais otimistas que apóiam esta diferenciação foram obtidos
em 2 a cada 3 casos pesquisados em ambos os sexos e os sujeitos
que compõem o terço restante tenderão ao fracasso evolucionário”
(p. 294).

É indispensável salientar, como afirmam Ramos e Calegaro (2001), que os dados

sobre as diferenças de gênero no ciúme citados pelos representantes teóricos desta

perspectiva, a exemplo o estudioso Buss, um dos mais representativos teóricos

evolucionários, não são os únicos encontrados na literatura científica (como demonstrado

nos tópicos anteriores). Segundo os autores, a “seletividade perceptiva” amparada por esta

teoria, favorece as pesquisas que apóiam a perspectiva evolucionária e desprezam toda

uma produção significativa a favor de perspectivas contrárias (personalidade e ciúme e

teoria sociocultural e sociocognitivista), seja através da minimização do seu valor, seja

através da mera negação de outros estudos.

Além disso, para Harris (2004), o ciúme pode ser uma característica inata e de

adaptação dos seres humanos, porém considera que suas formulações são mais

adequadamente explicadas através das concepções socioculturais e sociocognitivas, do que


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pelas teorias baseadas nas diferentes estratégias para unir homens e mulheres utilizadas por

nossos antepassados. Neste sentido, Monclús (2005) considera ainda a existência do ciúme

retrospectivo e, em menor freqüência, do prospectivo. No primeiro, o sujeito sofre porque

seu atual parceiro amou e tem sido amado, conseqüentemente, para desencadear uma

reação de ciúme, basta a simples menção do nome ou um casual encontro com esta pessoa,

bem como com alguém ou algo relacionado a ela. O ciúme prospectivo faz referência ao

futuro, com temor a situações que, segundo o ciumento, as justifiquem. Assim, por

exemplo, uma pessoa pode atormentar-se e atormentar o parceiro predizendo que ao ficar

mais velha e menos atrativa, este buscará outra.

Por fim, Monclús (2005) destaca que o fenômeno do ciúme é dimensional e não

categorial, pois embora possua aspectos comumente qualitativos, sua intensidade varia não

apenas de um indivíduo a outro, como também em um mesmo indivíduo. Por ser universal,

o ciúme pode apresenta também aspectos positivos, ou seja, o receio de perder a pessoa

amada pode induzir a intensificação do cuidado e da atenção, logo, quando moderado,

pode ser representado como manifestação de amor, onde a pessoa por qual se zela, sente-se

valorizada, distinta das demais e aceita mutuamente. Inclusive, em algumas situações, sua

inexistência pode significar desamor.

Entretanto, ainda de acordo com Monclús (2005), na medida em que este

sentimento de cuidado cresce, são estabelecidas mudanças qualitativas. Deste modo, o

sujeito passivo deixa de agradecer a atenção exagerada, por ser agora incômoda e

angustiante; além disso, teme a agressão verbal e/ou física do parceiro ciumento. O

sofrimento que esta condição produz, tanto para o indivíduo ativo como para o passivo,

pode alcançar tamanha intensidade que desestrutura por completo um relacionamento

amoroso, assinala o autor. Aliás, através do ciúme os casais experimentam


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simultaneamente sentimentos contraditórios: “ama e odeia; quer confiar, porém desconfia;

pretende esquecer, porém não pode pensar em outra coisa” (p. 19).

Chegando a este ponto, buscando conhecer um nível interpessoal para explicação e

compreensão das sensações e percepções dos indivíduos em relação à infidelidade conjugal

e considerando que a traição, em uma cultura católica-cristã como a brasileira, pode

significar ruptura de papéis convencionais, implicando ameaça à estabilidade familiar,

objetivou-se conhecer como as pessoas julgam a probabilidade de reações a cenários de

infidelidade conjugal e em que medida os construtos amor e ciúme podem se correlacionar

com tais julgamentos. Para consecução deste objetivo geral, planejaram-se dois estudos.

No primeiro, procurou-se levantar as razões e reações mais freqüentes à infidelidade

conjugal no contexto brasileiro. Por outro lado, no segundo intentou-se previamente

conhecer os parâmetros psicométricos de duas medidas utilizadas, a saber: Escala

Triangular do Amor (Sternberg, 1997) e Escala de Ciúme Romântico (Ramos, Yazawa &

Salazar, 1994). Posteriormente, decidiu-se (1) averiguar a influência das informações

demográficas dos respondentes (sexo, idade, estado civil e religião) para as reações a

cenários de infidelidade conjugal; (2) verificar a influência do sexo do ator-traidor, da

condição sócio-econômica do casal e da razão para infidelidade (fatores manipulados nos

cenários) no julgamento das reações à infidelidade; e, finalmente, (3) avaliar em que

medida e direção as medidas de amor e ciúme romântico estariam correlacionadas com

estes julgamentos da probabilidade de reagir a cenários de infidelidade conjugal.


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CAPÍTULO IV – CORRELATOS DA INFIDELIDADE CONJUGAL


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4.1 – ESTUDO 1 – RAZÕES E REAÇÕES À INFIDELIDADE CONJUGAL

4.1.1 – Método

4.1.1.1 - Delineamento e Hipóteses

Com a finalidade de levantar os motivos e as reações mais comuns no contexto

brasileiro para a infidelidade conjugal, realizou-se o presente estudo. Compreendeu um

delineamento ex post facto, procurando levantar categorias de razões e reações à

infidelidade conjugal. Embora de natureza tipicamente descritiva, o embasamento teórico

permitiu elaborar as seguintes hipóteses:

Hipótese 1. As razões afetivas e sexuais para se cometer um ato de infidelidade serão

mencionadas.

Hipótese 2. As reações vingança, agressão verbal e/ou física, busca da separação e

perdão, ao desvelar de um caso extraconjugal, serão mencionadas.

4.1.1.2 - Amostra

Participaram desta pesquisa 165 estudantes dos ensinos fundamental (10,6%),

médio (42,5%) e universitário (46,9%), da cidade de João Pessoa, com idade média de 23,5

anos (DP =5,574; amplitude de 18 a 51 anos), a maioria do sexo feminino (78,5%) e

católica (66,9%). Cabe ressaltar que no caso dos participantes dos ensinos fundamental e

médio, estes foram de escolas públicas dos períodos noturno e diurno, respectivamente.

Informações mais detalhadas desta amostra encontram-se na Tabela 1 a seguir.


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Tabela 1. Distribuição de Freqüência quanto às Variáveis Demográficas (n = 165).


Variáveis Níveis F %

Sexo Feminino 113 78,5


Masculino 45 28,5

Estado Civil Solteiro(a) 130 81,8


Casado(a)/Convivente 26 16,4
Separado/Divorciado 3 1,9

Escolaridade Ensino Fundamental 17 10,6


Ensino Médio 68 42,5
Ensino Superior 75 46,9

Religião Católica 99 66,9


Evangélica 26 17,6
Espírita 4 2,7
Não tem uma religião 19 12,8

4.1.1.3 - Instrumento

O questionário conteve primeiramente duas questões para se indicar (1) três razões

(motivos) principais para a traição nos relacionamentos amorosos e (2) três possíveis

reações ao ato da infidelidade conjugal, isto é, como o participante imagina que as

pessoas se comportam nesta situação com relação à(ao) parceira(o). Em seguida,

solicitou-se aos participantes que respondessem as questões demográficas expostas

anteriormente, possibilitando a descrição da amostra (ver Anexo 1).

4.1.1.4 - Procedimento

O levantamento de dados obedeceu a um procedimento padrão. Os aplicadores

receberam um treinamento a fim de intervirem o mínimo possível no processo. As escolas

de ensino médio e fundamental e os departamentos dos cursos universitários foram

contatados pelos aplicadores tendo em mãos uma carta de apresentação à diretoria e à


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coordenação, respectivamente, de cada instituição de ensino. O questionário foi de auto-

aplicação e esta aconteceu em ambientes coletivos de sala de aula, tendo sido informado

aos participantes, de forma geral, o objetivo da pesquisa e o caráter confidencial e sigiloso

de suas respostas. Enfatizou-se também que não existiam respostas certas ou erradas,

devendo os participantes responder individualmente da forma mais sincera possível. Por

fim, foram realizados os devidos agradecimentos. Um tempo médio de 5 minutos foi

necessário para completar sua participação no estudo.

4.1.1.5 – Análise dos Dados

A partir do levantamento teórico foram elaboradas categorias acerca da infidelidade

conjugal, sendo duas categorias referentes às razões para se cometer infidelidade: afetivas

e sexuais, e quatro categorias relativas a possíveis reações por parte da pessoa traída ao

descobrir a traição do(a) parceiro(a): perdão, vingança, agressão verbal e/ou física e busca

da separação. As respostas dos participantes foram depois consideradas por quatro juízes,

independentemente, que deveriam checar a possibilidade de contemplá-las nas categorias

antes mencionadas. O objetivo era verificar a pertinência das razões e reações à traição no

contexto brasileiro, previstos teoricamente em outras culturas.

Todos os juízes eram pesquisadores da área de Psicologia, devidamente instruídos

para a tarefa correspondente, fornecendo-lhes o marco teórico e informando acerca dos

achados empíricos de pesquisas nesta área. Estes analisaram as respostas dos participantes

de acordo com as categorias propostas, considerando-se um percentual mínimo de 75% de

concordância entre os juízes a fim de corroborar a pertinência da categorização de cada

resposta. Eliminaram-se aquelas respostas que não obtiveram uma concordância mínima

do percentual estabelecido, assim como foram excluídas as respostas não condizentes com

o que foi solicitado aos participantes.


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4.1.2 - Resultados

Em decorrência da análise de juízes, as razões para se cometer um ato de

infidelidade puderam ser então agrupadas nas categorias afetivas e sexuais. Todavia, no

decorrer deste procedimento, foram constatadas respostas que preenchiam a uma outra

categoria até então não averiguada no levantamento teórico. Respostas como “falta de

respeito” e “falta de vergonha” foram, portanto, classificadas pelos juízes como

pertencentes à categoria denominada de razões morais, por tratarem-se de conteúdos que

indicavam os princípios e valores da sociedade, fundamentados em regras de honestidade e

pudor. Logo, as razões para se cometer um ato de infidelidade conjugal foram qualificadas

em três categorias principais, a saber: afetivas, sexuais e morais, descritas na Tabela 2.

Tabela 2. Freqüência das razões para infidelidade conjugal

Exemplo de Respostas Afetivas Sexuais Morais

Falta de amor, de carinho, de atenção, de companheirismo. 61,3%

Insatisfação sexual, desejo, prazer, atração física. 12,3%

Falta de respeito, de crença, de vergonha, influência dos amigos. 5,5%

Conforme esta tabela, em consonância com a Hipótese 1, as duas razões principais

para a infidelidade conjugal foram as afetivas, mencionadas por 61,3% dos participantes, e

as sexuais, indicadas por 12,3% deles. Não obstantes, as razões morais, que não foram

inicialmente previstas, aparecem como a terceira mais freqüente, lembrada por 5,5%

daqueles que compuseram o estudo.

Quanto às reações ao ato da infidelidade conjugal, formulou-se a Hipótese 2, que

previa a aparição das categorias vingança, agressão verbal e/ou física, busca da

separação e perdão. Os resultados a respeito são apresentados na Tabela 3.


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Tabela 3. Freqüência das reações à infidelidade conjugal

Exemplo das respostas dos Agressão Sofrimento


participantes Vingança física/verbal Separação Indiferença Psicológico

Vingança, traindo também. 5,9%

Agir com agressão, brigas,


violência, ódio, raiva, matar. 29,6%

Fim do relacionamento,
separação. 5,9%

Agir com indiferença,


distanciamento, fingir que
nada aconteceu. 13,2%

Tristeza, solidão, depressão,


mágoa, chorar, sentir-se
inferior. 28,3%

De acordo com esta tabela, não é possível corroborar a Hipótese 2.

Especificamente, embora as respostas dos participantes tenham podido ser agrupadas, após

a análise de juízes, nas categorias vingança, agressão verbal e/ou física e busca da

separação, nenhuma delas fez evidente a legitimidade de se contar com a categoria

perdão, como mencionada em estudos prévios da literatura. Nem mesmo surgiram

respostas que pudessem ser relacionadas com esta palavra ou mesmo a ocorrência de

sinônimas, como desculpa e clemência. Foram igualmente verificadas respostas com

relevante freqüência de atribuições, ocupando categorias diferentes daquelas contempladas

no marco teórico. Estes foram os casos para as categorias indiferença, com respostas

como “agir com indiferença” e “fingir que nada aconteceu” e sofrimento psicológico,

com atribuições como “tristeza” e “chorar”.

Finalmente, embora a presente dissertação não procure fazer uma análise das razões

para a infidelidade conjugal, caberia levantar informações acerca de como pensam ou


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opinam homens e mulheres acerca desta questão. Portanto, compararam-se as freqüências

de respostas de ambos grupos para as duas razões principais antes identificadas. A

propósito, percebeu-se uma diferença estatisticamente significativa quanto à freqüência

destas, ² (1) = 10,57, p = 0,001. Especificamente, predominantemente os homens

atribuem mais razões sexuais (60%) enquanto as mulheres pensam haver mais uma razão

afetiva (77,9%).

4.1.3 – Discussão

Os objetivos do presente estudo foram conhecer as razões e reações à infidelidade

conjugal no contexto brasileiro. Espera-se que estes tenham sido cumpridos. Não obstante,

é importante levantar potenciais limitações do presente estudo, a exemplo do grupo de

participantes considerados. No caso, a amostra não pode ser representativa do contexto

brasileiro nem mesmo do paraibano; compreende uma amostra de conveniência, não sendo

assim probabilística. O grupo de participantes também se constituiu, predominantemente,

por mulheres e pessoas vinculadas a instituições de ensino, o que permite pensar em

respostas restritas a este perfil demográfico. Apesar deste aspecto, em decorrência da

coerência dos achados deste estudo com aqueles de pesquisas prévias, estima-se que os

resultados são adequados e podem arrojar luz a esta temática e suscitar novas pesquisas no

contexto brasileiro.

No que se refere às razões afetivas e sexuais, tratadas na Hipótese 1, estas de fato

foram as citadas, tendo inclusive sido os principais motivos para se cometer um ato de

infidelidade conjugal, corroborando o que se descreve na literatura (Becker & cols., 2004;

Buss, 2002; Goldenberg & cols., 2003; Shackelford, 2001; Shackelford, Goetz & Buss,

2005; Schützwohl, 2004). O fato de as razões afetivas terem predominado pode ser

explicado em razão da composição da amostra, reunindo maior quantitativo de mulheres. A


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propósito, os resultados destes estudos apontam para a existência de diferenças de gênero

ao designarem às razões para a traição. Em geral, os homens consideram que razões

sexuais são as mais justificáveis para um possível envolvimento extraconjugal. As

mulheres, no entanto, apontam razões de cunho mais afetivo como justificativa para

infidelidade (Becker & cols., 2004). Embora seja necessário ponderar o fato de a amostra

deste estudo ter sido composta, predominantemente, por mulheres, estes achados foram

corroborados na presente dissertação.

Parece plausível considerar que, quanto às reações, a Hipótese 2 não foi

corroborada. Esta hipótese propôs a existência no contexto brasileiro das categorias

perdão, vingança, agressão verbal e/ou física e busca pela separação como reações ao

ato da traição. De acordo com os resultados, das quatro categorias preestabelecidas, as três

seguintes foram observadas: vingança, agressão verbal e/ou física e busca pela

separação, as quais aparecem em estudos prévios (Afifi, Falato e Weiner, 2001; Becker &

cols., 2004; Harris, 2003; Shackelford, Buss & Bennett, 2002; Schützwohl, 2004).

Contudo, a categoria perdão, que tem sido citada na maioria destes estudos, não obteve

nenhuma menção de palavras ou expressões relativas ao termo proposto.

Apesar de o resultado antes descrito não ser plenamente explicável, cabe uma

conjetura que deverá merecer atenção no futuro. A maioria dos estudos acerca desta

temática tem sido realizado em culturas individualistas e pós-materialistas, como os

Estados Unidos (Afifi, Falato e Weiner , 2001; Blow & Hartnett; 2005; Hall & Fincham,

2006; Shackelford, Buss & Bennett, 2002) é possível que neste contexto haja maior

abertura para o perdão. Em âmbitos coletivistas e tradicionais, como o Brasil e, mais

especificamente, a Paraíba (Gouveia e cols., 2002), esta reação pode ser minorada,

principalmente entre pessoas que têm acesso à educação formal, como os participantes da

presente pesquisa. Contudo, não se pode fechar os olhos para que esta estratégia é sim
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existente na cultura paraibana, garantindo a manutenção da família. Portanto, apenas

estudos futuros ajudarão a dirimir dúvidas a respeito deste resultado.

Justamente tendo em conta o último argumento exposto, decidiu-se na presente

dissertação manter a categoria perdão como uma possível reação à traição do(a)

parceiro(a). Por outro lado, embora não fossem inicialmente previstas como categorias de

reação à infidelidade conjugal, a indiferença e o sofrimento psicológico, originadas em

decorrência dos resultados empíricos, assumiu-se a importância destas como prováveis

reações ao desvelar de um ato extraconjugal. Vale salientar, que as respostas indicativas de

sofrimento psicológico, formaram a segunda categoria com maior freqüência de

atribuições, ou seja, 28,3% das respostas. Com esta condição, além da indiferença, a

categoria sofrimento psicológico torna-se fundamental enquanto variável de estudo da

presente dissertação.

Conhecidas as razões e reações para a infidelidade conjugal, pensou-se na

realização de um segundo estudo. Neste intenta-se conhecer como as pessoas julgam que

outras deveriam reagir a cenários de infidelidade conjugal, considerando a manipulação

dois tipos principais de razões para a infidelidade (afetiva vs sexual), o sexo do ator-traidor

(masculino vc feminino) e a condição sócio-econômica do casal (igualdade vs

desigualdade). É importante justificar a não inclusão da categoria de razões morais.

Embora esta tenha sido lembrada pelos participantes do estudo, reuniu uma porcentagem

que é menos da metade daquela observada para a segunda mais importante (sexuais).

Acrescenta-se que sua inclusão em um delineamento fatorial poderia implicar em um

aumento substancial do número de participantes, o que parecia dispendioso. Por fim,

pretendeu-se ainda neste estudo conhecer em que medida o amor e o ciúme romântico

poderiam se associar com as reações sugeridas para o contexto de infidelidade conjugal.

Procura-se a seguir descrevê-lo.


