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SELEÇÃO,

ADESTRAMENTO E
EMPREGO DO
CÃO DE GUERRA
DE DUPLA APTIDÃO

JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE


CAP QCO VET

1ª Edição

Câmara Brasileira de Jovens Escritores


Copyright©José Luiz Fontoura de Andrade

Câmara Brasileira de Jovens Escritores


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Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 3393-2163
www.camarabrasileira.com
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Julho de 2015

Primeira Edição

Conselho Editorial

Presidente: Glaucia Helena


Editor: Georges Martins
Coordenação editorial: Luiz Carlos Martins
Editor de Arte: Alexandre Campos
Produção gráfica: Fernando Dutra
Comissão de Avaliação: Leo Martins, Leonardo Ach,
Milena Patrícia, Fernando Dutra,
Vânia Ferreira, Fernanda Redon, Rodrigo Tedesco,
Bruna Gala, Arthur Henrique Santos
Revisão: do Autor

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Fontoura, José Luiz de Andrade


F684s Seleção, adestramento e emprego do cão de guerra de dupla
aptidão. / José Luiz Fontoura de Andrade —1.ed. – Rio de Janeiro :
Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2015. 298 p. 23cm.

ISBN 978-85-413-0394-1

1. Cão. Adestramento. 2. Cão. Medicina Veterinária. I. Título.

CDD 636.70887
CDU 636.76

Bibliotecária: Eliane M. S. Jovanovich CRB 9/1250

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por


qualquer meio e para qualquer fim, sem a autorização
prévia, por escrito, do autor.
Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE
CAP QCO VET

SELEÇÃO,
ADESTRAMENTO E
EMPREGO DO
CÃO DE GUERRA
DE DUPLA APTIDÃO

Julho de 2015

Rio de Janeiro - Brasil


PREFÁCIO

Unidades diferenciadas como unidades de Operações Especiais,


Grupos de Ações Táticas, Unidades de Resgate, Delegacias de Narcóticos,
Corpos de Bombeiros e Esquadrões antiexplosivos terão melhores
resultados com criação, seleção e emprego de cães altamente
especializados para suas peculiares e específicas missões. Linhagens de
cães selecionadas geneticamente especializadas em rastreio de odor
humano, outras especializadas em detecção de narcóticos, outras em
explosivos. Cães oriundos de criatórios com linhagens de esporte podem
fornecer bons exemplares para apoiar missões militares, policiais e de
resgate, mas melhores resultados serão obtidos por qualquer instituição
que domine a seleção e criação de seus próprios cães para seus objetivos
e missões.
A proposta deste trabalho é um pouco distinta: é a seleção e
emprego de cão de guerra com dupla aptidão para qualquer tipo de unidade
que atue em espectro variado de missões, como pelotões destacados de
fronteira, brigadas de infantaria leve. Toda unidade pode empregar o cão
de dupla aptidão para segurança orgânica de suas instalações e de pessoal.
O emprego do cão de dupla aptidão amplia o universo de militares que
dominarão técnicas e habilidades para exploração do faro do cão para
detecção, torna possível realizar missões com menos cães e é ideal para
formação de alunos e reservistas.
Desde 2006, esta proposta vem sendo redigida e utilizada na
instrução de militares nos canis do exército onde trabalhei. Tem como
principal objetivo consolidar noções básicas de adestramento e emprego
em um único trabalho em língua portuguesa. Há pouco material disponível
em idioma pátrio e mesmo em outras línguas as fontes confiáveis são
disponibilizadas em toda sorte de mídia como livros, DVDs, apostilas de
seminários, revistas, etc. É um grande desafio tentar reunir informações
pertinentes em um único volume. Desafio que esta contribuição à
cinotecnia militar não tem a presunção de esgotar, mas sim de servir como
estímulo para que outras obras em português apareçam.
Embora escrito focando o emprego do cão no apoio à atividade
militar, com utilização de nomenclatura, postos, e órgãos do exército, será
útil a todos envolvidos de alguma forma com cães de trabalho de segurança
pública como cães de detecção de drogas, explosivos, cadáveres, cães de
intervenção policial, controle de multidão e distúrbio, cães de apoio a
atividades penitenciárias. Cada instituição que emprega cães para apoiar
suas missões tem suas peculiaridades, mas há uma base comum a todas
elas. São estes conceitos universais de treinamento e emprego que podem
ser organizados, catalogados e difundidos.
A bibliografia consultada está consagrada do mundo do treinamento
de cães de trabalho. As técnicas preconizadas são modernas e permitem
explorar ao máximo o potencial do cão e estão totalmente adequadas à
legislação brasileira.
A profissionalização e evolução do emprego de cães exigirá que
cada órgão de segurança desenvolva provas de habilitação regulares para
avaliar a capacidade de trabalho do conjunto condutor/cão. Estas provas
são empregadas pelas instituições mais respeitadas no mundo inteiro, e
neste manual há propostas de provas de habilitação para conjuntos cão
de guerra/condutor. Estas provas, entre outras contribuições para a
cinotecnia dos órgãos de segurança, levantarão informações cruciais para
melhoramento genético dos cães.
Este livro foi escrito com o objetivo de auxiliar todos os militares
envolvidos nas lidas com os cães. Tratadores, condutores, figurantes,
enfermeiros veterinários, graduados e oficiais de armas e oficiais
veterinários certamente usufruirão de algum benefício da concentração
de tantas informações em um único volume. Também destina-se a outros
militares envolvidos de forma não tão direta nem intensa com cães de
guerra como os profissionais já citados. Comandantes de frações, de
pelotões, de companhias e de unidades que empreguem cães constituem
também o público que poderá utilizar como uma das fontes de orientação
para emprego desta preciosa ferramenta. Serve como subsídio para outros
militares que tomam decisões que afetam a Seção de Cães de Guerra,
como aqueles com responsabilidades nas esferas de pessoal, de segurança,
de instrução e de operações.
.
Brasília, julho de 2015.

Cap QCO Vet Andrade


“Uma nação que confia em seus direitos em vez de confiar em
seus soldados, engana-se a si mesma e prepara a sua própria queda.”

Ruy Barbosa
Agradecimentos,

Aos Oficiais Veterinários mais experientes: Ten Cel


Sobrinho, Major De Paula e Ten R2 Macedo que
proporcionam orientação, ensinamentos e toda sorte
de subsídios fundamentais para esta proposta;

Ao Subtenente Damaceno, pelos valiosos


ensinamentos que me proporcionou, pelo
desprendimento contagiante com que lida com tudo
relacionado ao canil do 5ºRCMec, por sua atenção ao
subordinado, por sua preocupação e dedicação
permanente com os cães, por seu foco na missão, por
sua disciplina firme e justa, por todas as contribuições
para meu aprimoramento e para este trabalho, como
sugestões, críticas e fotos. Foi, enfim, um privilégio ter
servido com um militar deste quilate;

Ao Sgt Stefano, por tudo o que me ensinou quando eu


era ainda civil no trabalho voluntário de cinoterapia
desenvolvido no 3ºBPE e depois já como oficial
veterinário, com a generosa contribuição na forma de
sugestões, compartilhamento de conhecimento,
manuais e fotos. Pelas instruções que recebi
juntamente com meus cães, bem como a oportunidade
de fotograr alunos do curso de formação, fotos que
enriqueceram em muito este manual;

A todos militares que serviram comigo e motivaram-me


a desenvolver meu trabalho;

A todos os cães que treinei ou orientei a treinar, por


todos os bons momentos e por todo aprendizado que
me proporcionaram.
SUMÁRIO

PREFÁCIO ................................................................................................................................. 5
CAPÍTULO 1
SELEÇÃO DOS CONJUNTOS .................................................................................................... 15
1.1 SELEÇÃO DOS MILITARES .................................................................................................. 15
1.1.1 CONDUTOR ................................................................................................................... 15
1.1.2 FIGURANTE E ADESTRADOR .......................................................................................... 16
1.2 PRESERVAÇÃO E RENOVAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS DA SCG .................................. 17
1.2.1 VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS ................................................................... 18
1.2.2 Um exemplo de credo para SCG: .................................................................................... 18
1.3 SELEÇÃO DOS CÃES .......................................................................................................... 19
1.3.1 SELEÇÃO DE FILHOTES ................................................................................................... 19
1.3.2 SELEÇÃO DO CÃO ADULTO ............................................................................................. 22

CAPÍTULO 2
AGRESSIVDADE CANINA E
PREVENÇÃO DE ACIDENTES ................................................................................................... 27
2.1 AGRESSIVIDADE CANINA .................................................................................................. 27
2.2 PREVENÇÃO DE ACIDENTES .............................................................................................. 34

CAPÍTULO 3
EQUIPAMENTOS ..................................................................................................................... 39
3.1 FOCINHEIRA ..................................................................................................................... 39
3.2 EQUIPAMENTOS PARA CÃO NOVATO ................................................................................ 40
3.3 GUIA LONGA .................................................................................................................... 41
3.4 GUIA RETRÁTIL ................................................................................................................. 42
3.5 GUIA DE ADESTRAMENTO ............................................................................................... 42
3.6 GUIA CURTA ..................................................................................................................... 42
3.7 COLAR DE ELOS GRANDES ............................................................................................... 43
3.8 ENFORCADOR DE GARRA ................................................................................................. 45
3.9 ENFORCADOR DE CORDA ................................................................................................. 45
3.10 COLEIRA ELETRÔNICA ..................................................................................................... 46
3.11 CLICADOR ....................................................................................................................... 48

CAPÍTULO 4
ADESTRAMENTO BÁSICO ....................................................................................................... 49
4.1. FUNDAMENTOS DO ADESTRAMENTO ............................................................................. 49
4.1.1 REALISMO ..................................................................................................................... 49
4.1.2 PRONTO EMPREGO ....................................................................................................... 50
4.1.3 PLANEJAMENTO ............................................................................................................ 50
4.1.4 REPETIÇÃO .................................................................................................................... 51
4.1.5 QUEBRA-CABEÇA ........................................................................................................... 51
4.1.6 PRÊMIO ......................................................................................................................... 52
4.1.7 COMANDOS ................................................................................................................... 53
4.2 MARCADOR ...................................................................................................................... 55
4.3 COERÇÃO E CORREÇÃO .................................................................................................... 59
4.4 SESSÃO DE ADESTRAMENTO ........................................................................................... 61
4.4.1 INDIVIDUAL ................................................................................................................... 63
4.4.2 DOIS MILITARES ............................................................................................................. 63
4.4.3 TRÊS MILITARES ............................................................................................................. 63
4.4.4 SESSÃO COLETIVA .......................................................................................................... 63
4.4.5 SESSÃO NOTURNA ........................................................................................................ 64
4.4.6 ENTROSAMENTO COM SUBUNIDADE ............................................................................ 64
4.4.7 SESSÃO DE SIMULAÇÃO ................................................................................................ 65
4.5 SEQUÊNCIA DE EXERCÍCIOS .............................................................................................. 66
4.6 TROCA DE POSIÇÕES COM PETISCO .................................................................................. 67
4.7 ALVO OU MARCA .............................................................................................................. 72
4.8 JOGO DE CABO DE GUERRA E DE BUSCAR DO CÃO COM SEU CONDUTOR ....................... 72
4.9 MANEIRAS PARA O CÃO LARGAR O MORDENTE ............................................................... 80
4.9.1 ARRANCAR O MORDENTE ............................................................................................. 80
4.9.2 IMOBILIZAÇÃO DO MORDENTE ..................................................................................... 80
4.9.3 MARCADOR E PETISCO ................................................................................................. 80
4.9.4 TROCA DE MORDENTE .................................................................................................. 81
4.9.5 LEVANTAR O CÃO PELA COLEIRA .................................................................................... 81
4.9.6 SACODE ......................................................................................................................... 81
4.10 CHAMADA DO CÃO ......................................................................................................... 81
4.11 ZONA DE CONFORTO ..................................................................................................... 82
4.12 POSIÇÃO DE FINALIZAÇÃO .............................................................................................. 83
4.13 ANDAR JUNTO AO CONDUTOR ...................................................................................... 84
4.14 POSIÇÃO DEITADO .......................................................................................................... 86
4.15 POSIÇÃO NO MEIO DAS PERNAS DO MILITAR ................................................................. 87
4.16 POSIÇAO DE PÉ ............................................................................................................... 87
4.17 COMANDO EM FRENTE .................................................................................................. 88
4.18 BUSCA DE OBJETOS LANÇADOS PELO CONDUTOR ......................................................... 89
4.18.1 COMER PETISCO LANÇADO E RETORNAR AO CONDUTOR ............................................ 90
4.18.2 BUSCAR OBJETO LANÇADO .......................................................................................... 91
4.18.3 manter um objeto em sua boca e soltar somente sob comando ................................... 92
4.18.4 andar na guia carregando objeto na boca ..................................................................... 93
4.18.5 ABOCANHAR NO CHÃO ............................................................................................... 93
4.18.6 GENERALIZAÇÃO DE OBJETOS ..................................................................................... 93
4.19 POSIÇÃO SENTADO ......................................................................................................... 94
4.20 TRANSPOSIÇÃO DE OBSTÁCULOS ................................................................................... 95
4.20.1 SALTO .......................................................................................................................... 96
4.20.2 TRANSPOSIÇÃO DE CURSO DE ÁGUA ........................................................................... 98
4.20.3 ESCALADA ................................................................................................................... 98
4.20.4 OBSTÁCULOS TIPO TÚNEL ............................................................................................ 99
4.21 RECUSA DE ALIMENTOS ............................................................................................... 103
4.22 ACHAR E APREENDER X ACHAR E INDICAR ................................................................... 105
4.22.1 LATIR SOB COMANDO ................................................................................................ 106
4.23 AGITAÇÃO ..................................................................................................................... 108
4.23.1 COM O PRÓPRIO CONDUTOR .................................................................................... 108
4.23.2 AGITAÇÃO COM O FIGURANTE ................................................................................... 108
4.23.3 ESTÍMULOS POR IMPULSOS PARA CAÇAR ................................................................... 110
4.23.4 ESTÍMULOS POR IMPULSOS PARA LUTAR ................................................................... 116
4.23.5 LARGAR SOB COMANDO ........................................................................................... 118
4.23.6 AGITAÇÃO CIVIL ......................................................................................................... 121
4.23.7 LUVA OCULTA ............................................................................................................. 121
4.23.8 COMBATE COM FOCINHEIRA ...................................................................................... 122
4.23.9 APREENSÃO EM PONTOS ALTERNATIVOS .................................................................. 124
4.24 PROCURA POR OPONENTE ........................................................................................... 127
4.24.1 RONDAS NOTURNAS ................................................................................................. 127
4.24.2 ADESTRAMENTO PARA PROCURA E INDICAÇÃO DE SUSPEITO POR FARO .................. 128
4.24.3 PROCURA EM INSTALAÇÕES ....................................................................................... 129

CAPÍTULO 5
ADESTRAMENTO DO CAO DE DETECÇÃO ............................................................................. 133
5.1 SEGURANÇA ORGÂNICA DAS ORGANIZAÇÕES MILITARES .............................................. 133
5.2 CÃO DE DUPLA APTIDÃO ................................................................................................ 134
5.3 HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA ADESTRAMENTO DO CÃO DE DETECÇÃO .................. 135
5.4 ESCOLHA DE ODORES .................................................................................................... 135
5.5 CONDICIONANDO O CÃO PARA RECONHECER OS ODORES DESEJADOS ......................... 136
5.6 IMPREGNANDO O MORDENTE ....................................................................................... 137
5.7 PSEUDO ODOR ............................................................................................................... 138
5.8 CONTAMINANTES DO ODOR .......................................................................................... 139
5.9 JOGO DE CABO DE GUERRA E DE BUSCAR ..................................................................... 140
5.10 CAIXA DE INDICAÇÃO DE AREIA .................................................................................... 141
5.11 CAIXA DE DETECÇÃO HOLANDESA ................................................................................ 142
5.12 CONE DE ODOR ............................................................................................................ 145
5.13 AUXILIAR ...................................................................................................................... 145
5.14 DUPLO CEGO ................................................................................................................ 146
5.15 PROCURA EM ÁREA ...................................................................................................... 147
5.16 ALTURA DE ESCONDERIJO ............................................................................................ 148
5.17 ESCONDERIJOS ENTERRADOS E SUBMERSOS ............................................................... 149
5.18 DISTRAÇÕES ................................................................................................................. 150
5.19 REGISTRO DAS SESSÕES DE ADESTRAMENTO .............................................................. 150
5.20 REALISMO .................................................................................................................... 152
5.21 MANUTENÇÃO DO CÃO ADESTRADO .......................................................................... 153
5.22 PADRÃO DE PROCURA .................................................................................................. 154
5.23 PERSISTÊNCIA NA PROCURA ......................................................................................... 154
5.24 ACIDENTES ................................................................................................................... 156
5.25 INTELIGÊNCIA ............................................................................................................... 156

CAPÍTULO 6
EMPREGO DO CÃO DE GUERRA ........................................................................................... 159
6.1 REGRAS DE ENGAJAMENTO ........................................................................................... 159
6.2 USO DE FORÇA MÍNIMA PROPORCIONAL E PROGRESSIVA .............................................. 160
6.3 LEGÍTIMA DEFESA DE SEU CONDUTOR .......................................................................... 162
6.4 RESISTÊNCIA A PRISÃO/DETENÇÃO ................................................................................ 162
6.5 PRESUNÇAO DE VIOLÊNCIA ............................................................................................ 162
6.6 CONTROLE ...................................................................................................................... 163
6.7 CONDICIONAMENTO DO CÃO ......................................................................................... 163
6.8 PROCURA POR SUSPEITO EM UMA ÁREA SEM FOCINHEIRA ........................................... 163
6.9 RESISTÊNCIA PASSIVA ..................................................................................................... 165
6.10 ABUSOS ....................................................................................................................... 166
6.11 USO DA FOCINHEIRA .................................................................................................... 167
6.12 TRIANGULAÇÃO PARA ABORDAGEM E NEGOCIAÇÃO .................................................... 168
6.13 APOIO DO CONDUTOR ................................................................................................. 169
6.14 REVISTAS DE PESSOAL ................................................................................................. 171
6.15 UTILIZAÇÃO DE AGENTES QUÍMICOS E FUMAÇA .......................................................... 172
6.16 UTILIZAÇÃO DE LANTERNA .......................................................................................... 173
6.17 POSIÇÕES DE TIRO COM O CÃO .................................................................................... 175
6.18 BREVE HISTÓRICO DO EMPREGO DO CÃO DE GUERRA ............................................... 177
6.19 FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO ................................................................................... 179
6.20 MISSÃO E VISÃO DE EMPREGO DO CÃO DE GUERRA ................................................... 179
6.21 MISSÃO DO EXÉRCITO ................................................................................................. 179
6.22 Missão Síntese do Conjunto Condutor-Cão de guerra ..................................................... 179
6.23 Visão de Futuro ............................................................................................................ 180
6.24 PROGRAMA DE DISSUASÃO DE AMEAÇAS .................................................................... 180
6.25 GUARDA E CONDUÇÃO DE DETIDOS ............................................................................ 181
6.26 CONTROLE DE MULTIDÃO ............................................................................................. 181
6.27 CONTROLE DE DISTÚRBIO CIVIL ................................................................................... 183
6.28 SEGURANÇA ORGÂNICA EM ORGANIZAÇÕES MILITARES ............................................. 185
6.29 CÃO ESCLARECEDOR ..................................................................................................... 187
6.30 CÃO RASTREADOR ....................................................................................................... 187
6.31 OPERAÇÕES DE CERCO E VASCULHAMENTO ................................................................. 189
6.32 FORÇA DE REAÇÃO – EQUIPE DE RESPOSTA RÁPIDA ..................................................... 190
6.33 PROCURA EM INSTALAÇÕES ......................................................................................... 192
6.34 CÃO DETECTOR DE MINAS TERRESTRES ....................................................................... 194
6.35 CÃO DETECTOR DE EXPLOSIVOS ................................................................................... 195
6.36 CÃES SENTINELAS ......................................................................................................... 195
6.37 AÇÃO DE POLÍCIA NA FAIXA DE FRONTEIRA .................................................................. 199
6.37.1 PONTOS DE BLOQUEIO E CONTROLE DE ESTRADAS – EMPREGO DO CÃO DE
DUPLA APTIDÃO NA REPRESSÃO DE CRIMES TRANSFRONTEIRIÇOS ..................................... 204
6.38 OPERAÇÕES DE GARANTIA DA LEI DA ORDEM ............................................................. 210
6.39 MOBILIDADE ................................................................................................................ 210
6.39.1 ACONDICIONAMENTO DOS CÃES .............................................................................. 210

CAPÍTULO 7
PROVAS DE HABILITAÇÃO ..................................................................................................... 213
7.1 AVALIAÇÃO DO JOGO ...................................................................................................... 219
7.2 PRESCRIÇÕES GERAIS ÀS PROVAS DE HABILITAÇÃO DO CONJUNTO CONDUTOR E
CÃO DE GUERRA .................................................................................................................. 221
7.2.1 DESQUALIFICAÇÃO EM QUALQUER MOMENTO DA PROVA .......................................... 222
7.2.2 PENALIZAÇÃO DE 3 PONTOS EM QUALQUER MOMENTO DA PROVA ............................ 222
7.3 PRESCRIÇÕES PARA O FIGURANTE DA CERTIFICAÇÃO ..................................................... 223
7.4 EQUIPAMENTOS AUXILIARES PARA O FIGURANTE .......................................................... 224
7.5 PROVA DE RESISTÊNCIA .................................................................................................. 225
7.5.1 DESCLASSIFICAÇÃO ...................................................................................................... 227
7.5.2 TESTE DA PRESERVAÇÃO DA CAPACIDADE DE TRABALHO ........................................... 227
7.6 PROVA BÁSICA DE HABILITAÇÃO DE CÃO DE GUERRA .................................................... 228
7.6.1 SALTO DE OBSTÁCULO DE LARGURA ........................................................................... 229
7.6.2 ESCALADA DE OBSTÁCULO .......................................................................................... 229
7.6.3 ESCALADA DE OBSTÁCULO COM AUXÍLIO DO CONDUTOR ........................................... 229
7.6.4 NATAÇÃO ..................................................................................................................... 230
7.6.5 TROCA DE POSIÇÕES A DISTÂNCIA ............................................................................... 230
7.6.6 BUSCA DE OBJETO LANÇADO PELO CONDUTOR .......................................................... 231
7.6.7 REJEIÇÃO DE COMIDA OFERECIDA PELO FIGURANTE ................................................... 231
7.6.8 REAÇÃO A TIRO DE FESTIM ......................................................................................... 231
7.6.9 COMANDO PARA DEITAR A DISTÂNCIA, CHAMADO EM DIREÇÃO AO CONDUTOR ........ 232
7.6.10CONDUÇÃO DE FOCINHEIRA NO MEIO DE GRUPO DE PESSOAS ................................. 232
7.6.11 APREENSÃO DE FIGURANTE PELA PERNA .................................................................. 232
7.6.12 REVISTA EM TRIANGULAÇÃO ..................................................................................... 233
7.6.13 ATAQUE LANÇADO COM O CÃO USANDO FOCINHEIRA E FIGURANTE CIVIL
SEM PROTEÇÃO, SEM LUVA NEM MACACÃO DE MORDIDA .................................................. 233
7.6.14 ATAQUE INTERROMPIDO. .......................................................................................... 233
7.6.15 PROVA DE DETECÇÃO DE EVIDÊNCIAS/MATERIAL MILITAR EXTRAVIADO ................... 233
7.7 CÃO DE DETECÇÃO (CD) NARCÓTICOS, CADÁVER, ARMAS .............................................. 235
7.8 CÃO DE DETECÇÃO EXPLOSIVOS ..................................................................................... 237
7.8.1 DESQUALIFICAÇÃO ...................................................................................................... 240
7.9 HABILITAÇÕES ESPECÍFICAS – BREVÊS ............................................................................ 241
7.9.1 PROVA DE HABILITAÇÃO PARA CÃO DE GUARDA - CÃO PARA POSTO FIXO
DE SENTINELA ...................................................................................................................... 241
7.9.2 CAO ESCLARECEDOR .................................................................................................... 243
7.9.3 CÃO DE PATRULHA ....................................................................................................... 243
7.9.3.1 PROVAS SUBSEQUENTES DE AVERIGUAÇÃO DO CÃO DE PATRULHA ......................... 245
7.9.4 HABILITAÇÃO DE CÃO DE APOIO A EQUIPE DE INTERVENÇÃO RÁPIDA/
FORÇA DE PRONTA RESPOSTA ............................................................................................. 246
7.9.5 HABILITAÇÃO DE CÃO DE CHOQUE DE OPERAÇÃO DE CONTROLE DE DISTÚRBIO ........ 247
7.9.6 HABILITAÇÃO DE CÃO RASTREADOR ............................................................................ 248
7.10 PROVAS DE AVERIGUAÇÃO ........................................................................................... 250
7.11 DUPLO-CEGO ................................................................................................................ 251
7.12 AVALIAÇÕES INOPINADAS EM SITUAÇÃO REAL ............................................................. 252
7.13 COMPETIÇÕES CANINAS ............................................................................................... 252

CAPÍTULO 8
SANIDADE DO CÃO DE GUERRA .......................................................................................... 253
8.1 ALIMENTAÇÃO ................................................................................................................ 253
8.2 PRINCIPAIS CAUSAS DE DESCARGA, MORTE OU EUTANÁSIA DE CÃES MILITARES: .......... 254
8.3 SUPORTE VETERINÁRIO .................................................................................................. 254
8.4 DENTES ......................................................................................................................... 255
8.5 INTERMAÇÃO ................................................................................................................. 256
8.6 DILATAÇÃO GÁSTRICA-VÓLVULO ..................................................................................... 258
8.7 DOENÇAS GENÉTICAS ..................................................................................................... 259
8.8 SÍNDROME DE CANIL ...................................................................................................... 259
8.9 BEM ESTAR DO CÃO DE GUERRA ................................................................................... 261
8.10 DESMOBILIZAÇÃO DO CÃO DE GUERRA ....................................................................... 262
8.10.1 MOTIVOS PARA DESMOBILIZAÇÃO ............................................................................. 262
8.10.2 DESTINO .................................................................................................................... 263
8.10.3 AVALIAÇÃO DE TEMPERAMENTO ............................................................................... 263
8.11 LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS - LEGISLAÇÃO VIGENTE ............................... 264
ANEXO A - ........................................................................................................................... 265
ANEXO B - ........................................................................................................................... 268
GLOSSÁRIO .......................................................................................................................... 270
REFERENCIAS ....................................................................................................................... 287
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

CAPÍTULO 1

SELEÇÃO DOS CONJUNTOS

1.1 SELEÇÃO DOS MILITARES


A hierarquia de funções em um canil militar, do mais moderno ao
mais antigo: tratador, condutor, figurante e adestrador.

1.1.1 CONDUTOR
O condutor de cão de guerra é o militar que recebe um determinado
cão para compor conjunto, recebe orientação e instrução para desempenhar
missões específicas que serão definidas a partir das provas de habilitação
dos conjuntos. Tem a obrigação de realizar exercícios diários para
manutenção das habilidades do cão e estar sujeito a avaliações periódicas
através das provas de habilitação e pronto para emprego em missões reais.
O candidato a condutor será soldado engajado, com sua formação
básica completa que já tenha passado por situações que permitiram avaliá-
lo, como testes de aptidão física, testes de aptidão de tiro, campos, serviços
ou marchas regulamentares. Com alguma experiência nas rotinas da
unidade, demonstrou profissionalismo, competência e motivação; é um
militar pronto, que será especializado. O candidato a condutor demonstra
muita iniciativa, segue obstinadamente objetivos claros e definidos a médio
e longo prazo para seu cão. Tem disponibilidade de trabalhar em horários
fora do expediente regular; o conjunto trabalha à noite; trabalhar no escuro
é a regra e não a exceção. É determinado para superar desafios e
dificuldades.
“O difícil nós fazemos imediatamente. O impossível
demora um pouco mais.”
—Slogan do Corpo de engenharia do Exército
Americano

“Um pessimista vê dificuldade em cada oportunidade,


um otimista vê oportunidade em cada dificuldade.”
Winston Churchill
15
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Como o condutor será um militar especializado que assessorará o


Comandante da operação, demonstra disciplina e fidelidade elevadas, caso
contrário, cria obstáculos técnicos fictícios para o cumprimento da missão;
tem acentuado espírito de corpo por meio da cooperação e da dedicação;
está apto a ser empregado em situações que exijam rapidez com decisão
e iniciativa, agindo com julgamento equilibrado; ao condutor de cão de
guerra exige-se rigidez e vigor físico, acrescido da persistência e
resistência, condizentes com os padrões físicos compatíveis com as
exigências de seu desempenho funcional; não é admissível o condutor
que tenha restrição para atividade física ou desempenho medíocre no Teste
de Aptidão Física (TAF).
O candidato a condutor tem consciência de que sua formação
profissional não estará completa ao final do curso de formação, mas
continua com a orientação de adestradores e condutores mais experientes
e eterna procura por autoaperfeiçoamento através de cursos curtos,
simpósios, participação de provas de trabalho e muita leitura.
Age com persistência vencendo as dificuldades encontradas; cada
prova de habilitação orienta-o aos exercícios que a serem melhorados,
demonstra flexibilidade e criatividade na execução de suas atividades e
preparação de seu cão; revela espírito de cooperação para o trabalho em
equipe, aprendendo com os mais experientes e ajudando os novatos; age
com raciocínio lógico e com previsão, demonstrando responsabilidade
necessária à prevenção de incidentes e acidentes; demonstra acentuada
meticulosidade para agir, atendo-se aos detalhes significativos; possui
disciplina e responsabilidade para cumprir suas obrigações, por vezes,
individualmente, independente de fiscalização; apresenta autoconfiança,
coragem, decisão e iniciativa ao se deparar com situações inopinadas que
exijam ações coerentes e acertadas independente de orientações de
superiores, agindo de acordo com as normas e doutrina vigentes.

1.1.2 FIGURANTE E ADESTRADOR


O ideal é que sejam selecionados para figurantes e adestradores
entre os melhores condutores, que se destacaram nas missões e nas provas
de habilitação.
O adestrador é o militar habilitado e experiente com a missão de
preparar o cão de guerra para cumprir as finalidades inerentes. Seu objetivo
é preparar o cão para ser habilitado em algumas das provas de habilitação

16
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

previstas. Já foi condutor de cães, já habilitou cães em provas, logo, tem o


perfil descrito para condutor, mas demonstra que tem algo a mais para ser
um adestrador. Tendo como tarefa selecionar e preparar homens e cães,
definir os conjuntos, desligar cães e homens que não tenham o perfil
desejado e selecionar os melhores conjuntos para missões específicas, o
adestrador militar tem em considerável nível de desenvolvimento, uma
personalidade delineada por atributos tais como direção e equilíbrio
emocional. Constitui-se em modelo para seus comandados, enquadrando-
os militarmente pela instrução e pelo exemplo alicerçado em valores éticos
coerentes com os princípios da instituição. O adestrador de cães demonstra
apresentação, disciplina, organização e zelo. Possui acentuada direção e
liderança na condução de seus subordinados, contribuindo para a
consecução do espírito de corpo. É capaz de perceber e compreender o
ambiente, as características dos seus subordinados, orientando os rumos
aos interesses e necessidades da instituição com prontidão. Em
consequência, demonstra criatividade e responsabilidade no desempenho
funcional.

1.2 PRESERVAÇÃO E RENOVAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS


DA SCG
É função de o Chefe da Seção de Cães de Guerra selecionar e manter
os militares que atuem e trabalhem realmente dentro do perfil desejado.
Planeja a manutenção e substituição das diversas funções, levando em
consideração as particularidades de cada unidade. Os candidatos a
componentes da SCG, devido à peculiaridade de compor conjunto com um
animal, e da longa preparação para figurantes e adestradores precisam
ter a perspectiva razoável de permanecer na SCG no ano seguinte.
Candidatos que no A+1 estarão sendo desligados por tempo de serviço,
cursos de especialização ou formação não serão selecionados como
condutores.
Este planejamento inclui quem selecionar para estágios e cursos.
Lamentavelmente, quando surge oportunidade de curso, existe uma
pressão para mandar militares mais antigos, algumas vezes sem
experiência alguma com cães. Os candidatos a cursos, estágios e
representações em competições serão escolhidos entre aqueles com
melhor desempenho nas provas de habilitação, que tenham oportunidade
quando retornarem do evento de passar experiência e conhecimentos para
os integrantes da SCG.
17
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Recrutas voluntários farão o curso preparatório, e sua capacidade


de entender, gravar e aplicar os conceitos será avaliada. Inicialmente
servirão como tratadores e auxiliares, recebem instrução e são preparados
para serem condutores caso engagem como soldados do efetivo
profissional. É fundamental sempre ter um universo que permita cortes,
uma vez que há indivíduos, que a despeito das melhores intenções, não
tem perfil para trabalhar com cães.

1.2.1 VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS


É fundamental que o novo integrante da Seção de Cães de Guerra
(SCG) seja familiarizado com a história e tradições do emprego do cão.
Valores serão imbuídos no militar, desde o momento em que está sendo
selecionado para integrar a SCG, para que se motive e se orgulhe de
pertencer a uma especialização militar tão peculiar. A Seção de Cães de
Guerra tem o dever de imbuir no militar novato e manter no veterano um
forte espírito de corpo com um rígido código de conduta, incluindo valores
como honestidade, apreço a normas e regulamentos, fidelidade, honra, e
desprendimento. Estes valores são catequizados diariamente por
orientações e pelo exemplo de todos veteranos da seção. São atitudes
que valorizam os recursos humanos da SCG: a publicação de resultados de
provas de habilitação, com a criação de uma cerimônia de entrega de
brevês das habilitações para serem usados nas peiteiras dos cães,
formatura e cerimonial para entrega dos brevês aos condutores, criação
de um ambiente de meritocracia e a desmobilização de militares que
deixem de atender o codigo de conduta de um membro da SCG. Uma das
maneiras de induzir a incorporação de valores pelos integrantes é fazê-los
decorar o credo e repeti-lo em formaturas, solenidades e deslocamentos
em forma da SCG.

1.2.2 UM EXEMPLO DE CREDO PARA SCG:


Credo do condutor de cão de guerra
Credo do condutor de CG
Eu sou condutor de Cão de guera
Como ele,
Não há melhor companheiro
Não há pior inimigo,
protejo meu cão,
18
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Meu cão me protege,


Meu oponente não terá abrigo da escuridão,
Meu cão verá o que não enxergo,
ouvirá o que não ouço,
seu faro será meu guia.
Juntos cumpriremos a missão,
A noite nos pertence,
Não passarão!

1.3 SELEÇÃO DOS CÃES


Assim como o homem, o cão de guerra tem um perfil: rústico, alta
tolerância ao desconforto, impulsos sociais, de caça e de luta acentuados
e ser saudável para se sujeitar aos desafios da atividade militar. Precisa
ter agressividade, morde de boca cheia e de forma tranquila, demonstra
agressividade latindo a comando, é controlável e tem sua capacidade de
farejar explorada para atingir algum objetivo militar: oponente, droga,
arma, ou explosivo.
O cão de guerra pode ser desligado do canil a qualquer momento,
por não avançar no adestramento, por lesão definitiva ou simplesmente
por não habilitar em nenhuma prova prevista. Pode e é selecionado a partir
de seis semanas de idade, entre outros critérios, com o teste de Volhard
adaptado. Em muitos aspectos, se assemelha ao preparo e seleção do
militar. Como em um curso operacional, o militar pode ser desligado por
não estar apto nos exames médicos preliminares, não atingir suficiência
no teste físico inicial ou por não demonstrar desempenho mínimo durante
o curso; é um severo funil que, aos poucos, vai selecionando e mantendo
os melhores.

1.3.1 SELEÇÃO DE FILHOTES


Os Testes de filhotes são empregados por organizações no mundo
inteiro, como instituições que selecionam e treinam cães guia para cegos
como “Leader Dogs for the Blind” e a Real Policia Montada Canadense. O
mais conhecido é o teste de “Volhard” e, usualmente, os testes são
bastante similares entre si, com algumas variantes. As Forças Armadas
americanas têm testes padronizados para aquisição de cães adultos.
Uma única pessoa examinará o filhote e é estranha a ele. A idade
ideal do teste é de sete semanas. O exame será individual e em um

19
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

ambiente isolado de outros estímulos. O lugar escolhido para aplicar o


teste tem condições adequadas, sem ruídos, movimentos, pessoas ou
qualquer coisa que possam distrair a atenção do filhote examinado. Os
testes serão aplicados de forma neutra, sem preparação prévia do filhote
e sem qualquer tipo de estímulo positivo ou negativo por parte do
examinador. Todo filhote começa com 100 pontos que são descontados
conforme a tabela. Em alguns testes, há descrição de “não serve”; a
experiência tem confirmado o que os programas de criação e seleção de
organizações militares e policiais já descobriram e descreveram em seus
manuais, não vale a pena perder tempo com estes filhotes. O Ch da SCG
pode mudar o peso de cada item, pode acrescentar outros testes,
principalmente, tendo sob perspectiva o que já tem em carga no canil e os
candidatos caninos disponíveis. Em toda a população há uma curva de
Gauss (distribuição normal), onde há os medianos e os extremos. O Chefe
da SCG corta os cães das faixas extremas inferiores, ficando com cães
médios, muito bons e excelentes. Conforme a SCG vai amadurecendo, o
padrão vai se elevando, o que é considerado um cão médio hoje na Seção,
possivelmente será um cão cortado em três anos. Um cão cortado da SCG,
por estar na extremidade inferior dos cães daquele canil, pode servir para
outra SCG que, naquele momento, não disponha de cães tão bons. Pode,
inclusive, ser alienado legalmente, gerando uma guia de recolhimento à
União e parte dos recursos pode retornar à SCG.
Não se admitem cães com medo de barulhos fortes. Aqueles que
possuem medo de tiro simplesmente não servem como cães de guerra.
Manter um cão desses é inaceitável, colocando a credibilidade da Seção
em cheque. Cães submissos também são cortados da SCG e não são
transferidos para nenhum outro canil, nem do Exército, nem de forças
auxiliares; podem, eventualmente, servir como bons cães de guarda ou
companhia doméstica e, preferencialmente, são castrados antes da
doação. Não é conveniente alienar cães nestas condições ou permitir que
o novo proprietário leve algum documento. É um cão problema que, por
anos, fará propaganda negativa da SCG de que foi originado.

20
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Ficha de Avaliação de Temperamento para filhote no processo seleção para Cão de Guerra
TESTE PONTOS DESCONTADOS
Filhote solto no meio de uma sala estranha
Inicia a exploração da sala imediatamente depois de ser largado;
postura corporal relaxada; comportamento confiante 0
Explora depois de alguma hesitação; postura corporal tensa;
cuidadoso 5
Quase não explora ou não explora; muito cuidadoso 10
Não explora nada; claros sinais de insegurança Não serve para Cão de guerra
Aproximação para um ser humano estranho
Filhote se aproxima imediatamente com postura confiante 0
Filhote se aproxima imediatamente, mas com postura levemente
tensa 5
Filhote se aproxima depois de um tempo; postura corporal tensa 10
Filhote não se aproxima e demonstra medo Não serve para Cão de guerra
Buscar bolinha
Imediatamente persegue, abocanha e corre com ela na boca 0
Imediatamente persegue, mas investiga antes de abocanhar 5
Aproxima-se da bola lentamente, investiga com receio 10
Não segue a bola 20
Tem medo da bola rolando no chão Não serve para Cão de guerra
Pressão da pata por 5 segundos, pressão suficiente para o filhote
demonstrar desconforto, puxar a patinha ou ganir
Demonstra desconforto; demonstra alguma reação de defesa;
tenta morder o avaliador e, quando solto, imediatamente se
aproxima do avaliador sem receio algum 0
Demonstra desconforto; não demonstra agressividade; quando
solto, se aproxima do avaliador ser for motivado para isso 5
Demonstra claro desconforto; tenta se livrar; quando solto,
hesita e não se aproxima do avaliador 15
Barriga para cima
Tenta se virar energicamente, se torna agressivo 0
Permanece parado, mas tenso 5
Descansa confiante e relaxado 10
Medo, pode urinar Não serve para Cão de guerra
Barulho forte
Imediatamente investiga a origem do som, se aproximando 0
Olha para direção do som, mas permanece imóvel 5
Reação inicial é de susto, mas recupera rápido e investiga 15
Claramente se assusta com o barulho, se afasta da origem do
som e pode demonstrar pânico
Não reage (filhote pode ser surdo) Não serve para Cão de guerra
Papel amassado e arremessado à frente do filhote
Imediatamente persegue o papel amassado, abocanha e carrega 0
Persegue e abocanha 5
Persegue depois de ser estimulado na segunda ou terceira
tentat iva 15
Não persegue, não percebe 25
Cabo de guerra gentil com paninho macio
Brinca animadamente; não se distrai por barulho ou até o toque
do avaliador em seu corpo; não desiste com facilidade; se
avaliador soltar o pano, carrega vivamente 0
Brinca, mas se distrai facilmente 5
Não brinca Não serve para Cão de guerra

21
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

1.3.2 SELEÇÃO DO CÃO ADULTO


A seleção de um cão adulto é extremamente rigorosa. A vantagem
de selecionar um cão adulto é que ele estará pronto para missões em
prazo bem menor do que o filhote, sem os riscos assumidos com a seleção
desde filhote de desenvolvimento de doenças genéticas como displasia
coxofemoral ou displasia de cotovelo. Outra vantagem é que podem
aparecer excelentes cães doados, dominantes, agressivos, com impulsos
altos de caça e de trabalho, incompatíveis com um ambiente doméstico
usual, mas com excelente potencial para cães de trabalho. A principal
desvantagem é que o cão adulto não é tão moldável quanto um filhote;
sua evolução, mesmo com estímulo, será mais limitada; o que ele apresenta
no teste de seleção é muito próximo do desempenho que se pode esperar
dele. É conveniente que o cão tenha impulso por caça, mas um cão duro,
maduro e dominante não vai interagir por impulso por caça com um estranho
imediatamente. O avaliador leva isto em consideração e usa equipamento
de proteção completo e mantem o cão amarrado em um poste,
independente do que o doador/vendedor informe. Cães adultos agressivos
com pouco ou nenhum impulso por caça podem ter lugar na SCG como
cães de guarda ou choque; o Chefe SCG avalia a necessidade de receber
um cão limitado, da mesma maneira que cães com impulso alto por caça,
mas com pouca ou nenhuma agressividade podem, eventualmente, ser
aproveitados como cães exclusivos de detecção. O que não tem serventia
alguma é um cão adulto sem agressividade e com baixo impulso por caça.
O cão adulto ideal é confiante, demonstra agressividade por dominância,
ou social, demonstra elevado impulso por caça. Cães agressivos por medo
são extremamente limitados e perigosos para servirem como cães militares.
O teste do cão adulto segue os mesmos princípios do filhote, não
houve contato prévio do avaliador com o cão e é escolhido um ambiente
estranho ao cão, por exemplo, uma praça pública ou um local dentro da
OM. Por ser um cão adulto, o avaliador se preocupa com sua segurança, e
pede para quem está doando ou vendendo o cão adulto amarrá-lo em um
poste; depois de amarrado, o doador se afasta do campo de visão e longe
do olfato do cão. A avaliação já inicia observando o comportamento do
cão, isolado em um ambiente estranho, sem apoio de seu condutor.
Submissão e receio são julgados com rigor, não há que se perder tempo
com um cão sem perfil para Cão de guerra. Mesmo em um ambiente
estranho e longe do seu condutor, é desejável o cão demonstrar estar
alerta, ativo, curioso e confiante. O avaliador não aceita desculpas como
22
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

o cão está nervoso por ter sido embarcado em carro, pela viagem ou o que
quer que seja; na verdade, o que interessa na avaliação é o desempenho
do cão isolado e sob condições de estresse. O se espera é que cão perceba
a aproximação e mantenha o eixo do corpo na direção do avaliador o tempo
inteiro. Responde à altura, se o avaliador se aproxima de maneira neutra,
amistosa, o cão não pode demonstrar medo, submissão ou inquietação.
Caso o cão demonstre agressividade exagerada sem sequer ser
estimulado ele pode ser descartado ou aceito. Será aceito levando em
consideração a experiência do pessoal do canil e possibilidades de futuro
emprego nas missões da SCG.
O avaliador inicia a figuração com mordente, luva, manga o que
achar conveniente; começa estimulando o cão em impulso por caça e faz
alguns movimentos de desafio, como gestos de ameaça ou aproximação
direta e frontal. É avaliado o interesse em perseguir um objeto em
movimento, morder e carregar. Insegurança e mordidas de ponta de dente
são avaliadas com rigor. Depois disso, o avaliador pede para o condutor
pegar o cão e conduzi-lo em pisos diferentes, asfalto, grama, lajota, piso
molhado, poças de água, ambientes internos, externos, ambientes escuros,
e escadas. O cão é embarcado em uma viatura e é transportado por alguns
minutos; demonstração de medo ou descontrole são avaliados com rigor.
Se o cão tiver impulso por caça suficiente para interagir com o avaliador,
este finge que lança o mordente em uma área e marca o tempo e interesse
do cão na procura, usando o faro. Cães com pouco ou nenhum interesse
inicial ou que não mantenham interesse por, pelo menos 2 minutos, são
descartados. Quanto mais tempo o cão demonstrar interesse, melhor. Outro
avaliador que não aquele que agitou o cão no poste, pode tentar realizar o
jogo com cão, o melhor desempenho é o cão que realiza intenso jogo de
cabo de guerra, demonstrando claro interesse pela brincadeira com o
condutor, interesse e excitação maior pela brincadeira do que pelo
mordente sozinho. Caso o condutor solte o mordente, pega outro igual e
excita e provoca o cão, motivando-o a continuar a brincadeira, o melhor
cão vai abandonar o mordente inanimado na sua boca ou no chão e perseguir
o mordente sendo agitado na mão do condutor.
A realização de um jogo de cabo de guerra intenso é uma situação
rara para ser encontrada em um cão adulto, sem preparação alguma.

realizar o jogo e, caso realize, abocanha o mordente de ponta de dente e,


se o avaliador soltar o mordente, o cão foge carregando-o em sua boca e
23
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

não retorna. Isto demonstra baixo impulso social e baixo impulso por caça,
novamente, a necessidade do canil naquele momento é considerada. Um
canil maduro, com bons cães, não terá lugar ou necessidade para um cão
limitado.
O candidato canino é colocado a trotar ou caminhar por, pelo menos,
3 km. Mesmo um cão sedentário cobre 3 km sem maiores dificuldades;
intolerância ao exercício ou manqueira, descartam o candidato canino.
Quanto maior a distância que o cão percorra com conforto, melhor.
O cão é colocado em movimento, subindo e descendo escadas,
descendo mesa de adestramento, realizando pequenos saltos, sentando
várias vezes, isto é feito com cão frio, antes e depois dos exercícios e da
caminhada. Lesões artríticas são mais bem percebidas com o cão com o
corpo frio, lesões tendíneas e musculares são verificadas com o cão com
o corpo quente.
Um exame veterinário inclui imagens radiográficas de cotovelo,
coxofemoral e, se possível, vértebras lombo-sacrais; exame odontológico
à procura de fraturas, faltas de dentes, falhas de mordedura; se o cão não
permitir, será sedado; um exame oftalmológico é feito, verificando a
presença de opacidade de córnea, defeitos nas pálpebras, cataratas ou
degeneração da retina; um exame otorrino pesquisa otite crônica, rinite/
sinusite crônica e testes sorológicos de Dirofilaria immitis e de
Leishmaniose. Estes exames têm custo significativo, por isso, candidatos
duvidosos na avaliação de comportamento e testes físicos não avançam
nesta etapa.
Se, neste momento, o candidato canino apresenta bom potencial,
seu histórico de vacinação e vermifugação é verificado e fica a critério do
Oficial Veterinário revacinar o cão com as vacinas previstas pelo calendário
profilático anual imposto pela Seção de Remonta Veterinária. O cão é
vermifugado e recebe algum produto de combate contra pulgas, carrapatos
e mosquitos, como coleiras ou outros produtos específicos, antes do cão
ser alojado na SCG para finalização de sua avaliação.
Um termo de doação/venda será assinado, conforme modelo
NORCCAN e será estipulado no termo, um prazo para devolver o cão em
caso de descoberta de vícios redibitórios de pelo menos 10 dias. O ideal
seriam 30 dias, mas o doador ou vendedor pode oferecer resistência,
alegando risco de o animal contrair alguma doença. Se os 10 dias forem
bem empregados, dificilmente algum problema sério passará despercebido.
Ao receber o cão, seu adestramento começa imediatamente e,
24
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

principalmente, a natação, caminhada e início do jogo de cabo de guerra e


jogo de buscar. Antes do fim do prazo estipulado no termo de doação/
venda, o Chefe da SCG, juntamente com o Oficial Veterinário decidirão
manter o cão no adestramento ou devolvê-lo.

25
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

26
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

CAPÍTULO 2

AGRESSIVDADE CANINA E
PREVENÇÃO DE ACIDENTES

2.1 AGRESSIVIDADE CANINA


As imagens abaixo mostram ataques de cães sem adestramento
algum. Pode-se ver um ferimento no braço de uma mulher e um ferimento
na perna de um homem nas figuras abaixo, ambos atacados por cães
errantes. Cães sem adestramento, ou com adestramento mal conduzido,
atacam com as presas, os dentes caninos, e tracionam o local da mordida,
além de trocar de lugar. Ocasionam lesões graves, laceração e perda de
tecido, musculatura ou tendão. O cão corretamente adestrado, com
mordida de boa cheia, calma, sem mascar ou soltar, apreende o suspeito
e causa ferimentos de pressão, contundentes, com hematomas, sem rasgos,
ou arrancamento de tecidos.

Ferimentos causados por cães de companhia, sem seleção genética e sem


adestramento para mordida de boca cheia. Laceração, perda de tecido, cortes e
evidente risco de sequelas funcionais e estéticas.

27
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Mordida de cão corretamente adestrado da Polícia canadense. Há ferimentos de


pressão, mas não há laceração, rasgos ou perda de tecidos. O cão, corretamente,
apreendeu e fez muita pressão com a boca.

Estatísticas americanas de ataque de cães no meio civil evidenciam


que a maior frequência dos ataques de cão (61%) acontece na casa da
vítima ou em ambiente familiar. Quando se incluem cães pertencentes à
família da vítima ou de algum amigo, a porcentagem sobe para (77%).
Estatisticamente, apenas um criminoso é vítima fatal em 177 ataques,
enquanto que as chances de um ataque que resulte na morte de uma
criança são 7 em 10. Dados do Centro Nacional de Controle e Prevenção
de Doenças de Atlanta: cães mordem 2% da população americana por
ano, mais de 4.7 milhões de pessoas. Segundo o Serviço Postal Americano,
a cada ano, 2851 carteiros são mordidos. O elevado número de 16476
mordidas de cães a pessoas com idade a partir de 16 anos foram
relacionadas ao trabalho (entregadores, eletricistas, pintores, jardineiros,
caseiros e empregadas domésticas). Outro dado é o local da mordida:
crianças atendidas em emergência têm mais chances de serem mordidas
no rosto, pescoço e cabeça , 77% das lesões em crianças abaixo de 10
anos são no rosto, maior parte dos acidentes são causados pelo cão da
própria casa ou de alguém próximo que ataca a criança por agressividade
despertada por dominância.

28
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Totalmente diferente do ataque de cães não adestrados, ocorridos


em acidentes, o cão usado como ferramenta de arma não letal tem seu
adestramento direcionado para causar o maior controle, maior dissuasão
e menor lesão corporal possível. No uso da força legal empregando o cão,
não se admitem mordidas no rosto, cabeça ou genitais em nenhum
momento do adestramento. Eventualmente, especialmente durante
combates mais difíceis, o cão de trabalho pode morder em alvos que não
foram adestrados, mas isto será exceção e não a regra. Se um oponente
que fez uso de arma de fogo, feriu civis ou militares e combateu ferozmente
com o cão, for eventualmente mordido e apreendido no rosto, é uma
situação justificável perante a justiça, mas se um jovem alcoolizado resiste
à prisão e é mordido no rosto ou nos genitais, o abuso de uso de força
estará configurado.
São alvos da mordida do cão adestrado corretamente: braço,
antebraço, perna, coxa, peito e costas. O tipo de mordida adestrada e
condicionada no cão é a mordida de boca cheia, onde o equipamento de
proteção, macacão de mordida ou luva é colocado até a comissura labial
do cão, é a mordida de apreensão, o cão morde forte e solta apenas sob
comando do condutor. Além da questão de uso de força mínima necessária,
a mordida de boca cheia, em que o cão soltará apenas sob comando, ajuda
a imobilizar oponentes com vestuário pesado de frio, em que a dor da
mordida não é tão sentida, mas o cão apreende e submete usando o peso
de seu próprio corpo. É o que é visto em provas esportivas, em que o
figurante com pesado equipamento de proteção, é imobilizado ou até
mesmo derrubado pelo cão.
Aqueles estímulos ou situações que despertam a agressividade
canina são separados em diversas categorias ou tipos com finalidade
apenas didática. Em algumas situações é fácil definir a agressividade do
cão, em outras não. Há tipos de agressividade desejável para atividades
militares que serão estimuladas no cão e premiadas com combate com
figurante.

Tipos de agressividade desejáveis no cão de guerra


Territorial Dominância social
Predatória Impulso por Lutar
Lúdica, Condicionada
Defesa

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JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O cão pode começar a agressividade por um impulso e migrar para


outro, será difícil ou impossível determinar o ponto exato da transição.
O cão, quando desafiado, escolherá lutar, fugir ou se submeter.
Todos os cães protegem seu próprio território, a diferença é quanto de
desafio determinado cão suporta para defender seu território, até quando
resistirá para fugir ou se submeter. A agressividade despertada por impulso
para caça é o alicerce do trabalho do cão de guerra, é a excitação para
perseguir e apreender objetos que se comportem como presa. Por exemplo,
uma pessoa fugindo, mordente amarrado em uma corda agitados pelo
condutor.
Outro tipo de agressividade desejável é por impulso lúdico e
acontece entre filhotes irmãos de ninhada, entre cães camaradas ou entre
cão e seu condutor, que há simulação de combate para fins lúdicos, é o
brincar de lutar. Na agressividade despertada pela proteção o cão
demonstra agressividade porque se sente em perigo ou se já tiver formado
conjunto com seu condutor, protege-o como membro de sua matilha. A
agressividade despertada por dominância social acontece sempre contra
alguém do grupo ou matilha, pode ser outro cão ou pessoa, será despertada
quando o cão se sentir desafiado por algum cão do grupo na disputa por
mordente, comida, local de descanso, ou outro recurso. A hierarquia social
canina não é linear, um cão pode se submeter a outro em relação a um
mordente, principalmente se não considerar o mordente interessante, mas
pode desafiar este mesmo cão na disputa por comida, isso é especialmente
verdadeiro para as fêmeas. O impulso por luta, como qualquer impulso,
pode ter limiar baixo, qualquer estímulo e já iniciam a briga ou limiar muito
alto, é preciso muita energia ou desafio para estimulá-lo ao combate, tão
alto que somente entrará em combate se não tiver como fugir ou se
submeter. A agressividade condicionada por adestramento, o cão é
condicionado a demonstrar agressividade, morder a manga de proteção,
bolinha, macacão de mordida, independente do estímulo inicial, objetivo
da agressividade do cão de trabalho militar é ter a agressividade
condicionada. Quando chegar na agressividade condicionada, os impulsos
que iniciaram ficam difíceis de precisar e definir, o cão de guerra pronto,
quando ataca sob comando de seu condutor, vai lutar, vai agredir,
misturando todo quebra cabeça montado durante meses, misturando
impulsos pela presa, pela luta, pela dominância social, etc.
Algumas maneiras de despertar agressividade canina são
indesejáveis para atividade militar. Na agressividade redirecionada, o cão
30
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

é excitado a agredir alguém ou outro animal; mas não consegue e acaba


agredindo outro alvo mais perto ou mais fácil. Ocorre, quando, por exemplo
o cão impedido de morder figurante, muito excitado, morde o próprio
condutor. Na agressividade estimulada por irritação, o cão é irritado a ponto
de agredir para suspender a inquietação. Na agressividade induzida por
dor o cão morde o veterinário que lhe aplica uma injeção dolorosa. Na
agressividade induzida por medo, o cão se sente ameaçado com ameaça
real ou imaginária e agride para se defender. Na agressividade maternal,
a fêmea com prole demonstra agressividade para proteger sua ninhada.
Na agressividade estimulada por comportamento sexual, o cão macho
agride outro macho do grupo para disputar fêmea no cio. Na agressividade
idiopática, a causa não pode ser atribuída a nenhuma dos tipos aqui
descritos, o ataque é inesperado, intenso e acaba da mesma maneira
abrupta que iniciou. Estes ataques caóticos, sem causa ou provocação
clara, totalmente imprevisíveis, causam acidentes graves, suspeita-se que
haja relação com algum tipo de má formação ou problema neurológico
congênito ou adquirido, semelhante a outros comportamentos patológicos
estereotipados já reconhecidamente de origem genética, como perseguir
o rabo ou ferimentos por lambedura.

Tipos de agressividade indesejáveis no cão de guerra


Redirecionada Maternal
Induzida por irritação Comportamento Sexual
Dor Idiopática
Medo

O cão se comunica com uma rica linguagem corporal, ferormônios,


odores e vocalização. Dos recursos de comunicação empregados pelo cão,
será de valor inestimável para o militar envolvido na cinotecnia o
conhecimento para interpretar a linguagem corporal. A maior parte da
comunicação de interação social do cão expressada pela linguagem
corporal pode ser dividida em três categorias:
1. Sinais para afastar oponente;
2. Sinais para convidar aproximação;
3. Sinais de excitação.
Somente cães dominantes usam sinais para afastar oponentes. Cães
submissos não são empregados como cães militares, em uma situação
específica em que um cão de guerra seja muito desafiado, ele pode
31
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

demonstrar sinais de submissão, o que representa erro grave de


adestramento.
A linguagem corporal do cão pode ser interpretada pelo nível de
agitação, o cão pode expressar dominância se movimentando rapidamente,
investigando o ambiente em que se encontra, farejando o ar ou se
aproximando do figurante. O cão pode demonstrar estresse com
imobilidade. Outro sinal importante é o eixo do corpo em relação ao
oponente, o ideal é que o cão sempre mantenha o eixo apontado para o
oponente ou desafio como se fosse uma flecha, cuja ponta é o focinho, a
coluna vertebral do cão é a haste e seu rabo é a extremidade da flecha. Se
estiver apontado para qualquer outro lado, o cão está se submetendo por
gesto de evitação social.
Passadas lentas e tensas em que o cão tenta simular uma silhueta
maior que seu tamanho real, tônus muscular tenso, na altura do pescoço e
da cabeça, indicam alta dominância e baixa submissão.
Um cão demonstra dominância com o rabo elevado. Se o cão
pretende desafiar o oponente que está a sua frente, o cão não manterá a
posição do rabo baixa ou relaxado, pois isto expressa submissão por gesto
de evitação social. O rabo entre as pernas demonstra evidente submissão.
Quando o cão abana rapidamente o rabo demonstra excitação e pode,
nesta condição, partir direto para a agressão, isto é especialmente
verdadeiro com cães da raça Rottweiler.
Os cães possuem vários sinais corporais para tentar dissuadir a
aproximação de cães e pessoas estranhas ou oponentes: cabeça na direção
do oponente, desloca-se na direção do oponente, fica em pé, tenta simular
silhueta maior que a real eriçando os pelos do dorso ou alongando as
patas, é equivalente a um humano na ponta dos pés; se elevam a cabeça
e pescoço, mantêm contato visual direto, vocalizam com rosnado, latido
ou apenas mostram os dentes.
O cão pode demonstrar vários sinais para demonstrar graus
variáveis de submissão na aproximação do oponente. Cão se movimenta
com o eixo do seu corpo perpendicular a aproximação, o cão pode afastar-
se ou permanecer imóvel para inspeção (permitir-se ser cheirado por outro
cão, gesto que pode ser mimetizado quando na frente de um humano),
pode baixar o corpo, cabeça e pescoço, quebrando o contato visual direto
e traçando um evidente gesto de evitação social. Quando um cão quer
demonstrar submissão, não expõe seus dentes, não rosna, não late e
vocaliza de forma evidentemente submissa: uiva ou chora. Quando o cão
32
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

demonstra submissão, seu rabo se movimenta lentamente ou não se


movimenta.
O contato visual direto - quando o cão olha no olho - é desejado e
estimulado do condutor com seu próprio cão, facilitará a obediência e o
controle. Quando o militar se aproxima de cão estranho ou cão que não
forme conjunto, se encarar diretamente sem desviar o olhar, pode despertar
agressividade social. Quando o militar não quer despertar agressividade
social em um cão estranho, ao entrar em um canil, por exemplo, não
confronta o cão com olhar direto e exagera nos gestos de evitação social,
virar a cara e abrir um pouco a boca como se estivesse bocejando.
Já o figurante que deseja despertar agressividade social encarara
o cão. Terá cautela, pois é um desafio intenso para cães imaturos e com
pouco adestramento. Já cães maduros não se ressentirão, pelo contrário,
corresponderão ao desafio com sinais para afastar o oponente.
Gesto de evitação social é quando o cão quebra o contato visual
direto e está sendo submisso, é indesejável no cão de guerra. O condutor
corrige e torna-se menos rígido, a coerção ou correção pode estar sendo
exagerada para aquele cão naquele momento. Se o animal fizer gesto de
evitação social com o figurante, erro grave foi cometido; se o figurante
desafia o cão mais do que ele podia enfrentar naquele ponto do
adestramento, o figurante imediatamente adota gestos de submissão, se
afasta, diminui sua silhueta, vira a cara e foge para o cão retomar sua
confiança.
O cão demonstra sinais de estresse se escondendo atrás de seu
condutor ou de objeto, dilata as pupilas e desenvolve tremores musculares;
neste caso, comandos são ignorados pelo cão que pode ficar totalmente
imóvel. Cães militares que demonstram estresse em situações corriqueiras
para cães de guerra como tiros, sirenes ou gritos serão reavaliados, talvez
não tenham perfil para enfrentar os desafios exigidos.
Alguns cães baixam a cabeça quando estão excitados no impulso
por caça, pode ser agressividade predatória, o cão pode estar prestes a
pular e a morder.
Ataques são explorados pela mídia com informações imprecisas
que causam mais confusão e medo do que esclarecimento, é muito comum
depoimentos de pessoas despreparadas. O condutor orienta a todos, no
meio militar e no meio civil para dissociar totalmente o cão de guerra
desses acidentes. Todas as demonstrações de emprego do cão de guerra
são oportunidades que não podem ser perdidas, demonstrando
33
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

profissionalismo e competência. Evitar demonstrações com exercícios


circenses sem aplicação militar. As demonstrações evidenciam que o cão
de guerra é um cão distinto e único, com seleção, preparo e adestramento
diferenciados do cão do meio civil.

2.2 PREVENÇÃO DE ACIDENTES


Há risco maior de acidentes pessoas que não participam da rotina
da SCG. Pessoas que entram em contato com os cães apenas
eventualmente, como por exemplo: civis visitantes e outros militares do
pelotão ou companhia.
Na condução de seu próprio cão há risco menor, mas existe. Os
condutores estão sujeitos à agressividade redirecionada ou depois de uma
correção. Existe risco comum a todas as atividades físicas como quedas,
torção de tornozelo ou pulso. Há risco com instalações como cortar ou
apertar dedos em portões, quedas em pisos escorregadios e molhados do
canil durante a limpeza. O condutor não usa pulseiras ou anéis durante a
realização do jogo, pois pode ocasionar lesões em si mesmo e/ou no cão.
Fora do adestramento de agitação, sempre colocar a focinheira; o condutor
lê o cão, percebe sinais de estresse e não pressiona demais ou
precocemente, antes de conquistar a liderança de seu conjunto. Quando
um cão é habituado com seu condutor, vai tolerar muito mais contato,
mesmo em posteriores, genitais e em cima da cabeça do que um cão que
acabou de ser assumido pelo condutor.
Um risco para o condutor é forçar um cão dominante a deitar. O
condutor mantem o rosto sempre alto. Se for necessário forçar o cão para
deitar, o condutor pressiona para baixo na barriga aa guia com seu pé, ou
passa a guia por uma argola cravada no chão.
O militar que faz a figuração está mais propenso a sofrer acidentes.
Uma vez que esteja usando ou mesmo apenas carregando equipamento
de proteção perto de cães de trabalho, é obrigação do figurante estar
atento para se proteger de um cão que se solte ou saia do controle de seu
condutor, e se for inevitável, direciona a mordida para o equipamento de
proteção.
Durante a figuração, o condutor que segura o cão não pode se
movimentar, quando se permite ser puxado pelo cão, expõe o figurante à
mordida onde e quando não ele não espera. O figurante protege o rosto
com a manga ou luva oculta, sempre oferece o equipamento para o cão, o
condutor mantem o cão baixo enquanto segura a guia. O militar que faz
34
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

figuração cuida dos dedos fora do equipamento de proteção, nos casos da


utilização do macacão de mordida e da luva oculta.
O figurante sempre combina o exercício, simulando-o com o cão
“fantasma” antes da atividade. No caso de cães muito agressivos ou muito
pesados para o condutor segurar, utilizar uma segunda guia de segurança
presa em poste, árvore ou gancho fincado no chão. Para diminuir a chance
de queda na grama molhada é conveniente uso de chuteiras pelo figurante.
Áreas de adestramento e canis são locais onde podem acontecer
acidentes aceitáveis, onde cães novos e inexperientes estão sendo
iniciados.
Fora da área de adestramento, somente conjuntos habilitados serão
empregados em missões, pois os cães terão suas focinheiras retiradas
frequentemente, além de estarem juntos com outros cães que estarão
excitados com a agitação.
Independente da antiguidade, sempre perguntar aos militares que
estão na área de adestramento se é seguro entrar; caso esteja conduzindo
um cão, perguntar se pode passar com o cão para prendê-lo/soltá-lo do
canil. Caso um cão se solte do condutor ou fuja da caixa de transporte ou
canil, o condutor grita para todos “cão solto!”. Ao ouvir o alerta, todos os
outros militares param qualquer atividade, não se agitam,
preferencialmente não se movimentam, todos os outros condutores
chamam seus cães e, se possível, colocam-lhes focinheiras.
Quando o militar está de serviço, entra somente nos canis
autorizados, nos horários habituais. O militar prepara o material na frente
do canil, mangueira para limpeza, ração, vassouras, etc. Cães são animais
de hábitos e facilmente se habituam que entrem em seus canis nos mesmos
horários e realizando as mesmas tarefas. O militar de serviço não mexe
no prato ou mordente de cão que não seja o seu.
Militar que entra nos canis jamais ameaça o cão com água ou tigela,
toma cuidado com o dedo nos portões para evitar acidentes menores, mas
que podem acarretar desconfortos. A manutenção adequada das
instalações está diretamente relacionada com a prevenção de acidentes
como soldar ferros soltos, consertar buracos em telas, colocar graxa em
ferrolhos para abrir e fechar com facilidade, lixar pontas que possam
machucar humanos ou cães e ter cautela dobrada no piso escorregadio no
canil. Militar não demonstra medo ao entrar no canil, planeja o que vai
fazer, entra e faz, e não olha para o cão diretamente. Se houver
necessidade, laça o cão com a guia, faz-se um laço grande na guia
passando por sua pulseira e captura o cão sem necessidade de aproximar
35
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

suas mãos da cabeça do animal e, então, prende o mosquetão na tela do


canil. Se houver real necessidade, somente então coloca enforcador ou
coleira, se for possível, troca o cão de canil ou o coloca na caixa de
transporte, utilizando o laço da guia como enforcador.
Em demonstrações, nenhum tipo de acidente é aceitável. A
qualquer momento, sob risco de acidente, quando o condutor apresentar
dificuldades de controlar o cão, com público muito perto ou não respeitando
o balizamento ou o piso for escorregadio, qualquer militar pode solicitar a
interrupção do exercício alertando a todos, ou ele mesmo interrompe a
execução de seu exercício. Em demonstrações, nada é mais importante
do que a segurança, nem mesmo a missão da demonstração, o militar
mais antigo pode suspender determinados exercícios ou, eventualmente,
suspender toda a demonstração caso perceba risco de acidente.
Chefe da SCG orienta a todos para jamais: conduzir dois cães juntos,
amarrar cães sem supervisão, amarrar em viaturas, deixar cães próximos
de público sem focinheira, como na hora da foto e de perguntas.
Os locais de adestramento de ataque são bem definidos com
pirulitos de aviso, fitas pretas e amarelas de advertência e cones. Áreas
com algum tipo de barreira física já presentes como ginásios e quadras
esportivas podem ser exploradas para melhorar a segurança. Se houver
necessidade, será prevista a distância de segurança entre cães e público.
Os figurantes não serão vistos pelos cães indo ou vindo da direção ou do
meio do público, mesmo nos adestramentos preparatórios. Caso o cão
saia de controle vai, preferencialmente, atrás do figurante. Todos entram
e saem com os cães da área de demonstração sem passar pelo público, as
caixas e locais de descanso serão outra rota de fuga escolhida pelos cães
que se soltarem longe de seus condutores.
Evitar apresentações e demonstrações dos cães da SCG em
condições climáticas extremas, especialmente nos horários mais quentes
do dia, pois os cães suportam muito mais o frio do que o calor.
Demonstrações podem ser canceladas em condições que ofereçam risco
a assistência e/ou aos cães, a cargo do militar mais antigo da SCG presente,
como chuva, pisos molhados ou escorregadios, devido ao risco de lesões
articulares e fraturas nos animais, além de eventual proximidade
inadequada com o público, sem a devida distância ou proteção.
Durante as demonstrações para público interno e externo sempre
reservar um local para a permanência dos cães, sendo o mesmo bem
demarcado por cones, cordas, fitas zebradas, etc.
36
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Na rotina da SCG, quando houver a necessidade de realizar curativos


e exames, o cão será levado ao Oficial Veterinário já de focinheira.
Todo militar tem muito cuidado no contato com o cão que não seja
seu. Nunca encará-lo. Movimenta-se calmamente, sem movimentos
bruscos. Sempre aborda o conjunto pelo lado do condutor, nunca pelo
lado do cão. Não faz gestos bruscos em direção ao cão ou ao condutor. Se
percebe sinais de agressividade, afasta-se devagar, sem correr, gritar ou
agitar os braços. Se acha que não consegue fazer isso, o militar fica imóvel,
abre a boca e vira o rosto.
Acidentes durante briga de cães são relativamente comuns, o militar
pega na ponta da guia com puxões fortes, todos ficam afastados da cabeça
dos cães. Tão logo seja possível separar os cães, cada condutor distancia-
se do outro cão. Em caso de cães acidentalmente sem guia, fazer um laço
na barriga dos cães e puxar um para longe do outro. A prioridade é a
segurança de humanos, depois a segurança dos cães.
Sempre que houver acidente, será realizada uma sindicância
instaurada pelo próprio comandante da Organização Militar para apurar
se houve dissidia, imperícia ou imprudência. Se houver uma ou mais dessas
situações comprovadas em sindicância, o militar arcará com as
consequências cabíveis. Caso o militar siga o previsto, estará perfeitamente
amparado.
O conjunto mantem uma distância de segurança do pessoal de
serviço. O condutor alerta em voz alta e clara: cão entrando na sala, cão
entrando em viatura, cão saindo do canil. O condutor não aborda esquinas,
cantos de prédios ou corredores estreitos sem verificar ou alertar sobre a
presença do cão. Quando em patrulha, está sempre atento, olha perto e
longe, tem cuidado com as pessoas que estiverem correndo, gritando,
pulando, com outros cães, criança ou militares correndo durante atividade
física ou instrução. Regras de segurança independem de posto ou
graduação, o militar que alerta para a segurança está cumprindo o
regulamento e está correto. Nunca deixa o cão sem supervisão, toma
cuidado para seu cão não ficar atrás de viatura, barraca ou outro local que
transeuntes não vejam e se aproximem demais. Em áreas abertas, isola a
área de descanso dos cães com fitas zebradas ou cones. A caixa de
transporte será levada e empregada, mesmo para pequenos intervalos
como tempo curto para ir ao banheiro, tomar água ou refeições; ficará em
local sob supervisão da guarnição de serviço, preferencialmente em sala
ou área fechada, restringindo o acesso de curiosos, como dentro de viatura
à sombra.
37
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O condutor nunca passa seu cão para a mão de militar não


habilitado. Sempre avisa que o cão é treinado para proteção, inclusive
para militares – alunos, recrutas e oficiais. A reação das pessoas nunca
será a correta, o condutor nunca imagina que qualquer pessoa sabe que o
cão pode atacar. Algumas pessoas até o sabem, mas confiam e exageram
na confiança e no controle do condutor; outras acham que os cães não
mordem, se aproximam demais, gesticulam, tocam no cão ou no condutor,
enquanto outras têm medo, realizando movimentos exagerados de medo
muito próximos do cão.
Todo condutor é um agente de operações psicológicas valioso e
aproveita todas as oportunidades para conquistar corações e mentes. Cães
despertam fascínio e curiosidade e aproximam pessoas, por isso são tão
valiosos em ações cívico-sociais e relações públicas do Exército Brasileiro.
A missão de esclarecer e orientar para diminuir acidentes no meio civil e
militar é encarada com entusiasmo e dedicação pelo militar cinotécnico
consciente.
Algumas orientações que se aplicam ao meio civil e que o condutor
ajuda a divulgar: que todos cobrem das autoridades que recolham cães de
rua e que cães de porte grande andem de focinheira. Orienta a todos que
jamais deixem crianças e cães sem supervisão de um adulto. Crianças
não sabem perceber sinais de que o cão está desconfortável com uma
aproximação, quem tem a obrigação de saber é o adulto que está
supervisionando. Sempre antes de um acidente grave, o cão dá sinais de
dominância como proteger prato, brinquedo ou lugar de descanso, não
permite que certas partes do corpo sejam tocadas – especialmente
posteriores. Quando o cão der esses sinais, o proprietário já estará em
alerta, pois sabe que lida com um cão dominante.
Acidentes podem e devem ser evitados tanto no meio militar quanto
civil, todos se empenham para melhorar de forma contínua, para corrigir e
cobrar medidas com o objetivo de evitar acidentes. Todos seguem regras
de segurança, e alertam quem inadvertidamente deixe de segui-las,
independente de posto ou graduação.

