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CONTORNO E A RELAÇÃO DE
CONTATO INTERPROXIMAL
EM RESTAURAÇÕES DE
CLASSE II COM RESINAS
COMPOSTAS
Ricardo Amore
Camillo Anauate Neto
Hugo Roberto Lewgoy
INTRODUÇÃO
O constante avanço tecnológico dos materiais adesivos em Odontologia tem propiciado
uma melhora significativa na interação dos materiais restauradores resinosos com a ultra-
estrutura dental e o consequente aumento da longevidade das restaurações com resinas
compostas. Assim, com a crescente valorização da estética pelos pacientes e cirurgiões-
dentistas (CDs) e devido aos avanços conquistados nas propriedades gerais das resinas com-
postas, existe, atualmente, uma forte tendência para que todas as restaurações diretas
sejam estéticas e, consequentemente, realizadas com esse tipo de material.
ESQUEMA CONCEITUAL
Restaurações
Caso clínico 1
Caso clínico 2
Caso clínico 3
Caso clínico 5
Caso clínico 6
Caso clínico 7
Considerações finais
Figura 1 – Restauração MOD no dente 46 com falta Figura 2 – Inflamação gengival decorrente de falha
de contato interproximal na face mesial. Nota-se no restabelecimento do contorno e consequent-
também contorno insatisfatório no espaço inter- emente da relação de contato interproximal entre os
proximal distal decorrente da realização de um slot dentes 15 e 16.
vertical insatisfatório na face distal do dente 46, Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
além da mudança de contorno mesial do dente 47
devido ao toque de broca ou ponta diamantada.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
A cunha de madeira tem como principal objetivo pressionar a matriz contra o dente na
região cervical, evitando o extravasamento de material restaurador para o periodonto. A
cunha bem posicionada na região cervical afasta ligeiramente os dentes e compensa a es-
pessura da matriz, facilitando a obtenção da relação de contato proximal, além de auxiliar
na fixação do conjunto porta-matriz e matriz ao dente.
Nas Figuras 6A e B, pode-se observar, além da diferença de formato entre as matrizes bu-
merangue e circunferencial, a associação entre sistema porta matriz, matriz e cunha
de madeira. A matriz deve ser fina e flexível, de modo a favorecer a obtenção do contorno
proximal do dente, ocupando pouco espaço interproximal. Em A, observa-se a acomodação
A B
Figura 6 – Imagem ilustrativa das matrizes circunferencial e bumerangue. A matriz bumerangue possibilita
um contorno anatômico adequado, adaptando-se ao ângulo cavossuperficial, cervical e abrindo em direção
oclusal. A matriz circunferencial tem um formato cilíndrico, dificultando a reconstrução anatômica do dente.
Observa-se também uma cavidade MOD preparada em dente de manequim. A) Nota-se que o posiciona-
mento da cunha de madeira não foi adequado para o fechamento do ângulo cavossuperficial cervical, possi-
bilitando o extravasamento de material restaurador. B) Pode-se observar o posicionamento correto do sistema
matriz e cunha de madeira possibilitando contorno adequado para a reconstrução proximal, além e evitar a
ocorrência de excesso de material na cervical.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Algumas técnicas têm sido utilizadas como medida adicional para o restabelecimento da
relação de contato interproximal. Entre elas, a polimerização sob compressão do incre-
mento de resina colocado na caixa proximal é o método mais simples e mais utilizado.
A B
Figura 8 – A e B) Incremento de resina composta sendo pressionado por um condensador contra a matriz
metálica.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
O mesmo objetivo pode ser alcançado com outros métodos, como a aplicação de uma
porção pré-polimerizada de resina entre a parede axial da caixa proximal e a matriz,
mantendo-a pressionada contra o dente vizinho.11 Porém, essa técnica é pouco empregada
em função da dificuldade de selecionar um incremento de resina que se adapte exatamente
à caixa proximal e ainda exerça pressão entre a parede axial e a matriz.
A B
A Contact Pro 2, de cor azul transparente, tem um desenho mais anatômico e extremidade
ativa menor do que a Contact Pro 1, fato que facilita a sua aplicação em cavidades com
extensão vestibulolingual menor. Apresenta uma parte circular para apoio da extremidade
do fotopolimerizador. Além disso, a fenda central da ponta ativa é mais rasa e estreita, fa-
cilitando a remoção da espátula após a polimerização, sem comprometer a sua eficiência.
A terceira geração da espátula Contact Pro, chamada de Contact + Gold, de cor bege transparen
te, manteve o mesmo desenho anatômico e eficiência da Contact Pro 2 (Figuras 12 e 13).
É oportuno destacar mais uma vez que o objetivo do uso da espátula de condensa-
ção proximal é possibilitar uma fotopolimerização sob compressão lateral, criando
uma “viga” de resina composta que mantém a matriz pressionada contra o dente
vizinho, compensando a sua espessura.
A B
Figura 25 – A e B) Vista oclusal em tamanho normal e ampliado da impressão deixada pela espátula
de condensação proximal sobre a resina. Note a “viga” de suporte entre a parede axial e a matriz e a
alteração do contorno da matriz pressionada contra a face distal do dente 25.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Uma alternativa viável aos sistemas clássicos referidos que combinam o uso de porta-
matrizes e matrizes circunferências ou tipo bumerangue são os sistemas de matrizes
parciais ou seccionadas que têm sido indicados devido à praticidade e eficiência
no restabelecimento do contorno anatômico e da relação de contato interproximal.16
Nesses sistemas, uma matriz parcial delgada, flexível e com contorno anatômico ade
quado (Figura 35) é fixada ao dente com auxílio de cunha de madeira.