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4.2 – ESTUDO 2 – REAÇÕES A CENÁRIOS DE INFIDELIDADE CONJUGAL

4.2.1 – Método

4.2.1.1 – Delineamento e Hipóteses

O presente estudo obedeceu a um delineamento quase-experimental, tendo sido

manipulados a razão da infidelidade, o sexo do ator-traidor e a condição sócio-econômica

do casal. As medidas de amor e ciúme romântico representam observações ex post facto. O

delineamento fatorial resultante foi um 2 (sexo dos atores: feminino ou masculino) x 2

(condição sócio-econômica do casal: igualdade ou desigualdade) x 2 (razão para

infidelidade: sexual ou afetiva). As reações aos cenários de infidelidade conjugal foram

consideradas como variáveis dependentes (critério), tendo estas manipulações e os fatores

de amor e ciúme romântico figurado como variáveis antecedentes. Com base na revisão da

literatura, realizada acerca dos temas em questão, e diante dos objetivos mencionados,

foram elaboradas as seguintes hipóteses, organizadas segundo o núcleo principal a que se

referem:

Variáveis Demográficas

Hipótese 1. As reações a cenários de infidelidade conjugal diferirão em relação ao sexo do

respondente.

Hipótese 2. As reações a cenários de infidelidade conjugal diferirão em relação à idade do

respondente.

Cenários de Infidelidade Conjugal

Hipótese 3. As reações a cenários de infidelidade conjugal diferirão em relação ao sexo do

ator-traidor (feminino ou masculino).


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Hipótese 4. As reações a cenários de infidelidade conjugal diferirão em relação às razões

para infidelidade (sexual ou afetiva).

Hipótese 5. As reações a cenários de infidelidade conjugal diferirão em relação à

(des)igualdade sócio-econômica do casal (igualdade ou desigualdade).

Amor e Ciúme Romântico como Correlatos das Reações a Cenários de Infidelidade

Hipótese 6. Reagir perdoando a cenários de infidelidade se correlacionará positivamente

com a pontuação no componente de amor compromisso.

Hipótese 7. Reagir com vingança a cenários de infidelidade se correlacionará

positivamente com a pontuação no componente de amor paixão.

Hipótese 8. Reagir com separação a cenários de infidelidade se correlacionará

positivamente com a pontuação no componente de amor intimidade.

Hipótese 9. Reagir com agressão física e/ou verbal a cenários de infidelidade se

correlacionará positivamente com o ciúme no fator exclusão.

Hipótese 10. Reagir com sofrimento psicológico a cenários de infidelidade se

correlacionará positivamente com o ciúme no fator exclusão.

Hipótese 11. Reagir com agressão física e/ou verbal a cenários de infidelidade se

correlacionará negativamente com o ciúme no fator não-ameaça.

Hipótese 12. Reagir com sofrimento psicológico a cenários de infidelidade se

correlacionará negativamente com o ciúme no fator não ameaça.

4.2.1.2 – Amostra

Participaram desta pesquisa unicamente estudantes universitários da cidade de João

Pessoa, de ambos os sexos e que tinham uma relação heterossexual estável. Foram
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aplicados 610 questionários, sendo que deste total a maioria foi do sexo feminino (69,4%),

solteira (82,6%) e heterossexual (94,9%), com idade média de 23 anos (DP = 6,35;

amplitude de 17 a 56 anos). Dos que não eram casados / conviventes, a maioria

encontrava-se namorando fixo (41,4%). No que diz respeito à religião, a maior parte disse

ser católica (66%). Quanto à classe socioeconômica, estes se percebiam

predominantemente como pertencentes à classe média (49,2%). Informações detalhadas

acerca desta amostra são encontradas na Tabela 4 a seguir.

Tabela 4. Amostra dos Participantes que Compuseram a Amostra Total (N = 610).


Variáveis Níveis F %

Sexo Feminino 422 69,4


Masculino 186 30,6

Solteiro(a) 503 82,6


Estado Civil Casado(a)/Convivente 80 13,1
Separado(a)/Divorciado(a) 26 4,3

Noivo(a) 36 7,0
Se não é
Namorando Fixo 212 41,4
casado(a),
Com namorado(a) ocasional 88 17,2
atualmente está...
Sem relacionamento 176 34,4

Classe Sócio- Baixa 135 22,4


econômica Média 296 49,2
Alta 171 28,4

Católica 387 66,0


Evangélica 91 15,5
Religião Espírita 24 4,1
Outras 12 2,0
Não tem uma religião 72 12,6

Heterossexual 561 94,9


Opção Sexual Bissexual 14 2,4
Homossexual 16 2,7

Tendo-se em conta este grupo de participantes, decidiu-se neste segundo estudo

impor algumas restrições para formar a amostra definitiva. Portanto, como o propósito é
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avaliar as reações a cenários de infidelidade exclusivamente entre os respondentes que

mantenham uma relação heterossexual estável, estabeleceram-se as seguintes regras de

exclusão: (1) não participaram os respondentes que indicaram ser solteiros, sem qualquer

relacionamento ou com namoro ocasional, e (2) os que se declararam homossexuais ou

bissexuais. Neste sentido, todos os participantes da amostra definitiva contavam com

relacionamento heterossexual estável, totalizando 307 respondentes, conforme se descreve

na Tabela 5.

Tabela 5. Caracterização Demográfica dos Participantes do Estudo Final (n = 307).


Variáveis Níveis F %

Sexo Feminino 213 69,4


Masculino 94 30,6

Solteiro(a) 224 73,0


Estado Civil
Casado(a)/Convivente 80 26,1
Separado/Divorciado 3 1,0

Se não é casado,
Noivo 33 14,5
atualmente está...
Namorando 194 85,5

Classe Sócio- Baixa 62 20,5


econômica Média 150 49,5
Alta 91 30,0

Católica 198 66,4


Evangélica 45 15,1
Religião Espírita 15 5,0
Outras 5 1,6
Não tem uma religião 35 11,7

De acordo com esta tabela, percebe-se a predominância de participantes do sexo

feminino (69,4%) e solteiros (73%), neste caso majoritariamente namorando fixo (85,5%),

com uma média de idade de 23,4 anos (DP = 6,22; amplitude de 17 a 56 anos). Em sua
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maioria, estes participantes se declararam católicos (66,4%) e pertencentes à classe sócio-

econômica média (49,5%).

4.2.1.3 – Instrumentos

Pediu-se aos participantes que respondessem aos seguintes instrumentos:

 Cenários de Infidelidade Conjugal


Inicialmente, os participantes foram instruídos a ler um cenário específico que

retratava uma história presumível de infidelidade vivenciada por um casal, fictício, cujos

personagens / atores eram Nívea e Paulo (Anexo 2). Em cada história, de um parágrafo,

correspondendo à metade de uma folha Ofício A4, manipularam-se três fatores: sexo do

ator-traidor (feminino ou masculino), condição sócio-econômica do casal (igualdade ou

desigualdade)1 e razão para infidelidade (sexual ou afetiva). Deste modo, os cenários

foram montados a partir do cruzamento destes fatores, como resumido no Quadro 3.

SEXO DO TRAIDOR
_________________________________________________________________________________________________

FEMININO MASCULINO

Igualdade Sim Não Sim Não

Causa da traição: sexual Cenário 1 Cenário 3 Cenário 5 Cenário 7

Causa da traição: afetiva Cenário 2 Cenário 4 Cenário 6 Cenário 8


Quadro 3. Delineamento Fatorial dos Cenários de Infidelidade

1
Ressalta-se que os fatores sexo do ator-traidor e razão para infidelidade foram originados a partir das
evidências teóricas e das categorias levantadas na pesquisa previamente descrita (Estudo 1). No tocante ao
fator condição sócio-econômica do casal, este foi determinado em razão do contexto em que esta pesquisa se
insere, isto é, a região Nordeste. Neste âmbito, a maioria dos chefes de família é constituída por indivíduos
do sexo masculino [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE, 2003)],
o que pode influenciar diretamente na forma como as pessoas reagem ao descobrirem que foram traídas.
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Depois de lerem as histórias, os participantes indicaram em que medida seria

provável cada uma das seguintes reações por parte da pessoa traída: perdão, vingança,

indiferença, agressão verbal e/ou física, sofrimento psicológico e busca da separação.

Suas respostas foram dadas em uma escala do tipo Likert, de 7 pontos, com os seguintes

extremos: 1 = Totalmente Improvável e 7 = Totalmente provável.

 Escala Triangular do Amor

Trata-se de um instrumento composto por 45 itens, os quais são subdivididos em

três componentes principais do amor, cada um representado por 15 itens: intimidade (por

exemplo, Sinto que _____ realmente me compreende), paixão (por exemplo, Eu não

imagino outra pessoa me fazendo tão feliz como _____ me faz) e compromisso (por

exemplo, Espero amar _____ por toda minha vida). Os espaços em branco não precisam

ser preenchidos pelos respondentes; estes precisam apenas imaginar que nele figura o

nome do(a) namorado(a), noivo(a), esposo(a) ou companheiro(a). Os itens são respondidos

em uma escala do tipo Likert, com 9 pontos, com os seguintes extremos são: 1 = Não me

descreve nada e 9 = Me descreve Totalmente, expressando assim o nível que a afirmação

se aplica ao relacionamento do(a) respondente com o(a) outro(a). Esta versão foi

originalmente proposta por Sternberg (1997). No presente estudo, tiveram-se em

consideração esta versão e a adaptação brasileira, realizada por Hernandez (1999),

procurando assegurar sua validação semântica (ver Anexo 3).

 Escala de Ciúme Romântico

Proposta originalmente por Ramos, Yazawa e Salazar (1994), compunha-se de 59

itens que descreviam situações triangulares geradoras de ciúme, envolvendo o parceiro do

sexo oposto. Esta medida foi empregada no contexto paraibano e checada sua validade
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fatorial e consistência interna por Belo (2003). No presente estudo a versão desta autora é

utilizada, compondo-se de 28 itens; no caso, consideraram-se apenas os 24 itens que

tiveram as cargas fatoriais maiores (Anexo 4). Estes itens, respondidos em escala tipo

Likert, com 5 pontos, com os seguintes extremos: 1 = Discordo Totalmente e 5 =

Concordo Totalmente, cobre dois fatores principais: não-ameaça (Alfa de Cronbach =

0,79; por exemplo, Não tem nada de mal ela / ele ir à festa sozinha / o; É natural ela / ele

ter muitos / as amigos / as) e exclusão (Alfa de Cronbach = 0,73; por exemplo, Fico

furioso / a quando ela / ele conversa com um / a amigo / a que acha bonito /a; Ela / ele

trabalhar num ambiente onde há predominância de homens / mulheres lhe incomoda).

 Experiência de Infidelidade

Solicito-se aos participantes que respondessem a questões referentes à vivência de

traição, enquanto traidor e/ou traído, ou conhecimento de alguém próximo que estivesse

passando por esta situação. Os participantes deveriam indicar apenas uma das respostas

dicotômicas – sim ou não – para as seguintes questões: (1) Você tem algum familiar ou

amigo que trai atualmente? (2) Você tem algum familiar ou amigo que é traído

atualmente? (3) Você pensa que poderia vir a trair seu (sua) parceiro (a)? (4) Você

alguma vez já traiu seu (sua) parceiro (a)? (5) Você está traindo atualmente o(a) seu (sua)

parceiro(a)? e (6) Você acha que está sendo traído(a) atualmente?

 Perguntas Demográficas

Como última parte do estudo, incluíram-se perguntas de caráter sócio-demográfico,

procurando retratar o perfil dos participantes do estudo, testar algumas das hipóteses

formuladas e/ou tê-las controladas com respeito a outras variáveis. No total foram

formuladas nove perguntas: (1) sexo, (2) idade, (3) estado civil, (4) em caso de não estar
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casado, se mantém algum relacionamento e de que tipo, (5) se declarar relacionamento

fixo, indicar o tempo em anos e meses, (6) religião, (7) grau de religiosidade, avaliado em

escala de cinco pontos, com os extremos 0 = Nada religioso e 4 = Totalmente religioso, (8)

classe sócio-econômica, com os níveis baixa (opões 1, 2 e 3), média (opção 4) e alta

(opções 5, 6 e 7) e (9) opção sexual (heterossexual, homossexual e bissexual).

4.2.1.4 – Procedimento

A coleta de dados obedeceu a um procedimento padrão, porém levando em

consideração a especificidade de se trabalhar com um estudo quase experimental contando

com cenários manipulados, os questionários foram contrabalanceados de modo que todas

as oito condições reunissem quantitativos aproximados de participantes. No caso, cada

condição “experimental” foi numerada e recebeu uma letra de identificação que ia da letra

“A” até a letra “H”. A aplicação dos questionários seguia a seqüência estabelecida nesta

ordem. Os aplicadores receberam um treinamento a fim de intervirem o mínimo possível

no processo, bem como sobre o modo correto de entrega dos questionários que deveria

ocorrer de forma “aleatória”. Os departamentos dos cursos universitários foram contatados

pelos aplicadores tendo em mãos uma carta de apresentação à coordenação de cada

instituição de ensino.

O questionário foi de auto-aplicação e esta aconteceu em sala de aula. Informou-se

aos participantes o objetivo geral da pesquisa, indicando que se tratava de conhecer algo

mais acerca das relações interpessoais e afetivas. Enfatizou-se o caráter confidencial e

sigiloso de sua participação, indicando que não existiam respostas certas ou erradas,

solicitando assim que responderem individualmente da forma mais sincera possível. Um

termo de consentimento livre e esclarecido foi lido e assinado por cada um dos
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participantes, sendo depois colocados em um envelope específico, procurando desvincula-

lo das respostas dadas. Somente depois deste procedimento os participantes recebiam o

questionário, acompanhado de alguns esclarecimentos por parte dos aplicadores quanto à

forma de proceder. Por fim, foram realizados os devidos agradecimentos. Um tempo médio

de 20 minutos foi necessário para responder ao conjunto de perguntas.

4.2.1.5 – Tabulação e Análise dos Dados

A versão 13 do pacote estatístico SPSSWIN (Statistical Package for the Social

Sciences) foi utilizada para tabulação e análise dos dados. Utilizaram-se estatísticas

descritivas (medidas de tendência central e dispersão, distribuição de freqüência)

principalmente para as perguntas relativas à experiência de infidelidade e com o fim de

caracterizar os participantes do estudo. A análise fatorial exploratória através do método

dos Componentes Principais (PC) foi empregada a fim de compreender a estrutura fatorial

das medidas de amor e de ciúme romântico. Comprovou-se sua consistência interna através

do Alfa de Cronbach. Com este mesmo pacote estatístico, foram empregadas estatísticas de

qui-quadrado (²) para comparar homens e mulheres em termos das vivências com a

infidelidade, e foram realizadas comparações entre médias (MANOVA) para verificar a

existência de diferenças entre grupos no que se refere às reações a cenários de infidelidade

(variáveis dependentes) em função das informações sócio-demográficas dos participantes

(sexo, idade, estado civil e religião) e dos cenários manipulados (gênero do ator, condição

sócio-econômica do casal e razão para a infidelidade) (variáveis antecedentes). Também

foram realizadas correlações r de Pearson com a finalidade de verificar as relações

existentes entre os fatores de amor (intimidade, paixão e compromisso), ciúme (não-

ameaça e exclusão) e reações a cenários de infidelidade (perdão, agressão física e/ou

verbal, separação, sofrimento psicológico, indiferença e vingança).


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4.2.2 – Resultados

A título de organização, os resultados da presente dissertação foram estruturados

em tópicos principais. Inicialmente, retrata-se a experiência, direta ou indireta, dos

participantes com questões de infidelidade. Passo seguinte, descrevem-se os parâmetros

psicométricos de duas medidas empregadas neste estudo, a saber: Escala Triangular do

Amor (Sternberg, 1997) e Escala de Ciúme Romântico (Ramos, Yazawa & Salazar, 1994).

Posteriormente são apresentados os resultados referentes às análises Multivariadas de

Variância (MANOVAs), procurando conhecer dois aspectos: (1) se as características

demográficas dos participantes (sexo e idade) afetam o julgamento acerca das reações de

atores fictícios a cenários de infidelidade, e (2) se estas reações também podem ser

afetadas por fatores manipulados nas histórias (sexo do ator, condição sócio-econômica do

casal e razão para a infidelidade). Por fim, apresentam-se os resultados das correlações

dos tipos de amor (intimidade, paixão e compromisso) e ciúme (não-ameaça e exclusão)

com as reações a cenários de infidelidade (perdão, agressão física e/ou verbal, separação,

sofrimento psicológico, indiferença e vingança).

4.2.2.1 – Os Participantes e a Experiência com a Infidelidade

Buscando conhecer o perfil dos respondentes no que se refere às possíveis

experiências de infidelidade vivenciadas, quer direta ou indiretamente, como traidor e/ou

traído, foram realizadas algumas perguntas, descritas com detalhe na Tabela 6 a seguir.
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Tabela 6. Freqüência das Respostas dos Participantes referente às Questões sobre


Experiências de Infidelidade (n = 307).
Níveis e Sexo do
Questões F %
Participante

Você tem algum familiar ou Sim 165 54,3


amigo que trai atualmente? Não 139 45,7

Você tem algum familiar ou


amigo que é traído Sim 162 53,3
atualmente? Não 142 46,7

Você pensa que poderia vir a Sim 86 28,5


trair seu(sua) parceiro(a)? Não 261 71,5

Você alguma vez já traiu Sim 105 34,5


seu(sua) parceiro(a)? Não 199 65,5

Você está traindo atualmente Sim 17 5,6


o(a) seu(sua) parceiro(a)? Não 288 94,4

Você acha que está sendo Sim 16 5,4


traído(a) atualmente? Não 283 94,6

De acordo com esta tabela, na ocasião em que os questionários foram aplicados, a

maioria dos participantes disse ter algum familiar ou amigo que traía naquele momento

(54,3%). Um quantitativo equivalente também informou que conhecia algum familiar ou

amigo que estava sendo traído (53,3%). No tocante às questões sobre suas próprias

experiências de infidelidade, predominaram os que não pensam que poderiam vir a trair

seu parceiro (71,5%) e os que disseram nunca ter traído seu parceiro (65,5%). Ao serem

questionados se estavam traindo o seu parceiro naquele momento, a maior parte disse que

não (94,4%). Do mesmo modo, achar que estavam sendo traídos naquele período, também

obteve um maior número de respostas negativas (94,6%).

Conhecido o perfil dos participantes no que se refere às vivências de infidelidade,

caberia indagar se este sofre influência do seu sexo, o que se comprovou em quatro das

variáveis analisadas: se o participante conhece algum familiar ou amigo que trai [² (1) =
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8,26, p = 0,004], se pensa que pode vir a trair [² (1) = 28,79, p = 0,000], se já traiu

alguma vez [² (1) = 9,46, p = 0,003] e se acha que está sendo traído [² (1) = 6,16, p =

0,03]. Especificamente, excetuando a porcentagem dos que indicaram sim para esta última

pergunta, para todas as demais os homens apresentaram maior porcentagens (66,7%, 50%,

47,3% e 1,1%, respectivamente) do que as mulheres (48,8%, 19%, 28,9% e 7,2%,

respectivamente).

