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Investigación original / Original research

Violência urbana e capital social em uma


cidade no Sul do Brasil: um estudo
quantitativo e qualitativo
Eloir Antonio Vial,1 José Roque Junges,1 Maria Teresa Anselmo Olinto,1
Paula Sandrine Machado 2 e Marcos Pascoal Pattussi 1

Como citar Vial EA, Junges JR, Olinto MTA, Machado PS, Pattussi MP. Violência urbana e capital social em uma
cidade no Sul do Brasil: um estudo quantitativo e qualitativo. Rev Panam Salud Publica. 2010;
28(4);289–97.

RESUMO Objetivo. Investigar as relações entre a violência urbana referida e capital social em uma
cidade de médio porte no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Métodos. O estudo foi realizado com adultos da zona urbana de São Leopoldo. Na etapa
quantitativa, um questionário estruturado foi respondido por 1 100 pessoas maiores de 20 anos
responsáveis pelo domicílio no momento da entrevista. A violência foi avaliada com base nas
referências a discussão violenta, roubo ou assalto, caso com drogas e homicídio ocorridos no
bairro nos últimos 6 meses. O capital social foi definido a partir do grau relatado de confiança
entre vizinhos, apoio social, controle social informal, percepção política e ação social nos bair-
ros avaliados. Na etapa qualitativa, foi realizada uma entrevista semiestruturada com 11 par-
ticipantes, residentes nos setores com o capital social mais alto e mais baixo.
Resultados. Os residentes em bairros com baixa confiança entre vizinhos relataram uma
ocorrência quase 3 vezes maior de homicídios (RP = 2,82; IC95%: 1,67 a 4,74; P > 0,001) e de
discussão violenta (RP = 2,56; IC95%: 1,82 a 3,59; P > 0,001) em comparação aos moradores
de bairros com alta confiança entre vizinhos. As situações relacionadas à violência foram mais
enfatizadas em vizinhanças com baixo capital social, nas quais também foi referido o descaso
público.
Conclusões. Em vizinhanças com maior capital social, menores percentuais de violência
foram referidos. É importante priorizar políticas públicas que promovam o capital social voltado
ao bem comum.

Palavras-chave Violência; pesquisa qualitativa; estudos transversais; medicina social; Brasil.

A violência urbana é um fenômeno de a indivíduos, grupos, classes e insti- para a magnitude de sequelas que a
abordagem multifacetada, intersetorial e tuições, que em suas relações empregam violência produz. Declarou que a mesma
interdisciplinar. Pode ser analisada em diferentes métodos e meios de coerção e adquiriu um caráter endêmico e se con-
termos de aspectos que dizem respeito aniquilamento da pessoa (1–4). verteu em um problema de saúde pú-
Na década de 1990, a Organização blica em muitos países (5). Em 1996, a
Mundial da Saúde (OMS) e a Organi- OMS adotou a Resolução WHA49.25,
1 Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), zação Pan-Americana da Saúde (OPAS) que declarou a violência como o maior e
Programa de Pós-Graduação em Saúde Cole-
tiva, São Leopoldo (RS), Brasil. Correspondência: promoveram atividades e importantes mais crescente problema de saúde pú-
2
roquejunges@hotmail.com políticas públicas de saúde relacionadas blica no mundo (6). No relatório mun-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Departamento de Psicologia Social e Ins-
à violência. A OPAS chamou atenção, dial sobre violência e saúde publicado
titucional, Porto Alegre (RS), Brasil. em 1994, para o número de vítimas e em 2002, estimou-se que o número de