A B
Entretanto, os referidos sistemas não são bem indicados para cavidades com grande
destruição das paredes vestibular e lingual da caixa proximal, rompendo a relação de
contato com o dente adjacente, pois essa folga formada entre o dente preparado e o
dente adjacente, além de prejudicar a adaptação da matriz parcial, inviabiliza a correta
adaptação do anel metálico interproximal que pressiona a lateral da matriz para dentro
da cavidade, comprometendo o correto restabelecimento do contorno e da relação de
contato interproximal (Figuras 37 a 42).
Assim, diante de cavidades com grande destruição das paredes vestibular e lingual da
caixa proximal, geralmente, o clínico deverá optar pelo método clássico com a utiliza-
ção de porta-matriz, matriz metálica tipo bumerangue, cunha de madeira, associados
ou não (dependendo de cada caso) a um anel separador.
Uma alternativa viável ao uso de cunhas de madeira e anel afastador são as cunhas
elásticas desenvolvidas com o objetivo de acumular as funções mecânicas de proteção
ao periodonto, evitando o extravasamento cervical de material, fixação do sistema
de matriz e, ainda, promovendo um leve afastamento dos dentes agindo simulta-
neamente nas faces vestibular e lingual. Consequentemente, atuam compensando
a espessura da matriz e auxiliando no restabelecimento da relação de contato inter-
proximal.
Figura 71 – Cunhas elásticas nas cores azul, amarela e verde, indicadas para cavidades proximais rasas,
médias e profundas.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
O fio dental deve ser reaplicado até que a relação de contato interproximal seja
considerada adequada.
As tiras de lixa de aço também podem ser utilizadas, porém o clínico deve tomar cuidado
redobrado, pois o contato pode ser perdido pela maior ação abrasiva dessas lixas. Outro
problema decorrente da ação das lixas de aço é que a superfície proximal se torna muito
rugosa, facilitando o acúmulo de placa bacteriana em uma região já suscetível à cárie.
Quando o uso de tiras de aço for indispensável, uma boa alternativa para melhorar
a lisura da superfície proximal seria complementar o seu uso com a tira de lixa de
resina. Mais uma vez, deve-se destacar que o clínico deve ser cauteloso para que a
relação de contato não seja perdida ao final dos ajustes.
Atividade 2
Resposta: C
Comentário: Independentemente do material restaurador direto a ser utilizado em cavidades
de Classe II, o primeiro passo para o restabelecimento do contorno e da relação de contato
interproximal é a seleção e a montagem do sistema matriz/cunha. A matriz metálica deve ser
delgada, flexível e com contorno que possibilite a remodelação anatômica da face proximal.
Atividade 3
Resposta: C
Comentário: O amálgama é o único material restaurador direto que efetivamente é con-
densado contra as paredes cavitárias e contra a matriz. Na compressão, o amálgama reduz
de volume e uma compressão é obtida contra a matriz, compensando a sua espessura e,
consequentemente, tornando o restabelecimento da relação de contato interproximal tarefa
mais fácil. Por outro lado, na maioria dos casos, as resinas compostas não exercem pressão
suficiente contra a matriz, de modo a compensar a sua espessura e possibilitar um contato
interproximal satisfatório. As resinas compostas condensáveis ou compactáveis são mais
densas e podem contribuir para a obtenção de uma relação de contato interproximal mais
satisfatória, quando comparadas às resinas consideradas de média ou baixa densidade.
Atividade 4
Resposta: C
Comentário: O objetivo das espátulas especiais para condensação proximal é o mesmo da
polimerização sob compressão obtida com o condensador, ou seja, criar uma parede de
resina que mantenha a matriz pressionada contra a área de contato do dente adjacente,
durante a fotoativação, compensando a sua espessura. A espátula de condensação proximal
comprime o incremento de resina composta e é mantida pressionando a matriz contra o
dente vizinho até o final da fotoativação. Após a remoção da espátula, a fotopolimerização
deve ser completada com distância mínima entre o aparelho fotopolimerizador e a superfície
da resina composta, visto que, embora a luz penetre pela espátula, a sua intensidade vai
sendo diminuída por toda extensão da espátula, comprometendo a eficiência da fotopolim-
erização.
Atividade 6
Resposta: C
Comentário: Para finalizar, após ampla discussão a respeito dos cuidados e da importân-
cia do restabelecimento do contorno e da relação de contato interproximal, cabe destacar
que o ponto de contato não deve ser excessivamente forte a ponto de desfiar o fio dental
ou provocar trauma periodontal pelo impacto do fio dental, ou pela retenção de fiapos
no espaço interproximal. Se for constatado, o clínico deve utilizar tiras de lixa para resina
composta inseridas no espaço interproximal, exercendo pequenos movimentos de vestibular
para lingual. O fio dental deve ser reaplicado até que a relação de contato interproximal seja
considerada adequada.
Atividade 7
Resposta: A
Comentário: Uma alternativa viável ao uso de cunhas de madeira e anel afastador são as
cunhas elásticas desenvolvidas com o objetivo de acumular as funções mecânicas de pro-
teção ao periodonto evitando o extravasamento cervical de material, fixação do sistema
matriz e, ainda, promovendo um leve afastamento dos dentes agindo simultaneamente nas
faces vestibular e lingual. Consequentemente, atuam compensando a espessura da matriz
e auxiliando no restabelecimento da relação de contato interproximal. As cunhas elásticas
são comercializadas em três tamanhos diferentes de acordo com a profundidade da caixa
proximal. Podem ser associadas aos sistemas convencionais com porta-matriz e matriz bu-
merangue ou circunferencial.
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