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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE FILOSOFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

IGOR DE SOUZA CESÁRIO

TENSÃO ENTRE A VISÃO INTUITIVA E CONTRAINTUITIVA DA


FELICIDADE: A visão do senso comum e a tentativa aristotélica em resolver o
problema

GOIÂNIA
Fevereiro, 2019
Quando analisamos o antigo conceito de “eudaimonia”, percebemos que este tem um
sentido bem distante do sentido comumente utilizado para o termo “felicidade”, que seria uma
tradução aproximada para o termo grego, isso acaba demonstrando um certo conflito entre a
noção intuitiva e ordinária que se tem por felicidade, e a noção filosófica e não intuitiva que o
termo “eudaimonia” assumiu ao passar do tempo.
De certo modo exite uma espécie de consenso em relação a considerar a felicidade
como um fim em si mesma, ou em outras palavras, como um fim final. Mesmo existindo isso
que seria como um consenso, há outra coisa que gera dissenso, que é referente ao conteúdo da
felicidade, em que consiste a felicidade.
Annas defende que um fim em si mesmo, ou um fim final, deve primeiramente ser
alcançado através da virtude, que por sua vez é algo moral, que deve ser exercitado para em
certa medida treinarmos nossos sentimentos e emoções. Segundo, deve haver uma
preocupação com os outros, além do agente.
Um debate em especial ganhou proporção conforme se aprofundou mais nele, a saber,
a questão do papel da atividade virtuosa e das virtudes na constituição da felicidade, de que
modo e que papel deveriam assumir.
A ideia de felicidade para a maior parte das correntes filosóficas e também para o
senso comum, aceita que felicidade seja algo adquirido durante uma vida, não é algo
simplesmente momentâneo, pelo contrário, tem de ser algo objetivado e alcançado durante o
período de vida do agente.
Mas aqui a noção do senso comum esbarra nas noções filosóficas, como a visão
estoica por exemplo, pois para o senso comum, a felicidade representa uma vida bem-
sucedida, que exprime os sucessos do agente, tais como riqueza, prazer e honra.
Os estoicos por um lado defendem que a atividade virtuosa é suficiente para a
felicidade, não dependendo essa de bens externos, posição que entrará em rota de colisão com
a posição aristotélica.
Aristóteles por sua vez, defende a visão de que as virtudes são essenciais para a
felicidade, contudo, bens externos também influenciam enormemente na busca pela
eudaimonia. Aristóteles defende uma visão que concede mais aos requisitos intuitivos do
senso comum, tentando de alguma forma conciliar os requisitos intuitivos aos não intuitivos,
o que acaba gerando toda a discussão.
Isso é ainda mais interessante se observarmos sob o ponto de vista de Annas1 quando
diz: “All ethical theories, after all, start from what we intuitively accept in morality and, in the
course of explainingthis, subject it to criticism and revision.”, ou seja, parte-se de uma
concepção do senso comum, comumente aceita e trabalha-se em cima disso, aprimorando e
tentando concertar possíveis erros da visão comum.
A ideia de felicidade parece ser o fim final para o senso comum, pois a buscamos
somente por ela mesma, quando buscamos dinheiro, buscamos para atingir um fim, do mesmo
modo a honra, a fama, entre outros, já a felicidade basta por si só.
Porém a autora (Annas) defende que partimos de uma visão intuitiva sim, mas que ao
começarmos a refletir, acabamos mudando nossas concepções de maneira marcante, tanto em
relação aos nossos valores, como quanto a nossas prioridades, e isso é algo natural, uma vez
que nos propomos a uma reflexão ética. Buscamos a reflexão por causa do descontentamento
em que estamos inseridos, do contrário, não teríamos esse impulso inicial.
Annas busca defender que a maior parte da visão que os filósofos forjam sobre a
felicidade, de certo modo partem de uma visão comum e buscam posteriormente, aprimorá-las
de um modo revisionista, uma dessas visões parece bem interessante, a saber, a visão
aristotélica.
Aristóteles, diferentemente dos estoicos, vai tentar algum tipo de reconciliação entre
a concepção corriqueira, essas visões iniciais do senso comum, e do outro lado, a visão
contra-intuitiva, que se refletem nos resultados alcançados através da reflexão filosófica.
No que tange a teoria aristotélica, ele traça uma distinção entre bens internos do
agente e bens externos, o que em última instância se baseia sobretudo na distinção entre corpo
e alma, isso por sua vez se reflete no limite entre o que o agente pode controlar e o que não
pode, ou em outras palavras, quais coisas o agente pode escolher e quais coisas são-lhe
atribuídas por forças aquém do próprio indivíduo.
Podemos buscar as virtudes através da reflexão filosófica e ética, isso cabe apenas ao
agente, sendo um tipo de bem interno, bens internos são os bens da alma e do corpo (por
vezes somente os bens da alma), mas por outro lado, não podemos buscar a riqueza da mesma
forma, nem um bom nascimento, ou coisas do tipo, coisas que escapam à vontade do próprio
agente.
O que em última instância define a visão aristotélica do problema, ou seja, essa
tensão entre bens internos e bens externos ao agente e quais as implicações disso. O que como

