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Robert Kurz
O Colapso da Modernização (Da
Derrocada do Socialismo de Caserna
à Crise da Economia Mundial), Rio
de Janeiro, Paz e Terra, 1992,244 pp.

RICARDO ANTUNES (professor


do Departamento de Sociologia do Instituto capital, que se iniciou pelo Terceiro
de Filosofia e Ciências Huma Mundo, atingiu de maneira arrasadora
nas da Unicamp) o Leste Europeu e agora penetra
agudamente no centro do modo de
Estamos diante de um livro de produção de mercadorias e da socie-
fortíssimo impacto. Parece-nos difícil dade do trabalho abstrato. Nas pala-
resenhá-lo na medida em que ele é, vras do autor: "O 'mercado planejado'
por um lado, altamente convincente, do Leste (...) não eliminou as
vigoroso, ousado, explosivo, denso, categorias do mercado. Conseqüente-
analítico, contestador e, por outro la- mente aparecem no socialismo real
do, problemático, por vezes impres- todas as categorias fundamentais do
sionista, quase jornalístico e em al- capitalismo: salário, preço e lucro (ga-
guns momentos insuficiente. Mas a nho da empresa). E quanto ao princí-
sua dimensão primeira, de alta posi- pio básico do trabalho abstrato, este
tividade, é muito superior à segunda. não se limitou a adotá-lo, como tam-
O que o toma um livro privilegiado, bém levou-o ao extremo" (p. 29).
como poucos nesta época de confor- Os países do Leste eram parte "do
mismo e resignação quase absolutos, próprio sistema produtor de mercado-
de encantamento com os valores do rias", constituindo-se numa variante
mercado, do capital, da produtividade, deste e nunca em algo efetivamente
da institucionalidade, da ordem, das novo e socialista. Aqueles que partem
indeterminações, dos estranhamentos, do estatismo existente no Leste para
das fetichizações, do fim da história e diferenciá-lo do capitalismo desconsi-
de tantas outras manifestações da deram que a formação social capitalis-
irratio dominante. ta, em vários momentos, recorreu ao
O livro defende com enorme Estado para constituir-se e consolidar-
vigor e força uma tese central: a se. O mercantilismo, a era Bismarck e
derrocada do Leste Europeu e dos o intervencionismo keynesiano são
chamados países socialistas não foi exemplos, sempre segundo o autor,
expressão da vitória do capitalismo e desta recorrência. Sugestivo e alta-
do Ocidente, mas a manifestação de mente provocativo nas indicações e
uma crise particular que agora fui ilações teóricas, mas também enorme-
mina o coração do sistema mundial mente a-histórico, Kurz procura mos-
produtor de mercadorias. Foi, trar como o "estatismo do socialismo
portanto, um momento de uma dada real" encontra em verdade muita simi-
processualidade, da crise global do

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litude com o Estado racional burguês mente improdutivo e obsoleto no
de Fichte. E até mesmo com o mer- desenvolvimento tecnológico, o Leste
cantilismo... Mercado planejado, di- viu germinar, simultaneamente, uma
reito ao trabalho e monopólio estatal sociedade de escassez e desperdício.
do comércio exterior, presentes no Quando o Ocidente vivenciou, nas
"socialismo real", "foram pré-formu- décadas de 70 e 80, um significativo
lados pelo próprio capitalismo e por surto tecnológico, por meio da
seus ideólogos progressistas à beira da microeletrônica, a concorrência e a ló-
industrialização; não são estranhos, gica do sistema mundial produtor de
em sua essência, ao capital ou ao siste- mercadorias acabaram por levar ao
ma produtor de mercadorias, mas sim, colapso terminal do "socialismo real",
características estruturais do que "tinha que fracassar em sua pró-
nascimento histórico desses últimos" pria irracionalidade interna, na forma-
(p. 42). O culto do trabalho abstrato, mercadoria levada ao extremo do ab-
levado ao limite no Leste, mostra surdo e na relação insustentável com o
como a crítica marxiana do fetichismo exterior..." (p. 152). Desse modo, a
foi absolutamente desconsiderada, transição pós-89, vivenciada pela
"eliminada e empurrada para um além URSS e pelo Leste, assemelha-os não
teórico e histórico, difamada como com o Ocidente avançado, mas com
nebulosa, ou degradada a um uma realidade mais próxima do Ter-
fenômeno mental puramente ceiro Mundo. Este, na outra ponta da
subjetivo" (p. 48). crise global do sistema produtor de
Sem romper na interioridade com mercadorias, já se constitui naquilo
a lógica do sistema produtor de mer- que o autor chama de "sociedades
cadorias, a "crise da sociedade de tra- pós-catastróficas": " (...) o Terceiro
balho do socialismo real marca a crise Mundo ou já fracassou em sua tentati-
iminente da moderna sociedade do va de modernização (...) ou, no melhor
trabalho em geral, e isso precisamente dos casos, encontrou um status
porque os mecanismos de concorrên- precário, no papel de países ascenden-
cia tiveram tanto êxito e minaram e tes, que permanece exposto à espada
debilitaram de fato os fundamentos do de Dâmocles do mercado mundial e,
sistema produtor de mercadorias. Faz mesmo assim, já não permite um de-
parte da lógica desse sistema o fato de senvolvimento interno da sociedade
que os seus componentes mais fracos, inteira" (p. 176). As raríssimas exce-
no que se refere à produtividade e ao ções não fracassadas da "industriali-
entrelaçamento, são os primeiros a zação para a exportação", presenciada
cair no abismo de colapso do siste- em alguns países asiáticos como
ma..." (p. 90). Superadas as lacunas do Coréia, Hong Kong, Taiwan e Cinga-
texto da edição brasileira, que carece pura, permanecem numa "dependên-
de imediata e imprescindível revisão, cia precária dos países ocidentais" e
percebe-se nesta última citação que o não têm vivenciado, até agora, o de-
autor entende a crise da modernidade senvolvimento de um mercado interno
em sua dimensão globalizada. Sem o que dê fundamento a estes projetos
princípio da concorrência, absoluta-

