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AMBIENTAL
(*) Valéria Cress Gelli, pesquisadora científica, Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral
Norte (Centro do Pescado Marinho, do Instituto de Pesca), da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo, setembro 2015
De acordo com a FAO (2014), o Brasil produziu 700 toneladas de macroalga fresca em 2012.
Entretanto, esta produção pode estar superestimada pelo desinteresse e abandono dos
produtores dos cultivos comerciais nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, em
consequência das restrições das legislações ambientais desses estados, dos preços baixos
praticados pelas indústrias (R$ 2,80/kg macroalga seca ou R$ 0,25/kg de macroalga fresca),
assim como dos problemas de infraestrutura e técnicas de manejo.
A macroalga ‘K. alvarezii’ foi introduzida no Brasil em 1995 por iniciativa da USP e da Secretaria
de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto de Pesca, com a
finalidade de realizar estudos sobre sua biologia e técnica de cultivo, visando mitigar a
exploração dos bancos naturais da macroalga nativa ‘Hypnea musciformis’ (fonte de
carragenana) e suprir as crescentes demandas por alga importada, assim como pelo produto
carragenana propriamente dito (Oliveira, 1990; Paula et al., 1998; Paula et al., 2002). Segundo
Paula et al. (1998), do tetrasporófito (talo filamentoso de algas rodofíceas) original de
coloração marrom, introduzido em 1995, surgiram espontaneamente os tetrasporófitos
vermelho e verde, que foram cultivados por propagação vegetativa. Por possuir alta
plasticidade, outros diferentes tetrasporófitos foram surgindo replicados, dando origem a 11
diferentes tipos, que, ao longo deste texto, serão denominados ‘linhagem’.
De acordo com Hayashi (2007), vários estudos com a espécie ‘K. alvarezii’ foram realizados
visando: sua introdução responsável no Litoral Norte de São Paulo, envolvendo aspectos
reprodutivos e biológicos em ambiente marinho (Bulboa, 2001; Bulboa e Paula, 2005);
aspectos biológicos em condição de laboratório (Paula et al., 2001); aspectos da tecnologia e
bioecológicos do cultivo em ambiente marinho (Paula et al., 2001; Paula et al., 1998; Paula et
al., 1999; Paula et al, 2002; Paula e Pereira, 2003); cultivo integrado com camarões e
mexilhões (Lombardi et al., 2001a, 2001b); aproveitamento e produção da carragenana
(Hayashi, 2001; 2007; Hayashi et al., 2007a); e seleção de linhagens da macroalga em
laboratório para cultivo (Paula et al., 1999), dentre outros.
Uma das preocupações frente a propostas de cultivo de organismos não nativos consiste no
risco de bioinvasão. A este respeito, Reis (2007) afirma que o risco de invasão da macroalga ‘K.
alvarezii’ pode ser considerado baixo. Paula et al. (1998) afirmam que a invasão de ‘K.
alvarezii’ no ambiente natural da costa paulista é improvável, pois os clones não produzem
esporos. As estruturas masculinas são difíceis de ocorrer no ambiente e, quando isso ocorre,
são geralmente estéreis, não tendo sido, também, encontradas em plantas cultivadas (Bulboa,
2001; Ask e Azanza, 2002). Os espécimes femininos foram considerados inviáveis por Paula et
al. (1999). Estudos de biologia molecular constataram a ocorrência de espécimes
tetrasporofíticos (Zuccarello et al., 2006), porém, em espécies cultivadas normalmente, não
são reconhecidos tetrasporófitos, que podem produzir tetrásporos, embora estes sejam
raramente viáveis, mesmo em condições de laboratório (Ask e Azanza, 2002; Paula et al.,
1999).
Grande parte de todos esses estudos embasou tecnicamente o IBAMA na emissão da Instrução
Normativa no 185, de 22 de julho de 2008, que permite sua introdução e cultivo na região
entre Ilhabela (SP) e Baía de Sepetiba (RJ). Cabe ressaltar que todas as áreas propícias para
implantação de maricultura estão dentro da Unidade de Conservação - Área de Proteção
Ambiental Marinha do Litoral Norte, criada pelo decreto 53.525, de 8 de outubro de 2008, com
a proposta de estabelecer normas específicas sobre o cultivo da alga em seu Plano de Manejo
ou através de resoluções específicas (Piatto, 2012).
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