1 ANNAS, 1993, p. 332.


veremos, acaba fazendo com que os aristotélicos tenham que pagar inúmeros pedágios, nessa
empreitada de acomodar os requisitos intuitivos na teoria eudaimonica.
No tocante a noção de felicidade corriqueiramente aceita na vida cotidiana, ela pode
ser entendida de dois modos distintos segundo Annas (1993, p. 365), o primeiro modo é o que
a autora chama de teórico, nesse caso a felicidade precisa cumprir dois requisitos, deve ser
buscada por si só, sem ser um fim para outra coisa (deve ser um fim em si mesma, sem visar
nada além de si própria) e deve ser contínua, ou melhor dizendo, deve ter capacidade de ser
autossuficiente, durar por toda a vida e conter moralidade.
O segundo modo é o intuitivo, que por sua vez pode ser entendido como um
complexo de coisas distintas, mas que pode ser resumido como o deleite das coisas agradáveis
e boas da vida (honra, riqueza, saúde, etc.) coisas que tornariam a vida de alguém mais fácil e
suportável talvez. A visão do senso comum, concede grande importância para a busca de bens
externos ao agente, algo que Aristóteles vai tentar acomodar em parte em sua teoria.
Assim, o requisito intuitivo de certo modo está contido no teórico (pelo menos em
relação a teoria aristotélica), uma vez que o teórico assume que o estado de felicidade deve ser
duradouro, autossuficiente, porém, a felicidade segundo Aristóteles não deve ser baseada em
bens externos ao agente, pois este deve ser autossuficiente maximamente em relação ao que
leva à felicidade, pois se assim não for, será um refém do devir, um refém das coisas que não
controla, um servo dos prazeres como Aristóteles diz.
Isso gera uma enorme tensão, sobretudo para Aristóteles, uma vez que a felicidade
parece ter que ser algo autossuficiente e totalmente composta por bens internos ao agente,
pois de outra forma, o agente seria refém das coisas externas, porém, isso parece igualmente
estranho a fazer uma defesa de uma visão de felicidade que vai na contramão do que entende-
se normalmente por felicidade, pois soaria muito insólito aceitar que alguém pode ser feliz
mesmo sendo doente e pobre por exemplo, como talvez os estoicos aceitariam.
O senso comum tem uma enorme dificuldade para aceitar isso, pois é deveras contra
intuitivo pensar dessa forma, uma vez que alguém debilitado e miserável por exemplo, é
limitado por esses problemas externos.
Aristóteles busca arrumar um lugar para os bens externos dentro de sua teoria,
tentando conciliar de alguma forma o requisito intuitivo do senso comum, com a visão
filosófica que concede bastante às virtudes.
Para entender melhor a visão aristotélica sobre as virtudes vejamos o que ele diz:
But [virtue] also is too incomplete [to be a final end]. For it seems to be possible to
be asleep while possessing virtue, or to be inactive all one's life, and also to suffer
evils and the greatest misfortunes; and someonewith a life like that no one would
call happy, unless they were defending a thesis at all costs. (Ética à Nicômaco, 1095
b §31 – 1096 a §2, apud ANNAS, 1993, p. 366)
Em relação a virtude, Aristóteles defende uma visão distintamente diferente da do