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industriais, além de serem em sua papel de regiões industriais porque


maioria países pequenos, insulares, suas indústrias foram derrotadas na
cujos projetos são irrealizáveis em concorrência dos mercados mundiais e
países continentais. "A estrutura já não podem levantar o capital
industrial insular que é capaz de monetário para continuar na corrida da
concorrer no mercado mundial está produtividade". E o autor está se
unilateralmente orientada para a referindo, aqui, aos países do centro.
exportação, e o mercado interno não Os EUA e a Inglaterra "estão dissi-
pode ser desenvolvido suficientemente pando seus próprios recursos de capi-
porque a industrialização para a tal monetário em um consumo impro-
exportação, aparentemente bem- dutivo a nível de potências mundiais",
sucedida, não pode gerar, em virtude consumo que não poderiam praticar há
de sua alta intensidade de capital, o muito tempo (p. 211). Japão e Ale-
volume suficiente de capacidade manha, os "vitoriosos", não têm como
aquisitiva interna; o fator decisivo escapar desta lógica destrutiva que os
nesse processo não é o salário baixo, movimenta: estão financiando, "há
mas sim a incapacidade destas anos e em dimensões inimagináveis,
produções altamente automatizadas de seus sucessos de exportação nos mer-
absorver massas suficientes de mão- cados mundiais, emprestando às eco-
de-obra" (p. 176). Kurz só pode nomias da OCDE, que de fato foram
visualizar, para o Terceiro Mundo, derrotadas na concorrência, os recur-
rebeliões sociais, movimentos ins- sos necessários para a continuação da
pirados no fundamentalismo etc. su- inundação com mercadorias importa-
jeitos sempre à intervenção de um das. Somente por isso, as economias
"poder policial internacional" respal- perdedoras dentro da OCDE ainda não
dado pela ONU. Tendo perdido seu tomaram o rumo das sociedades pós-
papel de fornecedor de força de traba- catastróficas do Sul e do Leste, porém
lho sub-remunerada e abundante para à custa de acumularem verdadeiras
o capital produtivo, estes países, fora montanhas de dívidas impagáveis" (p.
do embate tecnológico em que se en- 213). A conclusão do autor é direta:
contra o centro, são expressão viva e estamos entrando numa era das
real da outra ponta do colapso. Sua trevas, de conseqüências imprevi-
conclusão é aguda: "A lógica da crise síveis. E, "uma vez que essa crise
está avançando da periferia para os consiste precisamente na eliminação
centros. Depois dos colapsos do Ter- tendencial do trabalho produtivo (...)
ceiro Mundo nos anos 80 e do socia- ela já não pode ser criticada ou até su-
lismo real no começo dos anos 90, perada a partir de um ponto de vista
chegou a hora do próprio Ocidente" ontológico do 'trabalho', da 'classe
(p. 206). A mesma lógica desigual que trabalhadora', ou da 'luta das classes
regulou as relações entre os países trabalhadoras' ". O marxismo (e junto
centrais e do Terceiro Mundo penetra com ele o movimento operário) é
no interior do Ocidente: "O que marca "parte integrante do mundo burguês da
a próxima fase é que regiões inteiras mercadoria moderna, sendo por isso
estão 'caindo fora', morrendo em seu