38
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

CAPÍTULO 3

EQUIPAMENTOS

3.1 FOCINHEIRA
O condutor, rapidamente, coloca e tira a focinheira, o cão de guerra
será condicionado a ficar confortável com ela. É fundamental para a
segurança, principalmente em viaturas, embarcações ou aeronaves. É o
pilar do trabalho de proteção do cão pronto, que combate agressivamente
de focinheira, empregando o peso do seu corpo para dominar o oponente.
A focinheira de serviço tem as características de uma focinheira de
combate.

cão no meio das pernas do condutor, verificação do ajuste correto da


petisco dentro da focinheira focinheira, pegar e erguer delicadamente o
cão, até as patas dianteiras perderem o
apoio do chão

A focinheira de combate é perfeitamente ajustada na cara do cão,


focinheiras militares francesas têm diversos tamanhos, alguns fabricantes
possuem até seis tamanhos diferentes específicos para raça e para sexo,
machos e fêmeas. Focinheiras que se movimentam, roçam nos olhos, roçam
a trufa, deixando o cão receoso de combater são completamente
39
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

inadequadas. O mordente macio dentro da focinheira permite que o cão


morda e firme mais ainda a focinheira, protegendo a trufa, que é sensível.
Uma barra de metal em forma de “U” protege todo o focinho, com abertura
para a trufa e um botão de liberação rápida. Para o adestramento e trabalho,
a focinheira tem que ser colocada e retirada rapidamente. O condutor dá
tapinhas na focinheira, se ela se movimentar ou o cão demonstrar
desconforto, é ajustada ou trocada, também verificar ajuste elevando o
cão pela focinheira, se isto o incomodar ou se soltar, é ajustada ou trocada.

Focinheira de Combate detalhe interno para melhor conforto e ajuste no caõ.

3.2 EQUIPAMENTOS PARA CÃO NOVATO


O figurante pode dispor de uma série de equipamentos, começando
com menores e mais macios, como mordentes de sisal, travesseiros de
mordida, manguim macio, manga para filhotes até chegar à manga para
40
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

cães prontos. Mangas duras, de tecido sintético de bite suit, são perigosos
em mãos de figurantes inexperientes, cães podem fraturar dentes,
especialmente caninos. Se não houver figurante experiente ou equipamento
em perfeitas condições, é melhor não utilizar a manga de proteção, apenas
equipamentos macios como macacão de mordida, jambier de perna, etc.
Não há pressa nem exigência para usar equipamentos duros, quem define
o prazo é a maturidade do cão em relação ao exercício, uma vez que há
desenvolvimento da musculatura da cabeça e pescoço. A real necessidade
de usar equipamentos duros é constantemente avaliada, tomando em conta
o nível técnico do figurante. Sempre que possível usar luvas macias com
refil de sisal natural, luvas com corda, para agitar melhor e dar puxadinhas
quando o cão estiver no giro da vitória. Luvas duras são exigidas em
competição de cão de trabalho, não tem função no cão de trabalho além
de permitir a verificação de mordida de boca cheia. A luva é mais cômoda
para o figurante e permite alguns artifícios interessantes que são mais
difíceis de fazer com o macacão de mordida, permite trabalhar com duas
luvas, entregar rapidamente a luva para o cão, e excitá-lo para combate
com a segunda luva, o que, entre outras coisas, condiciona o cão ainda
em impulso por caça a ter mais interesse pelo combate do que pela luva
sozinha ou, em outras palavras, mais interesse pelo oponente do que pelo
equipamento. Sempre lembrar que o oponente em situação real não usa
luva ou macacão de mordida.

3.3 GUIA LONGA


Guia longa é um recurso indispensável para o cão em diversos
exercícios, é o passo final para o cão realizar exercícios sem guia alguma.
O primeiro passo é a técnica correta de pegar a guia, em que o condutor a
deixa frouxa, chamada guia com “barriga” que corrige o cão apenas quando
necessário e o condutor volta a deixar a guia frouxa. Tensão na guia cria
reflexo de oposição é usada apenas nos exercícios de proteção para
melhorar a mordida do cão; nos exercícios para controle a tensão na guia
dificulte que o cão realize no futuro o exercício sem ela. O segundo passo
é deixar a guia no ombro, se for necessário, pegar a guia, corrigir o cão e
novamente repousá-la no ombro. O terceiro passo é deixar a guia arrastando
no chão.
O melhor emprego da guia longa é quando um adestrador auxilia o
condutor a distância, é a melhor maneira para preparar o cão para realizar
o exercício sem guia alguma. Quem fica na guia longa tem que saber
41
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

como corrigir o cão corretamente, sem exageros e no momento certo –


precisão.
O primeiro exercício a usar a guia longa é o junto, a guia longa fica
na mão do auxiliar que acompanha o conjunto condutor/cão, caminhando
alguns metros atrás; o condutor não leva nada nas mãos, incentiva o cão
a fazer o junto, se o cão se adiantar, o auxiliar corrige. Outro exercício que
a guia longa será muito útil é a revista de suspeito, o auxiliar fica com a
guia longa, há alguns metros atrás do cão, se o cão sair, corrige
imediatamente.

3.4 GUIA RETRÁTIL


Pode ser útil em alguns exercícios, é difícil encontrar guia retrátil
boa para cães cujo peso é igual aos cães de trabalho, mas é relativamente
fácil encontrar guias retráteis adequadas para filhotes, para trabalhar aqui,
busca de objetos, etc.

3.5 GUIA DE ADESTRAMENTO


Até 2m, fina, de couro de excelente qualidade, macio, bem
lubrificado com óleo Johnson para crianças, sem alça e sem costura no
couro; o couro possui fendas cortadas onde a guia é trançada sobre ela
mesma, prendendo mosquetão e montando alça, se necessário. O condutor
somente monta a alça quando necessário, pois ela tem pouca ou nenhuma
serventia, é utilizada mais como segurança extra em situação de patrulha,
em adestramento e pode mais atrapalhar do que ajudar. Com a guia
trançada sobre ela mesma, cruzando fendas abertas é fácil substituir
mosquetão estragado, diferente das guias costuradas que precisam ser
descosturadas e costuradas novamente para substituir o mosquetão.

3.6 GUIA CURTA


A guia curta é realmente curta, não pode roçar o chão quando o cão
caminha, nunca tem alça, é fina e serve como polimento do cão em final
de adestramento.
Como pré-requisito para o uso da guia curta, o cão já tem vínculo
com o condutor, vem sempre quando é chamado, mesmo com distrações.
A guia curta é sempre usada na área de adestramento ou demonstrações,
não tem alça nem costura, às vezes, sem mosquetão para evitar acidentes
do condutor como enfiar o dedo, é presa direto na coleira ou enforcador,
não há necessidade do distorcedor, uma vez que passará mais tempo solta
no pescoço do cão do que na mão do condutor. O condutor somente pega
42
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

na guia quando estritamente necessário para correção e, imediatamente,


a larga, deixando-a solta no pescoço do cão. Também será a guia curta
que o figurante auxiliará no comando para largar, o figurante, discretamente
e sem alertar o cão, busca a guia, tateando, sem olhar ou alertar o cão,
embaixo da manga de proteção, aguarda o comando para largar do
condutor e, então, força a guia para próximo de seu corpo.
A guia de uso geral mede entre 1,2 e 1,5 m, o couro é o melhor
material; a guia de adestramento é fina, 8 mm; a guia de condução de
patrulha pode ser macia e grossa, 15 mm, com couro trançado sem costura,
a alça pode ser montada traçando o couro por dentro de um corte, se a
alça estiver montada, colocar no punho esquerdo se destro, no direito se
canhoto. Se o condutor for destro, o cão permanece sempre à esquerda,
em todos os movimentos. Se canhoto, sempre a sua direita. Aqui a
padronização de formatura não tem muito peso, vale o pragmatismo, a
operacionalidade. O cão fica no lado da mão fraca, o lado da mão que
atira, que usa a tonfa ou faca fica livre. O objetivo não é padronizar para
a formatura ou desfile, o objetivo é que o patrulheiro sobreviva a uma
agressão e retorne ao final da missão para sua familia.
A guia passa pelo dedo indicador e retorna dentro da mão, maneira
correta para dar mais firmeza e para a guia não correr, mão forte sempre
livre para pistola, cassetete, tonfa, lanterna, etc.

a guia passa entre os dedos Posição correta para segurar a guia

3.7 COLAR DE ELOS GRANDES


É o colar para adestramento em geral e de emprego, formado por
elos elípticos metálicos.
As vantagens do colar de elos grandes é que ele é um enforcador
padrão, recomendado no CI C 42-30/I, uso autorizado por todas as
43
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

associações e, inclusive, estimulado por algumas. Pode ser usado como


enforcador quando a guia é tensionada, seu diâmetro diminui no pescoço
do cão. Também pode ser usado na posição travado, quando puxado, seu
diâmetro não altera em nada. Tem vantagem extra de não marcar o pescoço
do cão, pois não quebra ou marca o pelo.
Nas limitações, o condutor tem que fazer força para corrigir o cão,
especialmente cães duros; é facilmente perceptível para o cão, há
regressão ou tendência instintiva, o cão se comporta diferente sem o
enforcardor. Usualmente, comete-se o erro de enforcadores muito grandes,
o que diminui sua ação sobre o cão. O tamanho correto é apenas suficiente
para passar pela cabeça do cão; se passar com folga, está grande.

Maneira correta de colocar o Posição correta do enforcador, alto no


enforcador pescoço, logo abaixo da nuca, atrás
das orelhas

Mosquetão no colar, de
forma que fique travado.

44
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

3.8 ENFORCADOR DE GARRA


O efeito mais severo será quando estiver alto no pescoço, na
garganta e bem ajustado. Pode ser usado mais abaixo no pescoço em
cães que respondam melhor assim, ou com a guia no elo morto ou vivo. O
elo vivo é o que vai diminuir o diâmetro do enforcador, o elo morto vai
causar desconforto pela tração.
Nas vantagens, o desconforto pode ser dosado, desde leve até
mais severo, conforme altura no pescoço do cão e ajuste (mais alto e mais
justo, mais forte o desconforto); melhor enforcador para emprego de
coerção, causa o desconforto mínimo necessário para o cão realizar o
exercício que é cessado, imediatamente, quando o cão o realiza; muito
bom para cães mais duros, o animal é condicionado a ceder com mínimo
de força do condutor.
Nas limitações, é mal visto e até proibido por algumas associações,
provas de trabalho e algumas forças auxiliares; no EB, não há nada escrito,
regulamentando seu uso. É muito evidente para o cão, alguns até percebem
quando estão sem, o objetivo é fazer com que o cão obedeça ao condutor
e não apenas respeite o equipamento, evitando-se tendência instintiva ou
regressão. Alguns enforcadores, com alguns ajustes, tendem a se abrir
quando é usado um pouco mais de força, o correto seria usar um segundo
enforcador como segurança.

3.9 ENFORCADOR DE CORDA


Nas vantagens, produz correções severas que não aumentam a
agressividade do cão, é excelente para uso em cães dominantes e
agressivos com o próprio condutor; funciona como enforcador, esgana o
cão, correção muito semelhante a uma mordida no pescoço; discreto, difícil
do cão perceber quando está com ele.
Nas desvantagens, é difícil dosar o desconforto.
É fundamental que o cão respeite o condutor, não o equipamento,
que é um meio para atingir o objetivo. Sempre que for possível e seguro, o
condutor manipula o cão, como segurá-lo pelo couro do pescoço, manipula
os quadris para sentar ou ombros para deitar. Cutuca o cão com as pontas
do dedo, como se fosse uma mordida no pescoço, força o cão a deitar de
lado e o mantem assim até o comando de liberação, passa uma mensagem
muito forte no cão. Este exercício somente é feito quando o condutor
realmente estiver seguro, está acima do seu cão na hierarquia social,
senão, pagará caro, sendo mordido. Em áreas pequenas como dentro do
45
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

canil, o condutor já habituado e com liderança sobre seu cão, pode realizar
alguns exercícios de obediência, como sentar, deitar ou ficar em um canto
do canil, com o cão sem equipamento algum ou, se julgar necessário, com
o cão apenas de focinheira, sem enforcador de nenhum tipo nem coleira.
Caso o cão não realize os exercícios, o condutor o colocará na posição
correta, manipulando o cão. Um exercício interessante é mandar o cão
deitar antes de entregar a ração e somente permitir que o cão coma com
um comando de liberação. É um exercício de dificuldade média, mas que
deixa muito claro na cabeça do cão quem, verdadeiramente, é o líder.

3.10 COLEIRA ELETRÔNICA


Coleiras eletrônicas podem ser muito úteis para polimento de
diversos exercícios importantes para o cão de guerra, mas sua importância
não pode ser demasiadamente valorizada.
Desde muito tempo cães militares no mundo inteiro tem sido
adestrados e empregados sem o uso de coleiras eletrônicas, o uso de
coleiras eletrônicas em cães militares, em uma perspectiva histórica, tem
aparecimento recente. Muitos exércitos proíbem ou não dispõem de coleiras
eletrônicas e continuam preparando seus cães como sempre fizeram.
Muitas associações esportivas de cães de trabalho proíbem seu uso.
Como desvantagens há o uso incorreto, com erros na intensidade,
precisão e duração. Há variação de intensidade afetados por variáveis do
pelo como espessura, umidade e sujeiras. A regressão, ou seja, retorno ao
comportamento quando o cão estiver sem coleira é alto, principalmente
se as recomendações descritas logo abaixo não forem seguidas. Há risco
de agressividade redirecionada, contra o condutor ou contra quem o cão
associar o desconforto. A desvantagem mais grave é ser considerado uma
panaceia, uma solução para todos os males criados por técnica de
adestramento e genéticas medíocres. O uso de coleira eletrônica pode
ser usado para mascarar problemas que não aparecem em cães com boa
genética e adestramento adequados.
Alguns trabalhos demonstram que os cães treinados com coleira
eletrônicas manifestam expressões coporais de estresse e marcadores
fisiológicos como níveis salivares de cortisol mais elevados, em níveis
mais elevados do que aqueles cães treinados com coleiras convencionais.
A mensuração de níveis de cortisol presentes na saliva é um clássico
marcador de estresse em pesquisas. Muitas vezes o cão associa o
desconforto com o condutor e sinais de estresse continuam manifestando-
46
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

se fora de situações de treinamento; ou seja há associação direta do


desconforto com a proximidade do condutor, e a expectativa da correção
estressa mais que própria correção. Este é o pior cenário possível: afetar
o bem estar do cão de forma permanente, a simples proximidade com o
condutor estressa o cão pela associação incorreta, criando-se um
comporamento supersticioso no cão. O desejável seria a associação com
algum comportamento indesejável específico ou a associação exclusiva
com desobediência.
Como vantagem, é ferramenta valiosa se bem utilizada como
polimento em alguns exercícios, agregando resultados mais rápidos e mais
consistentes, como rejeição de alimentos longe da vista do condutor e a
posição de deitar a distância com fortes distrações para o cão.
Alguns pontos importantes para uso da coleira eletrônica:
1. Adquirir coleiras de boa procedência, indicadas para cães
de trabalho. As coleiras indicadas para adestramento de cães
de caça usualmente são robustas e com excelente alcance.
Uma boa coleira tem um alcance razoável indicado no seu
manual (o alcance real é sempre menor do que a do manual),
tem opções de graduar o estímulo, e tem uma opção “vibrador”
ou “bip”. Botões são fáceis de diferenciar pelo tato.
2. Comprar uma coleira “dummy”, ou simulacro de coleira. Bons
fornecedores já oferecem um simulacro do mesmo peso e
modelo da coleira original, com preço mais acessível. O
simulacro será colocado no cão por pelo menos 10 dias, dia e
noite, no canil, em passeios, trabalho, etc. Isto dessensibiliza
o cão para o peso e o habitua a sensação do uso da coleira.
3. Depois do uso do simulacro, o condutor coloca a coleira
eletrônica real no cão, mas não vai ligá-la por várias sessões
de adestramento. Leva controle remoto na mão, e começa a
acioná-lo nas situações nas quais usaria em treinamento. Este
adestramento com a coleira desligada,prepara o condutor para
lidar com mais um equipamento (controle na mão) e
dessensibiliza o cão – o cão não pode criar associação entre o
uso da coleira ou do controle na mão do condutor com o
acionamento da coleira.
4. Algumas vezes é preciso cortar um pouco os pelos do
pescoço do cão, usar gel para ultrassom ou apenas água nos
contatos da coleira eletrônica.
47
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

5. É usado o menor estímulo e é aumentado paulatinamente


até se atingir o resultado.
6. Nas primeiras vezes de cada exercício novo em que for
utilizada a coleira eletrônica, o cão será controlado pela guia
longa. É conveniente iniciar para a fase de correção do exercicio
de ficar deitado longe da vista do condutor e avaliar a reação
do cão e verificar se ele associa corretamente com o exercício
e não cria um comportamento supersticioso.

3.11 CLICADOR
Clicador é um pequeno instrumento de plástico com uma lâmina de
metal interna que quando pressionado pelo polegar se movimenta e emite
um som metálico. Sua simplicidade garante que o som seja sempre o
mesmo, até para audição mais acurada do cão. Serve para ser associado
com algum prêmio, comida, petisco ou cabo de guerra. Marca precisamente
para o cão qual o momento exato, ou melhor, qual comportamento exato
proporciona o premio. Facilita muito tanto para o cão como para o condutor,
e pode ser usado inclusive por um auxiliar, preferenencialmente mais
experiente que condutor, que indicará o momento de premiar.

Clicador

48
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

CAPÍTULO 4

ADESTRAMENTO BÁSICO
O programa de adestramento apresentado objetiva preparar o cão
de dupla aptidão, que demonstre agressividade controlada e use o faro
com alguma finalidade de interesse militar.
A base fundamental de todo o programa é o jogo de cabo de guerra
e de buscar o mordente, realizado entre o condutor e seu cão. Este jogo
permitirá adestrar e manter o cão nas habilidades de morder sob comando,
usar seu faro a serviço do condutor e na manutenção de exercícios de controle.
A capacidade de ser adestrado e trabalhar do cão tem como pedra
fundamental seu instinto social. Seu condutor assumirá como uma versão
humana do líder da matilha. A matilha terá agora dois elementos, um
humano e um cão e será chamada de conjunto. O instinto gregário do cão
estimula-o para sentir-se recompensado quando seu condutor demonstra
satisfação e sentir-se corrigido quando seu condutor o desaprova. Espera-
se de um bom cão de guerra que procure fortalecer o vínculo social com
seu condutor procurando sua aprovação e carinho. Espera-se de um bom
condutor que use todos os artifícios para estimular e corrigir seu cão
guiando-o corretamente para o trabalho.

“Talento é mais barato que sal. O que separa a


pessoa talentosa da bem-sucedida é muito
trabalho duro.”
Stephen King

4.1. FUNDAMENTOS DO ADESTRAMENTO


4.1.1 REALISMO
A SCG tem como prioridade preparar os conjuntos para enfrentar
condições reais. Todo esforço é canalizado para simular o máximo possível
as condições reais: tiros de festim, escuridão, comportamento do oponente,
distrações, etc. O condutor terá em mente que, mesmo com todo esforço
para simular a realidade, jamais conseguirá igualar situação de estresse
49
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

do combate. Se o cão é apenas satisfatório no adestramento, não cumprirá


missão real: adestrar como combate, combater como adestra.

4.1.2 PRONTO EMPREGO


A missão número um do conjunto é sempre estar pronto para seu
emprego. Missão dada é missão cumprida. Ou o conjunto está pronto para
o emprego ou não está, não há justificativas para o despreparo. O cão não
é uma máquina, como a pistola de serviço que é cautelada na reserva, se
não for trabalhado diariamente, perde sua capacidade de trabalho. Não
são as peculiaridades da missão que mudam e sim o preparo e
adestramento dos conjuntos. Cães farejadores que se distraem com
comida, gatos ou outros cães não estão preparados e o responsável é a
maneira na qual o programa de adestramento está sendo conduzido.

4.1.3 PLANEJAMENTO
O Chefe da SCG estabelece objetivos para cada conjunto, impõem
data limite e não permite o terrível vício de criar justificativas ou desculpas
para não atingir os objetivos propostos nos prazos corretos. Estabelece
avaliações frequentes, monitora etapas intermediárias nas provas de
habilitação e simulações de provas de habilitação para atingir a meta final
que é a excelência no desempenho da missão real. Dessa maneira, se o
objetivo final for certificar como cão de detecção, quando o cão tiver 12
meses de vida, pontos de checagem são estabelecidos para avaliar o cão
aos 3 meses, 6 meses, 9 meses de idade, etc.
Ciclo Planejar, realizar, monitorar, corrigir
Planejar Basear nos Regulamentos e Legislação, e doutrina
vigentes;Estabelecer prazos e metas;Estabelecer regras de
engajamento claras;Adestrar com foco para cumprimento de
missões específicas
Realizar Realizar as tarefas e missões para quais tenha sido preparado
Monitorar Avaliar imediatamente pós-ação – registrar oportunidades de
melhora;Registrar informações nos momentos de checagem e
mensuração de desempenho – Provas de habilitação, Registrar
e arquivar Fichas de adestramento de detecção.
Corrigir Melhorar seleção, adestramento e emprego de conjuntos,
equipamentos e táticas, processo contínuo de melhora.

“Perseguir sem cessar uma meta: Este é o


segredo do sucesso.”
Anna Pavlova
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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

4.1.4 REPETIÇÃO
Repetição é o número de vezes que determinado exercício é
realizado. A repetição é a base do adestramento, nas repetições o cão
será condicionado a fazer o exercício sob comando e o fará imediatamente.
Para aprender um exercício novo é melhor não deixar um intervalo maior
que 24h. Um cão começa a ter capacidade de retenção do de um exercício
novo depois de pelo menos 10 dias realizando diariamente. Não é
conveniente um cão ficar sem trabalhar mais de 72 hora para manutenção
de exercícios já condicionados; quando o cão não realiza o exercício, vai
perdendo a habilidade com o tempo, até deixar de realizar, chamado de
regressão ou tendência instintiva.

“Não basta fazer coisas boas - é preciso fazê-las


bem.”
Santo Agostinho

4.1.5 QUEBRA-CABEÇA
Todos os exercícios reais ou de provas de habilitação são
completamente executados a cada 10 sessões de adestramento. O
exercício é fracionado como peças de um quebra-cabeça e adestrados
muitas vezes como exercícios independentes. Por exemplo, o exercício
que o condutor manda o cão deitar, condutor se afasta e chama seu cão,
não é adestrado do início ao fim rotineiramente. O condutor todos os dias
manda seu cão deitar, se afasta, se aproxima, caminha a volta do cão, e
apenas libera o cão para sair da posição deitado quando se aproximar
dele. A chamada será adestrada em outra oportunidade, com um assistente
que segura o cão, enquanto o condutor o chama, e então libera para o cão
voltar correndo e com energia para seu condutor, tão logo chegue junto de
seu condutor, é premiado. Adestrar o exercício completo ou deixará o cão
lento, ao retornar ao condutor, ou, o cão eventualmente vai antecipar e
sair da posição no momento errado, realizando o exercício de forma
inconsistente. O conceito de adestrar o exercício como quebra cabeça
também é utilizado quando o exercício é adestrado na sequencia invertida.
No exercício de buscar objetos, onde, a última “peça” deste quebra-cabeça,
o cão entrega o objeto ao condutor, é o primeiro exercício adestrado com
o cão.

51
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

4.1.6 PRÊMIO
O condutor premia o cão de diversas formas: elogio, afago, alimento
na forma de petisco, jogo de cabo de guerra ou jogo de buscar.
O elogio é apenas verbal, não físico; é um reforço positivo
secundário. No início, sempre é associado com afago e petisco e, depois,
empregado isoladamente. Cada condutor condiciona algumas palavras que
seu cão interpreta como elogio. O cão, quando entende o elogio, demonstra
claramente com linguagem corporal, por exemplo, abanando o rabo. Ele
entende como uma sinalização de seu condutor para que continue o
comportamento que está fazendo.
O afago é contato físico agradável do condutor com seu cão e o
condutor descobre o que seu cão aprecia como contato físico. O condutor
descobrirá como excitar e premiar seu cão sem nenhum mordente, usando
apenas as mãos. Alguns cães gostam de simular brigas sendo empurrados
por seu condutor, outros gostam de carinho, outros de tapinhas nas
costelas.
O cão de trabalho jamais recebe afago quando ele solicita, é afagado
como recompensa e é reservado para exercícios executados com perfeição
ou rapidez. Se o condutor afaga muito seu cão, o cão desvaloriza o carinho
e a mensagem recebida pelo cão será que está acima do condutor na
hierarquia da matilha.
O afago pode ser usado para acalmar, passando a palma da mão
pela lateral do corpo do cão ombros ou costelas bem lentamente ou falando
lentamente, em tom suave, sempre as mesmas palavras. É um bom
momento para usar o “bom” seguido do comando, por exemplo, se o cão
estiver mordendo de boca cheia, recebe o afago e ouve lentamente em
tom suave “boa mordida”, intervalo de 5 segundos, e novamente “boa
mordida”.
Evita-se o afago na parte superior cabeça do pescoço, dos ombros
ou dorso, pois será interpretado pelo cão como sinais de imposição de
dominação social.
O condutor pode utilizar outro tipo de afago para excitar e estimular
seu cão, usualmente funciona a técnica de tapinhas suaves mas rápidos
nos ombros e costelas.
O cão pode ser premiado com petisco, que é algo diferente do que
habitualmente come e que demonstre apreciar. Cuidado para não
desbalancear a dieta ou perturbar a proporção correta de Cálcio e fósforo
recomendada para filhotes. O petisco é macio e em pedaços pequenos. A
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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

salsicha, cortada em fatias, tem consistência perfeita e a maioria dos cães


gostam, mas não é balanceada para alimentação animal e contém aditivos
como nitritos, nitratos e temperos. O emprego como prêmio da ração
balanceada que o cão usualmente é alimentado tem como vantagem obrigar
o cão a realizar o exercício e entender que, a partir da realização do mesmo,
receberá a alimentação de sua sobrevivência. É excelente para cães
resistentes à realização de algum exercício ou cães muito dominantes. O
cão entende bem diferente quando recebe petisco, algo diferente, mais
apetitoso que a ração usual e quando realiza trabalho em troca da
alimentação de sua sobrevivência. Nesta situação, o cão somente é
alimentado durante e após a realização do exercício ou trabalho. Com o
cão com fome, rações peletizadas com biscoitos grandes podem ser usadas,
mas com o inconveniente de o cão engasgar, tossir ou derrubar. Existem
algumas rações em pasta com alta concentração de energia, são
dispendiosas, mas podem ser usadas eventualmente, ainda mais se
auxiliarem o condutor a superar algum desafio com seu cão, como um cão
dominante que se nega a deitar por outro prêmio, ou no final do exercício
de faro, logo após dar a última indicação correta.
Existem vantagens para o cão realizar o jogo do cabo de guerra
com estranhos; quando bem realizado, o cão sempre sairá vitorioso,
melhorará a sua autoconfiança e se preparará para o figurante e o combate
real. Também existe a vantagem do figurante auxiliar o condutor para o
cão soltar, desde que tenha a habilidade de não deixar o cão perceber que
foi dele onde se originou a coerção/correção.

4.1.7 COMANDOS
Cada comando dado que não é cumprido, enfraquece-o. Como boa
prática o condutor se policia para não repetir um comando sem garantir
que o cão realize o comportamento. Os comandos são sons, mais do que
palavras, com ênfase na primeira sílaba. Elegem-se poucos comandos que
são trabalhados literalmente centenas de vezes.

“Menos é mais.”
Robert Browning

O condutor não inventa comandos, usa um grupo de comandos


consagrados na SCG. Comandos inventados podem ser confundidos com
outros por ter som parecido para o cão. Espera-se que o cão obedeça em
situações de alta excitação e estresse para ele e para o condutor. O
53
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

condutor esforça-se para manter os comandos mais simples e claros para


ele mesmo e para seu cão.
O cão é muito rápido, a partir da primeira sílaba ele já começa a
realizar o exercício, por isso, um comando não pode causar confusão na
primeira sílaba ou ser confundido com outro comando que inicia com o
mesmo som. Como exemplo, é mais adequado empregar o comando “OK”
ao invés de liberdade, bem mais curto, sonoro e não confunde com outro
comando, pois não existe outro comando que inicie como o som de “ó” no
grupo de comandos utilizados.
Há algumas vantagens de usar um grupo de comandos em língua
estrangeira. Grupos de comandos em alemão ou francês foram testados
exaustivamente e não têm semelhança entre si, principalmente no som
da primeira sílaba, evitando confusão para o cão. Seu emprego está bem
disseminado no meio esportivo no mundo inteiro, inclusive nos cães de
competição brasileiros. Fuss, em alemão, é o comando para o exercício de
junto, não significa a palavra “junto”, significa a palavra “pé”, foi escolhido
por ser muito sonoro e não ter semelhança com outros comandos, já o
comando platz, outro exemplo, não significa deita, significa “lugar” em
alemão. Grupo de comandos em língua estrangeira não são palavras ditas
no dia a dia do brasileiro e o militar as pronuncia apenas nas situações
certas. O uso de um grupo de comandos em língua estrangeira pelo
condutor, além de refletir uma imagem profissional excelente, dificulta
que curiosos fiquem dando comandos aos cães.
O emprego do grupo de comandos em língua estrangeira apresenta
algumas desvantagens: alguns militares têm dificuldade e vergonha de
pronunciar os comandos, esquecem que, neste momento, não estão sendo
avaliados na competência de falar algumas palavras em outra língua e,
sim, sendo avaliados no controle de seus cães; se o militar tem dificuldade
na situação de adestramento, hesitando, tendo que pensar ou falando
cada vez de uma maneira diferente, é provável que não tenha condições
de dar os comandos em situação real de estresse ou combate.
Podem ser empregados grupos de comandos em português, o que
apresenta algumas vantagens: são bem mais fáceis de assimilar por parte
do militar, tanto na pronúncia, como no significado. Em poucas sessões o
militar estará habituado e gravará os comandos. Há algumas desvantagens
no emprego do grupo de comandos em português: são palavras usadas no
dia a dia e é mais difícil do militar aprender uma entonação totalmente
diferente para ser usada com o cão. Há a tendência de o militar ficar
repetindo os comandos com entonação normal de voz do dia a dia.
54
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

A experiência tem dado a preferência para o uso do grupo de


comandos em alemão, uma vez que são fortes, sonoros e bem diferentes
de palavras ordinárias do português. De qualquer maneira, o Sargento/
oficial Chefe do Canil pesa vantagens e desvantagens e define para a SCG
ou para determinado conjunto o que for mais eficiente. O fundamental é
que haja formação de conjunto, que o condutor seja o mestre de seu cão e
tenha perfeito controle sobre ele. Grupos de comandos podem ser mudados
para determinado cão, já há prejuízo com a troca de condutor e, a troca de
grupo de comandos apenas trará um atraso a mais na formação do
conjunto. Se um exercício é mal executado pelo cão, às vezes é melhor
começar do zero e associar um novo comando ao comportamento desejado.
Se, ao ouvir o comando fuss o cão demonstra receio por erro de
adestramento, então, o condutor reinicia do zero, e associa novo comando
com comportamento adequado:

Grupo de Comandos em Alemão


BRING: comando para buscar objeto SITZ: senta e permanece sentado até o
atirado pelo condutor. próximo comando.
FUSS: andar junto, sempre do lado OUT/AUSS: o cão larga e mantem sem
esquerdo, sem cruzar na frente ou ficar morder até o próximo comando.
muito para trás, o ombro direito do cão REVIER: comando para achar e latir
acompanha o joelho esquerdo do condutor. PACKEN: comando para morder ou
HIER: o cão se aproxima rapidamente do achar e morder.
condutor quando chamado, mesmo HOP: comando para saltar.
quando distraído. PACKEN: morder - mordente ou figurante
PLATZ: o cão deita e permanece deitado
até o próximo comando.

4.2 MARCADOR
Para um cão associar um comando, um prêmio ou uma correção
com um determinado comportamento, não pode demorar mais do que 3
segundos. Quanto mais próximo melhor, se for simultâneo é ideal.
Se o adestrador não quer que o cão crie uma associação indesejável
entre um estímulo e um comportamento, garantirá um intervalo de, pelo
menos, cinco segundos; quanto mais tempo, melhor. Se o adestrador abre
a porta do canil e permite que o cão saia imediatamente, este criará
associação indesejável de liberação para sair e porta abrindo. A conduta
correta é abrir a porta do canil, mandar o cão deitar, fechar e abrir a porta
várias vezes; na última vez, abrir e esperar, pelo menos, cinco segundos e,
então, liberar o cão para sair.
55
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Existe um recurso imprescindível para trabalhar nessa janela de


dois a três segundos para que o cão entenda claramente porque está
recebendo o prêmio. É um marcador sonoro muito preciso ouvido pelo cão
no exato momento que realiza o comportamento; o mais comumente usado
é um clicador metálico, a semelhança do usado pelas tropas paraquedistas
aliadas no Dia D durante desembarque aliado na Normandia na Segunda
Guerra Mundial. É mais usado por sua simplicidade, baixo custo e por
sempre emitir o mesmo som. É chamado de indutor secundário, pois é
associado com um prêmio; sempre que o cão ouvir o clicador de seu
condutor, receberá o prêmio, comida ou brincadeira de cabo de guerra; o
prêmio é o indutor primário. Se o condutor acionar o clicador por várias
vezes sem premiar o cão, ele perde o sentido para o animal e para o
adestramento.
O marcador não é usado mecanicamente, é fundamental que o cão
aprecie o prêmio e o condutor perceba que o cão fica excitado ao ouvir o
marcador e procura por seu prêmio, petisco, jogo de cabo de guerra ou
jogo de buscar. Se o cão ficar apático, o prêmio não é bom e será substituído.
Alguns condutores preferem fazer um marcador sonoro com sua
própria boca, como estalar a língua ou um som gutural como “ráááá”. Para
os iniciantes, o uso do clicador facilita muito, inclusive porque permite
que o um militar auxiliar mais experiente acione o clicador no momento
exato, e o condutor premie o cão. Torna-se uma excelente ferramenta para
trabalhar cão e condutor.

O que é o marcador?
Marcador é indutor positivo secundário, um tipo de ajuda. É um som
simples, bastante preciso para condutor e cão. Tanto o prêmio com petisco
como prêmio com o jogo precisam ter marcadores para facilitar a associação
do prêmio com o comportamento desejado. O clicador metálico é muito
preciso para o cão e o condutor mas, por praticidade ou falta de
disponibilidade de clicador, pode ser feito um som com a boca do condutor,
som, não comando: pacs, tsssh. A dificuldade é fazer sempre o mesmo som.

Como condicionar o cão com o marcador?


O primeiro passo do condutor é associar o marcador com um prêmio.
Se o prêmio for petisco, ele é colocado em uma polchete, bolso do uniforme
ou colete de adestramento. Colocar o cão em uma situação calma, sem
excitação nem distrações, o ambiente tem que ser tedioso para o cão,
56
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

fazendo que o mais interessante seja o condutor e seus petiscos. Filhotes


podem ser amarrados com peiteira em um poste ou cabo de aço com
roldana. Marcar e premiar, o condutor pode ficar sentado, de pé,
conversando com alguém, tranquilo, não há pressa, marcar quando o cão
estiver de pé, encarando seu condutor, se movimentando, deitando.

Existe algum comportamento que não seja conveniente


começar a usar o marcador?
Comportamentos indesejáveis serão ignorados e não serão
marcados tampouco serão premiados (estímulo neutro).

O condutor marca apenas um comportamento?


No início, o condutor marca pelo menos três comportamentos
distintos. O objetivo é o cão associar o marcador com o prêmio, ainda não
é hora de marcar um comportamento específico.

Que comportamentos são bons para começar?


Latir sob comando, contato visual, deitar, ficar de pé imóvel, e tocar
a marca/alvo no chão (caixa de madeira, bacia invertida).
Nestes comportamentos, condutor perceberá a força de adestrar o
comportamento com um marcador preciso.

Se algum condutor perguntar que viu na internet/curso/


comentário ou outro adestrador usando apenas o marcador e
não dando o prêmio. Isto está certo?
Não! O correto é o cão pular excitado, cobrar do condutor o prêmio
ao ouvir o marcador. Se o condutor marcar, ele vai premiar, sempre. O
marcador sozinho não significa nada para o cão, ele é o aviso que por
aquele comportamento o cão receberá o prêmio. É a promessa do prêmio,
se apenas prometer e não cumprir, não vai funcionar. Não confundir com
qualquer som para estimular o cão no comportamento, o marcador de
manutenção do exercício (ver diferentes definições de marcadores no
glossário).

Quando o condutor começa a associar um comando e ou


gesto com o comportamento?
Quando for previsível para o condutor que o cão está iniciando o
comportamento. Outro critério importante é associar o comando e ou gesto
57
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

com um comportamento que o condutor julgue adequado. Se cão assume


posição errada, está lento, ainda não é o momento de associar o comando.

O condutor marcou o comportamento de deitar, e ao ouvir o


marcador, o cão levantou, o que ele faz?
Premia com petisco, o cão entendeu o marcador. Se marcar e o cão
sair do comportamento, não há problema, o condutor espera alguns
minutos e ele vai deitar de novo, o condutor marca novamente e premia.
Quando o intervalo para o cão oferecer o comportamento diminui, o cão
percebeu que é ele quem aciona o marcador com determinado
comportamento e assim gera o prêmio, é assim que funciona o
adestramento por condicionamento operante.

O condutor marcou o comportamento de deitar e o cão se


mantém deitado, o que o condutor faz?
Premia! O condutor coloca o prêmio entre as patas da frente do
cão. Se o cão ainda se mantiver no comportamento, pode ouvir “bom deita”,
pausa de cinco segundos, ouve outro “bom deita”, então o ouve o marcador
e em seguida recebe o prêmio. O condutor pode prolongar bastante o cão
na mesma posição. Apenas duas situações podem interromper o exercício:
o marcador e o cão busca o prêmio ou indução por gesto ou comando
liberando o cão do exercício. Se o cão abandonar o exercício antes do
marcador ou da liberação, estímulo neutro, não recebe nada.

O que é o padrão variável de prêmio?


É o primeiro passo para o cão realizar o comportamento sob comando
sem receber o prêmio. Por toda a vida do cão, ele realizará o trabalho na
expectativa do prêmio, mas sabe que o prêmio não virá a cada comando,
pode vir a qualquer momento.

Como o condutor premia no padrão variável?


No terceiro dia de um exercício, o condutor começa pela escala de
2:1: Como exemplo o exercício de encarar: o cão olha, não recebe nada, o
cão se distrai, novamente encara, o cão realiza novamente o encarar, o
condutor marca e premia; faz por pelo menos dois dias e, no terceiro dia,
ele começa usar uma escala variável, o cão nunca sabe quando vai receber
o prêmio. Uma boa sugestão é evitar usar proporção de exercícios /prêmio
maior do que 4:1. realmente variável, clica na primeira vez que encarar,
58
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

outra na quarta, outra na segunda, outra vez na primeira. O condutor


escolhe os melhores comportamentos para marcar e premiar, e ignora os
comportamentos que julgar que estão abaixo do padrão estabelecido para
aquele momento. Outro critério é a duração que o exercício tem que ser
realizado. O cão realiza o comportamento por 30 segundos e ouve o
marcador e é premiado, na segunda vez realiza por 2 segundos e é
premiado, na terceira realiza por 45 segundos e então é premiado.

O que é estímulo neutro?


O comportamento é ignorado pelo condutor. Ele não marca e não
premia. Não há prêmio nem correção.

4.3 COERÇÃO E CORREÇÃO


O condutor comportar-se-á exatamente como líder da matilha,
agregando, estimulando, mas impondo sua vontade quando necessário.
Com petisco, há a oportunidade de muitas repetições com o cão menos
agitado. Durante o jogo, impulso por caça é associado com obediência,
agregando rapidez, foco e engajamento com o condutor mesmo com
excitação. A coerção é quando o cão é forçado a trabalhar, sem opção de
realizar outro comportamento como por exemplo quando o condutor usa a
guia para o cão acompanhá-lo.
É fundamental condicionar o cão que, quando o exercício estiver na
fase final de correção, a desobediência não será tolerada pelo líder da matilha.
O cão é adestrado por prêmio, mas coerção e correção serão empregados
caso desobedeça. O que distingue do treinamento tradicional para o método
moderno é que a coerção e a correção somente serão usados no polimento
do exercício, após semanas ou meses de adestramento por prêmio.
Coerção é o desconforto empregado até o cão realizar o exercício.
No exato momento em que o cão cede e realiza o comportamento desejado,
o desconforto cessa.
Correção é o desconforto causado depois do exercício não realizado.
Há grande chance de insucesso na aplicação da correção, principalmente
se aplicada depois da janela de três ou quatro segundos após o
comportamento. O cão pode ficar confuso pela aplicação do desconforto
sem ser capaz de associar corretamente por que está sendo aplicado. Esta
falha na associação correta do comportamento indesejado com o
desconforto pode gerar outros comportamentos indesejáveis. O condutor,
além de não se beneficiar, arrisca quebrar a confiança que seu cão tem
nele.
59
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

A coerção usada no momento e de maneira correta tem grande


valor no adestramento do cão. No método tradicional, desde a primeira
sessão, o cão é obrigado a realizar um determinado exercício com
desconforto (coerção). Na técnica moderna, o cão será induzido a realizar
determinado exercício pelo prémio (petisco ou mordente). A correção ou
coerção somente será usada para determinado exercício na fase final,
chamada fase de polimento. O cão já vem realizando o exercício com
prêmio, entende claramente o que se espera dele.
Exatamente como o líder da matilha mantém o grupo agregado não
permitindo comportamentos inadequados, o condutor não tolera
desobediência do seu cão e a coerção ou a correção serão empregados
oportunamente. O comportamento correto pode gerar prêmio,
comportamento errado gerará desaprovação ou desconforto. A palavra
desconforto não é colocada aqui como eufemismo, é a palavra correta e o
condutor emprega a coerção ou correção com o mínimo de força necessária.
Brutalidade somente produz cão receoso e dessensibilizado, que exigirá
cada vez mais esforço para corrigi-lo. Se bem adestrado, o cão com vínculo
com seu condutor já entenderá a desaprovação na forma de reprimenda
verbal, não sendo necessária qualquer outra correção. É fundamental que
seja usado o mínimo de energia necessária, o condutor começa com a
menor intensidade e aumenta apenas se necessário.
Sempre que usar coerção, o condutor atenta para não criar reflexo
de oposição ou associação indesejada. Um reflexo de oposição clássico é
quando se puxa a guia levemente, e o cão por reflexo, oferece resistência.
Associação indesejável é quando o cão associa o desconforto não
com o comportamento indesejado, mas cria qualquer outra associação.
Na fase de polimento, como etapa final do adestramento de
determinado exercício é melhor corrigir com a guia longa, de 10 m, e com
um auxiliar, desta maneira, o condutor fará os mesmos gestos que faria
sem a guia.
O cão é sempre conduzido com a guia frouxa ou até mesmo
arrastando no chão. A guia tensa é usada apenas nos exercícios de proteção
e agitação. O condutor corrige o cão, tensionando a guia e imediatamente
dá uma ou várias puxadas até atingir o objetivo e alivia a guia novamente.
O condutor usa sempre um marcador sonoro específico antes da coerção
ou correção. A situação ideal é que apenas com este marcador de
desaprovação, a intenção do condutor já tenha sido claramente comunicada
ao cão, sem a necessidade de concretizar a coerção ou correção.
60
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

4.4 SESSÃO DE ADESTRAMENTO


A sessão é um período de adestramento, de tempo variável, pode
ser dez minutos, uma hora, uma manhã inteira, o que a define não é o
tempo, mas um objetivo claro a ser atingido e a existência de uma
interrupção ou intervalo evidente para o cão para outra sessão de
adestramento.

Quanto tempo dura uma sessão?


Uma sessão pode ser tão curta como sete ou dez minutos ou durar
horas, uma vez que o objetivo tenha sido atingido, aquela sessão pode
acabar.

Como começa uma sessão?


Depois de o cão ouvir um marcador muito claro, é criado um ritual
que alerte o cão que a sessão começou.

Como acaba uma sessão?


O condutor acaba a sessão de maneira muito clara, com prêmio
que o cão realmente aprecie, quando o cão ainda estiver excitado, deixando
o cão com sensação de vitória e com vontade de fazer mais. Cuidado com
a síndrome de “mais uma vez, mais um pouquinho”, cansando o cão e
induzindo-o a errar ou fazer o exercício mais lento ou com menos
intensidade.
O comando de liberdade “ok” pode ser um excelente marcador para
terminar a sessão. Nas sessões de combate com o figurante, a luva pode
ser entregue para o cão, ou ele pode perseguir o figurante, “expulsando-
o” do campo de adestramento.

Pode ser feita mais de uma sessão em um turno ou em um


dia?
Um dia pode ter várias sessões de adestramento, que envolverão
um ou mais objetivos que o condutor esteja explorando.

O que diferencia uma sessão de outra?


Um intervalo ou interrupção evidente, por exemplo, levar cão para
sua caixa de transporte e fazê-lo descansar por alguns minutos. Esse
intervalo é usado por centros de adestramento no mundo inteiro; além de
ter efeito excelente no adestramento do cão, permite que o adestrador
61
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

treine vários cães. Por exemplo, um adestrador monta exercício de faro e


adestra o primeiro cão, terminada sua sessão o cão é levado para sua
caixa de transporte, o adestrador pega o segundo cão, adestra e quando
acaba a sessão, retorna-o para a caixa de transporte e volta a pegar o
primeiro cão. O condutor se programa para, pelo menos, realizar uma
sessão por dia, é muito ruim para o cão deixar de trabalhar um dia,
principalmente se ele não será trabalhado no final de semana. Condutores
negligentes deixam de trabalhar seus cães por vários dias. Excelentes
condutores programam-se para trabalhar seus cães, inclusive, em finais
de semana e feriados prolongados.
Uma sessão, ou as sessões programadas para o dia possuem, pelo
menos, uma atividade de cada habilidade, como faro, controle e proteção,
criando equilíbrio nos exercícios realizados. Em uma situação real do cão
de dupla aptidão, ele passará do faro para o combate, logo após o combate,
se sujeitará ao controle de seu condutor. A sessão de adestramento também
migra de faro, para controle, para proteção e retorna para faro. No início,
o adestrador e o condutor usam um pequeno intervalo na caixa ou canil
mas, aos poucos, esse intervalo vai desaparecendo até que seja natural
para o cão as transições de trabalho.

O condutor tem pouco tempo e ninguém para ajudar. Ele


pode adestrar seu cão?
Sim, o condutor joga cabo de guerra e de buscar todos os dias! O
jogo de cabo de guerra e de buscar permite, mesmo com pouca
disponibilidade de tempo e nenhuma ajuda, trabalhar o cão nas três
habilidades. O importante é que o cão saia da sessão de adestramento
fazendo algo melhor, mais rápido, ou tenha superado um desafio. Alguns
minutos de adestramento intenso, muito bem realizado, atingindo
consistentemente um objetivo, são muito melhores que horas a fio repetindo
mecanicamente exercícios que não melhoram ou desafiam o cão. Um jogo
de cabo de guerra e de buscar, bem realizados por 10 minutos todos os
dias, têm efeito real e sólido, do que trabalhar o cão por horas na véspera
da prova de habilitação, demonstração ou muito pior, na véspera da missão.

Como condicionar o cão para trabalhar motivado por mais


tempo?
Se o cão estiver bem condicionado fisicamente, nadando ou trotando
todos os dias, as sessões podem ser mais extensas. Lembrar que as
62
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

atividades de faro cansam muito o cão, cães sem condicionamento físico


e ou obesos têm rendimento medíocre. Não há como condicionar
fisicamente o cão apenas caminhando; o condutor corre com o cão ao seu
lado, a pé ou de bicicleta ou coloca o cão em esteira ou piscina. Outra boa
oportunidade para condicionar o cão é levá-lo nas marchas.

Tipos de Sessão de Adestramento

-individual, -noturna,
-com dois militares, -entrosamento com subunidade
-três militares, -simulação
-coletiva,

4.4.1 INDIVIDUAL
A sessão pode ser individual, quando o militar realiza jogo de cabo
de guerra e de buscar com seu cão, usa a mesa para adestrar troca de
posições com petisco, faz a ronda na organização militar, corre com seu
cão.

4.4.2 DOIS MILITARES


Pode ser feita com dois militares, quando um adestra seu cão e
outro auxilia, montando um exercício de detecção, exercícios de obediência
com correção como andar junto, deitar ou sentar com o segundo miltar
auxiliando na guia longa.

4.4.3 TRÊS MILITARES


Com três militares já é possível adestrar exercícios mais complexos
de proteção, como achar e latir, triangulação, revista e escolta, onde um
militar é o figurante, outro é oponente e o terceiro fica na extremidade da
guia longa orientando e corrigindo o cão.

4.4.4 SESSÃO COLETIVA


Sessões coletivas de adestramento são realizadas sempre que
possível, onde o Sgt/Of Adestrador monta uma pista semelhante ao
adestramento físico militar de circuito, monta área adestramento do jogo
de guerra e buscar, um ou dois obstáculos, outro quadrado demarcado por
cones ou fitas zebradas para obediência com guia. Coloca os cães em
caixas próximos a área de adestramento, que será variável, quadra
esportiva, outro dia estacionamento, depósito, e o militar mais experiente,
63
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

ou com cão mais adiantado no adestramento, realiza o primeiro exercício


do circuito montado, todos observam, os mais antigos passam orientações
curtas e precisas, ao comando do Sgt/Of Adestrador, o militar guarda seu
cão na caixa. Retorna para o grupo sem cão para APA, avaliação pós-ação,
recebe crítica e todos militares presentes aprendem com os erros e acertos
daquele que acabou de realizar. O Segundo militar pega seu cão e realiza
o mesmo exercício do circuito e o processo se repete. Quando todos
militares passarem pelo primeiro exercício, o primeiro conjunto retorna
para o segundo exercício do circuito. Com conjuntos mais experientes, o
militar pode realizar todos os exercícios e somente então guardar seu cão
e ouvir a APA. A evidente interrupção oferecida por levar o cão a caixa e a
mudança de área no local definido para adestramento, facilitam em muito
para conjuntos novatos perceberem a troca de exercício. Conjuntos
veteranos não tem problema em trocar facilmente de exercício, proteção
por obediência por exemplo.

4.4.5 SESSÃO NOTURNA


Para preservar a operacionalidade, a A SCG realiza pelo menos uma
vez por semana uma sessão coletiva noturna. O melhor emprego do Cão
de guerra é noturno, e se o cão não for preparado para isso, não cumprirá
a missão.

4.4.6 ENTROSAMENTO COM SUBUNIDADE


Sessões de entrosamento com GC/Pelotão/Companhia são
realizadas regularmente, quando militares que não são da SCG, mas atuarão
próximos dos cães, receberão instrução e praticarão missões como pontos
de controle, proteção de áreas sensíveis, busca em instalações,
abordagens, revistas etc. Tantas sessões quanto necessárias são realizadas
para que homens e cães conquistem mútua confiança. Os militares não
podem ser distraídos pela presença dos cães, é fundamental que todos
que trabalham próximos aos cães tenham inúmeras oportunidades para
que isto se torne parte da rotina.
Uma sessão de entrosamento para apresentar cães e militares com
segurança pode facilmente ser montada com exercícios básicos de
obediência. Os cães são conduzidos de focinheira e guia curta, e os
militares colocados em linha, em uma distância de 1,5 m. Conjuntos
condutor-cão passam em zigue-zague pelos militares. Os militares podem
deitar no chão em posição de tiro, e os cães passam sobre os militares
64
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

deitados. Conforme a confiança mútua for aumentando, exercícios mais


difíceis serão montados, como todos militares ajudarem o cão com
focinheira a ser embarcado em caminhão ou transpor um obstáculo como
muro alto.

Sessão de entrosamento de controle de distúrbio com miltares de cavalaria e


infantaria durante Curso de Formação de Sargentos na EsSA.

4.4.7 SESSÃO DE SIMULAÇÃO


As sessões de simulação são realizadas convidando figurantes de
outras forças, agentes policiais, agentes penitenciários, e estes montam
exercícios, mimetizando o mais próximo possível casos reais e desafiadores.
Preferencialmente, não se empregam os figurantes habituais, que
conheçam técnicas de agitação, serão militares e policiais que se
comportarão como oponentes. Assumirão com maior realismo possível
papéis de bêbados, drogados, oponentes agressivos e desafiadores, ou
imóveis, silenciosos. Não usarão equipamentos usuais de proteção, sua
proteção será física, dentro de gaiolas de tela, caixas de madeira, tampões
de compensado para portas e janelas. Os cães atuarão sempre de
focinheira. A ideia é usar o máximo de criatividade para desafiar os
conjuntos, neste momento o objetivo não é ajudar os cães para que tenham
sucesso e sim verificar o preparo para situações reais. A Avaliação pós-
ação (APA) depois da sessão de simulação incluirá o levantamento das
eventuais falhas dos conjuntos e um planejamento de como serão
corrigidas.

65
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

4.5 SEQUÊNCIA DE EXERCÍCIOS


A sequência proposta de exercícios é para o conjunto novo, recém
formado. Ao receber um cão, o condutor cria forte vínculo positivo com
ele, independente da idade do cão ou estágio de adestramento. Este vínculo
começará com o condutor evitando qualquer coerção ou correção nos
primeiros dias, adestrando muito com petisco e jogo de cabo de guerra e
de buscar.

Sequência proposta de exercícios para conjunto recém formado


1. Adestramento com petisco Troca de Posições na mesa com petisco:
(Deitado, Sentado, Em pé)
Andar junto
Jogo com petisco: Chamada Passar por
baixo das pernas do condutor, com o
condutor de pé
Passar por baixo das pernas do condutor,
com o condutor com um joelho no solo e
outro estendido.
Jogo de “buscar petisco” Condutor
ajoelhado no chão (nádegas sobre os
calcanhares) com a coluna ereta, induz as
trocas de posição.
Troca de posições com o petisco com o
condutor de pé
Em frente

2. Jogo de cabo de guerra e de buscar Troca de posições durante o jogo (em pé,
sentado, no meio das pernas do condutor)
Troca de Posições na mesa com petisco:
Deitado, Sentado, Em pé, Andar junto
Jogo com petisco: Chamada Passar por
baixo das pernas do condutor, com o
condutor de pé
Passar por baixo das pernas do condutor,
com o condutor com um joelho no solo e
outro estendido.
Jogo de buscar o mordente
Em frente

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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Há aplicação operacional para o cão ficar entre as pernas de seu condutor e será
natural se for adestrado com petisco e durante o jogo de cabo de Guerra e de buscar

4.6 TROCA DE POSIÇÕES COM PETISCO


Para o filhote ou um cão novato, o adestramento para as trocas de
posições começam na mesa. o condutor retorna ao ponto inicial,
adestramento na mesa, exatamente como se fosse um cão novato e
inexperiente para cães que realizam as trocas de posições com dificuldade
ou lentamente ou assumem postura de forma errada.
O objetivo é que o cão assuma a posição imediatamente após o
comando verbal ou gesto independente da distância ou posição do
condutor, e realize todas as transições, da posição em pé, direto para o
posição deitado, posição deitado para posição em pé, posição deitado para
a posição sentado e, assim, por diante. Outra dificuldade é o cão ser
condicionado (ou recondicionado) a fazer um movimento corporal diferente
do que, naturalmente, faz. Instintivamente, os posteriores apenas
acompanham os membros anteriores. A coordenação motora que permite
a movimentação independente dos posteriores é conseguida através de
experiências individuais. Cães expostos a ambientes diversos e
desafiadores, desenvolverão habilidade de posicionar cada membro
isoladamente, transpondo obstáculos como escadas, pisos irregulares,
escombros, subindo em veículos com facilidade. Cães que não coordenam
independentemente seus posteriores podem ser vistos subindo escadas
67
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

como coelhos, com dois posteriores juntos ou se negar a subir os degraus.


A ginástica condiciona o cão a coordenar muito bem seus posteriores,
colocando-os mais para baixo de seu próprio corpo, é o equivalente na
equitação a reunir ou engajar a montaria. O cão de guerra sobe escadas
com facilidade, galga ou salta obstáculos, e seu condutor o prepará para
isto. O primeiro passo é expor o filhote a partir de quatro meses a toda
sorte de pisos, escadas, declives, irregularidades e premiar o cão com
sucesso. Outro passo importante é condicionar a ginástica correta para
assumir as posições sentado e deitado.
Naturalmente, o cão tende a deixar os posteriores onde estão e
movimenta os membros anteriores para trás, para sentar, ou para frente,
para deitar. Nesse tipo de movimento, ou como chamamos de ginástica, o
cão se distancia da posição onde ouviu o comando.
O cão de guerra será condicionado a deitar rapidamente, a partir
da posição de pé. Deitado há maior controle, na linguagem corporal do
cão significa submissão. Se um cão deita rapidamente em qualquer situação
sob comando de seu condutor, é demonstração clara da posição de líder
da matilha assumida pelo condutor. Deitar sob comando a qualquer
distância de seu condutor é uma importante habilidade para
operacionalidade e para segurança tanto de cão como condutor.
Cães que são iniciados no chão, muitas vezes acabam criando uma
série de associações indesejáveis difíceis de serem corrigidas. Muitos cães
associam que para que deitem, seu condutor tem que se curvar ou levar a
mão na guia, ou somente deitam quando estão juntos do condutor. Para
auxiliar o condutor a ter sucesso na tarefa de condicionar seu cão com a
ginástica correta e trocar de posições a distância, é usado o recurso de
adestrar em cima da mesa. A mesa permite que o condutor fique
perfeitamente ereto para induzir as trocas de posição do cão, permite que
facilmente o cão interprete corretamente os gestos de cada movimento, e
facilita que condutor assuma posições e distâncias diferentes do cão, que
se manterá na mesa.
O condutor coloca o cão em cima de uma mesa que tenha
comprimento suficiente para o animal ficar seguro, mas estreita o
suficiente para dificultar que ele se vire. O cão pode ser preso pela coleira
em um suporte acima de sua cabeça, ou na superfície da mesa, para impedir
que pule da mesa. Nas primeiras vezes, é importante garantir que o cão
sinta-se seguro. Às vezes, alimentar o cão em cima da mesa por algumas
vezes é suficiente. O cão não come em nenhuma outra situação, apenas
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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

quando estiver em cima da mesa e isso cria uma associação positiva muito
forte. Se o cão ficar nervoso ou agitado, o condutor segura o cão pela guia,
tranquiliza-o, e tão logo se acalme, tira-o da mesa. O condutor não grita,
nem corrige, apenas não permite que o cão jogue-se da mesa nem se
agite. O animal não pode ser alimentado em outra circunstância, condutor
espera alguns minutos e tenta novamente. Caso o cão resista se alimentar,
ele é retirado da mesa, colocado na caixa de transporte onde espera por
outra sessão de adestramento.
Uma vez que o cão fique tranquilo e busque o petisco/ração na
mão do condutor, é hora de adestrar a ginástica correta da troca de
posições. O condutor faz o cão perceber o petisco na mão fechada, o induz
a ter grande interesse e acompanhar sua mão. Gesticula em um movimento
circular com, cerca de 1/3 de um círculo completo, induz o cão a sentar, a
ficar de pé e a deitar. O cão sempre é induzido a ficar de pé entre as
posições sentado e deitado. Esta sequência é importante para ginástica
correta para o cão desenvolver a coordenação de posteriores, importante
para trocar posições sem sair do junto, quando sentar na frente do condutor
não se afastar ou para negociar pisos irregulares como escombros e
entulhos, obstáculos, entrada em veículos.

Até que o cão se condicione a movimentar os posteriores,


a posição inicial será sempre de pé.

Induzindo a posição deitado a partir do cão na posição de pé, vai


condicioná-lo a movimentar os posteriores para trás, as mãos e a cabeça
ficam na mesma posição. O condutor faz cão grudar o focinho em sua mão
fechada com o petisco dentro, e vai baixando a mão. As vezes é necessário
levar a mão em direção ao solo abaixo da linha da mesa. Auxílios com os
dedos ou a mão podem ser feitos entre os ombros do cão, pressionando
69
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

suavemente para baixo. Quando o cão deitar pela primeira vez, é pago
uma “bolada” de prêmio, dar bastante petisco entre os anteriores do cão,
e elogiar e afagar muito o cão. É importante que o primeiro acerto seja
muito evidente para o cão, e o exagero do condutor neste momento é
correto.

Induzindo a posição deitado a partir da posição de pé

Induzindo a posição sentado a partir da posição de pé, vai


condicioná-lo a movimentar os posteriores para baixo de seu corpo, e os
membros anteriores e cabeça ficam no mesmo lugar. O condutor faz o cão
grudar o focinho em sua mão fechada e faz um movimento de 1/3 de um
círculo sobre a cabeça do cão. Quando ele sentar, o condutor marca e
entrega o prêmio (abrir a mão). Faz uma ou duas vezes, não faz a terceira.
É importante que o cão entenda que acompanhar a mão é um gesto que o
está auxiliando para realizar o comportamento correto para ganhar o
prêmio. O condutor tem paciência e tenta algumas vezes sem o petisco
dentro da mão que induz, o petisco pode ser guardado dentro do colete de
adestramento, na outra mão ou com um auxiliar. Se houver dificuldade,
pode voltar a usar o petisco dentro da mão fechada que faz o gesto.

Induzindo o cão para sentar a partir da posição de pé


70
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Se o cão não sair naturalmente da posição sentado, o condutor vai


induzir que ele fique de pé. Novamente, vai fazer o cão grudar o focinho
em sua mão e levar a mão em direção do peito do cão.
Tão logo seja possível, o condutor somente fará o gesto para induzir
o cão, sem petisco dentro da mão fechada. Quando o cão faz o exercício,
ouve o marcador e recebe o prêmio.
Somente depois que o cão realmente fizer as trocas de posições
corretamente a partir da posição em pé, o condutor poderá trabalhar todas
as trocas de posições possíveis: da posição em pé para posição deitado,
deitado para sentado, sentado para deitado, etc.
Paulatinamente, o condutor se afasta um passo e induz com o gesto
para o cão trocar de posições e marca e premia, alcançando o petisco ou
jogando na mesa para o cão. O cão sempre receberá o petisco na mesa.
Condutor também assume outras posições, se posiciona diagonal ao cão,
de costas, ao lado do cão, simula que está caminhando ou correndo no
mesmo lugar, pode agachar-se, etc.
A mesa tem um bordo de cerca de ½ palmo de altura, que será
usado para transição para o chão. O bordo pode ser retirado da própria
mesa, terá formato de quadrado ou de “U”, e servirá para adestrar a troca
de posições a distância.
Um exercício que pode facilitar a transição para o cão realizar as
trocas de posição no chão é o condutor ajoelhar no chão. O condutor pode
ajoelhar ou sentar sobre seus próprios calcanhares. Isto permite que induza
e manipule filhotes e cães novatos sem curvar muito sua coluna. Permite
fácil transição para o condutor ficar finalmente de pé, perfeitamente ereto
e induzir o comportamento por gesto.

Transição para o chão com o petisco.


Induzindo o cão a sentar a partir da posição de pé.
71
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

4.7 ALVO OU MARCA


Alvo (ou marca) é um recurso importante para sinalizar um local
onde o condutor quer que o cão se dirija ou lá permaneça. Os objetos
usados como alvo para o cão são salientes do solo. Os alvos mais usados
são no formato de “U” e a caixa de madeira. Com o marcador sonoro e
petisco, o cão é condicionado a colocar suas patas em cima do alvo, que
pode ser pequena apenas para os membros anteriores ou grande o
suficiente para o cão subir em cima e apoiar todas as patas. Pode ser
usado uma caixa de madeira ou bacia virada, de consistência firme. Tão
logo coloque as patas em cima do alvo, ouve o marcador e recebe o petisco
que é colocado no alvo. Então, o cão é condicionado a se aproximar do
alvo e colocar suas patas nela.
O “U” é feito de madeira, com três sarrafos de ½ palmo de altura
por cerca de 50 cm x50 cm x 50 cm de comprimento cada lado do “U”. Na
mesa de adestramento, o cão é habituado a permanecer dentro do ‘U”,
pois ele está no bordo da mesa, se o cão ultrapassá-lo, cairá. Assim ele
realiza as trocas de posições com a referência tátil e visual do “U”. Depois
do cão for condicionado no “U” em cima da mesa, o “U” é retirado e
colocado no chão. O condutor vai induzir com o petisco para o cão
reconhecer e se posicionar no alvo da mesma maneira que fez em cima
da mesa. A partir do momento que o cão se posicionar corretamente para
receber o prêmio, o condutor pode usar o alvo para mandar o cão em
frente, adestrar mudança de posições (senta, de pé, posição deitado) a
distância. Para adestrar meia volta, o objeto mais indicado para ser usado
como alvo é uma bacia invertida, onde o cão manterá as mãos sobre ela e
girará com os posteriores.

4.8 JOGO DE CABO DE GUERRA E DE BUSCAR DO CÃO COM SEU


CONDUTOR
O primeiro objetivo do condutor é estabelecer um vínculo agradável,
formar um conjunto com seu cão. Adestrará de maneira que seu cão realize
exercícios sem necessidade de guia ou enforcador, induzindo e estimulando
para estar próximo de seu condutor e, caso se afaste, virá rapidamente se
for chamado. O condutor conseguirá isso realizando o jogo com o seu cão
todos os dias. O Chefe da Seção de Cães de Guerra pode forçar isso,
supervisionando o condutor e trabalhando seu cão na área de adestramento
sem guia nem enforcador. Este exagero nos primeiros dias obriga o condutor
a criar vínculo com seu cão.
72
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

O condutor condiciona o cão a acalmar-se antes de sair do


confinamento, ao ser retirado do canil, da caixa de transporte ou do cabo
de aço. O cão contém-se e permanece imóvel, este conceito será
fundamental para exercícios importantes de imobilidade como sentar e
deitar. Não é algo antinatural para o cão; na verdade, durante o jogo de
cabo de guerra, numa simulação de caça, quando a caça (mordente) fica
imóvel na mão do condutor, não é incomum o cão também ficar,
exatamente, como ficaria à espreita de uma caça real, esperando o segundo
exato para dar o bote. O condutor espera o cão ficar imóvel e, quando fica,
abre lentamente a porta da caixa ou do canil; caso o cão tente forçar
passagem, fecha imediatamente, espera que se acalme e tenta novamente.
Quando o cão ficar totalmente imóvel por três vezes consecutivas, o
condutor abre, conta mentalmente por pelo menos cinco segundos e libera
o cão por comando “Ok”, permitindo a saída do cão. O condutor atrai o
cão, afaga-o, elogia-o e, neste momento, toda excitação do cão é
estimulada, o condutor incentiva o cão a provocá-lo, encoraja-o a pular, a
dar focinhadas e a colocar as patas em seu peito. O condutor não se
comporta como líder de torcida nem o cão como um elemento passivo, ele
busca ativamente a interação com seu condutor; toques vigorosos por parte
do cão e focinhadas são recompensadas pelo condutor que elogia, afaga
e empurra o cão, estimulando um combate lúdico. Se o cão distrair-se, o
condutor afasta-se e, se a distração persistir, o cão retorna para a caixa.
Nas primeiras sessões em que o conjunto está formando vínculo, é
interessante trabalhar com o cão em um espaço delimitado e monótono,
em que o condutor, com petiscos e jogo do cabo de guerra, seja o que
desperte mais interesse do cão. Isto pode ser feito dentro do próprio canil.
O condutor condiciona o cão a comer de sua mão, a lutar pela comida e
aprender a usar a força, o cão é premiado quando buscar comida com
energia. Quando for colocar o enforcador de elos grandes coloca o
mosquetão de forma que fique na posição de travado, rapidamente, sem
muitas ordens. O condutor é ágil para chamar o cão, colocar o enforcador
e, imediatamente, premiar o cão com petisco ou jogo. Por questões de
segurança, pode ser padronizado o condutor colocar enforcador ou conectar
mosquetão da guia no enforcador com o cão ainda dentro da caixa ou
dentro do canil, mas essa situação é adestrada depois desse primeiro
condicionamento estar completo: quando o cão perceber que quando fica
imóvel, e somente imóvel, recebe a liberação para festejar e interagir
energicamente com seu condutor. Não soltar o cão e permitir que cheire
73
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

tudo, nem que urine e defeque no campo de adestramento. O condutor


usará o mordente que o cão eleger: bolinha com corda, Kong com corda ou
salsicha de tecido de mais ou menos um palmo. Um ritual será criado para
deixar bem claro para o cão que iniciará o trabalho, que inclui colocação
do enforcador ou peiteira e algumas palavras para ligar o cão. O cão é
estimulado com o jogo do cabo de guerra o tempo inteiro, ele pode
acontecer a qualquer momento: no meio da patrulha, dentro da viatura ou
em um momento de espera. Somente permitir que o cão morda sob
marcadorde liberação, seja ele qual for, mas, uma vez escolhido, é o mesmo
– pac, ou pssst ou um som metálico do clicador. Faz parte do jogo do cabo
de guerra condicionar o cão a soltar sob comando e apenas sob comando.
Primeiro, quando o condutor imobiliza a presa, para o cabo de guerra e
frustra o cão; quando soltar, imediatamente dar o comando de pac e
reiniciar, vigorosamente, o cabo de guerra. Caso o cão não solte, imobilizar
um mordente e agitar o segundo mordente, premiar o cão com o comando
pac e vigoroso cabo de guerra com o segundo mordente, não enganar ou
esconder nas costas o segundo mordente; quando o cão soltar o primeiro,
imediatamente, é recompensado e recebe comando pac e oportunidade
de morder. Outra possibilidade é usar coerção, puxadinhas na guia para
frente ou sacudir o cão pela coleira.
O condutor estimula e premia quando o cão o encarar e não focar
exclusivamente no mordente; o condutor estimula o foco do cão em si
mesmo e na brincadeira de cabo de guerra e não somente no mordente.
O cão sempre está de guia, curta ou longa, que ora arrasta no chão,
ora está na mão do condutor; se o cão se distrair com outras pessoas ou
animais, tentar comer esterco ou frutas caídas, o condutor vai primeiro
retomar a guia e, então, usar o não ou um som forte gutural como ahhh e
dar puxões na guia. O comando ahhh é o indutor negativo secundário, os
puxões na guia são a correção. Sempre dar a chance para o cão não ser
corrigido, mas se o cão não atender, usar o enforcador; cada comando
dado sem obediência é enfraquecido. Nunca repetir comandos.
Imediatamente após a correção, chamar o cão e premiá-lo pelo
comportamento de olhar ou se aproximar do condutor, diminuindo o efeito
da correção na disposição geral do cão. Se o cão não obedecer ao primeiro
comando, o cão será induzido ou manipulado para realizar o exercício e,
então, o cão ouvirá o segundo comando quando estiver realizando o
comportamento.