senso comum, enquanto o senso comum costuma conceber o prazer como uma coisa só tanto
para pessoas virtuosas, tanto para pessoas encraticas e viciosas, Aristóteles por outro lado
acredita que há uma diferença consistente entre o que seria prazeroso para uma pessoa
virtuosa e para uma não virtuosa, de modo que cada pessoa valoriza algo em sua atividade,
por exemplo, para uma pessoa virtuosa e corajosa, ela certamente teria prazer em executar
uma ação que envolvesse coragem, mesmo que isso fosse arriscado, enquanto que alguém
covarde não valorizaria a mesma ação.
De modo que o prazer para Aristóteles parece estar diretamente relacionado com o
caráter moral do indivíduo, pois enquanto uma pessoa virtuosa sente prazer por coisas
virtuosas, uma pessoa viciosa sentirá prazer por algo que poderá fazer mal a ela própria, o que
uma pessoa que executa a atividade da virtude jamais aceitaria como prazerosa.
A pessoa virtuosa para Aristóteles é a pessoa que executa atividades virtuosas por se
sentir bem ao fazer, e não o faz buscando um fim que não a própria atividade virtuosa, e isso
causa-lhe prazer.
Não basta o agente executar uma ação virtuosa para ser alguém virtuoso, ele deve
fazer algo virtuoso porque desenvolveu-se afetivamente e intelectualmente, a ponto de não
executar algo buscando um fim, deve executar algo virtuoso por ser virtuoso, simplesmente
por sentir-se bem fazendo aquilo.
Enquanto que o vicioso sente prazer muito mais por coisas momentâneas, que lhe
causam um bem-estar presente, mesmo que a longo prazo aquilo possa vir a afetá-lo, física ou
psicologicamente, mas age ainda assim desse modo.
O encrático por sua vez, pode até executar uma atividade virtuosa, mas não por se
sentir bem necessariamente ao fazê-la, ele faz buscando um fim que não a própria virtude,
pode evitar matar alguém por exemplo, não por achar que é errado, mas sim porque pode ir
preso, ou seja, visa um fim, ao contrário do indivíduo virtuoso.
Apesar de Aristóteles entender que as ações virtuosas devem ser buscadas por si só,
de certo modo é como se elas acabassem acrescentando algo para a felicidade, é como se
bastassem por si só porém também acrescentassem algo à felicidade.
Acrescentando ao fato do autor defender a virtude como algo constituinte da
felicidade, ele não acredita que apenas isto baste, uma vez que se alguém é um agente
virtuoso, mas vive doente ou mesmo miseravelmente sem dinheiro, para o filósofo não seria
algo que se pudesse chamar de felicidade.
Cícero tem uma passagem em seu livro Tusculanae Disputationes, em que explica
Aristóteles e diz:

Everyone thinks that the happy life is pleasant, and weaves pleasure into happiness,
and this is reasonable; for no activity is complete which is hindered, and happiness
is complete. Hence the happy person has need of the goods of the body and external
goods and luck, so as not to be impeded in these ways. Those who assert that the
person broken on the wheeland falling into great misfortunes is happy, if only he is
good, are, willingly or unwillingly, talking nonsense. (CÍCERO, v. 24, p. 1153b,
§14-25, apud ANNAS, 1993, p. 373).