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atingido ele próprio pela crise" (p. tica radical "teria de se emancipar
227). Apesar do enorme resgate que completamente de suas idéias anterio-
Kurz faz das formulações marxianas, res, já obsoletas" e para a qual a "es-
neste ponto aparece a sua única (e querda, com todos os seus matizes,
forte) crítica: "Sem dúvida, revela-se mostra-se completamente incapaz de
aqui um dilema até hoje insuperado no dar uma resposta à crise" (pp. 226-7).
centro da teoria de Marx. A afirmação
do movimento operário (...) é na Trata-se, como procuramos mos-
verdade inconciliável com a sua trar, nestas páginas em que perse-
própria crítica da economia política, guimos a imanência do texto, de um
que desmascara precisamente aquela ensaio ousado, rico, provocativo, con-
classe trabalhadora não como tundente, polêmico e problemático.
categoria ontológica, mas sim como Texto no qual a prioridade é do onto-
categoria social constituída, por sua lógico, e a apreensão da lógica do ob-
vez, pelo capital" (p. 71). O jeto - a crise contemporânea do sis-
movimento operário, segundo Kurz, tema produtor de mercadorias, do
conduziu à emancipação capitalista capitalismo - é perseguida em seus
dos trabalhadores, mas não é o sujeito nexos essenciais e totalizantes. Pode-
capaz de levá-lo à emancipação social. se dizer, sinteticamente, que suas for-
E, com outra tese provocativa e mulações acertam no essencial, no
ousada, finaliza seu ensaio: "O comu- diagnóstico da crise do capital dos
nismo, supostamente fracassado, que é nossos dias e falham nas visualiza-
confundido com as sociedades em ções, nas proposições, no modo de
colapso da modernização recupera- caminhar para além do capital. Talvez
dora, não é nem utopia nem um obje- seja demais, nos dias de hoje, exigir
tivo distante, jamais alcançável, muito tanto. Afinal, apontar o capitalismo
além da realidade, mas sim um como derrotado a partir da análise do
fenômeno já presente, o mais próximo desmoronamento do Leste Europeu
que encontramos na realidade, ainda não é pouco nem usual. E resgatar
que na forma errada e negativa, vigorosamente e sugestivamente a crí-
dentro do invólucro capitalista do sis- tica da economia política de Marx
tema mundial produtor de mercado- para demonstrá-lo, é ainda mais in-
rias, isto é, na forma de um comunis- comum. Um livro que provoca e nos
mo das coisas, como entrelaçamento faz refletir e repensar, pela esquerda,
global do conteúdo da reprodução hu- sobre tantos pontos "inquestionáveis",
mana" (p. 228). Na impossibilidade e também é outro forte mérito. Gostaria
inexistência de um sujeito coletivo ca- de concluir, entretanto, apontando al-
paz de superar a crise, no universo do guns dos problemas que sua leitura
mundo do trabalho, Kurz esboça sua suscita.
proposição: toma-se necessária a bus- Primeira crítica: na recuperação
ca de "uma razão sensível, que é exa- ontológica do objeto, Kurz suprimiu a
tamente o contrário da razão iluminis- dimensão, decisiva em Marx, da sub-
ta, abstrata, burguesa e vinculada à jetividade. Os seres e personagens do
forma-mercadoria" (p. 232). Esta crí-

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uma pista relevante: "A sociedade do