74
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Na técnica moderna, a obediência é feita com impulso por caça


(mordente), mas o exercício é iniciado por indução com petisco, o que o
torna mais tranquilo e permite mais repetições. Depois que o cão aprender
o comportamento e associar um gesto de indução para o exercício e
comando de voz, passa a receber como prêmio o jogo de cabo de guerra.
O prêmio com caça estimula a rapidez e a energia na realização do exercício,
não estressa e nem leva a conflito.
A base do vínculo com o condutor e com todo o trabalho de proteção,
faro e obediência está no jogo de cabo de guerra e no jogo de buscar. O
jogo revolucionou o método de adestramento; antes, proteção, faro e
obediência eram adestramentos totalmente distintos. É difícil dizer quem
inventou, mas tem sido bastante divulgado por instrutores mundialmente
renomados como Dildei e Booth, Berhand Flinks e Ivan Balabanov (vide
referências). A referência mais antiga é o livro “Schutzhund obedience,
training in drive” de Gottfried Dildei e Sheila Booth, que descreveram a
técnica com duas mangueiras de borracha. O método Dildei/Booth é um
pouco confuso, migra de força para impulso por caça e usa tanto comida
como brincadeira como prêmio no mesmo exercício. Orienta o condutor a
trabalhar com dois mordentes e a trocar o mordente com o cão. No seu
livro, em alguns exercícios, pula algumas etapas sem descrevê-las
detalhadamente.

Sequência do cabo de guerra, o condutor movimenta lateralmente o cão no combate


simulado pelo mordente. Puxa e cede, cedendo principalmente quando o cão estiver
mordendo de boca cheia (conjunto do 3º BPE).

75
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O que será descrito é uma compilação do que nossa experiência


demonstrou como as condutas mais adequadas das técnicas divulgadas
por Flinks e Balabanov, principalmente.
O condutor usa um marcador muito claro para entregar o prêmio:
pode ser comando de voz como pacs ou som metálico de um clicador. O
exercício é adestrado com petisco e marcador, condicionado com jogo cabo
de guerra e marcador. O condutor pode e usa artifícios, mesmo com
marcador; de onde sai o prêmio e onde ele é oferecido ao cão também
tem importância para adestrar exercícios. O condutor pode usar como
artifícios esconder o mordente em lugares diferentes de seu corpo, como
embaixo da axila, no bolso superior do colete de adestramento, bolinha
na parte de cima da aba do boné, em uma forminha de empada. Outro
artifício é deixar o mordente visível, mas inacessível ao cão, como prender
o mordente embaixo do queixo. O condutor evita trocar o mordente e o
cão é condicionado a largá-lo apenas sob comando, mas é melhor trocar o
mordente do que forçar o larga precocemente. Isto pode fazer o cão se
ressentir e não se aproximar do condutor quando estiver com o mordente,
no jogo de buscar. O condutor estabelece, com seu cão, regras claras do
jogo: cão morde somente com comando, solta sob comando e sempre
retorna para condutor. A intensidade do cabo de guerra é o que mantém o
controle, não a guia; um jogo de cabo de guerra muito vigoroso aumenta a
possesividade do cão; se exagerado, pode frustrá-lo, com pouca
intensidade, pode deixá-lo preguiçoso ou desinteressado.
O condutor não poupa esforços para fazer com que seu cão foque
na brincadeira, no jogo e não no mordente. Uma das maneiras de fazer
isso, é condicionar o cão a trocar o mordente que está em seu poder, na
sua boca, pelo mordente agitado na mão do condutor.

Sequencia de fotos da troca durante o jogo, cão está com mordente na boca, e é
atraído pelo mordente na mão do condutor. Se o cão não soltar o mordente, condutor
não oferece o combate do cabo de guerra, se soltar é premiado com vigoroso
combate, elogiado e o condutor libera o mordente para o cão (conjunto 3ºBPE).
76
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

O jogo de cabo de guerra e de buscar é a primeira atividade que o


condutor realizará com seu cão todos os dias, por toda a vida do cão. O
jogo de cabo de guerra e de buscar pode e é realizado em qualquer lugar,
sem necessidade de ajuda. Não há justificativa para o condutor não realizar
o jogo com seu cão, pelo menos, uma vez por dia - alguns minutos são
suficientes. Com o jogo realizado diariamente pelo condutor e, em apenas
alguns minutos, o cão estará realizando, simultaneamente, exercícios de
faro, obediência e de combate. De faro: o mordente contém material
impregnado de pseudodroga ou mordente impregnado com odor de droga
ou de pessoa – suor de exercício físico extenuante simula odor de suspeito
em fuga. Exercícios de combate: está mordendo sob comando, sendo
premiado ao morder de boca cheia, lutar pelo mordente, soltar sob comando.
Exercícios de obediência e controle: condicionado a ter comportamentos
para ganhar mordente, associando a obediência ao impulso por caça, sentar
ou deitar para engajar no jogo de cabo de guerra com o condutor.
Há dois tipos básicos de mordente: o primeiro tipo tem uma corda
de tamanho variável que prende algo macio de morder, um metro para
alguns exercícios e de um palmo e meio para todos os outros exercícios; o
segundo tipo é de formato cilíndrico, de cerca de um palmo e meio de
comprimento de material macio, pode ser o material de macacão de
mordida, couro ou juta, com duas alças ou sem alça alguma (não é
recomendável com apenas uma alça) com velcro para esconder gaze ou
papel filtro impregnado com odor de droga/explosivo/munição/cadáver
ou pseudo odor. Podem ser usados como mordentes: bolinha de tênis,
bolinha de borracha de boa qualidade ou “Kong” e todos possuem corda
de um palmo e meio de comprimento. Outro mordente possível e fácil de
providenciar é uma mangueira de borracha, tipo peças de automóvel como
componentes de borracha de radiador de carro, com cordinha, mas sempre
macio e agradável para o cão morder. O tamanho do mordente é
proporcional à boca do cão para favorecer uma mordida de boca cheia e é
macio para o cão sentir prazer em morder. O condutor excita o cão ainda
dentro do canil e já sai de lá com o cão conectado e focado: com o mordente
com corda, agita o cão. A corda longa, presa ao mordente, enrosca, fica
sobrando e distrai o cão, mas torna a agitação mais fácil no início,
principalmente, se tiver em uma varinha. O mordente é movimentando de
tal maneira que simule uma caça, não o condutor, que se movimenta o
mínimo necessário. O condutor arrasta rapidamente pelo chão, troca de
mão, para e volta a movimentar-se novamente; o condutor tem que ser
77
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

criativo e tomar cuidado para não repetir sempre os mesmos movimentos


e esquivas e se tornar monótono e repetitivo. O condutor ajoelha-se no
chão e brinca com o cão na altura de seus olhos, agita o cão com voz,
direciona a atenção do cão para o mordente e não para o corpo do condutor
(perna, braços, dedos). Quando o cão estiver dando mordidas no ar, o
condutor está na medida certa, se for lento, o cão ficará lento. Permitir
mordidas simulando mordidas no figurante, mordente alto, baixo, à frente
do antebraço, à frente da coxa, à frente da canela, etc. Não enfiar o
mordente na boca do cão, pois este se porta como caça! Foge - coelhos
normais fogem desesperados, somente coelhos suicidas se jogam na boca
do lobo. Se for muito rápido ou dificultar demais, frustra o cão, se for
muito lento e previsível, deixa o cão preguiçoso e, quando este for agitado
por outro condutor ou figurante, terá dificuldades, pois tende a repetir os
poucos movimentos que aprendeu. Usar a regra “máximo até três”, dificulte
a mordida uma vez, duas e permita a mordida na terceira, em outra
oportunidade, permita a mordida na segunda esquiva, em outra, na primeira,
aleatoriamente.

Uma das apresentações corretas para oferecer a mordida para o cão

O condutor utiliza o cabo de guerra para melhorar a mordida,


buscando sempre a mordida de boca cheia, sem mascar ou soltar durante
o combate. O condutor adestra o cão a largar e a latir quando receber o
comando de soltar. Quando remorder corretamente, isto é, morder de boca
cheia, o condutor premia o cão, cedendo, deixando a corda correr entre os
dedos, permitindo que o cão puxe o mordente, somente deixar o cão vencer
quando estiver próximo do condutor, exatamente como se fosse o figurante.
78
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Mordida de boca cheia, desejável, Mordida ponta de dente, indesejável.


cão apreende, não sacode cabeça, ou Cão não é premiado, condutor
vocaliza. Neste momento, condutor ou prossegue no combate, gira o
figurante premiam o cão, cedendo mordente, estimula o cão a corrigir a
mordente, elogiando ou até mesmo mordida.
entregando o mordente para o cão.

O giro da vitória e afago aumenta a possesividade do cão, é usado


para incentivá-lo; se o cão não soltar ou não trouxer de volta o mordente,
o condutor diminui a frequência do giro e do afago. Neste procedimento, o
condutor segura na ponta da corda que prende o mordente, gira induzindo
que o cão gire à sua volta, trota e estimula verbalmente o cão com o que
utiliza para manter o cão no comportamento (por exemplo, “boooommm)
e o chama para o afago. Se o cão derrubar o mordente, ele volta à vida, o
condutor rouba do cão. Se necessário, impede com a guia que o cão
recupere o mordente inanimado no chão, pegando-o ou chutando-o para
longe.
No afago, o condutor realiza um carinho tranquilizador que consiste
em colocar a mão no peito, não na guia ou na coleira: mão espalmada,
bem lenta pelo ombro e nas costelas do cão. Repetindo lenta, baixa e
calmamente: boa mordida, ou good packen, espera alguns segundos, good
packen novamente. Libera o cão para o giro da vitória, a volta do condutor,
jamais deixar o cão solto: ou segura o cão pela guia ou pela cordinha do
mordente, não deixa o cão fugir com o mordente; se, eventualmente fugir,
jamais corre atrás, vira de costas e sai caminhando.

79
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

4.9 MANEIRAS PARA O CÃO LARGAR O MORDENTE

4.9.1 ARRANCAR O MORDENTE


Se o cão estiver distraído ou ofegante com o mordente frouxo na
boca durante o giro da vitória ou afago, o condutor pode arrancar o
mordente com um movimento rápido, sem alertar o cão, tirando-o de sua
boca. Quando o condutor arranca o mordente, melhora a mordida, mas
aumenta a posse, dificultando o largar sob comando.
Quando precisar tirar o mordente com mais facilidade, sucessivas
vezes, como na hora de trabalhar a busca de objeto, o condutor usa um
cano de PVC curvo com um pequeno barbante nas duas extremidades, que
faz com que fique mais fácil do que roubar do que bolinha mordente macio,
sem causar melindres no filhote ou conflito no cão adulto.

4.9.2 IMOBILIZAÇÃO DO MORDENTE


Para largar sob comando no jogo, o condutor para completamente,
imobiliza o mordente, como se fosse uma caça morta. Agarra bem firme
no mordente, não nas alças. Algumas vezes, as alças atrapalham,
permitindo que o cão continue o cabo de guerra, o condutor não pega nas
alças e sim no próprio mordente mais próximo da boca do cão. Quando o
cão estiver soltando, vai ouvir o comando out ou auss e já premiar o cão
com o comando de packen; permitir que o cão morda novamente e premiar
com cabo de guerra - combate vigoroso. Não obrigar o cão a largar sob
comando antes de ter uma mordida firme, de boca cheia. Até estabelecer
uma mordida cheia, firme, não usar correção ou força para soltar sob
comando. A imobilidade da caça frustra o cão, tão logo o cão solte, dar
comando pac e permitir que morda. Não permitir que o cão masque nervoso
o mordente, o condutor repreende verbalmente, ou qualquer outro artifício
para o cão não mascar o mordente, inclusive trocar por mordente mais
duro (cano de borracha ou pvc).

4.9.3 MARCADOR E PETISCO


Um petisco realmente atraente para o cão será usado, ração para
gatos em lata, fígado cozido. Condutor comanda o cão largar, marca e
paga o petisco. Tão logo seja possível, comanda para soltar, não marca e
paga o petisco.

80
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

4.9.4 TROCA DE MORDENTE


O condutor sempre induz o cão a focar na brincadeira e não no
mordente. Auxiliar mantém o cão próximo na guia longa, e condutor torna
o mordente que está na sua mão mais atraente para o cão. No início, há
que se ter paciência, não desanimar. Auxiliar não corrige ou repreende o
cão, apenas mantém próximo do condutor. Pode ser feita juntamente com
a técnica de congelar o mordente na mão, onde auxiliar dá vida a outro
mordente, e condutor e auxiliar fazem o cão soltar mordente congelado e
morder o mordente com vida na mão de um e de outro.

4.9.5 LEVANTAR O CÃO PELA COLEIRA


O condutor pode, eventualmente, levantar o cão pela coleira
enquanto pisa na corda da bolinha ou alça do mordente até que ele solte.
Este procedimento aumenta a possesividade do cão sobre o objeto. Pode
melhorar a qualidade da mordida, mas dificulta soltar sob comando.

4.9.6 SACODE
O condutor comanda para soltar e, imediatamente, sacode o cão
pela coleira, levantando os membros anteriores do cão do solo, sem
agressividade ou raiva, apenas com bastante energia. No terceiro ou quarto
comando, não será necessário sacudir, mas o condutor tem que estar pronto
para isso. A ideia é oportunizar ao cão a possibilidade evitar ser sacudido
ao largar prontamente o mordente. O objetivo é demonstrar de forma muito
clara a dominância do condutor e não causar dor ou susto. Imediatamente,
o condutor agita mordente e manda o cão morder. O cão, imediatamente,
ao soltar, sempre é premiado com o reinício do cabo de guerra.

4.10 CHAMADA DO CÃO


A aproximação do cão a comando de seu condutor em qualquer
situação de distração ou estresse é um dos comandos mais importantes
para o cão de trabalho. O cão volta sob comando ao seu condutor sob
qualquer circunstância de distração – luta, tiro, escuridão, tumulto,
multidão, outros cães, outros animais, etc. Não há justificativas para o
cão não realizar com perfeição esse exercício.
Para cão sempre atender a chamada de maneira consistente, duas
orientações são seguidas em situação de adestramento: sempre premiar
duas vezes, a primeira quando o cão se aproxima e a segunda liberando o
cão. Sempre premiar o cão por vir, no instante em que aproxime do condutor
81
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

quando chamado, sempre receberá petisco, elogio, carinho, jogo de cabo


de guerra, de buscar. Premiar o cão pela segunda vez, permitindo que retorne
para atividade que estava realizando, se estava em liberdade, liberar o
cão, se estava combatendo o figurante a distância, permitir que engaje o
combate novamente.
Jamais associar com algo ruim como correção ou encerramento da
sessão de treinamento. Para cães novatos, chamar o cão cerca de três
vezes, premiar, liberá-lo novamente na área de adestramento. Na terceira
ou quarta vez que chamar, que o cão vier, e for premiado e liberado
novamente, o condutor espera alguns segundos e conduz o cão para a
caixa ou ao canil.
A última etapa é a correção, com guia longa. Se houver
disponibilidade de coleira eletronica, primeiro será usada juntamente com
a guia longa, e quando não houver necessidade de orientar o cão com a
guia longa, apenas a coleira eletrônica. A correção somente entra na última
etapa, como polimento do exercício, o cão será corrigido se não atender
ao chamado do condutor. A correção, se ocorrer, será no ponto onde o cão
está, jamais quando se aproxima de seu condutor.
Durante jogo com o condutor, o cão é estimulado a aproximar-se
por vários estímulos realizados por ele como sua movimentação, barulho
com a boca ou gesto de afago, assovio. Quando o cão estiver aproximando-
se alegremente, ouvirá seu nome e, logo em seguida, indutor primário,
comida, cabo de guerra ou afago. Também pode ser feito quando o cão
estiver em liberdade ou na guia longa.
Outra maneira é um auxiliar segurar o cão pela guia curta com
peiteira, tendo o cuidado de não deixar o cão receber puxão na ponta da
guia. O condutor afasta-se agitando seu cão e, quando ele estiver focado
no condutor, o auxiliar solta-o. Quando o cão estiver correndo em direção
ao condutor, ouvirá seu nome e verá o mordente que será jogado entre a
pernas do condutor. A ideia é fazer com que o cão passe pelo condutor por
baixo de suas pernas. O condutor, então, corre na direção contrária do
cão, agitando para que ele se aproxime e seja premiado com o cabo de
guerra. É importante trabalhar esse exercício separado da finalização, pois
se for adestrado na sequência, o cão se torna lento, diminuindo o ritmo ao
se aproximar do condutor.

4.11 ZONA DE CONFORTO


A proximidade do cão com seu condutor sempre será premiada -
elogio, carinho, comida. O cão terá total confiança que, ao atender o
82
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

comando de seu nome, receberá algo positivo de seu condutor. Se o cão


estiver fazendo comportamento indesejável, o condutor corrige-o onde ele
estiver, se chamá-lo, o condutor esquece o comportamento indesejável e
premia o comportamento do cão em atender o chamado. Não é técnica
correta corrigir o cão na zona de conforto depois de chamá-lo.

4.12 POSIÇÃO DE FINALIZAÇÃO


A finalização será padronizada pelo Chefe da Seção de Cães de
Guerra, adequada às peculiaridades das missões específicas de sua
unidade. O cão pode finalizar colocando-se à esquerda de seu condutor,
na posição tradicional, ou de pé, ou deitado, pode dar a volta por trás do
condutor e o cão sentar ou deitar entre as pernas do condutor. Não há
propósito operacional algum empregar as finalizações esportivas, como a
que o cão senta na frente do condutor, fica de costas para possível oponente
e recebe outro comando para se posicionar ao lado esquerdo de seu
condutor. Tampouco é adequado outro tipo de finalização esportiva, em
que o cão para a frente do condutor, e mediante ordem dá a volta atrás de
seu condutor; além de perder tempo, em situação de patrulha ou de
varredura de área, seu condutor estará abrigado e, quanto mais rápido e
com menos perda de tempo e energia o cão se posicionar olhando para
onde o condutor estiver olhando, será mais seguro e funcional. Uma das
maneiras é usar o condicionamento operante, condicionar o cão a sempre
procurar estar ao lado do seu condutor, ou entre suas pernas e receberá
toda sorte de indutores positivos, em todas as circunstâncias possíveis.
Um exercício que exige dedicação é o cão se posicionar ao lado de seu
condutor ou entre suas pernas entre dois ataques no trabalho de proteção,
o cão acaba percebendo que, quanto mais rápido se posicionar
corretamente, mais rápido será premiado com o combate. Isso é natural
para cão: ou estará realizando algum comando farejando, mordendo,
vigiando ou estará ao de seu condutor em movimento ou entre suas pernas
quando parado. Desde o início, o condutor não tolera que o cão cruze à
sua frente ou dê a volta por trás para se reposicionar. Cães que têm esses
vícios, tornam a patrulha cansativa e a varredura de área perigosa, além
disso, o condutor pode tropeçar no cão em situações nada favoráveis.
O que é cobrado nos adestramentos, nas provas de habilitação e
em missões reais é que uma vez chamado o cão assuma o mais rapidamente
possível sua posição básica (ao lado esquerdo ou direito, ou entre as pernas
ou a frente do condutor), mas sempre focado na possível ameaça. Isto
83
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

pode ser feito inclusive com o condutor se movimentando a passos normais,


parado ou correndo. Quando o condutor se afasta de seu cão quando o
chama, facilita muito para o cão, especialmente para o cão novato. O
condutor pode se afastar de costas ou de frente para o cão. A imobilidade
do condutor manda sinais confusos, especialmente para cães novatos.
Este procedimento é aceito na missão real e nas provas de habilitação. A
única maneira aceitável de o condutor ficar imóvel para chamar seu cão é
abrigado, deitado, ou ajoelhado, ou qualquer outra situação que diminua
sua silhueta, jamais de pé imóvel assumindo a postura de alvo.

4.13 ANDAR JUNTO AO CONDUTOR


O objetivo operacional de andar junto é o conjunto percorrer grandes
distâncias em marchas, deslocamentos de rotina e corridas com o mínimo
de desgaste. O cão não pode atrapalhar seu condutor quando em
progressão no terreno, cruzando sua frente ou se atrasando. Cansa,
importuna e distrai o condutor aquele cão que não caminha tranquilamente
ao lado ou a frente, puxando exageradamente na guia ou se distraindo a
todo momento com coisas sem importância pelo caminho.
No exercício de andar juntos, independente dos movimentos do
condutor, o cão fará tudo para seu manter seu ombro acompanhando a
perna do condutor. Esta posição permite que o cão com a cabeça na posição
natural para caminhar ou trotar, consiga ter no seu campo de visão seu
condutor, ajustando seu ritmo para acompanhar seu condutor. Quando o
cão é conduzido a frente, como no faro ou patrulha em instalações, o cão
será mantido sempre em uma distância segura pela guia, uma vez que
não está focado no condutor, mas na pista ou em odores e sons de possíveis
oponentes.
A posição de junto é sempre adestrada e premiada e será algo
natural para o cão.
A primeira etapa é o cão assumir a posição correta de junto durante
o jogo, induzido por petisco ou mordente. Um bom exercício, é dar quartos
de volta, e induzir o cão a corrigir a posição. O condutor simula que caminha,
movimentando as pernas, induz o cão a ficar na posição correta de junto
com petisco ou mordente, marca posição correta e premia o cão.
Quando o cão assumir a posição correta, e se ajustar diante das
pequenos giros do condutor, o condutor dá um passo a frente, e se e cão o
acompanhar corretamente, marca e premia. Volta a dar passos no mesmo
lugar, induz o cão na posição de junto correta, a sua direita, e a sua
esquerda.
84
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Como gesto, o condutor pode dar um tapa na coxa no lado que quer
que cão assuma a posição, mas não permite que o cão cruze sua frente.
Pode usar obstáculos como um muro, obstruindo a passagem do cão por
sua frente para adestrar as trocas de lado.
O condutor sinaliza para o cão mudança de direção: o cão de guerra
está focado no seu condutor, olha para onde ele olha, se movimenta
naturalmente ao seu lado, cobrindo grandes áreas e deslocamentos sem
esforços desnecessários nem posturas antinaturais cobradas em algumas
competições esportivas.
No início, fazer círculos com raio grande, com o cão fora do círculo
com rapidez e energia para o cão aprender a corrigir os posteriores para
acompanhar o condutor. Ir diminuindo o raio do círculo conforme o cão vai
dominando o exercício; é mais difícil para o condutor manter o cão na
posição certa em linha reta, mais fácil em círculo. Neste primeiro momento,
o objetivo é o cão estar focado no condutor, criar uma associação positiva,
o cão é condicionado a sempre procurar a posição correta no junto, a
distância percorrida neste momento é irrelevante, poucos metros feitos
corretamente cumprirão o objetivo. O condutor tem em mente para não
exigir demais do cão, demorar muito para premiar; se o cão faz correto por
3 passos, o condutor adota escala variável por uma ou duas sessões,
premiar em qualquer momento, desde no primeiro passo, no segundo ou
no terceiro. Na próxima sessão de adestramento, escala variável para seis
passos, pois o cão nunca sabe quando vai ouvir o marcador e receber o
prêmio, se no primeiro passo, se no último ou em qualquer passo
intermediário. Uma situação importante é saber o limite daquela sessão,
se o cão se desengaja do exercício no décimo passo, na próxima repetição,
premiar no primeiro passo e na repetição seguinte, premiar no máximo no
sétimo ou nono passo.
A correção do exercício de andar junto é melhor realizada da
seguinte maneira: o condutor dá meia volta e permite que o cão erre, se
afastando. Marca o erro (som gutural ahhh) e então dá trancaços quando
o cão estiver na extremidade da guia. Quando o cão se aproximar suspende
os trancaços e quando o cão assumir posição básica correta, elogio/
carinho/prêmio. É criada uma zona de conforto muito clara na cabeça do
cão. Próximo de seu condutor durante o comando de junto coisas boas
acontecem, quando se afasta, sofre desconforto. Quanto mais longe for a
correção, mais rapidamente o cão entenderá o exercício.
O condutor não dá pequenos trancaços quando o cão está próximo,
ou quando o cão se afasta apenas um pouco da posição correta. Ficará
85
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

mais fácil para o cão entender e fugir da correção quando o condutor deixa
a situação evidente, permitindo que o cão se afaste até a extremidade da
guia. O condutor também não fica tensionando a guia com o cão puxando
o tempo inteiro pois induz o reflexo de oposição, comum em cães de
companhia que usam peiteiras. O condutor mantém sempre o enforcador
em sua posição correta. O condutor marca o comportamento desejado e
premia oportunamente, em uma escala variável de intervalo. Não estimula
o cão o tempo inteiro.
O ideal é o cão de guerra andar junto tanto ao lado esquerdo quanto
ao lado direito a comando de seu condutor. Um tapa na coxa do próprio
condutor indica ao cão o lado que ele deve se posicionar. Não é prudente
um cão de guerra estar condicionado a movimentar-se e posicionar-se
apenas no lado esquerdo de seu condutor.

4.14 POSIÇÃO DEITADO


A posição deitado tem grande importância operacional, maior do
que as posições sentado e de pé. É a posição de controle, quando o cão
deita rápido ao comando de seu condutor e assim permanece mesmo com
distrações, ele está se submetendo a liderança do condutor. Na linguagem
corporal do cão, nem posição sentado nem de pé expressam submissão.
Como pré-requisitos para o exercício de deitar, o cão já joga
perfeitamente, já foi adestrado com petisco em cima de uma mesa e já
associou o gesto de indução com o comando verbal para deitar.
Há um recurso que pode ser usado durante o jogo para cães que
estejam tendo dificuldade em deitar, ou cães dominantes, que ofereçam
resistência para deitar. O condutor excita o cão para perseguir o mordente
e, em determinado momento, ajoelha no chão com perna bem baixa, com
o cão à sua frente e o mordente sendo agitado atrás de seu corpo, entre o
chão e sua perna, obrigando o cão a deitar para passar por baixo para
morder o mordente. Com algumas repetições e com o emprego correto do
marcador, o cão vai deitar por fração de segundos, ouvir o marcador e o
condutor vai oferecer cabo de guerra como prêmio. Filhotes oferecem maior
dificuldade para o condutor, pois este precisa abaixar mais, mas é um
recurso importante para cães adultos dominantes. Induzir com o mordente
o cão cruzar por baixo da perna do condutor: ir baixando a perna até ajoelhar
com um joelho no chão, a outra perna com pé no chão com o cão embaixo
dela, quando o cão deitar, ouve o comando marcador e é premiado com o
cabo de guerra. Quando o cão deitar de forma previsível pela indução do
mordente atrás da perna, introduzir comando verbal, condicionar um gesto,
86
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

baixar o mordente. Sutilmente, a cada repetição baixar menos a perna, o


condutor faz o desaparecimento do gesto com o mordente. O cão ao
posicionar-se entre as pernas do condutor, inclusive quando este estiver
ajoelhado, facilita controle em situações reais.
Uma alavanca facilita o uso da coerção para deitar o cão, tornando
a atividade mais fácil e mais segura. Na mesa de obediência será um
buraco por onde a guia passará para a parte de baixo da mesa, no chão
será uma argola fixa no solo ou um “U” de metal cravado na grama. O
condutor amarra o cão em um poste/árvore com uma guia de curta. Passa
a guia longa (pelo menos 10 m) pela argola ou “U” cravado no chão.
Comanda para deitar, o cão já sabe deitar pelo prêmio. Caso o cão deite
prontamente, o condutor marca e premia com petisco/mordente. Caso não
deite, o condutor ou auxiliar dá puxadas na guia longa até o cão deitar. O
condutor se afasta a cada repetição acertada. A correção sempre é mais
bem realizada com um auxiliar corrigindo discretamente o cão, com guia
longa.

4.15 POSIÇÃO NO MEIO DAS PERNAS DO MILITAR


Existem várias situações nas quais será conveniente o cão ficar
entre as pernas do condutor, como por exemplo nos adestramentos de
agitação, ao colocar focinheira, posição de tiro ajoelhado. Em operações
de controle distúrbio, é uma posição que permite mais controle sobre o
cão. O Condutor facilmente orienta o cão para o oponente desejado,
evitando mordidas acidentais com colegas do pelotão. Ao retirar o cão
que morde oponente, o condutor se mantém estável, de frente para o
oponente, e o cão sempre ficará entre ele e o oponente, a qualquer
momento, se necessário, o cão poderá ser solto novamente.

4.16 POSIÇAO DE PÉ
Já foi descrito como é importante colocar o cão em pé, entre o
sentado e o deitado, fazendo o cão realizar a ginástica correta dos
posteriores que se mexem quando deita, enquanto os anteriores e sua
cabeça permanecem no mesmo lugar. Já no emprego operacional a posição
em pé não tem tanta importância quanto a posição deitado. O comando
de ficar em pé servirá mais para adestramento das trocas de posições,
mas pode auxiliar em algumas situações como exames veterinários e
melhorar a postura do cão quando a vista do público, quando não é possível
ou conveniente mandar o cão sentar ou deitar (piso quente, por exemplo).
87
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

A indução para ficar de pé a partir da posição deitado é feita


fazendo o cão colar seu focinho na mão do condutor com petisco, levar em
direção ao peito do cão e para trás. Com o movimento da cabeça, o cão
acabará levantando, e ao levantar, ouvirá o marcador e será premiado
com o petisco. Será feito na mesa, conforme já descrito, assim que
comportamento ficar previsível, o cão ouvirá o comando fração de segundo
antes do gesto iniciar. A cada sessão, o condutor será mais discreto com o
gesto de indução, até que o cão realize o exercício com o comando de voz
e com um gesto muito discreto ou inexistente.
Durante o jogo, é o exercício mais fácil de induzir: parar com o
mordente alto, quando o cão ficar imóvel, marcar e premiar com o cabo de
guerra.
A borda removida da mesa de adestramento ou outra borda de
madeira de cerca de ½ palmo de altura em forma de “U” será um auxiliar
para adestrar a posição de pé no chão.

4.17 COMANDO EM FRENTE


Nos esportes caninos, o condutor sempre quando adestra o exercício
em frente usa um alvo bem claro para o cão, como uma cerca ou cone
laranja de tráfico e o artifício de posicionar comida ou mordente à frente,
mas dissimula que não existe algum indutor primário na direção que aponta.
Na verdade, no dia da prova, e somente nos dias de prova, não haverá o
indutor primário final do campo, o cão correrá velozmente na expectativa
real de encontrar o prêmio.
O condutor manda o cão de guerra em frente à procura de algo ou
a um local certo e visível, canil, biombo ou viatura. É muito importante
para cão que, desde muito cedo, saiba afastar-se do condutor sob comando.
Quando for mandado em frente, sempre vai encontrar um indutor primário
positivo: petisco, mordente ou figurante. A diferença da situação militar
dos eventos esportivos é que não há necessidade de mascarar o prêmio, o
condutor sempre apontará para um objetivo real, mesmo que o cão tenha
que procurá-lo, o prêmio SEMPRE estará lá. Este é um dos momentos em
que não é adequado subestimar o cão e sua capacidade de discriminar as
diferentes situações. Se estiver em patrulha e o condutor apontar para
uma moita à frente, o cão corre e investiga a moita à procura do oponente,
se o condutor aponta para o canil, o cão entende o que se espera dele.
O cão corre à frente do seu condutor na direção que ele aponta.
Podem ter comandos verbais diferentes ou não para contextos diferentes
88
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

(canil, oponente), mas o gesto é sempre o mesmo: apontar com a mão que
não emprega arma, cassetete/tonfa (mão fraca – se destro, usa mão
esquerda, se canhoto, usa mão direita). Durante as repetições, o alvo se
mantém no lugar, quem se afasta é o conjunto, cão e condutor. O alvo é
algo evidente para o cão e, neste exercício, é fundamental que o cão perceba
claramente seu alvo antes de ser liberado pelo condutor. O alvo no campo
de adestramento pode ser um cone laranja de sinalização, tampa plástica
de um vasilhame, cano de pvc com uma bandeirola, etc. Outros alvos
evidentes para o cão: seu próprio canil, biombo, sua caixa de transporte,
sua própria viatura ou um figurante.
O cão pode ser condicionado a tocar ou chegar ao alvo e no alvo ter
seu indutor primário, petisco, mordente ou figurante, ou pode ser
condicionado a tocar no alvo, ouvir o marcador e, então, receber o prêmio.
Quando o indutor primário positivo for o alvo, ou colocado dentro
do alvo, dentro do canil, caixa de transporte ou dentro da viatura, por
exemplo, o condutor excita o cão e deixa-o evidentemente interessado,
recua, olhando para o alvo, aponta para o local, e libera o cão somente se
estiver focado no alvo.
Quando o cão chegar, continua elogiando o cão com a voz – se for
ração, tenta mantê-lo no alvo, se for mordente, chama-o de volta.
O condutor pode estimular seu cão colocando-o entre suas pernas,
ou sentado ou deitado. É muito importante que cão se acostume a receber
comando de seu condutor em silhueta diminuída.

4.18 BUSCA DE OBJETOS LANÇADOS PELO CONDUTOR


É fundamental para o adestramento do cão de detecção que ele
busque o mordente impregnado de odor para seu condutor. O Cão de guerra
será condicionado a retornar ao condutor depois de pegar o mordente
quando este é lançado. Alguns treinadores usam como critério de seleção
para cães de detecção a busca natural, instintiva, sem treinamento algum.
Para buscar consistentemente qualquer objeto que o condutor
arremessar, o condutor separa o exercício em várias etapas, como um
quebra-cabeça:
- comer petisco lançado e retornar ao condutor;
- buscar objeto lançado;
- manter um objeto em sua boca e soltar somente sob comando;
- andar na guia carregando objeto na boca.

89
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

4.18.1 COMER PETISCO LANÇADO E RETORNAR AO CONDUTOR


O primeiro passo é adestrar ao cão pegar petiscos lançados no
chão e retornar para o condutor e receber outro petisco por voltar. O
condutor senta sobre suas próprias pernas (joelhos e canelas em contato
com o chão, nádegas apoiadas nos tornozelos) para não ficar se curvando
sobre o cão e, mantendo suas costas eretas, dá comando bring e joga
petiscos a curta distância; quando o cão pegar o petisco, é chamado de
volta, ouve o marcador e recebe outro petisco por ter voltado. É importante
não deixar o cão ficar farejando à procura de outro petisco no chão, o
importante é que se condicione mecanicamente a ir onde o condutor
aponta, comer e voltar rapidamente, é o alicerce do exercício de buscar.

90
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Iniciando com petisco, o condutor joga o petisco, tão logo o cão abocanhe o petisco,
atrai o cão de volta e dá outro petisco.

4.18.2 BUSCAR OBJETO LANÇADO


Quando o cão já partir na mesma direção e distância que o petisco
é jogado e voltar, o condutor vai realizar no mesmo lugar e da mesma
maneira, o que muda é que usará um objeto, neste primeiro momento,
qualquer objeto que não seja o mordente usual. Um bom objeto é um cano
de PVC curvo com um barbante de um metro amarrado em uma das
extremidades. O cano de PVC é ruim de mascar e, sendo curvo, torna-se
fácil de tirar da boca do cão sem maiores melindres, é muito mais
interessante para o cão buscar o PVC do que mascá-lo ou tentar fazer
cabo de guerra com o condutor. O condutor estimula o cão com o mordente
preso a um barbante de cerca de um metro e joga a uma pequena distância,
caso o cão se desinteresse pelo mordente parado no chão, o condutor
puxa o mordente e movimenta somente para estimular o cão. O barbante
de um metro pode ser substituído por uma guia retrátil. O objetivo é que o
cão entenda a pegar o mordente parado no chão. Quando o cão abocanhar
o mordente, o condutor chama o cão e, tão logo ele chegue, o condutor
comanda-o para soltar e, imediatamente, joga na mesma direção e distância
que havia jogado. Emprega o comando de bring quando o cão estiver indo
em direção ao mordente. Nas primeiras vezes, o cão pode ficar confuso e
se interessar mais pelo condutor e não se afastar para buscar o mordente,
o condutor pacientemente faz o cão entender que, naquela sessão, o
objetivo é buscar e entregar o objeto.

91
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Quando o condutor condicionar o cão a trazer o objeto de volta e


ser premiado por petisco ou cabo de guerra, pode, durante o jogo, intercalar
cabo de guerra com o jogo de buscar. Durante o jogo, o condutor usa o
marcador habitual e premia, normalmente, algum exercício que esteja
adestrando, deita, por exemplo, jogando o mordente longe e, se for bolinha
ou Kong, pode jogar no chão para quicar e estimular mais o cão. Tão logo
o cão ache o mordente, condutor se afasta, correndo e excitando o cão a
voltar, chamando-o pelo nome. Com a evolução natural do adestramento,
utilizando mordente impregnado de odor (narcótico, cadáver, suspeito, etc.),
o condutor vai aumentado o grau de dificuldade arremessando no escuro,
na grama alta ou mais longe, aumentando o tempo de busca. Este exercício
tem fundamental importância para o cão melhorar o padrão e a persistência
da busca.

4.18.3 MANTER UM OBJETO EM SUA BOCA E SOLTAR SOMENTE


SOB COMANDO
Nos primórdios do adestramento de cães, ou o cão buscava
naturalmente por forte seleção genética das raças especializadas em busca
(Golden retriever, Labrador) ou o cão era adestrado para a busca de forma
coercitiva em todas as etapas. Há coação em todas as etapas, desde ir
até o objeto, abocanhar, carregar e entregar para o condutor. Com a
vulgarização de técnicas modernas de condicionamento operante, com
uso de prémios como cabo de guerra e petiscos, houve uma tendência de
apenas usar o prêmio.
Atualmente, é consenso usar um pouco dos dois mundos. O cão
entende que realiza um trabalho, e é recompensado, mas não tem opção
de não realizá-lo. O condutor impõe-se como líder do conjunto. Isto não é
mais feito como na escola antiga, mas com o mínimo de força possível.
A primeira peça do quebra-cabeça é o condutor conseguir colocar
suas mãos no focinho do cão, e segurá-lo gentilmente pelo focinho. Quando
conseguir isso, o cão ouve o marcador sonoro e recebe o prêmio (petisco).
Uma vez que o cão se mantenha tranquilo ao ser manipulado na cara e
focinho, o condutor passa para a segunda peça do quebra-cabeça.
Um objeto, como cano de PVC ligeiramente curvo com um pequeno
barbante atado, é colocado na boca do cão. A tendência natural e imediata
do cão é expelir o objeto. O condutor acalma-o e força-o a manter o objeto
de forma tranquila em sua boca. Sem alvoroço, gritaria, ou qualquer
exaltação. Uma vez que o cão fique alguns segundos com o objeto sem
92
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

reagir em sua boca, ouvirá o marcador sonoro e será premiado com petisco.
O condutor associa um som ao exercício de manter o objeto na boca
calmamente, como “pega”.
Uma vez que esteja bem claro para o cão esta etapa, que recebe da
mão do condutor um objeto, abocanha e mantém firme até receber o sinal
sonoro, solta e recebe o prêmio, o condutor vai acrescentar ao quebra-
cabeça a peça do comando para soltar. Uma fração de segundo antes de
usar o marcador sonoro, comanda para soltar, marca e premia o cão, até
que não seja necessário mais o marcador, apenas o comando, o
comportamento correto e o prêmio.

4.18.4 ANDAR NA GUIA CARREGANDO OBJETO NA BOCA


Uma vez que o cão abocanhe sob comando e solte sob comando, o
condutor dá um passo com cão. A tendência do cão é soltar, é corrigido e
o objeto reintroduzido em sua boca. Se conseguir dar um passo com o
objeto, é imediatamente premiado. Não importa a distância, importa nesta
etapa que o cão capte o conceito de andar com o objeto na boca. As
distâncias aumentam paulatinamente com os gradativos sucessos do cão.

4.18.5 ABOCANHAR NO CHÃO


O condutor, em uma situação controlada (cão em cima da mesa,
recinto pequeno, guia) manda o cão pegar o objeto cada vez mais próximo
do chão, mas ainda em sua mão. Sutilmente, afasta sua mão fração de
segundo antes que o cão abocanhe no chão. Esta é uma etapa que a maioria
dos cães resiste ou demonstram alguma dificuldade. A partir desta etapa,
é o cão que deve abocanhar do chão e não mais da mão de seu condutor.
O condutor pode voltar a pegar o objeto, ou através do barbante amarrado
no objeto movimentar o cão, e incentivá-lo a abocanhar. Aproximação
sucessiva pode ser usada, se o cão se aproximar, ouvirá o marcador é
premiado, se tocar, ouvirá o marcador e é premiado, assim sucessivamente,
até abocanhar o objeto. As ajudas verbais, incentivando o cão e corrigindo
serão fundamentais para superar esta etapa.

4.18.6 GENERALIZAÇÃO DE OBJETOS


O condutor usará toda sorte de objetos, na situação controlada do
exercício de abocanhar e andar na guia. Coturnos, escovas, barras de metal,
chaves, brinquedos de crianças, latas de refrigerantes, garrafas PET,
93
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

frascos de materiais de limpeza, pedaços dos mais variados tecidos,


tapetes, etc. Existem alguns objetos, seja pela textura, dureza, ou odor,
que desestimulam o cão para abocanhá-los ou mantê-los na boca. O
condutor dessensibiliza seu cão, através da combinação de coerção e
prêmio.

4.19 POSIÇÃO SENTADO


O cão foi adestrado a sentar com petisco na mesa, o que restará é
a transição para o cão realizar o exercício no chão.
A posição sentado é confortável para o cão e é um postura
profissional adequada para o cão ser visto pelo público, quando em
intervalos de patrulha ou deslocamentos.
A indução com o mordente é feita durante o jogo, o condutor agita
o cão, faz girar o cão no sentido horário e, em um movimento brusco, vira
em sentido anti-horário, elevando o mordente levantando a mão e baixando
o cotovelo, tão logo sente, ouve o marcador e é premiado com o jogo de
cabo de guerra.
Ambas as induções com petisco e com mordente serão cada vez
mais discretas, até o cão realizar o exercício pelo comando por voz e gesto
muito discreto ou mesmo sem gesto algum. O gesto é a forma de comando
que o cão aprende mais fácil e retém por mais tempo, caso precise
retrabalhar um cão e melhorar o exercício, o gesto pode voltar a ser
empregado como foi no início, outra situação conveniente que o cão
obedeça o comando por gesto é quando não se quer ou não se pode usar
voz.
O exercício de sentar, da mesma maneira que o de deitar é um
exercício dinâmico, o objetivo é sentar rápido, independente da posição,
distância ou movimentação do condutor. Imediatamente após sentar, o
cão ouve o marcador e recebe petisco/mordente; sempre o condutor induz
para a posição de sentar correta, os posteriores flexionam-se e avançam
para baixo do corpo do cão e os anteriores se mantêm na mesma posição.
Quando o condutor conseguir induzir o cão de maneira previsível,
ou seja, 100% das vezes quando induz o cão sentar, o condutor vai começar
a falar o comando fração de segundo antes de iniciar a indução. O comando
verbal somente é introduzido quando o cão realiza o exercício bem, caso
contrário, estará associando e condicionando comando para um
comportamento abaixo do padrão desejado.
O condutor comanda e imediatamente induz com o gesto.
Eventualmente, comanda e espera 0,5 segundo, para ver se o cão já
94
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

começou a perceber o comando verbal. Se não, continua dando o comando


e imediatamente auxiliando com o gesto de indução. Se sim, o condutor
começa o desaparecimento do gesto de indução, fica cada vez mais
discreto, se movimentando menos, até que o cão obedeça com gesto muito
discreto ou até mesmo sem gesto algum, apenas com comando verbal. O
condutor é criativo, se movimenta, simula corrida no mesmo lugar, comanda
para sentar durante o jogo, estando de frente, de costas ou ao lado do
cão. É fundamental que o cão discrimine o comando apenas, e não um
conjunto de informações como: o cão somente senta quando o condutor
está ao seu lado direito ou à sua frente, ou parado.
O condutor trabalha, literalmente, centenas de vezes, fazendo o
cão ouvir o comando, ser induzido, no início com movimento amplo e depois
muito discreto, se preocupando sempre com a rapidez e a ginástica correta.
Depois de dois ou três meses adestrando com prêmio, o condutor vai
introduzir a coerção para o exercício de sentar. Da mesma maneira que a
coerção foi introduzida para o exercício de deitar, o condutor precisa ter
claro em sua mente que é um novo exercício para seu cão, pacientemente,
começa do zero. Sentar por indução por petisco ou mordente é um exercício,
sentar forçado para fugir ou ceder à pressão do condutor é outro, totalmente
diferente.
Para forçar o cão a sentar, o enforcador é colocado na posição
correta, bem alto no pescoço, passando pela garganta do cão e nuca, logo
atrás das orelhas. O condutor eleva a guia e puxa para cima, tão logo o
cão demonstre ceder, elevando a cabeça, cede à pressão o condutor marca
e premia com petisco. A cada repetição, o condutor cobra que o cão ceda
um pouco mais e, quando o cão ceder elevando a cabeça, o condutor frouxa
a guia, marca e premia. Faz as repetições necessárias até que o cão sente
e, então, emprega o que chamamos de grande prêmio, ou acumulado, o
condutor marca e premia o cão com um punhado de petisco, elogia muito,
brinca e corre com o cão. Isto é para evidenciar a primeira vez que o cão
sentou cedendo à pressão – impressão do primeiro exercício correto. A
partir desse momento, o cão será premiado em escala variável,
principalmente quando sentar rápido, e será forçado a sentar quando não
fizer ao primeiro comando.

4.20 TRANSPOSIÇÃO DE OBSTÁCULOS


Em uma situação real, o cão transporá o obstáculo a frente de seu
condutor, ou o obstáculo é tão grande que o conjunto transporá junto.
95
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Obstáculos serão portões, árvores caídas, manilhas, muros, portões,


janelas, janelas de carro, carro, etc. Desde o início esta situação é
condicionada no cão. Transpor obstáculos com o cão saltando e condutor
transpondo ao largo é para o esporte civil de Agilidade.
Saltar, escalar, rastejar e nadar para transposição de toda sorte de
obstáculos fazem parte das habilidades operacionais mínimas para um
cão de guerra. Obstáculos podem ser transpostos com ou sem a ajuda de
seu condutor, mas sempre o cão irá à frente. É fundamental que este
conceito seja adestrado e que o cão esteja preparado para ser auxiliado,
colocado no ombro e jogado para dentro de um sótão, abertura ou janela.
O escudo balístico pode ser usado como plataforma para elevar o cão e
ele pular para dentro de uma abertura ou sótão. Os militares que apoiam
e elevam o cão estarão abaixo do escudo, abrigados. Associar o mais rápido
possível o salto ou transposição de obstáculos com a procura e o combate
com o figurante.
Obstáculos são feitos com meios de fortuna encontrados dentro da
organização militar. São feitas apenas modificações para segurança do
militares e cães, arestas são arredondadas, estrutura é reforçada, feltros
e borrachas podem ser colocados em pontos salientes. Simulam situações
possíveis de serem encontradas em uma missão real de procura e captura.
Portões, portas, janelas, carros velhos, guaritas, telas, tudo pode ser
aproveitado. São evitados obstáculos de pistas de agilidade, feitos
especialmente para o esporte canino. Alguns obstáculos que podem ser
facilmente montados com materiais encontrados na unidade: lâmina de
água, cortina de lona plástica preta, cortina de lonas franjadas, cortina de
garrafas pet, piso irregular de sacos plásticos e garrafas pet, balanço
suspenso por cabos de aço, ponte pênsil. Rampas e degraus facilitam a
saída dos obstáculos, evitando desgastes desnecessários aos cães.

4.20.1 SALTO
Como pré-requisitos para saltar, o cão já realiza com perfeição o
exercício de ir em frente, sobe rampas e escadas com facilidade, toca em
uma marca e joga cabo de guerra com o auxiliar. O primeiro exercício será
planejado para imprimir velocidade e confiança. O obstáculo será montado
bem baixo, mas largo. Primeiro o cão dominará o salto em largura, depois
em altura. O salto em largura adestra o cão a calcular o ponto de salto
preparando-o para salto em altura.

96
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Excelente obstáculo imitando Túnel (5RCMec)


perfeitamente um abrigo subterrâneo,
feito com chapas de concreto, cobertas
com terra e foi plantado grama. Tem cerca
de 30 cm de altura e 2,5 m de
comprimento. Há uma saída para os cães
na outra extremidade.(área de
adestramento 3ºBPE)

Na primeira vez em que for saltar, é criada uma impressão excelente


no cão, principalmente na rapidez. O auxiliar segura o cão, o condutor se
afasta passando por cima do obstáculo e ficando do outro lado,
incentivando o cão para aproximar-se; fração de segundo antes de o cão
pular, ouvirá o comando hop e, ao chegar ao condutor, é premiado com o
jogo de cabo de guerra. O auxiliar passa por cima do obstáculo, se aproxima
do condutor e cão e segura-o; o condutor se afasta do cão, passando por
cima do obstáculo, agita o cão com palavras, gesticula mostrando o
mordente e, fração de segundo antes de o cão pular, ouvirá hop, ao chegar
ao condutor, será premiado com o jogo de cabo de guerra. O exercício não
é para aproximar-se do condutor, é o contrário, afastar-se dele. Como
qualquer exercício intermediário, a regra das três vezes é usada, fazer
uma, fazer duas, não fazer a terceira. A terceira repetição será o auxiliar
que agita o cão e, quando o condutor perceber que o cão está focado,
libera-o. É fundamental investir tempo para montar o exercício; para não
permitir que o cão contorne o obstáculo, o condutor procura induzí-lo ao
acerto, o obstáculo pode ser montado ao lado de um muro, pode ser feito
um cercadinho de obstáculos e, uma vez que pule dentro, terá que pular
para fora, não há como driblar obstáculo.
O nylon de pesca pode ser usado como cerca invisível ou pouco
visível para impedir que o cão contorne o obstáculo e não salte. Também
97
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

pode ser usada a repreensão verbal com um forte não ou ahhh nas primeiras
vezes. A primeira impressão do exercício do salto será conduzida de
maneira que não permita o cão errar, como desviar pelos lados do obstáculo,
ou começar muito alto ou muito largo de que assuste o cão ou faça-o
derrubar.
Os obstáculos de salto são construídos de tal maneira que permitam
regular a altura ou a largura, começando bem baixo ou bem curto e a
altura e largura aumentam gradativamente conforme os sucessos do cão.
A semelhança dos obstáculos para salto de equitação, os obstáculos de
salto são construídos de maneira que caso o cão apoie, ele se desmonte.
Para salto em altura, dois pequenos obstáculos, cada um deles feito
com um cano ou cabo de vassoura com um palmo de altura e da mesma
largura do obstáculo principal, serão usados sempre que possível, antes e
depois do obstáculo principal. A distância destes obstáculos de referência
ao obstáculo principal é de um metro antes e o outro a um metro depois.
Desde o primeiro salto, e sempre que possível, o cão terá estes pequenos
obstáculos de referência para auxiliá-lo em um arco de salto adequado.

4.20.2 TRANSPOSIÇÃO DE CURSO DE ÁGUA


O cão de guerra é adestrado para transpor pequenos cursos de
água, com o figurante dentro da água ou no outro barranco. Para o cão
não ter receio de água, é montado um obstáculo chamado lâmina de água.
Pequeno tanque com no máximo meio palmo de profundidade ou menos
para filhotes, onde o cão realiza vários exercícios, como sentar, deitar,
jogo de cabo de guerra, sempre associando água com prêmio. Nas primeiras
vezes o condutor entra junto com o cão, para depois que estiver confiante,
o cão entrar a frente do condutor.
Em situação real, cão está em grande desvantagem no combate na
água. Longe de seu condutor, sem seu apoio, o cão pode facilmente ser
atraído para um combate em que será morto ou ferido. A natação é
preparação física e mental indispensável para o cão de guerra e durante
adestramentos, toda criatividade é bem vinda, inclusive com combate
dentro da água ou logo depois da transposição do obstáculo com água.

4.20.3 ESCALADA
Semelhante ao obstáculo de adestramento para saltar em largura,
o obstáculo de escalada é construído de tal sorte que permita que sua
altura seja gradativamente aumentada. O lado de abordagem pelo cão
98
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

também é construído de maneira que ajuste a inclinação. Para cães


iniciantes, é montado bem baixo e com ligeira inclinação. Paulatinamente,
a altura sobe e a inclinação desaparece até o obstáculo ficar com ângulo
de 90º em relação ao solo no lado que é abordado pelo cão. No lado de
saída, uma rampa ou degraus auxiliam o cão, não há necessidade de
sobrecarregar as articulações do cão no choque com o solo depois de
transpor os obstáculos.

4.20.4 OBSTÁCULOS TIPO TÚNEL


Sempre que possível, aproveitar a facilitação social, um cão que já
realiza o exercício demonstra para os outros. Além dos cães novatos
visualizarem, ele deixará seu odor no trajeto a ser percorrido dentro do
obstáculo.
Um auxiliar segura o cão, e seu condutor estimula-o na saída do
túnel. Uma guia longa pode ser passada por dentro do túnel, para não
permitir que o cão retorne por onde entrou, mas não deve ser usada para
puxar o cão.

Obstáculo do 3ºBPE, de um lado


rampa, de outro lado escada
vazada, cortina de franjas de
plástico, plataforma capaz de
sustentar com segurança o
figurante para se posicionar e
receber o ataque do cão

Obstáculo simulando ponte suspensa, a movimentação do obstáculo enquanto o cão


o negocia é um desafio mental muito bom (5ºRCMec). Gravura do Manual técnico de
veterinária T 42-280 de 1974.
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JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Obstáculo com rampa e degrau, observar altura na proporção do soldado. (5ºRCMec)

Obstáculo para rastejo (5ºRCMec)

Túnel e passarela conjuntos feitos com meio de fortuna encontrados na unidade.

100
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Ponte com barras afastadas Barreira de escada com barras separadas

Barreira de escada com barras paralelas Barreira de escada e paltaforma

Barreira de plano horizontal

101
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Barreira simulando janela (5ºRCMec)

Barreira horizontal(5ºRCMec)

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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

4.21 RECUSA DE ALIMENTOS


O cão de guerra somente come aquilo que recebe em sua tigela de
ração ou direto da mão de seu condutor. A distração no trabalho por comida
pode ser intencional ou acidental. O militar adestrador cobra o tempo inteiro
que ninguém deixe petiscos cair ou deixe cão em área que ache alimentos
e coma sem a liberação de seu condutor. A recusa de alimentos é adestrada
em diversas etapas, a fim de facilitar para o cão e evitar aparecimento de
problemas. Se o adestramento for mal conduzido, dois problemas podem
aparecer: o cão apenas recusa alimento quando percebe que está sob
supervisão, à vista de seu condutor, ou o cão demonstra receio de quem
oferece comida (figurante ou oponente real).
a) A primeira etapa, que começa muito cedo na vida do
filhote e prossegue enquanto o cão estiver na SCG é a
criação de um ritual para o cão comer sua ração diária. O
cão come apenas da mão de seu condutor, ou de sua tigela
em seu canil ou caixa de transporte. No canil, o condutor
manda o cão deitar, coloca a tigela de ração no mesmo
lugar. O cão somente se levanta e come após liberação de
seu condutor. O comando pode ser “ok”.
b) Um auxiliar joga petiscos em uma área predeterminada
e circula com o cão na guia. Diante de qualquer tentativa
do cão explorar na direção da comida, recebe o comando
que será sempre usado para o cão se desinteressar por algo,
por exemplo “deixa” e o condutor dá puxadas na guia até o
cão perder o interesse. Quando o cão voltar a prestar atenção
no condutor, é premiado com jogo de cabo de guerra e de
buscar.
c) Um metal em forma de “U” ou uma estaca com uma
argola é cravada onde o cão ficará, a guia longa é passada
por dentro do “U” cravado no chão ou por dentro da argola
da estaca e fica na mão do condutor. Isso manterá o cão na
posição mesmo se tiver que ser corrigido.
d) Condutor manda o cão deitar, e fica com a guia na mão
pronto para corrigí-lo. Um assistente, sem agitar o cão,
aproxima-se do conjunto e joga próximo ao cão pedaços de
espuma, tecido, objetos sem forma definida, que não são
usados nem nos exercícios de buscar nem como mordentes.

103
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O condutor corrige o cão, impedindo-o de investigar ou de


abocanhar os objetos, com comando “deixa”. Quando o cão
focar no auxiliar, ele joga cabo de guerra com o cão,
premiando-o. O mordente está escondido e somente será
apresentado ao cão no momento de premiá-lo. O condutor
é o mais discreto possível, a ideia é o cão não depender
das induções do condutor.
e) Depois de algumas sessões que o cão estiver focado no
auxiliar, não dando importância para pedaços de objetos
não usuais ao trabalho ou adestramento, o petisco é
esfregado nestes objetos, a fim de impregná-los com odor.
Mesmo exercício é feito até o cão perceber que presta
atenção no assistente, não no que ele arremessa, mesmo
que o objeto esteja com odor de alimento.
f) O condutor se afasta, e fica atrás de um biombo, mas fica
sempre em condições de corrigir o cão com a guia longa ou
de outra maneira. O prêmio com cabo de guerra com o
auxiliar será no local onde ele está deitado.
g) Cautela é tomada para que o cão não acesse os objetos,
e também para que não se dispenda muita energia com
gritos ou puxões na guia. O cão não pode perder o interesse
no assistente, não pode demonstrar medo, receio ou tentar
se afastar por qualquer motivo.
h) A partir desta etapa será jogado o petisco real. Etapas
intermediárias foram acrescentadas para que eventuais
erros cometidos por falta de precisão, posicionamento
errado, distâncias erradas sejam adestradas e corrigidas
pelo condutor e por seu auxiliar. A expectativa é que nem
condutor nem auxiliar cometam erros com petisco. Caso
errem, e caso o cão coma o petisco, ele se sentirá premiado,
o que atrasará a evolução do adestramento.
i) Se o cão der atenção ao petisco jogado, é corrigido e
ouve o comando “deixa”. Quando prestar atenção no auxiliar,
é premiado com cabo de guerra.
j) Como polimento final, depois de várias sessões que o
cão não erre, se disponível, a coleira eletrônica pode ser
usada.

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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

4.22 ACHAR E APREENDER X ACHAR E INDICAR


Uma das principais missões do cão de guerra é imobilizar o oponente,
apreendendo-o e neutralizando sua capacidade de agredir seu condutor.
Para isso o cão de guerra é condicionado a achar e morder (apreender),
estando o oponente imóvel, correndo ou atacando. Mas é adestrado a
achar e latir (indicar) quando não consegue morder.
Cães que são adestrados a achar e latir (indicar), apreendem com
mais firmeza e consistência na situação real. O exercício é montado de
maneira que o figurante fique inacessível à mordida, atrás de tela, cerca,
porta, em cima de mesa, árvore; quando o cão latir, o figurante permite a
mordida. Quando o cão é condicionado a latir quando não consegue morder,
ele está sendo preparado para superar situações desafiadoras, propiciando
a oportunidade de seu condutor perceber que está vulnerável, próximo do
oponente, mas, por algum motivo, sem poder mordê-lo e, então, será
chamado de volta a seu condutor.
Outros pontos importantes atingidos com o adestramento do
exercício de achar e latir são: mudar o impulso para caçar para o impulso
para lutar; manter o cão focado no figurante/oponente e condicionar um
comportamento adequado para quando soltar. Além disso, condiciona o
cão a ter um comportamento aceitável se for difícil ou se for desafiado por
uma situação desconhecida, como, por exemplo, se o oponente estiver
em uma posição inusitada para o cão – agachado, enfiado em um buraco
ou coberto por algo. O cão adestrado para achar e latir, dificilmente será
desafiado o suficiente para ser colocado em fuga pelo oponente. O
adestramento permitirá ter uma solução, se não puder, não conseguir
morder, latir será a solução. Ao latir, o cão alerta o condutor que está em
dificuldades e engaja em um comportamento que o estimula a ficar focado
no oponente, propiciando a mordida. É uma cadeia de comportamento, o
comportamento de latir agressivamente para o oponente cria a
oportunidade de o cão finalizar com a mordida.
Cães adestrados para achar e latir, muito provavelmente acharão e
morderão na situação real, principalmente se provocados de alguma
maneira pelo oponente e um bom cão terá um limiar muito baixo para
engajar no combate. Bons cães, com impulso alto de luta, não deixarão de
morder bem. Cães medianos, melhorarão seu engajamento com o
oponente, e adotarão um comportamento que os estimulará para morder
caso sejam desafiados.

105
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Desde muito cedo, no adestramento, o cão é incentivado a morder


e latir para aliviar estresse, logo após correção, por exemplo, por
demonstrar agressividade com outro cão da SCG: o condutor manda o cão
realizar um exercício que sabe que o animal realizará, sentar, deitar, ficar
em pé, e premia com o cabo de guerra. Durante a agitação em conjunto,
onde o conjunto é mantido a certa distância, enquanto outros conjuntos
combatem o figurante, o cão é estimulado a latir sob comando por seu
condutor. É importante que o cão de guerra demonstre muita agressividade
latindo, isto tem importante efeito dissuasivo e, em muitas situações, é
apenas o que será necessário. Um tipo de cão que não é conveniente que
lata é o cão de entrada em instalações ou dispositivos, onde não há reféns
e os oponentes estão armados. O cão não pode quebrar o silêncio
denunciando a aproximação da equipe tática. O cão regular da SCG de
dupla aptidão para emprego em patrulhas, busca de instalações e proteção
de áreas militares, late agressivamente.
O achar e latir na situação operacional difere em muito do achar e
latir do esporte. Em competições caninas civis, o figurante fará sempre a
mesma coreografia, ficando de pé, imóvel. O cão late e ameaça sempre
da mesma maneira, mordendo a luva de proteção. A gama de possibilidades
e situações que o cão de guerra pode enfrentar é extensa: oponente
deitado, de costas, agachado, imóvel, correndo, agitado. Por experiência,
mesmo o cão adestrado para achar e latir, eventualmente, na situação
real vai achar e morder. Por isso, a recomendação de adestrar achar e
latir, mas esperar o comportamento de achar e morder e entender que
cães adestrados a achar e latir, quando mandados achar e morder,
combatem melhor e mordem melhor.

4.22.1 LATIR SOB COMANDO


Uma dos primeiros exercícios para adestrar o cão, inclusive filhotes
muito jovens é latir sob comando. É importante pois facilitará o
adestramento para silenciar cão, condutor manda o cão latir, premia,
manda o cão silenciar e premia, colocando um comando para ambos os
comportamentos. Outra situação é facilitar para o cão novato o
enfrentamento de situações desafiadoras, que poderiam colocá-lo em
conflito. O condutor auxiliará fornecendo um comportamento que alivia o
estresse, e por cadeia de comportamento, cria a chance do cão escalar
para agressão e mordida. Um bom exemplo é o figurante parado a frente
do cão. Com um filhote ou cão novato que late sob comando, o que seria
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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

uma situação de desafio, a imobilidade do oponente é interpretado pelo


cão como desafio, o que pode colocar um cão novato em comportamento
de evitação ou até fuga, o condutor comanda que ele lata e premia-o. O
próprio figurante pode premiar o cão empreendendo uma dramática fuga
do campo de adestramento quando o cão latir.
Em algumas situações operacionais é preciso que o cão aja apenas
como dissuasão latindo agressivamente. Em outras será necessário o cão
ficar em silêncio, e este comando está claro para o cão que foi adestrado
a latir sob comando.
O condutor amarra o cão em poste e descobre alguma situação
que o induza o cão a latir, agitação, frustração por algum mordente que o
condutor mostra para o cão, ou simplesmente se afasta do cão. Em algumas
situações, é mais fácil induzir o cão a latir dentro de seu próprio canil ou
com outros cães próximos fazendo uso da facilitação social. Tão logo o
cão lata, o condutor marca e premia. Este é um excelente exercício que
demonstra claramente a facilidade de adestrar com um marcador sonoro
claro para o cão. Em poucas repetições o cão estará oferecendo o
comportamento de latir, ouvirá o marcador e receberá o petico ou mordente.
O condutor começa a associar a um gesto e a um comando verbal como
“cuida” quando o cão late. Quando o comportamento de latir do cão fica
previsível, o condutor tenta dar o comando fração de segundo antes do
cão iniciar o comportamento. Quando consistentemente conseguir que o
cão lata sob estímulo do comando, deixa de premiar quando o cão latir
sem o comando.
Para o quieto, depois de algumas sessões de adestramento com
sucesso, quando o cão late sob estímulo do comando e ou do gesto para
tal. O simples fato de usar o marcador sonoro, faz o cão parar de latir, se
não, o condutor oferece o petisco para o cão cheirar, ele ficará quieto para
farejar o petisco, e receberá o prêmio. O condutor associa o comando de
quieto, marca e premia. A correção somente é empregada depois de
semanas, quando estiver claro para o cão o que se espera dele.

107
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

4.23 AGITAÇÃO

4.23.1 COM O PRÓPRIO CONDUTOR


O condutor prepara seu cão para a agitação posterior com o
figurante. Durante o Jogo de cabo de guerra e de buscar, conceitos
fundamentais são trabalhados com o cão, como morder de boca cheia,
morder e soltar sob comando.
O exercício do giro da vitória e afago aumenta a possesividade do
cão, é usado para incentivá-lo; se o cão não soltar ou não trouxer de volta
o mordente, a frequência que o condutor realiza o giro e o afago será
diminuída.
Para o exercício do giro da vitória, o condutor segura na ponta da
corda que prende o mordente, gira induzindo que o cão gire à sua volta,
trota e estimula verbalmente o cão e o chama para o afago; se o cão
derrubar, a caça volta à vida, o condutor arranca o mordente do cão. Se
necessário, impede com a guia que o cão recupere o mordente inanimado
no chão, pegando-o ou chutando-o para longe.
No afago, o condutor realiza um carinho tranquilizador que consiste
em colocar a mão no peito, não na guia ou na coleira: mão espalmada,
bem lenta pelo ombro e nas costelas do cão. Repetindo lenta, baixa e
calmamente: “boa mordida” espera alguns segundos, “boa mordida”.
Quando o condutor libera o cão para o giro da vitória, jamais deixa o cão
solto: ou segura o cão pela guia ou pela cordinha do mordente. O cão não
pode fugir com o mordente; se, eventualmente fugir, o condutor jamais
corre atrás, vira de costas e sai caminhando. Pode tentar chamar o cão ou
atrair com um segundo mordente em uma corda que ganha vida e se porta
como caça, sendo mais atraente para o cão que o mordente em sua boca.

4.23.2 AGITAÇÃO COM O FIGURANTE


O cão chega para primeira sessão com figurante com uma
preparação consolidada por seu condutor, tem mordida calma e de boca
cheia, morde por comando, solta sob comando, late sob comando. A sessão
de agitação com o figurante será muito bem planejada e ensaiada. É
fundamental que, em cada sessão, o cão receba mais uma peça do quebra
cabeças e sempre saia com a sensação de vitória, com a impressão que
tirou a manga do figurante, que colocou o figurante em fuga ou ainda que
imobilizou o figurante e ele ficou imóvel no chão. Para isso, há

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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

planejamento. Depois de verificar em que nível o cão está, é feito o ensaio


com cão fantasma - fazer exatamente como se o cão estivesse ali, ensaiar
no detalhe, sem a presença do animal. O cão tem que entrar no campo de
adestramento quando todos souberem o que fazer, realizar o proposto para
aquela sessão, e para encerrar a sessão, ser estimulado e retirado da
área de adestramento com algum tipo de vitória. O ensaio será feito
também por questões de segurança, pois para o trabalho de cães de guerra,
serão usadas áreas diferentes que podem oferecer algum risco, além de
adestramentos noturnos com pouca ou nenhuma iluminação. O ensaio
tornará claro algum risco a ser corrigido ou até mesmo substituição do
local escolhido. Para a preparação do cão de guerra, muitas vezes o
trabalho com dois ou mais figurantes será necessário ou benéfico e os
figurantes e condutores precisam planejar e ensaiar sem o cão para que
saibam exatamente o que fazer. A sessão é específica para cada conjunto,
idade, sexo e nível de adestramento são considerados. Tão logo o
adestramento acabe, com os cães nas devidas caixas de transporte, é
realizada a avaliação pós-ação (APA) e as observações pertinentes
devidamente registradas no livro de adestramento. Neste momento, o grupo
vai evoluir e crescer, uma vez que é difícil ouvir e respeitar críticas e
aprender a corrigir erros. O que fazer com cada cão na próxima sessão,
será neste momento definido, de volta à etapa um, a etapa de
planejamento.
“É inútil dizer estamos fazendo nosso melhor, você
tem que ter sucesso fazendo o que é necessário”
Winston Churchill

Todo o trabalho de agitação é focado no objetivo final: cão


protegendo seu condutor, e perseguindo pelo faro oponente, achando-o e
engajando combate. O cão de guerra demonstra agressividade contra
oponente sem proteção aparente. TODOS os passos que envolvem uso de
mordentes e equipamentos de proteção são etapas intermediárias, apenas
são atividade meio.
A atividade fim é o combate real contra oponente sem equipamento
de proteção, que se comporta como inimigo que tenta dissimular sua
presença, se evadir, mas se descoberto oferecerá risco ao cão e ao seu
condutor. Todos têm em mente que o objetivo final é um cão com

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JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

agressividade suficiente, que procure seu oponente no escuro e submeta-


o, e neutralize-o tirando-o de combate. Este oponente oferecerá resistência,
lutará e não estará usando equipamento de proteção. Fazer o cão morder
uma luva de proteção ou macacão de mordida não é atividade fim, é
atividade meio. A agitação através dos impulsos por caça e brincadeira é
usada no início, mas no polimento, o cão entende que o figurante oferece
risco para si e seu condutor e é um desafio. É erro básico iniciar agitação
por impulso por defesa e luta, mas erra-se da mesma forma em ficar muito
tempo estagnado em agitação de impulso por caça.
O adestramento de agitação começa com o próprio condutor, que
estimula os impulsos por caça, por interação social e por brincadeira através
do jogo de cabo de guerra e de buscar. Desde o início o condutor induz o
cão para focar no combate, na atividade de agitação e de cabo de guerra,
e não no equipamento inanimado. Este fundamento será crucial para
sucesso, o equipamento servirá de ponte de comportamento do condutor
para figurante com equipamento de agitação, depois com equipamento
de proteção e finalmente para oponente sem proteção.
A última etapa depende da genética, experiências prévias de
sucesso, resposta do cão ao adestramento e da sua maturidade. O figurante
começa a ameaçar e desafiar o cão, estimulando seu impulso por luta.
Os melhores equipamentos para iniciar um cão são a mordentes
macios de juta natural em forma de “V” (bite pillow), luva de mordida
macia de filhote do IPO, (Cão de trabalho, Schutzhund) e o jambier de
perna. São equipamentos pequenos, mais baratos que os macacões de
mordida e permitem ser carregados e entregues para o cão como prêmio.
Também podem ter uma corda ou guia amarrados, para serem
agitados na frente do cão, ou dar “puxadinhas” quando o cão estiver dando
o giro da vitória ou no momento do afago.