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mortes causadas por atos violentos no operação mútua e melhorar o fluxo de dados do Instituto Brasileiro de Geogra-
mundo, no ano de 2000, foi de 1,6 bilhão, informações (13, 14). fia e Estatística (IBGE), as médias de
ou cerca de 29 mortes a cada 100 000 Apesar da possibilidade de impactos renda e de anos de estudo dos chefes de
habitantes (4). negativos do capital social (15–17), a lite- família eram de R$ 955 (desvio padrão,
Dados disponibilizados em 2002 pela ratura sugere que as sociedades com DP = 586) e 8 anos (DP = 3), respectiva-
OMS (4) mostram que as taxas de cada altos níveis de capital social são mais mente, nos setores censitários estudados.
tipo de violência variam entre países, re- igualitárias, sendo as pessoas mais en- O número médio de residentes por setor
giões e cidades, assim como variam tam- volvidas na vida pública e mais solidá- foi igual a 746 (DP = 358) (29).
bém dentro dessas unidades geográfi- rias. Essas pessoas vivem mais e são São Leopoldo pertence à Região Me-
cas. Nas Américas, a cada ano ocorrem menos violentas (18–20). Diferentes estu- tropolitana de Porto Alegre, capital do
cerca de 20 homicídios em cada 100 000 dos têm demonstrado que maiores taxas Estado, que reúne 11 cidades e mais de
habitantes. De acordo com o mesmo re- de diversos indicadores de violência 3 milhões de habitantes. Em relação aos
latório, a América Latina apresenta a estão consistentemente associadas a serviços públicos de saúde, existem um
taxa de homicídios anual mais elevada menor capital social, seja em contextos hospital geral, seis centros de saúde,
entre jovens de 10 a 29 anos: 36,5 por mais amplos (estados) ou mais restritos 20 unidades de atenção básica, um ser-
100 000 habitantes. No Brasil, entre 1991 (bairros) (18–23). viço de atendimento especializado para
e 2000, houve uma elevação de cerca de Nesse sentido, o objetivo do presente doenças sexualmente transmissíveis e
48% na taxa de mortalidade por homicí- estudo foi investigar as relações entre Aids, um Centro de Vigilância em
dios na população jovem (15 a 24 anos), violência urbana referida e capital social Saúde, uma Farmácia Municipal, uma
enquanto na população total o cresci- em um bairro de uma cidade de médio Farmácia Popular do Brasil, dois centros
mento foi de quase 30%. No Estado do porte do Sul do Brasil. de atenção psicossocial e um laboratório
Rio Grande do Sul, entre 1990 e 2000, para análises clínicas. Quanto aos ser-
considerando-se as mortes por causas MATERIAIS E MÉTODOS viços de segurança pública, possui sete
externas, os homicídios representaram postos da Brigada Militar, cinco delega-
cerca de 22,9% (7). A presente pesquisa integra as metodo- cias de polícia civil e um presídio regio-
A magnitude e o crescimento nas taxas logias quantitativa e qualitativa para a nal (28). Deve-se ressaltar que o Municí-
de mortalidade por homicídio têm forte coleta e a análise dos dados. Na primeira pio de São Leopoldo, dentre os 5 564
impacto social, envolvendo o poder pú- fase, realizou-se um estudo epidemioló- municípios brasileiros, encontra-se entre
blico e a sociedade civil (4). De uma pers- gico transversal, com uma amostra repre- os 200 municípios mais violentos do país
pectiva pública, o Estado é diretamente sentativa de 1 100 pessoas com 18 ou (30). Considerando os 496 municípios
responsável pela construção de políticas mais anos de idade. Na segunda fase, do Estado, encontra-se entre os 10 mais
de segurança pública para e com a co- realizou-se um estudo qualitativo com violentos (31).
munidade. De uma perspectiva social, a 11 participantes da primeira fase. A fase
sociedade civil, com suas organizações qualitativa buscou aprofundar os dados Abordagem quantitativa
formais e informais, pode contribuir quantitativos (24, 25). O objetivo dessa
para melhorar a qualidade de vida estratégia foi explicar a extensão ou mag- A abordagem quantitativa envolveu
comunitária (2, 3, 8). nitude (quantitativo) e compreender a um estudo com delineamento transver-
As organizações, as redes de relações intensidade (qualitativo) dos processos sal de base populacional, com entrevis-
entre organismos e os grupos formais e sociais (26). O estudo por integração de tas estruturadas na forma de um ques-
informais de pessoas são bens inaliená- métodos é sustentado por três pilares: o tionário padronizado e pré-testado. O
veis da comunidade que favorecem e respeito entre os distintos campos, a am- tamanho da amostra foi calculado com
fortalecem a cidadania e a participação pliação da visão de método e a capaci- base em um estudo piloto que utilizou o
política, com impacto direto na pre- dade de diálogo entre pesquisadores (27). método para proporções com aleatori-
venção do crime. Essas redes de relação Os participantes residiam na zona ur- zação de conglomerados e o método do
têm sido entendidas como capital social. bana de São Leopoldo, Rio Grande do desfecho de autopercepção em saúde.
Coleman (9) define capital social como a Sul. Em 2005, São Leopoldo possuía uma O tamanho da amostra foi calculado
reciprocidade nas relações sociais; para população de 209 611 habitantes, com para obter 85% de poder (1 – β = 0,85)
Putnam (10, 11) o capital social é o con- taxa de crescimento anual de 1,72%, den- para detectar uma diferença de 7% na
junto de normas e redes da estrutura so- sidade populacional de 2 048,78 hab/ prevalência de autopercepção de saúde
cial que habilitam os participantes a agir km2, taxa de analfabetismo de 4,78%, ex- ruim entre áreas com alto e baixo capital
juntos e mais efetivamente na busca de pectativa de vida ao nascer no ano de social, com nível de confiança de 95%.
objetivos comuns. O conceito envolve, 2000 de 69 anos e coeficiente de mortali- Para esse cálculo, foram utilizados 35 do-
portanto, a cultura cívica, a confiança dade infantil em 2004 de 10,16 por 1 000 micílios por setor. Estimou-se serem ne-
entre os membros da comunidade, o en- nascidos vivos. Em 2005, a Cidade tinha cessários 1 260 domicílios em 36 setores.
volvimento nas questões comunitárias e 100 praças, 2 062 ruas, 70 avenidas, 120 Para compensar possíveis perdas e para
a boa relação entre vizinhos. Diz respeito travessas e 53 498 domicílios. Os dados controle de possíveis fatores de con-
a normas e redes que favorecem a ação indicam ainda a presença de 23 bancos, fusão, a amostra foi aumentada em 20%
coletiva com vistas ao bem comum (9, 10, 406 indústrias, 2 008 estabelecimentos no número de domicílios e em 10% no
12). As principais ações do capital social comerciais, 3 999 prestadores de ser- número de setores. Portanto, o cálculo
incluem: encorajar a confiança social, viços, 5 780 autônomos e 114 entidades final previu uma amostra de 1 512 domi-
preservar os bens públicos, facilitar a co- sem fins lucrativos (28). De acordo com cílios em 40 setores censitários (em torno