Aristóteles aceitaria como alguém feliz, um indivíduo que possuísse um conjunto de


coisas, como ser virtuoso, possuir bens corpóreos, bens externos ao agente, coisas como saúde,
uma certa capacidade econômica, sorte e outras coisas. Apesar de a virtude ser fundamental
para a felicidade, ela por si só não basta para a felicidade, há outras coisas que influenciam e a
complementam.
Aristóteles considera a ideia de que a virtude basta para a felicidade demasiada
contra-intuitiva, de modo que tenta resolver esse problema e conciliar a visão do senso
comum, com essa visão estoica da felicidade.
Aqui há outro ponto onde Aristóteles tenta juntar as concepções do senso comum e
teorias mais rebuscadas, como por exemplo as concepções estoicas, para eles, a virtude basta
para a felicidade, o que Aristóteles não vai aceitar, uma vez que isso seria como aceitar que
alguém, mesmo passando uma vida com problemas sérios de saúde, vivendo miseravelmente
sem dinheiro e sendo assassinado por um infame bandido, pode ter alcançado a felicidade por
simplesmente ser alguém virtuoso.
Nesse aspecto, Aristóteles prefere abraçar o requisito mais intuitivo de felicidade,
pois o senso comum não aceitaria uma vida tal como descrita acima como um bom exemplo
de felicidade, enquanto, as opções contra-intuitivas, principalmente a abraçada pelos estoicos,
seguiria pelo caminho contrário, pelo menos nesse caso.
Aqui o autor busca algo próximo a um meio termo entre a visão do senso comum e a
visão estoica, pois nem pode ser considerado como felicidade alguém que vive apenas
regozijando dos prazeres terrenos, nem muito menos alguém que seja virtuoso mas que porém,
vive limitado financeiramente ou fisicamente, e que por ventura venha a ser assassinado por
alguém.
Outra noção interessante que o autor defende diz respeito a sorte, para ele uma
pessoa pode ser virtuosa não apenas através da atividade intelectual, ela pode também ser
virtuosa através da sorte, e não apenas uma sorte esporádica, uma sorte que de fato influencie
bastante nas ações de um agente.
O autor inclusive traça uma distinção entre diferentes tipos de sorte, para que caiba
em sua teoria uma dessas concepções.
Há casos (um tipo de sorte) onde ocorre de a sorte ocasionar em uma ação virtuosa,
mas o que Aristóteles defende é que uma pessoa que nasce sortuda, pode sim por esse motivo
ser uma pessoa virtuosa, e não é como se os deuses o favorecessem, nem como se a pessoa
atingisse um estado de “sorte” através da inteligência, pois isso não seria necessariamente
sorte.
Há uma passagem onde o autor tenta explicar de que natureza seria essa sorte de que
fala em seus escritos e que se serve enormemente:

Are there not impulses [hormai] in the soul, some of which come from reasoning,
and some from non-rational desire [orexis]? And the latter are prior, at least in nature.
If the desire for the pleasant, brought about through appetite [epithumia], is natural,
so also it will be natural for desire to go for the good in every case. If, then, some
people havegood natures (just as untrained musical people who have no
understanding of singing nevertheless are naturally good at it) and are impelled
without reason in nature's way, and feel desire [epithumousi] then and there, as
theyought and for what they ought and when they ought—then these people will
succeed, evenif they happen to be foolish and irrational, just as the others will sing
well, although unable to teach what they do. Therefore it will be by nature that lucky
people are lucky. (Ética à Nicômaco, 1247 b §18 - 28, apud ANNAS, 1993, p. 366)