4.2.2.2 – Parâmetros psicométricos das medidas.

Nesta oportunidade, de acordo com os objetivos da presente dissertação, procura-se

conhecer evidências de validade fatorial e consistência interna de duas medidas

empregadas neste estudo: Escala Triangular do Amor e Escala de Ciúme Romântico.

 Escala Triangular do Amor

Embora este instrumento tenha sido previamente adaptado para o contexto

brasileiro por Hernandez (1999), a avaliação da tradução realizada e a inexistência de

informações acerca de qualquer validação semântica demandaram ter em conta a versão

original (Sternberg, 1997) e realizar algumas modificações. Uma versão reduzida post hoc

foi produzida a partir dos resultados da adaptação brasileira, considerando para cada

componente desta medida os cinco itens com maiores saturações. Esta é uma solução mais

parcimoniosa, permitindo que em estudos futuros se tenha em conta esta nova versão.

Inicialmente, comprovou-se a adequação de se realizar uma análise fatorial, tendo sido

observados indicadores favoráveis: KMO = 0,92 e Teste de Esfericidade de Bartlett, ²

(105) = 2.663,49, p < 0,001. A propósito, decidiu-se realizar uma análise de Componentes

Principais, fixando a extração de três componentes, com rotação varimax, primando por

uma estrutura simples. Estes resultados podem ser vistos na tabela 7 a seguir.
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Tabela 7. Estrutura Fatorial da Escala Triangular do Amor.


Itens Conteúdo dos itens I II III

05 Espero amar ____ por toda minha vida. 0,81 0,09 0,29
Eu vejo meu relacionamento com ____ como permanente
10
(duradouro). 0,75 0,21 0,31

13 Não imagino terminar o relacionamento com ____. 0,74 0,29 0,18

18 Estou seguro(a) do meu amor por ____. 0,72 0,36 0,20


Eu não poderia deixar que nada interferisse de algum modo meu
23
compromisso com ____. 0,69 0,38 0,22

12 Só em olhar para ____ é excitante. 0,19 0,79 0,15

24 Acho ____ muito atraente. 0,14 0,77 0,30

36 Eu particularmente gosto do contato físico com ____. 0,25 0,71 0,19

29 Sonho de olhos abertos com ____. 0,39 0,70 0,17

40 Meu relacionamento com ____ é apaixonante. 0,46 0,66 0,34

07 Posso contar com ____ na hora que eu necessitar. 0,20 0,09 0,81

04 Eu recebo considerável suporte emocional de ____. 0,21 0,13 0,80

43 Sinto que ____ realmente me compreende. 0,30 0,33 0,72

35 Me comunico bem com ____. 0,21 0,31 0,69

45 Sinto que realmente posso confiar em ____. 0,25 0,35 0,57


Número de Itens 5 5 5
Valor Próprio 3,54 3,40 3,21
% Variância 23,6 22,7 21,4
Alfa de Cronbach 0,88 0,87 0,86
Notas. Itens em negrito foram considerados para a interpretação do componente.

O conjunto dos três componentes explicou 67,7% da variância total. Tomando-se

em conta saturações iguais ou superiores a 0,50 para que o item fosse considerado como

pertencente ao componente, encontrou-se a seguinte configuração:

Componente I. Este primeiro componente apresentou valor próprio (eigenvalue) de 3,54,

sendo responsável pela explicação de 23,6% da variância total. Compôs-se de cinco itens,
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com saturações variando de 0,69 (Eu não poderia deixar que nada interferisse de algum

modo meu compromisso com ____.) a 0,81 (Espero amar ____ por toda minha vida.),

parecendo clara sua interpretação: diz respeito ao componente compromisso do amor. Sua

consistência interna (Alfa de Cronbach) se situou em 0,88.

Componente II. Este componente apresentou valor próprio de 3,40, explicando 22,7% da

variância total. Cinco itens o representaram, com saturações variando de 0,66 (Meu

relacionamento com ____ é apaixonante.) a 0,79 (Meu relacionamento com ____ é

apaixonante.). Pode-se interpretá-lo como o componente paixão do amor, que apresentou

consistência interna (Alfa de Cronbach) de 0,87.

Componente III. Este último componente apresentou valor próprio de 3,21,

correspondendo à explicação de 21,4% da variância total. Compôs-se de cinco itens, com

saturações variando de 0,57 (Sinto que realmente posso confiar em ____.) a 0,81 (Posso

contar com ____ na hora que eu necessitar.). De acordo com a semântica destes itens,

pode-se nomeá-lo como intimidade. Seu Alfa de Cronbach se situou em 0,86.

Em resumo, parece haver suficiente evidência de validade fatorial e consistência

interna da Escala Triangular do Amor. Avaliando a possibilidade de um fator geral de

amor, realizou-se uma nova análise de Componentes Principais, agora fixando a extração

de um único componente. Este apresentou valor próprio de 7,61, explicando 50,7% da

variância total, com saturações acima de 0,60 e Alfa de Cronbach de 0,93. Portanto, pode-

se também ter em conta esta pontuação total.

 Escala de Ciúme Romântico

Comprovou-se inicialmente a adequabilidade dos dados à realização da análise

fatorial o que se corroborou: KMO = 0,89 e Teste de Esfericidade de Bartlett, χ2 (279) =

2237, 769, p < 0,001. Nesse sentido, realizou-se uma análise de Componentes Principais

(PC), utilizando rotação Oblimin, tal como indicado nos estudos de Ramos, Yazawa e
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Salazar (1994), e fixando a extração de dois componentes, coerente com o que compõe

Belo (2001). Os resultados desta análise figuram na Tabela 8.


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Tabela 8. Estrutura Fatorial da Escala de Ciúme Romântico.

Itens Conteúdo dos itens I II


É perfeitamente normal ela(ele) conversar longamente com um(a)
10 0,70 0,39
amigo(a).
02 Não tem nada de mal ela(ele) ir à festa sozinha(o). 0,70 0,29
É aceitável ela(ele) fazer elogios a outro(a) homem(mulher) na sua
14 0,69 0,25
frente.
09 Pouco importa, ela(ele) receber presentes de um(a) amigo(a). 0,68 0,32
Não tem nada demais seus(suas) amigos(amigas) freqüentarem a
15 0,66 0,23
casa dela (dele).
É natural ela(ele) passar algumas horas ouvindo músicas na casa de
21 0,65 0,33
um(a) amigo(a).
03 É perfeitamente normal ela(ele) elogiar um(a) amigo(a) seu (sua). 0,63 0,22
23 É tolerável ela(ele) ficar de papo com alguém. 0,61 0,01
06 É natural ela(ele) ter muitos(as) amigos(as). 0,60 0,17
Não há nada de errado preferir fazer um passeio com os(as)
11 0,59 0,17
amigos(as) a ficar com você.
Não há problema algum em encontrar uma foto de outro(a)
01 0,58 0,29
homem(mulher) na carteira dela(dele).
Não tem nada de mal ela(ele) freqüentar a casa de um(a) antigo(a)
08 0,55 0,30
namorado(a).
20 É aceitável ela(ele) sonhar com outro(a). 0,46 0,20
07 É aceitável ela(ele) aparecer com um perfume estranho na blusa. 0,43 0,10
É muito chato encontrar um grande número de telefones de
17 -0,42 0,71
homens(mulheres) na agenda dela (dele).
Você ligar para ela(ele) e uma voz masculina(feminina) não-familiar
05 -0,22 0,66
atender, causa-lhe raiva.
13 Provoca irritação amigos(as) falarem dela(dele) com entusiasmo. -0,37 0,66
Ela(ele) ficar trancada(o) no quarto com um(uma) amigo(a) lhe
12 -0,43 0,65
causa desconfiança.
Ela(ele) trabalhar num ambiente onde há predominância de
24 -0,30 0,62
homens(mulheres) lhe incomoda.
Você fica furioso(a) se ela(ele) começa a dançar com um(a)
16 -0,42 0,62
amigo(a) seu(sua) numa festa.
É indecente ela(ele) dar olhadas para outros(as) homens(mulheres)
22 -0,02 0,58
em uma festa.
Encontrar um isqueiro no bolso dela(dele), sabendo que ela(ele) não
19 -0,22 0,55
fuma, o(a) deixa indignado(a).
18 Causa-lhe incômodo ela(ele) se arrumar demais para sair sem você. -0,32 0,54
Fico furioso(a) quando ela(ele) conversa com um(a) amigo(a) que
04 -0,33 0,40
acha bonito(a).
Número de Itens 14 10
Valor Próprio 5,47 3,87
% Variância 22,8 16,1
Alfa de Cronbach 0,87 0,86
Notas. Itens em negrito foram considerados para a interpretação do componente.
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Os dois componentes solicitados explicaram conjuntamente 38,9% da variância

total. De acordo com a solução obtida, tais componentes podem ser definidos como segue:

Componente I. Este pode ser denominado de não-ameaça, tendo apresentado valor próprio

(eigenvalue) de 5,47, responsável pela explicação de 22,8% da variância total. Reuniu

catorze itens, com saturações variando de 0,43 (É aceitável ela / ele aparecer com um

perfume estranho na blusa) a 0,70 (É perfeitamente normal ela / ele conversar longamente

com um / a amigo / a). Sua consistência interna (Alfa de Cronbach) foi 0,87.

Componente II. Segundo se observa com a leitura dos itens com maiores saturações, este

componente pode ser denominado de exclusão. Apresentou valor próprio de 3,87,

explicando 16,1% da variância total. As saturações dos seus itens variaram de 0,40 (Fico

furioso / a quando ela / ele conversa com um / a amigo / a que acha bonito / a) a 0,71

(Você ligar para ela / ele e uma voz masculina / feminina não-familiar atender, causa-lhe

raiva). Este fator apresentou índice de consistência interna (Alfa de Cronbach) de 0,80.

A comprovação de correlação entre estes dois fatores (r = -0,47, p < 0,001) sugeriu

chegar se poderia ser considerada também uma estrutura unidimensional. Neste sentido,

fez-se uma nova análise de Componentes Principais, fixando a extração deu um único

componente. Este explicou 28,7% da variância total (valor próprio de 6,90), com cargas

variando de -0,26 (coeficiente estatisticamente diferente de zero, t = 4,70, p < 0,001; É

indecente ela / ele dar olhadas para outros / as homens / mulheres em uma festa) a 0,71 (É

perfeitamente normal ela / ele conversar longamente com um / a amigo / a). Invertendo-se

os itens com saturações negativas, comprovou-se que sua consistência interna foi 0,88.

Portanto, além dos fatores específicos, pode-se igualmente considerar esta pontuação total.

Em resumo, parecem as evidências de validade fatorial e consistência interna da

Escala de Ciúme Romântico. Em análises subseqüentes, poder-se-á considerar tanto sua


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pontuação total, correspondendo à soma de todos os seus itens, como aqueles dos seus

fatores específicos, nomeadamente, não-ameaça e exclusão.

4.2.2.2 – Testando hipóteses

Neste tópico, com objetivo de averiguar se existem diferenças nas percepções

acerca das reações dos atores a cenários de infidelidade em função de características sócio-

demográficas (sexo e idade) e dos fatores manipulados nas histórias (sexo do ator-traidor,

condição sócio-econômica do casal e razão para infidelidade), foram realizadas análises de

comparações de médias, especificamente Análises Multivariada de Variância (MANOVA).

Os resultados são descritos a seguir, considerando cada conjunto específico de variáveis

antecedentes previamente listados.

 Reações a Cenários de Infidelidade e Características Sócio-demográficas

Inicialmente, foram formuladas duas hipóteses quanto ao efeito principal das

variáveis sexo e idade dos participantes em relação à avaliação que estes faziam das

reações dos atores diante dos cenários de infidelidade. A primeira hipótese (Hipótese 1)

previa uma diferença no julgamento do tipo de reação do ator ao cenário de infidelidade

em razão do sexo do participante, não tendo sido corroborada, Lambda de Wilks = 0,97, F

(6, 272) = 0,48, p = 0,82.

No caso da variável idade, como foi obtida como contínua, decidiu-se categoriza-la.

No caso, foram elaboradas três categorias principais: participantes com até 19 anos,

aqueles entre 20 e 29 anos e os que tinham 30 anos ou mais. Tomou-se como referência a

classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2005), em que a segunda

faixa corresponde àquela em que as pessoas costumam casar-se, e a última a que elas
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passam comumente a se separarem. No caso, formulou-se a Hipótese 2, que previa um

efeito da idade dos participantes em relação ao seu julgamento quanto às reações dos atores

das histórias. Esta foi corroborada, Lambda de Wilks = 0,91, F (12, 544) = 2,10, p = 0,01.

Testes univariados indicaram que as diferenças foram observadas em relação a duas

reações: indiferença [F (2, 242) = 6,97, p = 0,001] e sofrimento [F (2, 242) = 7,39, p =

0,001]. No caso da indiferença, o teste post hoc de Bonferroni indicou que os participantes

de 20 a 29 anos apresentaram média superior (M = 4,3) a daqueles de 30 anos ou mais (M

= 2,5); a média dos participantes com até 19 anos (M = 3,7) não diferiu da destes dois

grupos. Por outro lado, em relação à reação de sofrimento, a média dos que tinham até 19

anos (M = 4,6) foi superior a daqueles com 30 anos ou mais (M = 2,7); esta última foi

ainda inferior a dos participantes do grupo dos que tinham entre 20 e 29 anos (M = 4,3).

Esta média não diferiu dos com até 19 anos.

Apesar de não ter sido formulada qualquer hipótese acerca do estado civil e da

religião dos participantes, decidiu-se realizar uma MANOVA para conhecer seus efeitos.

Previamente, devido à escassez de participantes por condição de estado civil, decidiu-se

agrupar os três separados / divorciados com os 80 casados, considerando esta categoria

como “já casados”; os demais (solteiros) ficaram como “nunca casados”. Razão similar fez

com que se categorizasse a religião, ficando formada por católicos, sem religião (e deístas),

espíritas e evangélicos (adventista, mórmon, testemunha de Jeová). Os resultados não

suportaram o efeito do estado civil [Lambda de Wilks = 0,97, F (6, 266) = 1,48, p = 0,18]

ou da religião [Lambda de Wilks = 0,92, F (18, 753) = 1,23, p = 0,23] dos participantes.

Portanto, estas variáveis não têm efeito principal quanto ao julgamento dos participantes

acerca da probabilidade com que os atores adotariam cada uma das reações frente a

cenários de infidelidade.
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Em resumo, das características demográficas dos participantes que foram

consideradas, unicamente sua idade se mostrou relevante para explicar suas respostas

quanto à probabilidade de dois tipos de reações por parte dos atores: indiferença e

sofrimento. Portanto, demanda-se controlar o seu efeito na análise subseqüente, quando se

avaliam se fatores manipulados nas histórias podem influenciar o julgamento da

probabilidade com que os atores reajam de uma ou outra forma.

 Reações a Cenários de Infidelidade e Fatores Manipulados.

Foram formuladas três hipóteses, correspondendo aos fatores manipulados nos

cenários de infidelidade, isto é, sexo do ator-traidor, condição sócio-econômica do casal e

razão para infidelidade. No caso, procedeu-se a uma análise multivariada da variância

(MANOVA), considerando estas variáveis como antecedentes e as seis reações da pessoa

traída (julgadas pelo participante em termos de sua probabilidade de ocorrência) como

variáveis critérios. É importante assinalar que a idade do participante entrou como

covariante, uma vez que se mostrou preponderante neste contexto, conforme a análise

previamente realizada.

A Hipótese 3 previa que a probabilidade julgada das reações do ator traído variaria

segundo o sexo do ator-traidor. Esta foi corroborada [Lambda de Wilks = 0,73, F (6,269) =

15,88, p = 0,000]. Os testes univariados revelaram que apenas em relação à reação de

indiferença não houve diferença significativa [F (1, 274) = 0,53, p = 0,47]; os resultados

para as demais reações foram como segue: perdão [F (1, 274) = 21,67, p = 0,000],

vingança [F (1, 274) = 39,59, p = 0,000], agressão [F (1, 274) = 6,02, p = 0,01],

sofrimento [F (1, 274) = 4,40, p = 0,04] e separação [F (1, 274) = 8,44, p = 0,004].

Especificamente, o perdão, a agressão e o sofrimento são mais prováveis quando o traidor


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é do sexo masculino (M = 3,9, 5,0 e 4,9, respectivamente) do que quando é feminino (M =

3,2, 4,5 e 4,2, respectivamente). Por outro lado, a vingança e a separação são mais

prováveis quando o traidor é do sexo feminino (M = 4,3 e 5,4, respectivamente) do que

quando é masculino (M = 3,3 e 4,9, respectivamente).

Antevia-se que a razão para infidelidade, se sexual ou afetiva, influenciava o

julgamento dos participantes quanto às reações do ator traído (Hipóteses 4). Não foi

possível corroborar esta hipótese [Lambda de Wilks = 0,96, F (6,269) = 2,03, p = 0,06].

Apesar desta evidência, considerando que o nível de significância foi próximo do critério

de corte (p = 0,05), decidiu-se observar os resultados dos testes univariados; neles se

comprovou que separação foi a única razão que diferenciou em função da razão [F (1,

274) = 4,28, p = 0,04]. Especificamente, a separação foi considerada mais provável quando

a razão para a traição foi afetiva (M = 5,3) do que quando foi sexual (M = 5,0).

A última hipótese deste conjunto de variáveis (Hipótese 5) previa que a condição

sócio-econômica do casal (atores fictícios) influenciaria o julgamento dos participantes

acerca das reações aos cenários de infidelidade. Esta hipótese não foi corroborada [Lambda

de Wilks = 0,98, F (6,269) = 0,97, p = 0,45].

Em resumo, parece evidente que o sexo do traidor é a variável preponderante para

explicar o julgamento que os participantes fazem acerca da probabilidade de como reagirá

a pessoa (o ator) traída. A razão para a infidelidade é apenas relevante no caso de explicar

a probabilidade julgada com que a pessoa traída deveria buscar a separação como forma de

enfrentar a traição.
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4.2.2.3 – Reações a Cenários de Infidelidade, Amor e Ciúme

Apesar da presente dissertação se configurar primeiramente uma pesquisa quase-

experimental com delineamento fatorial, fez-se necessário um tratamento correlacional

uma vez que analisa a relação entre as reações a cenários de infidelidade, tratadas como

variáveis critérios, e o amor e o ciúme, por sua vez, tratadas como variáveis antecedentes.

Neste momento, importa testar as sete últimas hipóteses desta dissertação. A matriz de

correlação das reações a cenários de infidelidade com os tipos de amor e ciúme são

apresentadas na Tabela 9.
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TABELA 9
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A Hipótese 6 previa que as pessoas com pontuações altas na dimensão

compromisso, da medida de amor, pontuariam alto também na probabilidade com que

indicam o perdão como reação aos cenários de infidelidade (correlação positiva). Embora

a direção tenha sido esta, o coeficiente não foi significativo (r = 0,02, p > 0,05). Portanto,

não é possível corroborar esta hipótese.