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de 38 domicílios por setor). Em cada con- tada uma pequena quantidade de mados. Como havia cinco perguntas,
glomerado (setor censitário), foi sorte- dinheiro (32). cujas respostas poderiam ser categoriza-
ado o quarteirão para iniciar a pesquisa, • Controle social informal (cinco per- das como zero, 1 ou 2, criou-se um escore
e todos os domicílios foram visitados até guntas): perguntou-se até que ponto de 0 a 10, sendo 10 igual ao maior capital
completar o número requerido de 38 em os entrevistados concordavam com social. Com base nesse escore, o capital
cada conglomerado. afirmações a respeito da possibilidade social foi classificado como baixo (0 a 3
Foram realizadas 1 100 entrevistas em de contar com vizinhos para intervir pontos), moderado (4 a 6) ou alto (≥ 7
38 setores, o que representou 72% do cál- em casos de crianças/adolescentes pontos).
culo inicial. A coleta de dados foi inter- matando aula (faltando aula sem O capital social da área foi definido a
rompida em nove setores censitários e conhecimento dos responsáveis), pi- partir da média aritmética dos escores
não foi realizada em dois devido à falta chando ou destruindo bens públicos individuais em cada um dos 38 setores
de recursos financeiros por parte do pro- e desrespeitando pessoas idosas, bri- censitários. A distribuição das médias do
jeto. Nesses 11 setores, foram entrevista- gas entre vizinhos; e se concordavam escore global do capital social individual
das 127 pessoas de um total previsto de que os vizinhos agiriam no caso do em cada um setores foi utilizada na
420. Assim, os principais motivos das fechamento do posto de saúde da criação do capital social da área. Similar-
perdas foram a falta de recursos finan- comunidade (18). mente à criação do escore para cada di-
ceiros do projeto (14%), a existência de • Percepção política (quatro perguntas): mensão individual, criou-se uma variá-
domicílios não habitados ou comércio perguntou-se se os entrevistados con- vel categórica ordinal baseada nos
(8%), as recusas (4%) e ausência dos cordavam com afirmações como: go- quartis da distribuição. Assim sendo, 7
moradores (2%). vernantes não ligam para os cidadãos; setores foram classificados como baixo,
A coleta de dados foi realizada por não estão interessados no que os ci- 10 como alto e 21 como moderado capi-
50 entrevistadores, alunos da gradua- dadãos pensam; os partidos políticos tal social. Com vistas a uma maior com-
ção da Universidade do Rio dos Sinos só estão interessados nos votos; os po- patibilização entre as abordagens quanti
(UNISINOS), os quais foram devida- líticos eleitos perdem o contato com as e qualitativa, a categoria moderado para
mente treinados e padronizados. Foram pessoas após a eleição (33). todas as variáveis representado capital
entrevistados os responsáveis pelos do- • Ação social (cinco perguntas): social não foi apresentada.
micílios, indivíduos maiores de 18 anos perguntou-se sobre a frequência com Na análise dos dados foi empregada a
presentes no domicílio e responsáveis que os entrevistados conversavam regressão de Poisson com variância ro-
pelo mesmo no momento da entrevista. sobre problemas da vizinhança; parti- busta (35) e o controle para efeito de de-
No caso da ausência de um responsável, ciparam de abaixo-assinado; se reu- lineamento, de modo a obter razão de
foram realizadas três visitas de retorno. niam; faziam contato com os gover- prevalência (RP) e o IC95%.
Violência referida (desfecho do es- nantes; e contatavam a mídia para
tudo) foi dicotomizada (“sim” ou “não”) resolução dos problemas locais (34). Abordagem qualitativa
e avaliada pela percepção dos entrevista-
dos quanto à ocorrência na vizinhança, As resposta foram na forma de escala O trabalho de campo da etapa qualita-
nos últimos 6 meses, de “discussão vio- de Likert. No caso das dimensões con- tiva foi realizado nos anos de 2008 e
lenta entre vizinhos, roubo ou assalto, fiança social, controle social informal e 2009. Onze pessoas foram selecionadas a
caso relacionado com drogas e homicí- percepção política, as categorias foram: partir da coleta quantitativa. Essas pes-
dio”. Tais perguntas são originárias do concordo totalmente, concordo, não con- soas responderam, no domicílio, entre-
clássico estudo de Sampson et al. sobre cordo nem discordo, discordo, discordo vistas semiestruturadas, utilizando-se
violência e eficácia coletiva em bairros totalmente. As categorias de resposta um roteiro norteador do tema. As entre-
de Chicago (18). para apoio social foram: não pediria vistas tiveram em média 1 hora de du-
Quanto ao capital social, foi avaliado ajuda, muito desconfortável, um pouco ração. Foram gravadas em áudio e poste-
através de 23 perguntas acerca de 5 di- desconfortável, um pouco à vontade e riormente transcritas integralmente.
mensões, com base na literatura sobre o muito à vontade. Para ação social, as ca- Para seleção dos participantes foram
tema (18, 32–34): tegorias foram: nunca fiz isso, há mais de utilizados o local com o maior e o com
12 meses, nos últimos 12 meses, nos últi- menor capital social. Desses locais sele-
• confiança social (cinco perguntas): mos 6 meses e nos últimos 3 meses. Para cionou-se uma amostra por conveniência
perguntou-se se o entrevistado con- avaliar essas dimensões, os escores das composta por 11 pessoas (cinco ou seis
cordava com afirmações sobre os vi- respostas que as compunham foram so- sujeitos de cada um dos dois locais sele-
zinhos se ajudarem, a vizinhança ser mados, criando-se uma variável categó- cionados), observando-se uma relativa
amigável, haver união entre vizinhos rica ordinal, classificada em uma entre distribuição por sexo e idade nos grupos
e os vizinhos compartilharem os mes- três categorias: nível baixo (= zero; 25% etários (18 a 29 anos; 30 a 59 anos; 60
mos valores (18). escores menores), nível moderado (= 1; anos ou mais).
• Apoio social (quatro perguntas): 50% escores intermediários) ou nível alto Após a seleção, foi realizado contato
perguntou-se se o entrevistado se sen- (= 2; 25% escores elevados). telefônico com os candidatos e agendada
tiria à vontade se tivesse que contar Para gerar um escore de capital social a entrevista. Para manter o anonimato
com a ajuda de um vizinho para: para cada um dos entrevistados, os esco- dos participantes, foram atribuídos
pegar um remédio na farmácia, con- res das cinco variáveis ordinais (repre- nomes fictícios, seguidos de um número
versar sobre um problema pessoal, sentando cada construto) obtidos a partir que corresponde à idade informada no
tomar conta dos filhos e pedir empres- de cada entrevista específica foram so- momento do estudo. Além disso, foram

