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o Novo Testamento
Muitos teólogos como Bultmann tem afirmado que existe uma descontinuidade entre
o Antigo Testamento e o Novo Testamento, seria isso correto? Não somente
teólogos liberais como Bultmann[1] negam a continuidade da revelação e sua
progressividade na Escritura, como também teólogos ortodoxos que abraçam o
dispensacionalismo. É comum no meio evangélico a afirmação que o Antigo
Testamento foi dado apenas para os judeus e o Novo Testamento é para a igreja!
Outros afirmam que a Lei é do Antigo Testamento e a graça pertence ao N.T., seria
isso correto? Se assim fosse, como os crentes da velha dispensação foram salvos após
a Queda? Foi por obediência a Lei? Se for, então o homem após a Queda pode
obedecer perfeitamente a Lei? Se pode, logo a salvação por obras e não por graça!
Não é tão simples como se imagina esses aspectos.
Creio que não, porque não existe descontinuidade da revelação progressiva entre os
dois testamentos. Apenas o liberalismo e dispensacionalismo advoga essa separação que
acarreta muitas interpretações erradas do texto bíblico e desconsidera a revelação
progressiva e naturalmente o Mitte.
Sobre esse tema de unidade e progressividade da revelação nas Escrituras, Arthur W. Pink
afirma:
O gráfico abaixo é do livro do Palmer Robertson sobre a relação dos vários períodos
da aliança apresentada nas Escrituras:
O Palmer explica cada fase da aliança, dizendo que:
Existem elementos do Antigo Testamento que não tem mais continuidade no Novo
Testamento por terem encontrado em Cristo, na sua primeira vinda, o seu cumprimento total,
como Paulo diz em Colossenses 2. 16-17: Ninguém, pois, vos julgue por causa da comida e
bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das
cousas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo. Tudo isso era sombra das coisas que
haveriam de vir! Que coisas? As leis cerimoniais do Antigo Testamento!
Existe uma diferença entre “Lei” e “Pacto”, e essa distinção precisa ficar clara.
A Lei é a vontade revelada de Deus que se torna obrigatória o seu cumprimento, aplicando
ao transgressor as penalidades, mas se for cumprida, não serão dados direitos ou privilégios.
Se você obedecer às leis de trânsitos, não receberá uma placa do Detran premiando por sua
expendida obediência! Você apenas fez o que era obrigatório fazer! Contudo, se desobedecer
a essas leis, receberá punições proporcionais à transgressão. Esse é o sentido da Lei de Deus
revelada para o homem.
O Pacto estabelece e utiliza de leis, contudo, ao ser obedecido concede promessas de acordo
com o que foi prometido. Se todas as condições impostas pelo Pacto forem cumpridas, as
bênçãos decorrentes desse cumprimento são ofertadas. Deus fez um Pacto conosco em
Cristo, e por causa da obediência do Redentor, todas as promessas nos serão dadas na
Consumação. Já desfrutamos de muitas dessas bênçãos, mas ainda não totalmente (Lc 18.
29-30).
A Lei Civil
A lei civil, porque Israel tinha um governo teocrático, onde deveria servir de exemplo para as
outras nações, mas agora o Israel de Deus é a Igreja, composta de pessoas de todas as
línguas e nações, que são governadas pela realidade do Reino de Deus no coração de cada
cidadão dessa nação santa (1 Pe 2.9)!
Contudo, a Lei Civil era governada pela Lei Moral. As punições estavam de acordo com essa
transgressão moral. Vejamos alguns exemplos:
Lei Cerimonial
A Lei Cerimonial foi instituída e revelada progressivamente logo após a Queda, quando Adão
quis tampar sua nudez com folhas de figueira, e Deus sacrificou um animal e o vestiu,
apontando com isso a justificação por meio de Cristo (Gn 3. 7, 21). Com Moisés essa Lei tomou
uma forma cerimonial para a nação, que deveria sacrificar crendo na promessa redentora em
Cristo, como declarou Davi na sua confissão de pecados após a exortação do profeta Natã,
com relação ao adultério (Sl 32.1): Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo
pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade e em
cujo espírito não há dolo. Essa declaração de fé de Davi, em que pecados são cobertos, que
no seu período era feito com o sangue de cordeiros sobre as tabuas na lei dentro da arca, é
confirmado o seu cumprimento no Novo Testamento nas palavras de João Batista que
interpretou corretamente as profecias cumpridas em Cristo ao dizer (Jo 1. 29): ...eis o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo. Ou que o apóstolo João explica (1 Jo 1.9, 2. 1-2): Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos purificar de toda a
injustiça…Filhinhos meus, estas cousas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém
pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo, e ele é a propiciação pelos nossos
pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro. Portanto, a
Lei cerimonial do Antigo Testamento não tem continuidade no Novo Testamento, porque
encontrou em Cristo o seu completo cumprimento!