4.23.3 ESTÍMULOS POR IMPULSOS PARA CAÇAR


No início do trabalho, o figurante faz gestos de caça para estimular
o cão igual ao que o próprio condutor vem fazendo durante o jogo de cabo
de guerra. O cão foca mais na silhueta e movimento, o figurante presta
atenção na silhueta que mostra para o cão - como se fosse sua sombra na
parede; se movimentará como caça, movimentos rápidos, frenéticos,
esquivos.

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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Figurante na postura para estimular os impulsos por caça: de lado, não encara o
cão, diminui sua silhueta e não ameaça o cão com o bastão flexível. Pode deixar o
bastão caído ao chão durante agitação para estimular impulsos por caça

A imobilidade do figurante faz o cão ficar imóvel também; se estiver


em impulso por caça, ficará imóvel esperando movimento da caça, como
no jogo com o condutor. Se cão já estiver excitado para o combate no
impulso por luta, pode colocá-lo em gesto de evitação, imobilidade é
desafio intenso para cães novatos. Para cães maduros e duros, estimula
impulso para lutar.

Ações do figurante para estimular impulsos de caça

- diminui sua silhueta, mostra apenas um dos ombros para o cão;


- evita contato visual direto, não encara o cão;
- não usa chicote, o chicote/bastão é mantido escondido ao longo
da perna ou nas costas, ou é momentaneamente deixado no chão;
- movimentos evasivos e em arco, em ziguezague, em L invertido,
em meia lua;
- imita caça ferida ou em fuga: movimentos erráticos, rápidos,
intercalando com paradas, corridas e pequenas fugas.

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JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Primeira passagem em arco, agitando o cão, sem encarar,


diminuindo a silhueta, ficando de lado para o cão

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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Segunda passagem, figurante permite a mordida, baixa silhueta, de lado

Outra maneira evidente de submeter-se ao cão é empreendendo


fuga, afastando-se do cão. O figurante pode colocar o mordente ou manga
na ponta de uma corda e agitar. Depois pega com as duas mãos, agita e,
finalmente, enfia rapidamente no braço e agita bastante. Ao menor sinal
do cão, seja ele latir ou avançar, o figurante demonstra submissão, ele se
esquiva, recua, esconde-se atrás do biombo. O figurante pode até mesmo
ajoelhar-se ou deitar no chão.
O cão confia na indicação do condutor que comanda atenção, e
este é o sinal para o figurante começar a se movimentar ou sair do
esconderijo. Quando o cão se agita com a visão do figurante, o condutor
excita-o com o comando de latir. O figurante aproxima-se, encena o
combate que é simbólico, não físico, o figurante não toca no cão, neste
momento está sendo estimulado o impulso por caça. Nenhuma caça se
joga na boca do cão, nenhuma caça ameaça o seu predador, a caça tenta
fugir, busca afastar-se do predador. A brincadeira para lembrar os condutores
e figurantes é gritar para não se comportarem como “coelho suicida”. Coelhos
não correm em linha reta em direção ao cão, nem se jogam dentro de suas
bocas, a não ser coelhos suicidas, o cão tem que ser iludido que consegue
abocanhar o figurante em um momento de distração ou erro.
O figurante se porta como caça com movimentos rápidos e sempre
afastando-se do cão; ao aproximar-se, fazer sempre em arco, mais próximo,
mas fora do alcance do animal.
Na fase inicial de agitação, estimulando os impulsos por caça, ainda
não é o momento para se aproximar em linha reta do cão, o que configura
em um gesto de ameaça, o que até poderia colocar o cão em desejável
impulso de defesa, mas se feito precocemente, pode resultar em um
desastre, colocando o cão em fuga ou gesto de evitação.
O cão sente-se vitorioso em todos os combates com o figurante,
isto pode ser feito com a fuga do figurante e com o acompanhamento do
cão e condutor por alguns metros. O figurante tira o cão do campo de
113
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

adestramento com a vitória ou pode ceder a luva ou jambier no momento


adequado. A utilização do biombo é interessante, cães se excitam com a
situação do oponente que se esconde e volta a aparecer: o figurante se
esconde no biombo, o condutor chama a atenção do cão com comando de
atenção, este é o sinal para o figurante aparecer ou quando o cão latir, o
figurante premia o cão ao mostrar-se.
O condutor firma os dois pés no chão, o cão está com peiteira e
não se pode dar puxões no animal, o condutor procura suavizar com o
braço os esforços do cão para alcançar o figurante. Técnicos de cães de
esporte oferecem alternativas como guias elásticas, hastes flexíveis
metálicas presas no solo para amortecer a limitação do cão e assim
estimulá-lo mais ainda. Alguns cães como machos maduros da raça
rottweiler são muito pesados e fortes e podem eventualmente representar
um desafio a um condutor inexperiente ou pequeno, talvez seja preciso
prender uma segunda guia em uma argola no chão ou em um poste como
ajuda. O figurante precisar saber exatamente aonde o cão pode ir para
oferecer a mordida no momento certo e com segurança.
O figurante afasta-se e adota posturas e movimentos de submissão
e até mesmo foge se o cão demonstrar sinais variáveis que está cedendo
a pressão ao demonstrar alguns dos seguintes gestos de evitação:
movimentar o eixo do corpo de lado, afastando-se ou permanecendo imóvel
para inspeção, se baixar o corpo, cabeça e pescoço, se quebrar o contato
visual direto, se não mostrar dentes nem rosnar, se vocalizar de forma
submissa uivando ou chorando, se não latir, o rabo movimentar-se
lentamente ou não se movimentar.
Um contato visual direto quando o cão encara seu próprio condutor
é desejado, o encarar do figurante com o cão é gesto de desafio para a
luta e é usado no momento adequado. O ato de virar a cara, quebrando
claramente o contato visual direto é um gesto de evitação e é a postura do
figurante que quer estimular o cão em impulso por caça. Quando o cão
quebra o contato visual direto, está em conflito, estressado com o condutor
ou o figurante. Se o cão faz isso, o figurante recua, diminui imediatamente
a pressão e faz com que o cão reganhe confiança.
Ao receber corretamente a mordida, o figurante puxa a manga um
segundo antes da mordida, não a empurra na direção da boca do cachorro.
Ao receber o ataque lançado, gira o braço e corpo para suavizar o impacto.
No meio esportivo, quando o figurante não gira para suavizar o recebimento
do cão, e a impressão para quem observa é como se o cão tivesse sido
jogado contra uma parede é chamado de sanfonar o cão.
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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Faz parte de boa figuração dificultar a mordida, realmente porta-se


como caça. O figurante imediatamente premia a mordida de boca cheia,
liberando luva para os cães novatos. Com o avançar do adestramento,
premia com um vigoroso e lúdico combate, o combate é mais simbólico,
não é físico. A fuga do figurante e pequenas perseguições em qualquer
momento do adestramento são benéficas para evolução do cão.
Não é conveniente o uso do enforcador na agitação, especialmente
nas primeiras sessões com cães novatos, o mais indicado é a peiteira. O
cão pode estar preso na peiteira em um ponto fixo, principalmente se o
condutor for inexperiente ou o cão for muito grande e pesado. O condutor
estimula o cão o mínimo necessário e mantém a guia tensa, quando seu
condutor estimula o cão o tempo inteiro deixa-o dependente deste reforços,
O figurante fazendo o seu trabalho bem feito estimula o cão o suficiente.
Tudo o que foi feito durante o jogo de cabo de guerra do condutor
com seu próprio cão, agora será realizado com o figurante, morder se
comandado ou se o figurante atacar ou fugir e a largar apenas sob comando.
Durante adestramentos de agitação, o condutor não deixa a guia
frouxa, o que é chamado de barriga na guia. Barriga na guia é usada em
obediência, onde somente é tensionada para corrigir cão quando
necessário. A guia está tensa, isto cria um reflexo de oposição que melhora
a mordida, mesmo quando o cão morder será mantida leve pressão na
guia tensa, mas o cão não pode receber solavancos, o condutor suaviza a
movimentação do cão. O condutor não pode tirar os pés do chão, ou permitir
que a guia corra na mão e o cão avance na posição, deixará o figurante em
situação ruim, ele precisa saber até onde ir sem o cão mordê-lo e onde
passa com a luva, permitindo que o cão morda.

Uso de peiteira, guia tensionada, condutor bem apoiado sem movimentar-se.


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JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

4.23.4 ESTÍMULOS POR IMPULSOS PARA LUTAR


Estimular impulsos por luta não é mesmo do que estimular impulsos
por defesa. Todo animal quando desafiado, tomará em fração de segundos
a decisão de lutar ou fugir. Animais dominantes, de boa seleção genética
e ou experiências prévias positivas por combates que geraram sucesso,
tendem a lutar. Animais submissos, resultado de má seleção genética e
ou experiências prévias negativas, tendem a fugir.
O instinto de defesa é aquele do animal encurralado, que sem
opção, luta por sua sobrevivência mesmo diante de um animal maior ou
mais forte.
O que se espera do cão de trabalho militar é o espírito de luta
acirrado, com baixo limiar para entrar em combate, um cão dominante
que é facilmente estimulado para agressão pelo desafio social ou territorial.
Aquele cão que, mesmo diante da opção de fuga, procura, persegue
visualmente ou por faro o oponente e busca o engajamento e o combate.
O desejável espírito de luta que é inerente ao cão é estimulado pelo
figurante, convidando-o e excitando- o para o combate.
O figurante é criativo em despertar a agressividade do cão por
impulso por caça e intercala com breves gestos para estimular e avaliar
seu impulso por luta. Alternando rapidamente entre gestos que estimulam
impulsos por caça por impulsos por luta, e depois de sucessivas vitórias
do cão, o figurante pode paulatinamente incrementar o desafio,
aumentando intensidade e duração de gestos que estimulam o impulso
por luta no cão.
Alguns gestos isolados de ameaça, intercalados com caça, servem
para avaliar o cão sem risco de colocá-lo em gesto de evitação, e o manterá
seguro o suficiente para continuar emitindo sinais para afastar o oponente:
eixo do seu corpo e cabeça apontando na direção do oponente, se
movimenta na direção, mantém a guia tensa, permanece de pé, posiciona
alto a cabeça e pescoço, estabelece e mantém contato visual direto, rosna
ou mostra os dentes, late, abana o rabo rapidamente demonstrando
excitação.
Gestos de luta pelo figurante são utilizados em fração de segundos,
intercalados por comportamentos de caça. Fazendo desta maneira, não
estressa o cão, apenas proporciona pequeno desafio, o figurante ao retornar
aos gestos de caça, volta a submeter-se, o que torna o cão mais confiante
ainda. Um dos inúmeros gestos de luta é ameaçar com bastão. O figurante
apenas ameaça, não bate com o bastão, é muito mais teatral e simbólico
do que real.
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SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Gestos do figurante que podem estimular o impulso de luta no cão


são: ameaças com a mão e com a fusta ou bastão flexível, manter o eixo
do corpo de frente para o cão, expor dois ombros ele, encará-o, aproximar-
se lentamente em linha reta, mostrar os dentes, simular um rosnado, fazer
gestos guturais, gritar.
Uma técnica segura é intercalar um gesto rápido de ameaça com
comportamentos como se fosse uma caça e gestos evasivos. Uma falha
grave seria desafiar cão novato com muitos gestos de ameaça,
persistentes, introduzidos precocemente nos exercícios de agitação.

Estimulando impulso por defesa/luta. Figurante aumenta sua silhueta, fica de frente
para o cão, encara o cão, ameaça com bastão, mostra seus dentes, grita. Linguagem
corporal adequada do cão que busca engajamento ao inclinar-se para frente o que é
evidenciado na guia tensionada.

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JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O cão precisa ter maturidade para ser estimulado na agitação por


impulsos de luta. Se ele for pressionado a ponto de realizar gestos de
evitação social (virar a cara ou o eixo do corpo, submissão - baixar cabeça,
recuar, baixar cauda) ou fuga, considera-se como erro gravíssimo do
figurante. Se o cão mudar o eixo do corpo ou aliviar a tensão na guia do
condutor, o figurante já recua, foge dramaticamente. Todo cão, quando
desafiado, pode lutar, demonstrar submissão por gestos de evitação social
ou fugir.
A inconsistência ou indecisão demonstrada pelo figurante em gestos
teatrais, que ora se comporta dramaticamente como caça intercalado por
breves instantes de ameaça ao cão é técnica segura.
Um bom figurante, depois de alguns meses de trabalho, pressionará
o cão sem que ele hesite, pelo contrário, demonstre cada vez mais
dominância e agressividade.
Paulatinamente, o figurante atrai mais atenção para si do que para
o equipamento, até que consiga despertar agressividade para combate
por impulso de luta sem equipamento algum, apenas pela linguagem
corporal e gestos.
A última etapa é o cão ser condicionado a tal ponto, que apenas
com os estímulos de seu condutor já tenha sua agressividade para combate
despertada, independente de qualquer agitação, postura, ameaça ou
movimentação evasiva do oponente.

4.23.5 LARGAR SOB COMANDO


O objetivo maior da mordida do cão de guerra é apreender
firmemente e não soltar facilmente. Para fazer um cão morder dessa
maneira, condicionamos inicialmente sua mordida por impulso de caça.
Não precipitar o adestramento de largar sob comando em etapas iniciais,
antes que o cão tenha uma mordida tranquila de boca cheia. O uso
prematuro de coerção para o cão soltar pode criar vícios como o cão que
hesita e eventualmente não morde, não mantém a mordida, masca o
mordente ou remorde em outro ponto. Todos esses são problemas difíceis
de solucionar.
Instintivamente, o cão somente vai soltar a caça quando tiver certeza
de que ela está morta, que não vai fugir. Por que soltar a caça que se
movimenta? A mordida desejável no trabalho é a mordida de caça
demonstrada por uma mordida de boca cheia e calma, e o cão não solta
com facilidade. É arriscado soltar a presa para remorder, ela pode fugir.
118
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Isto é facilmente visto em filmagens de leoas caçando, uma vez que


abocanham a garganta da presa, não soltam até que ela morra.
Com técnica moderna do jogo de cabo de guerra, o cão pode ser
condicionado a soltar sem apresentar problemas ou conflitos. O pré-
requisito para o exercício de o cão soltar o figurante é já saber soltar o
mordente durante o jogo de cabo de guerra.
O adestramento de agitação no jogo de cabo de guerra do condutor
com seu próprio cão simula trabalho de proteção.
O condutor imobiliza o mordente na mão, pacientemente aguarda
a sequência da extinção de um comportamento que não está gerando
recompensa: o cão vai puxar ou morder mais forte, até se frustar e quando
o cão soltar, ouvirá o marcador e será premiado com nova mordida.
Condutor permite a nova mordida sem esconder, elevar ou bloquear o
mordente.
Muitos cães não soltam porque não sabem como lidar com a caça
quando soltarem. Boa técnica é condicionar os cães, desde cedo, a saber
o que fazer com a caça (objeto apreendido – mordente ou luva de proteção)
quando não estão mordendo o mordente ou a luva.
Este despreparo para o que fazer quando não estiver mordendo
leva a conflito, principalmente se for usado coerção para o cão soltar. No
jogo, o comando para soltar o mordente significará para o cão a chance de
reiniciar o cabo de guerra. Também com o figurante, mas o cão será
condicionado a engajar o combate novamente quando o figurante o agredir
ou fugir. O cão é condicionado a latir para que provocar a movimentação
do figurante.
Latir agressivamente é natural para o cão, alivia o estresse da
situação, o animal com este comportamento está preparado para fazer
algo enquanto não morde. Não cria conflitos que geram comportamentos
indesejáveis como algum gesto de evitação social, afastando-se do
condutor ou do figurante. Quando estas regras ficarem claras, não haverá
problemas de cães soltando precocemente, não soltando, ou perdendo
interesse após soltar.
Tão logo o cão morda, o figurante abre a mão dentro da luva,
deixando-a móvel e tornando-a viva, estimulando mordida de caça, boca
cheia, tranquila e sem soltar precocemente.
Quando o figurante entrega a manga de proteção ou jambier para
o cão, o condutor pode premiar o animal permitindo que dê a volta da
vitória com afago, isto aumenta a posse do cão pela luva. Se o cão estiver
119
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

muito possessivo, não soltando sob comando a volta da vitória é evitada.


O figurante põe a segunda luva/jambier ou o segundo figurante aproxima-
se, o condutor comanda o cão para largar e, imediatamente, permite que
o cão morda o figurante. Ao premiar com a mordida logo após o comando
para largar, deixa o cão tranquilo e confiante, entendendo que o comando
de largar é apenas um comando que permitirá reiniciar o combate. Conforme
as sessões avançam e o cão amadurece, o intervalo entre o comando de
largar e o comando de morder pode aumentar.
Outra situação é o figurante usar uma manga em cada braço,
imobiliza o braço como se estivesse “congelado”, firma a luva e fecha seu
punho no suporte dentro da luva, presa morta, imóvel, o condutor espera
alguns segundos para o cão perceber que o combate cessou; se o cão
estiver muito excitado, pode esperar mais um minuto. Algumas vezes é
interessante pedir ajuda para alguém de fora para contar o tempo, pois
quando estamos com o cão, a tendência é não esperar o suficiente, o
tempo passa devagar quando alguém sustenta um cão de guerra no seu
braço. O condutor e o figurante deixam muito claro para o cão que o
combate cessou e só então dá-se o comando para largar. Imediatamente
ao largar, o figurante volta à vida, oferecendo a segunda luva.
Não pressionar o cão, é preciso ter paciência. Em caso de
dificuldade, voltar ao básico, condicionar o cão a soltar quando o combate
cessa no jogo com mordente. Se o cão for pressionado demais,
comportamentos de conflito podem ser criados no cão como morder mais,
mascar, não soltar, ou redicionar a agressividade à luva que está no chão
e não no figurante, ou até mesmo redicionar a agressividade ao próprio
condutor.
Se mesmo após esperar dois ou três minutos, por várias sessões de
adestramento, o cão não perceber que soltar gera consequência positiva,
o reinicio do combate, usa-se coerção com puxadinhas no enforcador para
frente, jamais para trás nem para os lados. Para trás pode estimular o cão
para morder mais a luva por reflexo de oposição, para os lados pode
machucar os dentes que estão cravados na luva. Pode haver um resultado
melhor com colar de grampo frouxo com guia curta, o figurante pega antes
de imobilizar o braço, passa por baixo da luva de proteção e, quando estiver
com a guia na mão, fica imóvel por alguns segundos. O figurante aguarda
o condutor dar o comando para soltar e só então começa a dar puxadinhas
em sua direção, escondendo o movimento da mão embaixo da luva,
aumentando a intensidade gradativamente até o cão soltar.
120
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

O cão não solta por dor ou susto, o objetivo é gerar leve desconforto
e dar tempo do cão tomar a decisão de soltar. Ao fazê-lo, premiar
imediatamente com mordida, o cão tem que ouvir e confiar no condutor,
se ouvir e largar, não recebe desconforto. O condutor somente dará o
segundo comando para largar quando o cão estiver efetivamente largando,
quando largar, imediatamente o desconforto cessa. Outra maneira de fazer
o cão largar a manga: o figurante libera a luva para o cão, o condutor puxa
o animal para sua proximidade, pega com as duas mãos a coleira e sacode
forte o cão, o condutor não o força para largar por desconforto, mas por
evidente demonstração de dominância sobre seu cão. Eleva os membros
anteriores do cão e sacode com força. Da mesma maneira, o comando de
largar é dado fração de segundo antes de iniciar, somente dará o segundo
se necessário, e quando o cão estiver soltando.

4.23.6 AGITAÇÃO CIVIL


A agitação civil é feita pelo figurante sem qualquer equipamento
de proteção. Pode ser feita antes do figurante colocar uma luva ou jambier
e oferecer para o cão, ou no final da sessão, para estimular o cão antes de
ir para caixa ou canil. O cão não é recompensado pela mordida, mas pela
linguagem corporal do figurante de submissão que diminui sua silhueta
ou afasta-se. Uma pequena perseguição na guia colocando o figurante
em fuga também premia o cão.

4.23.7 LUVA OCULTA


Uma das maneiras de preparar e testar o cão para proteção do
condutor em situação real é o figurante usar luva oculta no trabalho de
121
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

agitação. Para ataque com luva oculta o cão já está demonstrando


agressividade e combatendo por impulso por luta.
O trabalho com luva oculta inicia com ataque na manga coberta
com diversos tipos de tecido, toalha, roupas velhas, sacos de lixo. Somente
é realizado por figurantes experientes e na guia. O condutor protege o
figurante de ataques em outras partes do corpo, jamais realizar ataque
lançado com cão solto na luva oculta, isso pode causar risco sério de
acidente, pois não tendo um alvo evidente como a luva, o cão pode morder
outro braço, pernas ou costas.
O figurante gesticula para excitar os impulsos de luta com o braço
sem proteção, o braço com luva oculta ele esconde atrás de seu corpo.
Com a mão livre, ameaça o cão. Pode estar usando japona, jaqueta ou
abrigo folgado, escondendo o equipamento. No último instante, oferece o
braço com a luva oculta para o cão morder.
Neste momento, não se faz gesto de caça, apenas luta, desafia o
cão a lutar, incita o cão para combate, o figurante deixa o cão bravo. Como
o figurante não entregará a luva para premiar o cão, o que não seria
conveniente nesta sessão de treinamento uma vez que o cão está sendo
estimulado em impulso por luta, não caça, o cão será premiado com o
figurante demonstrando evidente derrota, gritando de dor, caindo ou
tentando fugir.
O figurante com luva oculta premia o cão de três maneiras:
- ao ficar imóvel e o cão soltar, o figurante premia o animal com
outra mordida e combate vigoroso;
- ao deitar e ficar imóvel e o cão é retirado com o figurante ainda
caído, e este permanece assim até sair do alcance da visão do cão, o que
pode ser conseguido ao ser levado para atrás do biombo ou canil. O cão é
iludido que “matou” o figurante.
- ao fugir e ser perseguido pelo cão para fora da área de
adestramento.

4.23.8 COMBATE COM FOCINHEIRA


Um cão de guerra não tem emprego real se não fizer um combate
com focinheira com energia e agressividade. É a fase final do adestramento
de ataque, que é constantemente adestrado e verificado, mesmo no cão
já habilitado. Para o adestramento do cão de busca é o que garante que o
cão está procurando odor do suspeito, não o do equipamento, do odor do
macacão de mordida ou da manga de proteção. Adestra o cão a usar seu
122
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

peso e energia do impacto contra o figurante, bem como faz o cão focar no
figurante e no combate e não no equipamento de proteção. Cães que não
realizam combate com focinheira intenso, agressivo, dominando o figurante
não podem ser considerados cães sérios para trabalho de proteção.
Como pré-requisitos, o cão já está habituado a usar focinheira há,
pelo menos, três semanas, sem tentar tirá-la, o cão está atacando,
mordendo de boca cheia, soltando sob comando, está demonstrando
agressividade por forte impulso por luta.
Para verificar se a focinheira está bem ajustada, o condutor levanta
o cão puxando-o pela focinheira, enfia uma mão em cada lado da focinheira,
abaixo das orelhas do cão e levanta até que os anteriores do cão fiquem a
meio palmo de altura do chão, dá tapinhas na frente da focinheira, se ela
incomodar o cão ou ela movimentar-se, roçando nos olhos do cão, trocar
ou ajustar por focinheira para o tamanho adequado.
Com a focinheira é empregada a chamada técnica sanduíche,
semelhante a um sanduíche, que tem uma fatia de pão, recheio e outra
fatia de pão: o cão vai realizar um ataque sem focinheira e um com, seguido
imediatamente por um ataque sem focinheira.
A partir de 18 meses de idade, verificar se o cão é estimulado com
impulso por luta e se já suporta pressão do figurante, o cão já deve ter
tido muitas sessões de adestramento nas quais foi desafiado e saiu-se
vencedor.
O primeiro exercício causa uma impressão forte e positiva na cabeça
do cão. Ele começa com o figurante na posição usual, agitando o cão com
focinheira, quando o cão estiver bem excitado, a focinheira é retirada
rapidamente e o cão morde. Quando o cão ataca de focinheira, está sempre
na guia de dois metros, seu condutor trabalha com o cão como um ioiô,
libera-o para ataque, o figurante exagera a reação do impacto, cai, o
condutor puxa o cão novamente e libera para novo ataque. O figurante
pode ficar ajoelhado para facilitar a dramaticidade da queda quando o
cão tocá-lo. Outra possibilidade é colocar um pequeno obstáculo entre o
cão e o figurante, obrigando o animal a dar um pequeno salto e o figurante,
exageradamente, cai ao solo e o condutor puxa rapidamente o cão. Nestes
primeiros exercícios, é demonstrado ao cão a capacidade de derrubar o
oponente com seu próprio peso, mas ainda não é o momento de deixá-lo
persistir no combate de focinheira.
O exercício é repetido algumas vezes desta maneira, mal o cão
toque o figurante, este cai dramaticamente. O condutor jamais larga a
123
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

guia de dois metros, trabalha como se cão fosse um ioiô, tão logo o animal
toque no figurante, puxa-o, excita-o e libera a guia o suficiente para tocar
no figurante, esse é um daqueles momentos em que é importante o condutor
elogiar e estimular o cão e, finalmente, retirá-lo do combate, elogiando.
Retira a focinheira e deixa o cão morder o figurante, coloca a focinheira, o
objetivo das primeiras repetições é fazer o cão acreditar que tem força
para derrubar e dominar o figurante sem precisar morder. Repetir o mesmo
exercício, na mesma sequência por pelo menos três sessões, a partir da
quarta sessão, sempre deixar o cão morder e, então, liberar a guia o
suficiente para o cão, com focinheira, atingir o figurante que cai, luta,
estimula o cão e, então, fica imóvel. Para o condutor afastar o cão do
figurante, se o cão latir, o figurante premia com mordida e combate
vigoroso; caso não lata, o figurante permanece imóvel e o cão é retirado
de perto e levado para trás do biombo, para não ver o figurante levantar,
sair ou trocar de equipamento.
Uma preparação do esporte Mondio Ring para adestrar o cão a
usar seu peso contra o figurante é colocar o mordente no peito ou barriga
do figurante e estimular o cão a morder nesta posição. Quando o cão
estiver bem focado neste alvo claro, realizar a técnica sanduíche (sem
focinheira, com focinheira, sem focinheira).

4.23.9 APREENSÃO EM PONTOS ALTERNATIVOS


O cão de guerra é condicionado para morder alvos seguros como
braços, antebraços, pernas, peito e costas, JAMAIS genitais, mãos, pés,
pescoço e cabeça. A tendência do adestramento é eleger um alvo e não
adestrar o cão para morder em pontos alternativos.
Se a Seção de Cães de Guerra dispuser de um macacão de mordida,
é utilizado em seu pleno potencial, oferecendo outros alvos além do braço.
Jamais permitir mordida em mãos, rosto, pescoço. Risco de sérias e
desnecessárias lesões ao oponente. Um cão treinado do jogo de cabo de
guerra não elege mãos como um alvo preferencial, e um cão bem iniciado
em impulso de caça, que foi preparado bem no combate com focinheira e
no macacão de mordida, dificilmente vai morder genitais, pescoço ou
cabeça do oponente. Pernas e braços que se movimentam no combate
serão alvos mais atraentes e escolhidos a partir da memória de sucessos
anteriores. A mordida no rosto é estimulada exclusivamente por
agressividade de dominância social a membros da matilha. É inaceitável
para cães de guerra geneticamente bem selecionados, bem criados e
treinados corretamente.
124
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Em situação real, muitas vezes, o cão terá acesso apenas às pernas


do oponente. A tendência é o cão ser agredido por chutes, e oponentes
em fuga usualmente serão alcançados pelo cão quando forem retardados
na corrida ao pular muros ou cercas e a parte do corpo disponível para
apreensão será uma das pernas. A mordida na perna é de boca cheia, e o
cão somente solta por comando de seu condutor. Um equipamento que
pode ser usado é o jambier de perna.

125
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Cães tranquilos próximos do figurante. Cães só mordem figurante e mordentes com


comando/liberação de seu condutor.
126
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Criatividade, figurante com disparo de tiro Dois cães fazendo apreensão de


de festim coberto atrás de carro figurante deitado

4.24 PROCURA POR OPONENTE

4.24.1 RONDAS NOTURNAS


Desde muito cedo quando filhote, o condutor adestra seu cão para
achá-lo por faro, latir e receber o prêmio com petisco ou cabo de guerra
com mordente. Se o cão for novato e não for agressivo, esse exercício
pode ser feito com um auxiliar. O auxiliar agita o cão, se esconde próximo
e quando o cão acha e alerta por latidos, recebe o prêmio com petisco ou
cabo de guerra.
A noite, em dias normais, há pouco movimento dentro da organização
militar. O condutor sai com seu cão pelo circuito feito pelo rondante e
estimula que ele ande a sua frente. Toda vez que o cão alertar para presença
humana é incentivado. Outros cães experientes podem ser usados como
facilitadores sociais para os cães novatos. Os cães podem ou não morder
o figurante com proteção, dependendo do nível de adestramento do cão.
O critério de premiar o cão com jogo de cabo de Guerra com seu
próprio condutor ou figurante escondido leva em conta o nível de estado
de alerta do cão. Alguns cães, por adestramento inadequado, ficam
dessensibilizados a presença humana e precisarão de estímulos e prêmios.
Outros cães, de boa genética e por serem bem empregados em ambiente
noturno no meio de poucas pessoas, precisam de pouco ou nenhum
estímulo extra, mas sempre são premiados ou no mínimo elogiados por
seu condutor.
127
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Um bom exercício é mandar o figurante à frente ficar no escuro e


fazer algum barulho. Quando o cão achá-lo é premiado. O figurante se
afasta novamente, se esconde novamente e somente faz barulho se o cão
se distrair ou tiver dificuldade em achá-lo. O auxílio sonoro é qualquer
um, como fala, palmas, assovios. Os auxílios sonoros paulatinamente
desaparecerão até que o cão desenvolva plenamente a habilidade de achar
por faro.
A direção do vento, bem como obstáculos como muros, arbustos,
que dificultem a propagação de odor humano em pontos específicos da
Organização Militar serão descobertos nestas patrulhas de rotina.
Como regra geral, o conjunto sempre aborda a área a ser vasculhada
contra o vento. O vento traz o odor e barulho do oponente. Se não for
possível, o condutor tem que saber que o vento diagonal pode desviar um
pouco o cão da trilha percorrida ou tornar um pouco mais difícil a exata
localização. Ventos diagonais podem induzir o cão a passar do ponto de
esconderijo e retornar, o que pode eventualmente deixar o condutor de
costas para o oponente. Exercícios são montados com o oponente se
deslocando a favor do vento, induzindo o cão para farejar a trilha deixada
no chão, ou pelo suor, sangue, partículas ou solo alterado pela pegada do
oponente.
Dias de chuva dificultam bastante a atuação do cão, diminuindo a
distância que podem perceber intruso por faro, visão ou audição e o
condutor auxiliará o cão percorrendo uma área maior, se aproximando de
áreas escuras como garagens, áreas entre prédios, contornando
esquinas,etc. Uma noite sem lua, com chuva é a situação ideal de uma
força adversa invadir a organização militar, não há justificativas para não
adestrar ou patrulhar nesta situação.
Priorizar sempre a segurança. Há militares na unidade, em
alojamentos, postos de sentinela, rondantes. Condutor tem isso sempre
em mente. Quanto mais patrulhas noturnas internas o conjunto fizer,
melhor, mas no mínimo uma vez por semana.

4.24.2 ADESTRAMENTO PARA PROCURA E INDICAÇÃO DE


SUSPEITO POR FARO
É feito com o uso de caixas de madeira de 1,20m x 1,20m x 1,20m,
com abertura discreta. Podem ser usados meios de fortuna como armários
de aço, tonéis, banheiros de alojamentos com diversas portas para diversos
vasos sanitários. O figurante entra em todas as caixas (ou abrigos) por 30
128
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

segundos e então fica permanentemente na última caixa. O figurante agita


o cão e entra na caixa, quando o animal latir, abre a caixa e permite que
o cão morda. É importante ter um biombo, pode ser de compensado de 1m
de altura x 2m de comprimento, para colocar o cão atrás para que não veja
o figurante trocando de caixa, mas mantenha o cão próximo e excitado
com a busca. O cão é colocado atrás do compensado a cada troca de caixa
do figurante, é estimulado pelo condutor para procurar o suspeito na caixa.
Depois de, pelo menos, três sessões de adestramento, o cão com focinheira
procura o suspeito sem equipamento de proteção. É bem diferente da busca
atrás do biombo feita no esporte de IPO (Schutzhund) onde a busca é visual.
É fundamental para o cão de guerra utilizar o faro para achar o oponente e
ser premiado com combate.

4.24.3 PROCURA EM INSTALAÇÕES


Como pré-requisitos, o cão está habituado a acompanhar seu
condutor em rondas, alojamentos, teatros, cinemas, salas de aula, ginásios,
garagens, o condutor faz o jogo de cabo de guerra em todas as situações
possíveis e imagináveis, principalmente em piso liso e no escuro.
O cão está habituado a fazer ronda noturna dentro da unidade,
onde é estimulado pelo condutor a alertar para humanos, figurantes ou
não.
O local adequado escolhido é isolado para não ter pessoas
estranhas ao adestramento, todas as saídas são bloqueadas para o cão
não sair ou desavisados entrarem. O figurante agita o cão na entrada do
prédio, alojamento ou garagem e desaparece dentro da instalação; o
figurante avança alguns metros e o condutor grita, claramente, o anúncio
padronizado por sua unidade/missão.
129
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O alerta é padronizado para todos da SCG, isto condiciona os cães e


garante que regras de engajamento estejam sendo cumpridas, isso permite
que o oponente se entregue sem combate ou resistência. Um exemplo de
anúncio padronizado: “Atenção cidadão, somos da Polícia do Exército/do
Exército Brasileiro, caminhe na direção da minha voz, de costas, com as
mãos para cima, se não se entregar seremos obrigados a soltar cão adestrado!
Ele acha e morde! Entregue-se agora e nada acontecerá!” Se for a situação
de missão no exterior, é solicitado apoio a graduados ou oficiais fluentes na
língua para formatar um anúncio claro e que seja perfeitamente entendido
pela população local. O objetivo maior do emprego do cão de guerra é utilizar
força não letal, ou seja, o menor uso de força possível e, se for viável, dissuadir
o oponente para entregar-se sem combate ou resistência.
Quando o figurante ouve o anúncio, é o sinal para aparecer na entrada
da instalação e agitar o cão que passa a confiar na indicação do condutor. A
agitação depende do cão e do nível de adestramento, o objetivo é usar cada
vez menos agitação; tão logo o figurante desapareça, o condutor comanda
para o cão, achar e morder (packen) ou achar e latir (revier). O figurante
próximo e fácil de ser encontrado, se o comando foi achar e morder, ele
recebe o cão, oferece mordida; se o comando foi achar e latir, fica imóvel e
inacessível ao cão, quando o cão late o figurante oferece a mordida.
O condutor chama o cão para fora, elogia, premia o cão com jogo
de cabo de guerra e imediatamente é feito a mesma coisa: condutor inicia
com o anúncio padrão, sinal para figurante aparecer e agitar o cão.
Quando o figurante entrar na instalação, o condutor aguarda cinco
segundos, comanda e libera o cão. O exercício é repetido rapidamente,
enquanto o cão estiver trabalhando intensamente, sem demonstração de
cansaço. O que muda a cada repetição é o tempo de espera; entre anúncio,
quando o cão vê o figurante e sua liberação pelo condutor. O tempo de
espera variável pode ser de cino segundos, dez segundos, quinze segundos
e agitação do figurante, cada vez menos intensa e por menos tempo. O
cão é condicionado a antecipar o sucesso da captura apenas com o anúncio
do condutor. O cão, depois do anúncio, pode latir, pois isto propicia uma
cadeia de comportamento positiva para esta missão, vai excitá-lo para
busca e uma boa mordida quando encontrar o oponente, além de oferecer
uma última chance de disuassão do oponente. Como desvantagem cansa
o cão, se o condutor não vem condicionando o cão, ele vai cansar em
poucas repetições.
Outra situação é se a força de intervenção rápida, ao tentar
neutralizar oponente que sabidamente oferece risco à guarnição, quer
130
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

oferecer uma vantagem ao cão, não alertando o oponente se e quando


soltará o cão. Depois de esgotadas as negociações, fica a critério do
comandante da operação liberar o cão sem alerta algum. Nesta situação,
o potencial de risco que oponente oferece é conhecido, e não há vantagem
alguma no anúncio ou no cão latir antes. Quando se anuncia; e o cão late,
o objetivo é proteger oponente de baixo potencial de dano em uma situação
de patrulha de rotina, quando não se anuncia, o objetivo é proteger a
guarnição e o cão de um oponente que oferece risco.
Dificuldade da procura é montada de forma variável, difícil, fácil,
difícil, fácil, fácil, fácil, difícil. O cão nunca sabe se será difícil ou fácil.
Quando o cão se excitar apenas com o anúncio, está começando a simular
uma situação real, pois o cão não vai ver o oponente entrar na instalação,
ele confia na indicação do condutor. É desafiador o adestramento para o
cão desenvolver padrão de busca intenso e longo, o cão não pode desistir
fácil. O figurante é criativo e comporta-se como alguém em fuga, alcoolizado
ou drogado, espera pelo cão agachado, deitado, em cima de armários,
atrás de forros, etc. O cão pode procurar sem focinheira e o figurante está
inacessível, sem proteção, em cima de armário ou beliche. Quando o cão
indicar por latidos, o auxiliar joga luva para o figurante e este premia-o
com o combate, isto é importante para garantir que o cão fareje o oponente
e não o equipamento. O figurante pode cuspir no chão próximo ao local de
esconderijo, não é feita com uma pista para o cão seguir e, sim, um cone
de odor com saliva próximo ao esconderijo. O figurante pode estar de
macacão de mordida e o cão de focinheira, podem ser colocados vários
figurantes na área de busca. O adestramento exige muito do preparo físico
do cão que, na maioria das vezes, é negligenciado por seu condutor. O cão
faz natação, o condutor pode andar de bicicleta e ter o cão trotando ao
lado. Cães obesos e sedentários não têm perspectiva de atuar em busca.
Depois de algumas semanas adestrando, o condutor trabalha com
entrada tática, onde haverá uso de escudo balístico e grupamento com
arma longa letal, lanterna, arma não letal, arma curta letal, conforme
missão e risco. É introduzido, tão logo possível, dois ou mais figurantes.
Tanto a equipe quanto o Chefe da Seção de Cães de Guerra são criativos e
montam armadilhas, colocam número de figurantes desconhecidos para o
conjunto que entra e faz a varredura de maneira tática correta. O conjunto
condutor-cão de guerra acostumar-se-á a reiniciar a busca depois de achar
o primeiro, o segundo e quantos suspeitos forem achados, cria-se o hábito
de não se expor ao achar um suspeito e prosseguir na busca tática até que
toda a área tenha sido verificada e confirmada como segura.
131
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Na situação de adestramento, o militar responsável organiza uma


varredura de modo que o grupo tático jamais saiba quantos figurantes
encontrará, isto desenvolve um condicionamento positivo no conjunto. Nem
o grupo tático, nem o condutor podem, em momento algum, deixar de usar
técnica e tática que protegerá a vida e integridade física de seus integrantes.
O grupo tático foca em suas áreas de busca, apenas o condutor se
preocupa com o cão, seu apoio/segurança preocupa-se com sua própria e
a segurança do condutor, cada membro do grupo tático procura/protege a
fatia de área de busca de sua responsabilidade.
O cão jamais é iluminado com a lanterna. A equipe não avança e
fica de costas para áreas sem verificação, se for o caso, o cão é chamado
e a área/sala/cela é verificada. Quando o cão achar, o condutor grita para
os suspeitos se entregarem e ficarem imóveis ou se aproximarem do grupo
tático de costas. Jamais se aproximar do suspeito que escolheu o melhor
lugar, mais escuro, de difícil acesso e, possivelmente, haverá outros
oponentes próximos. O condutor tem que se disciplinar para sempre
considerar a presença de vários suspeitos. JAMAIS inferir que a busca
terminou quando o primeiro oponente é achado. Quem determina o número
de oponentes é a equipe ao concluir uma varredura bem feita.
Por isto e por outros motivos, é importante o cão largar sob comando
mesmo a distância e ser chamado por seu condutor. O Comandante do
grupo tático toma a decisão de manter o cão no combate ou chamar o cão,
exigir a rendição ou avançar com segurança à procura de mais suspeitos
sem o cão.
Lembrar que, se o suspeito oferece resistência para se entregar, ou
é perigoso ou está sob efeito de álcool e/ou drogas e pode oferecer risco
ao grupo tático e ao cão.

Podem ser usadas gaiolas, caixas de


compensado, ou encaixes de
compensado para portas, com frestas
para passar o odor. A vantagem é que o
figurante pode esperar pelo cão sem
equipamento algum de proteção, para
cão localizar odor do oponente sem
nenhum contaminante. Quando o cão
localizar, um auxiliar pode alcançar
uma luva ou jambier para o figurante
para premiar o cão com combate.

132
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

CAPÍTULO 5

ADESTRAMENTO DO CAO DE DETECÇÃO

O adestramento do cão de detecção em suas diversas


especialidades é basicamente o mesmo. A única especialidade que se
diferencia das demais é o cão detector de explosivos. Ela exige maior
independência do cão, que trabalhará mais distante de seu condutor e
obrigatoriamente indicará de forma passiva, sentando ou deitando.
O cão será adestrado para procurar e indicar o ponto mais forte de
odor de interesse que será condicionado com mordentes impregnados.

5.1 SEGURANÇA ORGÂNICA DAS ORGANIZAÇÕES MILITARES


O cão será útil como detector quando fizer varredura em grandes
áreas, veículos ou volumes (malas, bagagens, correspondências) que, de
outra forma, não seriam verificados, e para procurar em esconderijos como
paredes e fundos falsos, dentro de pneus, estofamentos e tanques de
gasolina, etc Em uma unidade militar grande, pode haver quantidade
razoável de veículos e pessoal que transitam, e a revista minuciosa se
133
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

torna impraticável. Com o emprego do cão, um caminhão de entregas pode


ser rapidamente verificado para drogas, munição ou armamento tanto na
entrada quanto na saída da unidade. A revista pessoal, além de demorada,
cria resistência no público interno e externo. Um cão detector verifica de
forma rápida e ágil grande efetivo pessoas. A revista de número equivalente,
além de demorar mais, causaria grande inconveniente como tirar sapatos,
abrir bolsas com eficiência menor do que o cão.
Nos aeroportos alemães, as pessoas passam por um corredor
estreito e por um funil feito por dois policiais, um deles conduz um cão de
faro, que verifica em segundos, individualmente, centenas de passageiros
em fila indiana. Este emprego, farejando drogas na entrada da unidade e
munições e armamentos na saída, tem uso imediato, diário e crescente
nas unidades militares brasileiras, além da verificação de armários,
alojamentos, ginásios e garagens. Algum militar que queira introduzir
drogas na unidade, poderá escondê-la, teoricamente, em qualquer lugar
e, principalmente, em locais de acesso de muitos militares como grêmio,
embaixo de pedras ou atrás de lixeiras, por isso é mais fácil evitar a entrada
do narcótico. Todos sabem que é crime o militar portar narcóticos em área
militar, se o indivíduo arrisca tanto é por que já chegou a tal grau de
dependência que o risco passa a compensar e, possivelmente, fará uso do
entorpecente mesmo portando arma por missão ou por estar de serviço.
Se houver o estabelecimento da cultura do emprego do cão, especialmente
o cão de duplo emprego, os conjuntos condutor e seu cão terão missões
diárias, mantendo-se preparadas. Por certo que exigirá profissionalização
e especialização, um ou dois onjuntos por unidade militar grande, do porte
de regimento ou Batalhão que venham tendo problemas com tráfico ou
consumo de entorpecentes. À noite, inopinadamente, os conjuntos se
revezam em patrulhas nas instalações da unidade.

5.2 CÃO DE DUPLA APTIDÃO


A principal vantagem do cão de dupla aptidão sobre o emprego de
um cão de detecção especializado são as árduas exigências do trabalho
de faro no clima predominantemente tropical no país. O cão somente tem
glândulas sudoríferas na sola das patas, que tem um papel insignificante
na termorregulação do animal. O cão baixa sua temperatura ao ofegar,
respirando rapidamente e pela língua, que fica dilatada. Este mecanismo
de baixar a temperatura dificulta ou até impossibilita o faro. Se o cão não
estiver muito bem adestrado ou condicionado fisicamente, não cumprirá a
134
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

missão. Um cão de dupla aptidão tem plenas condições, pois existem outros
impulsos que o motivam a trabalhar por seu condutor, como impulso social,
impulso por luta ou por caça. Cães dóceis, exclusivamente farejadores
como labradores, na situação dos canis militares, podem ser negligênciados
pelo condutor militar na manutenção de seu condicionamento físico. Um
cão de dupla aptidão terá mais missões e atividades para realizar e ser
cobrado pelo Chefe da Seção de Cães de Guerra, inibindo o descaso com
as atividades físicas do cão.

5.3 HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA ADESTRAMENTO DO


CÃO DE DETECÇÃO

O adestramento do cão detector exige quatro habilidades básicas:

1. Reconhecimento dos odores desejados;

2. Início e persistência na procura por faro sob controle de seu


condutor;

3. Indicação clara e precisa no ponto mais forte do cone de odor;

4. Padrão de busca sistemático, eficiente e indiferente a distrações.

5.4 ESCOLHA DE ODORES


Teoricamente, não haveria limite para número de odores para
adestrar um cão, mas cães militares no mundo inteiro costumam ser
adestrados para cerca de 10 tipos diferentes de odores. É mais uma
limitação do homem em dispor de recursos, tempo e capacidade de
gerenciamento para manter o cão sempre bem adestrado na identificação
dos odores do que do cão.
Um mesmo cão não é adestrado para detectar odores que na missão
real podem confundir ou dificultar. Cães de detecção de feridos (em matas,
escombros, etc) não são adestrados para detecção de cadáveres. Em uma
cena de desastre, o resgate precisa saber com alto grau de confiança e
urgência onde estão os feridos, para iniciar o salvamento. Os corpos dos
mortos podem esperar pelo resgate, com uma segunda equipe de conjuntos
especializados. Um cão que indica vários pontos em uma cena de desastre
135
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

e o condutor não é capaz de diferenciar quais pontos estão pessoas feridas


e em quais estão as mortas pode atrasar o socorro. Cães de detecção de
explosivos não são adestrados para nenhum outro tipo de odor. As medidas
a serem tomadas com a indicação de explosivo são sérias demais para o
condutor ter dúvida do que o cão está indicando. Um cão que será
empregado na segurança orgânica de uma unidade na revista de pessoal
e veículos, pode, sem prejuízo algum, ser adestrado para detecção de
drogas, armas e munições, para evitar furtos e desvios de material.
A escolha das drogas será feita conforme o desafio local: maconha,
cocaína, crack, anfetaminas, ectasy, haxixe, heroína, etc. Para explosivos,
pelo menos um material real de cada categoria listada abaixo. O cão
deve ser exposto e adestrado com toda sorte de marcas, fontes e
formulações diferentes que for possível.

Categorias de Odor de explosivo:

1. Pólvora (negra, Pirodex, pólvora de base dupla ou sem fumaça)

2. TNT

3. Dinamite (comercial ou militar)

4. C-4, FLEX-X, DATA SHEET, SEMTEX

5. DET-CORD (PETN), RDX

6. Géis de água de nitrato de amônio

5.5 CONDICIONANDO O CÃO PARA RECONHECER OS ODORES


DESEJADOS
O cão será condicionado para reconhecer os odores desejados com
jogo de cabo de guerra e de buscar com seu condutor com mordente
impregnado e com os exercícios com a caixa holandesa. O cão de detecção
sempre joga cabo de guerra e buscar com mordente impregnado com odor.
Quando o cão abocanha e mantém o mordente impregnado com odor,
permite o contato com o órgão de Jacobson no céu da boca por vários
minutos, isto é forte estímulo para esse odor ficar retido na memória. Os

136
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

exercícios com a caixa holandesa separará as indicações de odor que geram


prêmio daquelas que não geram.
O condutor, durante o jogo, arremessa o mordente e estimula o
cão a buscá-lo. Começa adestrando a busca do mordente em superfícies
limpas. Quando conseguir que o cão busque o objeto em uma superfície
lisa, mudará para várias áreas que tenham grama alta o suficiente para
dificultar a visualização do objeto pelo cão. O condutor pode jogar contra
o vento e fora da vista do cão e sempre encorajá-lo a achar o objeto usando
seu faro. A evolução do cão é registrada no diário de adestramento. A
cada sessão de adestramento, o condutor vai dificultando a visualização
de onde o mordente cai, distraindo o cão, jogando sobre uma cerca, por
exemplo. O condutor induz o cão a farejar e não a acompanhar com a
visão.
Quando o cão estiver achando os mordentes usando o faro na grama
alta, o condutor segura o cão, o auxiliar mostra que está com o mordente,
agita o cão e esconde o mordente em um lugar fácil de achar. O condutor
agita muito o cão segurando pela peiteira e comanda para procurar e libera
o cão. O condutor incentiva e, até mesmo, simula que está auxiliando o
cão a achar.
Vários tipos de mordente, bolinha de tênis, kong, salsicha de morder
de sisal, salsicha de morder de tecido de macacão de mordida, pedaços
de cano de borracha, impregnados ou contendo em seu interior pedaços
de papel filtro impregnados serão usados. Deste maneira, o cão dissociará
o odor do mordente do odor desejado.

5.6 IMPREGNANDO O MORDENTE


Os odores podem ser impregnados no mordente simplesmente por
armazenar material que tenha odor com o mordente por alguns dias em
frasco hermético ou saco plástico fechado. O mordente jamais entra em
contato com o material (droga, explosivo, parte de corpo em
decomposição), ou com seu respectivo pseudo odor, basta estar próximo.
Outra maneira, é impregnar pedaços de papel filtro ou gaze da
mesma maneira, e colocar este item dentro do mordente. Cautela é tomada
para que o cão jamais entre em contato com mordente contaminado com
droga ou outro químico.
Um conjuntoterá uma quantidade adequada de mordentes,
permitindo que dois estejam em uso no dia, alguns estejam sendo lavados

137
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

e secos ao sol e outros estejam alguns dias guardados em vidros ou sacos


plásticos hermeticamente fechados para impregnar com odor desejado.
È conveniente ter vários tipos de mordentes de materiais diferentes,
bolinhas de tênis, kong, cano de pvc, etc. para que o cão reconheça o odor
desejado e não apenas o do mordente.

5.7 PSEUDO ODOR


Pseudo odor é um químico que tem o odor da substância, mas não
tem nenhuma outra característica, não tem efeito psicotrópico ou
alucinógino, não explode, não é parte de cadáver. Por esse motivo é seguro
e não há limitação prática ou legal alguma na posse ou transporte.
Há várias marcas comerciais de pseudo odor, que podem ter
formulação em pó ou líquida. Este produto é colocado em papéis filtros e
colocados dentro do mordente, ou o mordente é colocado em um saco tipo
zip lock ou vidro hermético para impregnar o odor, a semelhança do que
seria feito com o material propriamente dito.
Não há inconveniente algum em usar pseudo odor no Brasil, o
problema é usar apenas e, exclusivamente, pseudo odor, exatamente o
mesmo problema de sempre usar a mesma amostra do material real.
Eventualmente, é encontrada a informação em sítios da rede mundial de
computadores, livros, revistas, manuais e regulamentos americanos contra
o uso do pseudo odor, mas isto é uma questão legal a respeito do emprego
do cão de faro em território daquele país. Nos Estados Unidos, bagagem
dentro do país e em automóveis somente podem ser revistadas com
consentimento do suspeito, mandato de busca ou causa provável. Causa
provável é algum indício de que um crime está em andamento. Para que a
indicação de um cão de faro possa ser aceita em um tribunal como causa
provável, ele foi adestrado exclusivamente com materiais ou substâncias
ilegais.
Há disponível pseudo odor de maconha, cocaína, LSD e heroína, de
pessoas em sofrimento, de pessoas afogadas e de cadáveres com diversos
estágios de decomposição. Há escritório da SIGMA no Brasil que vende
pseudo-odor através importação direta, como pode ser verificado no site
www.sigmaaldrich.com/brazil.html. Não há limitação legal alguma e pode
ser usado perfeitamente no Brasil, sem restrições. O único inconveniente
é o cão ser adestrado apenas com pseudo odor e nunca com amostras
recentes de droga, ou de diversas fontes de explosivos, munições, armas,
cadáveres.
138
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Nome do kit Observações

ScentLogix™ K9 HMTD Scent Saco tipo zip que é armazenado c om o ma terial a ser
Imprint Aid impregnado, depois de impregnar, é novamente vedado
e guardado no freezerhttp://www.scentlogix.com/shop/
index.php?m ain_page=product_info&products_id=16

Pseudo odor marker pens http://www.explosivedogdetection.c om/product-list/

Canine training aids Sigma Pó mantido em freezer, pode ser usado puro em recipient
pseudo Scent ou diluido em água para injeção e pingado no local ou
em papel filtro. O produto não deve entrar em contato
com mucosa do cão.http://www.sigmaaldric h.co m/
analytical-c hrom ato grap hy/a nalytic al-
products.html?TablePage=9620026

ScentLogix™ K9 HMTD Scent Saco tipo zip que é armazenado c om o ma terial a ser
Imprint Aid impregnado, o qual depois de impregnado, é novamente
vedado e guardado no freezer.tp://www.scentlogix.com/
s ho p/ inde x. php?m ai n_pa ge=pro duc t_ info & pro duct s
_id=16

Pseudo odor marker pens PETN, RDX,TNT,NITROGLYCERIN (Stabilized),AMMONIUM


NITRATE (Oxidizer) ,BLACK POWDER (Potassium Nitrate &
powdered cha rcoal) ,POTASS IUM CHLORATE
(Oxidizer),POTASSIUM PERCHLORATE (Oxidizer),SODIUM
CHLORATE (Oxidizer),SO DIUM PE RCHLORATE
(Oxidizer),SMOKELESS POWDER (Nitrocellulose),WATERGEL
EX PLOS IVE ,DINITROTOL UEN E ( 2,4 DNT),DM NB
( TA G G A N T ) , C 4 , S E M T E X - H , o - M N T
( O r t h o m o n o n i t r o t o l u e n e ) , p - M N T
(P aramononitrotoluene),EGDN ( Ethylene Glyc ol
Dinitrate),EGMN (Ethylene Glycol Mo nonitrate) ,MM AN
(M onom ethyl Ammonium Nitrate),DYNAMITE,UREA
NITRATE,DETASHE ET (PETN Based),TATP (Triac etone
Triperoxide breakdown products)http: //
www.explosivedogdetec tion.com/produc t-list/

TrueScent™ K-9 Training Aids h t t p : / / w w w . s i g n a t u r e s c i e n c e . c o m /


N a t i o n a l % 2 0 S e c u r i t y % 2 0 K -
9%20Scent%20Training%20Aids/

5.8 CONTAMINANTES DO ODOR


Vários contaminantes podem ser acrescentados à droga,
principalmente para diluir e aumentar seu volume. A Polícia de São Paulo
testa a pureza da cocaína e usa na investigação da rota do tráfico dentro
da cidade. Bairros com poder aquisitivo mais alto e mais próximos da
139
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

chegada da droga na cidade, têm cocaína com 60% de pureza. Já os


consumidores da Praça da Sé têm poder aquisitivo muito baixo, então os
traficantes distribuem cocaína com 5% de pureza. São acrescentados
diversos pós brancos para diluição como talco, bicarbonato, amido, etc.
Além da enorme diferença na mistura da cocaína, a cocaína pura
tem odor de vários solventes e produtos químicos usados em seu refino,
que dificulta o adestramento do cão para o faro da droga. Quando uma
trouxinha de cocaína é diluída em água destilada, já se percebe a enorme
diferença de amostra para amostra. Algumas diluem bem em água, outras
ficam turvas, leitosas e com quantidades variáveis de materiais em
suspensão. Se for possível, o cão inicia o adestramento com a cocaína
mais pura possível e, depois, realiza exercícios com a mistura de cocaína
apreendida na sua área de atuação. Se não for possível, inicia já com as
amostras recentemente aprendidas, sempre que for disponibilizado nova
apreensão, autoridade competente é solicitada para deixar os mordentes
e papéis filtros junto com a droga para ficarem impregnadas de odor. É
bem mais fácil conseguir apoio da autoridade policial para levar papéis
filtro, gazes, mordentes e potes de vidro herméticos para impregnar dentro
do estabelecimento policial do que conseguir, frequentemente, amostras
de drogas recentes. Amostras de drogas exigem autorização de juiz e,
muitas vezes, demoram muito para serem conseguidas.

5.9 JOGO DE CABO DE GUERRA E DE BUSCAR


Excitar o cão, mostrar o mordente, jogá-lo à vista do animal, segurar
o cão e excitá-lo com o comando de procura, esperar alguns segundos e
liberar o cão, quando ele estiver a alguns segundos de apanhar o mordente
com a boca, dar o comando de buscar, bring, se o cão diminuir o interesse,
faça o mordente “voltar à vida” mexendo na corda, o condutor excita o
cão e joga novamente. O cão é condicionado a procurar, se não procurar, a
caça foge e ele perde, o condutor segura a ponta da corda do mordente e
chama o cão, se não vier, dá puxadinhas na corda e, quando vier, chama
para o afago e premia o cão com cabo de guerra, deixa-o vencer, não
retira o mordente do cão. Faz o mesmo exercício em grama alta e no escuro,
obrigando o cão a farejar o mordente impregnado com odor. O auxiliar
segura o cão, o condutor excita o cão com mordente e, dramática e
exageradamente, esconde o mordente, fala o comando de procura e deixa
o cão facilmente achar. Paulatinamente, dificultará a procura. Outro
exercício interessante é com um auxiliar, o condutor leva o cão até um
140
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

monte de areia fofa, o auxiliar segura o cão, o condutor agita o mordente


e, mantendo o cão focado e excitado, enterra o mordente parcialmente, o
auxiliar libera o cão e o animal abocanha o mordente. A cada repetição
com sucesso, enterrar um pouco mais o mordente, fazendo um orifício
com o dedo, para o odor da pseudodroga sair; deixar corda coberta por
fina camada de areia e na mão do condutor, quando o cão arranhar, mesmo
que levemente em cima ou próximo do mordente, o condutor puxa
rapidamente como se fosse um rato fugindo de uma toca. Após algumas
sessões, dificulta um pouco mais, o objetivo é que o cão use o faro e
confie no comando de procura, mesmo que não veja o mordente, fazer
sempre no mesmo lugar, uma boa referência é quando o cão já fica excitado
somente por se aproximar do lugar.
O cão associa o odor que procura, passa a usar seu faro para localizar
o objeto no escuro ou grama alta; aprende a arranhar com a pata para tirar
da toca a caça, é premiado pela intensidade da indicação. Intensidade
significa que um ou dois arranhões fortes na caixa liberam o mordente. O
condutor não deixa o cão escavar demais sem receber o prêmio. Esperar
muito para liberar pode diminuir a intensidade de indicação. O auxiliar
amarra uma corda no mordente para puxar e excitar/premiar o cão.
O mordente pode ter um nylon de pesca amarrado substituindo a
corda. Quando o cão acha o mordente e indica, o auxiliar puxa e o mordente
“salta” fora do esconderijo como se estivesse vivo e o condutor premia o
cão com jogo de cabo de guerra com energia e vibração, estimulando e
recompensando-o pelo trabalho bem feito.
O critério para premiar a indicação de droga/armamento/cadáver
em adestramento segue a seguinte regra: difícil de achar - indicação clara,
mas simples; simples de achar - indicação agressiva, evidente. Isto significa
que, em buscas fáceis, esperamos mais energia do cão na indicação; se a
busca é difícil, qualquer indicação correta é premida. Buscas fáceis são
sempre utilizadas no adestramento e, em especial, durante ação real para
manter o cão sempre interessado na busca.
O condutor pode ficar atrás do cão excitando e estimulando a cavar
o mordente, pode abraçar seu cão, mantendo alguns centímetros do
mordente escondido, excitando o cão e liberando-o.

5.10 CAIXA DE INDICAÇÃO DE AREIA


Pode-se montar caixa de indicação de areia como aquelas de
crianças em praça, pelo menos três. O mordente é parcialmente enterrado
141
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

o cão é incentivado a escavar. Gradualmente, o condutor incrementa a


profundidade que enterra até o mordente desaparecer na areia. O condutor
faz da atividade de escavar uma brincadeira também. O condutor coloca
na caixa de indicação apenas um mordente, incentiva e auxilia o cão a
escavar (indicar). Regra dos três – faça uma vez, faça duas, não faça a
terceira, apenas o suficiente para aprender a escavar. O condutor cava e
revira na caixa de indicação de areia em vários pontos de forma idêntica,
apenas uma terá o mordente com odor de droga/armamento/cadáver. Isto
serve para o cão procurar odor de droga/armamento/cadáver misturado
ao odor do mordente, não odor de terra revirada. Muita festa, carinho e
brincadeiras com indicação tarefa bem sucedida.
Outra maneira de melhorar a indicação é proteger o mordente em
caixa de papelão pregada no chão ou apenas um papel ou papelão pregado
no chão cobrindo o mordente, o condutor ajuda o cão a rasgar e ter acesso
ao mordente.
A qualquer momento, o condutor pode passar a alternar esses
exercícios com caixa de detecção holandesa.

5.11 CAIXA DE DETECÇÃO HOLANDESA


Ron Mistafa no seu livro de Detecção de Explosivo (K9 Explosive
Detection) usa uma caixa de madeira simples para não permitir acesso do
cão ao material explosivo, com um buraco em cima que permite que o cão
enfie o focinho direto no cone de odor mais forte. Na indicação de
explosivos, é consenso universal que o cão, obrigatoriamente, faça
indicação passiva e, então, o mordente é jogado para o cão longe da caixa.
Randy Hare em seus DVDs de detecção de odor divulga o que chama
de caixa holandesa, tem um fundo falso para colocar droga/armamento/
cadáver, tem um cano por onde é enfiado o mordente com corda, abertura
para o cão enfiar o focinho e uma janela transparente para excitar o cão
com o mordente na corda, dentro da caixa.
A caixa holandesa é fácil de ser feita na marcenaria da própria
unidade. Agrega grandes facilidades no adestramento de detecção,
resolvendo várias etapas como indicação, transição para procura em área,
e separação entre os odores desejados e do mordente. Durante a procura
do cão, o mordente está fora da caixa, quando o cão indica, o mordente é
introduzido pelo cano o cão faz cabo de guerra dentro da caixa, no ponto
mais forte do cone de odor. A visualização do mordente através da janela
de vidro robusto temperado ou acrílico, excita o cão a ponto dele raspar
142
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

no vidro ou tentar morder, induzindo o cão para indicar, então, o auxiliar


eleva a janela transparente e permite acesso ao mordente e premia cão
com cabo de guerra dentro da caixa. Esta manobra induz indicação de
todos os cães, até mesmo naqueles que foram encontradas dificuldades
para condicionar indicação por outros meios (caixa de areia, papelão
pregado, etc.)
São feitas de 4 a 6 caixas, as que são usadas com odor de droga/
armamento/cadáver são sempre marcadas e não são misturadas com
caixas sem odor. Caixas são todas iguais, diferença apenas no odor do
item que escondem. Pode ser escolhida uma caixa que será usada sempre
com vários odores juntos de cada especialidade do cão: tipos diferentes
de droga para cães detectores de droga, tipos diferentes de cadáver para
cães desta especialidade. Esta caixa será marcada e sempre será usada
assim.
O cão excitado, ao visualizar o mordente através do vidro
transparente, arranha e late. Na indicação correta, o mordente é jogado
pelo auxiliar dentro da caixa, é fundamental realizar o cabo de guerra
dentro da caixa!

Caixas holandesas vista frontal duas com tampo de acrílico/vidro levantadas e a


terceira da esquerda para direita com vidro baixado fechando seu interior. Caixas
montadas em um muro mostrando o mordente na posição que é oferecido ao cão
para ser premiado com cabo de guerra dentro da caixa.

143
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Cão excitado ao visualizar o


mordente através do vidro
transparente, arranha e late

Na Indicação correta, o mordente é jogado pelo auxiliar dentro da caixa, é


fundamental realizar o cabo de guerra dentro da caixa. O brinquedo é jogado dentro
da caixa pelo cano de PVC e o auxiliar segura a corda para fazer o jogo de cabo de
guerra com o cão.

144
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

5.12 CONE DE ODOR


Um cone de odor é formado proporcional ao tempo de espera. A
dissipação do odor, tamanho e forma do cone será influenciado
principalmente por correntes de ar.
O auxiliar padroniza um tempo de espera de 20 minutos, por muitas
sessões de adestramento. Depois que o conjunto estiver confiante e com
grande porcentagem de sucesso, o auxiliar seleciona outro tempo de espera
que será empregado por várias sessões de adestramento.
Importância do tempo de espera: 20 minutos é um tempo adequado,
cria um cone de odor de 15 a 30 cm em volta do esconderijo correto. Tempo
bem curto, como 2 ou 3 minutos, cria um cone de odor bem pequeno, o
conjunto adestrador/cão somente achará se tiver um padrão de busca
correto, cobrindo toda a área do exercício. Um tempo de espera longo, de
algumas horas até o dia seguinte, cria um cone de odor bem maior, sujeito
a dispersão por vento ou ventilação. Um tempo de espera longo também
pode criar um depósito de odor em um local que não seja o local exato do
esconderijo, que é o ponto mais forte de odor. O cão tem que ser adestrado
para indicar o local correto que a droga/armamento/cadáver está, não
apenas quando entrar no cone de odor. A definição do tempo de espera é
uma situação importante no adestramento e é conduzida individualmente
conforme a evolução do cão no diário de adestramento.

5.13 AUXILIAR
Desde muito cedo no adestramento e por toda a vida útil do cão, o
exercício será montado por um auxiliar. Isto tem duas importantes funções:
a primeira é como o condutor ignora o esconderijo, será obrigado a
interpretar e confiar na linguagem corporal do cão durante a procura e
saber reconhecer indicação correta. A segunda é função é preparar o
condutor para ter um padrão de procura consistente, como ignora quantos
esconderijos existem na área, cobre toda a área com o cão, e se achar
necessário, checa pela segunda vez algum ponto que tenha dúvida até
definir pelo fim da procura. O condutor declara então que a área não tem
mais nenhum esconderijo remanescente.
Quando o condutor sabe onde está o esconderijo, acaba induzindo
o cão a indicar o esconderijo correto e o animal aprende a ler seu condutor
e não a farejar. Outra situação é que, muitas vezes, o primeiro esconderijo
indicado não é a mais importante, uma bagana de cigarro de maconha
pode encerrar uma busca em um depósito antes de achar 2 kg de cocaína.
A mesma situação da busca de instalações para suspeitos, a busca somente
145
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

termina quando toda a área foi varrida com segurança e não quando o
primeiro oponente foi detectado.
O auxiliar monta o exercício e deixa claro qual é a área do exercício.
Sempre coloca dois ou mais esconderijos corretos e movimenta objetos e
contamina com seu próprio odor em outros pontos da área de procura.
Esta contaminação é importante para o cão detectar o esconderijo e não
odor do auxiliar ou de material remexido ou ambiente alterado.
Se o cão indicou de forma considerada duvidosa ou fraca, o condutor
afasta o cão, excita-o novamente com o comando de busca e verifica se o
cão indica novamente o mesmo lugar. Quando o condutor entender que o
animal está indicando um esconderijo correto – fala que achou o local, se
a indicação estiver correta, o auxiliar sinaliza para o condutor. Com a
confirmação do auxiliar, o condutor premia o cão pela indicação correta.
Indicações incorretas são ignoradas e o condutor aponta e excita o cão
para outro lugar. Leva algum tempo para o condutor e auxiliar trabalharem
corretamente, mas é fundamental ter essa rotina.

5.14 DUPLO CEGO


O exercício duplo cego é fundamental para preparação e avaliação
do conjunto condutor-cão. Uma área ainda não usada em treinamento é
escolhida, e é solicitado a um profissional que tenha experiência em campo
no tipo de busca (droga, cadáver) para montar dois ou três esconderijos.
Este profissional escolherá os esconderijos baseados em experiências reais
anteriores. O objetivo é que este auxiliar se esforce ao máximo para
empregar o mesmo tempo e energia que o meliante usuaria para tentar
ludibriar: enterrar, tentar mascarar odor, submergir, fundos falsos,
modificações em carros, etc. O condutor entra primeiro, sem o cão, planeja
a atuação exatamente como na situação real. Avalia riscos, correntezas
de ar internas ou vento.
O conjunto entra no recinto/área acompanhada por outro auxiliar
que terá a função exclusiva de filmar o exercício, que desconhece a área,
a quantidade e a localização dos esconderijos. Dessa maneira ninguém
pode induzir o cão a indicar os esconderijos, mesmo que inadvertidamente,
e assim condutor depende exclusivamente da leitura de seu cão. Outro
ponto importante é o condutor determinar quando encerrar a busca e
concluir que a área está sem nenhum mais esconderijo.
Condutor sozinho, sem interferência alguma, decide quando premiar.
Intervalos, padrão de busca e quando encerrar a busca. Erros e acertos
serão avaliados na Avaliação Pós Ação através da filmagem.
146
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Outra maneira de realizar o duplo cego é ter uma equipe que tenta
passar o ilícito pelo posto de controle sem aviso prévio. Para varredura de
áreas para explosivos, treinamentos são marcados em prédios públicos
como escolas e tribunais que são evacuados por outros motivos como
detetização, treinamento de incêndio e os conjuntos são acionados sem
serem notificadas que se trata de um exercício. Isto será feito tantas vezes,
que quando for a situação real, o estresse da situação será enfrentado em
níveis que não comprometam o desempenho do conjunto. Estas simulações
não devem ser alardeadas, pois é sabido que treinamentos e demonstrações
de busca de explosivos aumentam trotes de denúncias de explosivos,
especialmente em escolas. A estória de cobertura ideal é justificar busca
por drogas.