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atribuídos nomes com a inicial “A” para TABELA 1. Distribuição da amostra total e dos setores com alto e baixo capital social de acordo
as pessoas residentes no setor de alto ca- com aspectos demográficos, socioeconômicos, construtos do capital social e violência urbana
pital social, e com a inicial “B” àquelas referida, São Leopoldo (RS), Brasil, 2007
do setor de baixo capital social. No local
Áreas com alto Áreas com baixo
de maior capital social, foram entrevista- Total capital social capital social
dos: Amanda 21, Andréa 22, Adriana 32,
Variável No. % No. % No. %
Ana 44 e Antônio 55. No local de menor
capital social, foram entrevistados Bruna n 1 100 100 274 24,9 272 24,7
20, Beto 23, Bianca 49, Brenda 49, Breno Sexo
Masculino 310 28,2 70 25,5 76 25,5
50 e Bernardo 70. Para a análise qualita-
Feminino 790 71,8 204 74,5 196 74,5
tiva foi utilizado o método de análise de Idade (anos)
conteúdo, segundo Bardin (36) e Minayo 60 e mais (idoso) 196 17,8 47 17,2 56 20,6
(37), de forma a apreender as percepções 30 a 59 (adulto) 657 59,7 171 62,4 148 50,4
18 a 29 (jovem) 247 22,5 56 20,4 68 25,0
de capital social e violência urbana.
Cor da pele observada
O protocolo de pesquisa foi aprovado Branca 922 84,0 227 82,2 225 82,7
pelo Comitê de Ética em Pesquisas da Não branca 176 16,0 47 17,2 47 17,3
UNISINOS, tendo cumprido os requisi- Estado civil
Em união 615 55,9 148 54,0 142 52,2
tos da Resolução 196/96 do Conselho
Solteiro 267 24,3 70 25,5 72 26,5
Nacional de Saúde. Outro 218 19,8 56 20,4 58 21,3
Renda familiar (salários mínimos)
RESULTADOS >9 262 24,4 61 22,2 44 16,1
3a9 535 51,4 129 47,8 163 59,5
<3 234 21,3 66 24,4 64 23,4
Dados quantitativos Escolaridade (anos)
11 e mais 388 36,4 67 26 89 33,5
Entre as 1 100 pessoas da amostra, seis 5 a 10 475 44,5 128 49,6 133 50,0
não responderam as questões sobre a 0a4 204 19,1 63 24,4 44 16,5
Classe econômica (ABEP)a
ocorrência de discussão violenta, roubo A–B 336 31,6 76 29,5 73 27,5
ou assalto e fato relacionado com drogas C 489 45,9 125 48,4 120 45,3
e sete não responderam sobre homicídio. D–E 240 22,5 57 22,1 72 27,2
A tabela 1 resume os dados sociodemo- Confiança entre vizinhosb
Alta 387 35,4 123 45,1 69 25,7
gráficos dos 1 100 participantes e mostra Baixa 255 23,3 34 12,5 83 31,0
a distribuição dos participantes con- Apoio social entre vizinhosb
forme as categorias de violência referida. Alto 252 23,1 89 32,6 43 16,1
As prevalências de violência referida Baixo 255 23,4 35 12,8 97 36,3
Controle social informal no bairrob
nos últimos 6 meses foram: discussão Alto 160 14,6 68 24,9 12 4,5
violenta (17,1%; IC95%: 15 a 19,4), roubo Baixo 264 24,2 38 13,9 97 36,2
ou assalto (42,8%; IC95%: 39,9 a 45,7), Percepção políticab
caso com drogas (32,4%; IC95%: 29,7 a Alta 245 22,4 67 24,5 55 20,5
Baixa 240 21,9 68 24,9 42 15,7
35,2) e homicídio (8,4%; IC95%: 6,9 a Ação socialb
10,2) (tabela 1). Alta 270 24,7 93 34,1 45 16,8
A tabela 2 mostra a relação entre capi- Baixa 332 30,4 59 21,6 102 38,1
tal social e violência urbana referida. Discussão violenta
Não 907 82,9 237 86,8 210 78,4
Maiores prevalências de todos os indica- Sim 187 17,1 36 13,2 58 21,6
dores de violência foram encontradas Roubo ou assalto
nos locais com baixa confiança e menor Não 626 57,2 163 59,7 137 51,1
controle social informal na vizinhança. Sim 468 42,8 110 40,3 131 48,9
Caso com drogas
Os locais cujos residentes relataram
Não 739 67,6 192 70,3 179 66,8
baixa confiança entre vizinhos possuíam Sim 354 32,4 81 29,7 89 33,2
cerca de 3 vezes maior prevalência de Homicídio
discussão violenta quando comparados Não 1 002 91,6 254 93,0 241 89,9
Sim 92 8,4 19 7,0 27 10,1
aos setores com alta confiança.
Capital social individual
As pessoas que relataram baixo con- Alto 263 24,2 101 37 43 16,2
trole social informal possuíam uma pre- Baixo 246 22,6 25 9,2 97 36,5
valência duas vezes maior para homicí- a ABEP = Associação Brasileira de Estudos Populacionais.
dios e para discussão violenta quando b O número de casos é menor nestas variáveis porque os dados referentes à categoria “moderado” não foram apresentados.
comparadas com aquelas que relataram
alto controle (tabela 2). Do mesmo modo,
aqueles que relataram baixo apoio so- 4,74; P < 0,001) (tabela 2). Entretanto, no ocorrência de violência em todos os indi-
cial mencionaram uma ocorrência duas sentido contrário, os indivíduos que con- cadores. A percepção política não esteve
vezes maior de discussões violentas sideraram sua área de residência como associada a nenhum dos indicadores
entre vizinhos (RP = 2,14; IC95%: 1,10 a tendo baixa ação social referiam menor (tabela 2).

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TABELA 2. Distribuição das variáveis de violência referida nos últimos 6 meses de acordo com construtos e com capital social individual e da área,
São Leopoldo (RS), Brasil, 2007a

Violência referida
Discussão Roubo ou Caso com
violenta RP (IC95%)b assalto RP (IC95%)b drogas RP (IC95%)b Homicídio RP (IC95%)b
Construto (%) Valor P (%) Valor P (%) Valor P (%) Valor P