capital e do trabalho são epifenômenos
trabalho como conceito ontológico
de uma lógica dada por um objeti-
seria uma tautologia, pois, na história
vismo férreo. Neste ponto, e inspirado
até agora transcorrida, a vida social,
no tom provocativo do texto, parece-
quaisquer que sejam suas formas
nos que o materialismo de Kurz é mais
modificadas, apenas podia ser uma
próximo de Feuerbach do que de
vida que incluísse o trabalho. Somente
Marx. Vale lembrar a primeira tese
as idéias ingênuas do paraíso e o conto
sobre Feuerbach: o principal defeito
do país das maravilhas fantasiavam
de todo o materialismo até aqui (in-
uma sociedade sem trabalho" (p. 26).
cluído o de Feuerbach) consiste em
Apesar desta referência, Kurz parece
que o objeto, a realidade, a sensibili-
ainda tributário, em alguma dimensão,
dade só é apreendida sob a forma de
dos adeptos da crise da sociedade do
objeto ou de intuição, mas não como
trabalho. Para sermos claros: uma
atividade humana sensível, como pra-
coisa é o esgotamento da sociedade do
xis, não subjetivamente (Marx, "Teses
trabalho abstrato. Outra, bem
sobre Feuerbach"). A lacuna que Kurz
diferente, é a crítica que recusa um
atribui a Marx é, em verdade, uma la-
projeto societário que conceba o
cuna de Kurz: o seu entendimento do
trabalho como criador de valores de
fetichismo como quase integral, inso-
uso, na sua dimensão concreta, como
lúvel e irremovível obsta a existência
atividade vital, desfetichizada, como
ativa e a resistência efetiva dos sujei-
ponto de partida (e não de chegada)
tos. Kurz aqui paga um preço desne-
para a omnilateralidade humana.
cessário aos críticos da sociedade do
Kurz centra toda a sua análise na
trabalho, da qual ele tanto se aproxi-
prevalência da produção generalizada
ma como se diferencia. Próximo de
e destrutiva de mercadorias e na con-
Habermas (e por tabela de Gorz e
seqüente teoria marxiana do valor-tra-
Offe), Kurz se insere no universo dos
balho; uma vez que se reafirma con-
críticos da centralidade do trabalho no
temporaneamente esta tese (o que é
mundo contemporâneo. Com uma sig-
outro enorme mérito do livro), parece
nificativa diferença: para ele, trata-se
muito difícil negar a existência
de eliminar a central idade do trabalho
objetiva da contradição no interior do
abstrato, coisa feita também por
processo de valorização do capital.
Marx desde os estudos preparatórios
De modo que a luta objetiva entre a
para os Manuscritos de 1844. Porém,
totalidade do trabalho social e a
para Marx era imprescindível o
totalidade do capital não contradita a
resgate da dimensão concreta do
crítica marxiana da economia
trabalho, enquanto atividade vital,
política, mas lhe é absolutamente
enquanto fonte criadora de valores de
essencial. Não são "duas lógicas
uso socialmente necessários,
históricas completamente diferentes",
enquanto protoforma da atividade
como quer Kurz, mas momentos
humana, para lembrar o velho
intrínsecos de uma mesma lógica, da
Lukács. Kurz não é suficientemente
classe que cria valores e que
claro a este respeito (o que é uma
exatamente por isso tem a possibili-
lacuna), mas sugere, num parágrafo,

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lidade de antagonizar-se ante o mental, e para a qual só uma esquerda
capital, de rebelar-se. Se a teoria do social, renovada, crítica e radical, de
valor-trabalho é validada, a luta de nítida inspiração marxiana, forjada
classes é conseqüência inevitável da- no interior do mundo do trabalho
quela. Esta foi, inclusive, uma das poderá, em nosso entendimento,
aquisições ontológicas centrais do implementar. A esquerda tradicional
Marx que, na Introdução à Crítica da (do "marxismo" da era staliniana e
Filosofia do Direito de Hegel (1844), stalinista) e a esquerda social-
concebia preliminarmente o proleta- democrática estão, ambas, im-
riado como a "classe com cadeias possibilitadas para esta empreitada.
radicais", e que posteriormente Segunda crítica: a assimilação
apreendeu o proletariado como a entre Leste e Ocidente, se é verdade
"mercadoria-força de trabalho que no que diz respeito a que ambos
cria valores" e que vi vencia por isso a inseriam-se no universo do sistema
possibilidade real da contradição produtor de mercadorias, não deve
perante o capital. O ponto essencial permitir uma identificação tão plena
remete a discussão para o universo entre o que ocorreu nos países pós-
das limitações subjetivas do mundo capitalistas e os capitalistas. No
do trabalho, campo temático que, debate presente neste número da
como vimos, Kurz recusa. Crítica Marxista, indicamos algo a
A sua crítica de que o movimento respeito desta discussão. Não é por
operário, neste século, esteve em acaso que Kurz fala em "socialismo 
grande medida atado à luta no univer- de caserna", "socialismo real",
so da sociedade de mercadorias é rica "regime protocapitalista", "sociedades
e em boa medida verdadeira. Basta capitalistas", "regime transitório pré-
pensar nas enormes limitações da cha- burguês", "mercantilismo tardio",
mada esquerda tradicional. Mas não entre outras denominações.
deveria permitir a Kurz chegar onde Convenhamos, é muita imprecisão
chegou: na ausência absoluta de sujei- conceitual. Cremos que a Revolução
tos. Para Marx sempre foi muito claro Russa não foi burguesa em sua
que "o proletariado está obrigado a origem, como quer Kurz, mas pouco a
abolir-se a si mesmo", se de fato pre- pouco viu sua processualidade curvar-
tende a superação da sociedade do ca- se cada vez mais à lógica mundial do
pital (Marx, "A Sagrada Família"). capital. E aqui também Kurz auxilia, e
Desse modo, e se se quer ficar no es- muito, na reafirmação e demonstração
sencial da discussão que Kurz suscita, desta tese.