5.15 PROCURA EM ÁREA


A primeira etapa para procura em área, é levar as caixas holandesas
para uma recinto pequeno. Pelo menos três caixas holandesas, serão
espalhadas pela sala, colocadas no chão facilmente acessíveis ao cão,
apenas uma esconde droga/explosivo/munição/cadáver. Servirá como uma
transição facilitada para o cão que, ao indicar corretamente, será premiado,
rapidamente retirado da sala e a caixa retirada, a droga/explosivo/munição/
cadáver será escondida no mesmo local da caixa. Os cães, usualmente,
não têm dificuldade de indicar com auxílio das caixas holandesas dentro
da sala. Depois de algumas sessões, a caixa fica mais discreta, até o
momento em que não seja mais necessária, deixando de ser usada.
O auxiliar usa carros antigos como Jeep ou camionetes com grandes
espaços embaixo da viatura, entre a roda e a carroceria, atrás do para-
choque, embaixo de bancos, etc. e aproveita estes grandes espaços para
fazer esconderijos fáceis de encontrar e do cão indicar com o mordente
saindo do esconderijo ou da caixa holandesa. Poucos exercícios serão
realizados assim, regra do três, etapas intermediárias são feitas uma vez,
duas vezes e, nunca, a terceira vez.
O condutor passa para a extrapolação, esconde cabos de madeira
impregnados de odor ou estojos de droga/armamento/cadáveres em toda
sorte de carros: velhos, novos, de ferro velho, de colegas, etc.
Quando a caixa deixa de ser usada, o mordente não será entregue
ao cão através dela, e sim direto do condutor. O condutor pode iludir o cão
que foi ele mesmo quem desentocou o mordente. O condutor leva
escondido no uniforme e incentiva o cão a buscar. Quando o cão chegar no
147
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

esconderijo do item impregnado de odor e indicar corretamente, o auxiliar


sinaliza para condutor e este premia o cão. O adestrador joga para o cão o
mordente escondido em seu uniforme sem que o cão perceba que mordente
não foi “escavado” por ele. É assim que será feito em uma busca real. É a
maneira de premiar o cão pela indicação. Se o cão estiver bem condicionado
com o marcador, ao indicar corretamente, ouve o marcador sonoro de seu
condutor e é premiado com vigoroso cabo de guerra.
Indicações incorretas são ignoradas pelo condutor. O sinal do auxiliar
para o adestrador tem que ser discreto e preciso, para o adestrador não
premiar indicações erradas e premiar com agilidade indicações corretas.
Alguns cães trabalham rápido, outros são mais lentos. O condutor
permite o cão trabalhar no seu ritmo, não tentando alterá-lo. O condutor
foca no que é relevante: padrão de busca, persistência na busca e
indicações precisas.
O condutor e seu cão são uma equipe: o condutor presta atenção
no vento, ventilação, ventiladores, ar condicionado e correntes de ar em
prédios grandes. O cão pode indicar o cone de odor, mas o item pode estar
apenas próximo da indicação. Exemplos: drogas em armários de empresas
ou colégios: o cão vai indicar de onde o cheiro da droga está saindo, ela
pode estar no armário do lado ou até mesmo na fileira de armários atrás
do local indicado. O cão pode tentar saltar nas paredes, indicando que o
cheiro vem de cima. Correntes de ar e a possível fonte do odor são
verificadas.
O cão é premiado quando indicar a fonte mais forte do odor que é
o esconderijo e não quando alertar no cone de odor.

5.16 ALTURA DE ESCONDERIJO


O auxiliar começa a variar a altura dos esconderijos, começando
com um palmo acima da cabeça do cão e aumentando 2 palmos por série
de 3 exercícios corretos. O condutor evoluirá com seu cão para superar a
dificuldade do animal em indicar no alto, pois há um cone de odor no
chão, mas o item está acima de sua cabeça.
A indicação do cão tem que ser clara onde está a droga/armamento/
cadáver, mas desenvolverá uma indicação um pouco diferente. Pular na
parede, latir, raspar na parede podem ser consideradas indicações corretas
de esconderijo no alto. O cão será premiado quando indicar o ponto mais
próximo do esconderijo, o ponto do cone de odor onde é acessível ao cão.

148
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

5.17 ESCONDERIJOS ENTERRADOS E SUBMERSOS


A maneira semelhante que os exercícios são montados em alturas
diferentes, também serão montados exercícios com esconderijos enterrados
e submersos. Uma série de exercícios é montado com pequena
profundidade, e com tempos de espera variáveis. Quando o cão atingir
uma porcentagem de acerto próxima ou igual a 100%, nova profundidade
será estabelecida. Os exercícios começam muito simples, na caixa de areia,
a pequena profundidade, e em uma série de dois ou três baldes cheios de
água limpa, com amostras presas no fundo do balde por um peso.
Para esconderijos enterrados, o auxiliar sempre cavará outros
buracos idênticos ao escoderijo, isto mostrará claramente que as
indicações que geram prêmio são aquelas com odor desejado e não com
terra remexida ou odor do auxiliar.
Para esconderijos submersos, é importante considerar que cão
indicará no ponto da água que o odor emerge da água. Calculando a
profundidade do local e velocidade da correnteza, será estimada a posição
corrigida. Baldes de água, pequenas piscinas desmontáveis ou tanques
são usados inicialmente, para facilitar a montagem de uma série de
exercícios simples, para adestrar o cão a farejar sobre a água, Nas primeiras
séries, usar pequena profundidade e um tempo de espera razoável, por
exemplo 30 minutos. Para avisar o condutor quando o cão será premiado
por uma indicação correta, o auxiliar considera que o cone de odor se
dispersa de maneira diferente a partir de esconderijo submerso, e o cão
dificilmente indicará exatamente em cima do esconderijo.
Sessões avançadas serão realizadas em cursos de água maiores,
com o cão embarcado e em posição confortável para farejar próximo a
superfície, ou se o curso de água for estreito suficiente, caminhando ao
longo, se raso o suficiente, caminhado dentro do curso de água.
Drogas, munições, armas ou explosivos podem ser escondidas
dentro de depósitos de água de descargas, quantidades maiores podem
ser escondidas em caixas de água, curso de água, piscinas na expectativa
de iludir cães detectores. Um cão detector de cadáver preparado para
busca em água pode auxiliar na busca de afogados em rios ou represas.
Em estágios mais avançados do treinamento, o objeto de busca
(droga, munição, arma, cadáver) pode começar a ser submerso em outros
solventes como diesel, gasolina ou qualquer outro que meliantes locais já
tenham experimentado com a finalidade de ludibriar os cães. Há que se
ter paciência, os cães não acertam nas primeiras tentativas.
149
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

5.18 DISTRAÇÕES
Sempre montar os exercícios com distrações: ruas movimentadas
em frente a colégios, caminhão de lixo, banda marcial, lojas, galpões,
depósitos, casas abandonadas, terrenos baldios, mercados, farmácias,
borracharias, postos de gasolina, carros, dormitórios ou quartos de hotel,
presença de outros animais, como galinhas, patos, gatos, etc. A guia é
usada na rua para a segurança do cão.
O cão, desde filhote, participa de toda rotina militar, simulada ou
real. Patrulhas, campanas, treinamento e provas de tiro, deslocamentos
em viaturas, longas esperas em viaturas ou na rua, etc. Tudo o que,
possivelmente, o animal vá enfrentar no trabalho real, ele deve ser
habituado sem estresse algum.
O condutor trabalha a transposição de toda sorte de obstáculos,
auxiliando seu cão, colocando-o em seus ombros e empurrando ou puxando-
o pela peiteira. O cão confia no condutor, entrará em ambientes estreitos
e obedecerá aos comandos e estímulos para subir, descer, entrar etc. O
condutor condiciona o cão a aceitar sua ajuda, carrega o cão abraçando-o
com um braço passando pelo peito e outro por baixo da barriga do cão,
colocando-o em cima de mesas, de pilhas de sacos, de viaturas, etc.
Quando necessário, o cão será ajudado a entrar e a subir em lugares para
procurar sem receio e sem se desconcentrar da busca.
Odores de alimentos podem ser distrações intencionais ou não,
comida pode ser colocada em uma das caixas holandesas, e o cão nada
recebe por indicação errada. O adestramento para recusa de alimentos
também ajudará, e o cão ouvirá o comando para deixar a comida que
eventualmente estiver contaminando a área de busca. Sempre verificar se
a comida ou restos de comida não estão encobrindo um esconderijo do
que é o objetivo da procura, e o cão pode estar dando a indicação correta.
Qualquer outro tipo de odor pode confundir ou dificultar a busca do
cão despreparado. Exercícios são montados em toda sorte de cenários
para adestrar o cão para isolar o odor desejável entre outros. Postos de
combustível, depósitos de alimentos, farmácias, etc.

5.19 REGISTRO DAS SESSÕES DE ADESTRAMENTO


O condutor mantem um diário do adestramento, descrevendo,
minuciosamente, as atividades reais e de simulação, onde foi feito, com
que material (próprio item, pseudo odor do item, material impregnado),
onde foi escondido. Relata o grau de dificuldade do cão na indicação correta,
150
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

indicações imprecisas. As eventuais deficiências ou limitações, temporárias


ou não do cão são assuntos sigilosos que somente interessam ao seu
condutor e ao chefe da SCG. Se um cão tem dificuldade em indicar crack,
ele será exaustivamente adestrado para superar essa deficiência. Este é
um tópico que não existe transparência alguma, o que é divulgado é restrito
ao interesse da missão e da instituição. No mesmo diário será relatado o
desempenho em situações reais de campo. Se houver alguma coisa que
distraia o cão, será relatado no diário e a solução do problema será
obstinadamente perseguida.

MODELO DE FICHA DE REGISTRO DE ADESTRAMENTO

M ilitar: Cão: Auxiliar:


Tipo da área de
adestramento: Aberta / Coberta
Área estimada
de busc a:
Procura em: Grama alta / Enterrado / Escuro / Caixa de Areia / Caixa
Holandesa / Veículo/ submerso
Tempo de
es pera :
Temperat ura:
Um idade relativa
do ar:
Tempo de
procura:
Altura do
esc onderijo:
Se enterrado,
pr ofundida de
Se Submerso Contam ina ntes intencionais
(profundida de, coloca dos pelo auxiliar: comida/
correnteza, café/pingos de gaso lina/diesel/
margem ou esterc o de animais/
embarc ado)
In dic a ç õ es
corretas:
In dic a ç õ es
f a l sa s :
Deixou de
indica r:
151
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O condutor e Chefe da Seção de Cães de Guerra registram


estatisticamente, os erros e acertos do cão. Se ele tem grau de 95% de
acerto em maconha e 5% em cocaína, a maneira que está sendo
impregnando os mordentes com odor de cocaína precisa ser melhorada. A
SCG pedirá ajuda a outra agência que treine cães e que esteja obtendo
resultados melhores. Algo está errado ou deixando de ser feito. Se o
conjunto tem 100% de acerto, significa que não está sendo desafiado o
suficiente. Significa que o conjunto e Chefe da SCG se acomodaram em
uma rotina de exercícios que já estão dominados. A imaginação será muito
bem explorada, a força adversa é criativa e tem bastante tempo disponível
para inventar e testar alternativas.
A estatística em trabalho real registrada valorizará devidamente o
trabalho dos cães. Podem ser registrados a quantidade de drogas achadas
pelo cão, o número de apreensões, ou valor de venda nas ruas. Exemplo:
Cão Zulu tem 350 g de maconha e 100 g de cocaína, cão Tango tem 150 g
maconha e O g de cocaína. Se as quantidades são pequenas, então o
registro será feito por número de indicações que produziram apreensões.
Por exemplo, Cão Whisky tem 4 apreensões de maconha e 7 de cocaína. O
sistema americano de registrar valores monetários tem efeito educativo
contrário ao esperado, exagera o valor das drogas, gerando curiosidade e
interesse na perspectiva indesejável, por exemplo: cão A tem 1500,00 reais
de drogas retiradas das ruas.

5.20 REALISMO
O Chefe da SCG, adestrador e auxiliares serão criativos, pois os
traficantes, marginais e terroristas sempre serão. Vários locais podem
servir de esconderijo, como forro de casas velhas, no telhado, fundo falso
de malas, automóveis, solados de sapatos, as possibilidades são infinitas
e o conjunto perceberá a dificuldade inicial do cão em farejar esconderijo
no alto, o condutor reconhece as limitações do animal e aprimora os
exercícios diariamente. O lugar de adestramento não pode ser apenas
onde é mais próximo ou mais fácil. Usar os registros do diário para auxiliar.
Pode-se trabalhar em supermercados/depósitos, no meio de café,
achocolatados, verduras, frutas, etc. Também há a possibilidade de se
trabalhar em farmácias, onde o cão estará no meio de outras drogas/
remédios de uso legal, borracharias, dormitórios, hotéis, postos de
gasolina, lojas de material de construção, especialmente o monte de areia,
depósitos de empresas de toda a sorte de materiais, carros em ferro velho
152
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

e em carros normais. Apoio é solicitado à comunidade e colegas do quartel


para conseguir trabalhar em toda sorte de veículos, com contaminantes
de odor normais: restos de comida, roupas, etc.
Todas as variáveis serão extrapoladas: horário de adestramento,
manhã, tarde, noite, calor, frio, chuva ,etc. Trabalhar à noite em terrenos
baldios e com uso de mais colegas e lanternas. Cães precisam ser
adestrados para não se distrair com o foco da lanterna. Temperatura e
umidade relativa do ar influenciam o faro, o cão precisa ser adestrado
para qualquer situação. A única constante é o faro da droga.
Locais de adestramento desafiam o cão a odores diversos, odores
que podem ser encontrados acidentalmente no local de busca ou podem
ter sido plantados intencionalmente pelos traficantes, na tentativa de
mascarar o odor da droga.
Se o cão estiver sendo bem adestrado, não há como mascarar o
odor da droga. Flinks, policial alemão, relatou em palestra no ano de 2010
que pesquisadores veterinários alemães trabalham em conjunto com a
Escola de Cães e Condutores da Polícia e, até o momento, não conseguiram
material que impossibilitasse a passagem de odor de narcóticos ou
explosivos. Relatou testes de materiais empregados para proteger produtos
para exportação extremamente impermeáveis à umidade e, mesmo assim,
os cães ainda detectam. O traficante pode eventualmetne ludibriar o
conjunto mal preparado, não o conjunto que derramou suor no treinamento.

5.21 MANUTENÇÃO DO CÃO ADESTRADO


O adestramento nunca para. No diário de adestramento, as
habilidades necessárias para o trabalho são isoladas:

1. Saúde e condicionamento físico;

2. Identificação dos odores (maconha, cocaína, crack, ectasy, etc);

3. Padrão de busca;

4. Persistência na busca;

5. Indicação clara e precisa.

As certificações semestrais de averiguação são o registro do


permanente preparo e prontidão do conjunto.
153
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

5.22 PADRÃO DE PROCURA


O padrão de procura tem que ser adestrado em todo o chão da
sala, depois acima da cabeça do cão bem como toda a área. O conjunto
define um método para cobrir sempre todo o veículo ou toda a instalação,
como deixar o cão livre e retornar em áreas não farejadas pelo cão apenas
como etapa final ou induzi-lo a sempre seguir um mesmo padrão, não
deixando de cobrir ponto algum desde o início da busca. Um padrão de
busca é melhorado de duas maneiras: sempre com dois ou três
esconderijos em cada exercício, em que apenas o auxiliar sabe e condutor
não e, depois de pelo menos uma semana, retornar no mesmo local de
busca e usar esconderijos diferentes. O cão começará a descobrir por conta
própria, por tentativa e erro para adquirir ter um padrão de busca, a confiar
em seu faro e indicar ponto de odor mais forte, não apenas tão logo fareje
o cone de odor.
A persistência na busca será incrementada paulatinamente; com o
tempo, as buscas têm que ser mais extensas. Se o cão demonstrar
desinteresse, o condutor induz a achar um esconderijo fácil, premia o cão
e retoma o exercício.
A indicação clara e precisa é perseguida sempre, quando o condutor
procura junto com o cão, não sabe onde está o esconderijo, aprende a ler
o cão, a identificar quando o cão mente (cães mentem na tentativa de
ganhar o prêmio, mas mentem sempre da mesma maneira e o condutor,
com poucas sessões, aprenderá isto). Caso o cão não demonstre
claramente, o condutor leva a caixa de areia ou de indicação para locais
diferentes de exercício e aprimora a indicação.

5.23 PERSISTÊNCIA NA PROCURA


O condutor tem que manter o cão motivado na procura. É obrigação
de o condutor fazer do ato de procura, descoberta do local e indicação
vigorosa um jogo contínuo e excitante para o cão. Não há como obrigar
um cão a farejar e indicar a droga/explosivo/munição/cadáver. Ele sempre
vai ter a opção de não farejar ou não indicar. O jogo de cabo de guerra e de
buscar que o condutor faz todos os dias, se usar um mordente impregnado
de odor, estará adestrando seu cão nos exercícios básicos de proteção,
obediência e faro, independente da ajuda de outros militares. Sempre que
possível, o condutor fará uso da ajuda de outros militares, atuando como
auxiliares, escondendo droga/explosivo/munição/cadávers ou ajudando
na caixa holandesa. O adestramento inicia o mais cedo possível. A partir
154
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

de 6 semanas é possível despertar e estimular o impulso por caça através


da busca de bolinha ou mordentes em movimento e cabo de guerra. Cada
cão tem um tempo que pode permanecer estimulado na busca. Um cão
novato pode permanecer bem concentrado por 15 a 20 minutos, a
persistência aumenta com a experiência do cão. O condutor tem a obrigação
de reconhecer quando o cão está perdendo o foco. Neste momento, se
afasta do local da busca e dá alguns minutos de folga, oferece água, coloca
na viatura ou caixa de transporte e retorna ao ponto em que parou. Na
área de busca e esconderijos serão montados de maneira que um cão
iniciante não procure mais do que 10 minutos. Tomando esses cuidados, o
cão maduro, bem condicionado fisicamente, com impulsos altos, pode
trabalhar várias horas com tantos intervalos de descanso que se fizerem
necessários. Em condições climáticas severas, os tempos de trabalho
diminuem e os intervalos de descanso aumentam. Em condições climáticas
adequadas, em aeroportos, outros lugares frescos ou com disponibilidade
de ar condicionado, o cão pode trabalhar por mais tempo. Durante a noite,
o animal sempre renderá mais, será preciso menos conjuntos para realizar
o mesmo trabalho à noite do que embaixo de sol.
Mesmo em situação real de busca, condutor usa o mordente com
odor da droga e incentiva seu cão. Se estiver muito agitado ou começando
a ficar desestimulado, um exercício fácil é montado com papel filtro
impregnado de odor de droga. Caso a busca demore muito, o condutor
leva o cão para este local e, quando acertar, será premiado com vigoroso
jogo de cabo de guerra e de buscar e guardado em sua caixa para descansar.
Após descanso, será levado ao ponto onde a busca foi interrompida.
Água limpa é oferecida regularmente, um cão com sede tem o faro
prejudicado. Quando a área de busca for grande como uma casa, galpão
ou terreno baldio, a área de busca é dividida em vários setores menores,
para manter sempre o cão motivado. O condutor assessorara o comandante
da operação para empregar o cão à noite ou ao amanhecer, o cão se
manterá mais tempo apto para o trabalho do que durante as horas mais
quentes do dia. Se não for possível, como é um dito militar, o condutor não
“cansa a noiva”, o cão é mantido em local fresco e levado sem ser cansado,
desnecessariamente, até o local da busca. Cães que trabalham na fronteira
dos EUA com México descansam em canis com ar condicionado, mas
trabalham procurando em uma linha de carros no asfalto, 24 horas por
dia, inclusive no sol do meio dia.
O condutor nunca comanda o cão para buscar gratuitamente. O
condutor deixa bem claro ao cão que o trabalho iniciará e cria um ritual
155
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

para isto. Como exemplo, retira o enforcador e coloca a guia na peiteira,


chega próximo ao local e começa a excitar o cão com o comando para
buscar.
Alguns cães trabalham melhor quando excitados verbalmente, outros
se distraem, o condutor identificará o melhor para seu cão.
O cão é mantido em condição corporal excelente: quando
examinado por cima e pelo lado tem cintura bem destacada, abdome mais
estreito do que o peito. Registrar qual o peso que o cão adulto tem melhor
desempenho e será mantido nesse peso, sendo, regularmente examinado
pelo Oficial Veterinário. Dor de ouvido (otites), verminoses, pulgas,
carrapatos, sarna, etc. prejudicam e até impedem a concentração do cão
no trabalho.
Para detecção de narcóticos, armas, munições ou explosivos em
pessoas pode ser empregada uma tela entre elas e o cão para que este
não entre em contato com as pessoas a serem farejadas.

5.24 ACIDENTES
O condutor sempre carrega água oxigenada a 10 volumes. Se o cão
ingerir algo suspeito, droga ou veneno, imediatamente o condutor força
na boca do cão, com uma seringa sem agulha cerca de 40 a 80 ml de água
oxigenada. Espera por 10 minutos, se o cão não vomitar, repete o
procedimento. Alguns cães precisam de muita água oxigenada para induzir
o vômito. O condutor saberá como localizar o Oficial Veterinário da OM ou
o veterinário que presta assistência em caso de acidente em qualquer
horário. Carrega, também, sempre uma cordinha ou focinheira para
amordaçar o cão. Um cão machucado pode morder por defesa.

5.25 INTELIGÊNCIA
É fundamental existir a total colaboração entre as agências que
usam cães de detecção. As agências trocam informações de apreensões e
eventuais artimanhas dos traficantes e contrabandistas para camuflar as
drogas, para esconder armas e munições, e explosivos que podem ser
usados em assaltos a caixas eletrônicos ou terrorismo. Estas preciosas
informações serão usadas para incrementar o realismo dos exercícios. As
equipes que adestram cães, frequentemente, precisam receber amostras
de apreensões recentes para adestramento. Eventuais adestramentos com
amostras grandes de droga (um quilo ou mais) ou explosivos são
programadas com a segurança necessária com apoio das delegacias
156
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

especializadas. Cães são adestrados em todas as situações possíveis de


serem encontradas na atividade real, grandes ou pequenas quantidades,
amostras mais ou menos concentradas.
Faz parte do profissionalismo e preparação da SCG realizar
competições com outras agências (Delegacia de Polícia de Tóxicos, Polícia
Militar, Polícia Rodoviária Federal, Guardas Municipais, unidades
especializadas em explosivos das polícias). Toda e qualquer dificuldade
de relacionamento, política de trabalho e regulamentos são superados. A
tendência é que cada vez mais haja a criação de forças tarefas,
principalmente com os desafios do Brasil ser sede das Olimpíadas e outros
grandes eventos internacionais. A cada mês, alguma instituição pode ser
anfitriã da competição e ser encarregada para montar cenários mais
próximos das últimas apreensões relevantes. Tudo será registrado no diário
de adestramento. Se outra corporação/agência tem índices de acertos
melhores em maconha que o conjunto ou a SCG, todos perguntam, pedem
ajuda, aprendem com quem tem melhores resultados. Nessas competições,
com mais cães e segurança apropriada, quantidades maiores e mais
recentes de drogas e explosivos podem ser providenciadas. Cães precisam
ser adestrados para achar quantidades de drogas maiores, com grau de
pureza diferentes. A pureza das drogas apreendidas na praça da cidade
pela PM é diferente da pureza apreendida pela Polícia Federal em aviões
ou barcos. Marcas comerciais diferentes da mesma classe de explosivos
podem ter algumas diferenças de odor.
- Tenha a iniciativa, pois não receberá ordens para todas as
situações. Tenha em vista o objetivo final;
- Procure a surpresa por todos os modos; surpreenda mas
não seja surpreendido;
- Mantenha seu corpo, armamento e equipamento em boas
condições;
- Aprenda a suportar o desconforto e a fadiga sem queixar-
se e seja moderado em suas necessidades;
- Pense e aja como caçador, não como caça;
- Combata sempre com inteligência e seja o mais ardiloso.
Leis do Guerreiro de Selva

157
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

158
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

CAPÍTULO 6

EMPREGO DO CÃO DE GUERRA

6.1 REGRAS DE ENGAJAMENTO


As regras de engajamento limitam e ao mesmo tempo amparam o
uso de força e coerção, com base no arcabouço legal do estado democrático
de direito. São conceitos básicos das regras de engajamento garantir a
segurança, direitos individuais e humanos do oponente através do uso de
força mínima proporcional e progressiva e que cesse tão logo seja possível,
bem como limitar ao máximo danos colaterais. Regras de engajamento
claras também protegem o agente público.
O Chefe da SCG, juntamente com o Comandante da Unidade ou da
Missão, estabelece regras muito claras de engajamento do cão de guerra.
Deixar a decisão de empregar o cão como conduta individual é caminho
certo para o desastre. Regras de engajamento podem e devem variar,
dependendo dos riscos, terreno e inteligência sobre força oponente. O
Exército não pode ser desmoralizado em missão, mas também evitará ao
máximo o emprego de força letal. O cão de guerra se presta muito bem
para isto ser for empregado com regras de engajamento muito claras, que
protegerão o condutor de consequências disciplinares ou até penais. O
uso inadequado pode acarretar em desgastes com opinião pública, o
condutor pode ser responsabilizado por transgressões disciplinares ou
mesmo crimes militares. O cão é uma ferramenta policial e militar e a
instituição tem que ter responsabilidade para seu emprego. Mesmo
treinado, uma vez comandado para morder, não há como controlar a
gravidade da lesão – a semelhança do que ocorre com uma arma de fogo
disparada.
As regras de engajamento incluem decisões como emprego do cão
com focinheira ou sem; cão na guia ou solto levando em consideração a
periculosidade do oponente e risco para militares.
O Chefe da Seção de Cães de Guerra orienta incansavelmente sua
equipe para evitar desgastes desnecessários, que podem acarretar efeitos
159
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

desastrosos para credibilidade do emprego do Cão de Guerra. Muitas vezes,


o militar jovem e inexperiente fica frustrado por não atuar em missão real,
que seu cão não atacou ou mordeu alguém. O Chefe SCG orientará que
não existe missão mais real do que a segurança de instalações, em tempo
de paz ou em conflitos, e que o papel principal do cão é de dissuasão, uma
bom conjunto é avaliado pelo número de eventos que possibilitou que não
fosse empregada força maior, não pelo número de pessoas que o cão
mordeu.
Tanto a ausência de um conjunto de regras de engajamento, quanto
um conjunto de regras impreciso, podem culminar em complicações legais
sérias. Entre outras podem ser citadas: abuso de poder e lesão corporal.
Há também aquelas transgressões disciplinares previstas no Anexo I do
Regulamento Disciplinar do Exército: “...causar ou contribuir para a
ocorrência de acidentes no serviço ou na instrução, por imperícia,
imprudência ou negligência; não zelar devidamente, danificar ou extraviar
por negligência ou desobediência das regras e normas de serviço, material
ou animal da União ou documentos oficiais que estejam ou não sob sua
responsabilidade direta, ou concorrer para tal; usar de força desnecessária
no ato de efetuar prisão disciplinar ou de conduzir transgressor”.
O código civil torna possível o pleito para compensação financeira
de dano causado por animal: em seu artigo 936: “.. O dono, ou detentor, do
animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima
ou força maior.”. Se o emprego do Cão de guerra causar dano e não estiver
amparado legalmente, haverá reparação financeira do dano causado”.
O Artigo 43 do código Civil normatiza o direito regressivo “… As
pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis
por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros,
ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por
parte destes, culpa ou dolo”.
Isto significa que uma pessoa mordida em situações nas quais não
haja amparo legal ou em condições de crime ou transgressão (abuso de
poder, tortura, uso por militar não habilitado, negligência, imperícia ou
imprudência) a vítima pode pleitear indenização ao processar a União e
esta pode processar o militar responsável pela ilegalidade.

6.2 USO DE FORÇA MÍNIMA PROPORCIONAL E PROGRESSIVA


Em qual posição na escala de uso de força que o emprego do cão
de guerra está classificado? Em alguns estados americanos, está logo
160
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

abaixo do emprego de força letal (arma de fogo), mas o uso de força letal
é mais permissivo que a legislação brasileira; fugitivos de cenas de crime
de estupro ou assassinato podem ser contidos, caso se neguem a parar,
com emprego de força letal, bem como suspeitos que possam estar
armados e se aproximam de policiais, não respondendo a ordem de parar
e se render. Na maioria dos estados americanos, a relutância em seguir
ordens de um policial é equivalente a resistência à prisão e é pouco
tolerada. Em alguns estados, praticamente todos policiais portam pistolas
de choque “tasers” junto com a arma curta de serviço; já os condutores de
cães não utilizam esta pistola, apenas tonfa e arma de fogo, para justificar
o emprego do cão. Na legislação alemã, o cão é considerado auxiliar do
policial, se o policial não conseguir agarrar ou dominar um suspeito que
resiste, pode, imediatamente, empregar o cão, ou seja, na escala de uso
de força, o emprego do cão está legalmente muito disponível para a Polícia
Alemã.

Posição na escala de uso Posição na escala de uso de Posição na escala de uso de


de força em alguns força na Alemanha, força no Brasil
estados americanos previsto em Lei

Contenção Contenção
físic a; Algem as; Agentes física;Emprego do
químic os,bastão ou
tonfa;Taser (pistola de
cão;Algemas;Agentes
químic os,bastão ou
?
choque);Emprego do tonfa;Taser (pistola de
cão;Munição de baixa choque);M unição de
letalidade ou não ba ixa letalidade ou não
letalArma de fo go. letalArma de fo go.

Lamentavelmente, a lei brasileira define apenas uso de força mínima


proporcional e progressiva, mas não explicita onde o cão seria encaixado
nesta escala, ficando o agente da lei e o militar em serviço potencialmente
sujeito a discussão deste ponto em uma ação judicial posterior. O Exército,
em missão, não pode ser desmoralizado e o emprego do cão garantirá
cumprir a missão, escalar o uso de força mas ainda sem emprego de força
letal. Dentro da lei brasileira, a posição na escala do uso de força não está
precisamente definida, mas algumas situações embasam legalmente o
emprego do cão de guerra:
- Legítima defesa do condutor, ou legítima defesa de terceiro;
161
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

- como escalonamento proporcional no uso de força, quando outros


recursos não funcionam, oferecem risco ou não estão disponíveis no estrito
cumprimento do dever legal;
- como um recurso para não escalar ainda mais o uso de força.

6.3 LEGÍTIMA DEFESA DE SEU CONDUTOR


O uso do cão na proteção do condutor é claro e pacífico, não há
dúvida. O condutor é um militar em serviço, tem o dever de cumprir a
missão, não pode permitir ser desmoralizado. Se for agredido ou houver
ameaça de agressão, pode e deve usar o cão em sua legítima defesa, da
mesma maneira que usaria tonfa ou a faca de trincheira ou mesmo a pistola
de serviço. O que caracteriza defesa é a proximidade do suspeito do militar,
o risco real ou presumido e a proporcionalidade da reação. O cão de guerra
pode ser usado na legítima defesa de terceiros.

6.4 RESISTÊNCIA A PRISÃO/DETENÇÃO


O cão é empregado quando outros recursos não letais como tonfa,
spray de pimenta ou gás lacrimogêneo não funcionam ou não estão
disponíveis. É usado como apoio quando os militares envolvidos na
operação não estão dominando a situação. Algumas vezes, mesmo com o
suspeito desarmado, os militares envolvidos podem ter dificuldade, como
um oponente de porte físico superior aos militares, sob efeito de álcool ou
drogas; ou quando o oponente luta artes marciais.
As pistolas de choque (taser) tem a indicação do fabricante para
ser usada uma única vez. Uso de múltiplos disparos, principalmente em
oponentes sob efeito de drogas, álcool, molhados, descalços já matou
nos Estados Unidos e Austrália. Nas situações de risco apresentadas, o
cão é mais seguro para o oponente que resiste do que a pistola de choque.

6.5 PRESUNÇAO DE VIOLÊNCIA


Algumas situações, o oponente pode ameaçar estar armado, mas
há suspeita ou informações de que ele não esteja armado. O cão pode ser
empregado para resolver o impasse protegendo a vida do suspeito e da
guarnição. Ou o suspeito apresenta a arma de fogo e dispara, justificando
neste momento o uso de força letal pelos militares, ou o cão irá contê-lo
de maneira segura preservando a vida do oponente. Um suspeito com
arma branca, bastão ou seringa que ameaça ter sangue contaminado, não
justifica o emprego de arma letal, mas embasa o emprego do cão de guerra
para segurança dos militares. Uma vez liberado para apreender o suspeito,
162
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

o cão é apoiado pelos militares, com uso de tonfas, agentes químicos e


escudos até que o oponente seja completamente dominado.
Um ameaça presumida embasa legalmente o emprego do cão. Um
exemplo de ameaça presumida é um suspeito alegar que tem uma arma e
ameaçar a guarnição de serviço que vai atirar e, após emprego do cão, o
suspeito é dominado e revistado e somente então é percebido que não
havia arma alguma. A mesma situação ocorre se o suspeito simula ter
arma de fogo, com volume escondido embaixo de vestimenta, ou tenta
simular estar armado com qualquer outro objeto.

6.6 CONTROLE
Outra questão importante para o engajamento é o condutor ter
condições de suspender o ataque do cão quando o oponente se submeter
ou for submetido e contido. O que protegerá legalmente a instituição é o
condutor ter e demonstrar controle sobre o cão de guerra.Caso chegue na
esfera judicial, a lesão corporal causada no infrator será justificada desde
que tenha cessado imediatamente com a imobilização do suspeito.

6.7 CONDICIONAMENTO DO CÃO


A preparação bem conduzida desde as primeiras sessões
condicionou o cão para morder de boca cheia, apreender o suspeito e não
largar a não ser sob comando. O cão treinado corretamente, do ponto de
vista legal e de segurança do condutor, não troca o local da mordida, uma
vez que apreenda o suspeito no braço, perna, costas, e mantem a mordida
até receber o comando para soltar. Esse tipo de mordida somente é
conseguido com adestramento correto do cão, e pode ser verificado nas
provas de habilitação. A certificação semestral dos cães em provas de
habilitação com exercícios que demonstram claramente o controle do
condutor sobre seu cão e o tipo de mordida desejável é outro forte pilar
para a proteção legal da instituição e do condutor. Qualquer mordida no
rosto, muitas mordidas pelo corpo ou mordida em genitais podem expor a
instituição, o militar pode responder por uso abusivo de força ou de poder.

6.8 PROCURA POR SUSPEITO EM UMA ÁREA SEM FOCINHEIRA


Nas situações em que o cão tenha que percorrer alguma distância
para engajar o oponente, a caracterização de defesa do condutor pode ser
questionada, então não pode haver dúvidas para justificar o emprego do
cão para o estrito cumprimento do dever legal.
163
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

A procura é uma situação em que há indícios ou informações de


invasão de uma instalação, ou o suspeito ou intruso que vinha sendo
perseguido não é avistado mais pelos militares, foi perdido de vista.
O cão pode ser liberado para procurar sem focinheira quando a
aproximação do grupo de intervenção rápida oferece risco aos militares.
Para optar pela procura sem focinheira, o comandante da operação
questionará a real necessidade de empregar o cão. Avaliará o risco oferecido
pelo oponente com as informações disponíveis, grau de confiança que
pode depositar nelas, possibilidade presença de militares ou pessoas na
área além do suspeito; a possibilidade de empregar qualquer outro recurso
que não seja o cão, condições para o condutor fazer a segurança ou apoiar
seu o cão sem correr riscos desnecessários e capacidade para o condutor
se aproximar do local de combate e suspender o ataque tão logo submeta
o suspeito.
Somente se estiverem próximos o suficiente, os militares serão
capazes de comandar o cão suspender o ataque, afastá-lo de elemento
que não seja objetivo da operação – embriagado, mendigo ou outro militar,
ou apoiá-lo no combate. O cão será apoiado com o uso de tonfa, escudo
ou arma de fogo.
O uso do cão para procurar e apreender o suspeito será muito bem
definido nas regras de engajamento da operação. É possível e razoável
que o Comandante da operação não autorize este emprego, não autorize o
cão ser solto para perseguir o suspeito. Esta decisão é do Comandante da
operação, mas será tomada e divulgada antes do início da operação de
procura.
A apreensão de fugitivo em área de circulação restrita, dentro do
quartel, é emprego pouco provável, a utilização do cão pode causar maior
dano que benefício. O amparo legal para o uso de força para impedir a
fuga é bastante limitado, e qualquer erro pode ser enquadrado como uso
abusivo de força. A fuga será impedida pela guarnição de serviço, mas
ela não é tipificada como crime. Se existem meios melhores e com menor
risco, tanto para militares como para oponentes, estes meios são
empregados no lugar do emprego do cão.
Será levado em consideração que o suspeito pode ser detido em
outra situação ou por outros meios. Se o cão for solto em uma área aberta,
ou sem controle e o cão morder uma vítima inocente, este acidente trará
prejuízos irrecuperáveis para a imagem profissional do uso do Cão de guerra.
O alerta padronizado dito em voz alta antes do emprego do cão é
obrigatório mas não é suficiente em área aberta como campo, mato ou
164
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

parques, pois podem haver crianças, surdos, mendigos, pacientes com


Alzheimer, portadores de necessidades especiais, e pessoas sob efeito
de álcool ou drogas ou medicamentos.
O Comandante da operação pode cogitar a possibilidade de
empregar o cão na procura com focinheira, especialmente se o cão for
treinado para achar e latir e o condutor puder ficar próximo do cão sem se
expor.
Pode também determinar a entrada de grupo tático com o cão em
guia longa, com ou sem focinheira.

6.9 RESISTÊNCIA PASSIVA


Não empregar o cão em uma situação de resistência passiva. Ela
ocorre quando um grupo de cidadãos fica imóvel, não agride ou sequer
ameaça, nem oferece risco ao patrimônio, mas protestam bloqueando a
rua ou entrada de prédio público ou uma grande empresa. Usualmente, a
causa defendida tem apelo positivo perante a opinião pública e extrema
cautela é tomada em qualquer ação, pois qualquer incidente pode macular
a ação do Exército. Como exemplo, a situação ocorrida em uma cidade do
interior de Minas Gerais, onde jovens se amarraram a árvores centenárias
e o Prefeito, recém-empossado decidiu cortar sem indicação de
especialistas como biólogos ou engenheiros agrônomos. A ação do efetivo
local da Polícia foi enérgica, fraturando o braço de um dos jovens e a
reação pública foi imediata e muito negativa. O Comandante da Operação
poderia ter reservado mais tempo para retirar os jovens, e cumprido sua
missão. Este tipo de manifestação é comum na Europa e a Polícia,
pacientemente, retira um a um e imobiliza com algemas plásticas
descartáveis. Os manifestantes ficam com as mãos e pés presos às costas
e são colocados em viaturas. Cães ficam a distância, são empregados
apenas se algum manifestante agride um policial ou foge, enquanto não
houver agressão ou fuga, os cães não atuam. O cão é parte do plano, não
é o plano. Se existem outros instrumentos melhores para determinada
situação, o cão não é usado. Se há indicação de emprego e de engajamento,
mas o conjunto disponível não está habilitada para tal missão, também
não é empregada. Não é por que o cão está próximo à situação que será
usado obrigatoriamente. Outros recursos podem ser empregados antes
do uso do cão como retirar o cidadão com força física de militares, spray,
gás ou pistola de choque. Na foto abaixo, pode-se verificar o uso incorreto
do cão, há outros recursos que garantem proporcionalidade de força.
165
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Oponente oferecendo resistência Lutas por direitos civis, igualdade


passiva permanece imóvel, não ameaça racial, Birmingham, Alabama 1963,
os policiais. Exemplo de emprego Foto correu o mundo como exemplo
incorreto do cão. de truculência policial.

6.10 ABUSOS
Como qualquer arma considerada não letal, há oportunidades de
abuso. A má utilização do cão de guerra foi divulgada no mundo inteiro,
com fotos de uma prisão do Iraque, o uso dos cães para torturar os detentos
ficou evidente.
Outro risco é o militar por displicência permitir que imagens sejam
feitas estando muito próximo de presos ou detidos, o cão sem focinheira,
e estas imagens serem divulgadas como tortura. Atualmente existe grande
disponibilidade de celulares, óculos ou canetas que fotografam e filmam,
o condutor tem o compromisso com a imagem e com a instituição para
estar atento para demonstrar uma conduta impecável e inconfundível o
tempo inteiro.

Abuso como tortura, cão muito próximo de oponente rendido Prisão militar
Americana de Abughraib no Iraque, dez. 2003: evidente emprego do cão como tortura.

166
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

6.11 USO DA FOCINHEIRA


Como uma regra básica a ser seguida o cão sempre será conduzido
na guia, curta ou longa e com focinheira.

Cães do 5º RCMec

A focinheira será retirada mediante ordem ou por algum motivo


pertinente com imediata possibilidade de uso, como dissuadir, proteger
ou apreender oponente.
A figura abaixo mostra uma Ministra de Estado da França sendo
mordida durante sexagésimo aniversário do dia D, por um Pastor de
Malinois da Polícia daquele país, famosos no mundo pelo profissionalismo.
Incorretamente, o cão estava sem focinheira.

Cão morde Ministra de Estado da França, cão estava sem focinheira.


167
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

6.12 TRIANGULAÇÃO PARA ABORDAGEM E NEGOCIAÇÃO


O condutor prevenirá o abordado para colaborar, caso contrário o
cão poderá ser empregado. O alerta será proferido em alto e bom som, de
maneira clara para oponente local. Especial atenção será dada a áreas de
fronteira, operações internacionais de paz, eventos de vulto, esportivos,
culturais ou políticos com presença de estrangeiros. O alerta é padronizado
e e treinado para a missão ou evento, exemplos de alerta:
-”Somos militares do Exército, pare com as mãos na cabeça ou
soltaremos cão!”.
- “Cidadão, esta é uma área militar e somos os responsáveis pela
segurança. Fique parado! Nós vamos verificar sua identidade”
“O condutor na abordagem triangula com seu cão, cujos vértices
do triângulo são condutor, cão e suspeito abordado. A triangulação inibe
reação por parte do suspeito, pois sabe que terá que optar em atirar no
cão ou no condutor. O cão atrai mais atenção do suspeito que o condutor,
aumentando suas chances de sobrevivência em caso de reação. O condutor
não pode prejudicar a tática por causa do cão, jamais fica de costas para
o suspeito e não se distrai com o cão. O objetivo maior do emprego do cão
é agregar segurança para condutor e suspeito. Se o cão for empregado,
significa que foi deixado de usar força maior, talvez até força letal, se não
for empregado, mas dissuadiu o suspeito de reagir fisicamente, evitou
emprego de força física, risco de acidentes ou até mesmo complicações
judiciais desnecessárias.
O cão será comandado para deitar em todas as situações em que
for necessário maior controle, como nas revistas, após receber o comando
para largar, durante a guarda. A posição deitado bem condicionada é a
mais estável mesmo com fortes distrações, como agitação do oponente
ou tiro disparado. O cão é muito rápido, e proximidade exagerada com o
revistado pode agitar um cidadão que até então colaborava. Cães muito
agressivos se tornam difíceis de controlar se deixados muito próximos. A
distância exata para que o cão cumpra bem sua função de proteger sem
colocar em risco desnecessário para o abordado será estabelecida por
seu condutor durante os treinamentos.
Movimentação da patrulha durante revistas e prisões:
- Durante as revistas e prisões, enquanto o cão guarda deitado a
distância que seu condutor tenha pleno controle, inclusive tempo tempo
de repetir o comando caso cão se levante, ao mudar de lado ou de indivíduo
revistado, o revistador nunca cruza à frente do cão ou do segurança, passa
por detrás dos dois, respeitando o chamado “triângulo de segurança”.
168
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Esquema de movimentação do condutor no triângulo de segurança.

Figura 7 triângulo imaginário de segurança.

Triangulação: sempre o cão em um dos vértices do triângulo, condutor manda o cão


deitar e se afasta lateralmente, antes de abordar o revistado.Isto cria dois alvos
distintos para o suspeito, o que diminui em muito as chances de ele reagir

6.13 APOIO DO CONDUTOR


O condutor sempre apoia o cão com uso de força mínima
proporcional e progressiva, respeitando a escalada de uso de força
determinada nas regras de engajamento da operação. Usualmente, a
escala a ser seguida é uso de força física, tonfa, spray, pistola de choque,
somente chegando no emprego de arma letal se estritamente necessário.

169
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Figura 10 Condutor sempre ajuda o cão, com uso força mínima e


proporcional até imobilização do oponente.

O condutor derruba o oponente e o imobilizá, e somente com ele totalmente sob


controle, manda o cão soltar (SCG da EsSA)

A primeira preocupação é dominar e conter o suspeito, sem se expor


ou expor outros militares. Cuidado com áreas não checadas, muitos
condutores se preocupam em retirar o cão do suspeito avançando sem
proteção, se afastando do militar que lhe dá segurança. É preferível manter
o cão no combate por mais alguns instantes e se aproximar de maneira
tática correta.
O condutor primeiro auxilia o cão, derrubando oponente com
cassetete, escudo, ou força física, conjunto cão e condutor dominam o
oponente no chão e o cão somente é tirado do oponente quando este
estiver controlado, algemado ou imobilizado com a tonfa. O conjunto treina
como combate, combate como treina, a conduta esperada na situação
real é aquela que é exaustivamente treinada.
170
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

6.14 REVISTAS DE PESSOAL


O cão é muito eficaz no auxílio à patrulha em revistas de pessoal.
Usualmente, a mera presença do animal inibirá qualquer resistência. É
importante salientar que ao empregar o cão em uma revista, torna-se
necessário alertar o(s) indivíduo(s) revistado(s) da possibilidade de
concretização de mordida pelo cão policial em qualquer tentativa de fuga
ou agressão; isto causará um grande efeito moral, facilitando o trabalho
do revistador, além de prevenir mordidas desnecessárias. Os elementos
revistados poderão ser posicionados em pé sem apoio, em pé contra uma
parede ou anteparo, ajoelhados ou deitados; a escolha para a posição
será dependente do risco da situação, local e piso disponível,
periculosidade do elemento revistado ou nível de resistência empreendida.
O revistador será sempre o condutor do cão, e será também quem
comandará os atos e o posicionamento do revistado durante a abordagem,
enquanto o segurança (se houver) guarnecerá o procedimento. Caso haja
mais de um indivíduo a ser revistado, ao término da revista de cada um, o
condutor tomará posição ao lado direito do cão (que permanece deitado)
e comandará ao indivíduo já revistado para que se desloque lateralmente
e lentamente três passos, comandando em seguida para que o próximo
tome lentamente a posição do anterior para ser revistado, e assim por
diante. Na rotina policial serão encontradas basicamente as seguintes
situações:
- Revista de pé sem apoio: Forma de revista adotada em abordagens
de rotina e de baixo risco, não havendo no local uma parede ou anteparo
adequado. O revistado será postado de pé, com as pernas abertas, mãos
na cabeça, dedos entrelaçados, e de frente para o cão, que estará deitado
a três passos de distancia. O revistador mudará de lado passando por
detrás do revistado.
- Revista de pé com apoio: Forma de revista adotada em abordagens
de rotina e de baixo risco, havendo no local uma parede ou anteparo
adequado. O revistado será posto com as mãos abertas na parede,
distantes entre si, região superior da cabeça encostada na parede, pernas
abertas, distantes entre si e da parede. O cão estará deitado a pelo menos
5 passos atrás do revistado, e um pouco deslocado lateralmente para que
esteja ainda dentro do campo visual do revistado (o que aumenta seu
efeito de dissuasão. O revistador mudará de lado passando por detrás do
cão.

171
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

- Revista ajoelhado: Forma de revista adotada em situações de risco


presente ou em indivíduos suspeitos, e, se o piso disponível for adequado
(limpo). O indivíduo será posto ajoelhado, joelhos afastados, pernas
cruzadas, mãos na cabeça, dedos entrelaçados, e de frente para o cão,
que estará deitado a pelo menos 5 passos de distancia. Ao mudar de lado
o revistador passará por detrás do revistado.
- Revista deitado: Forma de revista adotada em situações de alto
risco, em indivíduos de comprovada periculosidade, ou após reação ou
embate com o cão ou militares. O revistado será posto deitado, pernas
cruzadas, mãos para trás (punhos cruzados nas costas), com o cão deitado
dois passos a sua frente. Nesta situação as algemas serão colocadas antes
de se efetuar a revista.

6.15 UTILIZAÇÃO DE AGENTES QUÍMICOS E FUMAÇA


Emprego combinado de agentes químicos e cães aumentam a
eficiência e melhoram as chances de sobrevivência do oponente e dos
militares, usados, especialmente, com elementos abrigados ou em
tumultos.
O cão será habituado a obedecer seu condutor com máscara, treinar
antes sem emprego de agente químico algum, a obediência por gestos é
explorada para reforçar comandos verbais. Os conjuntos são treinados
nas várias técnicas de disseminação do agente químico – spray, jato ou
granadas.
Usualmente, cães são bem mais tolerantes do que humanos ao CN
e ao CS, mas existem indivíduos que se ressentem demais e o condutor
descobrirá as sensibilidades individuais de seu cão ao treinar com agentes
químicos disponíveis na OM/missão.
CN = loroacetofenona, é o melhor químico para usar com cães
CS = Ortoclorobenzilideno-malononitrilo, o cão tolera menos do que
CN.
CR = Dibenzo(b,f)-1,4 – oxazepina.
DM = Difenilamina clorarsina.
Capsicum = (Oleoresin capsicum) – cães são muito sensíveis
Os cães, naturalmente, se ressentem de fumaça e o conjunto investe
tempo e dedicação para habituar o cão, mas como não são agentes
irritantes, os condutores podem negligenciar e não treinar o suficiente. O
condutor treina buscas de objetos lançados sob proteção de fumaça com

172
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

o cão, primeiro entra junto com o cão e depois estimula o cão a entrar na
área de fumaça agitado pelo figurante.
Cães militares devidamente treinados toleram muito bem as
Granadas de efeito moral, e ficam condicionados com a explosão como
um marcador sonoro do início da ação. Empregar cães militares que não
foram devidamente dessensibilizados e habituados ao estouro das
granadas é desastroso.
Cães são descontaminados dos agentes químicos para seu conforto
e dos humanos que irão manipulá-los. Usar água corrente abundante, sem
esfregar, esfregar apenas faz com que a química penetre no pelo. Galões
de água são levados na viatura, para oferecer água para os animais e,
como primeira descontaminação, tão logo seja possível, lavar o cão com
água fria abundante em uma mangueira de jardim, por exemplo.

6.16 UTILIZAÇÃO DE LANTERNA


O uso correto da lanterna, combinado com a tática adequada para
a situação são ferramentas poderosas para o cumprimento da missão e
sobrevivência do militar, o uso incorreto pode ser fatal.
O militar sempre porta lanterna para uso dentro instalações, mesmo
durante o dia. Depósitos abandonados, fechados, podem estar escuros e
o suspeito vai procurar cantos, sótãos e porões para se esconder. O melhor
emprego do cão é à noite, condutores de cães precisam dominar a técnica
correta do uso da lanterna. O militar escolhe pelo menos duas lanternas
confiáveis para portar. Com foco ajustável, com pilhas recarregáveis. O
militar leva pilhas descartáveis de excelente qualidade para serem usadas
em caso de necessidade, devidamente impermeabilizadas. Lanternas
acopladas ao armamento facilitam o trabalho do condutor, lanternas que
precisam ser pressionadas para ligar são mais seguras, permitindo ligar e
desligar sem fazer barulho e, caso o condutor seja atacado pelo suspeito
ou tropece e caia, a lanterna vai desligar, não expondo o militar à luz.
A lanterna facilita o deslocamento do grupo de força de reação/
assalto/intervenção rápida, mas pode denunciar a presença da equipe;
pode ser usada para sinalizar posição para outros militares. O militar que
não está acostumado a trabalhar no escuro vai usar exageradamente a
lanterna. Nem cão nem companheioros da fração são iluminados, pois se
exporão como alvos. Se for preciso achá-lo, o militar dá toques na lanterna
e apaga até achar o cão. A luz da lanterna também prejudica a visão noturna
do cão.
173
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Em caso de abordagem noturna ou em local que não penetre luz


natural, o militar que estiver à frente poderá acionar a lanterna longe do
corpo de forma intermitente e só quando houver necessidade. Todo cuidado
é pouco para quem aciona a lanterna, pois denuncia a posição do militar.
A luz da lanterna não pode denunciar a silhueta de um companheiro nem
do cão. O militar acende e apaga a lanterna como se fosse “flash” de
maquina fotográfica; o militar pode fechar um dos olhos para, ao apagá-
la, não ter problemas de adaptação.
A visão noturna vai ficar momentaneamente prejudicada com o
emprego da lanterna, o militar espera alguns segundos antes de sair da
posição coberta/abrigada.
No caso de portas e janelas, o condutor ou segurança coloca a
lanterna em uma fresta na porta, janela ou buraco, para que outro militar,
em outro ponto, observe o interior do cômodo; pode-se usar, também, a
lanterna afastada da linha do corpo, com o objetivo de iluminar o ambiente
para que outro militar faça o apoio de fogo e verifique o local; a lanterna
pode ser conduzida junto à arma de porte apontada para os pontos de
perigo iminente, quando a possibilidade de tiro de defesa for real. Caso a
opção seja de afastá-la do corpo, o trabalho de iluminação será feito para
que outro militar faça o apoio de fogo para o local focado; dirigindo o foco
da lanterna para o teto ou parede do cômodo a ser revistado, melhora a
visibilidade por luz indireta, mas com cautela para o próprio militar não
ficar visível com luz indireta. Usando essa técnica em banheiros de
alojamentos, pode-se produzir sombra do suspeito pelo espaço das portas.
Iluminar diretamente no rosto do suspeito pode desorientá-lo, o
militar pode manter a lanterna focada ou alternar focar no rosto e outro
ponto.
O militar treina tiro com lanterna e emprega a técnica adequada
para o tipo de armamento que usa.
Duas técnicas consagradas:
MÉTODO FBI – consiste em transportar a lanterna distante do corpo,
de forma a confundir o opositor. No entanto, cria um desconforto para a
execução do tiro, já que o braço estendido lateralmente e paralelo ao
solo, acaba por cansar o policial.
MÉTODO HARRIES – o atirador posiciona-se, ligeiramente, de lado
em relação ao alvo, com os braços fletidos, estando a arma em uma mão
e a lanterna na outra e as costas destas se encontram e se apoiam

174
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

mutuamente, proporcionado firmeza e inércia, que favorecem ao tiro de


combate; o braço que segura a lanterna passa por baixo do outro que
empunha a arma.

6.17 POSIÇÕES DE TIRO COM O CÃO


O conjunto pratica no stand de tiro pelo menos duas vezes por ano,
condutor atira com o cão a seu lado. O treinador fica ao lado ou atrás para
corrigir o cão. O cão não demonstra agressividade ou medo. Quando for
revista ou abordagem, a melhor posição é a triangulação, na qual o cão
ficará a dois metros do condutor. Em situações de risco ou ameaça iminente,
o cão tem que ser condicionado a sentar ou deitar quando seu condutor
ajoelhar ou deitar e sacar a arma.O cão está habituado não só ao tiro, mas
com os movimentos do condutor em sacar, remuniciar, travar, destravar,
etc. O condutor maneja a arma sempre olhando para o alvo, sem se
descuidar do suspeito, não pode ser distraído pelo cão. Não é um exercício
fácil, é exaustivamente treinado. Militar sua nas sessões de treinamento
para não sangrar na situação real. Toda a equipe trabalha seguindo as
técnica e táticas preconizadas, sem prejuízo algum com a presença do
cão, pelo contrário, o cão agregará segurança e eficiência. O cão de guerra
é um instrumento de trabalho do grupamento, pelotão e não do seu condutor.
O comandante de pequena fração precisa saber como empregá-lo.

Posição de tiro ajoelhado com o cão entre as pernas do condutor,


a tendência é sempre o cão ficar mais abrigado

175
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Posição de tiro ajoelhado com o cão ao lado.


A tendência é sempre o cão se expor mais.

Posição de abordagem sentado.

Estas posições com a silhueta diminuída serão cobradas nas provas de habilitação
para anúncio, negociação ou decisão de lançar o cão. O condutor cria o reflexo
correto de abrigar-se ou cobrir-se.

176
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

6.18 BREVE HISTÓRICO DO EMPREGO DO CÃO DE GUERRA


O emprego do cão, desde as priscas eras envolve a proteção do
grupo, alertando com latidos e uivos, sem adestramento algum. Cães
criavam um perímetro de segurança, servindo de sentinelas, a vocalização
diante do risco é algo natural para o cão. Isto começou há pelo menos
10000 anos atrás, há registros em pinturas rupestres de cães auxiliando
homem em caçadas. Matilhas e grupos humanóides passaram a conviver
cada vez mais próximos, e este cães passaram a ter papéis mais
importantes na atividade de caça, proteção dos abrigos (cavernas e
grutas,etc) e na guerra.
No início da Primeira Guerra, os principais aliados, ingleses e
franceses não tinham cães treinados nem um centro de adestramento,
mas ao constatarem o emprego do cão de guerra pelo inimigo, trataram
de criar um centro de adestramento e tentar recuperar tempo perdido. Os
alemães já começaram o conflito com 6000 cães treinados para
mensageiros, sentinelas e cães para procurar feridos. Durante todo o
conflito, os alemães empregaram 30 000 cães mensageiros e de resgate,
os franceses perderam 3500 cães mortos em ação, 1500 desaparecidos e
no final da guerra, ainda tinham 15000 cães.
Em 1934 os alemães fundaram canis militares em Frankfurt e já
em 1939 tinham 50000 cães treinados. Durante a Segunda Grande Guerra,
os americanos treinaram apenas 10.425 cães, sendo 9.300 sentinelas,
especialmente para guarda costeira, cães e cavalos foram utilizados nas
praias americanas com receio de ação de comandos alemães e japoneses
lançados a partir de submarinos; 571 cães para patrulha, 268 para carga e
tração, cães puxavam trenós para levar equipes de resgate de tripulações
de aviões em áreas cobertas com gelo, como Alaska e Groelândia; 151
cães para servir de mensageiros, e 140 cães de detecção de minas.
O adestramento totalmente incorreto foi responsável pelo pequeno
número de cães de detecção de minas treinados e empregados. Os cães
eram treinados para detectar terra alterada pela colocação das minas, e
não pelo odor dos explosivos ou da própria mina. O despreparo foi o
responsável pelo número medíocre de cães empregados pelos americanos
em relação ao países do Eixo, especialmente a Alemanha. Civis eram
contratados para treinar cães, não havia doutrina definida, nenhum manual,
nenhuma padronização no adestramento e os civis não tinham nem ideia
do que os cães e seus condutores enfrentariam no cenário da guerra. Cães
tiveram que ser providos por doação de civis.
177
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O que ficará para a história será a atuação impecável dos cães


esclarecedores de patrulha dos Fuzileiros Navais Americanos. O teatro de
operações do Pacífico foi especialmente cruel para os fuzileiros, com
desembarque em ilhas ferrenhamente defendidas por militares japoneses
com código de ética medieval. O fervor do combatente japonês, focado
apenas em causar o máximo de baixas entre as tropas americanas, com
desprezo pela própria sobrevivência, foi aliviado pelo emprego do cão,
que indicava presença inimiga centena de metros antes, não permitindo
que a patrulha fosse pega de emboscada. Os cães já eram empregados no
desembarque, na conquista da cabeça de praia, detectando inimigo em
casamatas muito bem camufladas.
No Vietnã, foram empregados 4000 cães militares, 281 oficialmente
mortos em ação. Atuaram como cães esclarecedores de patrulha, faro de
rastro, detecção de minas e túneis. Há registro em documentos militares
americanos de 84000 missões cumpridas, cães militares foram responsáveis
diretos por 4000 inimigos mortos e 1000 capturados, localizaram em
esconderijos 500 000 kg de suprimentos inimigos como arroz e milho, 3000
morteiros e 2000 túneis e bunkers. O melhor emprego do cão foi mais uma
vez como cão esclarecedor de patrulha e o cão de faro de rastro. A estratégia
dos Vietnamitas, por grande parte da guerra foi atuação em pequenas
ações, inquietando as tropas regulares americanas. Efetivo pequeno atuava
agindo pontual e rapidamente e desaparecia na selva. Tropas australianas
no Vietnã empregaram muito bem os cães de faro de rastreio, que a partir
do último ponto que o inimigo tinha sido percebido, seguiam o rastro até o
engajamento. Havia o condutor e seu cão, e um militar treinado para
perceber rastro visual – galhos quebrados, sangue, equipamentos deixados,
pegadas. Eles iam a frente, com um segurança logo atrás. Diante
possibilidade de engajamento com força adversa, passavam a retaguarda.
Na Guerra da Coréia foram empregados 1500 cães, principalmente
como sentinelas de depósitos e bases aéreas. Depois da Guerra da Coréia,
passando pelo Vietnã, devido ao sucesso do emprego do cão de guerra, a
Força Aérea Americana padronizou o emprego de cães de patrulha para
seguranças de suas bases em todo o mundo, em países amigos ou hostis.
Atualmente há pelo menos 2000 cães servindo em 184 bases americanas
espalhadas pelo mundo.
Antes do 11 de setembro, o programa centralizado de cães militares
para as forças armadas americanas treinava 200 cães por ano, atualmente
treina mais de 500.
178
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

6.19 FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO


A prioridade operacional do conjunto condutor e seu cão de guerra
é o emprego noturno. O verdadeiro valor do Cão de guerra é na escuridão.
Cães são preparados para usar seu faro, visão e audição para encontrar
intrusos de áreas militares ou suspeitos em condições precárias de
iluminação, incrementando a atuação da patrulha e segurança de homens
e instalações.
O emprego de Cães de dupla aptidão, com habilitação de cão de
guerra que faça uso de sua agressividade e também habilitados como
cães de detecção de narcóticos ou explosivos ou munições e armamentos.
Todo Cão de guerra é treinado para usar seu faro, para detectar pessoas,
drogas, armas ou explosivos. Um cão de guerra que não possua seu faro
explorado, é facilmente ser substituído por outra ferramenta.
O militar mais antigo responsável pela operação explorará o
emprego do conjunto corretamente em seu pleno potencial como
ferramenta militar. O conhecimento das técnicas, vantagens e limitações
garantirá que não seja subutilizado nem empregado em situações que
outras ferramentas produziriam resultado melhor.

6.20 MISSÃO E VISÃO DE EMPREGO DO CÃO DE GUERRA


A missão e visão da Subunidade ou unidade a que estejam
subordinados e a da própria Seção de cães militares, serão amplamente
divulgadas aos seus integrantes. Todos perseguirão obstinadamente o
cumprimento da missão da SCG, que estará em perfeita sintonia com a
missão e a visão da unidade e do Exército.

6.21 MISSÃO DO EXÉRCITO


A missão do Exército é defender a Pátria, dissuadir ameaças aos
interesses nacionais; derrotar o inimigo que agredir ou ameaçar a
soberania, a integridade territorial, o patrimônio e os interesses vitais do
Brasil; manter-se em condições de ser empregado em qualquer ponto do
território nacional; participar de operações internacionais; e participar do
desenvolvimento nacional e da defesa civil.

6.22 Missão Síntese do Conjunto Condutor-Cão de guerra


Estar preparado para empregar com plenitude todo o potencial do
cão como instrumento de guerra, apoiar ações tipo policia, proteger pessoal
e instalações, valendo-se de suas habilidades para detectar oponentes e
179
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

riscos pelo faro, incrementar a segurança orgânica de instalações sob


controle miliar, especialmente à noite.

6.23 Visão de Futuro


Fazer com que o conjunto condutor e seu cão de guerra sejam
empregados e respeitados como ferramentas insubstituíveis no apoio de
missões do exército. Agregar instituições que empreguem o cão de trabalho
policial e militar no Exército, Forças Armadas, forças auxiliares e agências
de segurança estaduais e federais.

6.24 PROGRAMA DE DISSUASÃO DE AMEAÇAS


Os cães militares participam do programa de dissuasão de ameaças
da unidade participando de demonstrações de emprego e patrulhas
ostensivas diurnas, embasado na criação e manutenção de uma imagem
profissional de agressividade e força.
Demonstração para o público por si mesma não tem finalidade, o
conjunto não pode desfocar ao treinar exercícios exclusivos de
demonstração como truques. O foco é na missão real de segurança da
unidade e seus militares, as demonstrações são planejadas para mostrar
atividades de emprego, como abordagens, procura de oponentes e
detecção de drogas.
Placas espalhadas pela unidade alertando sob o uso de cães
militares além da questão legal tem forte apelo dissuasivo.
A constante divulgação de uma excelente imagem profissional por
parte do conjunto também faz parte de um programa de dissuasão. O
condutor se prepara para responder as perguntas mais comuns do público
interno e externo e sabe divulgar positivamente o trabalho do Cão de guerra.
Não permite que pessoas toquem ou afaguem o cão de guerra, é passada
a imagem de cães agressivos que realmente cumprirão a missão que se
espera deles.
Como dissuasão em uma operação, o condutor demonstra
claramente a intenção de empregar o cão, retirando sua focinheira,
comandando o cão para latir, dando um pouco mais de espaço na guia
para o cão se agitar. Fazendo isso ele explora o emprego na intimidação
de oponente resistente ou que esteja desafiando a autoridade militar. O
objetivo é dissuadir o oponente para se evadir, se entregar ou desescalar
a situação.O cão de guerra jamais é usado como intimidação de oponente
já dominado, isto é ilegal e está sujeito a penalizações no RDE, Código
Penal Militar e Código Penal Brasileiro.
180
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

6.25 GUARDA E CONDUÇÃO DE DETIDOS


O emprego do cão com presos respeita algumas regras: como
sempre guardar distância e uso de focinheira, é fundamental ficar claro a
todos que o cão está dissuadindo o preso de se evadir ou de desrespeitar
a guarnição de serviço. É respeitada a distância de, pelo menos 10 metros
do preso em áreas abertas como no banho de sol. Ambientes fechados
como celas, salas, corredores e acessos oferecem sérios riscos de
acidentes. Outro risco em ambientes restritos e estreitos é do detido ou
detidos dificultarem a ação do cão para realizar uma tentativa de fuga,
agredir outro preso, carcereiro ou iniciar uma rebelião. Para prevenir essas
situações, o posicionamento dos conjuntos é planejada, ficando em
condições de apoiar imediatamente caso necessário, mas sem oferecer
risco aos detentos ou a outros militares. Uma boa alternativa para
ambientes estreitos é deixar os cães atrás de um militar com escudo.Se o
cão for usado, tão logo o preso ceda e coopere o cão é afastado.

6.26 CONTROLE DE MULTIDÃO


Semelhante ao emprego em situações de resistência passiva, o cão
é usado em situações específicas no controle de multidão. O controle de
multidão ocorre quando grande quantidade de pessoas que se movimentam
pacificamente, como saída de jogos. Algumas vezes, a força militar pode
ser usada para esvaziar um estádio de futebol, para conduzir
separadamente torcidas opostas ou para proteger pontos sensíveis como
unidades militares ou prédios federais que ficam muito próximos ao
movimento pacífico de enorme massa humana. Cães podem ser usados
parados, isolados ou em linha, protegendo pontos sensíveis como entradas
de prédios públicos federais ou ruas bloqueadas.
O Comandante da operação pode empregar cães ao largo da
multidão, jamais no meio, cães são posicionados há, pelo menos, 10 m de
distância, atrás de uma barreira física, atrás de cordão de isolamento ou
linha de policiais, cones, cavaletes. Na Copa do Mundo de Futebol e nas
Olimpíadas, conjuntos podem permanecer de prontidão dentro das viaturas
distribuídas em pontos estratégicos, prontos para serem deslocados para
onde houver tumulto e somente serem empregados, se necessário. Estes
pontos estratégicos são definidos pelo tempo que os conjuntos de cães
chegarão a qualquer ponto da área que darão cobertura, com o tempo de
deslocamento contabilizando a situação real de trânsito do dia do evento.
Por exemplo, o Comandante da operação pode definir a quantidade de
181
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

conjuntos para aguardarem em uma viatura parada em determinado ponto


e, a partir desse ponto, podem chegar em 7 minutos até aos portões de
saída do estádio, a estação de metrô e a uma praça que está previsto
haver reunião de torcedores.
Um excelente exemplo de controle de multidão é o trabalho
exemplar da Polícia de Salvador no Carnaval: um milhão de foliões nas
ruas, neste caso, a polícia não usa cães. Unidades policiais de vários países
têm sido treinadas pela polícia soteropolitana de como conduzir multidão
pacífica. Os policiais andam em linha e, quando há problema localizado,
atuam rápida e energicamente, o grupamento que se desloca em linha,
cerca os elementos e domina a situação, usualmente início de briga ou
desentendimento. Há emprego de cassetete longo e spray de pimenta, e
somente se muito necessário, a polícia apreende alguém.
Na figura abaixo, exemplo de uso incorreto para controle de
multidão, cão muito perto, não há barreira física e o cidadão que está no
meio da multidão, muitas vezes, percebe o cão muito perto, podendo ser
empurrado pela multidão e não tendo como se afastar. É um acidente
desnecessário e evitável, o cão deveria estar atrás de alguma barreira
física, mais distante da multidão e de focinheira.

Cão sem focinheira, muito perto da multidão. Uso incorreto.

Durante jogos e shows o condutor mantém uma postura


ostensivamente dissuasória, mas sai do campo de visão da torcida para
não se expor a provocações durante intervalo e tão logo o jogo ou show
acabe. Aproveita oportunidade do intervalo para oferecer água para o cão.
Durante todo o tempo que estiver visível para a torcida, não permitir
que o cão se deite ou assuma postura displicente, para isso pode
182
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

movimentar-se um pouco de um lado a outro. Nunca deixar que se distraia


com a bola, gandulas e torcedores; nunca soltar o cão, mesmo que ocorra
uma invasão;
Em caso de tentativa de invasão de campo, as patrulhas se reunem
no local da tentativa, reforçando sua segurança. Se não for possível conter
o público, ou se a tentativa de invasão ocorrer por diversos pontos, se
reunem no centro do gramado, ou outro local designado previamente, para
que em conjunto com o restante da tropa façam a varredura e desocupação
do gramado. Em shows, os cães ficam em locais visíveis, onde possam
demonstrar ostensividade, porém nunca no meio da multidão, onde
acidentes poderão acontecer. A presença do cão nestes tipos de ventos
tem o caráter único de ostensividade, visa apenas prevenir invasões e
tumultos.