Confiança entre vizinhos


Alta 11,4 1 34,6 1 24,0 1 5,2 1
Baixa 29,1 2,56 (1,82 a 3,59) 55,9 1,61 (1,35 a 1,92) 45,7 1,90 (1,52 a 2,37) 14,6 2,82 (1,67 a 4,74)
P < 0,001 P < 0,001 P < 0,001 P < 0,001
Apoio social entre vizinhos
Alto 14,3 1 39,7 1 27,1 1 4,8 1
Baixo 20,0 1,40 (0,95 a 2,07) 45,1 1,14 (0,93 a 1,39) 36,0 1,33 (1,03 a 1,73) 10,2 2,14 (1,10 a 4,15)
P = 0,087 P = 0,218 P = 0,030 P = 0,019
Controle social informal na
vizinhança
Alto 11,3 1 36,9 1 26,4 1 6,3 1
Baixo 25,4 2,25 (1,40 a 3,65) 47,0 1,27 (1,00 a 1,62) 39,4 1,49 (1,10 a 2,01) 13,6 2,18 (1,11 a 4,27)
P < 0,001 P = 0,042 P = 0,003 P = 0,004
Percepção política
Alta 15,5 1 42,5 1 34,3 1 10,2 1
Baixa 15,0 0,97 (0,63 a 1,47) 41,3 0,97 (0,79 a 1,20) 36,0 1,05 (0,82 a 1,34) 8,8 0,85 (0,49 a 1,49)
P = 0,885 P = 0,792 P = 0,708 P = 0,579
Ação social
Alta 23,0 1 51,5 1 47,4 1 11,5 1
Baixa 14,2 0,61 (0,44 a 0,86) 36,8 0,71 (0,59 a 0,86) 23,9 0,50 (0,40 a 0,63) 7,23 0,63 (0,38 a 1,05)
P = 0,007 P < 0,001 P < 0,001 P = 0,084
Capital social individual
Alto 13,7 1 39,9 1 30,4 1 6,8 1
Baixo 23,2 1,69 (1,16 a 2,71) 45,1 1,13 (0,89 a 1,44) 36,2 1,19 (0,93 a 1,51) 11,8 1,72 (0,93 a 3,18)
P = 0,027 P = 0,306 P = 0,153 P = 0,090
Capital social de área
Alto 13,2 1 40,3 1 29,7 1 7,0 1
Baixo 21,6 1,64 (0,82 a 3,27) 48,9 1,21 (0,80 a 1,82) 33,2 1,11 (0,77 a 1,63) 10,1 1,45 (0,44 a 4,75)
P = 0,145 P = 0,330 P = 0,547 P = 0,090
a n = 1 100. Não são apresentados dados da categoria moderado.
b RP (IC95%) = razão de prevalências e intervalo de confiança de 95%.

Com relação aos escores globais, em- TABELA 3. Características dos 11 participantes da fase qualitativa da pesquisa sobre violência
bora com achados não significativos, foi urbana e capital social, São Leopoldo (RS), Brasil, 2009
constatada uma tendência de áreas e in-
Cor da Reside
divíduos indicando baixo capital social
Idade pele no endereço
possuírem maiores relatos de discussão Sujeitoa (anos) Sexo referida Estado civil Escolaridade referida (anos)
violenta entre vizinhos e de homicídios
(tabela 2). Amanda 21 Feminino Morena Casada Médio completo 21
Ágatha 22 Feminino Branca Solteira Fundamental completo 8
Adriana 32 Feminino Branca União estável Superior incompleto 31
Resultados qualitativos Ana 44 Feminino Morena União estável Fundamental incompleto 17
Augusto 55 Masculino Branca Casado Fundamental completo 17
Entre as 11 pessoas selecionadas, cinco Beatriz 20 Feminino Branca Solteira Médio completo 20
pertenciam ao local com maior capital Baltazar 23 Masculino Morena Solteiro Fundamental incompleto 19
Berenice 49 Feminino Branca Separada Médio completo 49
social e seis ao local com menor capital Bárbara 49 Feminino Branca Casada Fundamental incompleto 21
social (tabela 3). Breno 50 Masculino Branca Casado Fundamental incompleto 6
Os resultados qualitativos foram agru- Bernardo 70 Masculino Branca Casado Fundamental incompleto 35
pados por semelhança e também di- a Nomes iniciados com a letra A indicam participantes de zonas com alto capital social; nomes iniciados com a letra B indicam
vergências de informações. Por exemplo, participantes de zonas com baixo capital social.
a confiança e o controle social informal
ambos estabeleceram relações de proxi-
midade; por isso, os dois construtos Esse controle, por sua vez, foi entendido atitude superficial, onde “às vezes um
puderam ser analisados tanto separada- também como atitude de confiança. sai o outro dá uma reparada”, e ressaltou
mente quanto em conjunto. Os partici- Ágatha 22 disse que “aqui um sai o outro a falta de resultado: “o senhor vê os
pantes demonstraram haver uma aproxi- toma conta. Aqui sim, aqui está bom de muros ali, tudo riscado. Ali do meu vi-
mação entre cuidar do bem material morar. Quando a gente sai a gente pode zinho pintou esses dias, riscaram tudo”.
privado, como a casa, por exemplo, com ter confiança que vai cuidar”. Já Ber- Embora o controle social tenha sido
o sentido de controle social informal. nardo 70 falou dessa situação como uma identificado nos dois setores, existem

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Investigación original Vial et al. • Violência urbana e capital social