Elaborou-se a Hipótese 7, que indicava que a pontuação no componente paixão, da

teoria triangular do amor, estaria diretamente correlacionada com a probabilidade com que

a vingança era considerada uma reação aos cenários de infidelidade. Esta hipótese também

não pôde ser corroborada. O coeficiente de correlação observado é positivo, mas muito

baixo (r = 0,03, p > 0,05). Por outro lado, a hipótese seguinte (Hipótese 8) previu uma

correlação direta entre o componente intimidade, do amor, com a probabilidade de

separação como reação aos cenários de infidelidade. Esta foi plenamente corroborada: r =

0,12, p < 0,05.

Conforme previsto na Hipótese 9, reagir com agressão se correlacionou

positivamente com o componente exclusão do ciúme (r = 0,26, p < 0,001), confirmando-se

esta hipótese. Além disso, este componente do ciúme também se correlacionou com a

probabilidade com que se sugere reagir com sofrimento psicológico frente a cenários de

infidelidade (r = 0,13, p < 0,05), corroborando, por sua vez, a Hipótese 10.

Finalmente, duas hipóteses foram elaboradas acerca do componente não-ameaça do

ciúme e a probabilidade de reagir com agressão física e/ou verbal (Hipótese 11) e

sofrimento psicológico (Hipótese 12). Corroborando estas hipóteses, as pontuações em

não-ameaça de correlacionaram negativamente com estes dois tipos de reação (r = -0,19, p

< 0,001 para ambos).

Embora não tenha sido elaborada nenhuma hipótese acerca das pontuações totais de

amor e ciúme com o julgamento da probabilidade apresentar cada um dos tipos de reações
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aos cenários de infidelidade, decidiu-se explorar o que acontece. No caso, a pontuação total

do amor se correlacionou diretamente com o julgamento da probabilidade de reagir com a

separação aos cenários de infidelidade (r = 0,16, p < 0,01). Por outro lado, em se tratando

do ciúme, a pontuação dos participantes se correlacionou com o julgamento de que faziam

de que a pessoa (o ator) traída deveria reagir com agressão física e/ou verbal (r = 0,26, p <

0,001) e sofrimento psicológico (r = 0,19, p < 0,01).

4.2.3 – Discussão

O presente estudo procurou conhecer como o julgamento de reações a cenários de

infidelidade conjugal pode ser influenciado por fatores manipulados de tais cenários e

atributos do amor e ciúme romântico apresentados pelos participantes. Espera-se que estes

objetivos tenham sido alcançados. Não obstante, não se descartam potenciais limitações, a

exemplo da amostra considerada. Esta não foi aleatória, mas sim de conveniência, tendo

participado aquelas pessoas que, contatadas, decidiram colaborar voluntariamente.

Portanto, não representa a população brasileira, nem mesmo a pessoense. Fruto deste

aspecto, percebeu-se que predominaram participantes do sexo feminino e universitários,

não reproduzindo a distribuição da população geral (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, 2003).

O fato de a amostra ter sido composta em sua maioria por indivíduos solteiros e que

estavam apenas namorando, configura-se outra limitação potencial deste estudo. As

pesquisas abordadas no referencial teórico sobre infidelidade têm considerado pessoas com

relacionamento estável (namoro, noivado ou casamento), evidenciando que a traição é o

principal motivo da dissolução, sobretudo, do casamento (Afifi & cols., 2001; Buss, 2002;

Buss & Shackelford, 1997; Chang, 1999; Graaf & Kalmijn, 2006; Previti & Amato, 2004;

Shackelford, Buss & Bennett, 2002). Entretanto, os participantes casados ou conviventes


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compreenderam o segundo maior contingente neste estudo. Acrescenta-se, finalmente, que

a amostra final (N = 307) foi obtida a partir de uma amostra maior, composta por 610

participantes. Porém, mantiveram-se as características demográficas principais desta

amostra.

Apesar do que antes foi comentado, confia-se que estas limitações potenciais não

configurem restrições à presente dissertação. Podem simplesmente indicar que os

resultados não podem ser generalizados indiscriminadamente, configurando-se em baixa

validade externa. Entretanto, não se pretendeu realizar generalizações, mas testar hipóteses

acerca da influência de fatores ou variáveis antecedentes quanto ao julgamento da

probabilidade de reações a cenários de infidelidade, e de sua relação com dois outros

construtos: amor e ciúme romântico. Neste sentido, discutem-se a seguir os achados,

tratando inicialmente dos instrumentos que foram analisados; posteriormente são

abordados os principais resultados, momento em que são tratadas as hipóteses do presente

estudo.

4.2.3.1 – Parâmetros Psicométricos

A fim de verificar a relação dos construtos amor e ciúme romântico com o

julgamento da probabilidade de reações a cenários de infidelidade conjugal, duas medidas

forma consideradas: (1) Escala Triangular do Amor (Sternberg, 1997) e (2) Escala de

Ciúme Romântico (Ramos, Yazawa & Salazar, 1994). Coerente com a literatura,

encontraram-se evidências de sua validade fatorial e consistência interna, como a seguir

discutido.

 Escala Triangular do Amor


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Esta escala foi originalmente composta por 45 itens distribuídos igualmente em três

fatores: compromisso, paixão e intimidade. Em razão do estudo realizado por Hernandez

(1999), quando da adaptação desta medida ao contexto brasileiro, decidiu-se conhecer a

possibilidade de contar com uma versão abreviada desta. Como critérios para selecionar os

itens, consideraram-se os seguintes: (1) o item deveria ter saturação mínima de |0,60| em

um único componente, e (2) pertencer ao componente ao qual teoricamente representaria.

Segundo Hair e cols (2005), cargas acima de 0,50 são consideradas com nível de

significância prática, sendo, portanto, substancial o bastante para garantir uma ação, além

de assegurar consistência teórica. Neste sentido, selecionaram-se 15 itens, distribuídos

eqüitativamente entre os três componentes deste instrumento.

A estrutura fatorial desta escala foi claramente identificada, de acordo com a teoria

(Sternberg, 1997), com resultados inclusive mais nítidos do que os observados por

Hernandez (1999). A consistência interna de cada um dos três componentes ficou acima de

0,80, mais promissor que o 0,70 que se espera para assegurar este parâmetro psicométrico

(Nunnally, 1991), coerente também com os estudos de Stenberg (1997) e Hernandez

(1999). Neste sentido, pareceu justificável o uso desta versão, sugerindo seu emprego em

estudos futuros; seu formato abreviado é sem dúvida um atrativo, principalmente quando

considerado no contexto de pesquisas trans-culturais ou quando se demande incluir vários

instrumentos.

 Escala de Ciúme Romântico

Esta foi originalmente desenvolvida para o contexto brasileiro por Ramos, Yazawa

e Salazar (1994), contando com 59 itens. Na presente pesquisa teve-se em conta sua versão

reduzida, composta por 24 itens, selecionados segundo o critério de saturação igual ou

superior a |0,30|, segundo Belo (2003). Esta autora propôs dois fatores para esta versão
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abreviada, nomeados como não-ameaça e exclusão, os quais foram corroborados na

presente dissertação. Seus índices de consistência interna estiveram acima de 0,80,

superiores inclusive aos encontrados por Belo (2003). Além disso, todos os itens

apresentaram saturações acima de 0,40, consideradas como importantes para se interpretar

a matriz fatorial (Hair & cols, 2005). Portanto, corroboram-se as evidências de validade

fatorial e consistência interna desta medida, bem como sua adequação, empregada no

presente estudo e recomendada para analisar o ciúme e seus correlatos.

4.2.3.2 – Principais Resultados

Com o propósito de organizar a discussão deste estudo, decidiu-se estruturá-la de

acordo com os principais resultados. Portanto, inicialmente serão tratadas as experiências

diretas e indiretas de infidelidade dos participantes, e seqüencialmente as possíveis

influências para as reações a cenários de infidelidade conjugal exercidas pelas

características demográficas dos respondentes (sexo, idade, estado civil e religião) e os

fatores manipulados nas histórias (sexo dos atores, condição sócio-econômica do casal e

razão para infidelidade). Finalmente, são discutidas as relações entre o amor, o ciúme e o

julgamento da probabilidade das reações a estes cenários.

 Experiências diretas e indiretas de infidelidade

De acordo com os resultados previamente descritos, é mister destacar que mais da

metade da amostra afirmou conhecer pessoas (amigos e/ou familiares) que estão

vivenciando uma situação de infidelidade, seja como traidores ou traídos. Isto demonstra

que mesmo não se aludindo diretamente às suas experiências, as pessoas estão inteiradas

com as questões que envolvem um caso extraconjugal por conviverem indiretamente com

as experiências de infidelidade dos familiares e amigos. Neste sentido, para Blow e


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Hartnett (2005) a disponibilidade para um ato de infidelidade pode também depender do

conhecimento prévio, ou seja, se realmente o indivíduo foi infiel ou se foi “vítima” da

traição do parceiro, bem como das experiências intermediadas de pessoas próximas, a

exemplo dos parentes e do grupo de amigos.

Pensar que poderiam vir a trair seu parceiro é um outro ponto interessante, uma

vez que pode ser condizente com o grau de satisfação nos relacionamentos “oficiais”

(Abdo, 2004). O descontentamento com a relação ou com o casamento é para Buss e

Shackelford (1997) um dos mais evidentes motivos para se cometer um ato de infidelidade.

Nesta questão, a maioria dos respondentes afirmou não pensar que poderia vir a trair seu

parceiro. Entretanto, cabe lembrar que ao comprovar a influência do sexo dos

participantes, constatou-se que os homens, mais que as mulheres, pensam que poderiam vir

a trair sua parceira. Estariam os homens, então, mais insatisfeitos com os seus

relacionamentos oficiais? Esta certamente se configura uma variável de estudo a ser

analisada em pesquisas futuras. Entretanto, culturalmente, os homens parecem mais

implicados em atos de traição ou infidelidade conjugal, o que fica evidente no estudo de

Abdo (2004). Suas respostas podem perfeitamente ser uma tomada de consciência da

possibilidade da infidelidade por parte dos homens.

Procurou-se ainda conhecer se os participantes já traíram e se estavam traindo o

seu parceiro. No caso, averiguou-se que o sexo dos participantes influenciou suas

respostas; a que pese que a maioria afirmou não ter traído o parceiro no passado, os

homens foram mais propensos a indicar ter traído, o que pode simplesmente reforçar o

achado anterior. Contudo, cabe descartar que, talvez por uma questão de desejabilidade

social, medo de reprovação ou obediência às normas convencionais, as mulheres podem

ser mais tendentes a omitir atos de traição, aspecto que pode ser visto como mais “natural”

no caso dos homens em uma cultura tradicional como a paraibana. Este aspecto
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seguramente demandará novos estudos, e poderá arrojar luz ao fato de que em uma

sociedade mais “liberal”, como o Rio de Janeiro, as mulheres admitem em maior medida

terem traído (Abdo, 2004).

A propósito de índices de traição, o estudo mais conhecido a que se teve acesso no

contexto brasileiro foi o realizado por Abdo (2004). Esta autora considerou participantes

de 13 estados, não sendo incluída a Paraíba; porém, participaram dois estados vizinhos,

que apresentaram os seguintes quantitativos de pessoas que indicaram que já traíram ao

menos uma vez seu parceiro: Pernambuco (49,2% dos homens; 26,5% das mulheres) e Rio

Grande do Norte (51,8% dos homens; 30,2% das mulheres). Na presente pesquisa,

constatou-se que 47,3% dos homens e 28,9% das mulheres da amostra admitiram já terem

traído. Estes números parecem bastante consistentes, embora na pesquisa de Abdo (2004)

não se fez qualquer restrição sobre orientação sexual ou tipo de relacionamento entre as

pessoas. Apesar de não ter objetivado tais comparações, estas mostraram-se relevantes

tendo em vista que os estados nordestinos aqui destacados possuem características

demográficas e culturais semelhantes entre si, porém distintas das peculiaridades de outras

regiões do país, o que pode influenciar diretamente no modo de pensar e agir dos

indivíduos no tocante à infidelidade.

Finalmente, a maioria afirmou que não achar que esteja sendo traído. No entanto,

deve-se ter em conta que aqui também se verificou a influência do sexo dos participantes.

Mais mulheres admitiram que poderiam estar sendo traídas, e este pode ser um dado

preocupante. Embora possa ser coerente com a idéia e os dados de que os homens admitem

trair mais, pode indicar uma suscetibilidade da mulher ao sentimento de estarem sendo

traídas mesmo que não seja o caso. Acreditar que estar sendo traído pode ser concebida

como uma idéia de ameaça, real ou imaginária, a estabilidade do relacionamento romântico

e, portanto, de ciúme (Buunk, 1997; Ramos, Yazawa & Salazar, 1994). Ainda que os casos
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de infidelidade sejam geralmente dissimulados (Buss & Shackelford, 1997), os mínimos

indícios de uma possível traição despertam sentimentos de insegurança, mesmo que as

evidências mostrem que tal idéia seja na verdade imaginária, o que pode comprometer o

relacionamento, em razão de cobranças e pressões indevidas. Conseqüentemente,

demanda-se em pesquisas futuras conhecer a relação entre achar que está sendo traído e os

anseios provocados pelo ciúme, avaliando inclusive sua implicação na satisfação conjugal

e no bem-estar da mulher.

 Características demográficas e reações a cenários de infidelidade.

Neste tópico averiguaram-se as possíveis diferenças no julgamento da

probabilidade das seis reações a cenários de infidelidade (perdão, vingança, indiferença,

agressão verbal e/ou física, sofrimento psicológico e busca da separação) em função das

características demográficas dos participantes (gênero, idade, estado civil e religião). Cabe

lembrar que neste estudo não são consideradas quais as possíveis reações à infidelidade

que os participantes da amostra teriam; é analisada somente a percepção que estes possuem

acerca das prováveis reações que os personagens fictícios apresentados nos cenários,

“Paulo” e “Nívea”, teriam ao descobrirem que estavam sendo traídos. Formularam-se duas

hipóteses sobre a influência das variáveis demográficas.

Embora a variável sexo possa ser decisiva para explicar comportamentos e atitudes

das pessoas quanto à infidelidade (Blow & Hartnett, 2005), no presente estudo esta não

influenciou as respostas dos participantes (Hipótese 1). Cabe, entretanto, ponderar que as

respostas não foram de tipo concordo-discordo, expressando sua atitude pessoal.

Consideraram-se cenários, histórias fictícias de infidelidade, a partir da qual deveriam

expressar o quanto seria provável por parte da pessoa traída (fictícia, ator) cada uma das

reações listadas.
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Quanto à idade dos participantes (Hipótese 2), sim esta variável foi preponderante

para explicar o seu julgamento acerca da probabilidade de que a pessoa (personagem

fictício) adotasse dois tipos de reações: indiferença e sofrimento psicológico. Os

participantes que se situam na fase dos 20 a 29 anos, quando comumente tem lugar o

casamento, são mais convencidos de que a estratégia a ser adotada em situação de

infidelidade seria a indiferença, contrastando com aqueles que têm 30 anos ou mais,

período em que são mais comuns as separações (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, 2005). Quanto à reação de sofrimento psicológico, os mais jovens, com até 19

anos, em fase de namoro e encantamento, são mais tipicamente inclinados a indicar a

julgar esta reação como provável no contexto de infidelidade; esta postura é mais nítida do

que ocorre com os outros dois grupos, sendo que o mais velho é o que indica ser esta a

reação menos provável. Talvez fruto de sua experiência, a superação e o enfrentamento de

conflitos conjugais, as pessoas de 30 anos ou mais pensam ser o sofrimento psicológico

ineficaz para resolver o dilema moral da infidelidade. Contudo, esta é uma conjetura que

demandará novos estudos.

Em síntese, ao menos no que se refere ao julgamento que se faz acerca da

probabilidade de adotar diferentes reações a cenários de infidelidade, as características

demográficas dos respondentes não compreendem fator de impacto substancial; ao menos

nem todas. Apenas a idade dos respondentes teve influência sobre suas respostas, mas

inclusive neste caso, apenas em relação a duas reações específicas.

 Contextos e as reações a cenários de infidelidade

Foram verificadas as possíveis diferenças nas médias da probabilidade julgada das

reações a cenários de infidelidade (perdão, vingança, indiferença, agressão verbal e/ou

física, sofrimento psicológico e busca da separação) em função dos fatores manipulados


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nas histórias (sexo dos atores, condição sócio-econômica do casal e a razão para

infidelidade). Discutem-se a seguir as hipóteses testadas.

Hipótese 3. Previa-se que o julgamento acerca das reações a cenários de

infidelidade conjugal difeririam em relação ao sexo dos atores (feminino ou masculino),

tendo sido corroborada esta hipótese. Constatou-se que quando o sexo do ator é masculino,

ou seja, quando é “Paulo” que trai, os participantes do estudo atribuem a “Nívea” uma

maior probabilidade de que venha a perdoá-lo, a agredi-lo física e/ou verbalmente ou

mesmo a reagir com sofrimento psicológico (tristeza, choro, depressão). Ao contrário,

quando o sexo do traidor é feminino, ou seja, quando é “Nívea” quem trai, julga-se haver

uma maior possibilidade de que “Paulo” reaja com vingança, procurando, desta forma,

trair também ou que simplesmente procure a separação como resposta à infidelidade

desvelada. Isso seria esperado, haja vista que, culturalmente, a infidelidade tem sido tratada

de forma diferente quando o seu perpetrador é homem ou mulher (Shackelford, Buss &

Bennett, 2002). Consideram-se a seguir as reações principais em que as pessoas de um e

outro sexo diferiram:

 Perdão. Segundo Shackelford, Buss e Bennett (2002), as mulheres são mais

propensas a perdoar um caso extraconjugal do que homens, contudo o ato de desculpar a

infidelidade do companheiro ocorre principalmente quando esta é de cunho sexual, por não

acarretar compromissos emocionais e por ser geralmente esporádica (Mairal, 2004).

Inversamente, os homens, mais do que as mulheres, encontram maior dificuldade em

perdoar quando a companheira comete um ato de infidelidade sexual, que lhes causa maior

insegurança e sofrimento. Os resultados do presente estudo revelam que, independente da

razão para se trair, estima-se que quando é a mulher (Nívea) a pessoa traída, o perdão ao

parceiro infiel (Paulo) é mais provável. Contudo, é possível que este contexto esteja

mudando; Bozon (2003), em seu estudo sobre as relações de gênero na França


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contemporânea, ressalta que as mulheres na década de 1970 declaravam que a infidelidade

de um homem casado era algo perdoável. Já a partir da década de 1990 a tolerância

tradicional já se fazia desgastar, e a maioria das mulheres passou a não achar mais tão

aceitáveis as aventuras extraconjugais dos companheiros.