6.27 CONTROLE DE DISTÚRBIO CIVIL


O distúrbio civil já exige atuação mais intensa e enérgica, neste
caso, a força militar será chamada para barrar o avanço da multidão ou
até mesmo dispersá-la, com uso progressivo de força. Há desordem,
prejuízos materiais, risco de integridade física de transeuntes, dos próprios
componentes do distúrbio e de agentes policiais e militares.
Eventos recentes, como tumultos Los Angeles (EUA) em 1992, com
1 bilhão de dólares em prejuízos, 53 mortos e milhares de feridos, foram
chamados a Guarda Nacional, e excepcionalmente, os Fuzileiros Navais
Americanos. O estopim foi a absolvição de agentes de polícia filmados
espancando um homem negro totalmente dominado. Na França em
novembro de 2005, 2900 baderneiros presos, 126 policiais e bombeiros
feridos, um civil assassinado e 200 milhões de euros em prejuízos.
Novamente na França, em julho de 2009, 317 carros foram incendiados,
13 policiais feridos, 240 baderneiros presos.
No início de agosto de 2011 em Londres, novamente o estopim foi
suposta violência policial contra cidadão de minoria racial. Os distúrbios
tomaram vulto enorme incentivado pelas mídias sociais, onde pontos de
encontro eram marcados. 3100 suspeitos detidos, 5 mortos, 16 feridos, e
200 milhões de libras em prejuízos materiais, principalmente saques e
incêndios provocados. Um cão de polícia teve fratura de crânio, após ser
atingido por uma pedra, ao proteger um ponto sensível. Continuou
trabalhando por mais duas horas até o condutor perceber a gravidade da
lesão. Foi transferido para hospital universitário veterinário de Cambridge.
183
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O que há em comum é o início muito rápido, auxiliado pela


inflamação da própria mídia jornalística e recentemente pelas mídias
sociais, facebook, orkut, twitter, etc. A polícia não tem condições de
controle, e apoio de forças militares são necessários. Onde houve
resistência ou atraso em solicitar apoio as forças armadas, o resultado foi
desastroso. Os tumultos em agosto de 2011 em Londres, se prolongaram
por mais de semana, e o governo foi duramente criticado por sua demora
para reagir.
As tropas do Exército preparadas para GLO podem ser deslocadas
para a cidade que enfrente distúrbios de grandes proporções. O
treinamento dos conjuntos é padronizado, uma vez que podem ocorrer
chamados de todo o país. O maior canil autorizado no EB é o de tipo III,
com 12 cães. Para um distúrbio de proporções como os descritos, em um
grande centro como São Paulo ou Rio de Janeiro, efetivo considerável de
homens e cães será empregado, envolvendo duplas de diversas unidades.
As duplas serão preparadas para o caos. Fogo, fumaça, gritos,
sirenes, tropa montada próxima, e emprego noturno. É na proteção da
escuridão que os baderneiros atuam.Um rigoroso adestramento enfatiza
a manutenção da formação, seja ela em linha ou em cunha, jamais deixando
militares isolados. Caso algum militar fique isolado, é resgatado por um
grupamento avançando de forma tática. Esse grupamento de resgate
funcionará à semelhança de um grupamento de apreensão e duplas de
cães podem ser empregadas. Há duas maneiras: uma, com o cão no vértice
da cunha, com cão trabalhando como uma “vassoura de dente”, abrindo
passagem pela turba; outra é empregar duas duplas, nos ombros do vértice,
protegendo as laterais e retaguarda da cunha. Todos os militares da cunha
se protegem com escudos, menos os condutores de cães. Os condutores
disporão os cães de maneira que os militares fiquem protegidos pelos
escudos. Quando for necessário, trazer o cão para trás da linha de
escudeiros, o condutor avisa os dois militares que estão ao seu lado, eles
se viram, um de frente para o outro, se protegendo com os escudos e
criando um corredor seguro para passagem do cão. Bons cães ficarão muito
excitados com toda agitação e cautela extremada é tomada para nenhum
militar ser mordido. Com o cão excitado durante adestramento com o
figurante,o condutor treina exaustivamente a colocação e retirada da
focinheira, e a passagem pelo corredor de escudos.
O cão estará sempre preso a uma guia de 1,5 m, nunca solto, não
importa a situação, devido a impossibilidade de focalização de um alvo
184
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

preciso, há riscos para cão em meio à multidão descontrolada. A formação


JAMAIS pode ser rompida. Militar ou cão isolado na multidão é um risco
muito alto de ferimento ou morte.

6.28 SEGURANÇA ORGÂNICA EM ORGANIZAÇÕES MILITARES


Organizações militares estão sob constante risco de ataques e
nossa tropa dispõe de poucos recursos não letais. Nosso soldado dispõe
de um fuzil 7,62 mm NATO, muitas vezes em área urbana e nenhum recurso
de arma não letal. Equipamentos de visão noturna e detectores eletrônicos
são escassos, se não inexistentes. O cão de guerra, quando adequadamente
usado incrementa em muito a segurança orgânica das unidades militares,
proporcionando melhora na segurança com redução de riscos e custos.
Um cão de guerra bem treinado em patrulha, reúne, em uma única
ferramenta, arma não letal e um detector de ameaças por odor e barulho
na situação mais crítica que é a escuridão.
A segurança orgânica de qualquer unidade é missão real, diária e
incansável. O cão de guerra pode e deve fazer parte das medidas de
segurança de qualquer organização militar. O emprego em pontos fixos é
uma alternativa, mas o emprego em patrulha, com o cão revistando áreas
grandes como depósitos, garagens de viaturas, alojamentos e prédios
vazios dentro da OM terá um impacto dissuasivo bem maior. O conjunto
será mais bem explorada em grande áreas, se ora for transportada por
viatura, e o cão for solto em determinada área, acompanhando seu
condutor, e embarcando novamente na viatura e cobrindo outro ponto critico
de segurança da unidade.
A patrulha de instalações dentro das unidades é emprego real e
diário. Cães tem grande potencial para apoiar a patrulha de vastas áreas
185
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

militares e procurar por intrusos em áreas escuras. A palavra intruso é


precisa, pois é muito mais comum a entrada de pessoal não autorizado do
que uma força adversa armada. Menores de idade, pessoas sob efeito de
álcool, medicamentos ou drogas, idosos, mendigos, portadores de
Alzheimer, ou até mesmo soldados em áreas não autorizadas do
aquartelamento, vila militar ou campo de instrução. Este emprego é
amplamente divulgado por placas, avisos servindo como excelente meio
de dissuasão. Dependendo dos riscos que aquela organização militar
enfrenta, o Comandante da unidade estabelece regras muito claras de
engajamento do cão.
Dependendo da avaliação dos riscos o cão pode ser empregado de
várias maneiras. Em um organização militar onde as ameaças são remotas,
o cão o cão pode ser empregado sempre na guia com focinheira, como
exemplo, dentro de um Colégio Militar, ou dentro de uma Vila Militar; onde
há transito razoável pessoal civil e militar. Se na avaliação de risco, a
gravidade e a probabilidade forem pertinentes, o cão pode ser solto sem
focinheira em áreas específicas que possam abrigar intrusos, ou com pouca
iluminação.
A patrulha pode ser ostensiva, divulgando o uso dos c~cães na
segurança.. Esta patrulha é feita durante o dia, especialmente próximo de
formaturas, com visitantes externos, durante horários de entrada e saída
de militares, durante período de atividades físicas da tropa. Neste tipo de
patrulha, o cão estará sempre na guia e focinheira. Patrulhas noturnas em
áreas militares restritas como áreas de depósitos, paióis, garagens, campos
de instruções, áreas escuras com risco (próximos a muros ou áreas limites
da OM), o condutor pode conduzir seu cão a sua frente, na guia de 2 metros,
sem focinheira.
O cão pode ser solto em áreas delimitadas, como pátios e garagens,
para procurar algum elemento escondido. O condutor verifica se as saídas
que o cão possa sair e desavisados possam entrar na área de procura
estejam bloqueadas e anuncia o alerta padronizado do canil.
Eventualmente, é importante combinar exercícios com o figurante para o
cão sempre iniciar e se manter na procura na expectativa de encontrar o
oponente.
O melhor emprego do cão é quando o animal é conduzido na viatura.
Chegando em locais pouco iluminados ou de risco, o cão é solto para
detectar eventuais intrusos e, em minutos, cobrirá uma grande área; ao
final da checagem é chamado de volta por seu condutor e levado na viatura
186
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

para outro ponto de risco. Usado dessa maneira, um conjunto condutor e


seu cão podem cobrir imensas áreas durante a noite.

6.29 CÃO ESCLARECEDOR


O cão esclarecedor é um cão treinado para ir na frente da patrulha,
não late, e alerta para presença humana ou odor humano presentes em
armadilhas montadas pelo oponente. Pode ser treinado para detectar outros
odores, como explosivos e minas. Foi usado com sucesso por tropas
americanas contra japoneses no teatro de operações do Pacífico.
Detectavam presença do inimigo em grutas e túneis. Dificuldades
apresentadas são os cães alertarem para presença de animais domésticos
e selvagens. Hoje, com a criação de cães selecionados e com técnicas
mais apuradas de adestramento isso pode ser facilmente corrigido. Há
relatos de cães atacados por tigres em Borneo durante a Segunda guerra
e cães esclarecedores australianos indicando vara de porcos selvagens
no Vietnã.

6.30 CÃO RASTREADOR


O Cão rastreador foi empregado com sucesso nas Filipinas e Borneo
durante Segunda guerra mundial por tropas britânicas e por tropas
americanas e australianas na Guerra do Vietnã. Está sendo usado por tropas
de Forças Especiais americanas no Iraque e Afeganistão. Norte viatnamitas
ofereciam prêmio em dinheiro pela morte de cães e ou de condutores.
Tropas Colombianas já empregaram contra as FARC. O Cão rastreador inicia
seu trabalho no último ponto em a força adversa foi detectada, e pequeno
grupo segue o rastro. Quando a localização da força oponente é descoberta,
tropas regulares e apoio aéreo são solicitados. O pequeno grupo é
composto pelo menos de um condutor e seu cão, que vai a frente, um
segurança do conjunto, e um militar rastreador, que tem adestramento
para identificar pistas visuais como pegadas, galhos quebrados, restos de
material deixados pelo oponente em fuga. Condutor e militar rastreador
são aliviados de equipamento, que é carregado por outros militares
posicionados mais atrás na formação. O emprego do Cão rastreador é
excelente nas ações contra insurgência, contra guerrilha, em que força
adversa atua e desaparece na mata. Americanos tem sucesso com cães
rastreadores de uso urbano, e seu uso poderia ser aventado em conflito, a
semelhança do uso policial.
O cão de rastreio persegue pista de odor do suspeito ou de terreno
alterado pelo suspeito, seguindo exatamente suas pegadas. Esta é uma
187
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

situação de eminente perigo para cão, com a possibilidade quase certa da


necessidade de ter que se defender quanto a um possível ataque. Há
também grande risco para a equipe envolvida, só o uso de equipamentos
de proteção individual bem como armamento compatível com o perfil do
oponente. Formar de um grupo de procura com militares do Canil, com
funções específicas, priorizando a segurança do condutor do cão. Um ou
mais cães podem ser utilizados Solicitar apoio de outros militares por rádio
ou celular para bloquear as vias de acesso e fuga. Chegando ao local, a
equipe do Canil permitirá ao cão um instante para que realize suas
necessidades fisiológicas e ambiente-se. Levantar informações sobre os
suspeitos, último horário que foram vistos, se as saídas estão bloqueadas.
Localizar, sempre que possível o ponto inicial da entrada na vegetação, ou
ponto inicial, (roupa, equipamento deixado, odor no assento do veículo
abandonado). Orientar a todos que não contaminem a pista deixada pelos
suspeitos em fuga. O cão é levado para o local de início, o condutor excita
e estimula o cão, permite que ele cheire a área e identifique o odor e
inicie o rastreamento.
Durante a procura alguns fatores poderão auxiliar ou atrapalhar o
desempenho do cão, tais como: Tempo: Iniciar o rastreio tão logo ocorra a
fuga, aumenta a possibilidade de êxito, uma vez que quanto mais tempo a
pista estiver exposta às condições climáticas desfavoráveis maiores a
possibilidade da dissipação do odor. Tipo de superfície: durante uma fuga,
o oponente poderá atravessar estradas de terra, asfaltadas, áreas
pavimentadas, cobertas com cascalho, vegetação queimada, fertilizantes,
etc., e todos estas superfícies poderão afetar o desempenho do cão. Piso
macio de areia, terra ou grama permite deixar um rastro claro por mais
tempo, uma vez que a vegetação alterada pela pegada vai manter odores
diferentes por horas, como odor diferente da superfcie inalterada a volta
da pegada , putrefação da grama ou outros vegetais. Odor humano: O
odor humano permanece por mais tempo em terreno fresco e úmido, por
outro lado, a luz direta do sol, terrenos extremamente secos, mascara e
dissipa o odor rapidamente. Se uma trilha clara não for detectada pelos
cães, a procura será feita por vasculhamento. A área é dividida por
quadrantes, e a equipe aborda contra vento. Os obstáculos e proteção
oferecida pelo terreno determinarão o modo de avançar da equipe, que
não permitirá se expor ou ficar em devantagem no terreno. Condutor deve
interpretar a linguagem corporal do cão para perceber se ele está na trilha
ou não. Os suspeitos podem ter se espalhado e há grande risco de passar
por um deles e essa situação pode oferecer grande risco a tropa. A tropa
188
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

avança taticamente, não pode se expor. Dependendendo do terreno e do


cão, ele pode ser conduzido solto ou na guia longa. Se solto, não pode se
afastar demais do condutor, não irá protege-lo nem será protegido. Cães
conduzidos sem guia tem mais chances de encontrarem sozinhos o suspeito,
e sem apoio de seu condutor, maior probabilidade de serem mortos em
confronto com armas brancas ou de fogo, bem como o risco de se deparar
com alguém que não o suspeito. Guias podem criar sérias dificuldades
em áreas muito densas com arbustos.Cães ou são condicionados para
procurar e indicar ou para procurar e apreender.. Localizado o oponente a
equipe tomará uma posição de segurança e utilizará o cão da maneira
mais conveniente, levando-se em consideração sua segurança,
periculosidade do oponente e principio de uso de força. mínima e
proporcional.

6.31 OPERAÇÕES DE CERCO E VASCULHAMENTO


As operações de cerco e vasculhamento tem procduzido resultados
significativos em ambientes urbanos, operações de paz, e operações
especiais. O emprego do cão agregará eficiência e rapidez para procurar
oponentes, drogas, armas e explosivos. Em muitas situações, o cerco será
a única maneira de atingir o resultado, evitando a fuga dos opoentes pelos
perímetros protegidos, enquanto a tropa vasculha a área evitando riscos
desnecessários.
Forças Especiais americanas tem utilizado cães em ações como
aquela que culminou com a morte do Bin Laden. O cão é utilizado para
encontrar esconderijos e bombas com a rapidez que uma ação desta requer.
Foi a lição aprendida com a captura de Sadan Hussein, que por muito pouco
não enganou os militares que o procuravam em uma casa indicada pelo
serviço de inteligência, estava em um esconderijo subterrâneo, fora da
residência, e houve grande dificuldade de achá-lo sem apoio de um cão
de guerra.
O cão pode ser usado com a equipe principal que realiza o
vasculhamento, ou com as equipes de segurança dos perímetros interno e
externo. Para o perímetro externo, faixas de terreno limpa como campo de
futebol, rio, estrada serão escolhidas para espalhar os pontos de controle.
Cães podem ficar nos pontos de controle ou acompanhar as patrulhas
móveis de perímetro. Algum oponente que tente se evadir pelo perímetro
pode ser apreendido pelo cão. Cães detectores podem ser usados nos
perímetros como mais um recurso na revista de pessoas que são checadas
antes de saírem da área.
189
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

6.32 FORÇA DE REAÇÃO – EQUIPE DE RESPOSTA RÁPIDA


Uma força de reação de uma organização militar pode contar com
o apoio de um cão de guerra. Treinamentos focarão na formação uma
equipe coesa. O objetivo é o cão reconhecer todos os membros da equipe,
e que esta tenha plena confiança no cão, não se distraindo ou se expondo,
a proposta do uso do cão é aumentar a segurança e eficiência força de
reação e não criar riscos, acidentes ou distração. A aproximação com escudo
balístico, negociação, tomada de decisão de emprego do cão, arma não
letal ou letal são simuladas com maior realismo possível. O figurante não
se porta de maneira combinada, mas atua como um oponente em uma
situação real. A procura em áreas fechadas dentro da Organização Militar
é exaustivamente treinada pela força de reação com o cão. A força de
reação apoiada com um cão e com uso de escudo balístico incrementa
enormemente a segurança orgânica da unidade.

Condutor e cão avançam abrigados atrás da linha de escudeiros.

A melhor posição do cão com equipe de resposta rápida/força de


reação com um escudo balístico é no lado contrário do policial com arma
letal.Posição tática na proteção do escudo balístico com 3 militares:da
esquerda para direita: cão, condutor do cão, comandante do grupo
segurando escudo balístico e arma de fogo, militar com arma não letal. A
Posição tática no: escudo balístico com 4 policiais: Cão, condutor do cão,
militar apenas com escudo, logo atrás dele um militar com arma não letal,
à direita, Comandante do grupo com arma de fogo.
Se o oponente está armado com arma branca, um ou vários escudos
de controle de distúrbio podem ser empregados para se aproximar de
suspeito que oferece resistência, o escudo será usado para derrubá-lo e
contê-lo pressionando contra o chão ou parede, até que seja completamente
190
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

dominado e algemado; o cão é treinado para aceitar colaboração dos


militares com escudo e somente soltar quando o suspeito estiver dominado
e contido em segurança.

O Cão pode ser liberado entre as pernas de dois escudeiros.

Liberação do cão entre dois escudos,


condutor fica abrigado atrás de um dos escudeiros.

191
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Após a liberação do cão, todos, inclusive condutor, avançam taticamente abrigados


atrás dos escudos, e ao abordarem o oponente, utilizam os escudos para contê-lo..O
condutor procura os braços do oponente para agarrar e algemar. Somente depois de
contido, o cão é afastado do oponente.

6.33 PROCURA EM INSTALAÇÕES


A procura em instalações pode acontecer como rotina dentro de
grandes organizações militares, em que o conjunto é empregado na patrulha
dentro da OM. Garagens, depósitos, ou outras instalações são vasculhadas
aleatoriamente com auxílio do cão. Outra situação, é quando há alguma
evidência de arrombamento ou entrada forçada em algum depósito, casa
de vila militar ou qualquer outra instalação militar. A primeira situação é
informar, a segunda é se posicionar de maneira que algum intruso que
queira se evadir seja percebido. Mediante ordem da autoridade
compentente (Comandante da patrulha, Oficial de dia) pode ser tomada a
decisão de vasculhar a área com auxílio do cão. A chance de encontrar o
intruso e presunção de sua periculosidade são levadas em conta. Também
é verificada a possibilidade da instalação estar ocupada por militares em
ronda, alojados, civis contratados fazendo manutenção. Apenas o alerta
não é suficiente. Erros graves já foram cometidos por policiais americanos,
gerando milhares de dólares em indenizações em cães liberados dentro
de instalações presumidamente invadidas e o cão policial apreendeu
cidadão que estava autorizado a circular naquele local naquela hora e que
por algum motivo não ouviu o alerta.(surdez, velhice, estava dormindo,
etc.).
Se a patrulha com o cão é a primeira a verificar a alteração, se
posiciona de maneira que possa perceber os intrusos tentando se evadir.
Se o conjunto foi chamada para a verificação da instalação, checa se há
192
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

efetivo suficiente para cercar a área, ou pelo menos as prováveis rotas de


fuga.
O anúncio, além da questão legal, serve para alertar o cão da missão
que cumprirá está começando. Nos adestramentos, o condutor sempre
inicia com anúncio e é o sinal para o figurante aparecer para o cão, agitá-
lo e se esconder. O objetivo é condicionar o cão de tal maneira que fique
excitado para procurar apenas por ouvir o anúncio, sem necessidade de
ver o figurante, o que acontecerá na situação real.
O cão é treinado para diminuir sua silhueta acompanhando seu
condutor. O cão sentará rapidamente e assim se manterá ao lado de seu
condutor ajoelhado. Caso seu condutor deite, o cão também deitará ao
seu lado. O cão é solto procurar a partir da posição sentado ou deitado.
Pode ser usada uma cobertura qualquer que apenas dificultará a
visualização da silhueta por parte do suspeito ou um abrigo. Cobertas:
árvores, postes, portas, carros civis (apenas atrás do bloco do motor o
militar poderá se considerar abrigado contra tiros de fuzil) ou meio fio de
calçada. Com reflexo correto adquirido nos treinamentos, o condutor sempre
procura uma cobertura ou abrigo e uma das posições de
abordagem,diminuindo parte do corpo exposta.
O condutor se aproxima de forma tática, mesmo que seja apenas
com seu segurança.. Verifica a entrada certifica-se de que a área esteja
segura, posiciona-se taticamente com o cão ao seu lado e alerta: “ Atenção,
aqui é a Guarnição de serviço, saia com as mãos sobre a cabeça, ou
enviaremos o cão para procurar.” O alerta é padronizado pela SCG, e
já´servirá para estimular o cão para procurar o intruso. Caso não haja
respostas, será tomada a decisão de entrar taticamente com o na guia ou
solto e com ou sem focinheira.
Se a opção for a entrada tática com o cão na guia inicia-se então
uma procura sistemática porta a porta, desenvolvendo um deslocamento
tático, sempre prestando atenção aos movimentos e indicações do cão e
jamais deixando áreas não varridas para trás. O cão pode estar detectando
o odor de um suspeito e por algum motivo (corrente de ar, bloqueio por
móvel) passar por um outro suspeito abrigado. Se for necessário, o cão é
chamado e instigado a investigar uma sala, sótão, abertura, etc.
Prestar atenção nas correntes de ar no edifício pois poderão afetar
o alerta do animal. Se o cão localizar o intruso, o condutor chama o cão,
manda o suspeito levantar as mãos, virar de costas e vir calmamente em
direção a sua voz.
193
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O condutor não pode se distrair com seu cão ou seu segurança.


Pode haver mais suspeitos, e inclusive o local pode ter escolhido para
uma falsa rendição por deixar os suspeitos em algum tipo de vantagem.
Se suspeito cooperar e seguir instruções de se aproximar para uma
área segura para a guarnição. Se não cooperar, é considerada resistência
e é escalado o uso de força.
Caso se aproxime, a revista será realizada com auxílio do cão e
cobertura de outro militar sem jamais se expor a áreas não checadas.
A procura no edifício é então reiniciada com toda segurança, até
que toda a área seja declarada secura pela equipe. Sempre é considerado
que pode haver mais de um suspeito, mesmo que o primeiro detido afirme
estar sozinho.
Os Pontos de perigo iminente (PPI´s) são observados com a
aplicação da técnica do terceiro olho e serão cobertos a partir do mais
próximo para o mais distante, e por quantos militares forem necessários.
Caso pessoas que se desloquem na mesma escada em direção ao grupo
de assalto, essas serão conduzidas para um local apropriado e que favoreça
a revista pessoal (a revista poderá ser feita no topo da escada, se estiver
próximo e oferecer segurança suficiente, ou parte do grupo poderá retornar
ao sopé da escada conduzindo o suspeito para a devida revista, enquanto
que os demais manterão a posição, evitando novos riscos para a equipe).
Jamais cruzar a linha de tiro. A verificação da escada poderá ser feita
utilizando o espelho, diminuindo o risco para quem executa a progressão.
Neste momento os militares reconhecerão a importância das
patrulhas noturnas de rotina pela unidade. Pontos de esconderijo são
conhecidos, entradas, saídas, escadas, cantos, janelas, etc.
Dentro de edificações, pontos mais altos como escada ou sótão
representam grande risco para os militares. Para abordar ponto mais alto,
o cão pode ser colocado em escudo balístico e elevado, caso o suspeito
dispare, os militares estarão protegidos atrás do escudo e responderão o
fogo, apoiando o cão. Se o suspeito não disparar, o cão fará a apreensão
do suspeito e o grupo avançará sem jamais de deixar de se portar
taticamente.

6.34 CÃO DETECTOR DE MINAS TERRESTRES


O adestramento para detecção de minas terrestres é uma
especialização de um cão esclarecedor de patrulha, ou um cão de guerra é
treinado exclusivamente para isso. A missão do cão é detectar os limites
do campo minado, ou minas isoladas intencionalmente colocadas pelo
194
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

oponente, ou isoladas ao acaso, ao serem espalhadas pelas intempéries,


chuvas, tufões, tempestades, se afastando de um campo minado. Cão ou
tropa jamais avançam após indicação de uma mina, há o risco do cão deixar
de detectar alguma e causar mortes e mutilações. Uma vez que o cão detecte
uma mina, a tropa imediatamente para, e recua sobre suas próprias pegadas
por pelo menos 50 metros. A área é então contornada ou demarcada para
atuação da Engenharia. Cães foram muito eficientes no Vietnã para detectar
armadilhas improvisadas com minas roubadas dos próprios americanos, ou
até mesmo armadilhas com fios de arame e granadas de mão. Além do odor
do explosivo que permanece indefinidamente, que o cão pode ser treinado
para detectar, há forte odor humano, do oponente que montou a armadilha,
e odor de terra movimentada, que permanecerá por até alguns dias depois
da instalação do artefato.

6.35 CÃO DETECTOR DE EXPLOSIVOS


O cão de detecção de explosivos é um instrumento precioso para
equipes militares que já dispõem de militares treinados, equipamentos
próprios e autorização da cadeia de comando para lidar e dispor de
explosivos. Onde for autorizado, o treinamento e provas de habilitação
podem ser realizadas nas unidades especializadas das polícias estaduais
ou da polícia Federal. O cão de detecção de explosivos não é treinado
para detectar nada mais: narcótico, armas ou evidências. Uma vez que um
cão de explosivos indique, é fundamental confiar que é algum tipo de
explosivo e medidas cabíveis são tomadas imediatamente ,como evacuação
de um prédio público, alteração de rota de uma autoridade ou interrupção
de ruas e vias.

6.36 CÃES SENTINELAS


Postos fixos de cães militares podem substituir sentinelas,
principalmente em épocas do ano com diminuição de efetivo, como período
básico de treinamento dos recrutas, campos, missões, grandes feriados.
Um ponto de sentinela que seja substituído por um cão, retira três militares
da escala de serviço sem comprometer a segurança.
Serviço executado por cão com habilitação de Cão de Guarda (CG). O
CG será solto em área isolada, ou atrelado a uma corrente ou cabo de aço.
Com este tipo de cão não será permitido contato deliberado, mesmo visual,
com pessoal; somente seus tratadores realizarão seu manejo. O cão será
recolhido ao canil durante horários com grande movimentação de pessoal,
só sendo solto na área a ser vigiada após término da rotina diária.
195
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

A máxima eficácia no uso do cão como guarda de instalações será


atingida se a área guardada possuir, além da própria cerca, uma segunda
cerca de isolamento. Em áreas de grande extensão dois cães são utilizados,
preferencialmente um casal. Outra alternativa para áreas de grande
extensão é dividí-las em áreas menores. É importante ressaltar que o cão
é parte de um esquema de segurança, e não um sistema que envolve,
entre outras coisas, postos elevados de sentinelas humanos, cercas
externas elétricas, câmaras de vigilância, etc.

Esquema de área protegida por cão de guarda, isolada por cerca dupla.

Paiol do 5º RCMec

Uma alternativa mais econômica e que também pode ser usada em


situações provisórias é o posto de sentinela canino em cabo de aço. Como
vantagens, é rapidamente montado, podendo ser usado até mesmo em
bivaques, acampamentos, marchas. Cães melhoram sua agressividade em
cabos de aço, todos transeuntes que circulam na proximidade, até mesmo
os sentinelas humanos e rondantes premiam o cão ao se aproximarem e
se afastarem dos postos. Como desvantagens, o cão fica muito exposto e
limitado, pode ser agredido até mesmo por pedradas e pauladas com
alguma facilidade.
196
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

A linha onde permitirá que o cão se movimente preferencialmente


não exporá a silhueta do cão no horizonte, será coberta por desnível do
terreno, muro, construção ou trincheira , onde a terra retirada é colocada
em forma de monte entre o fosso criado e o lado externo do perímetro de
seguraça.
São montadas várias linhas de cabo de aço, e os cães são colocados
apenas a noite conforme necessidade. A insolação pode matar os cães,
eles toleram muito melhor o frio e são protegidos pela escuridão. Um abrigo
pode ser provienciado para o cão ou ele não é colocado no posto em
situaçoes climáticas extremas.
Antes da linha do cabo de aço, algum obstáculo será montado, como
a trincheira ,mais apropriado em campos de instrução, áreas rurais, a volta
de paiois, cerca, concertinas, ou canal de água. etc. Um problema
aparentemente simples em campos de instrução muito próximos de
conglomerados urbanos, é o transito não autorizado por dentro de área
militar,o que favorece o furto de oportunidade e outras brechas sérias de
segurança. Um canal de água estreito paralelo a um posto de sentinela
canino no cabo de aço bloqueia a passagem com baixo custo.
Um posto de sentinela canino em cabo de aço é constituido por
duas bases, o cabo de aço que pode ser colocado a alturas variáveis, duas
roldadas soldadas uma a outra e um cabo de aço mais fino que prenderá o
cão. Um afastador evitará que as roldanas corram até a extremidade do
cabo de aço, o que permitiria que o cão se enroscasse na base.

Duas roldanas soldadas, cabo de aço, afastador que impede o cão de


se enroscar na base do cabo de aço. (3ºBPE)
197
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Duas roldanas soldadas. (3ºBPE)

Cabo de aço lado interno muro. Observar o limitador (3ºBPE).Foram aproveitados


postes como base para o cabo de aço. (3ºBPE)

Cabo de aço, abrigo para o cão, como afastador foi montado um cano de
metal no cabo de aço. (EsSA)
198
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

6.37 AÇÃO DE POLÍCIA NA FAIXA DE FRONTEIRA


Ilícitos transfronteiriços englobam vasto espectro de crimes
relacionados à entrada ou à saída do país de toda sorte de itens, envolvendo
também movimentação ilegal voluntária ou não de pessoas. Estima-se
que o crime organizado transnacional gere 870 bilhões de dólares por ano.
Os crimes transfronteiriços compreendem os diferentes tipos de tráfico,
seja de drogas, de armas ou de seres humanos; contrabando de plantas,
animais, insetos, (biopirataria ou animais protegidos); violação de barreiras
fitossanitárias em vigor; contrabando de pesticidas de uso proibido no
Brasil mas legais nos países fronteiriços; bens culturais, pedras e metais
preciosos; transporte de altos valores em moeda corrente.
O crime de descaminho é a movimentação de mercadorias
permitidas mas sem o pagamento de imposto devido, tais como cigarro,
bebidas alcoólicas e perfumes. Apenas considerando o cigarro, o governo
brasileiro deixa de arrecadar aproximadamente quatro bilhões de reais
por ano com na tríplice fronteira com Paraguai e Argentina .
Em 2003, passou a vigorar a Convenção contra o Crime organizado
transnacional e seus três protocolos complementares, demonstrando o
compromisso da comunidade internacional em enfrentar esse desafio. O
engajamento do Brasil está evidenciado na promulgação de lei que ratificou
a Convenção.
O Brasil tem uma faixa de fronteira de 16.886 km de extensão,
abrangendo 10 países sul-americanos. Deste total, 11.627 km de linha de
fronteira de seis estados da federação (Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Rondônia, Acre e Amazonas) com países grandes produtores de
cocaína e maconha (Colômbia, Bolívia, Peru e Paraguai).
199
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

A extensa e porosa faixa territorial fronteiriça representa um


desafio para a política de repressão. Várias dessas localidades são regiões
inóspitas, como a floresta amazônica e o pantanal. A vigilância dessa área
é muito difícil de ser feita e necessita da colaboração de diversos órgãos
e entidades, incluindo autoridades dos países vizinhos.
O Comércio ilegal de armas rende de 170 a 320 milhões de dólares
anualmente e disponibiliza para criminosos desde armas de mão até fuzis
de assalto. É difícil contabilizar vítimas dessas armas ilícitas, mas em
algumas regiões do mundo, como a América Latina há forte correlação
entre índices de homicídio com facilidade de acesso a armas ilegais.
Relatórios Anuais do Escritório da Organização das Nações Unidas
contra Drogas e Crimes (UNODC) sugerem que o consumo de drogas no
Brasil vem crescendo nos últimos anos. O país é o maior mercado de
cocaína na América do Sul, com 900 mil usuários. Os estudos revelam
ainda que grande quantidade de maconha é traficada do Paraguai para o
Brasil, cujo consumo atinge cerca de 2,6% da população. O Brasil é também
o maior mercado de opiáceos – substâncias derivadas do ópio (possuem
efeito analgésico e levam a estados hipnóticos) – na América do Sul, com
640 mil usuários, o equivalente a 0,5% da população entre 15 e 64 anos.
O Plano Estratégico de Fronteiras foi instituído pelo Decreto
Nº7.496, de 8 de Junho de 2011 e implementou os Gabinetes de Gestão
Integrada de Fronteira - GGIF; e Centro de Operações Conjuntas - COC.
Nos onze estados fronteiriços foram criados os Gabinetes de Gestão
Integrada de Fronteiras (GGIFs) e as Câmaras Temáticas de Fronteiras
(CTFrons), fóruns deliberativos, sem hierarquia entre os membros e
constituídos por órgãos federais, estaduais, municipais e países vizinhos
envolvidos com as ações de segurança pública na zona de fronteira . Estes
gabinetes e o centro coordenarão ações destinadas ao fortalecimento da
prevenção, controle, fiscalização e repressão dos delitos transfronteiriços,
por meio da atuação integrada dos órgãos de segurança pública, do controle
aduaneiro e das Forças Armadas. A coordenação do Plano Estratégico de
Fronteiras será exercida pelos Ministros de Estado da Justiça, da Defesa e
da Fazenda.
O parágrafo segundo do artigo 5º do Decreto nº7.179 de 20 de
maio de 2010 instituiu o plano integrado de enfrentamento ao crack e
outras drogas, e determinou o apoio das Forças Armadas no comitê gestor,
em articulação com O Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção
da Amazônia (CENSIPAM)9.
200
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

As Leis complementares nº 117 de 2 de setembro de 2004 e nº 136


de 25 de agosto de 2010 regulamentam a atuação em ações tanto
preventivas quanto repressivas do Exército na faixa de fronteira. A
Constituição da República do Brasil, de 1988 define faixa de fronteira como
“A faixa de até cento e cinqüenta quilômetros de largura, ao longo das
fronteiras terrestres”.
Nos Estados Unidos, os principais desafios da gestão de fronteira
são a falta de coordenação e cooperação entre as agências envolvidas, o
que é evidenciado pela fragmentação de autoridade e responsabilidade;
sobreposição de jurisdições; duplicação de esforços; rivalidades entre
agências; missões inconsistentes, contraditórias ou excessivas dentro de
uma única agência e resultados inconsistentes na cooperação com o
México. O Plano Estratégico de Fronteiras, que entre outras medidas
implementa o Centro de Operações Conjuntas e define a integração dos
Ministérios da Justiça, Fazenda e Forças Armadas, pode ser uma ferramenta
bastante útil para evitar falta de cooperação entre as agências. A
experiência do Exército Brasileiro na MINUSTAH, onde as operações
conjuntas fazem parte da estratégia das Organizações das Nações Unidas
para angariar confiança na população e para preparar agencias locais para
futuro trabalho independente, é um modelo a ser seguido para as atividades
de cooperação na faixa de fronteira. Desafios de problemas de confiança
mútua, distintos e peculiares modus operandi e valores de cada agência
envolvida, além da barreira linguística eram superados paulatinamente
com atuação em missões conjuntas. Patrulhas, Pontos de Bloqueio de
estrada e operações de Cerco e Vasculhamento eram compostas por
agentes da tanto da Polícia Nacional Haitiana quanto da Polícia das Nações
Unidas e por militares brasileiros.
O nível de cooperação entre agências na repressão de ilícitos pode
ser um ponto forte ou uma fragilidade. Se bem conduzida, eficiência e
resultados serão concretizados, se mal conduzida, será apenas mais uma
facilidade a contravenção. O Exército, por dispor de estrutura de pessoal
e meios como cinotécnicos, oficiais veterinários de carreira, cursos na
área, manuais e canis militares espalhados pelo país, não pode se furtar
de assumir uma liderança aglutinadora entre todas as agências envolvidas
na repressão de ilícitos transfronteiriços. Conjuntos de cães de guerra do
exército têm auxiliado e reforçado o efetivo de cães detectores da Polícia
Federal, Polícia Rodoviária Federal, Policias Civis e militares estaduais,
Receita Federal bem como da Força Aérea e Fuzileiros Navais. Esta
201
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

cooperação e integração deve ser priorizada pelo Exército no emprego do


cão de guerra.
As cidades-gêmeas são aquelas em que o território do município
faz limite com o país vizinho e sua sede se localiza no limite internacional,
podendo ou não apresentar uma conurbação ou semiconurbação com uma
localidade do país vizinho. A existência destas cidades favorece o desejável
processo de integração entre os países. Não obstante, também, servem
de porta de entrada de produtos ilícitos de diversas naturezas e de saída
de recursos naturais e minerais, explorados sem controle e ilegalmente,
com danos ao meio ambiente. A constante presença de agentes locais,
em cidades pequenas, tende a fragilizar o processo de fiscalização. Há
resistência dos nativos dessas localidades em aceitar que algumas ações
cotidianas persistentes há gerações possam ser transgressões graves de
barreiras sanitárias, comércio e uso de produtos ilegais, contrabando ou
descaminho.

Mapa das cidades gêmeas na faixa de fronteira


202
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Cidades de tríplice fronteira apenas acentuam as idiossincrasias


das cidades gêmeas. A tríplice fronteira Brasil-Paraguai-Argentina tem sido
considerada pelas autoridades norte-americanas como área propensa a
ser utilizada como base de apoio ao terrorismo internacional, especialmente
para financiamento de grupos islâmicos radicais. O Brasil possui 10
municípios situados em tríplices fronteiras.
Além dos tradicionais eixos de acesso aos países fronteiriços, uma
série de projetos, em níveis diversos de implantação, estão em andamento
a fim de fomentar a integração com os países vizinhos. Certamente
oportunizarão desenvolvimento econômico, mas representam sérios
desafios para a repressão ilícitos transfronteiriços. A Rodovia transoceânica
é a extensão em território Peruano da BR 364, tem mais de 2,6 mil
quilômetros entre Iñapari, na fronteira com o Brasil, e três portos peruanos
- San Juan, Matarani e Ilo. Além de proporcionar ao Brasil uma saída ao
Pacífico, o objetivo é que ajude a incrementar o comércio entre as regiões
fronteiriças . O corredor Santos-Arica-Iquique em terras brasileiras terá
uma extensão de cerca de 1,5 mil quilômetro, complementados pela Bolívia,
que contribui com 1,6 mil quilômetro, e pelo Chile, que participa do projeto
com mais 233 quilômetros de rodovia. De uma ponta à outra, o corredor
liga o porto de Santos, em São Paulo, aos portos de Arica e Iquique, no
Chile.
A vigilância na área de fronteira é fundamental para estancar a
entrada de ilícitos no país, uma vez que quando o veículo ou embarcação
passe a trafegar em vias de maior movimento ao se afastar da área de
fronteira e ao se aproximar de qualquer grande centro urbano, pode passar
facilmente despercebido, sendo tratado como trânsito local. Se um
traficante não é interceptado na faixa de fronteira, dificilmente sofrerá
qualquer tipo de vistoria ou interferência até chegar a Manaus, Boa Vista,
Rio Branco, Brasília, Campo Grande, Curitiba, São Paulo ou Porto Alegre. E
a partir de qualquer destes centros urbanos, o ilícito pode ser distribuído
sem maiores dificuldades por todo o Brasil ou até mesmo outro ilícito
transnacional pode ser cometido, com o embarque para Estados Unidos
ou Europa, que representam grandes mercados consumidores de
entorpecentes. Todos os investimentos em transportes intermodais, tão
caros ao desenvolvimento e progresso, lamentavelmente também servirão
a interesses escusos.
A importância do transporte fluvial na região amazônica e sua
imensa capilaridade foram levados em consideração quando da escolha
203
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

dos locais para instalação dos Pelotões de Fronteira. Cães de guerra


detectores podem constituir poderosa ferramenta para incrementar a
eficiência na apreensão de ilícitos dos Pelotões de Fronteira. A atuação
em atividades tipo polícia é diária, com revistas e abordagens de pessoas,
viaturas e embarcações. Dentre as unidades que podem ser beneficiadas
com o emprego do cão de guerra detector, os pelotões de fronteira se
destacam justamente pela versatilidade e baixo custo desta ferramenta
de detecção.

Mapa de cidades Brasileiras que compõem tríplices fronteiras

6.37.1 PONTOS DE BLOQUEIO E CONTROLE DE ESTRADAS –


EMPREGO DO CÃO DE DUPLA APTIDÃO NA REPRESSÃO DE
CRIMES TRANSFRONTEIRIÇOS
O cão de guerra pode incrementar significativamente a repressão
de ilícitos na extensa e porosa faixa de fronteira brasileira. O cão de
detecção pode ser adotado como ferramenta orgânica nos pelotões de
204
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

fronteira bem como qualquer unidade empregada em operações de


repressão a ilícitos transfronteiriços. O Comando Terrestre já percebeu a
importância no Cão de guerra na repressão de ilícitos na faixa de fronteira
e tem expandido o espectro das unidades com Seção de Cães de guerra
homologadas, ampliando daquelas tradicionais como unidades de Polícia
do Exército e Batalhões e Depósitos de Suprimento. No ano de 2013, foi
homologada a Seção de Cães de Guerra do 5º RCMec em Quaraí-RS, um
regimento de Cavalaria em faixa de fronteira, unidade que tem usado
sistemática e exitosamente seus cães nas diversas operações de fronteira
que tem participado.
A fronteira seca é porosa, com uma capilaridade enorme de estradas
vicinais e rios. A proteção na linha de fronteira é uma concepção fantasiosa
e inatingível. A faixa legal de fronteira, adentrando em até 150 km no
território nacional, onde as Forças Armadas tem poder de polícia, permite
a escolha de pontos de confluência de rodovias e rios, antes que o ilícito
atinja centros urbanos significativos, e torne remota a possibilidade de
apreensão.
Nos pontos críticos de ilícitos transfronteiriços de cidades gêmeas
e fronteiras tríplices, onde o cidadão local perde referências de legalidade
e percebe como invasivo e desconfortável qualquer tipo de fiscalização,
cães detectores permitem verificar grande quantidade pessoas e veículos
sem os inconvenientes da revista (demoras, abertura de bolsas, sacolas,
ou carga).
O cão de detecção permite que veículos e embarcações e suas
cargas possam ser checados em maior número e de forma mais eficiente.
Sem os cães, a eficiência dos pontos de bloqueio cai muito. Isto pode ser
evidenciado com as simulações, onde militares descaracterizados e
desconhecidos da guarnição tentam passar com contrabando por pontos
de bloqueio mobiliados com cães detectores e outros pontos sem cães.
Pontos fixos de controle são a solução adotada em muitos pontos
de entrada em países no mundo, como rodovias relevantes, portos e
aeroportos. Na extensa e porosa área de fronteira brasileira, postos móveis
e transitórios podem impactar mais na repressão do que os pontos fixos.
Os pontos fixos apresentam uma série de desvantagens em relação
aos pontos móveis de controle. Como a área de fronteira é muito extensa,
rapidamente os pontos são descobertos e novas rotas por rodovias, picadas,
rios que driblam a fiscalização são utilizados. Com o tempo, o volume de
apreensões diminui, e os agentes envolvidos na fiscalização acabam
205
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

realizando mecanicamente as buscas, causando mais embaraço e


desconforto ao cidadão de bem do que causando impacto significativo na
repressão. Pessoas conhecidas dos fiscais, como motoristas de ônibus e
táxis, que passam a servir como “mulas”, acabam tendo sua revista
negligenciada pelos agentes.
O contato direto e constante do mesmo efetivo de agentes de
segurança pode expô-los a cooptação pelos contraventores, oportunizando
a corrupção ou leniência na fiscalização. Nos países em que o exército é
empregado de maneira contínua no combate ao narcotráfico, problemas
de corrupção são frequentes, algumas vezes envolvendo o alto comando
como no México, e Peru.
A militarização da segurança pública interna produziu resultados
questionáveis nos esforços para reduzir a violência relacionado ao tráfico
de drogas no México. O Exército Mexicano goza de considerável confiança
do público, mas não tem base legal e treinamento para a imposição da lei
doméstica e para investigações criminais. A militarização resultou em
aumento dramático de violações dos direitos humanos, contribuiu para
corrupção e deserção entre os militares mexicanos, e escalou
desnecessariamente os níveis do conflito e da violência. De 2001 a 2009,
houve mais de 20.000 assassinatos atribuídos a organizações de tráfico
de drogas, os níveis extremos de violência ocorreram no biênio 2008-9,
período quando quase 10.000 homicídios foram contabilizados. Enquanto
a grande maioria dessa violência foi gerada por disputas internas entre
grupos do crime organizado, pelo menos 1.100 policiais e militares
morreram na linha de fogo entre os anos de 2006 a 2009.
O Exército brasileiro tem preferido a atuação esporádica e intensa
com emprego do princípio de massa em operações de Fronteira como a
Operação Ágata , Fronteira Sul, Operação Nabileque , Operação Cadeado
, Operação Dínamo II . As sete Operações Ágata resultaram na apreensão
de 106 armas 19,8 toneladas de explosivos e, 11,8 toneladas de drogas
apreendidas.
A atuação permanente expõe a tropa ao desgaste com consequente
queda de desempenho e pode facilitar o assédio por suborno por iniciativa
dos criminosos. Ação fraca ou moderada constantemente permite a
formação de cartéis e grupos organizados milionários, como aconteceu na
Colômbia e México.
A atuação esporádica e intensa, com grande alocação de recursos
humanos e materiais, é mais eficiente do que atuação permanente com
206
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

efetivos e recursos menores pois consegue por tempo determinado sufocar


a atuação de grupos criminosos hegemônicos, suspendendo a captação
de recursos, e com isso produzindo desorganização e desarticulação na
estrutura montada para a contravenção. Essa desorganização temporária
suscita disputas internas de grupos rivais, que ficam pulverizados e
fragilizados para ação repressora do estado.
Os elementos envolvidos na contravenção rapidamente levantam
informações onde os postos estão montados, e suspendem
temporariamente o tráfico ou contrabando. A contravenção usa batedores,
que transitam ou navegam na rodovia ou rio a frente do veículo ou
embarcação, e alertam sobre a presença do posto de controle. Traficantes
costumam usar o que chamam de “boi de piranha”. São elementos com
pequena quantidade de ilícito que se deslocam a frente do carregamento
principal. Na eventualidade do “boi de piranha” ser descoberto na
fiscalização, os responsáveis pelo carregamento principal desviam a rota,
retornam ou se abrigam em algum local seguro.
O Batalhão de Polícia de Trânsito de Curitiba passou a monitorar o
dispositivo “Waze”, aplicativo de celular por meio do qual é possível avisar
os usuários dos pontos onde ocorrem blitz de trânsito, e fez com que a
polícia alterasse sua estratégia de fiscalização. Assim que uma operação
é denunciada pelas pessoas que utilizam o aplicativo, os policiais se
deslocam para outro ponto. Duas grandes operações por dia eram realizadas
por uma única equipe. Agora, os policiais foram divididos em quatro grupos
menores, que podem deslocar as fiscalizações para outros locais
rapidamente . A informação divulgada pelo aplicativo associado à agilidade
de mudança de pontos de blitz tem melhorado os resultados das blitz
policiais, uma vez que ao desviar do ponto onde haviam recebido a
informação, acabam caindo no novo ponto de blitz na rota alternativa.
Cães de guerra detectores de ilícitos constituem uma interessante
ferramenta que se enquadra perfeitamente na proposta de pontos móveis
de Bloqueio e Controle rodoviários e fluviais. Podem ser facilmente
transportados em viaturas, embarcações, aeronaves, de forma eficiente
com baixo custo, podem detectar ilícitos que passariam imperceptíveis
aos militares, e tornam possível verificar grandes cargas que passariam
sem serem checadas.
Cães de guerra também auxiliam na segurança do efetivo militar
do ponto de Bloqueio, sendo empregados para patrulhar o perímetro,
especialmente à noite e em áreas rurais ou florestais. Outra importante
207
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

tarefa do cão de guerra na faixa de fronteira é apoiar as patrulhas móveis


da área, que quando necessário acionam os militares do ponto de bloqueio
com a missão de interromper a rota de evasão de força adversa ou de
suspeitos.
Pontos de bloqueio podem ser rapidamente montados em locais
diferentes nos principais eixos de movimentação por terra ou água dentro
da área de interesse. A tropa não fica mais do que alguns minutos em
cada ponto, pois a posição é rapidamente reconhecida e divulgada na
força adversa. O objetivo de pontos de bloqueio móveis não é somente a
dissuasão e promover sensação de segurança a população local, ou
melhorar a segurança de uma determinada área, mas a obtenção de
resultados concretos com detecção e apreensão de contrabando, armas e
elementos procurados por ordem policial ou judicial. Um ponto é escolhido,
onde não haja rota alternativa para evasão, uma vez que bloqueio seja
avistado por quem se aproxima. Viaturas, cavaletes e cones são usados
para evidenciar que se trata de um bloqueio para segurança de civis e
tropa. Alertas visuais e sonoros são usados caso embarcações estejam
sendo usadas em bloqueios fluviais. Alguns veículos/embarcações são
abordados e checados pela tropa e cães de detecção. Depois de alguns
minutos, o ponto é desmobiliado rapidamente e as viaturas/embarcações
voltam a circular e elegem novo ponto. A tropa deve treinar para
rapidamente desembarcar e montar o aparato de segurança, que envolve
escolha adequada de como as viaturas serão estacionadas, e como os
cães serão usados, na proteção da tropa e na detecção. Se um ponto de
bloqueio permanecer por horas, dias ou semanas, de forma ostensiva seu
maior objetivo será exclusivamente a dissuasão, com insignificante
quantidade e qualidade de apreensões e detenções. A avaliação fidedigna
tabula apreensões e prisões, classificando por relevância e não resultados
intermediários como número de viaturas/embarcações/pessoas abordadas
e revistadas.
Em terrenos que permitirem a observação à longa distância, como
na campanha gaúcha, razoável trecho da estrada pode ser vigiado para
evitar a evasão de veículos por retorno ou por saídas para estradas vicinais.
A semelhança das operações de emboscada, largo trecho da rodovia ou
corpo de água pode ter as rotas de fuga vigiadas e bloqueadas.. Com
apoio de diversas agências, aeronaves não tripuladas podem detectar
veículos que tentem se evadir do ponto de bloqueio montado.

208
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Se as tropas militares estão apoiando polícia ou outro órgão como


receita federal, uma reunião prévia deve estabelecer objetivos, locais,
atuação, riscos, atribuições por equipe e hierarquia clara no comando da
operação, bem como divulgar informações de comunicações como números
de telefones celulares, códigos, nominativos e frequências de rádio.

Cão de Guerra detector do 5ºRCMec Cão de guerra detector do 5ºRCMec,


atuando em ponto de bloqueio quebrando o paradigma da seção de cão
rodoviário em uma operação de de guerra apenas em unidades
fronteira tradicionais como de Polícia do Exército. A
foto ilustra a capacidade do cão em
checar carga que passaria sem ser
revistada por dificuldades práticas

Cão de Guerra detector do 5ºRCMec. A Vistoria de Cargas em ônibus de


foto ilustra a vistoria de um dos locais passageiros
de esconderijo de ilícitos, especialmente
drogas, dentro do pneu de veículos. O
cão de guerra é capaz de rapidamente
verificar se há drogas escondidas neste
local41

209
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Cão de guerra detector sendo empregado pelo Pelotão Destacado de Fuzileiros do 58º
BIMtz da Base de Corixa, fronteira BRASIL-BOLÍVIA, durante um PBCE em operação
conjunta com policiais militares e agentes da Defesa Civil de Cáceres na Rodovia
174-MT, utilizando o Posto da Policia Rodoviária Federal-PRF, e em um segundo
momento, no final da Rodovia Estadual MT-070.

6.38 OPERAÇÕES DE GARANTIA DA LEI DA ORDEM


Somente quando recursos regulares do estado para manutenção
da lei estiverem exauridos será iniciada por ordem do presidente da
República um operação de Garantia da Leia e da ordem. A operação será
de forma episódica, em área previamente estabelecida e por tempo
limitado. A operação desenvolverá ações de caráter preventivo e repressivo
necessárias para assegurar o resultado das operações na garantia da lei e
da ordem. Os requisitos e condições de atuação das Forças Armadas estão
normatizadas na Lei Complementar nº 97/99.

6.39 MOBILIDADE

6.39.1 ACONDICIONAMENTO DOS CÃES


Em campanha, operações, marchas e atividades nos campos de
intrução, durante os períodos em que o cão não estiver sendo diretamente
empregado ou durante os intervalos de descanso, permanecerá
preferencialmente, dentro de sua caixa de transporte colocada no interior
210
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

de viatura ou em ambiente de sombra. As manufaturadas em plástico são


facilimente encontradas nos fornecedores, tem pouco peso e são
padronizadas para embarque em voos comerciais. As manufaturadas em
fibra de vidro ou metal, tem vida útil maior e possibilidade de manutenção
– consertos de resina, soldas, pintura, etc.
O emprego da caixa de transporte proporciona flexibilidade e
segurança – a caixa permite o cão ser embarcado em qualquer viatura,
embarcação ou aeronave.
Cães também podem ser conduzidos por seu condutor na guia e de
focinheira. O cão pode ser transportado por viatura de um ponto a outro,
cobrir uma área de patrulha a pé e ser transportado para outra área de
patrulha por viatura. Nos deslocamentos motorizados, o condutor e o cão
serão os últimos a embarcar e os primeiros a desembarcar, evitando o
cruzamento com a tropa e minimizando a possibilidade de acidentes. O
cão é conduzido sentado, de frente para seu condutor, ficando de costas
para outros militares ou outros cães dentro da viatura. Canis modulares
são feitos de maneira que sejam desmontáveis, cujas medidas permitam
ser transportados em viaturas a partir de ¾ ton. e possam ser montados
dentro de uma barraca dez praças. Podem ser montadas também em áreas
cobertas cedidas para operação, como galpões, ginásios, escolas, etc.

Cão na caixa de transporte canil modular


desmontável

Figura 42
211
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Reboque militar modificado para transporte de cães militares. (5ºRCMec)

212
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

CAPÍTULO 7

PROVAS DE HABILITAÇÃO

O desempenho do cão de guerra precisa ser avaliado


constantemente, e ele sempre será avaliado como conjunto que forma
com seu condutor. Duplas falham por falta de entrosamento de trabalho,
treinamento inadequado ou insuficiente, doença, extenuamento físico,
senilidade. Há três maneiras básicas de avaliação: provas de habilitação
regulares, testes de duplo-cego e a mais importante de todas, as avaliações
inopinadas em situação real.
A prova de habilitação do cão de dupla aptidão consiste de diversos
exercícios que avaliam a resistência e disposição para o trabalho, controle,
agressividade e capacidade de detecção de artigos de interesse militar ou
forense.
O objetivo da realização de provas de habilitação é fornecer
subsídios para o Exército Brasileiro selecionar e empregar cães que
realmente estejam aptos para detecção de drogas, explosivos, armas,
munições, ou qualquer outro material de interesse.
Estão consagradas nas melhoras forças militares e policiais no
mundo, são realizadas frequentemente, cada agência tem sua
periodicidade, que usualmente varia de 6 a 12 meses, e é válida para um
cão e seu condutor. O conjunto condutor e seu cão de dupla aptidão
detecção e outra habilitação de trabalho são avaliados e credenciados
para o trabalho para o período seguinte.
Existem algumas competições esportivas muito bem estruturadas
que avaliam o potencial de capacidade de trabalho de cães. Estas provas
são reconhecidas internacionalmente e servem de base para a seleção
genética de cães de trabalho. Originalmente foram provas de trabalho
desenvolvidas para atividade militar ou policial que sofreram adaptações
para se tornarem mais acessíveis e menos desafiadoras, permitindo que

213
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

se difundissem como esporte. O Schutzhund na Alemanha, ou sua versão


internacionalizada o IPO, os circuitos de competição belga e francês e sua
versão internacionalizada o Mondio Ring, e o KNPV holandês estão entre
as que são reconhecidas e respeitadas internacionalmente.
Todas têm alguns pontos importantes em comum. Há exercícios
que avaliam agressividade controlada, obediência, faro e agilidade.
Existem algumas diferenças cruciais entre as provas de habilitação
e as principais competições e talvez a maior delas seja o estímulo do
condutor militar para o cão que conduz. Como os policiais franceses em
operação, o condutor militar carrega o mordente ou qualquer brinquedo
que use para estimular o cão. Isto é vedado em provas de competição
civil, mas é estimulado e cobrado do militar condutor. Qualquer outro
auxílio como apitos, petiscos, afagos, elogios, acontecerão naturalmente,
exatamente como acontecem no treinamento e exatamente como
aconteceriam em situação real. O militar condutor treina como se
estivesse em combate e combate como treina, e é avaliado da mesma
maneira na prova de habilitação. Apenas são corrigidos ou penalizados
os excessos, tanto em indutores positivos como em correções, bem como
atitudes que não devam ser realizadas em situações reais. O militar
avaliador sempre terá em mente as seguintes considerações: E se isso
fosse feito na presença de público? Se determinada atitude fosse
divulgada em fotos ou filmagens na mídia, seriam bem-vindas? Se não
houver problema, se o conjunto estiver passando uma imagem
profissional ilibada, não é cobrada nenhuma mudança do soldado
condutor.
As diferentes provas esportivas civis regulamentam apenas um
comando, e não permitem uso de comando verbal associado com gestos.
Na prova de habilitação do cão de guerra aqui proposta, tanto o comando
apenas verbal quanto o gesto ou ambos estão permitidos.
A realização regular de provas de habilitação é um indicador de
desempenho excelente, avaliando cães, condutores, SCG e cinotecnia no
exército. Está em perfeita sintonia com o regulamento vigente, com a
tendência universal de realizar provas regulares de avaliação nas duplas
de condutor e cão de guerra e com as diretrizes do Exército Brasileiro a
respeito do Sistema de Excelência Gerencial. Padronizam táticas de
emprego, orientam a preparação de militares e cães, guiam a seleção dos
melhores cães que devam ser reproduzidos e fornecem informações

214
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

daqueles que não estão aptos ao trabalho militar. As provas de habilitação


padronizam a formação e desempenho dos conjuntos, estabelecendo
objetivos claros, avaliando e pontuando todos com os mesmos critérios.
Uma padronização universal dos testes entre todas as agências que
empregam cães parece uma perspectiva irreal, há muitas variantes nas
missões e peculiaridades de cada agência, mas há pontos de consenso,
como reação a estampido de tiro, agressividade controlada e capacidade
e persistência na detecção de odores de interesse militar ou forense. A
padronização de algumas provas ou exercícios não somente no Exército
Brasileiro, mas em todas as forças armadas e auxiliares sob a tutela dos
Ministérios da Defesa e da Justiça fornecerá subsídios valiosos para a
seleção genética dos melhores cães.
A prova de habilitação na etapa que avalia a capacidade de
detecção do conjunto condutor e seu cão de guerra adequa-se a
peculiaridades de cada organização, mas sempre consiste de exercícios
de procura em áreas definidas, podendo ser área aberta, fechada ou veículo.
Um tempo de procura máximo é determinado, e são estabelecidos pontos
a serem descontados por erros cometidos, como por exemplo indicação
falsa, situação em que o cão indica um ponto onde não há ilícito, ou o cão
erra ao deixar de indicar ponto com ilícito.
A indicação é maneira pela qual o cão alerta seu condutor que
detectou o ilícito. Há dois grupos de indicação, um grupo de indicações
ativas e outro grupo de indicações passivas. Na indicação ativa o cão
pode morder, ou arranhar, ou latir no ponto mais forte do odor para qual
foi treinado; na indicação passiva o cão senta ou deita próximo ao ponto
mais forte de odor. Com exceção para a detecção de explosivos, onde a
indicação é exclusivamente passiva, para outros tipos de detecção há
liberdade para o tipo de indicação dada pelo cão na detecção de ilícitos
e esta será informada pelo condutor ao militar avaliador antes do início
da prova.
Os exercícios são montados com locais de esconderijo altos do
chão, enterrados e submersos nos mais variados tipos de líquidos como
água, solventes e combustíveis.
Qualquer cenário pode ser escolhido nas provas de habilitação,
tanto em áreas abertas quanto fechadas tais como instalações, veículos,
embarcações, aeronaves, bagagem, correspondência, pessoas e
instalações de transporte de massa (rodoviárias, aeroportos, portos,

215
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

ferroviárias) e arenas públicas vazias ou em dias de evento (estádios


esportivos, centros comerciais, teatros, centros de convenções).
O objetivo da realização de provas de habilitação é fornecer
subsídios para o Exército Brasileiro selecionar e empregar cães que
realmente protejam seu condutor e demais militares da operação; que
protejam instalações, e cumpram as tarefas previstas para o cão de guerra,
como: atuação em operações de controle de distúrbio, e detecção de drogas
ou explosivos, ou armas e munições.
A prova de resistência é requisito básico e eliminatório para
qualquer prova de habilitação.
As provas de habilitação avaliam cão e condutor e para tal têm
exercícios que permitam ao cão demonstrar elevado grau de agressividade
controlada, contra figurantes sem equipamentos de proteção (foco no
oponente, não no equipamento), bem como no combate com focinheira e
no ataque com o figurante usando apenas luva oculta. Também avaliam a
capacidade do cão de encontrar o oponente escondido, principalmente
através de seu faro, em situações de escuridão.
Na prova do Cão de guerra, os exercícios têm como objetivo fornecer
critérios para avaliar e selecionar futuros reprodutores com um perfil para
necessidades do exército Brasileiro, e privilegiar técnicas de treinamento
que permitam cumprir a missão dentro de nossa doutrina militar, legislação
e realidade. O essencial ao cumprimento da missão sempre é cobrado e
perseguido. Toda e qualquer cobrança de determinado exercício que possa
ter valor no esporte, mas não tenha significado operacional ou de
segurança é abolido. A prova de habilitação não é uma prova esportiva,
mas um indicador de desempenho do cão, de seu condutor e da Seção de
Cães de Guerra em que está inserido.
O militar nomeado como avaliador tem experiência suficiente
para, ao corrigir ou penalizar um soldado condutor, saber justificar qual
a razão prática ou legal da penalização, e imediatamente apontar qual a
conduta mais indicada. Qualquer cobrança de ações supérfluas, sem
justificativas ou sem finalidade em situação real, são abolidas, não
incorporar o vício de importar conceitos de avaliações esportivas das
diversas competições civis.
Os esportes caninos envolvem competição e os resultados de
colocação têm implicação de alguns milhares de euros e dólares como
premiação, além da valorização de reprodutores, canis e treinadores. Todas

216
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

estas etapas estão amarradas em regulamento, engessando ações de juízes


e figurantes. As provas de habilitação do cão de guerra compreendem
apenas conceitos operacionais: orientar as duplas e apontar pontos de
melhoria no treinamento, seleção e criação dos cães.
O militar avaliador cria juntamente com o figurante, desafios para
as duplas. A justiça se alicerçará não na previsibilidade do exercício,
descrita minuciosamente em regulamento, mas na sua aplicação universal
a todos participantes de determinada prova. Uma vez criado o exercício, o
mesmo será utilizado para todos os conjuntos, e ser for encontrado algum
problema, a solução para ele é perseguida no treinamento e ocorre de
forma orientada.
Mais uma diferença das provas de competição civil, uma vez criado
um cenário novo, é permitido o treinamento nessa situação antes da prova.
Será muito mais benéfico à cinofilia militar ter exercícios difíceis que foram
treinados alguns dias antes da prova do que exercícios medíocres,
previsíveis e repetitivos sem a oportunidade de treinamento.
Por exemplo, terá muito mais serventia uma Seção de Cães de Guerra
se esforçar para montar um obstáculo novo e permitir que as duplas treinem
antes da prova e superem este desafio, do que padronizar um obstáculo
em regulamento.
Criatividade e desafio norteam a montagem das provas de
habilitação, bem como a solução de problemas, por isso, alguns itens que
são exaustivamente descritos em outras provas esportivas civis, nas provas
do Cão de guerra ficam propositadamente em aberto. O militar avaliador
prioriza sempre a segurança das duplas, dos figurantes e dos outros
envolvidos bem como prioriza o foco no desempenho para missões reais.
Em todas as provas, o conjunto inicia com 100 pontos, e é
penalizado conforme a tabela para cada prova. Para ser habilitada, o
conjunto pode ser penalizado no máximo em 30 pontos, e não pode
cometer nenhuma falta desqualificante. As provas civis deixam um poder
muito grande com o juiz da prova, com isso, muitos pontos podem ser
perdidos ou ganhos em critérios subjetivos. As provas de habilitação
são simples, os critérios são claros tanto para os conjuntos como para a
assistência.
São publicadas em boletim interno quais conjuntos estão habilitados
e sua pontuação. Estas informações são incluídas nas alterações do militar.
Os resultados e súmulas das provas serão remetidos à cadeia de comando
através do Relatório Anual da Seção de Cães de Guerra.
217
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Será escalado um sargento ou um Oficial avaliador para a prova


que tenha conhecimento das missões do cão de guerra. Se for possível e
razoável, poderá ser escalada uma comissão, envolvendo outros militares
que não são da SCG, mas que tenham alguma relação profissional com os
cães, como militares do S3 da unidade e sargentos e oficiais que cumpram
missões com as duplas.
O condutor se apresenta para a prova de habilitação com seu
uniforme padrão de serviço operacional (o que é cobrado também de
participantes de forças auxiliares presentes, como por exemplo: agentes
de polícia militar, civil, federal, agentes penitenciários, etc). No mínimo, o
militar porta pistola, cassetete ou tonfa. Se no equipamento para as
missões que vem desempenhando estiverem previstos capacete, colete
balístico, sprays, cantil, ração operacional, bússulas, GPS, kits de primeiros
socorros ou qualquer outro equipamento complementar, serão portados
no dia da prova como se fosse um dia de missão real.
O cão está de guia, enforcador e focinheira. A focinheira é retirada
quando necessário durante os exercícios e guardada naturalmente em
bolso, pendurada em colete tático, ou qualquer outra maneira
determinada pelo militar avaliador. Da mesma maneira a guia, quando
retirada do cão, é conduzida enrolada na mão do condutor, em bolso de
seu uniforme, colete tático, bolsa de perna ou qualquer outro equipamento
usual da unidade militar em que conjunto estiver servindo. O enforcador
ou coleira não são retirados, a não ser que determinado exercício ou
uma coleira mal ajustada ofereçam risco ao cão. O uso de peiteira e/ou
coleira larga está autorizado, desde que sua permanência, ou momentos
de colocação ou retirada na prova sejam idênticos ao que é feito em
situação real.
Não é tolerado o excesso de equipamentos, não é criado o vício de
o condutor ter que carregar uma parafernália de equipamentos, alguns
itens para faro, outros para proteção, outros para obediência. Como em
uma situação real, o trabalho do conjunto migra de faro, para proteção e
para controle, sem ter que perder tempo ou ser atrapalhado por
equipamentos, se expondo a riscos. Passar a guia da coleira/enforcador
para a peiteira, prender ou soltar a guia para mudar de exercício são ações
que são feitas de forma rápida e eficiente e não são penalizadas de forma
alguma. A maneira de trabalho do conjunto é registrada na súmula da

218
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

prova. Se problemas aparecerem que desencorajem determinada prática,


o conjunto é orientado a mudar sua maneira de trabalho.
É providenciado escudo ou simulacro de escudo para ser usado na
prova de habilitação. O emprego de escudo é condição básica de atuação
em OCD, grupos de intervenção rápida/força de reação/assalto. O conjunto
trabalha sempre que possível com um militar de segurança, ou atrás de
um escudeiro, um escudo de OCD ou balístico conforme o caso. O cão
será condicionado para que lhe seja natural ser escoltado pelo militar de
segurança, ou avançar atrás de escudeiros de OCD ou de grupo assalto
em qualquer formação.
A posição ereta e artificial cobrada de condutores de provas civis é
combatida com vigor. O condutor militar em todos os momentos da prova
diminui sua silhueta e de seu cão, sempre está abrigado, atrás de meios
de fortuna, parede, muro, cerca, fio da calçada, árvore, veículo, poste ou
de escudo. Quando em grupo, a posição tática correta será cobrada.
A prova é filmada para Avaliação Pós Ação (APA) e é gravada no
computador da SCG para que os condutores estudem e revisem sua
atuação. A comissão aplicadora estimula que todos os militares
envolvidos opinem livremente durante a APA, mas somente serão aceitos
pedidos de reconsideração de avaliação por escrito, de próprio punho do
avaliado, logo após a prova. Dúvidas e questionamentos são sanados
com a maior brevidade possível. A prova é uma oportunidade única de
melhoria e isto está na mente de todos os participantes sejam avaliadores
ou avaliados.

7.1 AVALIAÇÃO DO JOGO


A base fundamental de todo o adestramento e trabalho é o jogo do
cabo de guerra e o jogo de buscar. Todas as duplas, independentemente
do tempo que estão juntas, da idade ou maturidade do cão, realizam o
jogo. O militar avaliador apenas marcará se o conjunto fez ou não o
exercício e o condutor receberá a orientação para corrigir e melhorar o
jogo com seu cão. Se o condutor não fizer o cão jogar bem, não estará
preparando seu cão para o figurante nem para trabalho de faro. Não há
justificativa para o condutor não realizar o jogo com seu cão todos os dias,
e ele é avaliado por isto. O mordente utilizado será o de preferência do
cão, tecido, couro, borracha ou bolinha de tênis.