descontinuidades entre as idéias de “cui- parece o canto dos esquecidos . . . não para cima. Isso a gente tem medo. Aqui
dar” e de “dar uma reparada”. passa uma viatura, não tem projeto social mataram um guri [adolescente] amigo
O construto “apoio social” significa o nenhum, aqui não tem nada”. meu . . . envolvido com drogas . . . Se
apoio oferecido ou recebido, tanto indi- Quanto ao construto ação social, é diz assim ’pegar e fazer pela própria
vidual quanto no grupo. É um processo exemplificado por Amanda 21 através mão’, . . . à base do revólver. Matou pelas
recíproco que mostra que as pessoas ne- das organizações existentes em sua co- próprias mãos e com arma de fogo. Eles
cessitam umas das outras. De um modo munidade: “escola tem . . . CTG [Centro não vão mais de mão limpa, vão todos
geral, os sujeitos afirmaram que aconte- de Tradições Gaúchas] . . . posto de armados, e isso está deixando a vila
cem efeitos benéficos à pessoa e à comu- saúde . . . Igreja . . . escolinha para as muito preocupada . . . e com medo. Tem
nidade decorrentes desse tipo de apoio. crianças mais pobres . . . CLJ, ONDA gente aí que começa com 6 ou 7 anos já
Para Ana 44, esse apoio tem a ver com as [grupos de jovens cristãos]. Tem Assem- está com uma arma na mão, experimen-
organizações da comunidade. Segundo bleia de Deus, Testemunha de Jeová, Ad- tando droga. E não existe isso: mais de
ela, “existe o clube de mães, o posto de ventista. E escola aberta sábado e do- dia ou mais de noite. É qualquer hora.
saúde, o colégio. E conheço bastante mingo. Estão deixando a gente mais Dá vontade eles vão aí e fazem”. Nesse
mulheres que fazem curso de crochê, tranquila. Todo mundo fica ali aonde mesmo sentido, Beatriz 20 referiu que:
fazem curso de costura no Parque dos todos vão se encontrar, vão se conhecer “eu vi aqui na esquina bastante morte. A
Trabalhadores”. mais também”. gente só sai na rua depois que pára.
Quanto à política, houve diferentes Além disso, no setor de maior capital Esses dias um rapaz levou um tiro ali na
percepções entre os participantes, inclu- social as organizações parecem ser mais esquina, uma outra pessoa saiu para aju-
sive do mesmo setor. Essas percepções presentes na vida das pessoas, cumprem dar e morreu também. Uns dizem que é
estão associadas com o fazer ações pú- um papel social importante, são percebi- tráfico. Tipo, se tem alguma coisa eles
blicas na comunidade. Como disse das como atuantes e importantes em di- pegam, estão vendendo . . . de 12 a 17 ou
Amanda 21, “eles podiam fazer mais. versas esferas, como educação e cidada- 18 [anos de idade]”.
Falar e fazer e não só falar. Toda vez que nia, como citou anteriormente Amanda No tocante à segurança pública, houve
eles falam não fazem. Não sai nunca do 21 e foi reforçado por Adriana 32: “é verbalizações no sentido de impunidade
papel. Acho que eles podiam vir mais aonde as crianças vão [CTG]. Daí eles e descaso. Como disse Baltazar 23, “eles
nas vilas. Fazer mais as coisas nas vilas aprendem. Até a gente ensina uma edu- falam na gíria ‘eu vou matar porque é
também”. E Ágatha 22, “esse [governo] cação, mas lá eles aprendem outro tipo. legal’, sabe. No sentido deles acham que
aqui está melhor. Pelo menos o posto Lá tu tens que aprender algo mais, para é coisa boa. É tudo tranquilo”. Beatriz 20
aqui agora não fecha ao meio dia. Tem ti melhorar”. refere que “esses dias uma garota levou
médico sempre. E aquele lá não fecha Já no setor de menor capital social, uma facada na frente da escola. A gente
mais no final de semana” [são 2 unida- ainda que as organizações possam existir ligou para a SAMU [Serviço de Atendi-
des de saúde]. concretamente, são percebidas como es- mento Móvel de Urgência]. A SAMU
Segundo Szreter e Woolcock (13), o ca- tando mais no plano do desejável do que disse que não ia vir porque era trote”.
pital social produz políticas públicas efe- no da realidade, que pode estar relacio- Berenice 49 reforçou a relação entre
tivas na comunidade, o que é exemplifi- nado com a inserção das mesmas na vida violência e drogas dizendo: “aqui, no
cado pela fala de Ágatha 22. Por outro das pessoas. Como referiu Beatriz 20: sentido de violência, a droga é um pro-
lado, os autores reconhecem que nem “esses dias a gente estava conversando. blema muito sério. Eu me preocupo, por-
todas as relações são geradoras do bem Tivesse uns grupos, uma coisa assim. E que tu não sabes quando isso vai parar
comum, como no exemplo de Amanda não tem um movimento tipo uma asso- ou até onde vai chegar. Eu ainda acho
21. Existem situações em que o poder é ciação. Eu queria participar de um que a maior violência é a droga, porque
utilizado para controlar ou dominar os grupo. Nunca tem”. a droga leva a tudo. Tem briga, tem
mais “fracos”. Isso pode ocorrer tanto no A dimensão ação social, mesmo que morte. Ainda faz uns 4 dias atrás um
nível do poder público quanto da socie- não se efetive plenamente, é considerada matou o outro”.
dade civil, como, por exemplo, quando desejável pelos sujeitos, embora às vezes
há residentes violentos em uma comu- fiquem na expectativa de que um ter- DISCUSSÃO
nidade. Berenice 49 exemplifica uma ceiro tome iniciativa para implementá-la.
questão que envolve o poder público e a Isso é observado nas falas de Beatriz 20, O presente estudo mostrou que, na
fragilidade civil na área de residência, acima, e de Baltazar 23, quando se refere Cidade de São Leopoldo, o relato de
onde “moradores daqui, qualquer denún- às organizações como desejáveis: “Como ocorrência de discussão violenta e homi-
cia que fizer não resolvem [frente ao pú- na Vila Braz, eles já conversam, já fazem cídios foi cerca de 3 vezes maior nos lo-
blico], porque eles [a polícia, serviço pú- de tudo, mas aqui, aqui não. Se tivesse cais onde as pessoas referiam elementos
blico] levam o indivíduo [preso] e quando um clube de tudo, vôlei, futebol, gin- desfavoráveis, como baixa confiança e
chega a noite . . . está de volta. Aí, tu cana, essas coisas dia de semana, não iria menor controle social informal na vizi-
acaba o que? Arrumando um problema existir tanta coisa [violência] assim”. nhança, do que nos locais com caracterís-
pra ti, porque se descobre que foi tu, a po- Chama a atenção o fato de que os en- ticas favoráveis. A visão que permeia o
lícia não vai te defender. Então, a comuni- trevistados enfatizam que os mais envol- presente artigo é a de que o capital social
dade aqui nem se envolve”. Beatriz 20 vidos ou responsáveis por situações de é um bem coletivo, o qual está presente
tem uma percepção política semelhante, violência são os jovens do sexo mascu- nas estruturas e processos de bairros e vi-
pois, “o governo olha só para um lado da lino. Baltazar 23 diz que “a violência zinhanças. Estudos anteriores sugerem
cidade. Aqui fica sempre esquecido. Aqui aqui é muito forte. Aqui no beco, aqui que em zonas onde estão presentes a con-