 Agressão física e/ou verbal. Díaz-Loving (2004), em estudo com uma amostra

mexicana, aponta as dimensões de hostilidade e afeição com resultado das diferenças entre

os sexos. Sugere que, diferente das mulheres que concebem estas dimensões como opostas,

os homens as percebem como análogas. Esta percepção, segundo sugere, poderia ser um

precursor da violência doméstica, já que o homem teria que ser “afetivo” o suficiente para

cuidar da família, mas ao mesmo tempo “forte” para protegê-los. Do mesmo modo, Buss e

Shackelford (1997) afirmam que o ciúme e a possessão que acompanham a desconfiança

de estar sendo traído levam alguns homens a cometerem atos de violência chegando

inclusive a uma ação homicida.

Mesmo estas pesquisas sugerindo que os homens são mais prováveis em agredir a

companheira infiel, os resultados do presente estudo evidenciaram que a agressão física

e/ou verbal enquanto reação à traição é considerada mais provável entre as mulheres. Isto

pode ser justificável considerando que quando uma pessoa descobre a traição de seu

companheiro uma série de sensações desagradáveis é experimentada, incluindo, por

exemplo, a raiva e o ciúme (Egan & Angus, 2004). As mulheres, em termos das emoções,

parecem mais contagiadas do que os homens (Gouveia, Singelis, Guerra, Rivera &

Vasconcelos, 2006) e também têm maior facilidade para expressar suas emoções (Baron-

Cohen, 2004), o que pode resultar no julgamento de que são mais prováveis reagir com

agressão, expressando sua raiva. Porém, cabe ainda uma explicação alternativa; a agressão

foi apresentada como física e verbal, sendo este último tipo uma forma mais comum de

resolver conflitos por mulheres (Archer, 2004), o que pode ter inclinado a avaliação dos
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participantes deste estudo. Entretanto, apenas estudos futuros ajudarão a dirimir dúvidas

acerca desta temática.

 Sofrimento psicológico. Pode-se dizer que, tanto para os homens como para as

mulheres, o ato da infidelidade, em geral, é tratado como momento de absoluto transtorno

e com extremo sofrimento (Mairal, 2004; Shackelford, Buss & Bennett, 2002). Segundo

Buss e Shackelford (1997), o sofrimento das mulheres não é maior que o sofrimento dos

homens. Embora se tenha pautado o presente estudo nestas considerações teóricas,

verificou-se o sofrimento psicológico em si não é uma variável freqüentemente estudada

como um tipo de reação à infidelidade. Esta foi incluída por ter aparecido no Estudo 1,

tendo se relevado preponderante para compreender as diferenças entre os participantes,

tendo sido a segunda mais citada.

No presente estudo – e coerente com os papéis sociais e modos de enfrentamento

comumente atribuídos a homens e mulheres (Bozon, 2003; Goldenberg & cols., 2003) –, o

sofrimento psicológico apresentou-se como uma provável reação feminina à traição do

parceiro. Claramente, as mulheres, quando comparadas com os homens, são menos

sistemáticas e mais empatizadoras, dando mais importância à comunicação, ao afeto,

dedicando atenção e carinho aos relacionamentos íntimos (Baron-Cohen, 2004).

Entretanto, nesta oportunidade cabe um questionamento: Qual a relação entre o sofrimento

psicológico e a agressão (física e/ou verbal) como possíveis reações femininas à

infidelidade? É possível que haja alguma, ainda que seja inversa. Compreendem dois

modos algo antagônicos de resolver o problema, sendo um introspectivo e passivo

(sofrimento psicológico) e outro ativo e dirigido a um alvo externo (agressão).

Possivelmente também valeria a pena indagar em que bases de personalidade as duas

reações se sustentam, e mesmo se não estariam pautadas por prioridades valorativas das

pessoas.
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 Vingança. De acordo com Mairal (2004), algumas pessoas ao descobrirem um

caso extraconjugal do parceiro(a) reagem também com traição, ou seja, com vingança a

fim de compensar a solidão, reparar a ofensa, ferir e humilhar o outro – pagar na mesma

moeda –. Caso a pessoa não busque de fato envolver-se com outra pessoa como forma de

vingança, ao menos estará mais vulnerável quando a ocasião ocorrer. A propósito, ressalta

este autor, tal tipo de resposta incide principalmente como reação à infidelidade sexual,

independente do sexo da pessoa traída. Faz necessário enfatizar que, segundo Schützwohl

(2004), a infidelidade sexual acarreta conseqüências negativas e substanciais mais para a

auto-estima masculina do que feminina. A vingança pode surgir então por parte do homem

como forma de equilibrar os conflitos subjetivos causados pela traição da companheira.

Neste sentido, é coerente que a reação vingança seja considerada como mais provável

como uma resposta do homem à infidelidade.

 Separação. A infidelidade é unanimemente considerada como o maior

determinante da dissolução de um relacionamento amoroso (Afifi & cols., 2001; Buss,

2002; Chang, 1999; Buss & Shackelford, 1997; Graaf & Kalmijn, 2006; Previti & Amato,

2004; Shackelford, Buss & Bennett, 2002). Embora considerado um fenômeno universal

na espécie humana, sua prática é raramente aceita socialmente. Quando uma pessoa

descobre a traição de seu companheiro uma das decisões tomadas é justamente a de

terminar a relação (Egan & Angus, 2004). De acordo com Shackelford, Buss e Bennett

(2002), os homens tendem a separar-se quando a infidelidade é de caráter sexual, já as

mulheres tendem a terminar a relação quando a infidelidade ocorre com caráter afetivo.

Entretanto, no presente estudo julgou-se que o homem (Paulo) seria mais provável reagir

pedindo a separação ao ato de infidelidade da companheira (Nívea) do que esta o faria.

Este resultado é consistente com o que descrevem Buss e Shackelford (1997), que afirmam
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ser a infidelidade feminina mais provável em conduzir ao divórcio do que a infidelidade

dos homens.

Como adverte Schützwohl (2004), a mulher é comumente preocupada com os

filhos, a segurança da família já constituída e a estabilidade do seu relacionamento. A

decisão da mulher em terminar com o casamento após descobrir que foi traída possibilita a

perda ou pelo menos a diminuição dos recursos materiais, financeiros e afetivos, por

conseguinte, ameaça à segurança familiar (Grice & Seely, 2000). Assim, os custos sociais

acarretados pela separação são muito mais intensos para a mulher do que para o homem.

Afinal, a decisão por manter ou deixar a relação envolve questões que atingem diretamente

os benefícios que a relação oferece, como os investimentos de tempo e dinheiro, assim

como todo o esforço afetivo destinado à família e manutenção desta relação.

Hipótese 4. Esta hipótese presumia que o julgamento das reações a cenários de

infidelidade conjugal difeririam em relação às razões para infidelidade (sexual ou afetiva).

Contudo, não foi possível corroborá-la, o que se constitui em algo aparentemente

inesperado, de acordo com as evidências reunidas na literatura (Afifi & cols., 2001; Becker

& cols., 2004; Harris, 2003; Olson & cols., 2002; Shackelford, Buss & Bennett, 2002;

Schützwohl, 2004). Contudo, não há que se perder de vista que não foram avaliadas as

reações à infidelidade de pessoas traídas; o presente estudo considerou o julgamento que as

pessoas faziam de cenários de infidelidade, tendo sido manipuladas as razões desta. Este

parece um aspecto relevante e que não desestima a pertinência de se considerarem as

razões afetiva e sexual como geradoras de diferentes reações à infidelidade.

Neste contexto, parece pertinente a sugestão de Berman e Frazier (2005). Estas

autoras propõem que se considere uma amostra composta por pessoas que foram vítimas

reais da traição. Observam que os homens que foram vítimas de infidelidade podem sentir

aflição ao se depararem com a infidelidade afetiva da companheira, mais do que os homens


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que não passaram por tal situação. Da mesma forma, as mulheres podem sentir-se

angustiadas com a infidelidade sexual do parceiro, mais do que as mulheres que não foram

vítimas de infidelidade no passado. Nesta concepção, são os traços de personalidade e as

experiências próprias dos indivíduos que distinguem qual o tipo de infidelidade que mais

os aflige.

Hipótese 5. Previa-se que o julgamento acerca das reações a cenários de

infidelidade conjugal diferiria em relação à situação sócio-econômica do casal (igualdade

ou desigualdade).

Nos resultados encontrados entre as reações a cenários e os fatores manipulados,

foi possível verificar, que a condição sócio-econômica do casal não interfere no tipo de

reação a infidelidade. Apesar das estáticas sociais e econômicas (DIEESE, 2003)

indicarem que no contexto nordestino os homens são em sua maioria os chefes de família,

comprovou-se, ao menos aqui, que esta variável não se figura essencial ao desvelar da

traição. Entretanto, por serem estes detentores da manutenção familiar, condição que

culturalmente os predispõem à traição e, por outro lado, lhes permitem cotidianamente o

controle de seus dependentes (Blow & Hartnett, 2005), faz-se necessário uma reavaliação

das questões sócio-econômicas como determinantes para as reações ao desvelar da

infidelidade, não apenas na região Nordeste, mas comparativamente em outras regiões do

Brasil.

 Reações a cenários de infidelidade conjugal, amor e ciúme

Falar de infidelidade conjugal remete, necessariamente, ao amor e ao ciúme como

partes integrantes deste comportamento, considerado como o principal fator de

“transgressão” e “violação” à exclusividade conjugal (Afifi & cols., 2001; Previti &

Amato, 2004; Shackelford, Buss & Bennett, 2002). De acordo com Mairal (2004), a
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infidelidade é fruto do desamor e retrata as possíveis falhas na intimidade (como a mentira

e os segredos) compartilhada pelo casal. A traição é considerada, portanto, um

“ocultamento”, porém grave, que supõe sempre uma dura prova para a estabilidade

matrimonial. Além disso, segundo Buss e Shackelford (1997), mesmo que ocorram

similaridades entre os sexos no que se refere à insatisfação da união devido, por exemplo, à

falta de amor, tal descontentamento é mais enfatizado nas mulheres, tornando-as ao mesmo

tempo suscetíveis à traição. Contudo, para os homens a probabilidade para tornarem-se

infiéis está relacionada igualmente com a qualidade do sexo no casamento. O ciúme entra

neste contexto como um sinal de ameaça à relação, pois o parceiro pode estar

“paquerando” com outras pessoas, afirmam os autores.

Para Becker e cols. (2004) é o ciúme à infidelidade afetiva que melhor discrimina

mulheres de homens. Além disso, as mulheres relatam suas reações emocionais mais

intensamente em comparação aos homens. Do mesmo modo, Schützwohl (2004) aponta

que os episódios de ciúme masculinos são mais comuns quando a infidelidade feminina é

do tipo sexual. Prontamente o desenvolvimento do ciúme feminino ocorre como forma de

manutenção do relacionamento e, conseqüentemente, da segurança familiar (Grice &

Seely, 2000).

A fim de avaliar se os tipos de amor e ciúme romântico são de fato correlatos do

julgamento das reações a cenários de infidelidade, procurou-se correlacionar estas

variáveis. Esta análise se pautou no marco teórico da Teoria Triangular do Amor

(Sternberg, 1997), na qual se postulam alguns componentes essenciais ao fenômeno do

amor: intimidade, paixão e compromisso, e do modelo de Ciúme Romântico (Ramos,

Yazawa & Salazar, 1994), que aponta os elementos não-ameaça e exclusão como

estruturando o ciúme. Nesta ocasião foram testadas as cinco últimas hipóteses deste estudo,

como discutidas a seguir.


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A Hipótese 6 presumia que a percepção de reagir perdoando a cenários de

infidelidade se correlacionaria positivamente com o componente de amor compromisso.

Embora o compromisso seja comumente avaliado como um preditor do perdão, Thompson

e cols. (2005) salientam que o desenvolvimento de sentimentos positivos, como o amor,

não necessariamente implica no perdão. De acordo com Goetz e Buss (2005), muitos

casais utilizam diversas formas de manutenção do relacionamento quando descobrem um

ato de infidelidade. Portanto, desculpar a infidelidade do parceiro seria muito mais uma

forma de conservar a estabilidade conjugal do que propriamente ser tolerante com a

traição. Conjetura-se que o perdão pode existir também como conseqüência de um pacto

conjugal, não exatamente do amor ou de um dos seus componentes que unem os parceiros.

Seja como for, não se pode esquecer que no presente estudo não se considerou a resposta

de pessoas traídas, mas de leitura de cenários fictícios, aos quais deveriam indicar a

probabilidade de diversos tipos de reações.

Estimou-se uma correlação positiva entre o julgamento da probabilidade de reagir

com vingança a cenários de infidelidade e o componente de amor paixão (Hipótese 7).

Esta também não foi corroborada. Revendo esta hipótese e tendo em conta a literatura,

pode-se encontrar uma possível explicação. Segundo Mairal (2004), pessoas mais

impulsivas e com baixa tolerância a frustrações são as mais propensas à vingança. Deste

modo, poder-se-ia conjeturar que este tipo de reação seria mais esperado em razão de

algum traço de personalidade, não sendo inferido ou atribuído pelo participante em razão

do tipo de amor que o caracteriza, no caso, a paixão.

Conforme antevia a Hipótese 8, houve uma correlação direta entre o julgamento da

probabilidade de reagir com separação a cenários de infidelidade e o componente de amor

denominado de intimidade. Este componente se refere àqueles sentimentos que promovem

proximidade, vínculo e conexão nos relacionamentos amorosos (Gao, 2001; Hernandez,


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1999; Stenberg, 1997). Portanto, estão presentes, por exemplo, o desejo de promover o

bem-estar de outra pessoa, compartilhar experiências de vida e bens materiais, respeito

mútuo, compreensão e estar presente nos momentos difíceis da vida. Para Mairal (2004)

um dos elementos nucleares da concepção do amor é justamente a intimidade

compartilhada, porém adverte que quase nenhum casal participa absolutamente toda sua

intimidade. Lembrando que a infidelidade é considerada como a principal razão para se

terminar uma relação, buscar a separação ao descobrir a traição do parceiro, pode ser deste

modo resultado do rompimento da dinâmica que rege a intimidade.

No que diz respeito à Hipótese 9, previa-se que o julgamento da probabilidade de

reagir com agressão a cenários de infidelidade se correlacionaria positivamente com o

ciúme exclusão, o que se confirmou. A exclusão é concernente com o enfraquecimento no

vínculo que une o casal, como se o outro fosse se tornando distante, frio, provavelmente

devido à diminuição do amor (Ramos, Yazawa & Salazar, 1994). Segundo Alferes (2002),

o ciúme surge como uma das condições antecedentes para determinados conflitos nas

relações íntimas. Neste sentido, justifica-se a afirmação de Buss e Shackelford (1997) ao

ressaltarem que o ciúme e a possessão que acompanham a desconfiança de estar sendo

traído levam, principalmente, os homens a cometerem atos de violência. Do mesmo modo,

Buunk (1997) considera que no ciúme preventivo (ver o Capítulo III), quando há indícios

ou sinais do interesse do parceiro em uma terceira pessoa, surgem os esforços para impedir

o contato íntimo entre eles, e é neste contexto que muitos homens e também mulheres

podem recorrer à agressão como forma de limitar a autonomia do(a) parceiro(a). Neste

contexto, cabe lembrar que a influência do sexo do ator-traidor (fator manipulado nos

cenários) para as reações à infidelidade revelou que as mulheres são as mais prováveis a

reagir com agressão. Enfim, quando uma ameaça à estabilidade do casamento é percebida,
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reagir com agressão física e/ou verbal pode ser explicado enquanto desígnio de eliminar os

riscos da perda do amor.

Com relação à Hipótese 10, esta também foi corroborada. Presumia-se que reagir

com sofrimento a cenários de infidelidade conjugal se correlacionaria positivamente com o

componente exclusão do ciúme romântico. Igual ao anteriormente discutido, a exclusão diz

respeito ao abrandamento do vínculo que une o casal. Como a infidelidade, em geral, é

tratada como momento de absoluto transtorno e com extremo sofrimento para os casais

(Mairal, 2004; Shackelford, Buss & Bennett, 2002), reagir com sofrimento psicológico

(tristeza, angústia, mágoa, ansiedade) ao desvelar de uma traição seria semelhante ao que

Buunk (1997) chamou de ciúme ansioso (ver o Capítulo III), onde o possível envolvimento

sexual e/ou emocional do(a) companheiro(a) com alguma outra pessoa implica na

imaginação de cenas (fantasiar um encontro, por exemplo) do(a) parceiro(a) junto com o(a)

suposto(a) amante e isto conduz à ansiedade, à angústia e à obsessão.

A Hipótese 11 foi corroborada, indicando que o componente não-ameaça do ciúme

se correlacionou inversamente com o julgamento da probabilidade de reagir com agressão

física e/ou verbal. Como a não-ameaça significa a ausência de preocupação da presença de

uma terceira pessoa na relação do casal, considerando isso como natural e aceitável

(Ramos, Yazawa & Salazar, 1994), é plenamente explicável a relação inversa entre uma

postura de isenção ou indiferença (não sentir ciúme) e o julgamento de reagir à infidelidade

de forma agressiva.

A última hipótese testada foi confirmada (Hipótese 12). Isso indica que as

pontuações dos participantes no componente não-ameaça do ciúme se correlacionaram

inversamente com o julgamento que estes fazem acerca de reagir com sofrimento

psicológico a cenários de infidelidade. A explicação parece evidente, em linha com o

comentado quanto à hipótese anterior; a pessoa que pontua alto em não-ameaça parece não
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experimentar o ciúme ou experimentá-lo em nível muito baixo, como se fosse alheio ao

outro, sem se importar com o seu envolvimento com uma terceira pessoa (Ramos, Yazawa

& Salazar, 1994). Daí, o sofrimento psicológico não ser encarado como uma reação

provável a um cenário de infidelidade.

Faz-se necessário destacar que além dos resultados inicialmente antevistos pelas

hipóteses, foram igualmente verificadas correlações significativas entre variáveis para as

quais não se havia formulado suposições. Análogo à correlação positiva observada do

componente intimidade (amor) com a separação (reação a cenários de infidelidade), esta

também se correlacionou positivamente com os demais componentes do amor: paixão e

compromisso. Portanto, parece plausível considerar que o julgamento da probabilidade de

separação como reação a cenários de infidelidade é respaldado pelo construto amor em sua

totalidade. Além disso, o julgamento das reações agressão física e/ou verbal e sofrimento

psicológico a cenários de infidelidade correlacionaram-se positivamente com o tipo de

amor paixão, possivelmente por este componente ser baseado em necessidades de absoluta

satisfação, especialmente a sexual, e em dominância e submissão. Por ser a paixão uma

sensação física (Sternberg, 1997), ao ser revelada uma traição, reações que atuam em nível

comportamental (agressão) ou subjetivo e afetivo (sofrimento) são plenamente

justificáveis.