Essa sorte portanto, é devida à natureza, e isso segundo o autor e Annas (1993, p.
375), ocasiona a regularidade. É um tipo de sorte dentre outras distinções do autor.
A sorte pode ser de alguns tipos, dentre eles há a do tipo que faz com que um
indivíduo alcance algo bom, mesmo que não almejasse isso. Nesse caso ocorre que a sorte é
algo imprevisível, e ocasional.
Pode ser também do tipo que faz com que o agente tenha bons desejos, fazendo-o
desejar algo virtuoso e bom, mesmo que não tenha se servido da razão e da intelectualidade
para isso. Essas pessoas que com sorte conseguem ser pessoas virtuosas, possuem um tipo de
virtude virtual, uma vez que não entendem o porquê do que fazem, mas o fazem por sorte, e
isso já é o bastante para serem virtuosos segundo as ideias aristotélicas.
Nesse ponto há algo de interessante na visão aristotélica, se alguém não for agraciado
com o dom da sorte, não deve reclamar disso, pois ainda possui capacidades de atingir a
virtude e a felicidade independentemente de ter sorte ou não, contudo, se alguém nasce com
sorte, ele acredita que essa pessoa possa agradecer a esfera divina por isso, e não é como se os
deuses pudessem ser cobrados por isso, apenas agradecidos.
Aristóteles defende que os deuses não prejudicam ninguém se quer, apenas ajudam
alguns e isso para ele não tem problema algum, uma vez que mesmo assim, todos são capazes
de alcançar a eudaimonia por si mesmos.
É como se os deuses dessem pequenos empurrões em alguns para que alcancem a
linha de chegada, mas não derrubam ninguém para ajudar outra pessoa, ou seja, ninguém é
prejudicado, mas alguns são agraciados com uma pequena ajuda.
Em relação a nascer com condições de desenvolvimento mais ou menos apropriados,
Aristóteles parece não dar muito crédito a questão situacional do nascimento, é como se
nascer ou não em uma família abastada por exemplo, não exercesse muita influência no
resultado final, porém isso não quer dizer por sua vez, que Aristóteles negue a importância
dos bens externos para a realização do indivíduo na busca pela eudaimonia.
O nascimento não é algo que Aristóteles vai considerar como muito importante, pois
teoricamente pelo menos, todos podem durante a vida conseguir meios externos minimamente
razoáveis até onde parece, para contribuírem para a felicidade.
Nesse ponto o autor diverge muito com concepções como as defendidas pelos
estoicos, estes por sua vez defendem que bens externos não são importantes para a felicidade
de forma alguma, está é independente de bens externos, apenas bens morais, virtudes são
necessários para a felicidade. Aristóteles novamente parece aqui abraçar parte dos requisitos
intuitivos.
Autores como John Cooper, vão defender que no entanto, os bens externos não
devem ser buscados por si mesmos, eles apenas servem de modo instrumental, eles
contribuem para o exercício da virtude, apesar de que em certos casos a virtude só pode ser
exercida com a contribuição de bens externos, como ser generoso e doar aos necessitados se
não se tem nem para si? Tem mais a ver com esses bens externos propiciarem circunstâncias
favoráveis à prática da virtude, do que ser indispensável para ela.
A busca por bens externos só faz sentido enquanto contribuir para a atividade da
virtude, mas não são necessários para a felicidade, são apenas um instrumento que podem
contribuir para a atividade virtuosa.
A perda dos bens externos por outro lado, só é algo ruim por de certo modo
“atrapalhar” a atividade virtuosa (essa concepção acaba gerando inúmeros problemas,
sobretudo em como uma tendência intuitiva de Aristóteles gera resultados contra-intuitivos)2.
Por outro lado, há pensadores como Terence Irwin e Martha Nussbaum, que
defendem o que Annas (1993, p.381) chama de “visão de uso externo” (external-use view),
que seria o entendimento dos bens externos como auxiliadores de uma vida de atividade
virtuosa preferível, porém eles tem também seu próprio valor intrínseco.
Nessa visão, se um indivíduo possui menos bens externos, ele terá mais dificuldade
em alcançar a felicidade, o que o não impede com certeza, porém dificulta sua caminhada
rumo a felicidade.
Essa concepção gera um outro problema, se os bens externos contribuem para a
felicidade, então ter mais bens externos como riqueza, contribui para que alguém seja mais
feliz que outro? Se sim, então a felicidade não pode ser completa e autossuficiente, como
parece defender Aristóteles. E se você perder bens externos então torna-se menos feliz, como
se existisse gradação para felicidade?
Aristóteles ao tentar conciliar a visão intuitiva típica do senso comum, com a visão
filosófica (contra-intuitiva) e em certa medida acadêmica, no que diz respeito ao conceito de
felicidade (eudaimonia), acaba entrando em um roseiral bem espinhoso, pois ambas as visões
possuem teses que parecem bem contrárias entre si, de modo que não aparentam serem
conciliáveis.
Delimitando de forma mais concisa a posição aristotélica podemos entendê-la da
seguinte forma: a felicidade (eudaimonia) deve ser completa e autossuficiente, e para alcançá-
la deve-se ser alguém virtuoso, porém somente a atividade virtuosa não torna ninguém feliz
por si só, somente isso não é suficiente para se chegar à felicidade, precisa-se de algo mais,
que seriam os bens externos.