219
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

SIM NÃO

Avaliação do condutor durante o jogo

Oferece o mordente de forma criativa para o cão em várias


posições, esquivas, pivots, permite ao cão “arrancar” o
mordente de sua mão

Oferece o mordente de forma segura ao criar um alvo


claro para o cão

Estimula o cão com comandos e auxílios verbais

Afaga o cão estimulando a mordia calma de boca cheia

Avaliação do cão durante o jogo

Demonstra estar excitado com o jogo e engajado com seu


condutor

Morde somente sob comando

Morde de boca cheia

Solta sob comando

Busca e retorna ao condutor

Busca usando seu faro na grama alta ou no escuro

Senta rapidamente

Deita rapidamente

Realiza o exercício de andar junto, com energia e


vivacidade

Quando chamado, se aproxima do condutor com energia


e vivacidade

220
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

7.2 PRESCRIÇÕES GERAIS ÀS PROVAS DE HABILITAÇÃO DO


CONJUNTO CONDUTOR E CÃO DE GUERRA
O condutor pode conduzir seu cão com guia ou sem guia nos
exercícios que achar necessário. O uso da guia pelo conjunto especificando
os exercícios em que foi usada ou não será registrado na súmula da prova.
O militar aplicador pode mandar a guia ser retirada em exercícios em que
a guia possa representar risco de acidente para o cão, como os obstáculos
ou ataques lançados. Se for usada a guia, esta não poderá ter alça para
quando for solta não oferecer o risco de enganchar em algo ou nos
posteriores do cão.
A guia é conduzida frouxa, com barriga. Cada vez que for tensionada,
o condutor será penalizado com desconto de 3 pontos. Nos exercícios em
que o condutor se afasta, a guia será deixada cair ao chão, ou o militar
naturalmente se abaixa ligeiramente e a repousa no chão. Como em uma
situação real, o condutor pode retirar e colocar a guia quando achar
conveniente, mas será penalizado se demorar ou se permitir atrapalha-se
com a guia com enroscar nas pernas do cão ou do condutor, prender-se
em algo, etc.
Em movimento, o cão sempre está ao lado ou bem a frente do seu
condutor, o cão jamais pode dificultar a progressão do condutor. Ao lado, o
cão pode estar a esquerda ou a direita do seu condutor, ombro do cão
próximo do joelho do condutor. Quando em movimento a frente, está pelo
menos 1 corpo de um cão a frente. O cão jamais cruza a frente do condutor.
Parado, o condutor pode comandar seu cão sentar ou deitar onde
for mais conveniente para o exercício: a sua esquerda, a sua direita, a sua
frente, ou entre suas pernas. Se o cão ficar parado, e o condutor se
movimentar, como por exemplo na revista, o condutor jamais cruza o
caminho do cão, preservando o triângulo de segurança.
Durante a transposição de obstáculos, o condutor lançará o cão,
ficando sempre a sua retaguarda. Para lançar o cão, pode colocá-lo entre
suas pernas e por breves instantes incentivá-lo antes de lançá-lo. Também
pode fazer o mesmo nos ataques lançados, desde que não exponha sua
silhueta ao figurante.
O condutor, diferentemente de todos os esportes caninos, pode e
deve estimular ou acalmar seu cão. Somente serão penalizados os exageros.
Maus tratos ou rigor excessivo com os cães são inadmissíveis, e
são desqualificantes em qualquer momento, mesmo antes do início da
prova.
221
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

A focinheira será colocada e retirada em diversos momentos da


prova, se o exercício assim o exigir. É carregada de maneira segura e
padronizada pela SCG no bornal de perna, colete tático, bolso, ou pendurada
no equipamento do condutor.
A coleira ou enforcador somente serão retirados por questões de
segurança, como em caso de enforcadores muito grandes que ofereçam
risco na transposição de obstáculos. Caso contrário, ficará o tempo inteiro
no pescoço do cão, e a guia será conectada e desconectada pelo
mosquetão. Focinheiras e coleiras/enforcadores de tamanho inadequado
constarão na súmula da prova como deficiências a serem sanadas.

7.2.1 DESQUALIFICAÇÃO EM QUALQUER MOMENTO DA PROVA


a) Descontrole evidente do cão; cão se afasta do condutor e não
retorna quando chamado; descontrole para tirar ou colocar
focinheira, guia ou peiteira;

b) atitudes negligentes, imprudentes ou por imperícia do condutor


que acarretem risco;

c) cão morde ou tenta morder rosto, mão ou genitais do figurante;

d) maus tratos ou rigor excessivo com o cão, mesmo antes da prova.

7.2.2 PENALIZAÇÃO DE 3 PONTOS EM QUALQUER MOMENTO


DA PROVA
a) Repetição de comando: a cada comando extra haverá a
penalização de 3 pontos;

b) cada vez que o cão demorar em atender o comando, lentidão


para executar, ou receio do condutor;

c) A capacidade de imobilização da mordida, a mordida de “boca


cheia” é a desejada e é observada em todos os momentos da prova.
São penalizadas a cada vez que ocorrerem as seguintes situações:
apreensão insegura, mordida fraca ou o cão soltar e remorder em
outro lugar, mordida apenas com os caninos.

d) hesitação é penalizada, o espírito de luta do cão é sempre


pronunciado;
222
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

e) Posicionamento, postura e verbalização do condutor são sempre


avaliados e são penalizados voz de comando fraca, com o cão ou
com o oponente, distração com seu próprio cão;

f) Todas as vezes que o cão morder corretamente o figurante, três


situações serão consideradas corretas:

1) O condutor auxilia seu cão, derruba e imobiliza o figurante


no chão e, só então, o cão será comandado para soltar. A cada
vez que a conduta correta não for realizada, o conjunto é
penalizado em 3 pontos;

2) O condutor pode comandar seu cão interromper a apreensão


e o cão permanece próximo ao figurante, vigiando-o;

3) O condutor pode comandar o seu cão interromper a


apreensão e o cão retorna ao condutor, para que este não se
exponha em área não vasculhada.

g) Se o condutor não auxiliar o cão, não imobilizar o figurante, se


expor, expor seu cão ou equipe em área não vasculhada, é
penalizado em 3 pontos.

h) toda vez que o cão urinar, defecar ou fizer os gestos de urinar ou


defecar durante a prova;

i) a cada vez que o cão e ou condutor se atrapalharem com a guia.

7.3 PRESCRIÇÕES PARA O FIGURANTE DA CERTIFICAÇÃO


O figurante sempre se posiciona de frente para o conjunto, ameaça
o conjunto, ameaça o cão, com gestos de ameaça bem claros, jamais corre
ou se afasta. O objetivo é avaliar a coragem do cão em defender seu
condutor, seus impulsos de luta e agressividade, não avaliar impulsos de
caça. A captura de suspeito em fuga é muito usada no exterior, e bastante
explorada nas competições civis, mas sob a luz de nossa legislação, fuga
não está tipificada como crime. O militar será condicionado para usar o
cão na sua própria proteção, proteção de seus companheiros (Grupo de
combate, patrulha, pelotão) e da organização militar.

223
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O figurante é auxiliar do militar avaliador, segue suas orientações


e ordens. O figurante servirá de instrumento para avaliar a capacidade de
trabalho dos cães. Ele se porta como um oponente se portaria, não como
alguém que tenta agitar e auxiliar o cão para que este o morda. Posturas
padronizadas, repetidas mecanicamente a semelhança dos esportes civis
não cumprirão a finalidade. O figurante assume um papel de oponente
drogado, bêbado, desafiador, furtivo, agressivo ou apático. O militar
escolhido para a função está apto para atividades físicas, qualquer limitação
implica na seleção de outro figurante. O figurante usa equipamento de
proteção completo:
a. Equipamento de proteção padrão para as provas será o macacão
de mordida o Bite suit dos esportes de Ring.
b. Para o exercício de ataque com focinheira, está de roupa civil ou
militar que ofereça alguma proteção, como abrigo de mangas
compridas, calça comprida, calça camuflada e gandola, etc. Pode
ser providenciada alguma proteção para o rosto e cabeça, mas não
é padronizada. Capacete de moto, capacete de rodeio, gorros,
chapéus, etc.
c. São escolhidos sapatos adequados ao piso sobre o qual a prova
será realizada, tênis, coturnos ou chuteiras para gramado.
d. Uso de saqueiras, cotoveleiras, caneleiras e outras proteções
individuais estão autorizados, principalmente se forem usados por
baixo dos equipamentos de mordida.

7.4 EQUIPAMENTOS AUXILIARES PARA O FIGURANTE


O figurante pode usar qualquer equipamento auxiliar que não
ofereça risco para si, para os outros envolvidos nem para o cão.
Armas com munição de festim serão duplamente checadas antes
das provas. Ninguém permanecerá na área de prova com munição real, ou
com armamento com munição real. Os tiros de festim são disparados a
uma distância de segurança dos cães e pessoas compatível com o calibre
ou carga de festim usados.
Todos os equipamentos para desafiar o cão, utilizados nos esportes
caninos reconhecidos internacionalmente, estão aceitos, desde que
cumpram as regras do esporte de origem, como por exemplo:
a. Bastão flexível do Schutzhund
b. Bambu cortado do Ring: Bambu cortado em seis seções até ¾ de
seu comprimento, diâmetro de até 2,5 cm, comprimento até 80 cm,
224
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

sem ângulos cortantes, todas as bordas arredondadas e se


necessário protegidas com cola.
c. Vara longa do KNPV.

O cão pode ser desafiado recebendo golpes leves nos ombros,


jamais na cara, nas costas ou nos rins. O figurante simula dramaticamente
que agride o cão, sem jamais fazê-lo. Não se admite ao figurante machucar
ou lesionar o cão. Gritos, vocalização, gestos podem ser usados livremente
pelo figurante, mas não são usadas palavras de baixo calão.
Outros exemplos de objetos para testar o foco do cão no oponente:
a. Bambolês com fitas plásticas;
b. Cortina de garrafas pet ou lona plástica preta;
c. Objetos que dificultem o acesso do cão, como piscinas, lagos,
canais, obstáculos, veículos, armários, mesas, cones de borracha,
água jogada de baldes ou mangueira, conteúdo de extintores de
incêndio, etc.

O figurante mantem o foco em uma atuação uniforme, aquilo que


fizer para um cão repetirá para todos os cães daquela prova bem com
preocupação premente em sua segurança e na segurança do cão.

7.5 PROVA DE RESISTÊNCIA


A prova pode ser realizada na véspera dos outros exercícios ou
bem cedo na manhã do mesmo dia antes da provas de Habilitação. A Prova
de resistência tem caráter eliminatório.
Somente cães em perfeitas condições de saúde podem participar
da prova. O Oficial Veterinário tem autoridade para retirar da prova
qualquer animal que ele suspeite estar com dor, ou qualquer outra alteração
de saúde que ele considere não ser compatível com a realização da
atividade.
O cão tem sua temperatura retal, e frequências respiratória e
cardíaca registradas antes do início da prova.
Horários mais quentes do dia são evitados para segurança dos cães,
especialmente se houver trecho em asfalto ou cimento. A previsão do tempo
é checada, o horário e dia da prova podem ser mudados para segurança
dos conjuntos.

225
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

É respeitada a tabela de temperatura e umidade relativa do Ar,


como descrito no artigo IV - Aspectos climáticos relacionados ao
treinamento físico militar do Manual de Campanha Treinamento Físico
Militar (C 20-20). As mesmas recomendações prescritas no manual para
atividade física da tropa são seguidas. Em condições classificadas como
preta ou vermelha a atividade não é realizada sendo adiada.
A prova não é realizada em condições climáticas extremas, muito
calor, muito frio, temporais, risco de raios, etc. Há risco tanto para os cães
como para os militares envolvidos.
Cães são bem mais tolerantes ao frio do que calor, mas a sensação
térmica é levada em consideração com observação da velocidade do vento
e umidade relativa do ar.
As condições climáticas são registradas na súmula da prova,
temperatura, ponto de orvalho e ou umidade relativa do ar, velocidade do
vento, condições de nebulosidade ou precipitações.
Qualquer tipo de piso está autorizado, mas um circuito ou percurso
com piso variável com asfalto, paralelepípedo, grama e areia é
recomendado. Situações que ofereçam risco ao cão e/ou ao condutor são
evitadas. A idade mínima para cão participar da prova de resistência é de
14 meses. O condutor pode ser substituído, bem como pode, de bicicleta,
conduzir seu cão.
A guia é conduzida frouxa, leves puxadas na guia são toleradas,
mas exageros ou guias tensionadas desqualificam o conjunto para
prosseguir na prova. O condutor pode parar para descansar, oferecer água
ou ajustar o equipamento, mas não pode ultrapassar 10 minutos por parada
nem ultrapassar o tempo limite descrito na tabela. Aos 8 km, há um intervalo
de 10 minutos de descanso, onde o condutor pode optar por encerrar sua
prova ou prosseguir. Se os militares avaliadores permitirem e o condutor
assim o desejar pode prosseguir para completar os 12 km de prova. A
distância percorrida bem como o tempo gasto serão registrados na súmula
da prova.
Militares avaliadores podem acompanhar de bicicleta ou viatura.
Uma viatura acompanha os cães para resgatar algum cão que necessite
de ajuda ou precise interromper a prova por qualquer motivo.
Não é permitido que um cão sem preparo físico prossiga na prova,
nem que o ritmo imposto pelo condutor ofereça desconforto ou risco ao
cão. Não são permitidas variações abruptas de ritmo, um trote constante
e confortável para o cão será mantido durante toda a prova, o conjunto
226
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

evidencia a todo momento que está preparada para a atividade. Se o cão


não conseguir prosseguir na prova por idade avançada, a sua permanência
na SCG é questionada.
Não há pontuação, há apto ou não apto e registro se o conjunto
percorreu 8km ou 12 km.
Ao final da prova, depois de realizados os exercícios de teste de
preservação de capacidade de trabalho, a temperatura retal, Frequência
cardíaca e respiratória serão medidas a cada 30 minutos, e será registrado
na súmula da prova do cão em qual medição os valores voltaram aos
valores basais medidos com o cão descansado antes do início da prova.
Quanto mais rápido estes valores voltarem aos valores basais de descanso,
o cão demonstra melhor condicionamento físico e melhor aclimatação.
Cães que demorarem mais de 1 hora e meia para voltar aos parâmetros
basais são examinados pelo Oficial Veterinário, e é revisado seu programa
de atividades físicas (corridas, natação, caminhadas e marchas).

7.5.1 DESCLASSIFICAÇÃO
- sinais de dor, claudicação, exaustão, ferimentos nas solas das
patas, em qualquer momento da prova, em especial nos intervalos para
prosseguir ou não.

Tempo máximo para percorrer Distâncias

40 minutos 5km

60 minutos 8 km

Intervalo obrigatório de 10 minutos, água é oferecida,


avaliação das condições do cão

1 hora e 45 minutos 12 km

7.5.2 TESTE DA PRESERVAÇÃO DA CAPACIDADE DE TRABALHO


Depois de terminada a prova de resistência, e em um intervalo não
maior do que 15 minutos, o cão demonstrará que preserva sua capacidade
de trabalho realizando pelo menos dois dos seguintes exercícios, os quais
serão definidos pelo militar avaliador:
227
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

• Salto de obstáculo em largura.


• Escalada de obstáculo.
• Troca de posições à distância com pelo menos dez metros de
distância do condutor, pelo menos seis trocas de posições.
• Busca de objeto lançado pelo condutor.
• Condutor comanda o cão deitar, se afasta e chama seu cão a uma
distância de pelo menos 40 passos.

7.6 PROVA BÁSICA DE HABILITAÇÃO DE CÃO DE GUERRA


O objetivo desta prova é testar o conjunto com critérios básicos de
treinabilidade, capacidade de trabalho e de faro. O objetivo é que todas
as duplas da SCG se habilitem, fazendo com que todos atinjam um padrão
mínimo. Uma vez habilitado nesta prova básica, o conjunto precisa habilitar
em uma certificação de cão de detecção. Outras habilitações específicas
serão cobradas conforme a necessidade da organização militar.
Envolve exercícios que testam resistência, agilidade, controle, faro
e emprego, conforme tabela abaixo:

Prova de resistência Eliminatória

Exercícios de agilidade Salto de obstáculo em larguraEscalada de


obstáculoEscalada de obstáculo com auxílio do condutor
Natação
Exercícios de controle Troca de posições à distância de pelo menos 10 metros do
condutor com pelo menos seis trocas de posiçõesBusca de
objeto lançado pelo condutorRejeição de comida oferecida
por estranhoReação a tiro de festimComando para deitar e
chamado a distânciaCondução com focinheira no meio de
grupo de pessoas.

Prova de Faro Prova de detecção de evidências/material militar extraviado

Agressividade Procura de oponente por faro em caixasAtaque lançado


controlada contra figurante onde só é possível morder na pernaRevista
em triangulaçãoAtaque lançado com o cão usando
focinheira e figurante civil sem nenhum equipamento de
proteção, sem luva nem macacão de mordida)

228
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

7.6.1 SALTO DE OBSTÁCULO DE LARGURA


O primeiro obstáculo que um cão aprende a saltar é em largura.
Isto o prepará física e mentalmente para saltar em altura, com danos
menores a tendões, articulações e musculatura, principalmente no cão
novo. Também condiciona o cão a realizar um traçado de salto suave
escolhendo o ponto de saída para o salto proporcional e adequado à altura
do obstáculo.
Para a prova o cão salta a largura mínima de 1, 5 m. O obstáculo é
construído de maneira que permita ter sua largura aumentada de 30 em
30 cm até o máximo de 4,5 m. O Condutor opta por lançar seu cão na
largura mínima e garantir o objetivo mínimo e ir aumentando
paulatinamente a largura do salto, ou já informa a largura que seu cão
costuma saltar. Serão permitidas no máximo três tentativas. A maior largura
que o cão pular com sucesso será registrada na súmula de sua prova. O
avaliador militar não permite tentativas aleatórias para larguras em que o
cão evidenciar não estar preparado. A largura somente pode ser ampliada
de 30 em 30 cm após sucesso na largura imediatamente inferior.

7.6.2 ESCALADA DE OBSTÁCULO


O lado a ser abordado pelo cão tem um ângulo reto na vertical em
relação ao solo. O lado de saída tem uma rampa angulada ou degraus
para auxiliar o cão. O objetivo é avaliar a capacidade do cão de transpor
um obstáculo semelhante a um muro, ou cerca, com ângulo de 90 graus
do solo. O obstáculo possibilita o acréscimo de tábuas de 20 cm por vez
para aumentar a altura a cada tentativa ou salto realizado podendo este
ser de 1,5m até 2,10 m. A altura mínima para a escalada é 1,5m. O condutor
opta em lançar seu cão na altura mínima e garantir o objetivo mínimo e ir
aumentando paulatinamente a altura, ou já informa a altura que seu cão
costuma escalar. Serão permitidas no máximo três tentativas. A maior altura
que o cão escalar com sucesso será registrada na súmula de sua prova. O
avaliador militar não permitirá tentativas aleatórias para escaladas em
que o cão evidenciar não estar preparado. A altura somente pode ser
ampliada de 20 em 20 cm após sucesso na altura imediatamente inferior.

7.6.3 ESCALADA DE OBSTÁCULO COM AUXÍLIO DO CONDUTOR


O mesmo obstáculo de escalada será montado na altura máxima
de 2,10 m. O condutor se aproximará do obstáculo e auxiliará, de forma
evidente para o oficial avaliador, seu cão a transpor o obstáculo. O condutor
229
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

pode auxiliar de várias maneiras, colocando o cão em seu ombro e o cão


pode pular para o obstáculo a partir de seu ombro, ou pode ser usado um
escudo como base, ou o cão pode saltar usando como apoio ou base as
costas de seu condutor. O cão pode estar com ou sem focinheira, a critério
de seu condutor, sem penalização alguma. A altura mínima para a escalada
é 1,7m. O condutor opta em auxiliar seu cão na altura mínima e garantir o
objetivo mínimo e ir aumentando paulatinamente a altura, ou já informa a
altura que seu cão costuma escalar com sua ajuda. Serão permitidas no
máximo três tentativas. A maior altura que o cão escalar com ajuda com
sucesso será registrada na súmula de sua prova. O avaliador militar não
permitirá tentativas aleatórias para escaladas em que o conjunto evidenciar
despreparo. A altura somente pode ser ampliada de 20 em 20 cm após
sucesso na altura imediatamente inferior.

7.6.4 NATAÇÃO
Um obstáculo de transposição de água é montado. O que é avaliado
não é a resistência em grandes distâncias, apenas o destemor do cão em
entrar na água e transpor pequenos trechos nadando, a distância
considerada pode ser a mínima que permita avaliar isto no cão. O cão
pode ser incentivado a entrar na água, a procura de um objeto lançado por
seu condutor, ou pela agitação de um figurante do outro lado da água ou
até mesmo dentro da água. Para a primeira prova de habilitação pode ser
usado um auxiliar que segura o cão do outro lado do obstáculo e o cão
será chamado por seu condutor. Isto não será aceito nas provas de
averiguação subsequentes.
Se for escolhido o uso de objeto, este é lançado na água e o cão
busca e devolve ao condutor. Evidente atenção é dada à escolha do objeto,
que flutua e não pode oferecer riscos ao cão.
Se não houver piscina, açude, canal onde o exercício possa ser
realizado com segurança, então uma lâmina de água, com meio palmo de
profundidade, é montada com lona plástica, e o cão busca um objeto jogado
na água. O militar avaliador pode solicitar que o condutor mande o cão
sentar ou deitar na lâmina de água, mas se fizer isso, o mesmo será
solicitado a todos conjuntos participantes.

7.6.5 TROCA DE POSIÇÕES A DISTÂNCIA


O cão será colocado em uma mesa, seu condutor se afastará pelo
menos 10 metros. Sequencia de trocas de posições envolvendo as posições
230
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

deitado, de pé, sentado. Pelo menos 6 trocas de posições. A sequencia de


posições será sorteada, escrita em uma cartolina em letras grandes a vista
de todos e pode ou não ser a mesma para todas conjuntos, a critério do
militar avaliador.

7.6.6 BUSCA DE OBJETO LANÇADO PELO CONDUTOR


O objeto a ser lançado e buscado pelo cão não é padronizado. A
única preocupação é não oferecer risco de machucar o cão. É dada
prioridade a objetos militares como gorros, boinas, pedaços de uniforme,
cantis, coturnos, coldres, municiadores, mas qualquer objeto pode ser
lançado. Pedaços de objeto, como pneus cortados, mangueiras, sarrafos
de madeira, etc, também podem ser empregados. Não é cobrada
formalidade na entrega do objeto, o que são avaliados são tanto a rapidez
quanto a disposição com que o cão busca o objeto e retorna para seu
condutor, entregando-o facilmente, sem resistência alguma. O condutor
joga e recebe o objeto dentro de um quadrado de 1m por 1m marcado no
chão. O objeto é lançado a pelo menos 15 passos do quadrado marcado.
Podem ser feitas marcas no chão para servirem de referência para auxiliar
tanto o condutor como militar avaliador.

7.6.7 REJEIÇÃO DE COMIDA OFERECIDA PELO FIGURANTE


Um círculo de 1,5 m de diâmetro é marcado no chão. O condutor
comanda seu cão deitar dentro do círculo e se afasta, ficando a pelo menos
20 metros do cão, sem ser visto colocando-se atrás de um obstáculo ou
biombo. O figurante com macacão de mordida se aproxima do cão e joga
petiscos/alimentos para o cão. Bolinhos de carne moída cozidas ou crua,
salsicha, pão, queijo, etc. Se o alimento esfarelar e contaminar o local da
prova, outra área será escolhida e marcada para os próximos cães. Será
desqualificado o cão que demonstra medo do figurante. Será penalizado
em 3 pontos para cada porção que cão comer, caso o demonstre
agressividade para o figurante, importune ou morda o figurante.

7.6.8 REAÇÃO A TIRO DE FESTIM


Condutor comanda seu cão deitar dentro de um círculo de 1,5 de
diâmetro e se afasta cerca de 20 passos. Um militar a cerca de 30 passos
do cão dispara 2 tiros com intervalo de 30 segundos. Penalização de 3
pontos se o cão ficar ligeiramente excitado, agressivo ou levemente
desconcentrado. Será desqualificado o cão que o demonstre medo ou se
afaste saindo da área do círculo.
231
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

7.6.9 COMANDO PARA DEITAR A DISTÂNCIA, CHAMADO EM


DIREÇÃO AO CONDUTOR
Dentro de um círculo marcado no chão com diâmetro de 1,5m o
condutor comanda o cão deitar, se afasta do cão pelo menos 40 passos,
aguarda a autorização do militar avaliador e então chama o cão. O condutor
coloca o cão o mais rápido possível em alguma das posições de controle:
cão a sua esquerda ou a sua direita na posição de junto, ou entre suas
pernas. A medida que o cão se aproxima do condutor, o condutor pode se
afastar do cão e o colocar em movimento na posição de junto. Haverá
penalização de 3 pontos por cada indução por gesto ou voz dado pelo
condutor; caso o cão saia do círculo marcado e volte a deitar (com indução
de seu condutor ou não). Haverá desqualificação se o cão sair do círculo
marcado e não voltar a deitar, se o cão não retornar a seu condutor.

7.6.10 CONDUÇÃO DE FOCINHEIRA NO MEIO DE GRUPO DE


PESSOAS
Grupo de pelo menos cinco militares, fardados ou não, caminhando
em linha. O conjunto pelo grupo em movimento, que se aproxima, cruza e
depois de 10 passos dá meia volta e cruza pelo grupo que se agora se
afasta caminhando normalmente. Ultrapassa o grupo e depois de 10 passos
para. Neste momento as pessoas do grupo se aproximam uma das outras,
deixando espaço para o conjunto passar no meio do grupo. O conjunto se
aproxima e se movimenta normalmente no meio do grupo fazendo pelo
menos a figura de um “8”. Haverá penalização de 3 pontos neste exercício
se na movimentação, o cão se adianta, atrasa ou se afasta mais de um
corpo de um cão do condutor; para cada comando extra do condutor, para
cada vez que o cão se sentir incomodado com a focinheira. Se a condução
precisar ser realizada com guia, penalizar em 3 pontos para cada vez que
a guia for tensionada. Haverá desqualificação caso o cão demonstre
agressividade contra alguns dos elementos do grupo.

7.6.11 APREENSÃO DE FIGURANTE PELA PERNA


É montado uma situação de exercício onde o cão será liberado para
apreender o figurante em uma situação onde só é possível morder na perna.
O condutor ordena que o figurante fique imóvel, erga os braços e se
aproxime de costas. O Figurante desobedece às ordens e se abriga em um
muro, mesa, árvore, etc, só permitindo acesso ao cão para morder na perna.
Penalização de 3 pontos caso Cão não morda ou demonstre Hesitação ou
demora.
232
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

7.6.12 REVISTA EM TRIANGULAÇÃO


Revista em triangulação, cão deitado, oponente de pé, ajoelhado
ou deitado, o militar avaliador da prova determina:
1ª revista o suspeito não reage
2ª revista o suspeito reage ameaçando ou agredindo o condutor e
é atacado pelo cão.
O cão será desqualificado caso ataque suspeito sem ordem do
condutor ou reação do oponente. Penalização de três pontos Para cada
repetição de comando para permanecer deitado ou atacar. Penalização de
três pontos para cada procedimento incorreto, como dar as costas ao
figurante, não revistar corretamente, etc.

7.6.13 ATAQUE LANÇADO COM O CÃO USANDO FOCINHEIRA E


FIGURANTE CIVIL SEM PROTEÇÃO, SEM LUVA NEM MACACÃO
DE MORDIDA
Ataque lançado com o cão com focinheira e figurante civil – sem
luva ou macacão de mordida. O objetivo deste exercício é avaliar o espírito
de luta e agressividade do cão direcionado ao oponente e não ao
equipamento. Tão logo o cão toque no figurante este cai, simulando que
foi derrubado pelo cão e continua agitando o cão para persistir no combate.
O cão que não atacar o figurante será desqualificado. Ataque sem energia
ou hesitação serão penalizados com 3 pontos.

7.6.14 ATAQUE INTERROMPIDO.


Cão é lançado ao ataque e o ataque é interrompido a cerca de 10
passos do figurante. O ataque pode ser interrompido com o comando para
deitar, ou chamada de volta ao condutor.
A falha na interrupção do ataque evidenciada se o cão morder o
figurante será penalizada com 3 pontos.

7.6.15 PROVA DE DETECÇÃO DE EVIDÊNCIAS/MATERIAL


MILITAR EXTRAVIADO
O cão procura em uma área determinada por objetos com odor
humano.
A maneira da indicação é descrita pelo condutor antes do início da
prova: cão senta, deita ou late em frente ao objeto ou busca e entrega ao
condutor. Qualquer indicação será aceita, desde que seja óbvia ao militar
avaliador. O condutor informa se o cão trabalhará solto ou na guia longa
(10 m). Caso use guia, o condutor se mantem afastado do seu cão até que
ele indique o objeto.
233
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Seré demarcado uma área aberta ou fechada escura para obrigar o


cão a localizar pelo faro e não pela visão de pelo menos 150 metros
quadrados. Qualquer área externa será aceita, desde que não ofereça risco
à integridade física do cão.
Qualquer objeto pode ser usado, mas obrigatoriamente tem odor
humano recente. O odor humano será conseguido com o avaliador
segurando ou passando as mãos no objeto por pelo menos 30 segundos.
Na primeira prova de habilitação que o conjunto realizar, o condutor pode
solicitar que ele impregne seu próprio dor no objeto, mas isto será
registrado na súmula da prova e não será permitido nas provas de
averiguação subsequentes.
Um assistente do militar avaliador ou o próprio entra caminhando
naturalmente na área demarcada e deixa ao lado de sua pegada o primeiro
objeto. Segue caminhando aleatoriamente dentro da área demarcada até
deixar o segundo objeto da mesma maneira e então sai da área demarcada.
Sugestão de objetos:
- Cápsula deflagrada de fuzil ou pistola, cartucho deflagrado de
arma de caça, chaves, arma, parte de arma, chave de fenda, pedaço de
tecido ou couro, gorro, meia, tênis, nota de dinheiro, lenço, carteira, cartão
de crédito, pé de cabra, martelo.
O objeto não é visível ao cão, se for um objeto maior, é escolhido
uma área escura à noite ou local fechado ou grama mais alta. Cado conjunto
procurará por objetos que não foram utilizados por outras duplas, para não
procurar odor de saliva ou de outro cão, mas odor humano em um objeto. O
condutor pode agitar seu cão livremente para o trabalho e liberá-lo em
qualquer limite da área demarcada. Se o cão indicar, o condutor vai entrar
na área, pegar o objeto, pode estimular o cão para procurar o segundo
objeto. Enquanto o cão estiver procurando, condutor se mantem afastado
do cão. Após a indicação do segundo objeto, o condutor pode premiar
livremente seu cão com elogios, carinho, petisco ou jogo de cabo de guerra.
O condutor pode chamar seu cão ou direcioná-lo para ponto não explorado,
exatamente como trabalharia em uma situação real. O que será penalizado
será a tentativa de mostrar ao cão o objeto. Haverá Penalização de 2 pontos
por cada minuto extra depois de 5 minutos de procura. Haverá Penalização
de 5 pontos caso o cão demonstre falta de energia, desinteresse, distração;
caso urine ou defeque na área de procura; caso indique de 0, 5 m até 1 m
longe do objeto; caso demore ou ofereça resistência em entregar o objeto
ao condutor caso busque. Haverá Penalização de 20 Pontos por cada objeto
que deixar de indicar, pela primeira indicação falsa. O cão será Desqualificado
234
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

caso exceda o tempo limite de 15 minutos; caso não indique nenhum dos
dois objetos, pela segunda indicação falsa, caso pegue o objeto e não entregue
ao condutor, bem como o cão indique o objeto por qualquer auxílio de seu
condutor puxada na guia, comando de voz, etc.

7.7 CÃO DE DETECÇÃO (CD) NARCÓTICOS, CADÁVER, ARMAS


Tipo, origem, descrição da condição do material usado para a prova
de detecção seja ele narcótico, arma, explosivo, material impregnado ou
pseudo odor são detalhadamente descritos. Cães para detecção de
cadáveres não podem detectar vítimas também, cães para detecção de
explosivos detectam exclusivamente explosivos e nada mais. Se um cão
for empregado somente para segurança orgânica da Organização militar
pode ser habilitado em detecção de narcóticos e armas e munições sem
prejuízo algum.

Nome do kit Observações

ScentLogix™ K9 HMTD Saco tipo zip que é armazenado com o


Scent Imprint Aid material a ser impregnado, depois de
impregnar, é novamente vedado e guardado
no freezerhttp://www.scentlogix.com/shop/
index.php?main_page=product_info&products_id

Pseudo odor marker http://www.explosivedogdetection.com/


pens product-list

Canine training aids http://www.sigmaaldrich.com/analytical-


Sigma pseudo Scent chromatography/analytical-
products.html?TablePage=9620026

Será solicitado a voluntários que não sejam da SCG para esconder


o objeto a ser procurado. A criatividade dos soldados é explorada e
estimulada, quando é dada a oportunidade, sempre criam excelentes
desafios para os cães em lugares inusitados. Não cometer o erro das
mesmas pessoas da SCG esconderem os objetos nos mesmos lugares.
A prova consistirá de um exercício de procura em área definida
pelo militar avaliador, podendo ser área aberta, fechada ou veículo. Pelo
menos três esconderijos em área aberta ou fechada; a área terá não menos
que 40m2 e não mais que 60 m2, em caso de veículos ou viaturas, dois
esconderijos em pelo menos três viaturas.
235
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O tempo de espera para iniciar a procura será de 30 minutos, o tempo


de procura autorizado será de 10 minutos, cada minuto extra será penalizado
com 2 pontos, o tempo limite para o exercício será de 20 minutos.
Com exceção para a detecção de explosivos, há liberdade para o
tipo de indicação dada pelo cão na detecção de narcóticos, ou armas e
esta será informada pelo condutor ao militar avaliador antes do início da
prova. Na indicação ativao cão morde, arranha ou late; na indicação passiva
o cão senta ou deita. Será aceita a indicação que o condutor definiu antes
do início da prova. Pode ser mais de uma indicação, desde que o condutor
deixe bem claro, por exemplo, cão morde quando é possível e late quando
está fora de seu alcance, no teto. O condutor deixa evidente que sabe
como seu cão indica. O esconderijo não pode ser visível nem para o cão
nem para condutor.
As alturas máximas de esconderijo a partir do chão, e as profundidades
máximas para o objeto ser enterrado, estão descritos na tabela abaixo.
Quando o objeto a ser indicado for enterrado, outros buracos são feitos
idênticos, revirando-se a terra, diferindo apenas por não ter o narcótico.

Profundidade máxima
Altura máxima para ser enterrado

Primeira prova de 1,00 m 0


habilitação

Primeira prova de 1,5 m 10 cm


averiguação

Segunda prova de 2,0 m 30 cm


averiguação

Terceira prova de 3,0 m 60 cm


averiguação

Quarta prova de 4,0 m 1,0 m


averiguação

Quinta prova de Sem restrição 1,5 m


averiguação

A partir da sexta Sem restrição Sem restrição


prova de averiguação

236
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Penalização de 2 pontos

Cada minuto extra depois de 10 minutos de detecção

Desqualificação Penalização de 5 pontos

Falta de energia, desinteressado, distraído

Urina ou esterca na área de detecção

Indicação de 0, 5 m até 1 m longe do esconderijo

Penalização de 20 Pontos

Cão não indica dois ou Por cada esconderijo que deixar de indicar
mais esconderijos

Segunda indicação falsa Pela primeira indicação falsa

7.8 CÃO DE DETECÇÃO EXPLOSIVOS


A prova de detecção de explosivos somente será realizada com
militares habilitados especificamente para isso, em unidades militares que
tenham a real necessidade de ter cães com esta função. Apenas os melhores
condutores que já tenham habilitado pelo menos um cão e tenham
experiência de pelo menos um ano com outros tipos de cães de detecção
são candidatos a conduzir um cão de detecção de explosivos.
É dada preferência para pelo menos o posto de cabo. A curva de
aprendizado é complexa e é uma área de conhecimento que não será
vulgarizada por questões de segurança.
Uma das condições básicas é que a unidade tenha estrutura para
apoiar os conjuntos para o deslocamento para outras unidades militares,
unidades de forças auxiliares, penitenciárias, prédios públicos federais,
etc. pelo menos uma vez por semana para realizações de treinamentos. É
aconselhável estreito relacionamento com o grupo policial responsável
pelo esquadrão antiexplosivos da região para prestar e receber suporte,
orientações e ter apoio de pessoal especializado para eventuais
treinamentos com material real, com toda a segurança.

Kits de Pseudo odor podem ser usados por questões de segurança:

237
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Nome do kit Observações


ScentLogix™ K9 HMTD Scent Saco tipo zip que é armazenado com o material a
Imprint Aid ser impregnado, o qual depois de impregnado, é
novamente vedado e guardado no freezer.http://
w w w. s c e n t l og i x . c o m / s h o p / i n d ex . p h p ?
main_page=product_info&products_id=16

Pseudo odor marker pens PETN, RDX, TNT, NITROGLYCERIN (Stabilized),


AMMONIUM NITRATE (Oxidizer), BLACK POWDER
(Potassium Nitrate & powdered charcoal),
POTASSIUM CHLORATE (Oxidizer), POTASSIUM
PERCHLORATE (Oxidizer), SODIUM CHLORATE
(Oxidizer), SODIUM PERCHLORATE (Oxidizer),
SMOKELESS POWDER (Nitrocellulose), WATERGEL
EXPLOSIVE, DINITROTOLUENE (2,4 DNT), DMNB
(TAGGANT), C4, SEMTEX-H, o-MNT (Orthomono-
nitrotoluene), p-MNT (Paramononitrotoluene),
EGDN (Ethylene Glycol Dinitrate), EGMN (Ethylene
Glycol Mononitrate), MMAN (Monomethyl
Ammonium Nitrate), DYNAMITE,UREA NITRATE,
DETASHEET (PETN Based), TATP (Triacetone
Triperoxide breakdown products) http://
www.explosivedogdetection.com/product-list/

TrueScent™ K-9 Training Aids Explosives K-9 Training Aids

http://www.signaturescience.com/National%
20Security%20K-9%20Scent%20Training%20Aids/

Cães de detecção de explosivos somente podem indicar de forma


passiva, sentar ou deitar sem tocar para indicar. Cães descontrolados,
agitados, que esbarram em tudo não são habilitados.
A ideia força da habilitação de cães de explosivo é clara a todos.
Outros cães de detecção podem errar sem maiores prejuízos em perdas
de vidas ou bem materiais. Em situação real, o cão de detecção de
explosivos erra somente uma vez. Uma vez que um cão de explosivos dê
um falso alerta, medidas serão tomadas, como evacuar um prédio público,
fechamento de ruas, acionamento de esquadrão antiexplosivos.
238
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Todos saberão do erro do cão e isto desmoralizará o cão de guerra,


sua SCG ou até mesmo o exército. Não há necessidade de maiores
explicações sobre as consequências de um cão deixar de indicar um local
com explosivo. Por esse motivo, a prova de habilitação não tem o caráter
didático de orientação para o conjunto das outras provas, todos os erros
desqualificam, o cão é corrigido para voltar a fazer a prova em outra
oportunidade.
Quando o objeto a ser indicado for enterrado, outros buracos
idênticos são escavados e cobertos, diferindo apenas por não ter o
explosivo. Isto comprovará que o cão está indicando odor do explosivo e
não o da terra remexida.

Profundidade máxima
Altura máxima para ser enterrado

Desde a primeira Sem restrição Sem restrição


prova de
habilitação e para
todas as provas
averiguação

Cada conjunto é testado em pelo menos um odor de cada uma das


seis categorias listadas abaixo:

Categoria de Odor de explosivo:

1. Pólvora (negra, Pirodex, pólvora de base dupla ou sem fumaça)


2. TNT
3. Dinamite (comercial ou militar)
4. C-4, FLEX-X, DATA SHEET, SEMTEX
5. DET-CORD (PETN), RDX
6. Géis de água de nitrato de amônio

Cada conjunto é testado em pelo menos dois dos tipos de cenários


de detecção descritos abaixo. Qualquer cenário pode ser escolhido na
primeira prova de habilitação. Nas provas de subsequentes de averiguação,
são escolhidos cenários até então não usados, até que todos os cenários
239
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

propostos terem se esgotado. Uma vez que se esgotem os cenários nas


provas de averiguação, os cenários podem ser repetidos.
1. Área aberta
2. Instalações
3. Veículos
4. Embarcações
5. Aeronaves
6. Bagagem, correspondência
7. Pessoas e instalações em Transporte de massa (rodoviárias,
aeroportos, portos, ferroviárias).
8. Arenas públicas vazias ou em dias de evento (estádios esportivos,
centros comerciais, teatros, centros de convenções)

Prescrições gerais:
Cães não veem nem acessam esconderijos.
Condutor não pode perturbar de maneira alguma o cenário de
detecção, não pode abrir portas, gavetas, armários.
Na detecção em veículos, pelo menos cinco veículos são usados,
sendo possível apenas um esconderijo por veículo e pelo menos um veículo
sem esconderijo algum.
Dependendo do tamanho da aeronave, mais de um esconderijo pode
ser usado pelo militar avaliador.
Detecção em bagagens são feitas em não menos do que 20 volumes
de materiais diferentes, bolsas, sacolas, malas plásticas, de couro,
alumínio, etc. O condutor não pode perturbar as malas de qualquer maneira.
Se for em rodoviária ou aeroporto, o cão pode caminhar por cima das malas
ou por cima da esteira.

7.8.1 DESQUALIFICAÇÃO
Cão deixa de indicar qualquer esconderijo;
Qualquer indicação falsa, cão indica onde não há esconderijo;
Indicação incorreta de esconderijo de drogas, cadáver ou odor
humano propositadamente colocado na área de procura pelo militar
avaliador;
Falta de energia, desinteressado, distraído;
Urina ou defeca na área de detecção;
Cão demonstra agressividade ou brincadeira com o local indicado,
morde, arranha, etc.
240
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

7.9 HABILITAÇÕES ESPECÍFICAS – BREVÊS


A prova de Habilitação Básica do conjunto condutor e seu cão
verifica um padrão mínimo para o serviço. Habilitações específicas ou
Brevês são testados separadamente. O objetivo é individualizar
habilidades, tornando mais fácil a conquista de habilitações do que a
realização de uma única prova com muitos exercícios. Isto motiva o
condutor, e torna mais simples ao reponsável pelo treinamento organizar
conjuntos, planejar, orientar e gerenciar seus recursos do canil. Um conjunto
somente pode candidatar-se a uma prova específica se tiver a habilitação
básica vigente, isto é, realizada no máximo seis meses antes.
A ideia é que o conjunto conquiste os brevês individualmente,
conforme sua capacidade e necessidade de serviço. Se bastar apenas um
brevê para cumprir as missões, então o conjunto está habilitado e será
suficiente apenas as provas de averiguações subsequentes daquele brevê.
Militares em cursos de formação devem brevetar cães em mais de uma
função.
Habilitações específicas:
Cão de guarda de instalações
Cão esclarecedor
Cão de Patrulha
Cão de apoio a equipe de intervenção rápida/força de pronta
resposta
cão de choque de operação de controle de distúrbio
Cão rastreador por odor humano específico ou por alteração na
pegada
Cão de choque – controle de distúrbio Civil

7.9.1 PROVA DE HABILITAÇÃO PARA CÃO DE GUARDA - CÃO


PARA POSTO FIXO DE SENTINELA
Esta prova fornece informações importantes a respeito do
temperamento do cão, agressividade contra oponente e estabilidade diante
de estresse.
O condutor prende o cão em cabo de aço ou ponto fixo, ou o solta
dentro da área telada a ser protegida e se afasta para fora do campo de
visão do cão. O figurante se aproxima sem equipamento de segurança e
ameaça o cão. O cão demonstra evidente agressividade ao oponente sem
equipamento de proteção, se aproximando do cabo de aço ou da tela. Este
exercício é realizado na escuridão, à noite ou antes do clarear do dia.
241
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Exercício Desqualificação Penalização de 10 pontos

O condutor prende o cão em Não demonstra Hesitação, insegurança.


cabo de aço ou ponto fixo, ou evidente
o solta dentro da área telada agressividade,Não
a ser protegida e se afasta latindo ou sem
para fora do campo de visão disposição para
do cão. O figurante se morder.
aproxima sem equipamento
de segurança e ameaça o cão.
O cão demonstra evidente
agressividade ao oponente
sem equipamento de prote-
ção, se aproximando do cabo
de aço ou da tela. Este
exercício é realizado na
escuridão, à noite ou antes do
clarear do dia.

Depois de um tempo variável,


um segundo figurante realiza
o mesmo exercício

Rejeitar comida oferecida por Demonstra medo do Aceita.


estranho no cabo de aço. figurante

Figurante com macacão de Não late Hesitação, insegurança,


mordida se aproxima do cão vigorosamente ou mordida fraca, troca de
no cabo de aço. não morde o local de mordida.
figurante.

Reação a tiro de festim. Demonstra medo Instável a ponto de


perder a atenção no
oponente por alguns
segundos

Tempo mínimo de espera no cabo de


aço ou na área telada pela primeira
aparição do figurante

Primeira prova de habilitação 15 minutos

Primeira prova de averiguação 30 minutos

Segunda prova de averiguação 1 hora

A partir da Terceira prova de averiguação 2 horas

242
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

7.9.2 CÃO ESCLARECEDOR


Nesta habilitação será avaliada a capacidade do cão em andar à
frente de seu condutor pronto para indicar presença de humanos. Uma
das habilidades mais valiosas do cão de guerra é perceber e indicar
claramente a presença de humanos à noite, utilizando sua visão, audição
e faro. A indicação pode ser através de latidos, ou mudança na expressão
corporal, mas é evidente para o militar avaliador. O cão será conduzido em
guia curta sempre à frente do condutor. Cães esclarecedores dos fuzileiros
navais americanos no teatro do pacífico e do exército australiano no Vietnã
eram condicionados a não latir para não denunciar a posição da guarnição
que avança. A SCG estabelece o critério, e treina e seleciona cães que
mais se adaptem para esta função.
No mínimo três figurantes sem equipamento de proteção saem
caminhando em linha O primeiro se afasta do grupo que prosseguirá
caminhando normalmente. Ele se afasta do trajeto que os outros dois
figurante manterão, mas permanece visível. Em distância variável, o
segundo figurante se separará dos demais e se esconderá onde não possa
ser visto, mas faz algum barulho como assoviar, cantarolar, bater pernas,
falar, rir, etc. O terceiro figurante vai caminhar normalmente por distância
variável e vai se esconder onde não possa ser visto nem ouvido pelo cão.
O cão não é solto para segurança dos figurantes que não usam
equipamentos de proteção. O objetivo é o cão detectar odor humano, não
de equipamento, e é avaliada a capacidade do cão de indicar ao seu
condutor a presença humana, que pode ser de um sentinela, militar
trabalhando ou intruso à área militar. O cão será penalizado com 10 pontos
por cada figurante que deixar de indicar. É registrado na súmula da prova
os figurantes que o cão não detectou.

7.9.3 CÃO DE PATRULHA


O cão de patrulha é a maneira mais eficiente de proteger grandes
áreas como toda sorte de instalações: refinarias, hidroelétricas, áreas
sensíveis de distribuição de energia elétrica, áreas militares, anéis de
segurança, flancos e retaguarda de postos de controle, vilas militares,
etc. Com poucos conjuntos, grandes áreas de depósitos e garagens podem
ser protegidos a noite. O conjunto patrulha a área em viatura, para evitar
desgastes desnecessários ao cão, desce em pontos críticos de maneira
aleatória, e percorre pontos diversos dentro área a procura de intrusos
com pelo menos mais um militar de segurança.
243
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

A prova de habilitação avalia tanto procura por faro e apreensão de


oponente ambiente fechado quanto em campo aberto. Os dois exercícios
podem ser montados na mesma prova semestral ou em provas alternadas.
Enfase maior será dada a maior necessidade da unidade, mas mesmo
pouco ou até mesmo não empregado o conjunto será avaliado nas duas
situações.
São providenciados três abrigos que tenham tamanho suficiente
para esconder completamente o figurante, não deixando nenhuma parte
de seu corpo visível e que tenha abertura que permita o acesso do cão
para ser premiado com o combate com o figurante. Podem ser armários de
aço padrão EB, caixas de madeira, tonéis. Os abrigos serão colocados
área na distância mínima de 30 metros um do outro. Um quadrado de um
metro por um metro será marcado no chão com distância mínima de 20
metros do abrigo mais próximo. Este quadrado marca a posição de saída
do figurante. A pelo 30 metros deste quadrado, será feito um círculo de
um metro de diâmetro e colocado um biombo, tapume ou obstáculo, que
cubra a visão do cão. Este círculo marca a posição de saída do conjunto.
Se houver disponibilidade, conjunto chega no local do exercício de viatura,
juntamente com o militar de segurança.
O conjunto se posiciona no círculo, e o figurante se posiciona em
sua marca, o quadrado. O condutor manda o figurante parar e se identificar.
O figurante desafia o condutor com gestos e palavras e corre para um dos
abrigos. Escolhe um e entra imediatamente nele.
O condutor leva o cão para trás do biombo, como se estivesse
buscando proteção, mas o objetivo é demonstrar claramente ao militar
avaliador que está obstruindo a visão do cão do abrigo para o qual o
figurante corre. Após tentar dissuadir a rendição do figurante e anunciar
que soltará o cão, começa a agitar seu cão para o trabalho, sem exageros
e de maneira profissional. Após o figurante se abrigar, o militar avaliador
autoriza o lançamento do cão. O condutor libera seu cão saindo da posição
de abordagem ajoelhado (cão sentado à esquerda do condutor, condutor
ajoelhado), da posição de abordagem deitado (cão e condutor deitados
lado a lado) ou pode lançar o cão do meio de suas pernas.
O condutor comanda seu cão da maneira que julgar adequado, como
direcionar seu cão para um ou outro abrigo, chamar seu cão e lançá-lo em
direção a outro abrigo. É penalizada apenas a repetição de comandos. O
condutor acompanha seu cão à distância, sem jamais dar as costas a
nenhum dos abrigos.
244
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

O cão indica claramente por latidos em qual abrigo o figurante está.


Mediante sinal do militar avaliador, o figurante sai do abrigo e premia o
cão com combate. O condutor sempre auxilia o cão no combate, derruba o
figurante no chão e o imobiliza e, só então, comanda o cão soltá-lo.
a) Desqualificação: Cão não morde o figurante. O condutor não
consegue tirar o cão do figurante – descontrole.
b) Penalização de 3 pontos: Cão não late, morde direto. Cada
comando extra para o cão soltar, ou auxílio do condutor para o cão soltar.

Os exercícios são montados de tal forma que evidenciem a capacidade


do cão em usar seu olfato para achar o oponente abrigado em condições de
escuridão ou pelo menos em condições precárias de iluminação.
O cão solta sob comando a distância e permanece guardando o
figurante e retorna ao condutor somente por comando.
O exercício de indicar oponente em área interna será realizado
também à noite. Os cenários são os mais variados possíveis, mas uma vez
que seja montado um cenário, este será o mesmo para todas os conjuntos
que realizarão a prova no dia: galpões, garagens, dentro de alojamentos,
postos de gasolina, escolas, etc

7.9.3.1 PROVAS SUBSEQUENTES DE AVERIGUAÇÃO DO CÃO DE


PATRULHA
Um vez habilitado, as provas semestrais subsequentes devem ter
sua dificuldade incrementada com área de procura maior, a procura
iniciando sem o cão ser agitado ou ver o figurante, apenas por comando
de seu condutor, mais figurantes, mais esconderijos e mais rigor na
avaliação tática de vasculhamento da área. Outra dificuldade a ser
acrescentada é o militar avaliador mandar o figurante entrar em todas os
abrigos (caixas armários, toneis), deixar um objeto com seu odor em um
deles e escolher aleatoriamente qualquer outro para se abrigar. Permanece
em silêncio, pois o que está sendo avaliado é a capacidade do cão detectá-
lo pelo faro. Depois de tempo de espera de 5 minutos, o conjunto chega
ao ponto inicial do exercício sem ter visto a preparação ou em qual caixa
o figurante está. Para a prova, será definido se o conjunto entrará com um
militar segurança, ou se guiará um grupo de intervenção rápida. Estes
militares de apoio serão os mesmos para todas as duplas. Caso na prova
seja definido a entrada com um grupo de intervenção rápida será usado
escudo balístico ou simulacro de escudo de compensado.
245
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

A sequência de procura segue recomendações táticas. Todo


procedimento que não interfira na procura, que não exponha o condutor
ou membros de sua equipe, que poderia ser usada em uma procura real,
será aceito. O cão procura, acha o figurante e late na caixa correta. O
figurante após ouvir os latidos, sai e ameaça o cão, o cão morde
vigorosamente. O condutor, sem sair da posição coberta ou abrigada,
comanda o oponente deitar e comanda o cão suspender o ataque.
Ou o exercício termina neste ponto, ou o condutor comanda o
figurante se aproximar de costas em direção o som de sua voz. Não é
criado o reflexo errado de se aproximar do oponente, pois na situação real
pode haver mais suspeitos escondidos na área fechada não vasculhada.
O condutor é avaliado por seu posicionamento correto no grupo de
intervenção rápida, proteção adequada, avanço tático e uso correto da
lanterna.
A dificuldade da área de procura é incrementada a cada prova de
averiguação, sendo realmente um desafio estimulante para os conjuntos.
Mais de um figurante na área de procura, área de procura com sótãos,
porões, dois níveis, labirinto de armários dentro do alojamento, etc.
a) Desqualificação
- cão não acha o figurante em 15 minutos de procura
- cão não late para indicar figurante
- cão não morde figurante depois de indicar
- Condutor avança se expondo, dando as costas para área não
vasculhada.

b) Penalização de 3 pontos
- cada minuto extra depois do tempo concedido de 5 minutos
- condutor ilumina o cão com lanterna
- cada indicação incorreta do cão
- posicionamento incorreto do conjunto no grupo de intervenção
rápida
- distanciamento do militar de segurança

7.9.4 HABILITAÇÃO DE CÃO DE APOIO A EQUIPE DE


INTERVENÇÃO RÁPIDA/FORÇA DE PRONTA RESPOSTA
Figurante pode assumir postura imóvel, ou agitada e desafiadora,
pode simular estar sob o efeito de álcool ou entorpecentes. Figurante pode
portar um simulacro de borracha ou madeira, faca, garrafa, bastão, arma
curta ou longa.
246
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Uma Equipe de intervenção rápida/ Força de Pronta resposta é


composto por pelo menos um elemento com escudo ou simulacro de
escudo, um elemento com uma arma letal de cano longo ou simulacro, um
elemento portando arma não letal ou simulacro e o condutor com seu cão.
O procedimento padrão adotado pela unidade é seguido, a equipe
de intervenção rápida será a mesma para todas as duplas. O grupo se
aproxima de maneira tática, tentar a rendição através de negociação e o
cão é liberado ao ataque. A equipe tática se aproximará do suspeito e
realizará a apreensão, auxiliando o cão sem expor seus componentes.

7.9.5 HABILITAÇÃO DE CÃO DE CHOQUE DE OPERAÇÃO DE


CONTROLE DE DISTÚRBIO
Pelo menos um dos seguintes exercícios sera montado:
- Proteção de ponto sensível
- Proteção de tropa que conduz apreendido de volta para a viatura
ou para trás da linha de escudeiros
- Apreensão de agitador/líder através da linha de escudeiros.
Na primeira prova de habilitação, qualquer exercício pode ser
montado, mas nas provas subsequentes de averiguação, não são repetidos
exercícios até a realização dos três exercícios propostos.

- Proteção de ponto sensível


Um ponto sensível será definido, o qual pode ser um portão, entrada
de prédio público. A turba se aproxima do conjunto, o condutor deixa seu
cão a sua frente, no limite da guia e este demonstra evidente
agressividade, latindo e dissuadindo a aproximação da turba.

-proteção de tropa que conduz apreendido de volta para a


viatura ou para trás da linha de escudeiros
Tropa com equipamento de OCD realiza uma detenção. Ao conduzir
o detido para o ponto marcado pelo militar avaliador, a turba se aproxima
tentando frustrar a detenção. O conjunto protege a retirada da tropa e do
detido, sempre se mantendo próxima da tropa até o ponto marcado.

- apreensão de agitador/líder através da linha de escudeiros.


Uma linha de escudeiros é montada. A turba agita gritando palavras
de ordem. Pelo menos um elemento da turba terá equipamento de proteção,
Mediante ordem, dois escudeiros giram ficando de frente um para o outro,
247
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

formando um túnel com os dois escudos, o cão é lançado no meio dos


escudos, apreender o agitador e ser puxado pela guia para trás das linhas
de escudeiros novamente.

7.9.6 HABILITAÇÃO DE CÃO RASTREADOR


O cão pode ser selecionado geneticamente e treinado para rastrear
por odor humano no ar ou no solo chamado em inglês de trailing, tipicamente
feito por cães Bloodhund ou pelo rastro deixado pelas alterações no solo
causadas pelas pegadas chamado em ingles de “tracking” e
frequentemente visto nos cães pastores de esporte IPO. Um cão treinado
para farejar odor humano, pode ser treinado para discriminar um odor que
lhe foi apresentado pelo condutor no ponto incial da trilha, e perseguir
especificamente este odor, mesmo com outro humano cruzando a trilha. O
cão treinado para farejar alteração no solo ou odor humano inespecífico
terá utilidade apenas em algumas situações, como a evasão de suspeitos
através de área rural, gramados, ou campos. Não terá plenas condições
de seguir por muito tempo o rastro em piso duro ou em trilhas contaminadas
por outros indivíduos, inclusive por outros policiais ou militares.
Para aqueles interessados em seleção do cão correto e treinamento
de cães de rastro por discriminação de odor humano específico, um
excelente livro é “K9 trailing, the straightest path, de Jeff Schettler”.
Para aqueles interessados em tracking, seleção e treinamento do
cão de rastro por alteração no solo causada pela pegada, podem achar
mais referências na bibliografia para IPO ou Schutzhund.
A prova proposta permitirá que independente se o cão faz tracking
ou trailing, ele achará o oponente, uma vez que haverá um ponto inicial
bem evidente, e sempre sobre algum tipo de solo macio (areia, gramado,
mata) e sem contaminação de outra pessoa que não o figurante.

Montagem da Prova
O exercício é montado pelo figurante sem proteção em um ponto
marcado como início da trilha como um carro abandonado, ponto de cerca,
ou objeto “abandonado”.
O cão pode trabalhar sozinho ou com outro cão, se estiver treinado
para isso. Os cães estão de focinheira de trabalho bem ajustada e checada.
Dois figurantes sem macacão de mordida nem luva oculta adentram
a mata. Não é permitido o uso de macacão de mordida, uma vez que não
avaliaria a capacidade do cão em farejar odor humano inespecífico, mas
248
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

sim a procura pelo odor do equipamento. Manga de Schutzhund ou mangas


ocultas não oferecem segurança suficiente para este exercício e também
contaminariam com odor de equipamento. Os figurantes caminham em
linha, os dois se abrigam em esconderijos previamente determinados pelo
militar avaliador e neles permanecem por 5 minutos; após este tempo,
trocam para outro abrigo, também previamente determinado pelo militar
avaliador e neles se escondem. Os abrigos não estão muito distantes do
eixo usado para a pretensa fuga. Os figurantes podem fazer qualquer
traçado para a fuga, fazer mudanças de direção em ângulos variáveis.
Os abrigos escolhidos não podem permitir que o cão consiga
alcançá-los e mordê-los. Estes esconderijos oferecem segurança aos
figurantes pois não permitem a mordida do cão, tal como uma toca ou
mesmo em cima de uma árvore, suporte ou qualquer proteção artificial
como tonel, tela, biombo, gaiolão de tela, etc. O importante é que o cão
consiga localizar os figurantes pelo olfato, ficando, porém, impedido de
mordê-los caso os figurantes a focinheira fique frouxa, ou se solte.
Após pelo menos 10 minutos de permanência dos figurantes neste
abrigo, o condutor é chamado com o seu cão. A equipe, composta pelos
militares que farão a segurança e pelo conjunto, abordam a entrada. O
conjunto se posiciona de acordo com as condições de abrigo oferecidas
pela vegetação. O condutor se ajoelha ou deita. O cão está na posição de
controle, deitado. O cão pode estar a alguma distância de seu condutor,
como no triângulo de segurança, pode estar ao seu lado (esquerdo ou
direito, de maneira indiferente) ou entre as pernas do condutor. Na “Posição
de Abordagem”, o condutor realiza a verbalização padronizada. O cão é
mantido quieto até o final da verbalização, seus latidos não podem interferir
no alerta. Uma vez dado o alerta, o cão pode se agitar naturalmente ou ser
estimulado brevemente por seu condutor para iniciar a procura. Apenas
os excessos são penalizados. A busca então inicia e a equipe acompanha
o cão solto ou conduzido em guia de tamanho variável.
O ponto mais extremo o qual os figurantes não podem ultrapassar
está claramente marcado com cones, fitas zebradas, etc. como área final
do exercício.

REALIZAÇÃO DA PROVA PELO CONJUNTO


A entrada na mata é feita de maneira tática, o condutor terá um
militar como seu segurança, três homens em linha ou qualquer outra
padronização da unidade.
249
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Ao localizar o abrigo onde se posicionou o figurante, que é


inacessível ao cão, este indicará a localização com fortes e frequentes
latidos, ininterruptamente, até que seja ordenado pelo condutor para cessar.
O mesmo será repetido para os demais figurantes.
Levando em consideração a segurança e agilidade da prova, o
militar avaliador pode determinar que o figurante permaneça no ponto
onde foi achado, ou saia da mata. O condutor tem alguns minutos para
premiar seu cão, acalmá-lo ou fazer o procedimento que julgue necessário
para o cão reiniciar a procura. Apenas excessos são penalizados.
A disposição para a procura e a persistência do cão são valorizadas.
A situação ideal é que o cão indique a localização de forma convicta, com
latidos fortes, frequentes e ininterruptos; mantendo-os constantes mesmo
durante a aproximação do condutor.
a) Desqualificação
• Exceder o tempo limite;
• Equipe passar por qualquer um dos figurantes se expondo a
receber fogo ou agressão;
• Equipe chegar até o ponto extremo marcando deixando de indicar
algum dos figurantes;
• Cão muito distante da equipe. Caso o cão seja solto, demora de
mais de 4 minutos para a equipe se aproximar em segurança do local
indicado pelo cão.
b) Penalizações de 3 pontos
• Excesso de estímulo do condutor
• Avanço sem técnica correta na mata
• Procura sem entusiasmo, incentivos constantes do condutor,
latidos fracos e inconstantes, falta de atenção na guarda, inquietude na
aproximação do condutor e abandono da guarda na aproximação do
condutor.

7.10 PROVAS DE AVERIGUAÇÃO


Todas as habilitações têm validade de 6 meses. A prova de
averiguação de manutenção é realizada semestralmente. A data limite
para a realização da prova do primeiro semestre é o último dia útil de
maio. A data limite para realização da prova do segundo semestre é o
último dia útil de novembro. As duplas que falharem repetirão a prova em
15 dias e uma terceira oportunidade será dada 30 dias depois da primeira

250
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

tentativa. Se o conjunto não atingir o aproveitamento mínimo de 70 pontos


ou for desqualificada por 3 vezes, o cão será designado para outro militar
compor o conjunto e o militar receberá outro cão.
Caso o militar não habilite o segundo cão, é feito um planejamento
pelo militar adestrador de como sanar as dificuldades do condutor. O
segundo militar designado para o cão que não for habilitado por três
tentativas consecutivas será um condutor experiente e que já tenha
habilitado outro cão. Se o cão falhar na habilitação com o segundo condutor
por três vezes, será reavaliado pelo militar adestrador e Oficial Veterinário
para detectar eventuais deficiências de temperamento, treinamento, ou
problemas de saúde. Esta avaliação pode recomendar que o cão seja
treinado para outra habilitação ou verificar que não tem perfil para ser ou
permanecer como cão de trabalho militar. Neste caso o cão é descarregado
da SCG.
O militar avaliador verifica a súmula da prova de habilitação ou da
última prova de averiguação e eventuais pontos perdidos a serem sanados
pelo conjunto nas provas subsequentes de averiguação.

7.11 DUPLO-CEGO
É a maneira reconhecida pela técnica forense internacional para
validar a confiabilidade de determinado teste. Basicamente, tenta isolar
os resultados das influências pessoais dos avaliadores. Os testes e suas
avaliações são realizados por pessoas diferentes, onde números indexam
os testes, substituindo a identificação direta de indivíduos e amostras.
Exercícios são montados com pequenos cilindros metálicos impregnados
com três grupos de odores variados. O primeiro grupo são os odores de
ilícitos para quais o cão foi treinado e deve indicar tais como drogas, armas,
munições, etc. O segundo grupo são de cilindros impregnados com odores
neutros que o cão não deve indicar (comida, esterco de animais, etc.). O
terceiro grupo é composto por cilindros sem impregnação alguma de odor,
o chamado grupo controle ou placebo. Os cilindros são lavados, secos, e
manuseados com pinças metálicas, sem contato humano direto. Os
cilindros do grupo controle são guardados em vidros herméticos, sem odor
algum, os cilindros dos grupos um e dois são armazenados juntamente
com aqueles materiais que se queira impregnar odor desejado. Um membro
da equipe indexa os cilindros metálicos e seus respectivos odores. Outro
membro da equipe de avaliação, recebe apenas os cilindros impregnados
com odor e suas numerações. Os cilindros são colocados em suportes
251
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

metálicos, e o avaliador apenas registra as indicações do cão e os números.


Este relatório é passado para outro membro da equipe que tabulará a
indexação com a correspondência dos números dos cilindros metálicos
com os odores testados, as indicações corretas, as indicações erradas e
as falhas de indicação.
É chamado de duplo-cego por que nem o auxiliar que monta o
exercício para o cão nem o conjunto cão de guerra e seu condutor tem
conhecimento de quais cilindros são os corretos, apenas tem acesso à
identificação numérica.

7.12 AVALIAÇÕES INOPINADAS EM SITUAÇÃO REAL


Em situação real durante as operações, militares ou agentes de
segurança descaracterizados tentam transpor as barreiras de fiscalização
a pé, em veículos ou embarcações com ilícitos. Eventuais falhas, situações
nas quais os cães não detectam são levantadas e corrigidas. Estas
simulações colocam a prova o emprego e orientam para correção de falhas
e oportunidades de melhoria. Cães não são como humanos, que podem
trabalhar por uma motivação por longos períodos, cães trabalham
objetivando sua recompensa, caso esta demore muito, podem
eventualmente perder o foco no trabalho. As tentativas de passar ilícitos
pelas barreiras faz com que todos os envolvidos persistam alertas. Falhas
reais de detecção não são contabilizadas, as falhas em situações criadas
são uma maneira genuína de aferir o desempenho das duplas.

7.13 COMPETIÇÕES CANINAS


A participação em eventos e competições caninas também pode
subsidiar a avaliação dos conjuntos e é permitida desde que a atividade
fim não seja comprometida. A preparação de cães de trabalho para esporte
tem grande afinidade com a do cão de trabalho militar, mas difere em
pontos cruciais. A participação em provas de cães para polícia,
penitenciárias e organizações militares é estimulada e perseguida com
determinação pela Seção de Cães de Guerra, bem como duplas de outras
instituições e agências de segurança são convidadas para participar das
provas de habilitação realizadas pelo exército. A troca de informações
com outros órgãos de segurança pública é fundamental para a evolução
dos canis militares.

252
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

CAPÍTULO 8

SANIDADE DO CÃO DE GUERRA

8.1 ALIMENTAÇÃO
O Chefe da Seção de Cães de Guerra não poupa esforços para
adquirir rações específicas para cão de trabalho, com proteína de qualidade
e energia metabolizável adequada, pelo menos 4000 kcal/kg. Rações que
produzem muito volume de fezes, ou fazem os cães defecarem
frequentemente, não são rações boas e possuem grande quantidade de
produtos de origem vegetal como milho, arroz, farelo de trigo ou soja. É
aconselhável substituir estas rações por outras que mantêm o cão em
condição excelente com menor quantidade, e produzem volume e frequência
menores de defecação. Para que a Seção de Cães de guerra receba uma
ração adequada no processo licitatório, ela será minuciosa e
criteriosamente descrita. Usualmente apenas as melhores rações atendem
o critério de energia metabolizável e digestibilidade altas, descritas em
rótulo aprovado pelo Ministério da Agricultura. Outra exigência que
seleciona as melhores rações é a indicação “exclusiva” para cães de
trabalho, presente no rótulo registrado no ministério da Agricultura.
Algumas rações conseguem registrar uma mesma ração para toda sorte
de categoria de cães, há rações no comércio que apresentam em seu rótulo
indicação para filhotes, cães adultos, cães de trabalho, convalescentes. O
que desclassificará esse tipo de fraude é a palavra “exclusiva”
cuidadosamente presente na descrição do edital. Rações melhores, com
maior energia metabolizável custam mais por quilograma, mas acabam
sendo mais econômicas pois o cão come menos.
Além da economia, há a questão de saúde. Rações mais
concentradas permitem alimentar os cães com menor volume. A dilatação
gástrica seguida de vólvulo foi umas das principais causas de óbito de
cães militares em um estudo retrospectivo de 927 casos em 3 anos do
Programa de Cães de trabalho militares do Departamento de Defesa dos
Estados Unidos.
253
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

O condutor observa diariamente, ainda no canil, se o cão se


alimentou corretamente, se tem água limpa disponível e a condição das
fezes. O condutor habitua o cão a ser examinado na boca, sem resistência,
alterações como dentes quebrados, gengivite, acúmulo de tártaro,
sangramentos ou ferimentos serão procurados neste exame de rotina. As
orelhas serão verificadas se apresentam excesso de cera, secreções ou
odor ruim, pulgas e carrapatos. No corpo do cão, o condutor verifica se há
ferimentos, a condição do pelo, ectoparasitas como pulga ou carrapato.

8.2 PRINCIPAIS CAUSAS DE DESCARGA, MORTE OU EUTANÁSIA


DE CÃES MILITARES:
-dilatação gástrica e vólvulo;
-doenças articulares degenerativas (displasia coxofemoral, displasia
de cotovelo, menos comuns de joelho e de ombro);
-Doenças neurológicas da medula, mielopatia degenerativa,
espondilopatia lombosacral;
- intermação;
- neoplasias;
- problemas graves de comportamento;
-Fraturas dentárias graves;
-Traumas graves tais como quedas, tiros, facadas e atropelamentos.

8.3 SUPORTE VETERINÁRIO


O cão de guerra tem condicionamento físico excepcional conseguido
por exercícios regulares como natação, corridas, participação em todas as
marchas da unidade, acompanhando seu condutor, bem como seleção pelas
provas de habilitação.
A SCG que não dispuser de Oficial Veterinário contata outra unidade
militar que possa apoiar ou estabelece convênio com uma clínica
veterinária. Cães de guerra sadios requerem poucos cuidados veterinários,
especialmente se bem condicionados fisicamente, mantidos em condição
corporal ideal, nem magros nem gordos e com o calendário profilático da
Seção de Remonta Veterinária em dia de vermifugações e de aplicação de
vacinas. Acidentes acontecem, como entorses de membros, lesões,
ferimentos, ingestão inadvertida de narcóticos durante busca; problemas
dentários e cães com problemas precisam de atendimento. Sempre há
boa vontade em ajudar cães de trabalho, e a SCG, por menor que seja,

254
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

providencia dados e contatos para apoio antes que a urgência de fato


aconteça. Clínicas particulares grandes e hospitais veterinários de
universidades, usualmente, são acessíveis aos cães militares e prestam
apoio quando são estabelecidas parcerias como demonstrações,
oportunidade de estágios ou visitas técnicas do corpo discente à SCG.
Cães militares estão sujeitos aos mesmos riscos ocupacionais que
seu condutor, como ferimentos por arma de fogo, objetos perfuro-cortantes
ou contundentes, agentes químicos, biológicos e nucleares. A prevenção
de parasitos externos como pulgas, carrapatos e outros vetores como
moscas e mosquitos é realizada sempre, pois a proximidade do cão de
guerra com a tropa pode permitir a transmissão de zoonoses.
Acidentes com animais peçonhentos podem acontecer, bem como
quedas, atropelamentos e acesso a substâncias químicas. Áreas de
acidentes, desabamentos e explosões transformam elementos cotidianos
em grave risco à integridade física do militar e seu cão, como lascas de
madeira, pregos, vidro quebrado, químicos e solventes espalhados, pó de
construção (fibra de cimento, de vidro, amianto).
Em missões em áreas desconhecidas para o conjunto, consultar
veterinários e cinotécnicos como parte do planejamento, pois eles poderão
informar quais os tipos de acidentes são comuns ou possíveis de acontecer.
Uma matriz de risco de probabilidade versus gravidade é montada e
providências para gerenciar os possíveis riscos são tomadas, entre elas,
evacuação do cão ferido ou doente. Determinar níveis de evacuação para
o cão, com telefones de contato, mapas para acesso, quem será informado.
Simular evacuação de cão com acionamento do plano de resgate. Checar
se apoio está também disponível fora dos horários comerciais e em finais
de semana, feriados normais ou feriados prolongados.