Finalmente, observou-se correlação negativa e significativa entre o julgamento da

probabilidade de reagir com separação diante de cenários de infidelidade e o ciúme não-

ameaça, podendo ser justificada, mais uma vez, pela contradição entre a impassibilidade

de não sentir ciúme (Ramos, Yazawa & Salazar, 1994) e uma reação comportamental à

presença de uma terceira pessoa na relação do casal.


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Em resumo, o julgamento acerca das reações prováveis a cenários de infidelidade

compreende um construto complexo, explicado em razão de características demográficas

daqueles que fazem tal julgamento, mas também de atributos ou fatores específicos dos

cenários. Finalmente, o embasam construtos de natureza mais pessoal, como são o amor e

o ciúme que caracterizam estas pessoas. No capítulo a continuação faz-se uma discussão

geral dos resultados dos dois estudos aqui apresentados, sugerindo direções para pesquisas

futuras.
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CAPÍTULO V – DISCUSSÃO GERAL


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5 – DISCUSSÃO GERAL

A presente dissertação objetivou, primordialmente, abordar o fenômeno da

infidelidade conjugal, considerando de cenários de traição. Procurou faze-lo a partir de

características demográficas daqueles que julgaram as reações apresentadas, bem como de

suas pontuações nas medidas de amor e ciúme, mas também em razão da manipulação dos

próprios cenários. Por ser a infidelidade um elemento presente na sociedade deste os

tempos mais remotos e, portanto, confundir-se como à própria existência humana, verifica-

se o interesse de diversos pesquisadores contemporâneos acerca deste tema, especialmente

em outros países (Becker & cols., 2004; Buunk & Dijkistra, 2004; Chang, 1999; Egan &

Angus, 2004; Goldenberg & cols., 2003; Mileham, 2007; Previti & Amato, 2004;

Schützwohl, 2004; Shackelford, Goetz & Buss, 2005; Whitty, 2003). No Brasil ainda são

escassos os empreendimentos nesta área, limitando-se geralmente a uma mera descrição

sobre porcentagem de pessoas que traem mais em razão do estado ou sexo (Abdo, 2004).

Este aspecto, seguramente, justifica e dá sentido a esta dissertação, que não tem o poder de

encerrar ou dar a palavra final sobre a infidelidade, mas sim instigar estudos futuros que

visem conhecer como esta se apresenta neste país e o que poderia explicá-la.

É importante ter em mente que o estudo do julgamento da probabilidade das

reações à infidelidade conjugal – ou esta em si – apresenta algumas dificuldades. Destaca-

se, principalmente, sua natureza multi-determinada, demandando ter em conta fatores

culturais, sociais, econômicos, históricos, psicológicos e biológicos. Portanto, é insólito

esperar oferecer qualquer resposta definitiva à questão; mas isso não deve ser motivo de

desânimo para os pesquisadores. Todo o contrário. Apenas pesquisando a respeito,

formulando novas hipóteses e testando-as, em contextos e populações diversas, conseguir-

se-á se acerca a uma melhor compreensão da infidelidade, oferecendo explicações e, quem


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sabe, modos de intervenção que visem minimizar o impacto que esta tem na vida dos

casais.

De acordo com as mudanças sociais e comportamentais ocorridas nas últimas

décadas, manter um relacionamento romântico torna-se cada vez mais difícil. Como

mencionado no decorrer dos estudos apresentados, a infidelidade é sem dúvida, se não o

principal, um dos fatores mais importantes para a dissolução de uma união conjugal,

representando uma violação às normas que orientam um relacionamento estável (Barta &

Kiene, 2005). Objeto de numerosas matérias, reportagens e programas de entretenimento

(novelas, minisséries e mais recentemente os reality shows), compreende também tema

social relevante, que deve ocupar os psicólogos sociais, e que há muito ocupa espaço de

destaque na clínica psicológica.

Nesta linha, Olson e cols. (2002), ao descreverem sobre os processos emocionais

após a revelação de um caso extraconjugal, ressaltam igualmente que, apesar da abundante

literatura psicológica clínica, dirigida à terapia dos relacionamentos que envolvem a

infidelidade, os estudos empíricos acerca das reações à traição conjugal não são

comumente evidenciados. Na verdade, ao divulgarem suas avaliações os autores afirmam

que naquela ocasião – há cinco anos aproximadamente –, nenhuma pesquisa foi encontrada

que tratasse dos fenômenos específicos, observados depois que uma traição é desvelada.

Embora já tenham sido apresentadas as limitações potenciais dos dois estudos

previamente descritos, bem como suscitadas indicações para estudos posteriores, demanda-

se retomá-los genericamente a fim de alçar novas hipóteses que poderão merecer a atenção

dos pesquisadores interessados em replicar este estudo ou conduzir um novo. A

aplicabilidade e as direções futuras concluirão esta dissertação.


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5.1 – Quanto às Limitações das Pesquisas

Ainda na introdução desta dissertação, destacou-se que o conjunto temático acerca

da infidelidade conjugal envolve questões individuais e emocionais extremamente intensas,

que por sua vez exigem do pesquisador toda uma atenção dos fatos, além de todo o

cuidado metodológico. Mesmo assim, é improvável que uma pesquisa empírica não figure

eventuais limitações, visto que algumas variáveis de estudo não são contempladas, as

medidas utilizadas nem sempre são as melhores, dificilmente é possível manipular

livremente variáveis de interesse e que, geralmente, são encontrados vieses amostrais.

Deste modo, torna-se sensato aqui discutir ser mais enfático em algumas limitações

anteriormente apresentadas; destacam-se dois aspectos principais:

 Amostra. Em ambos estudos as amostras não foram numericamente

representativas do contexto brasileiro, e escassamente poderiam ser do paraibano.

Seguramente ter-se-ia que relaxar o erro amostral admitido e diminuir a amplitude de

alcance, isto é, os sigmas ou a área sob a curva normal. Além disso, consideraram-se

amostras de conveniência, não probabilísticas, o que não permite assegurar a

representatividade em termos das características da população meta. Talvez, fruto deste

aspecto, compuseram a amostra mais mulheres, e isso pode gerar vieses em razão de dois

aspectos: (1) não são as mulheres as que traem mais, mas sim os homens, possivelmente

devido a não atribuir, necessariamente, o afeto à relação extraconjugal (Buss &

Shackelford, 1997). Neste sentido, seria possível que estes dois grupos devessem ser

analisados separadamente, e não como o que ocorreu aqui, que foram tratados

indistintamente; e (2) possivelmente o predomínio das mulheres repercutiu na maior

freqüência das razões afetivas para a traição, como manifestas no Estudo 1. Como

asseveram Becker e cols. (2004), as razões afetivas para traição são mais enfatizadas pelas

mulheres. Entretanto, no geral, os resultados informados neste estudo estão em bastante


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concordância com os descritos na literatura, o que pode fazer menos contundente este

problema da amostra.

 Instrumentos. Este aspecto refere-se ao Estudo 2. As duas medidas utilizadas

foram de tipo auto-relato. Embora reunindo parâmetros psicométricos que apontam

evidências favoráveis de sua validade fatorial e consistência interna, ambas podem conter

um elemento de desejabilidade social. Enquanto se apresentar como alguém que ama pode

ser desejável, revelar o ciúme pode não ser tão apreciável, sobretudo aquele do

componente de exclusão. Neste sentido, talvez fosse recomendável ter em conta este

aspecto, incluindo uma medida de desejabilidade social, que precisaria entrar como uma

covariante quando fosse avaliar o efeito do amor e ciúme em relação à infidelidade ou ao

julgamento das reações mais prováveis a cenários desta natureza. Neste contexto, aponta-

se igualmente a necessidade de repensar a medida apresentada por Sternberg (1997); talvez

fosse mais adequado definir o componente paixão como dois sub-componentes, tratados

como paixão romântica e paixão erótica, como recentemente propõe Yela (2006).

Provavelmente estes componentes, embora enfocando uma mesma dimensão subjacente,

regem-se por princípios diferentes, algo como a divisão entre “amor” (o sentido sublime da

expressão, sendo duradouro, que pode existir inclusive sem o outro) e “sexo” (algo mais

pragmático, carnal, temporário).

5.2 – Quanto aos Principais Resultados

 Razões e Reações para a Infidelidade Conjugal

Apesar de a infidelidade não ser um fenômeno a-histórico e a-cultural, é possível

chegar a um consenso em alguns aspectos. Por exemplo, como ressaltado no Estudo 1, as

razões principais esta conduta de traição são a afetiva e a sexual, que têm norteado,

seguramente, a humanidade, e são contempladas em outros países, com características


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culturais e sociais distintas da brasileira (Becker & cols., 2004; Buss, 2002; Goldenberg &

cols., 2003; Schützwohl, 2004; Shackelford, 2001; Shackelford, Goetz & Buss, 2005). De

modo similar, identificaram-se reações à infidelidade conjugal (por exemplo, vingança,

agressão verbal e/ou física e busca pela separação) já presentes na literatura sobre o tema

(Afifi, Falato & Weiner, 2001; Becker & cols., 2004; Harris, 2003; Schützwohl, 2004;

Shackelford, Buss & Bennett, 2002). Porém, cabe destacar a aparição das reações de

indiferença e sofrimento psicológico, frutos dos resultados empíricos deste estudo. Seriam

estas típicas de culturas como a brasileira, mais conservadora, coletivista e conformista do

que a estadunidense, por exemplo? Não é possível oferecer uma resposta a esta pergunta,

ao menos de momento. Novos estudos devem ser realizados para dirimir dúvidas sobre este

aspecto. Finalmente, a reação perdão, apesar de não ter sido mencionada, foi incluída

como variável de estudo por ser usualmente pesquisada e admitida em outras culturas

(Shackelford, Buss & Bennett, 2002), e pareceu sim ser adequada no contexto brasileiro.

 Reações a cenários de infidelidade e as características demográficas

Não é possível descartar que as características demográficas tenham a ver com as

reações frente à infidelidade. Por exemplo, o sexo de traído e traidor pode jogar um papel

importante no tipo de reação e mesmo no mote do envolvimento extraconjugal (Blow &

Hartnett, 2005; Buss & Shackelford, 1997; Shackelford, Buss & Bennett, 2002). Contudo,

estas parecem ser menos preponderantes quando se trata do julgamento que se faz acerca

de qual a probabilidade de adotar cada uma das seis reações listadas no Estudo 2. Neste

caso, unicamente a idade do respondente se mostrou significativa, possivelmente refletindo

vivências que pessoas de diferentes faixas etárias tem em suas relações com os (as)

respectivos (as) parceiros (as).

Talvez fosse mesmo pertinente fazer o que propõem Berman e Frazier (2005), que

consideram a necessidade de estudos com situações hipotéticas de infidelidade cuja


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amostra fosse composta unicamente por pessoas que vivenciaram alguma situação de

traição. Isto poderia aumentar o realismo das respostas e, conseqüentemente, a consistência

dos resultados. A presente dissertação embora tenha observado dados referentes as

experiências reais de infidelidade dos participantes, não teve o propósito de tratá-las;

porém, reconhece-se a pertinência de se considerar tais informações futuramente.

 Reações a cenários de infidelidade e os fatores manipulados

Dos fatores manipulados nos cenários de infidelidade, unicamente confirmou-se a

influência do sexo do ator-traidor (personagens fictícios “Paulo” e “Nívea”) para o

julgamento da probabilidade de ter algumas reações listadas aos cenários de infidelidade.

As reações de homens e mulheres, como esperadas, vão dentro do que se concebe como os

papéis assumidos por cada um (Baron-Cohen, 2004; Bozon, 2003; Goldenberg & cols.,

2003), isto é, as mulheres mais passivas, perdoando e sofrendo, enquanto os homens mais

assertivos, procurando vingar-se ou buscando a separação. Uma exceção deveu-se à reação

de agressão física e/ou verbal [realce para indicar, como discutido previamente, que esta

dimensão pode ter se imposta], explicando-se em termos de ser mais comum entre as

mulheres (Archer, 2004). Estes resultados também são consistentes com as respostas à

traição, geralmente declaradas no processo terapêutico, daqueles que foram traídos: raiva,

perda da confiança pessoal e sexual, baixa auto-estima e medo do abandono; as

implicações sociais depois que a traição é revelada costumam ser dificuldade em manter

um bom relacionamento com os filhos, pais e amigos, conseqüências judiciais (divórcio,

pensão alimentícia), problemas financeiros e em alguns casos a perda do emprego (ver

Blow & Hartnett, 2005).

Apesar da condição sócio-econômica do casal não interferir no tipo de reação à

infidelidade, como se constatou nos resultados, faz-se necessário uma reavaliação das

questões sócio-econômicas relacionadas com as reações ao desvelar da traição. Segundo


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Blow e Hartnett (2005), os níveis de rendimento anual, o emprego e a infidelidade parecem

ter uma relação positiva. Por exemplo, a traição é mais provável quando um dos cônjuges

está trabalhando do que quando ambos estão desempregados. O ambiente de trabalho

também facilita envolvimentos extraconjugais; neste espaço os potenciais “amantes”

encontram-se freqüentemente e dedicam um tempo considerável às relações

“organizacionais”. Portanto, o fato de não ter sido corroborada a hipótese correspondente

não significa que careça de sentido, merecendo atenção especial em estudos futuros,

inclusive contemplando a possibilidade de tratar com cenários mais reais em lugar de

fictícios.

As razões para traição também não apresentam influência no julgamento da

probabilidade das reações a cenários de infidelidade. Todavia, observou-se que nas últimas

décadas os motivos que levam uma pessoa a trair foram sucessivamente estudados,

especialmente por aqueles embasados pela perspectiva psicológica evolucionária (Afifi,

Falato & Weiner, 2001; Becker & cols., 2004; Harris, 2003; Olson & cols., 2002;

Schützwohl, 2004; Shackelford, Buss & Bennett, 2002). Deste modo, é imprescindível

recuperar em novas pesquisas as razões para infidelidade conjugal, por serem estas

fundamentais para compreensão dos constituintes do fenômeno traição.

 Reações a cenários de infidelidade, amor e ciúme

O amor, importante preditor para felicidade, satisfação e emoções positivas (Kim &

Hatfield, 2004), e o ciúme, resposta negativa à participação emocional ou sexual, prevista

ou não, do parceiro com alguma outra pessoa (Buunk, 1997), são igualmente fenômenos

inerentes ao ato da infidelidade em si (Mairal, 2004; Schützwohl, 2004). Nesta dissertação,

não obstante, estes construtos foram considerados como circunstâncias relacionadas ao

desvelar da infidelidade.
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Apesar da infidelidade ser tema constante (se não diário) na mídia em geral e nos

processos terapêuticos na clínica psicológica, os estudos científicos da traição e, mais

especificamente, aqueles sobre as reações que esta provoca, são ainda pouco comuns

principalmente no que corresponde ao campo da Psicologia Social. Atualmente, os estudos

sobre traição, principalmente aqueles sobre as razões para se cometer um ato de

infidelidade, são em sua maioria pesquisados sob a ótica da análise psicológica

evolucionária, o que torna emergente a necessidade por buscar em outros contextos, teorias

diferentes das que se destacam ultimamente, por exemplo, uma conjetura através da

Psicologia Social acerca da infidelidade conjugal.

No Estudo 2 não apenas foi verificada a pertinência de incluir as reações de perdão,

vingança, agressão física e/ou verbal, indiferença, sofrimento psicológico e separação,

algumas delas freqüentemente mencionadas no marco teórico, como os resultados

confirmaram a maioria das relações hipotetizadas com os construtos amor e ciúme

romântico.

Primeiramente, no que se refere ao amor, foi possível averiguar que buscar a

separação após a revelação de uma traição está relacionada com o amor em sua totalidade,

experimentado e direcionado ao parceiro, ou seja, a intimidade compartilhada pelo casal,

prevista antecipadamente, a paixão como contentamento sexual mútuo e o compromisso

enquanto empenho por manter este amor são, conjuntamente, componentes fundamentais

para explicar a procura pelo rompimento da união diante de um caso extraconjugal.

Provavelmente, uma falha, problema ou dificuldade em um dos elementos que compõe o

amor, pode ser razão primordial para se cometer um ato de infidelidade (considerando-os

do mesmo modo, parte das razões sexuais e afetivas), bem como a causa para uma possível

reação ao desvelar desta traição.


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Quanto ao ciúme, enquanto empenho por afastar a ameaça provocada pela presença

de uma terceira pessoa na relação, pôde-se igualmente verificar a relação entre a agressão

como reação de caráter comportamental. Por outro lado, e de modo mais subjetivo,

também foi possível constatar a relação entre o ciúme e o sofrimento psicológico, derivado

da tristeza e ansiedade muitas vezes vivenciada pelo casal ao descobrirem a traição do

outro. Além disso, a ausência de ciúme remete necessariamente à indiferença ou frieza

diante de uma situação que, em geral, promove fortes emoções e conseqüentemente induz

a uma reação à infidelidade. Portanto, e semelhante ao construto amor, foi plausível

verificar que sentir ou não ciúme diante de uma situação de traição, também pode elucidar

algumas reações por parte da pessoa traída.

Neste sentido, é admissível responder ao questionamento inicial correspondente ao

título da presente dissertação: São o amor e o ciúme explicações? De fato, como foi

conferido no transcorrer deste discurso dissertativo, o amor e o ciúme não apenas

relacionam-se com a infidelidade conjugal como são, igualmente, prováveis explicações

para agir ou reagir deste ou daquele modo. Isso sugere que estas são variáveis importantes

a ser levadas em conta em estudos futuros.

5.3 – Aplicabilidade e Direções Futuras

Embora esta dissertação não tenha como propósito último a aplicabilidade dos

resultados, não se poderia deixar de fazer um ensaio a respeito. Como previamente

indicado, a infidelidade conjugal é certamente um dos principais temas abordados nos

processos terapêuticos, tanto nas abordagens individuais como familiares. A explicação da

influência exercida pela pelo amor e ciúme para as reações à traição conjugal – mesmo que

considerando contextos fictícios - e também a importância do sexo do traidor contribuem

para uma adequada compreensão das sensações, percepções e decisões enfrentadas após o
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desvelar da infidelidade. Além do contexto clínico, conhecer um pouco mais sobre a

conjuntura que envolve os casos extraconjugais, colabora com a formulação e inclusão de

concepções acerca da traição na área da Psicologia Jurídica, especialmente no que

concernem as varas da família, onde psicólogos jurídicos lidam constantemente com casais

em processo de separação. Neste sentido, esta dissertação configura-se como um

considerável apanhado teórico e empírico às demandas práticas que porventura possam

surgir.