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fiança entre vizinhos, o apoio social e o de idade na violência, o número de ho- suas redes de relacionamentos pessoais.
controle social informal a contribuição do micídios no Brasil passou de 13 186 em Por último, as ligações se referem às
capital social é maior, com diminuição 1996 para 17 312 em 2006, o que significa alianças com indivíduos em posições de
dos índices de criminalidade (21, 22). um aumento de 31,3% para essa faixa poder, particularmente poder sobre re-
Coleman e Putnam (9, 10) mostram etária (30). Um estudo da mortalidade cursos necessários para o desenvolvi-
que a confiança diz respeito aos elos que em adolescentes de 10 a 19 anos no Mu- mento social e econômico, podendo ser
se estabelecem entre familiares e amigos nicípio do Rio de Janeiro (de 1980 a 1994) caracterizadas como percepção política
através de valores comuns, produzindo mostrou que, do total dos mortos, 74,6% enquanto integração com outras comuni-
relações sociais mais cooperativas. Para tinham de 15 a 19 anos e 75,3% eram do dades (13, 14). Esses construtos apare-
Putnam (10, 11), a confiança tem a ver sexo masculino (40). O porte de armas e cem nas falas dos indivíduos e estão con-
com as características da organização so- o uso de drogas pode elevar a violência e templados na mensuração quantitativa
cial, das ações coordenadas e da coope- está influenciando o perfil de morbidade do capital social.
ração espontânea. Através da confiança e mortalidade da população mundial (4) Em uma visita ao setor de maior capi-
se desenvolvem as cadeias de relações e brasileira (2, 7, 30). tal social, e através dos dados obtidos nas
sociais, as quais dizem respeito também Quando algumas das pessoas que entrevistas, constatou-se que existe uma
ao bem público. A cooperação se eleva à participaram da pesquisa manifestam infraestrutura que favorece as mais varia-
medida que aumenta a confiança, e con- sentir-se à margem, no “canto dos esque- das formas de capital social, por exem-
sequentemente, parece haver aumento cidos”, referem-se a espaços geográficos plo: academia de ginástica na associação,
de capital social (20). que são também demarcações sociais e associação de bairro, clube de futebol,
Em relação a capital social e violência, morais. Nesses contextos, os processos clube de mães, escola aberta, escola par-
Sampson et al. (18) avaliaram a “eficácia sociais afetam a vida física, mental, so- ticular, escola pública, grupo de jovens,
coletiva” como a disponibilidade dos re- cial, cultural, econômica e emocional, igrejas (diversas confissões), local com
sidentes locais de intervir para o bem gerando morte e medo na comunidade atividades para crianças mais necessita-
comum e contra a violência em bairros (41). As análises sobre violência apontam das, local com orientação para pais com
de Chicago, Estados Unidos. Os autores para sentimentos de medo e insegurança filhos dependentes químicos, parque
concluíram que altos níveis de eficácia na população urbana em decorrência de com diversas atividades, rádio comunitá-
coletiva estavam fortemente relaciona- crimes violentos (38, 41). Por outro lado, ria, unidades de saúde e empresas com
dos a baixas taxas de violência, mesmo as intervenções multissetoriais com ati- ofertas de emprego. Por outro lado, no
após o controle de características indivi- tudes geradoras de capital social são setor de menor capital social, tais insti-
duais, como estrutura familiar, aspectos apontadas como inibidoras de atitudes tuições e oportunidades não foram rela-
socioeconômicos e tempo de moradia na violentas (42, 43). Assim, pode-se supor tadas. Para que o capital social manifeste
área. Estudos associando capital social — que a ausência de associação entre per- seus benefícios, são necessárias infraes-
medido através de indicadores de con- cepção política e violência referida é um trutura e redes sociais que englobem ne-
fiança interpessoal, cooperação mútua e reflexo da desatenção do setor público. É cessariamente o Estado enquanto poder
normas de reciprocidade — com crimi- possível pensar nessa ausência de asso- público e a sociedade civil (19, 44).
nalidade mostraram que a potenciali- ciação como um indicativo de falhas nas Os resultados encontrados no presente
zação do capital social em estados ameri- políticas públicas sociais e de segurança. estudo sugerem que quem mais buscava
canos estava associada com taxas Determinadas atitudes do Estado podem melhorias para seu local de moradia e
reduzidas de violência (19, 21, 22). Os re- decepcionar e afastar o povo da ação e possuía maior ação social referiu mais
sultados do presente estudo mostraram da participação política, gerando des- violências. O espaço da micropolítica é
que aspectos importantes para a redução prezo, perplexidade, cansaço, revolta e o espaço comunitário que, através das
das taxas de violência na área de re- descrédito. relações sociais, possibilita o empodera-
sidência seriam a presença de construtos Segundo Szreter e Woolcock (13), os mento dos sujeitos e a construção de
tais como confiança entre vizinhos, principais tipos de capital social seriam redes sociais. Isso indica que quem parti-
apoio social e controle social informal. a tríade bonding, (vínculos), bridging cipa mais tende a ter um grau de empo-
O perfil das áreas residenciais têm-se (conexões) e linking (ligações). Os auto- deramento maior, pois a participação
modificado nas últimas décadas no Bra- res destacam que as concepções teóricas permite um olhar crítico da realidade,
sil. Nas cidades atuais, as pessoas se de capital social deveriam contemplar a um saber pronunciar-se a respeito de
cruzam, mas se desconhecem, gerando tríade. Os vínculos referem-se aos rela- questões sociais (44) como, por exemplo,
relações superficiais. Esse viver nas cida- cionamentos horizontais próximos entre a violência. É possível afirmar, nesse sen-
des tem implicações na vida das pessoas indivíduos ou grupos com características tido, que o empoderamento seria a pri-
e nos determinantes sociais que operam demográficas similares, relações entre meira condição para que a pessoa se
através de diversos processos. A urbani- membros da família e amigos próximos. aproprie da importância do viver em
zação acelerada não propiciou a difusão Esses vínculos contribuem para a quali- sociedade. O sujeito se reconhece perten-
de práticas sociais de tolerância e civili- dade de vida através da promoção do cente à comunidade, interage com outros
dade nos espaços urbanos. A ausência apoio e entendimento mútuo. As co- sujeitos e favorece a construção da capa-
da socialização e de negociações tornou nexões referem-se a redes mais amplas cidade pessoal voltada para o social. Por-
a violência uma característica complexa de relacionamentos com outros indiví- tanto, exerce um papel ativo voltado ao
do mundo urbano (38, 39). duos e comunidades e são vitais para bem comum, à construção de uma socie-
No que se refere ao envolvimento de ligar indivíduos e comunidades a recur- dade mais justa e consequentemente à
adolescentes e jovens entre 15 a 24 anos sos ou oportunidades que estão fora das redução da violência (44).