8.4 DENTES
Dentes de um cão são o seu principal instrumento de trabalho, é
obrigação do condutor verificar frequentemente as condições da boca e
dentes de seu cão, e comunicar imediatamente qualquer alteração ao Oficial
Veterinário. Fraturas de dentes não podem ser negligenciadas, causam
dor e podem complicar com sérias infecções. Os dentes caninos estão
mais sujeitos a traumas e fraturas que outros dentes. Acúmulo de tártaro,
desgastes irregulares, gengivites também podem aparecer e serem
percebidos no simples exame de rotina.

255
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Canino fraturado

8.5 INTERMAÇÃO
A intermação acontece quando o cão não consegue baixar sua
temperatura durante ou logo após trabalho e ou em situações de
temperatura ambiente elevada, tem gravidade variável mas no pior cenário
pode levar ao óbito.
O cão tem mais problemas com calor do que com o frio. Cães de
esporte de tração de trenós têm sido acompanhados em competições
extenuantes como a corrida de Iditarod. Temperaturas contínuas de até
45ºC negativos não afetaram negativamente cães aclimatados e bem
condicionados. Estes mesmos cães começaram a demonstrar alguns sinais
de desconforto durante a atividade de corrida em temperaturas superiores
a 6ºC negativos.
Calor demais pode matar o cão, o condutor tem que ter muito
cuidado em alojamentos provisórios insuficientemente ventilados e dentro
de viaturas. Jamais deixar cão no sol forte, sozinho, sem proteção. O cão
de guerra, diferentemente de seu condutor, não usa coturno, cautela com
o asfalto quente no verão, que causam queimaduras e desconforto nas
patas. Cães que patrulham bastante acabam tolerando mais piso quente,
mas há limites a serem respeitados pelo condutor.
256
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

O Cão de guerra obeso, sem condicionamento físico adequado,


submetido ao abuso de ser negligenciado vários dias ou semanas sem
exercícios adequados é um indivíduo de alto risco para ter intermação.
Outros fatores de risco são idade avançada e temperatura e umidade alta
do ambiente. O uso de focinheiras em ambientes quentes e úmidos pode
dificultar os mecanismos fisiológicos para o cão baixar sua temperatura
de ofego e de exposição da língua.
Aclimatação consiste em iniciar a intensidade e duração do
exercício adequada ao cão em determinado momento e ir paulatinamente
aumentando o desafio, permitindo adaptações fisiológicas do cão.
Aclimatação é considerada no planejamento de atividades físicas quando
o cão é desdobrado em missão em outra região, bem como nas mudanças
de estação anuais, como início do verão.
No estágio inicial da intermação as mucosas e a língua estão
vermelho brilhante. A saliva fica grossa e o cão, muitas vezes vomita.
Considera-se risco de intermação temperatura retal acima de 41.1 ºC,
embora trabalhos científicos tenham registrados temperaturas retais de
até 42.2 ºC em cães labradores em provas e exercícios extenuantes e
cães da raça Greyhound em provas de corrida que não apresentaram
nenhum problema. Trabalhos com sensores que podem ser ingeridos pelos
cães e emitem informação via rádio provaram que os cães aclimatados
conseguem manter sua temperatura interna estável em cerca de 39.0 ºC,
mesmo com temperaturas retais mais altas de até 42.2ºC.
A temperatura alta por si só não significa intermação, mas a
disposição do cão e demonstração de fadiga, especialmente quando não
estiver sendo estimulado pelo trabalho. Excelentes cães de trabalho, com
impulsos de caça e luta altos, tendem a mascarar a fadiga e a hipertermia.
Então, permitir intervalos de descanso, e o cão será observado
principalmente pelo ofego e tempo de recuperação de Frequência cardíaca,
Frequência respiratória e temperatura em descanso. Todas as medidas
fisiológicas citadas caem rapidamente no cão aclimatado, condicionado e
saudável.
A temperatura retal média do cão em repouso é 38,9 ºC com uma
variação fisiológica de mais ou menos 0,5 ºC (de 38,4 ºC até 39,4ºC).
Cães com intermação tem sua temperatura retal entre 40,0 °C a 43,3 °C. O
cão se torna progressivamente instável e pode ter diarreia sanguinolenta.
Conforme o choque se instala, os lábios e mucosas assumem tons
cinzentos. A deterioração do quadro passa por colapso, convulsões, coma
e até a morte.
257
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Os primeiros socorros consistem em tentativas imediatas de baixar


a temperatura do cão, com água, ou álcool, ou até mesmo gelo e levar
imediatamente para atendimento veterinário. Há complicações pulmonares
e hemodinâmicas importantes que levarão a óbito o cão sem atendimento
adequado.

8.6 DILATAÇÃO GÁSTRICA-VÓLVULO


A dilatação Gástrico-vôlvulo (DGV) é uma emergência com risco de
morte que ocorre em cães suscetíveis quando o estômago se distende
com ar e enquanto dilatado gira sobre si mesmo. Isto interfere com o
fornecimento de sangue para o estômago e outros órgãos digestivos e
bloqueia a passagem de alimentos, agravando a dilatação. O estômago
distendido impede o retorno normal do sangue para o coração, reduzindo
drasticamente o débito cardíaco e a pressão sanguínea. Tecidos privados
de oxigênio/sangue começam a morrer, liberando toxinas na corrente
sanguínea que, entre outros efeitos adversos, causam graves perturbações
no ritmo cardíaco (arritmias cardíacas).
Uma simples dilatação gástrica não resulta em volvulus (torção)
em um estômago de normal. Cães mais suscetíveis são os de grande
porte e de peito profundo, raças, em quem o estômago parece ser mais
móvel dentro do abdômen. Outros fatores que aumentam o risco de DGV
incluem comer demais, comer rápido, alimentação diária única, alto
consumo de água, estresse e exercício depois de comer.
Cães militares tem alta incidência de dilatação gástrica seguida de
vólvulo, situação grave somente corrigida por cirurgia com sério risco de
morte do animal. Há maior incidência em determinadas linhagens,
sugerindo relação genética além de causas de manejo.
Aumento considerável do volume abdominal, dispneia, tentativas de
vômito, usualmente infrutíferas e demonstração evidente de desconforto.
Fatores predisponentes: cães pesados , quanto mais pesados, mais
próximos de 50 kg maior a incidência, histórico familiar, rações volumosas
com alta concentração de cereais ou seja, aquelas rações mais baratas de
segunda linha, cães que comem muito rápido, que são alimentados apenas
uma vez por dia, na faixa etária entre 7 e 12 anos.
Prevenção: dividir as refeições dos cães pelo menos duas vezes
por dia, uso de rações mais concentradas, alimentando os cães com menor
volume de ração, ofertar água ad libitum, não permitir que os cães fiquem
com sede e tomem muita água de uma vez só, principalmente próximo às
refeições, não exercitar ou trabalhar os cães nas horas seguintes as
258
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

refeições. Se um cão ficar muito tempo sem se alimentar ou beber, oferecer


água aos poucos até saciar a sede do cão e somente depois de algumas
horas oferecer comida em pequenos volumes, diminuindo o risco do cão
dilatar o estômago.

8.7 DOENÇAS GENÉTICAS


Algumas doenças são herdadas geneticamente, O oficial Veterinário
comunica a Seção de Remonta Veterinária, para que os cães responsáveis
sejam identificados e retirados da reprodução, e elas incluem mas não se
limitam as seguintes doenças: Dermatite acral por lambedura, Catarata,
distrofia corneal, hiploplasia do nervo óptico, Pannus, atrofia retinal
progressiva, displasia retinal, Dilatação gástrica e vólvulo, megaesôfago,
Seborreia crônica, demodicose, dermatite atópica, displasia coxofemoral,
displasia de cotovelo, miosite mastigatória, Estenose vertebral lombo sacral
degenerativa, hemivértebra, panosteíte.

8.8 SÍNDROME DE CANIL


A síndrome de canil abrange uma série de problemas
comportamentais de cães negligenciados em canil, com pouca ou nenhuma
socialização, principalmente nos períodos críticos de socialização do filhote,
em ambiente pobre sem estímulos e com pouca atividade física. Cães
criados assim podem desenvolver uma ou mais das seguintes alterações
em graus variáveis: agressividade idiopática, dermatite por lambedura,
perseguir a própria cauda, fobia de sons altos, como fogos de artifício,
tiros ou relâmpagos, habilidades sociais nulas ou deficientes ou seja, cães
extremamente agressivos ou tímidos com outros cães. Com certeza há um
componente genético, e há ligação entre os problemas, cães com fobias a
sons altos usualmente apresentam outro tipo de alteração comportamental.
A síndrome de canil por simples falta de experiência às vezes pode ser
superada com adestramento, outras vezes não. Alguns cães que tem receio
de pisos escorregadios podem superar isto com experiências positivas,
estimulados por seu condutor e com facilitação social de outros cães já
habituados.
A SCG seleciona os cães desde filhotes, retirando do canil cães que
não demonstrem autoconfiança a ambientes, pessoas e situações novas
e que tenham medo de barulhos fortes. Proporcionar socialização dos
filhotes e cães com toda sorte de experiências, caminhadas e
adestramentos em áreas públicas, com crianças, outros cães, outros
animais.
259
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

Outra situação é a negligência por parte do Canil, que deixa de


trabalhar algum cão por determinado período. Para um ser humano, o
trabalho pode ser estressante, e ele se recupera nas horas de folga. Para
um cão com genética para trabalho, farejar, morder e conviver com seu
condutor não representa trabalho, estressante para um cão é ficar ocioso
em seu canil. O isolamento pode criar estresse em um cão e ele demonstra
por mudanças em apetite, perda de peso, diarreia, coprofagia, ferimentos
nas patas, vocalização excessiva, destruição de pratos ou equipamentos
dentro do canil, mudanças de comportamento, um cão tranquilo pode se
tornar bastante agitado, a situação recíproca também pode acontecer,
agressão idiopática, comportamento de fuga por estímulos sem
importância. Um cão outrora calmo para determinadas situações usuais
com ser escovado ou lavado pode se tornar agressivo, demonstrar medo,
lamber o focinho em submissão, levantar uma das patas dianteiras, evitar
o contato visual, se esconder. Comportamentos estereotipados podem
aparecer como girar no mesmo local, ir de uma extremidade a outra do
canil, ou circular no canil. O comportamento pode ter tido uma função
inicial, mas sua repetição exagerada é comportamento patológico e é
chamado de comportamento estereotipado.
Cães vivendo em situações não estressantes, com atividade física
e mental compatíveis com suas necessidades, lidam melhor com situações
desafiadoras. Qualquer sinal de comportamento estereotipado ou repetitivo
receberá a devida importância para melhorar a condição de vida do cão,
criando mais oportunidades de trabalho, exercícios e interação social com
outros cães e humanos.
Os americanos e alemães mantém seus cães de policia na residência
de seus condutores. O Exército sueco cria seus proprios cães, a ao
desmame são entregues à civis, que permanecem com os cães até os 18
meses, quando são testados e se aprovados retornam ao definitivamente
ao Exército, a semelhança do Programa de guia de Cegos “Guide for de
Blind” americano. O desafios da socialização em períodos críticos, o início
de treinamento precoce serão solucionados pela SCG, o que não pode
acontecer é um cão de guerra ter seu desenvolvimento atrofiado em um
ambiente restrito de odores, formas, superfícies, outros humanos e animais
de um canil militar.
Algumas alternativas são: criar ambientes enriquecidos dentro do
canil com toda sorte de piso,areia, asfalto, grama, lâmina de água, pisos
em declive escorregadios, garrafas PET, picina de bolinhas, pilhas de
maravalha ou papel, obstáculos com áreas escuras, luzes de boate, sirenes,
260
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

luzes de alerta de estacionamento, solicitar empréstimo de animais


engaiolados como galinhas,patos, coelhos para eventualmente
participarem em sessões de treinamento. Não permitir que cães ladrem
ou tentem agredir estes outros animais que estão colaborando no
treinamento, o bem estar de todos animais deve ser levado em conta.
Visitar sítios próximos com outros animais como vacas, cavalos, cabras,
ovelhas. Todo material que seria jogado no lixo pode eventualmente ser
aproveitado neste ambiente enriquecido. Outra situação é permitir que o
condutor leve seu cão em feriados e férias para sua casa se assim desejar
e se for possível, bem como a marcação em treinamento em locais cedidos
pela comunidade: postos de gasolina, depósitos, empresas, colégios, etc.
Explorar sempre a facilitação social, ou seja, ter um cão experiente
que passará antes nos obstáculos ou nas superfícies novas, estimulando
caes novatos a se sentirem tranquilos com as novas descobertas.

8.9 BEM ESTAR DO CÃO DE GUERRA


O cão de guerra é um ser vivo que está cumprindo sua missão lado
a lado com seu condutor humano. Sente dor, frio, fome, sede, e sente
enorme prazer em contato social com outros cães e humanos. Diferente
do seu parceiro humano, que tem poder de decisão em continuar no serviço
ativo, o cão não tem essa opção. Todo esforço é feito para proporcionar
boas condições de vida, que incluem condições de higiene impecáveis,
boa alimentação, oferta ininterrupta de água limpa e fresca. Nas horas de
descanso no canil a temperatura é sempre que possível mantida perto de
sua zona de conforto entre 10ºC e 26ºC ou é proporcionado abrigo adequado
contra frio ou calor excessivos. Proporcionar contato regular com outros
cães e pessoas, criar uma rotina previsível ao cão de situações agradáveis,
como caminhadas diárias, escovação, higiene e toalete frequentes, planejar
adestramento de forma regular e consistente, não abandonar o cão por
feriados, férias ou folgas de seu condutor, eventualmente seu condutor
pode ter autorização para levar o cão para sua casa. O risco de se perder
um animal que acompanha seu condutor por qualquer motivo, supera a
situação de ter uma Seção de Cães de Guerra inteira com cães estressados
e com uma série de problemas de comportamento.
Uma área grande de solário é providenciada para cada SCG,
enriquecida com obstáculos, pisos diferenciados como grama, asfalto,
lâmina de água, escadas, rampas. A soltura dos cães é feita com outros
cães que realizem atividades agonistas como brincadeiras, corridas, ou
261
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

qualquer interação positiva. Tempo e esforço são investidos pela equipe


para selecionar duplas ou trios de cães que se deem bem.
Dentro do canil, o ambiente pode ser enriquecido na hora da
alimentação. Comidas congeladas, canos de PVC fechados com furos, que
quando os cães brincam e rolam permitem que petiscos caiam podem
auxiliar a enriquecer o ambiente. Um brinquedo Kong de borracha pode
ser preenchido com ração de lata, colocada no freezer para o cão ficar
lambendo e se distraindo. Estes brinquedos com comida são dados da
mão do condutor na boca se seu cão, com o comando de liberação. Não é
correto permitir o cão de guerra achar comida no ambiente e se alimentar,
prejudica o condicionamento antienvenamento.
A temperatura de conforto para o cão pode ser melhorada no canil
com teto mais alto da área do abrigo com telhas de barro, orientação solar
adequada, sombras por árvores, plataformas ou estrados para elevar a
área de dormir do chão frio e úmido, e no frio intenso proporcionar algum
tipo de forro para a cama, como palha ou jornal picado. Mantas
descarregadas podem ser usadas nos estrados dos canis para os dias mais
frios, principalmente em transporte.
Brinquedos de couro para o cão mastigar no canil podem ajudar a
aliviar o estresse como o benefício de prevenir o acúmulo de tártaro.
Pelo menos um mínimo de conforto é proporcionado ao cão durante
seu transporte. Ele não é alimentado por pelo menos duas horas antes de
ser embarcado em viatura ou aeronave com objetivo de evitar vômitos e é
dada oportunidade para sair da caixa de transporte para tomar água e
urinar e defecar a cada quatro horas pelo menos. Um forro macio de
papel picado melhora em muito o conforto para o cão em uma viagem
mais longa.

8.10 DESMOBILIZAÇÃO DO CÃO DE GUERRA

8.10.1 MOTIVOS PARA DESMOBILIZAÇÃO


O principal motivo para a desmobilização é a insuficiência de
desempenho em repetidas provas de habilitação, problemas
comportamentais, adestrabilidade medíocre, fobias, doenças genéticas
degenerativas, lesões traumáticas que exigem longo tempo de recuperação
ou senilidade.
Cães militares com um histórico de missões e bons serviços
prestados merecem justo descanso. A melhor situação é descarregar o
262
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

cão por senilidade quando começar a demonstrar os primeiros sinais de


desconforto por artrite ou qualquer outro problema peculiar a idade
avançada. Excelentes cães têm grande vontade de trabalho e não é correto
mantê-los trabalhando além do necessário.

8.10.2 DESTINO
O oficial veterinário, ou na falta dele na unidade, o Chefe da SCG
seguirá o protocolo previsto pela Normas para Controle de Caninos na
Força Terrestre para descarregar o cão. Um dos itens a serem preenchidos
no termo de imprestabilidade é o destino a ser dado. No caso de descarga
por senilidade, a primeira opção é oferecer como doação ao condutor que
compõem conjunto com o cão. Se ele não tiver interesse ou condições, o
cão será oferecido para outros militares do canil, como adestrador, outros
condutores, tratadores ou figurantes. A prioridade é ordenada pelo maior
convívio com o cão. Esgotados todos possíveis candidatos da SCG, o cão
será ofertado a militares da unidade, e a prioridade será definida por
antiguidade e por quem tiver as melhores condições para mantê-lo.
Com objetivo de máxima transparência, para dirimir qualquer dúvida
de conflito de interesses, quando o cão for descarregado por qualquer
outro motivo que não senilidade, que dependeu de avaliação de membros
da SCG, destinos adequados serão instituições e/ou entidades
governamentais, organizações não governamentais de assistência ou de
proteção à animais.
Evitar a doação para empresas e particulares não militares. O
candidato para receber a doação terá checada sua capacidade financeira
e outros meios e recursos como disponibilidade de tempo e espaço para
manter o cão em excelentes condições de saúde e bem estar. Isto criará
dificuldades, estreitando em muito o universo de candidatos para adotar
se o motivo para decarga tenha sido doença de longo tratamento, ou crônica
ou degenerativa. Por questões humanitárias, para casos mais graves,
principalmente de dor crônica não responsiva, talvez a única alternativa
seja eutanásia.

8.10.3 AVALIAÇÃO DE TEMPERAMENTO


Avaliar e registrar o temperamento, adestrabilidade e
adaptabilidade do cão, entre outras informações, o nível de agressividade
e capacidade de socialização com pessoas estranhas, crianças e outros
animais. As condições limitantes serão levantadas, determinadas as que
263
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

são peculiares ao cão e as que são sanáveis. Estes serão manejados por
adestramento, desensibilização e socialização. O candidato a receber o
cão será escolhido caso tenha um perfil que possa enfrentar e superar os
limitantes não resolvidos pelo período de desmobilização.
A última etapa de desmobilização inclui sessões de convívio com
os novos donos. Um termo de compromisso será assinado e arquivado na
SCG, com o compromisso de cuidar do cão, respeitar os limites levantados
nas avaliações e atender as necessidades já identificadas e as que
eventualmente aparecerão.

8.11 LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS - LEGISLAÇÃO


VIGENTE
O bem estar e segurança contra abusos animais tem amparo legal
já de longa data. Recentemente, a opinião pública tem cobrado cada vez
mais uma atuação mais forte das autoridades. A divulgação de imagens
em mídias sociais ganha vulto rapidamente.
A Constituição Federal descreve no inciso VII que é dever do Poder
Público “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade”
A Lei de Crimes Ambientais, também oferece proteção a todos os
animais - Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, em seu art. 32.
Determina: Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais .
O Decreto 24.645 de 10 de Junho de 1934, embora antigo, é ainda
vigente e é a base legal que habilita o ministério público para atuar em
nome da proteção animal, e regulamenta que todos os animais existentes
no país são tutelados pelo Estado. Os animais são assistidos em juízo
pelos representantes do Ministério Público, seus substitutos legais e pelos
membros das sociedades protetoras de animais. Tipifica os maus tratos
contra animais como praticar ato de abuso ou crueldade, manter animais
em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o movimento
ou o descanso, ou os privem de ar ou luz; obrigar animais a trabalhos
excessivos ou superiores às suas forças e a todo o ato que resulte em
sofrimento para deles obter esforços que razoavelmente não se lhes
possam exigir senão como castigo; abandonar animal doente, ferido,
extenuado ou mutilado, bem como deixar de ministrar-lhe tudo o que
humanitariamente se lhe possa prover, inclusive assistência veterinária.

264
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

ANEXO A -
Exemplo de ordem de instrução para realização das provas.

PROVA DE HABILITAÇÃO DE DUPLAS DA SEÇÃO DE CÃES DE


GUERRA 2º SEMESTRE DE 2011

1. FINALIDADE
Regular a Aplicação da Prova de Habilitação de duplas de militares
condutores e seus respectivos Cães de Guerra referente ao 2º Semestre
de 2011.

2. REFERÊNCIAS

a. PORTARIA Nº 003-COTer, de 20 de Julho de 2009.Aprova o Caderno


de Instrução CI 42-30/1 -Emprego do Cão de Guerra; Boletim do Exército
Nº 34/2009,Brasília - DF, 28 de agosto de 2009.

b. Ordem de Serviço 009 S3-BCSv de 25 de novembro de 2008,


Emprego da Seção de Guerra da EsSA.

3. OBJETIVOS
A prova de habilitação semestral tem como objetivos verificar:

1) as condições de pronto emprego das duplas de condutores e


cães,

2) o aproveitamento das instruções do Programa de aplicação e


Conservação dos Padrões (PACP) do soldado engajado.

3) o aproveitamento das instruções na Fase de Instrução Individual


de Qualificação do recruta.

4) Garantir a segurança de militares da SCG, de todo efetivo da


EsSA e de público externo que participa das demonstrações. Apenas as
duplas habilitadas podem participar de demonstrações, missões, patrulhas,
formaturas e desfiles. Um cão de guerra somente é conduzido por um
militar que comprovou capacidade de controle sobre ele em uma prova de
habilitação recente (semestral).
265
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

4. EXECUÇÃO

4.1 Calendário de atividades

GDH EVENTO LOCAL RSP PARTICIPANTES

01 0800 NOV 11 Instrução sobre Campo Pelo menos Todas as duplas


Até 1000 h a prova de de um militar
habilitação, futebol da comissão
simulação da de Aplicação
prova

03 0800 NOV 11
Até as 1000 h

05 0800 NOV 11
Até as 1000 h

10 0800 NOV 11 PROVA DE


HABILITAÇÃO

12 0800 NOV 11 Data alternativa Apenas militares


para militares faltosos
faltosos

27 0800 NOV 11 2ª Prova de Comissão de Apenas duplas que não


Habilitação para Aplicação atingiram o mínimo de
cojuntos que não 70 pontos ou cometeram
atingiram o faltas desqualificantes
Suficiente na 1ª prova
15 0800 DEZ 11 3ª Prova de Apenas duplas que não
Habilitação para atingiram o mínimo de
conjuntos que 70 pontos ou cometeram
não atingiram o faltas desqualificantes
Suficiente na 2ª prova

18 DEZ Data limite para S3 BCSv


publicação em BI
dos resultados
das provas

266
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

5. ORDENS AOS ELEMENTOS SUBORDINADOS

5.1. Cia de Polícia do Exército

1) Escalar militar Adestrador responsável pela SCG; e militares para


compor as duplas com os cães e publicar em aditamento do BCSv
ao Boletim Interno da EsSA; é escalado apenas um condutor por
cão. Um condutor pode compor outras duplas com cães diferentes.

2) Montar a infraestrutura para a realização dos treinamentos e


para a aplicação das Provas de Habilitação nas datas previstas;

3) Programar no QTS de atividades da Cia PE, períodos para


treinamento das Duplas especificamente para participar da Prova
de Habilitação, sob supervisão do Sargento Adestrador; enviar cópia
para Ch Seç Vet;

4) Publicar no aditamento BCSv ao Boletim Interno da EsSA, até 23


de novembro de 2011, o resultado da Prova de Habilitação de todos
os condutores previstos para realizar a prova;

5) Enviar até 23 de novembro de 2011, para S3 do BCSv a relação


dos militares que não realizaram a Prova de Habilitação;

6) Registrar nas alterações dos militares, o resultado da Prova de


Habilitação.

5.2. Oficial Veterinário

1) Informar a Cia PE a relação de cães eventualmente baixados,


que não possam realizar treinamentos e Provas de Habilitação;

2) Apoiar o Sargento Adestrador da PE nas instruções teóricas e


práticas e treinamentos das duplas.

267
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

5.3. Comissão de Aplicação

1) Constituição:
a) um Oficial ou Sgt da Cia PE;
b) um oficial ou Sgt do BCSv designado pelo S3;
c) um Oficial Vet.

xxxx – Cap Inf


S3 BCSv

xxxx- Ten Cel Cav


Cmt BCSV

5. Anexos

5.1 Descrição das provas de habilitação

ANEXO B -

Exemplo de publicação em Boletim interno de prova de


habilitação

PROVA DE HABILITAÇÃO DE DUPLAS DE CONDUTORES -


SEÇÃO CÃES DE GUERRA - Realização

Realizou-se no dia 14 de março de 2010, a prova de Habilitação


semestral de conjuntos de condutores e respectivos cães de guerra. Esta
prova teve como objetivo o cumprimento de uma determinação da Portaria
nº 003 COTer de 20 julho de 2009, BE 34/2009, CI 42-30/1 - Emprego de
Cão de Guerra e Ordem de Serviço n° xxx - S3/BCSv, de 25 NOV 08, avaliando
o desempenho bem como verificando o estado geral e sanitário dos cães
da EsSA. Os militares avaliadores foram 1° Ten QCO VET xxxxxx, Ch Seç
Vet; o - 2º Ten OCT xxxx, Cia PE e 3º SGT Inf xxx da Cia PE.

268
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

Militar Cão Prova Situação Pontuação Penalizações Observações


Cb Olavo Dexter CG HABILITADO 73 Cão não Próxima prova
latiu antes averiguação
de morder, em 14
comandos setembro
extras,
auxílio para
o cão soltar
Sd Enio Alex CG HABILITADO 85 Comandos Próxima prova
extras, cão averiguação
molestou em 14
figurante setembro

Sd Ary Feroz CG NÃO 50 Na Próxima prova


HABILITADO condução o em29 MAR 10
cão se
afastou
mais de um
corpo de um
cão do
condutor;
comandos
extras do
condutor.Cão
não está
adaptado ao
uso de
focinheira

Sd Nei Pingo Cão de HABILITADO 100 Nenhuma Próxima prova


detecção averiguação
de em 14 SET 10
Narcóticos

(Nota nº 008-Sec Cães de Guerra, de 15 MAR 10)

demais interessados tomem as providências decorrentes.

269
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

GLOSSÁRIO

ALFA

AD: título de trabalho de resistência. O cão trota ao lado da bicicleta do condutor por
12 milhas (+/- 18 km). No término, realiza alguns exercícios simples de obediência.

AFIADO: baixo limiar para morder; tem tendência a reagir exageradamente frente a
estímulos.

AGITAÇÃO CIVIL: quando o figurante não usa nenhum equipamento contra mordidas, o
cão está de focinheira ou ele está inacessível para o cão (lugar alto ou gaiola).

AGITAÇÃO: adestramento que aguça e molda o impulso por caça e luta.

AGITADOR, FIGURANTE: é o adestrador, utilizando movimentos para aguçar e moldar o


impulso por caça e luta durante o adestramento.

AGRESSIVIDADE/PROTEÇÃO CIVIL: maturidade da agressividade do cão, ele vai atacar


sob comando, independente do uso de equipamento de proteção pelo figurante. Objetivo
final do cão de guerra: atacar sob comando ou para proteger o condutor.

AGRESSIVIDADE IDIOPÁTICA: O cão agride sem causa aparente, um estímulo que outras
vezes não despertou agressividade, em determinado episódio desperta um ataque rápido
e violento. Da mesma maneira abrupta e sem motivo que começou, cessa. Provavelmente
associado a algum componente genético ou de má formação.

ALVO: adestrado com condicionamento operante, o cão é induzido a colocar as patas


dianteiras em cima de uma bacia ou caixa viradas. Ao colocar os membros anteriores,
ouve o marcador e recebe o prêmio. Depois que o cão entendeu, o alvo pode diminuir de
altura até ficar rente ao solo. Esse alvo, paulatinamente, é colocado mais afastado do
condutor e o cão aprende a se aproximar do objeto. Outra função é condicioná-lo a
girar os posteriores para realizar meia volta.

ANTECIPAÇÃO OU OFERECER O COMPORTAMENTO: importante fase de aprendizado


quando o cão realiza o exercício antes do comando ou indução. Durante uma situação
real ou prova, quando realizada antes do comando, considera-se como falta.

ANTROPOMORFISMO: erro grave no adestramento e no estudo do comportamento do


cão – etologia - atribuir valores e aspectos humanos para o cão. Covardia, ciúmes,
270
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

simpatia e vingança são aspectos humanos. Algumas definições valem para cães e
humanos, disposição para trabalho, espírito de luta, resistência. Não usar conceitos
que gerem controvérsias como inteligência do cão, pois há especialistas que discordam
que haja inteligência nos cães, outros defendem com fervor contrário. O que é fato é
que alguns cães aprendem exercícios mais rápidos e guardam por mais tempo. Ver
Adestrabilidade e capacidade de retenção.

ARTIGO/OBJETO: material manuseado pelo marcador de pista da prova de faro de


Schutzhund (CT) e abandonado na pista de rastreio para o cão detectar. É neutro em cor
e, aproximadamente, do tamanho da mão.

ASSOCIAÇÃO DE LUGAR: cão associa determinado lugar a determinado comportamento.


Muito útil no início do adestramento, mas depois associa ao comando do condutor,
em qualquer lugar e situação. O cão só demonstra agressividade no campo de
adestramento.

ASSOCIAÇÃO INCORRETA OU INDESEJADA. O cão associa estímulo errado a determinado


comportamento. Ele somente deita se o condutor se abaixar para dar o comando, o cão
somente morde o figurante com luva de proteção, jamais tenta morder na figuração
civil.

ATESTADO DE MORTE DE CANINO (AMC) Documento que substitui o AOC quando não
houver Oficial Veterináriona OM ou na Guarnição, elaborado por uma comissão
composta pelo Fiscal Administrativo (Fisc Adm) e dois outros militares, nomeada em
BI pelo Cmt/Chefe da/Dirt OM, para cada óbito. Ocorrendo o óbito do animal em
viagem, será elaborado pelo responsável pelo transporte e por uma testemunha.

ATESTADO DE ÓBITO DE CANINO (AOC) Documento elaborado por Of Vet, para cada
óbito, necessário ao processo de descarga do animal, por óbito, com o enquadramento
da “causa mortis” obedecendo as Normas Relativas ao Emprego da Nomenclatura
Nosológica dos Equinos e Caninos do Exército

BRAVO

BASTÃO: usado na competição de CT para ameaçar o cão como prova de coragem. No


trabalho do cão de polícia, o condutor usa o bastão macio contra o figurante como se
fosse o cassetete ou tonfa, auxiliando o cão. No Ring se usa um bambu cortado com
vários cortes longitudinais; quando sacudido, faz um barulho forte. No KNPV é um
chicote longo, com cerca de 1,5 m.

BELGIUM RING: País de origem, Bélgica, raça que mais se destaca é Pastor Belga de
Malinois. O objetivo da prova é desafiar o cão com cenários, objetos e movimentos
diversos e inesperados. Até mesmo o exercício de busca o objeto é definido pelo juiz, só
não pode ser metal. Privilegia agilidade, rapidez e independência do cão. Quando
possível, há exercício dentro ou passando por água. A qualidade da mordida nem o
local são cobrados.(ver Ring)
271
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

BIOMBO: objeto ou estrutura onde o figurante se esconde durante a prova de proteção


do Schutzhund/CT, o cão vê o figurante diferente do adestramento/trabalho de Cão de
Polícia do Exército, onde o figurante não é visto pelo cão, este o encontra pelo faro.

BOLADA, GRANDE PRÊMIO: extras por desempenho excelente. Incrementar a qualidade


ou quantidade do indutor primário quando o cão demonstra uma dose extra de
entusiasmo, de energia para realizar o exercício corretamente. Com adestramento com
comida, dar outra comida mais apetitosa ou em maior quantidade. Com mordente,
exagerar no cabo de guerra, rolar no chão com o cão. Usualmente, o exercício acaba aí,
para marcar o padrão de excelência que o condutor quer.

BONÉ: gorro com forma de empada parafusado na aba como suporte para bolinha.
Quando o condutor desejar, vira a cabeça e libera a bolinha para o cão.

BONS NERVOS/ESTÁVEL: a excitação do cão é perfeitamente manejável pelo condutor,


agita e se acalma com indução de seu condutor ou da situação. Insensível a tiro e ao
desconforto habitual da rotina de trabalho.
BREVÊ: Título que atesta a capacidade de um indivíduo fazer algo, do francês brevet:
certificado, diploma. Na caserna de forma coloquial, é usado indistintamente para a
própria habilitação/certificação quanto para as insígnias e distintivos
correspondentes. Neste manual é usado como sinônimo de habilitação do cão.

CHARLIE

CADEIA DE COMPORTAMENTO: exercício composto por uma série de comportamentos


interligados, que são realizados em sequência. A cadeia pode ser realizada por um
estímulo inicial único ou por múltiplos estímulos dados pelo condutor. Quando o cão
realiza uma cadeia de comportamento realizado a partir de um único estímulo do
condutor, é por que recebe estímulos na própria execução ou tem a expectativa de
receber o estímulo a qualquer momento. Revier: cão percorre em sequência vários
biombos na expectativa de achar o figurante; ao achá-lo, senta em frente ao figurante
e começa a latir agressivamente.

CAMPO DE ADESTRAMENTO: é sempre o mesmo lugar onde novos exercícios são


adestrados. É território sagrado em que o cão não pode defecar, urinar ou ficar sem
atenção de seu condutor. Ele utiliza a associação de lugar e, quando o chega ao campo
de adestramento, já sabe o que se espera dele. O campo de adestramento de obediência
e proteção pode ser o mesmo, já haverá um campo de adestramento específico para
faro de rastreio.

CANIL MILITAR É a edificação constituída pelos boxes e demais dependências


complementares necessárias ao desenvolvimento das atividades diárias do cão de
guerra e/ou de guerra

272
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

CÃO DE GUERRA Animal dotado de características zootécnicas adequadas ao uso militar,


possuidor de condições de saúde, resistência, força, capacidade de adestramento e
vivacidade

CÃO-DE-GUERRA (CG) Cão de guerra adestrado (obediência, faro e proteção) para o


emprego na paz ou na guerra,com fins militares

CAPACIDADE DE RETENÇÃO: capacidade variável do cão em reter exercícios e ser capaz


de executá-los, mesmo após tempo considerável sem adestramento.

CERTIFICADO DE EXAME E AVALIAÇÃO DE CANINO (CEAC) Documento elaborado por Of


Vet, visando atestar as condições para o cão de guerra.

CERTIFICADO DE REGISTRO OU PEDIGREE É o documento identificador do cão, indicando


as características básicas do animal,padronizadas de acordo com a raça, variedade e
pelagem (tipo e cor) mostrando os ascendentes, obrigatoriamente, até à terceira geração

CLICADOR: aparelho com lingueta de metal; quando acionado, faz barulho; usado
como marcador no adestramento.

CLIPS DE CRACHÁ: suporte de metal que segura crachá; usado para segurar salsicha ou
bolinha com corda, saindo facilmente quando puxado pelo condutor.

COLETE PARA ADESTRAMENTO: colete com vários bolsos, permitindo levar petiscos,
mordentes, de forma que sejam facilmente retirados para premiar o cão. Alguns podem
vir com bolso com velcro ou ímã, para sacar rápido o mordente.

COMANDO: estímulo específico para o cão realizar um comportamento associado por


condicionamento. Pode ser por gesto ou som realizado pelo condutor. Ao ouvir “platz”,
o cão deita. “platz” é o comando.

COMPULSION: muitas vezes traduzido erroneamente como compulsão. Adestramento


por coação, coerção ou força, até o cão realizar o exercício; o cão não tem chance de
tomar decisões erradas, é forçado a fazer o correto. Adestradores ultrapassados usam,
basicamente, o adestramento forçado. Adestradores evoluídos usam o desconforto
apenas na fase de correção.

CONDICIONAMENTO CLÁSSICO, PAVLOV: condicionar resposta reflexa a estímulo


anteriormente neutro. Tocar a sineta e dar comida; quando tocar a sineta, o cão baba.

CONDICIONAMENTO OPERANTE: condicionar decisão que gera prêmio. O


comportamento do cão pode não gerar conseqüência. ou pode gerar consequência
desagradável, ou consequência boa, prêmio. Comportamentos que geram prêmios
tendem a se repetir, comportamentos que não geram qualquer recompensa ou geram
correção tendem a se extinguir.

273
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

CONDICIONAMENTO: Estabelecer que determinado comportamento seja controlado


por um estímulo específico (comando).

CONFLITO: ansiedade no cão gerada pelo adestramento, em que o cão é cobrado a


fazer algo que, para ele, não tem sentido algum: masca a manga de proteção,
comportamento de evitação social, elevação de um dos membros anteriores, orelhas
murchas, rabo entre as pernas, vira a cara e lambe os lábios. Ocorre quando se usa
coerção/correção, desconforto incompatível com aquele cão para aquele exercício.

CONJUNTO: constiuído pelo condutor e seu cão de guerra. A habilitação semestral o


registro das horas de adestramento e trabalho em livro acreditam determinado cão
para trabalhar com seu condutor. Somente conjuntos habilitados estã aptos para
cumprir missões e entrar na escala de serviço, após publicadas em BI ou aditamento
ao BI. As provas de habilitação valem para um conjunto específico. Caso haja
substituição de militar ou cão, novo conjunto é formado, recebe instrução e tem seis
semanas de adestramento com, no mínimo, 80 horas registrado em livro na SCG.

CORREÇÃO: desconforto dado após comportamento inadequado do cão, puxão na


guia. A primeira impressão da correção é feito com o enforcador de elos grandes,
mosquetão da guia no elo morto e, tão logo o cão receba sua primeira correção, muito
leve, é premiado com petisco, brincadeira de cabo de guerra ou de buscar. Isto é feito
até que o cão fique condicionado a receber o puxão na guia e ficar excitado, olhando
para o condutor e esperando o prêmio. Um bom exercício para introduzir a correção é
o alto, onde o condutor para, corrige o cão para parar e, imediatamente, premia o cão.
Outra sutil correção é empurrar o cão com a perna para tirá-lo do caminho, nas
mudanças de direção; é feito da mesma maneira: empurrar o cão e, imediatamente, dar
o prêmio. Na prova ou na situação real quando acontecer por necessidade ou acidente,
o cão vai corrigir sua posição sem ressentimento algum do condutor e continuará
realizando o exercício.

CRITÉRIO: padrão de comportamento que o cão vai acionar o indutor secundário e o


cão receberá o indutor primário – petisco, cabo de guerra e de buscar, etc. Será
modificado a critério do condutor, exercício mais rápido, mais energia, mais tempo no
comportamento desejado.

DELTA

DECLARAÇÃO DE DOAÇÃO DE CANINO (DDC): Documento emitido pelo proprietário do


animal, onde ficam caracterizados a transferência de propriedade do animal e a
incondicionalidade do ato.

DESBOTAR, DESAPARECER: o processo de paulatinamente retirar a indução do exercício,


premiando o comportamento final. Primeiro fuss, mostra o mordente na altura do
ombro esquerdo, depois mostra escondendo na axila, e depois por condicionamento.
A partir daí, o cão conhece o exercício e sabe que receberá o prêmio, independente de

274
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

onde o mordente esteja. Alguns condutores/adestradores jamais saem da fase inicial


de estímulo, não conseguem condicionar um indutor secundário ou comando.

DISPOSIÇÃO: habilidade de cão realizar atividades do CT.

DISPLASIA COXO-FEMORAL, HIP DYSPLASIA: desenvolvimento anormal da articulação


coxo-femoral de origem genética manifestada clinicamente por frouxidão na articulação
e subsequente doença articular degenerativa. A claudicação pode ser leve, moderada
ou grave e se acentua após exercício. Avaliações radiográficas são feitas em todos os
cães de trabalho e animais afetados são retirados da reprodução e do trabalho.

DISPLASIA DE COTOVELO, ELBOW DYSPLASIA: defeitos de desenvolvimento do cotovelo


de origem genética causando claudicação e posterior artrite do cotovelo. Avaliações
radiográficas são feitas em todos os cães de trabalho e animais afetados são retirados
da reprodução e do trabalho.

DRIVE: impulso, motivação

DUREZA: capacidade do cão de superar ou esquecer experiências desagradáveis durante


a proteção e demonstrar máximo espírito de luta.

ECO

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO DO FIGURANTE: saqueira, chuteira.

ESPÍRITO DE LUTA: é avaliado no cão a tenacidade em confrontar e subjugar oponentes;


pode ser classificado como pronunciado, suficiente ou insuficiente; equivalente ao
brigão de bar, altíssimo limiar para opção de fuga, procurando até por faro se for o
caso.

ESPÍRITO/ALMA/CORAÇÃO: entusiasmo em trabalhar junto com o condutor.

ESTAMINA/RESISTÊNCIA: resistência à fadiga; realizar trabalho, mesmo fatigado.

ETOLOGIA: ciência que estuda o comportamento natural dos animais - comportamento


reprodutivo, de caça, social, etc.

EXCITAR: estimular o cão com mordente, dificultando um pouco para aumentar o seu
impulso. Uma boa indicação é quando o cão dá mordidas no ar.

EXTINÇÃO: um comportamento que não gere consequência positiva tende a não ser
repetido e com o tempo se extinguir.

EXTRAPOLAÇÃO/GENERALIZAÇAO: fase final de adestramento, quando o cão


reconhecerá o comando verbal, independente de qualquer tipo de distração: ambientes
diversos do campo de adestramento, roupa diferente do condutor, movimentação
275
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

diferente do condutor (movendo braços ou pernas de maneira incomum), barulhos,


odores, outros cães.

FOXTROT

FACILITAÇÃO SOCIAL: os animais sociais observam pela linguagem corporal ou


vocalização de seus companheiros de manada, matilha ou até mesmo animais de
outras espécies, sinais de estresse ou tranquilidade. Nas pradarias africanas, uma
presa que se põem a correr, agita todos animais que servem de presas a sua volta. Um
animal que tome a iniciativa de escolher um trecho do rio ou lago para saciar a sede
estimula que outros animais também escolham aquele ponto. A facilitação social
pode ser muito bem usada nos adestramentos diários da SCG, cães mais experientes
realizam os exercícios antes dos novatos, e seu nível de energia influenciará os novatos.
Tranquilizarão se ficarem calmos, agitarão caso demonstrem excitamento.

FARO DE RASTREIO: quando o cão trabalha com o focinho no chão, detectando o odor
da pegada humana, das micropartículas que se desprendem do corpo, do hálito ou
respiração e roupas e chegam ao solo, do próprio solo alterado, bactérias ou grama
pisoteada em decomposição.

FARO DE VENTEIO: quando o cão trabalha com o focinho elevado, captando odor humano
trazido pelo vento. O cão pode perceber um intruso sem necessariamente ter percorrido
a trilha que ele deixou.

FICHA CANINA (FICAN) Documento necessário ao acompanhamento e ao controle


individual dos caninos, sendo preenchido sob a responsabilidade da CCA, ou da CREC,
contendo todas as alterações ocorridas com o animal, tais como: retificação de resenha,
premiação em exposições ou em competições de adestramento, publicações em BI e
Adit e outros dados que se fizerem necessários

FLUÊNCIA: habilidade aprendida que é a base para uma habilidade ou comportamento


mais complexo.

FRUSTRAR O CÃO: exagerar na excitação, prolongar demais e o impulso acaba caindo.


Permite a mordida quando o impulso estiver aumentando, não no clímax ou pior depois
dele, quando o impulso começa a cair novamente.

FUSTA, CHICOTE DE ESTALO: usado pelo figurante em adestramento para irritar o cão,
fazê-lo latir, ou colocá-lo em impulso por luta. Quando o chicote for usado corretamente
faz um barulho forte. O cão não pode ter receio do chicote, bastão ou fusta.

GOLF

GESTO DE EVITAÇÃO SOCIAL, COMPORTAMENTO DE EVITAÇÃO SOCIAL: comportamento


em que o cão se expressa por linguagem corporal; não quer confronto ou sequer contato
social: vira a cara, vira o eixo do corpo, recua, se afasta ou foge.
276
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

GESTOS DE AMEAÇA: são gestos e posturas que o figurante realiza diante do cão para
induzir que o cão responda com defesa; o figurante pode ficar imóvel por alguns
segundos, se aproximar em linha reta direto para o cão, se colocando de frente, silhueta
alta, ombros eretos, encarando o cão. Ameaça o cão com as mãos como se fossem
garras, fazendo gestos de ameaça como socos no ar.

GESTOS DE CAÇA: são gestos e posturas que o figurante realiza diante do cão para
induzir que ele responda com impulso por caça; o figurante realiza movimentos rápidos
e erráticos, em forma de arco, em zigue-zague, se posiciona de lado para o cão, diminui
sua silhueta se curvando, braços juntos ao corpo, ombros encolhidos; desvia o olhar
e jamais encara.

GUIA LONGA: guia de corda ou lona de, pelo menos 5 m, usualmente 10 metros de
comprimento, sem alça para pulso; equipamento utilizado em todas as etapas de
adestramento do cão, na obediência e na agitação, em que um auxiliar corrige e prepara
o cão para obedecer sem guia. Também é usado na prova de faro do CT. Todo exercício
é adestrado com guia fina de 2 metros, depois com guia longa em que o auxiliar corrige
o cão, depois guia curta (30 cm).

HOTEL

HALTER: objeto de madeira que o cão busca e entrega ao condutor; objeto usado no
exercício de busca de objeto lançado pelo condutor nas provas de Cão de Trabalho.
Conforme o nível, CT I, CT II ou CT III aumenta de peso e tamanho.

INDIA

IMPRINT/IMPRESSÃO: É a primeira impressão de uma situação ou estímulo novo. Quando


é apresentado algo novo ao cão, abre um novo arquivo no cérebro. É fundamental que
no primeiro contato com algo novo, o condutor se preocupe com criar uma impressão
positiva.

IMPULSO POR BRINCADEIRA: capacidade de se recompensar em brincar com o condutor;


é o cão que abandona o mordente que está na boca para brincar com o segundo
mordente que está na mão do condutor.

IMPULSO POR CAÇA: capacidade de se excitar e se autopremiar com atividades de


agitação como perseguir objetos em movimento, especialmente fuga que se afasta do
cão, figurante ou mordente. Impulso fundamental para o CPE. Nesta especialidade, o
cão não vocaliza, apenas tenta abocanhar a presa.

IMPULSO POR COMIDA: capacidade do cão se motivar fortemente com comida, capaz
de realizar exercícios difíceis apenas com prêmio por comida. É o cão que come além
da fome, glutão; realiza facilmente atividades em troca de comida.

277
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

IMPULSO POR CONFORTO: será evidente no cão com outros impulsos desejáveis
considerados baixos. Busca incessantemente o conforto, se fadiga rápido, se ressente
exageradamente de correção ou de eventuais erros no adestramento, mantém afastado
do condutor por algum tempo, depois que o condutor pisa inadvertidamente em seu pé.

IMPULSO POR DEFESA: quando o cão não tem opção de fuga. Quando ameaçado, se
submete, gesto de evitação social, fugir ou lutar. Se for ameaçado o suficiente, sem
opção de fuga, até um rato se defende. Não é correto estimular defesa no cão de polícia.
Se colocarmos um cão contra um muro, sem rota de fuga e fustigarmos até que morda,
isso é defesa, método ultrapassado para cães fracos de nervos. O bom figurante faz
gestos de ameaça intercalados com gestos de caça. O cão será estimulado para
procurar o combate e não ser forçado a morder por não ter oportunidade ou rota de
fuga (usualmente, trabalho feito contra um muro ou outro obstáculo). Gestos de ameaça
intercalados com gestos de caça fazem do figurante um desafiante inseguro, e isso faz
o cão ganhar autoconfiança. Gestos de ameaça persistentes em um cão despreparado,
podem colocá-lo em submissão, gesto de evitação social ou até mesmo fuga.

IMPULSO POR FUGA: os veados têm baixo limiar para fuga, com qualquer barulho ou
cheiro estranho podem fugir. As onças têm alto limiar, se aproximam, investigam e só
então tomam a decisão de lutar ou fugir.

IMPULSO POR LUTA: agressividade despertada pela proteção própria, de alguém do


grupo (condutor) ou do território. É despertada e incentivada no cão maduro, depois
de longo e correto trabalho com impulso por caça. O cão demonstra impulso por luta
por optar por manter a posição, mesmo tendo opção de fuga. Vocalização – latir,
rosnar, gestos de ameaça – mostrar os dentes, corpo deslocado para frente, puxando a
guia; se solto, atacará quem o ameaça ou procurará oponente por faro. Cão que se
excita com o combate: o bom cão de busca de instalação tem espírito de luta acentuado,
procura combate com o oponente sem tê-lo visto, por experiências anteriores; confia
na indicação do condutor que, depois de farejar/ouvir o oponente e achá-lo, será
premiado com o combate. A agressividade desejável no cão de guerra é um cão que
demonstra confiança o tempo todo, é agressivo, firma posição no terreno, busca
combate, não recua ou demonstra qualquer sinal de submissão ou gesto de evitação
social.

IMPULSO SOCIAL: grande interesse em compartilhar da companhia e atividades com


seu condutor. O cão sente-se recompensado com proximidade e contato de seu condutor.
O cão demonstra ter impulso social alto quando se recupera rápido de uma correção,
quando troca mordente inanimado do chão pelo mordente agitado na mão do condutor,
quando demonstra segurança no cabo de guerra sentindo-se recompensado com a
disputa com o condutor/figurante. O cão demonstra baixo impulso social quando se
ressente demais da correção, tornando difícil a execução de exercícios mais simples.
Foca mais em comportamentos que evitem ou dificultem a correção do que acertos dos
exercícios para agradar condutor

278
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

INSEGURO: cão com desempenho irregular; rosna, fica com pelos do dorso eriçados,
recua e avança quando ameaça o figurante, busca encostar-se ao condutor quando
pressionado. Quando não for desafiado o suficiente, pode mascarar insegurança.

INSTINTO: todo cão tem, alguns compartilhados com outros canídeos. É a resposta a
determinado estímulo ou situação que não depende de experiência prévia, mas que
pode melhorar. No instinto de caça, por exemplo, todo o filhote persegue pequenas
caças em movimento e são estimulados pelos mais velhos da matilha a fazer isso.
Lobos mais velhos e experientes caçam melhor. O que chamamos de impulso é o grau
que o cão exibe o instinto, que pode ser exagerado por seleção genética e por bom
adestramento. O bom adestramento não cria impulso, apenas o desperta no cão.

INTERMAÇÃO, TERMO-HELIOSE, HEATSTROKE elevação da temperatura acima dos limites


fisiológicos devido a produção de calor do próprio corpo, exposição a temperatura
ambiente elevada ou incapacidade de perder calor. O individuo apresenta aumento de
temperatura, dificuldade de respirar e um quadro que pode deteriorar começando por
inquietação, poprostração, fraqueza até coma e morte.

JULIET

JAMBIER: Proteção para a perna do figurante. É facilmente retirada por velcro para
entregar para o cão.

KILO

KONG: é marca registrada de um mordente muito usado por competidores e condutores


de cães de polícia e de forças de segurança em todo o mundo: é de borracha, forma
cônica e oco, seus gomos fazem com que pique, aleatoriamente, quando jogado no
chão; possui orifício para corda e permite esconder gaze/papel filtro com odor de
narcótico/ explosivo/ munição dentro dele. Há tamanhos e consistências diferentes.
Os mais macios, os vermelhos, são excelentes mordentes. Os mais firmes, os pretos,
podem ser deixados no canil ou caixa de transporte com ração congelada dentro para
enriquecimento de ambiente.

KNPV: Associação Real Holandesa de Cão de Polícia.

LIMA

LATÊNCIA: tempo de resposta ou reação do estímulo e o exercício. O tempo de latência


ideal é zero. Demora na realização do exercício, é resistência passiva. O condutor
sempre estimular o cão a realizar o exercício rapidamente.

LIMIAR: quantidade de estímulo para iniciar um comportamento. Baixo limiar de


agressividade significa pouca quantidade de estímulo para iniciar o comportamento
agressivo.

279
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

MIKE

MACACÃO DE MORDIDA: macacão usado no Ring, macio; o cão pode morder em qualquer
lugar, perna, braço, antebraço, coxas, etc. Por ser macio, os cães gostam de morder. As
mãos ficam expostas.

MANGA DE PROTEÇÃO: equipamento usado em provas civis de CT. Dura, tem formato
em V para o cão morder, é segura e confortável para o figurante, a mão e ombro ficam
bem protegidos; o cão é direcionado a morder no braço, onde tem o formado de “V”,
mas pouco dura e muito evidente para o cão; este tem que acertar a mordida, pode
haver risco de acidentes e lesões no cão, principalmente no figurante inexperiente.

MANGA OCULTA: manga discreta que pode ser escondida embaixo de jaqueta ou
casacão, importante passo para o cão não focar no equipamento e mais no oponente.
Muita cautela: mãos e todo o resto do corpo não têm proteção; o cão tem que ser
direcionado para o braço correto que é o braço protegido, tanto pela atuação do
figurante como atuação do condutor.

MARCADOR DE BRINCADEIRA DE LUTA COM SEU CONDUTOR: “Ráaa” bem forte, e o


condutor convida seu cão a pular e brincar de luta, elogia o cão e simula uma luta,
empurrando-o e se afastando, e novamente convidando-o para brincar. Alivia o estresse
do cão, prepara-o para o figurante e cria forte vínculo com seu condutor. É um momento
de descontração logo após o exercício excepcional.

MARCADOR DE LIBERAÇÃO: comando OK, sem emoção ou excitação; libera o cão para
o liberdade no canil ou na área específica ou destinada a defecar e urinar. O condutor
jamais deixa o cão sem atenção: ou o coloca na caixa, amarra em local seguro ou o
libera. Não começa a conversar ou fazer outra atividade e permitir que o cão, por si
mesmo, desengaje do trabalho com o condutor.

MARCADOR DE MANUTENÇÃO DO EXERCÍCIO: uma orientação verbal para o cão,


admitindo que o exercício que ele está fazendo está correto, mas ainda não gerará o
prêmio, como a palavra “bom”, sem gritar ou ser muito efusivo; a ideia é comunicar o
cão para manter o exercício. Alguns adestradores repetem o comando, como “bom
sitz”, “bom platz”. Depois de dois ou três “bons”, o cão ouve o marcador positivo e
receberá o prêmio. A palavra “bom” passa a informação para cão da proximidade do
prêmio, como na brincadeira de crianças, que escondem algo das outras e vão dando
dicas, está quente, está frio. O “bom” seria o equivalente ao “está quente”.

MARCADOR NEGATIVO: marca o exercício incorreto. Palavra “não”, ou som gutural


ahã. Pronunciado sem raiva ou descontentamento; não é associado com nenhuma
correção ou força, apenas orienta o cão que aquele comportamento não gerará o
prêmio. É usado para orientar o cão, usar a regra do três, fazer uma, fazer duas não
fazer a terceira, caso contrário, poderá condicionar no cão que fazer o errado, ser
corrigido verbalmente e somente então realizar o certo, faz parte do exercício. O condutor
terá paciência para permitir o cão errar e não ganhar o prêmio, o marcador negativo
280
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

apenas é usado como facilitador. Usando a mesma alusão ao jogo de crianças, o


marcador negativo seria o equivalente a falar “está frio”, sem emoção, raiva, apenas
dando uma dica para o cão.

MARCADOR POSITIVO: Marcador preciso sobre qual comportamento gera o prêmio,


alerta o cão que o comportamento específico que estava realizando quando ouvir o
marcador é exatamente aquele que o fará ganhar o prêmio, não o comportamento
realizado um pouco antes ou um pouco depois. Cria uma ponte entre o comportamento
e o pagamento do prêmio. O marcador é um som simples, pode ser feito com um
clicador ou som com a boca. O marcador não é o prêmio por si, se não for seguido de
um prêmio, fará o comportamento se extinguir. É a promessa do prêmio, prometeu tem
que cumprir.

MARCADORES: Base do adestramento moderno, o condutor sabe usar bem pelo menos
5 marcadores: marcador negativo, marcador manutenção de exercício correto, marcador
positivo, marcador de brincadeira de luta com seu condutor e marcador de liberação.

MATRÍCULA É o número concedido ao animal pela Seção de Remonta e Veterinária


(SRV), da DS, por ocasião de sua inclusão em carga.

MESA PARA AGITAÇÃO: um pouco mais comprida que o comprimento do cão. O cão é
preso com peiteira e é agitado. Objetiva melhorar o foco de cães dispersivos, a mordida
por reflexo de oposição, a confiança do cão que fica em posição mais elevada em
relação ao figurante. Não realizar agitação antes que o cão esteja perfeitamente à
vontade em cima da mesa.

MESA PARA OBEDIÊNCIA: mesa estreita e um pouco mais comprida que o comprimento
do cão. Tem suporte de metal em cima, para amarrar o cão e furos em baixo para
passar a guia. Serve para adestrar a troca de posições com petisco. Não realizar
exercícios antes que o cão esteja perfeitamente à vontade em cima da mesa.

MODELAR, LAPIDAR OU APROXIMAÇÃO SUCESSIVA: desenvolver um comportamento,


premiando comportamentos intermediários cada vez mais próximos do desejável final.

MONDIO RING: um híbrido entre o Circuito Belga (Belgium Ring) e o circuito francês
(French Ring), tornando possível a competição de duplas oriundas desses dois esportes.
(ver Ring).

NOVEMBER

NERVOS FRACOS: cão aparentemente normal para coisas habituais, mas cede facilmente
à pressão, perdendo o foco, ou entrando em fuga. Demonstra ter nervos fracos por
procurar apoio no condutor, se escondendo atrás dele, tentando pular em seu colo,
urinando e defecando frequentemente, mascando mordente ou luva de proteção; morde
apenas com caninos, solta facilmente um mordente ou luva. Não há como corrigir,

281
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

principalmente por herança genética e não é considerado cão de confiança para


trabalho de polícia.

NÍVEL DE ENERGIA: busca do cão por atividade ou movimento, pode ser por impulsos
positivos (impulso por brincar ou caça) ou negativos (nervos fracos).

OSCAR

ODOR DO CORPO: partículas de suor, sangue, descamação normal de pele, transpiração,


hálito do suspeito/fugitivo que o cão pode detectar. Cães de resgate de pessoas em
desastres farejam odor de pessoas estressadas, bastante semelhante ao suor de
exercício extenuante e também urina, fezes e sangue. Cães que detectam cadáveres ou
afogados detectam odores específicos de corpos humanos nestas condições.

OPONENTE: pessoa que o cão confronta em situação real ou simulada.

OVERTRAINING: trabalhar mais tempo, com maiores desafios, maiores dificuldades


que se espera encontrar na situação real ou de competição.

OBSTÁCULO . RAMPA A: obstáculo de provas de CT, em que o cão tem que escalar para
um dos exercícios de busca do halter.

OBSTÁCULO PALIÇADA: Obstáculo de competições de Ring, de altura de 1,70 até 1,90 m,


simulando muro que o cão tem que escalar e saltar do outro lado

OBSTÁCULO PARA SALTO EM ALTURA: obstáculo de provas de trabalho, que o cão tem
que saltar obstáculo que conforme a certificação varia de 0,9m a 1,1m de altura. Na
prova de CT, é de 1,0 m e faz parte do exercício de busca do halter.

PAPA

PEITEIRA: para conter o cão e aumentar a excitação por reflexo de oposição, melhora
mordida. Usar sempre peiteira em agitação, não há motivo para conter o cão pelo
enforcador, mesmo travado. A peiteira é mais confortável e segura para o cão, o
enforcador é para controle, para diminuir a excitação. Cão que faz agitação com
enforcador ou se ressente e diminui a energia no trabalho, ou cães realmente bons e
duros serão dessensibilizados e necessitarão de correções cada vez mais pesadas no
enforcador quando for realmente necessário (controle/obediência). É ajustável e
forrada com feltro ou lã de ovelha, com área triangular no peito do cão, ficando justa
e confortável; a ideia é estimular que o cão faça força e permaneça alinhado com o
figurante. Tem a alça nas costas do cão, para facilitar contenção no trabalho e para
elevar o cão (viaturas, sótãos, etc), e argolas e fivelas dimensionadas para as trações
e forças que sofrerão durante o trabalho rotineiro de agitação.

PONTOS DE PERIGO IMINENTE (PPI) - Locais que oferecem maior probabilidade de


favorecer a um ataque contra o militar.
282
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

PRECISÃO: ser muito preciso no momento de aplicar indutor ou correção. Quanto mais
preciso, mais fácil o cão vai ser condicionado no exercício proposto. O uso de
marcadores facilitam a precisão.

PROPORÇÃO OU PADRÃO DE PRÊMIO: número (ou esforço, distância percorrida no


fuss, ou tempo no “platz”) de comportamentos apresentados pelo cão antes de liberar
o prêmio. No início, premiar para cada passo do fuss - padrão contínuo, depois para 3
passos, 2 passos, 1 passo - padrão variável.

PROVISÃO: É o recompletamento dos claros existentes no efetivo de caninos das Seções


de Cães-de-Guerra (SCG) das OM.

QUEBEC

QUEBRAR O ESPÍRITO: erro de adestramento, principalmente no início, ou até mesmo na


impressão; na primeira vez que o exercício é realizado, pode causar impacto negativo
na formação do cão. Usualmente relacionado a muita pressão na obediência forçada
ou trabalho de proteção.

ROMEO

PRÊMIO CONTÍNUO: dado na proporção de 1:1. A cada comportamento desejável, o cão


é premiado.

INDUTOR NEGATIVO: é a coerção, força ou desconforto causado no cão até ele executar
o comportamento adequado. O desconforto inicia antes do comportamento e cessa
quando o cão realiza o comportamento desejado.

PRÊMIO: é uma consequência positiva/agradável para o cão, cabo de guerra, comida,


afago logo após execução de um comportamento desejável.

PRÊMIO ESCALA VARIÁVEL: critério de exigência variável para premiar o cão. Para ser
premiado, o cão somente receberá o prêmio se fizer mais rápido, melhor ou por mais
tempo. O cão nunca sabe quando receberá o premio. Etapa importante do adestramento.
Ao não ser premiado imediatamente por um comportamento que vinha sendo
repetidamente recompensado, o cão vai realizar o exercício com mais intensidade na
expectativa da recompensa, e então é premiado na segunda ou terceira tentativa.

RELATÓRIO ANUAL DA SEÇÃO DE CÃES DE GUERRA (RASCG) Documento elaborado pelo


Chefe da Seção de Cães-de-Guerra e remetido pelo Cmt/Chefe da/Dir OM à SRV/DS, até
30 Jan do ano A+1.

REMONTA E VETERINÁRIA É a atividade que tem por atribuições superintender as


atividades relativas ao suprimento e manutenção de animais, ao controle de zoonoses,
à inspeção de alimentos e ao suprimento e manutenção dos materiais relacionados a
essas atividades no âmbito do Exército.
283
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

RESENHA É a descrição pormenorizada do exterior do animal: pelagem, particularidades


e marcas.

RING: circuito, há o francês, o Belga e o Mundial. Há diferenças entre eles, e o circuito


Mundial ou Mondio Ring tentou criar um esporte que agregasse os praticantes dos
esportes de Ring de diversos países. Há três níveis com dificuldades crescentes. O mais
difícil e mais completo é o nível III. Há três obstáculos, um em distância, que pode ser
de 3 a 3,5 m no nível I, até 4,5 m no nível III. Há paliçada que vai de 1,7m até 2,3m, e um
obstáculo simulando uma cerca de 90 cm até 1,2m. Há variação regulamentar dentro
do mesmo nível, quem define é o juiz no dia da prova. Há exercícios de junto com guia
e sem guia, busca de objetos lançados pelo condutor, busca de objetos deixados cair
pelo condutor e no nível 3, procura de objeto por odor. Diferente do Schutzhund, o
objeto a ser buscado pelo cão não é padronizado, é providenciado pelo juiz. Há um
exercício que o cão é mandado deitar e o seu condutor se afasta, fora da visão do cão,
outro exercício é o da recusa de alimentos, onde dependendo do nível (I, II ou III) podem
já estar no chão ou serem lançados próximos ao cão por um figurante.O Cão ataca o
figurante que foge, que o ameaça e que dispara tiros de festim. Faz escolta do figurante,
próximo dele e longe de seu condutor, e morder caso tente fugir. O cão fica onde o juiz
determinar, e o condutor se afasta, e o juiz determina sequência na troca de posições
(sentar, deitar, ficar em pé, aleatoriamente). O juiz cria um cenário para a prova, pode
ser camping, praia, danceteria, e pessoas, objetos e até animais são colocados dentro
do campo de prova para avaliar e desafiar o cão. A postura do figurante é de auxiliar
do juiz para testar os cães. Pode e é criativo, desde que não ofereça risco aos cães, e
faça o movimento que criou para todos os cães. Pode se posicionar dentro de um carro,
água, dentro de uma piscina de bolinhas para crianças. Usualmente, fazem algum
objeto para obstruir o ataque do cão, como lonas, tecidos franjados, garrafas pet
amarradas. O equipamento de proteção é traje completo de mordida, o cão pode morder
em qualquer lugar que não cabeça e mãos do figurante. Dos esportes caninos, é o que
melhor poderia inspirar um esporte ou prova de habilitação militar, pois os cenários
são os mais próximos possíveis da realidade, é e enfatizado o desafio ao cão.

SIERRA

SANFONAR: erro do figurante que não gira para amortecer a mordida do cão. Este se
ressente e começa a se proteger, diminuindo velocidade reduzindo a velocidade alguns
passos antes do figurante. O figurante recebe o cão visando protege-lo de lesões, como
se tentasse amortecer o impacto, girando ou dando um passo para trás.

SCHUTZHUND= CT= IPO: País de origem é Alemanha, a raça que mais se destaca é o
Pastor Alemão. Esporte que privilegia padronização dos exercícios, controle sobre o
cão e dependência do condutor. Foco no adestramento; os exercícios são pontuados
por perfeição. Dividido em três seções bem distintas, realizadas em horários e até
mesmo locais diferentes: faro, obediência e proteção. Poucos exercícios misturam
conceitos das seções como, por exemplo, a condução do figurante. Prova de faro por
rastreio, com indicação passiva de objetos. Busca de objeto padronizado, um halter
com peso determinado, figurante realiza movimentos coreografados e padronizados
284
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

descritos em regulamento. O equipamento de proteção é a luva que protege o braço


esquerdo, único lugar onde o cão morde, é dura e tem formato em “V” para receber a
mordida. No adestramento e na competição o cão alterna frequentemente impulsos de
caça e luta. A qualidade da mordida é cobrada, uma mordida de boca cheia, firme e
tranquila.

SINAIS TRANQUILIZADORES: sinais que cães usam para outros cães e para humanos,
para aliviar uma situação de estresse social: virar a cabeça de lado, se movimentar
lentamente na aproximação, se aproximar em arco e não em linha reta.

SÍNDROME DA CAUDA EQUINA, ESTENOSE LOMBO-SACRAL: são as sequelas neurológicas


causadas pela compressão de raízes nervosas da coluna vertebral na região lombar e
sacral ocasionadas por algum estreitamento do canal vertebral, a compressão pode
ser agravada com combinação de outras patologias como doença de disco intevertebral.
Os sinais clínicos são claudicação, dificuldade para levantar,fraqueza nos membros
inferiores e perda de massa muscular, fraqueza ou paralisia da cauda, incontinência
de fezes e urina. Radiografias auxiliam na confirmação do diagnóstico.

TANGO

TÉCNICA DO TERCEIRO OLHO – Direcionar a arma para o mesmo local que observa; o
orifício do cano da arma será o terceiro olho.

TEMPERAMENTO/COMPORTAMENTO: combinação de genética e experiências


aprendidas que define como o cão pode perceber ambientes e reagir a estímulos.

TENDÊNCIA INSTINTIVA, REGRESSÃO: o comportamento condicionado tem a tendência


de ser substituído pelo comportamento instintivo, semelhante à lei do menor esforço.
Se não for repetido e premiado, um comportamento condicionado vai ser substituído
por comportamento instintivo. Se o fuss não for repetido e premiado, o cão continuará
a acompanhar seu condutor, mas andando em círculos a sua volta, se mantendo dentro
de uma distância de segurança e tendo pequenas distrações como cheirar algo no
chão. Também define quando o cão não executa o exercício sem equipamento
(enforcador, guia, etc.).

TERMO DE DOAÇÃO DE CANINO (TDC) Documento elaborado pela OM cedente, em 04


(quatro) vias, para cada animal doado, entrada na SRV/DS até 20 (vinte) dias após a
entrega do animal.

TERMO DE EXAME, IMPRESTABILIDADE E AVALIAÇÃO DE CANINO (TEIAC) Documento,


indispensável à homologação da descarga, sendo elaborado por uma Comissão
nomeada em BI pelo Cmt/Chefe da/Dir OM, composta obrigatoriamente pelo Fisc Adm,
um Oficial Veterinárioe outro militar.

TERMO DE NECROPSIA (TN) Documento elaborado por Oficial Veterinário para cada
animal necropsiado. Acompanhará o AOC.
285
JOSÉ LUIZ FONTOURA DE ANDRADE

TERMO DE RECEBIMENTO E EXAME DE CANINO (TREC) Documento indispensável à


homologação da inclusão em carga do animal, remetido à SRV/DS até 60 (sessenta)
dias após a publicação, no aditamento da DS ao BI D Log, da autorização para o
recebimento

TERMO DE SACRIFÍCIO DE CANINO (TSC) documento elaborado por oficial veterinário


para cada animal sacrificado. necessário à homologação da descarga.

TESTE DE CORAGEM: prova do CT em que o cão tem que atacar o figurante que corre em
sua direção, ameaçadoramente.

TIMIDEZ: baixo limiar para fuga ou para comportamento de evitação social.

ADESTRABILIDADE: facilidade do cão em executar exercícios novos; disposição para


aprender e trabalhar em conjunto com o condutor.

VICTOR

286
SELEÇÃO, ADESTRAMENTO E EMPREGO DO CÃO DE GUERRA DE DUPLA APTIDÃO

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Rio de Janeiro - RJ - Brasil
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