Na eventualidade de pesquisadores interessados na temática das razões e reações à

infidelidade conjugal (ou cenários desta) considerarem esta dissertação como provedora de

novas hipóteses e questionamentos, decidiu-se empreender um esforço no sentido de

oferecer algumas recomendações, como se especificam a seguir:

 Infidelidade On-line. Segundo Mileham (2007), as salas de bate-papo na Internet

introduziram uma nova dinâmica aos relacionamentos conjugais: nunca foi tão fácil em

toda a história apreciar ao mesmo tempo a estabilidade da união e as emoções derivadas

dos encontros on-line. A literatura atual apresenta um número considerável de estudos

sobre as atitudes frente à infidelidade on-line. A propósito, em pesquisas realizadas por

Whitty (2003; 2005), esta nova modalidade de traição está pautada na alteração do

comportamento afetivo e/ou sexual de homens e mulheres que possuem relacionamento

fixo e que, através da Internet (trocas de e-mail, salas de bate-papo, Messenger, Orkut etc.)

envolvem-se virtualmente com pessoas desconhecidas, podendo começar com simples

mensagens, evoluindo para confidências, fantasias sexuais e, em alguns casos, a

concretização do envolvimento.

Em um mundo onde as interações on-line são cada vez mais freqüentes, tornou-se

imprescindível para os psicólogos a compreensão da natureza destas interações, bem como

das repercussões destas. Whitty (2003; 2005) descreve estudos que sugerem que a
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“exclusividade mental” é tão importante quanto a “exclusividade sexual”, ou seja, a

fantasia sexual é avaliada como a maior ameaça ao relacionamento atual. De acordo com

esta autora, homens e mulheres entram em um relacionamento virtual por diferentes

razões; as mulheres, geralmente, buscam novas amizades e relacionamentos afetivos,

enquanto os homens tendem ao interesse por relacionamentos sexuais. Segundo Egan e

Angus (2004), as fantasias sexuais são mais focalizadas pelos homens do que as mulheres,

e aqueles são mais prováveis em idealizar tal atividade com pessoas desconhecidas; já as

fantasias sexuais das mulheres são mais prováveis de serem imaginadas com pessoas

conhecidas.

Todavia, é importante diferenciar a infidelidade on-line da utilização dos materiais

ou o acesso aos sites pornográficos na Internet. A traição virtual está vinculada a um

relacionamento romântico (infidelidade afetiva) e/ou sexual (infidelidade sexual), o que

proporciona uma modificação na vida dos envolvidos; no caso da segunda, não causa

necessariamente alteração ou problemas no comportamento e na vida dos cônjuges ou

companheiros. Em seus resultados, Whitty (2003; 2005) sugere que as pessoas percebem o

envolvimento infiel on-line tão legítimo e real quanto o envolvimento infiel off-line.

Certamente, não há nos relacionamentos on-line nenhum contato físico, entretanto, isto não

significa que estes sejam “irreais”. Não obstante, estes estudos indicam que em muitos

casos a infidelidade virtual termina em envolvimento sexual real, e ainda que as reações

tipicamente direcionadas à traição off-line são igualmente verificadas na traição on-line,

como angústia, raiva, vingança e falta de confiança. Contudo, demandam-se pesquisas

futuras sobre este tema, ainda escassamente considerado no Brasil.

 Infidelidade entre Homossexuais. Sagarin e cols. (2003), ao estudarem as

respostas à infidelidade, porém em relações homossexuais, verificaram que algumas

reações podem desaparecer por não fornecerem riscos à continuidade das gerações ou
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paternidade (temor peculiar das relações heterossexuais) considerando que a reprodução

humana natural é, em princípio, impossível. Do mesmo modo, os relacionamentos entre

pessoas do mesmo sexo não prejudicam a segurança e os recursos financeiros da família,

provavelmente desviados para manutenção de um (a) amante e aos filhos que desta relação

surgirem nas relações com o sexo oposto. Desta forma, nas relações homossexuais os

gêneros são iguais e suas respostas de ciúme à traição podem ser similares, variando em

termos de intensidade em comparação com a infidelidade com amantes do sexo oposto.

Porém, muito há ainda por conhecer acerca desta temática.

 Táticas de manutenção do relacionamento conjugal. Segundo Shackelford,

Goetz e Buss (2005), muitos casais utilizam formas de manutenção do relacionamento com

o fim de evitar, por exemplo, a competição entre eles, e impedir, além de uma possível

separação, prováveis envolvimentos extraconjugais do parceiro. Este posicionamento de

“conservação” da relação amorosa exerce táticas comportamentais que funcionam como

sustentação da vida conjugal, além da garantia de “exclusividade” na relação. Com

embasamento na teoria psicológica evolucionista, os homens são mais prováveis que as

mulheres em usarem táticas referentes, por exemplo, à não exposição da sua companheira a

outros homens; já as mulheres mais do que os homens utilizam como tática a valorização

de sua aparência física e o ciúme.

Desta forma, os homens tendem a buscar com mais intensidade a manutenção da

relação, quando sua companheira apresenta maior capacidade reprodutiva, juventude e

atrativos físicos; ao contrário, as mulheres buscam nos homens e reforçam a manutenção

quando estes possuem recursos financeiros mais elevados e, conseqüentemente, com maior

status social (Shackelford, 2001). Shackelford, Goetz e Buss (2005) ressaltam para a

ocorrência de atitudes violentas dos homens contra as mulheres como fonte de manutenção

da relação. Apesar disso, uma pessoa pode executar táticas de manutenção


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inconscientemente, além de, indiretamente, causar sensação de culpa no (a) parceiro (a)

pelo simples fato deste (a) falar com outra pessoa. Estas diversas táticas precisam ser

melhor conhecidas, sobretudo em culturas coletivistas, como a brasileira, haja vista que a

maioria das evidências é encontrada em países individualistas, a exemplo dos Estados

Unidos. É possível que táticas mais grupais, como confiar a esposa ou esposo a amigos,

surja como forma de assegurar o não envolvimento extraconjugal do (a) outro (a).

 Infidelidade e Neuropsicologia. Alguns estudos na área da neuropsicologia têm

enfatizado as razões para infidelidade. A propósito, Takahashi e cols. (2006) averiguaram

que o comportamento agressivo causado pelo ciúme patológico é mais comum nos

homens. Esta constatação surgiu como resultado de uma pesquisa, por meio de imagens em

ressonância magnética, acerca das respostas neuropsicológicas à infidelidade sexual e

afetiva. Ainda que não houvesse nenhuma diferença entre os sexos na auto-avaliação do

ciúme como reação aos dois tipos de traição, homens e mulheres apresentaram padrões

diferentes de atividade cerebral. As análises ocorreram através de imagens via computador,

contendo fotografias com representações neutras e outras com infidelidade sexual e afetiva.

Solicitou-se aos participantes que imaginassem seu parceiro vivenciando tal situação.

Nesta condição reproduzindo o ciúme, a atividade cerebral nas regiões que envolvem o

comportamento sexual e agressivo, como a amígdala e o hipotálamo, foi mais intensa nos

indivíduos do sexo masculino. Contrariamente, as mulheres demonstraram uma maior

atividade no lóbulo temporal superior posterior. Novas pesquisas neste campo poderão ser

fundamentais para conhecer as bases neuropsicológicas da infidelidade, inclusive

relacionando as imagens da ressonância magnética com os tipos de reações mais comuns

entre os pesquisados.

 Infidelidade e personalidade. A personalidade é apontada freqüentemente por

terapeutas e leigos como preditora da infidelidade. Do mesmo modo, para Egan e Angus
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(2004) traços típicos do indivíduo são importantes para traição nos seres humanos. Muitos

casos no domínio das relações interpessoais foram atribuídos a problemas relacionados

com a auto-estima e ao narcisismo (Foster & Campbell, 2005). Embora estas especulações

sejam comuns, são escassas as pesquisas que avaliem prévia e sistematicamente o papel da

personalidade na explicação da infidelidade. De acordo com os resultados encontrados por

Buss e Shackelford (1997), além do narcisismo, a baixa conscienciosidade e o elevado

psicoticismo são desencadeantes da traição; mulheres com estas características são mais

propensas à infidelidade do que os homens.

 Infidelidade e Valores Humanos. Segundo Barta e Kiene (2005), a infidelidade

configura-se como uma violação às normas que regem o relacionamento entre as pessoas.

Neste âmbito, possivelmente pessoas mais orientadas a valores individualistas ou que

priorizem aqueles de experimentação (por exemplo, prazer, sexualidade, emoção)

poderiam ser mais inclinados à traição. Contrariamente, os indivíduos cujos princípios-guia

se pautassem por valores normativos (por exemplo, obediência, tradição, religiosidade)

seriam mais resistentes à traição (ver Gouveia, 2003). Contudo, estas são apenas

conjeturas; demandar-se-iam estudos futuros que averiguassem o papel dos valores para

explicar o ato de e as reações à infidelidade.

A infidelidade, coerente com as expectativas e normas sociais, representa

geralmente algo negativo, indesejado e mesmo reprovável. Não obstante, longe de

defendê-la, caberia também assinalar que algo de positivo pode resultar, ao menos na vida

de alguns casais. Segundo Olson e cols. (2002), em um estudo qualitativo, averiguaram

que para alguns casais, a infidelidade promove reações positivas, isto é, seus integrantes se

aproximam mais e passam a compartilhar de intensa intimidade, incluindo uma melhor

comunicação entre eles por meio da ampliação da assertividade, além da valorização da

família. Cabe ressaltar, que estas verificações ocorreram no âmbito terapêutico, portanto,
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para sua confirmação, seriam necessários outros estudos abrangendo não apenas o caráter

qualitativo das suposições acima descritas, mas também o quantitativo. Esta parece ser

uma temática desde logo desafiadora e instigante.

Por meio dos achados relatados na presente dissertação, constatou-se a relevância

dos cenários de infidelidade para análise das reações que esta produz. Embora não

compreenda exatamente um espelho da realidade, pode ser heurística sua consideração em

estudos futuros. Tais cenários foram primordiais, designadamente no que se refere à (1)

ponderação de como os tipos de amor e o ciúme romântico predizem as reações a cenários

de traição; (2) consideração de novas hipóteses para o estudo da infidelidade em pesquisas

futuras; e (3) sugestão emergente para o desenvolvimento de uma linha de pesquisa no

contexto brasileiro que considere as relações interpessoais e afetivas, principalmente no

tocante aos processos que desestabilizam a relação entre os casais.

Finalmente, o fenômeno da infidelidade e os elementos que o compõe, a exemplo

das razões e reações à traição, do amor compartilhado entre os parceiros e do ciúme

romântico, são, sem qualquer equívoco, contribuintes fundamentais e suficientes para a

ampliação do estudo das relações íntimas no Brasil. Não obstante, é imprescindível para

sua concretização que este seja respaldado por um consistente aparato teórico e técnicas de

mensuração que reúnam evidências de validade e precisão. Espera-se com todas as

informações, os resultados e as sugestões ora apresentados, que esta dissertação de

mestrado tenha contribuído para compreensão e para o avanço da pesquisa sobre este tema,

reconhecidamente complexo e intrigante no mundo das interações humanas.


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CAPÍTULO VI – REFERÊNCIAS
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ANEXOS
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Anexo 1 – Questionário de Razões e Reações à infidelidade.

1. Cite três razões (motivos) principais para a traição nos relacionamentos amorosos:
A.___________________________________________________________________
B.___________________________________________________________________
C.___________________________________________________________________

2. Cite três vantagens (ganhos decorrentes) da traição nos relacionamentos amorosos:


A.___________________________________________________________________
B.___________________________________________________________________
C.___________________________________________________________________

3. Cite três desvantagens (perdas decorrentes) da traição nos relacionamentos amorosos:


A.___________________________________________________________________
B.___________________________________________________________________
C.___________________________________________________________________

4. Cite três possíveis reações ao ato da infidelidade conjugal, isto é, como as pessoas se
comportam nesta situação com relação à (ao) parceira (o):
A.___________________________________________________________________
B.___________________________________________________________________
C.___________________________________________________________________

Idade: ________ Anos


Sexo:  Masculino  Feminino
Estado Civil:  Solteiro  Casado / Convivente  Separado / Divorciado  Viúvo
Religião (ponha um zero se não tem): _______________________________
Escolaridade:__________________________________________________
Você tem algum familiar ou amigo íntimo que trai atualmente?  Sim  Não
Você tem algum familiar ou amigo que é traído atualmente?  Sim  Não
Você alguma vez já traiu seu (sua) parceiro (a)?  Sim  Não
Você pensa que poderia trair seu (sua) parceiro (a)?  Sim  Não
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Anexo 2 – Cenários de Infidelidade

Por favor, leia a narrativa abaixo prestando atenção em todos os aspectos,


principalmente na vida e no comportamento dos personagens principais, indicados na
primeira linha.

1. Nívea, 37 anos, conheceu Paulo, 38 anos, quando ainda era estagiária de uma grande
empresa e resolveram se casar quando ela se formou. Nívea, atualmente, mantém um cargo
de alta chefia nesta mesma empresa, com um salário compatível com sua função. Quanto a
Paulo, que era filho de um médico renomado, formou-se em Medicina e abriu uma grande
clínica, contando com diversos clientes, o que tem lhe proporcionado bons rendimentos.
Atualmente as despesas da casa e da família são assumidas por ambos, que desfrutam de
boa condição financeira. Eles tem dois filhos, com 9 e 7 anos e mês passado completaram
dez anos de casados. Contudo, hoje em dia Nívea se queixa do marido, considerando-o
ausente e sem interesse sexual por ela. Recentemente, ao participar de um processo seletivo
para preenchimento de uma vaga na empresa na qual é diretora, Nívea conheceu Roberto,
da sua idade, candidato ao cargo. Ela se sentiu atraída por Roberto que era extremamente
sedutor, logo não resistiu e iniciaram uma relação. Nívea não o amava; unicamente
pretendia satisfazer seus desejos sexuais. Passados dois meses, Roberto e Nívea seguiam se
encontrando e mantendo relações sexuais. Certo dia, por acaso, Paulo descobriu a relação
que sua esposa mantinha com Roberto.

2. Nívea, 37 anos, conheceu Paulo, 38 anos, quando ainda era estagiária de uma grande
empresa e resolveram se casar quando ela se formou. Nívea, atualmente, mantém um cargo
de alta chefia nesta mesma empresa, com um salário compatível com sua função. Quanto a
Paulo, que era filho de um médico renomado, formou-se em Medicina e abriu uma grande
clínica, contando com diversos clientes, o que tem lhe proporcionado bons rendimentos.
Atualmente as despesas da casa e da família são assumidas por ambos, que desfrutam de
boa condição financeira. Eles tem dois filhos, com 9 e 7 anos e mês passado completaram
dez anos de casados. Contudo, hoje em dia Nívea se queixa do marido, considerando-o
pouco carinhoso e afetivo, inclusive sem demonstrar que a ama. Recentemente, ao
participar de um processo seletivo para preenchimento de uma vaga na empresa na qual é
diretora, Nívea conheceu Roberto, da sua idade, candidato ao cargo. Ela se sentiu atraída
por Roberto que era extremamente sedutor. Eles saíram uma vez para tomar café e ela logo
se apaixonou, percebendo que estava amando-o, não sendo apenas uma atração sexual.
Passados dois meses, Roberto e Nívea seguiam se encontrando e bastante enamorados.
Certo, dia, por acaso, Paulo descobriu que sua esposa estava amando um outro homem
(Roberto).

3. Nívea, 37 anos, conheceu Paulo, 38 anos, quando ainda era estagiária de uma grande
empresa e resolveram se casar quando ela se formou. Nívea, atualmente, mantém um cargo
de alta chefia nesta mesma empresa, com um salário compatível com sua função. Quanto a
Paulo, era proprietário de uma oficina mecânica. Ele enfrentou uma grave crise financeira
no oitavo ano de seu casamento e o seu negócio acabou falindo. Atualmente ele está
desempregado e todas as despesas da casa e da família são mantidas por Nívea. Eles tem
dois filhos, com 9 e 7 anos e mês passado completaram dez anos de casados. Contudo, hoje
em dia Nívea se queixa do marido, considerando-o ausente e sem interesse sexual por ela.
Recentemente, ao participar de um processo seletivo para preenchimento de uma vaga na
empresa na qual é diretora, Nívea conheceu Roberto, da sua idade, candidato ao cargo.
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Nívea se sentiu atraída por Roberto que era extremamente sedutor, logo não resistiu e
iniciaram uma relação. Nívea não o amava; unicamente pretendia satisfazer seus desejos
sexuais. Passados dois meses, Roberto e Nívea seguiam se encontrando e mantendo
relações sexuais. Certo dia, por acaso, Paulo descobriu a relação que sua esposa mantinha
com Roberto.

4. Nívea, 37 anos, conheceu Paulo, 38 anos, quando ainda era estagiária de uma grande
empresa e resolveram se casar quando ela se formou. Nívea, atualmente, mantém um cargo
de alta chefia nesta mesma empresa, com um salário compatível com sua função. Quanto a
Paulo, era proprietário de uma oficina mecânica. Ele enfrentou uma grave crise financeira
no oitavo ano de seu casamento e o seu negócio acabou falindo. Atualmente ele está
desempregado e todas as despesas da casa e da família são mantidas por Nívea. Eles tem
dois filhos, com 9 e 7 anos e mês passado completaram dez anos de casados. Contudo, hoje
em dia Nívea se queixa do marido, considerando-o pouco carinhoso e afetivo, inclusive
sem demonstrar que a ama. Recentemente, ao participar de um processo seletivo para
preenchimento de uma vaga na empresa na qual é diretora, Nívea conheceu Roberto, da sua
idade, candidato ao cargo. Ela se sentiu atraída por Roberto que era extremamente sedutor.
Saíram uma vez para tomar café e ela logo se apaixonou, percebendo que estava amando-o,
não sendo apenas uma atração sexual. Passados dois meses, Roberto e Nívea seguiam se
encontrando e bastante enamorados. Certo, dia, por acaso, Paulo descobriu que sua esposa
estava amando um outro homem (Roberto).

Responda agora as perguntas a seguir:

1) Em que medida esta narrativa pode retratar um fato verídico, que realmente acontece
(verdadeiro), ou simplesmente se refere a uma estória, algo que é irreal, que não ocorre
(falso)?
Opine circulando um número na escala de resposta abaixo.

Totalmente falso 1 2 3 4 5 Totalmente verdadeiro

2) Pense por um momento na situação de Paulo, a pessoa que foi traída no casamento. Das
reações listadas a seguir, indique em que medida cada uma delas é improvável ou provável.
Mais ou menos provável
Totalmente improvável

Totalmente provável
Bastante improvável

Bastante provável

REAÇÕES À INFIDELIDADE
Improvável

Provável

1. Paulo perdoará sua esposa. 1 2 3 4 5 6 7


2. Ele se vingará dela, traindo-a. 1 2 3 4 5 6 7
3. Procurará agredi-la, verbal e/ou fisicamente. 1 2 3 4 5 6 7
4. Paulo se comportará com indiferença frente à sua esposa. 1 2 3 4 5 6 7
5. Ele se resignará a sofrer, sentindo-se triste e deprimido. 1 2 3 4 5 6 7
6. Paulo pedirá separação. 1 2 3 4 5 6 7
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3) Considere outra vez a lista de reações antes apresentadas. Qual, em sua opinião pessoal,
independente do que possam pensar os demais, seria mais adequada Paulo adotar frente à
sua esposa? ______________________________________________________________.