a classe-que-vive-do-trabalho não Terceira crítica: Kurz tem boa
esta objetivamente incapacitada para dose de razão ao atar o marxismo do
superar o capitalismo (como quer século XX à tragédia do Leste Euro-
Kurz), mas somente poderá vir a fazê- peu. Mas exagera, e por diversas ve-
Io se sua autoconsciência incorporar zes equivoca-se. Cito só dois exem-
como momento decisivo a auto- plos: dizer que "Trotski, em primeiro
abolição de si mesma como classe, o lugar, poderia ter-se tomado outro
momento do gênero-para-si. O que, Stalin" (p. 50) só é aceitável quando 
reconhecemos, é uma tarefa monu-

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e, não deixar, com ela, desmoronar o


império da objetividade é de tal tama-
nho, que suprime toda a dimensão admirável mundo do dinheiro.
subjetiva. De novo Kurz está muito Evidentemente, para citar um único
mais próximo de Feuerbach do que de exemplo, o desemprego estrutural
Marx. Do mesmo modo quando diz ampliado converte-se em um
que nada se salva do chamado marxis- problema para os sujeitos do capital
mo ocidental, "abstraindo-se algumas quando acarreta uma depressão
iniciativas isoladas, pouco claras e acentuada do mercado consumidor a
sem maior resultado". Este acabou ponto de comprometer a integralização
sendo responsável pela "ausência de do processo de valorização do capital.
uma crítica do fetichismo" (p. 49). Da A outra, a ação do trabalho, porque
coisificação presente em História e sob a ruína de uma experiência
Consciência de Classe até a vigorosa intentada e desastrosa, que foi a
teoria do estranhamento encontrada experiência do Leste, poderá talvez
na Ontologia do Ser Social, não foi pela primeira vez neste século olhar
outro o empreendimento enorme de para o Ocidente e para o mundo, e vê-
Lukács, que pode até mesmo ter, para lo sendo minado por sua própria lógica
os seus críticos, muitas lacunas, mas destrutiva. E ousar, de maneira crítica,
por certo não foi "pouco clara e sem renovada e radical, avançando para
maior resultado". O mesmo poderia além do capital, lançando, "mais cedo
ser dito de Gramsci, que revigorou o ou mais tarde, o tabuleiro no chão" e
marxismo contemporâneo, porque dispensando "todas as regras da
entendeu a dimensão subjetiva, a chamada civilização mundial", uma
mediação política, a dimensão
vez que "essas regras democráticas da
emancipadora da cultura etc. não
razão mundial burguesa e iluminista
como epifenômenos redutíveis a um
objetivismo férreo. Neste capítulo são em sua essência abstratas e
Kurz é por demais entendendo-a como insensíveis, pois seu verdadeiro
mediação, como faz Marx, não é fundamento é o automovimento do
desconsiderá-la, como faz Kurz, ou dinheiro, abstrato e privado de sensi-
tratá-la como mero epifenômeno. bilidade..." (p. 199). E o livro de
Último ponto: Kurz redesenha o Robert Kurz é um alento e uma refle-
colapso da sociedade produtora de xão viva nesta direção, inconformado
mercadoria-dinheiro. E não vê uma e anticapitalista que é, contraditando
saída emancipadora impulsionada pe- em alguma medida até mesmo uma de
las forças do trabalho, como também suas formulações, visto que se consti-
parece não considerar a hipótese de tui numa expressiva reflexão e respos-
uma (re)ação conservadora das forças ta de uma subjetividade que não se
burguesas visando minimizar a crise e subordinou aos valores do capital e
desse modo prolongar a sociabilidade aos estranhamentos hoje tantas vezes
regida pelo capital. Cremos, ao con- cultuados, escrevendo um contundente
trário, que ambas as alternativas se ensaio contra a lógica e os
colocam: uma, a reação do capital, mecanismos atuais da sociabilidade do
para tentar amenizar a era das trevas, capital. O que o torna um dos livros de
maior impacto dos últimos anos.
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ANTUNES, Ricardo. Resenha de: KURZ, Robert. O colapso da modernização: da
derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1992, 244p. Crítica Marxista, São Paulo, Brasiliense, v.1, n.1, 1994, p.135-141.

Palavras-chave: Modernização; Socialismo; Crise econômica.

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