LEI MORAL
O Senhor estabeleceu padrão moral para os seus servos antes de ser promulgada a
Lei por meio de Moisés, seria uma Lei antes da Lei. Podemos ver no Antigo
Testamento a narrativa dos patriarcas andando com Deus em conformidade com seus
preceitos morais e santos (Gn 4.4; 4.26; 5.24; 6.9; 10.26; 12.1-3; 17.1; Jó 1.1; 47. 8-
9; 39. 8-9). Com relação a Abraão em claro a afirmação que ele deveria obedecer a
Lei de Deus em Gênesis 26.5: …porque Abraão obedeceu à minha palavra e guardou
os meus mandados, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis.[5]
A Confissão de Fé de Westminster afirma que a lei de Deus começou a ser revelada na própria
criação, no Jardim no Éden, para Adão e Eva (CFW XIX):
1. Deus deu a Adão uma lei como um pacto de obras. Por este pacto Deus o obrigou,
bem como toda a sua posteridade, a uma obediência pessoal, inteira, exata e perpétua;
prometeu-lhe a vida sob a condição dele cumprir com a lei e o ameaçou com a morte no caso
dele violá-la; e dotou-o com o poder e capacidade de guardá-la.[6]
E o Novo Testamento continua exigindo santidade diante do Senhor (Mt 5.20; 5. 27-32; 5. 38-
48; 6.1; Ef 4.17-32; 5. 1-14; 5. 1-33; 6.1-4; 6. 5-9). O escritor e pregador do passado, J. C.
Ryle acertadamente escreveu sobre a incoerência de alguns crentes em não observar os
princípios morais da lei:
A santificação genuína manifesta-se no respeito à lei de Deus, bem como no esforço habitual
por viver na obediência a ela como a grande regra de vida. Não existe engano maior do que
a suposição de que um crente nada tem a ver com a lei e os dez mandamentos, somente
porque ele não pode ser justificado mediante a guarda da lei. O mesmo Espírito Santo que
convence o crente do pecado por intermédio da lei, e que o conduz até aos pés de Cristo a
fim de ser justificado, também sempre o conduzirá à utilização espiritual da lei, como um guia
amigo, na busca pela santificação.[7]
Dr. Mauro Meister cita João Calvino, que expos três usos da lei no Novo Testamento e para
todas as épocas da igreja:[8]
1. O primeiro uso da lei: a lei nos mostra a justiça de Deus, e como um espelho revela
nossa pecaminosidade, levando-nos a implorar a ajuda divina
2. O segundo uso da lei: a lei restringe os malfeitores e aqueles que ainda não são
crentes.
3. O terceiro uso da lei: ela admoesta os crentes e os encoraja a fazer o bem.
Logo, a Lei moral é para todas as épocas do povo de Deus, seja no Antigo Testamento, seja
no Novo Testamento. A Lei civil serviu para governar Israel, sendo ela uma aplicação da Lei
Moral, mas não vigora mais nos últimos dias para a igreja, serve apenas como um modelo de
leis civis para manter a paz e refrear o mal. A Lei cerimonial nem sempre era uma aplicação
da Lei Moral, mas era uma aplicação simbólica da mesma.[9] A lei cerimonial também era
uma forma de expressão externa de fé no Messias dos crentes de Israel.
Considerações Gerais
A Revelação Bíblica é tanto uma unidade quanto progressiva. Não existe livros
desconexos, mas sim, todos conectados progressivamente para revelar o plano
redentor de Deus para o seu povo!
[2] PINK, Arthur W. Pink, Dispensacionalismo, Uma Análise, Editora PES, 2007, p.24
[7] RYLE, J. C. Ryle, Santidade Sem a Qual Ninguém Verá o SENHOR, FIEL, 1999, p. 50
Shalom