Por favor, leia a narrativa abaixo prestando atenção em todos os aspectos,


principalmente na vida e no comportamento dos personagens principais, indicados na
primeira linha.

5. Paulo, 38 anos, conheceu Nívea, 37 anos, quando ainda era estagiário de uma grande
empresa e resolveram se casar quando ele se formou. Paulo, atualmente, mantém um cargo
de alta chefia nesta mesma empresa, com um salário compatível com sua função. Quanto a
Nívea, que era filha de um médico renomado, formou-se em Medicina e abriu uma grande
clínica, contando com diversos clientes, o que tem lhe proporcionado bons rendimentos.
Atualmente as despesas da casa e da família são assumidas por ambos, que desfrutam de
boa condição financeira. Eles tem dois filhos, com 9 e 7 anos e mês passado completaram
dez anos de casados. Contudo, hoje em dia Paulo se queixa da esposa, considerando-a
ausente e sem interesse sexual por ele. Recentemente, ao participar de um processo seletivo
para preenchimento de uma vaga na empresa na qual é diretor, Paulo conheceu Roberta, da
sua idade, candidata ao cargo. Ele se sentiu atraído por Roberta que era extremamente
sedutora, logo não resistiu e iniciaram uma relação. Paulo não a amava; unicamente
pretendia satisfazer seus desejos sexuais. Passados dois meses, Roberta e Paulo seguiam se
encontrando e mantendo relações sexuais. Certo dia, por acaso, Nívea descobriu a relação
que seu marido mantinha com Roberta.

6. Paulo, 38 anos, conheceu Nívea, 37 anos, quando ainda era estagiário de uma grande
empresa e resolveram se casar quando ele se formou. Paulo, atualmente, mantém um cargo
de alta chefia nesta mesma empresa, com um salário compatível com sua função. Quanto a
Nívea, que era filha de um médico renomado, formou-se em Medicina e abriu uma grande
clínica, contando com diversos clientes, o que tem lhe proporcionado bons rendimentos.
Atualmente as despesas da casa e da família são assumidas por ambos, que desfrutam de
boa condição financeira. Eles tem dois filhos, com 9 e 7 anos e mês passado completaram
dez anos de casados. Contudo, hoje em dia Paulo se queixa da esposa, considerando-a
pouco carinhosa e afetiva, inclusive sem demonstrar que o ama. Recentemente, ao
participar de um processo seletivo para preenchimento de uma vaga na empresa na qual é
diretor, Paulo conheceu Roberta, da sua idade, candidata ao cargo. Ele se sentiu atraído por
Roberta que era extremamente sedutora. Eles saíram uma vez para tomar café e ele logo se
apaixonou, percebendo que estava amando-a, não sendo apenas uma atração sexual.
Passados dois meses, Roberta e Paulo seguiam se encontrando e bastante enamorados.
Certo, dia, por acaso, Nívea descobriu que seu marido estava amando uma outra mulher
(Roberta).

7. Paulo, 38 anos, conheceu Nívea, 37 anos, quando ainda era estagiário de uma grande
empresa e resolveram se casar quando ele se formou. Paulo, atualmente, mantém um cargo
de alta chefia nesta mesma empresa, com um salário compatível com sua função. Quanto a
Nívea, que era filha de uma costureira na mesma época em que conheceu Paulo, abriu uma
pequena loja de confecções. Ela enfrentou uma grave crise financeira no oitavo ano de seu
casamento e o seu negócio acabou falindo. Atualmente ela está desempregada e todas as
despesas da casa e da família são mantidas por Paulo. Eles tem dois filhos, com 9 e 7 anos
e mês passado completaram dez anos de casados. Contudo, hoje em dia Paulo se queixa da
esposa, considerando-a ausente e sem interesse sexual por ele. Recentemente, ao participar
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de um processo seletivo para preenchimento de uma vaga na empresa na qual é diretor,


Paulo conheceu Roberta, da sua idade, candidata ao cargo. Paulo se sentiu atraído por
Roberta que era extremamente sedutora, logo não resistiu e iniciaram uma relação. Paulo
não a amava; unicamente pretendia satisfazer seus desejos sexuais. Passados dois meses,
Roberta e Paulo seguiam se encontrando e mantendo relações sexuais. Certo dia, por acaso,
Nívea descobriu a relação que seu marido mantinha com Roberta.

8. Paulo, 38 anos, conheceu Nívea, 37 anos, quando ainda era estagiário de uma grande
empresa e resolveram se casar quando ele se formou. Paulo, atualmente, mantém um cargo
de alta chefia nesta mesma empresa, com um salário compatível com sua função. Quanto a
Nívea, que era filha de uma costureira na mesma época em que conheceu Paulo, abriu uma
pequena loja de confecções. Ela enfrentou uma grave crise financeira no oitavo ano de seu
casamento e o seu negócio acabou falindo. Atualmente ela está desempregada e todas as
despesas da casa e da família são mantidas por Paulo. Eles tem dois filhos, com 9 e 7 anos
e mês passado completaram dez anos de casados. Contudo, hoje em dia Paulo se queixa da
esposa, considerando-a pouco carinhosa e afetiva, inclusive sem demonstrar que o ama.
Recentemente, ao participar de um processo seletivo para preenchimento de uma vaga na
empresa na qual é diretor, Paulo conheceu Roberta, da sua idade, candidata ao cargo. Ele se
sentiu atraído por Roberta que era extremamente sedutora. Saíram uma vez para tomar café
e ele logo se apaixonou, percebendo que estava amando-a, não sendo apenas uma atração
sexual. Passados dois meses, Roberta e Paulo seguiam se encontrando e bastante
enamorados. Certo, dia, por acaso, Nívea descobriu que seu marido estava amando uma
outra mulher (Roberta).

Responda agora as perguntas a seguir:

1) Em que medida esta narrativa pode retratar um fato verídico, que realmente acontece
(verdadeiro), ou simplesmente se refere a uma estória, algo que é irreal, que não ocorre
(falso)?
Opine circulando um número na escala de resposta abaixo.

Totalmente falso 1 2 3 4 5 Totalmente verdadeiro


2) Pense por um momento na situação de Nívea, a pessoa que foi traída no casamento. Das
reações listadas a seguir, indique em que medida cada uma delas é improvável ou provável.
Mais ou menos provável
Totalmente improvável

Totalmente provável
Bastante improvável

Bastante provável

REAÇÕES À INFIDELIDADE
Improvável

Provável

1. Nívea perdoará seu esposo. 1 2 3 4 5 6 7


2. Ela se vingará dele, traindo-o. 1 2 3 4 5 6 7
3. Procurará agredi-lo, verbal e/ou fisicamente. 1 2 3 4 5 6 7
4. Nívea se comportará com indiferença frente à seu esposo. 1 2 3 4 5 6 7
5. Ela se resignará a sofrer, sentindo-se triste e deprimida. 1 2 3 4 5 6 7
6. Nívea pedirá a separação. 1 2 3 4 5 6 7
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3) Considere outra vez a lista de reações antes apresentadas. Qual, em sua opinião pessoal,
independente do que possam pensar os demais, seria mais adequada Nívea adotar frente à
seu esposo? ____________________________________________________________.
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Anexo 3 – Escala Triangular do Amor

INSTRUÇÕES: As respostas a seguir devem ser dadas utilizando o quadro abaixo,


expressando em que nível aquela sentença se aplica ao seu relacionamento. O espaço em
branco nas frases, não deve ser preenchido, apenas mentalize como se estivesse escrito o
nome de seu namorado(a), noivo(a), esposo(a) ou companheiro(a). Obrigado pela
contribuição e pedimos que ao final verifique se todos os itens foram respondidos.

1 3 5 7 9
2 4 6 8
Não me Me descreve Me descreve Me descreve Me descreve
... ... ... ...
descreve nada um pouco mais ou menos bastante totalmente

01. ( ) Eu não imagino outra pessoa me fazendo tão feliz como _____ me faz
02. ( ) Sempre sentirei uma forte responsabilidade por _____
03. ( ) Não há nada mais importante para mim do que minha relação com _____
04. ( ) Eu recebo considerável suporte emocional de _____
05. ( ) Espero amar _____ por toda minha vida
06. ( ) Não me imagino vivendo sem _____
07. ( ) Posso contar com _____ na hora que eu necessitar
08. ( ) Meu relacionamento com _____ é muito romântico
09. ( ) Me pego pensando frequentemente em _____ durante o dia
10. ( ) Eu vejo meu relacionamento com _____ como permanente (duradouro)
11. ( ) _____ pode contar comigo na hora que necessitar
12. ( ) Só em olhar para _____ é excitante
13. ( ) Não imagino terminar o relacionamento com _____
14. ( ) Valorizo _____ muitíssimo em minha vida
15. ( ) Eu vivencio muitas alegrias com _____
16. ( ) Eu adoro _____
17. ( ) Eu tenho _____ como modelo de perfeição
18. ( ) Estou seguro(a) do meu amor por _____
19. ( ) Eu estou comprometido(a) em manter meu relacionamento com _____
20. ( ) Estou pronto(a) para compartilhar minha vida e meus bens materiais com _____
21. ( ) Existem coisas quase “mágicas” no meu relacionamento com _____
22. ( ) Sinto-me emocionalmente próximo de _____
23. ( ) Eu não poderia deixar que nada interferisse de algum modo meu compromisso
com _____
24. ( ) Acho _____ muito atraente
25. ( ) Eu dou considerável suporte emocional para _____
26. ( ) Confio na estabilidade do meu relacionamento com _____
27. ( ) Prefiro estar com _____ do que com qualquer outra pessoa
28. ( ) Vejo meu relacionamento com _____ como uma decisão bem tomada
29. ( ) Sonho de olhos abertos com _____
30. ( ) Eu tenho um relacionamento confortável com _____
31. ( ) Eu tenho um relacionamento agradável com _____
32. ( ) Quando vejo filmes românticos ou leio livros românticos, eu penso em _____
33. ( ) Reconheço que considero muito _____
34. ( ) Eu sinto que sou responsável por _____
35. ( ) Me comunico bem com _____
36. ( ) Eu particularmente gosto do contato físico com _____
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37. ( ) Por causa do meu compromisso com _____ eu não permitiria a intromissão de
outra pessoa
38. ( ) Compartilho informações íntimas da minha vida quando converso com _____
39. ( ) Mesmo quando _____ é inflexível com um assunto, eu permaneço
comprometido com a nossa relação.
40. ( ) Meu relacionamento com _____ é apaixonante
41. ( ) Sinto que realmente compreendo _____
42. ( ) Eu vejo meu compromisso com _____ como sólido
43. ( ) Sinto que _____ realmente me compreende
44. ( ) Eu planejo continuar meu relacionamento com _____
45. ( ) Sinto que realmente posso confiar em _____
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Anexo 4 - Escala de Ciúme Romântico

INSTRUÇÕES. A seguir você encontrará uma lista com 24 afirmações com as quais
poderá ou não estar de acordo. Pedimos-lhe, por favor, que leia todas com atenção. Elas
podem ser aplicadas a homens e mulheres, cabendo a você responder de acordo com seu
sexo. Indique ao lado de cada uma o seu grau de acordo ou desacordo, utilizando a escala
de resposta a seguir:

1 = Discordo Totalmente
2 = Discordo
3 = Nem concordo, nem discordo / Indeciso
4 = Concordo
5 = Concordo Totalmente

01.____Não há problema algum em encontrar uma foto de outro(a) homem(mulher) na


carteira dela(dele).
02. ____Não tem nada de mal ela(ele) ir à festa sozinha(o).
03. ____É perfeitamente normal ela(ele) elogiar um(a) amigo(a) seu (sua).
04. ____Fico furioso(a) quando ela(ele) conversa com um(a) amigo(a) que acha bonito(a).
05. ____Você ligar para ela(ele) e uma voz masculina(feminina) não-familiar atender, causa-
lhe raiva.
06. ____É natural ela(ele) ter muitos(as) amigos(as).
07. ____É aceitável ela(ele) aparecer com um perfume estranho na blusa.
08. ____Não tem nada de mal ela(ele) freqüentar a casa de um(a) antigo(a) namorado(a).
09. ____Pouco importa, ela(ele) receber presentes de um(a) amigo(a).
10. ____É perfeitamente normal ela(ele) conversar longamente com um(a) amigo(a).
11. ____Não há nada de errado preferir fazer um passeio com os(as) amigos(as) a ficar com
você.
12. ____Ela(ele) ficar trancada(o) no quarto com um(uma) amigo(a) lhe causa desconfiança.
13. ____Provoca irritação amigos(as) falarem dela(dele) com entusiasmo.
14. ____É aceitável ela(ele) fazer elogios a outro(a) homem(mulher) na sua frente.
15. ____Não tem nada demais seus(suas) amigos(amigas) freqüentarem a casa dela (dele).
16. ____Você fica furioso(a) se ela(ele) começa a dançar com um(a) amigo(a) seu(sua)
numa festa.
17. ____É muito chato encontrar um grande número de telefones de homens(mulheres) na
agenda dela (dele).
18. ____Causa-lhe incômodo ela(ele) se arrumar demais para sair sem você.
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19. ____Encontrar um isqueiro no bolso dela(dele), sabendo que ela(ele) não fuma, o(a)
deixa indignado(a).
20. ____É aceitável ela(ele) sonhar com outro(a).
21. ____É natural ela(ele) passar algumas horas ouvindo músicas na casa de um(a) amigo(a).
22. ____É indecente ela(ele) dar olhadas para outros(as) homens(mulheres) em uma festa.
23. ____É tolerável ela(ele) ficar de papo com alguém.
24. ____Ela(ele) trabalhar num ambiente onde há predominância de homens(mulheres) lhe
incomoda.
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Anexo 5 – Questionário Sócio-demográfico

INFORMAÇÕES DEMOGRÁFICAS. Finalmente, gostaríamos de conhecer algo mais


acerca dos participantes deste estudo. Uma vez mais, lembramos que nosso propósito não é
identificá-lo. Portanto, não assine ou coloque seu nome no questionário.

1. Sexo:  Masculino  Feminino 2. Idade: ________ Anos


3. Em comparação com as pessoas da sua cidade, você acredita que faz parte de que
classe sócio-econômica? (circule um número na escala de resposta a seguir)
1 2 3 4 5 6 7
Baixa Média Alta
4. Estado Civil:  Solteiro(a)  Casado (a) / Convivente  Separado(a)  Viúvo(a)
5. Se você não estiver casado, atualmente você está...
 Sem relacionamento  Com namorado(a) ocasional  Namorando Fixo  Noivo(a)
6. Se você está mantendo algum tipo de relacionamento, ele existe há quanto tempo?
(expresse em números):___________ano(s) e ____________mês(es).
7. Indique sua religião (ponha um zero se não tem):
_______________________________
8. O quanto você é religioso? (circule) Nada 0 1 2 3 4 Totalmente
9. Você tem algum familiar ou amigo que trai atualmente?  Sim  Não
10. Você tem algum familiar ou amigo que é traído atualmente?  Sim  Não
11. Você pensa que poderia vir a trair seu (sua) parceiro (a)?  Sim  Não
12. Você alguma vez já traiu seu (sua) parceiro (a)?  Sim  Não
13. Você está traindo atualmente o(a) seu (sua) parceiro(a)?  Sim  Não
14. Você acha que está sendo traído(a) atualmente?  Sim  Não
15. Quais os três atributos ou adjetivos principais que descrevem um HOMEM infiel:
1º:_____________________ 2º:_____________________ 3º:_____________________
16. Quais os três atributos ou adjetivos principais que descrevem uma MULHER
infiel:
1º:_____________________ 2º:_____________________ 3º:_____________________
17. Com relação à sexualidade em geral, você se considera uma pessoa... (circule)
Muito conservadora 0 1 2 3 4 Muito liberal
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18. Imagine que você descobre que a pessoa com quem mantêm um relacionamento
estável está envolvida afetivamente com uma outra pessoa, isto é, elas estão
apaixonadas, se amando mutuamente. Qual seria sua reação mais provável?
 Ciúme  Raiva  Mágoa  Aversão  Perdão
19. Imagine que você descobre que a pessoa com quem mantêm um relacionamento
estável está envolvida sexualmente com uma outra pessoa, isto é, elas apenas mantêm
relações sexuais. Qual seria sua reação mais provável?
 Ciúme  Raiva  Mágoa  Aversão  Perdão
20. Você se considera...
 Heterossexual  Homossexual  Bissexual
Obrigado por sua colaboração!
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Anexo 6 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Universidade Federal da Paraíba


CCHLA – Departamento de Psicologia
Programa de Pós-graduação em Psicologia Social
58051-900 João Pessoa, PB – Brasil
Tel./Fax 55 83 3216 7006
E-mails: jane.palmeira@terra.com.br
vvgouveia@pesquisador.cnpq.br

Prezado (a) Colaborador (a),

Estamos realizando uma pesquisa na cidade de João Pessoa com a finalidade de conhecer
questões referentes às relações interpessoais e afetivas. Este estudo compreende uma pesquisa da
Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba, sob a coordenação do
Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia.
Para realização desta pesquisa, gostaríamos de contar com a sua colaboração respondendo
a este questionário. Esclarecemos que serão respeitados todos os princípios éticos relacionados a
pesquisas com seres humanos, conforme o Conselho Nacional de Saúde e o que estabelece o
Comitê de Ética na Pesquisa.
Apesar deste estudo não oferecer benefício imediato aos participantes, contribuirá ao banco
geral do conhecimento psicológico, neste sentido pedimos que expresse o que pensa da maneira
mais sincera possível, sem deixar nenhuma questão em branco. Todas as informações são
confidenciais e não existem respostas consideradas certas ou erradas. Suas respostas não serão
computadas individualmente, mas consideradas no conjunto. Salienta-se, portanto, a garantia do
anonimato dos participantes.
As informações coletadas na pesquisa estarão disponíveis provavelmente no segundo
semestre de 2006. Para obtê-las, favor contatar os responsáveis através dos meios acima citados.
Desde já, agradecemos enormemente a colaboração dada a esta solicitação.

Jane Palmeira Nóbrega Cavalcanti Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia


(Mestranda em Psicologia Social) (Orientador)

TERMO DE CONSENTIMENTO

Certifico haver lido o anteriormente descrito, compreendo que os dados serão mantidos em sigilo e
que estou participando voluntariamente. Pela presente, dou meu consentimento para participar do
estudo.

João Pessoa, _____de _________________de 2006

____________________________________________
Assinatura/rubrica do participante

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