2 ANNAS, p. 378-381. Annas analisa como a perda de bens externos pode abalar essa concepção, gerando
resultados contraintuitivos diversos e sérios.
Mas apesar de defender isto, Aristóteles não consegue especificar qual seria
precisamente o papel dos bens externos para a felicidade, se haveria de ter um mínimo
necessário para a felicidade, apesar de parecer que ele aceitaria isso, não se sabe ao certo.
Essa concepção de Aristóteles vai entrar em problema quando se tenta conciliar a
visão intuitiva com a não intuitiva, pois tem problemas bem complexos envolvidos,
problemas de encaixe, sobretudo quando Aristóteles defende que a felicidade é completa e
autossuficiente, porém ao mesmo tempo defende que para alcançá-la deve-se possuir bens
externos mas não diz em qual quantidade, fazendo com que pareça que quanto mais bens
externos o agente possuir, mais felicidade ele terá, e isso é problemático por si só, uma vez
que se a felicidade é completa, ela não pode aceitar gradações.
A felicidade para Aristóteles não é algo que o agente possa alcançar simplesmente
por suas próprias capacidades internas, dependem em última instância de bens externos ao
agente, de modo totalmente contingente, além de poderem ser agraciados com a sorte,
também dependem de bens externos como as riquezas por exemplo.
Annas afirma que a origem deste interminável debate consiste no fato de que nossa
visão comum sobre a questão da felicidade parece conter tensões irreconciliáveis, uma vez
que aristotélicos e estoicos não parecem muito perto de algo parecido com um consenso. O
mais próximo de um consenso entre ambas as posições, consiste em ambas as visões
aceitarem as virtudes como parte fundamental da felicidade, porém quando a discussão recai
sobre o papel dos bens externos nisso tudo, o consenso logo se esvai.
Esse é um bom exemplo de como a reflexão pôde aumentar mais a divergência sobre
o tema, apesar de Aristóteles possuir em seus escritos uma atitude “apaziguadora”, aqui ela
não surtiu efeito algum além de aprofundar ainda mais o problema da felicidade e do papel
das virtudes na busca pela eudaimonia.
Decorridos mais de dois milênios de discussões acerca disso, ainda hoje não se há
um consenso relativo a esse problema da felicidade, ainda prevalecendo visões conflitantes
entre si. Aristóteles ao tentar conciliar o senso comum e a visão intuitiva com a visão
filosófica e contra-intuitiva, não obteve êxito em sua empreitada, apenas acabou
aprofundando ainda mais um abismo que já era profundo e largo por si só.

Referências

ANNAS, J. The Morality of Happiness, Nova York: Oxford University Press, 1993.

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