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Investigación original Vial et al. • Violência urbana e capital social

O comprometimento coletivo seria o violência. Isso possibilitaria a realização maneira intersetorial e interinstitucional
fortalecimento dos laços de respeito, to- de análises multivariadas com controle de (46), organizar grupos já existentes, pro-
lerância e reconhecimento mútuo entre outras exposições que poderiam influen- mover a formação de associações para
indivíduos, grupos e setor público. É o ciar a violência. Assim, para elucidar as alcançar metas instrumentais e criar as
rompimento do individualismo. Nesse associações aqui relatadas, é essencial a re- condições para uma cooperação mais
sentido, o comprometimento dos in- alização de estudos longitudinais que pos- ampla (47) são ações necessárias para
divíduos para com a comunidade e o sam avaliar o efeito do capital social ao essa redução. Essas ações podem contri-
bem comum, através de ações políticas, longo do tempo. Além disso, o achado de buir para que os indivíduos tenham a
poderia levar à construção de redes e baixa ação social como proteção para possibilidade de viver com tranquili-
conexões capazes de transformações so- violência também pode ser resultado de dade (41), assegurando seus direitos e
ciais e políticas significativas (44). confusão residual, ou seja, é possível que potencializando sua qualidade de vida.
Neste estudo, os dados qualitativos os locais com baixa ação social sejam O capital social é um instrumento bá-
mostram que os sujeitos se afastam da aqueles que apresentam melhores con- sico na qualificação do viver e conviver
participação por não perceberem como dições socioeconômicas e, portanto, me- em sociedade (44). Por englobar constru-
resolutivas as atuações de serviços públi- nor violência. Vale ainda ressaltar que os tos que remetem a uma perspectiva in-
cos. Muito embora o sujeito ainda não possíveis efeitos negativos relacionados terdisciplinar, a utilização do capital so-
mostre uma corresponsabilidade com o ao capital social, que poderiam favorecer a cial pode contribuir para a promoção de
bem público, isso não significa que não violência, não foram avaliados no pre- políticas de saúde, para a melhoria da as-
refira a necessidade da presença atuante sente estudo, sendo, portanto, necessários sistência e a redução da violência (22, 48,
da segurança pública e do poder público novos estudos que abordem essa questão. 49). O presente estudo corrobora as aná-
em prol da comunidade. Segundo Tava- Dadas as características da população lises encontradas na literatura, de que a
res dos Santos (45), as questões de e a proposta metodológica do estudo, utilização e a operacionalização do con-
violência e segurança que permeiam a podem ser feitos outros questionamen- ceito de capital social podem contribuir
percepção política resultam da ausência tos: de que forma as organizações e o Es- para a promoção do bem comum e para
de resultados da política de segurança tado contribuem para o fortalecimento e a redução da violência.
pública no sentido de reduzir a violên- a construção do capital social? De que
cia. Por conseguinte, os indivíduos estão maneira o poder público poderia fomen- Agradecimentos. EAV recebeu bolsa
cada vez mais vulneráveis. tar a ação social, o exercício da cidadania de mestrado do Programa de Suporte à
Uma das limitações da abordagem e o empoderamento dos sujeitos? Quais Pós-Graduação de Instituições de Ensino
quantitativa é a possibilidades de causali- as melhores intervenções para fomentar Particulares (PROSUP/CAPES). JRJ e
dade reversa. Tanto o capital social pode- capital social e assim reduzir a violência? MTAO são bolsistas de produtividade
ria reduzir níveis de violência, como Considerando que a violência consti- em pesquisa do Conselho Nacional de
a violência poderia reduzir os níveis de ca- tui um conjunto de agravos complexos e Desenvolvimento Científico e Tecnoló-
pital social. Por exemplo, a baixa con- está entre as principais causas de morte gico (CNPq). MPP recebeu apoio finan-
fiança entre vizinhos pode ser tanto causa nas sociedades do mundo moderno, faz ceiro do CNPq (processos 478503/2004-0
como consequência de um evento vio- diferença ter uma comunidade organi- e 481410/2009-0) e da Fundação de Am-
lento. Outra limitação é a inexistência de zada e participativa com vistas à redução paro à Pesquisa do Rio Grande do Sul
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ABSTRACT Objective. To study the relationship between reported urban violence and social ca-
pital in a medium-sized city in the state of Rio Grande do Sul, Brazil.
Methods. The study was carried out with adults living in the urban area of São Le-
Urban violence and opoldo. For the quantitative analysis, a structured questionnaire was answered by
social capital in a southern 1 100 individuals older than 20 years of age and in charge of the household at the mo-
Brazilian city: a quantitative ment of the interview. Violence was evaluated based on the reports of violent argu-
ments, theft or robbery, drug-related events, and homicides in the neighborhood over
and qualitative study the previous six months. Social capital was defined based on the reported degree of
trust among neighbors, informal social control, opinions on the actions of government
and politicians, and social action in the neighborhoods. For the qualitative analysis,
11 participants residing in the area with the lowest or with the highest social capital
answered a semi-structured interview.
Results. People living in low-trust neighborhoods reported higher rates of homicide
(OR = 2.82; 95%CI: 1.67– 4.74; P > 0.001) and violent arguments (OR = 2.56; 95%CI:
1.82–3.59; P > 0.001) than people living in high-trust neighborhoods. Violent situa-
tions were reported most often in neighborhoods with low social capital, in which a
lack of government attention was also reported.
Conclusions. In neighborhoods with the highest social capital, the prevalence of re-
ported violence was lower. Priority should be given to public policies that promote
social capital for the common good.

Key words Violence; qualitative research; cross-sectional studies; social medicine; Brazil.

Rev Panam Salud Publica 28(4), 2010 297

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