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CURSO: BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL


LEITURA E PRDUÇÃO DE TEXT0

COLETÂNEA DE TEXTOS
PARA AS AULAS

PROF. Dr. ANTONIO NUNES PEREIRA

IGUATU - CEARÁ
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1 LEITURA E ESCRITA: CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Leitura e escrita em foco: um olhar sobre as práticas de leitura e escrita na


atualidade1

De acordo com Kramer (2000, p. 18), nas últimas décadas o campo da leitura
e da escrita vem recebendo contribuições bastante expressivas, tanto no que se refere
a produção teórico acadêmica, a nível nacional e mesmo internacional, quanto no
que diz respeito a propostas de alternativas práticas, o que podemos compreender a
partir da própria autora dentro da ótica contextual:

Desde a critica à educação bancária feita por Paulo Freire


ao anúncio de novas práticas nos anos 50 e 60, passando
pelas mudanças na conjuntura política, a repressão sofrida
no duro período da ditadura militar, até a reconquista da
liberdade e do direito de participação política concretizada
com a volta das eleições em 1982 e 1985 (respectivamente
nos planos estadual e municipal) e a implementação de
políticas locais e diferentes propostas pedagógicas de
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de
Jovens e Adultos, a alfabetização tem sido o centro das
atenções (KRAMER, 2000, p. 18‐19).

Como se pode perceber na citação, as mudanças ocorridas no Brasil, dentro da


conjuntura social e política, tem apresentado, consequentemente, implicações no
cenário educacional brasileiro, com destaque, como podemos visualizar, nos planos,
políticas e propostas pedagógicas voltadas à educação básica, principalmente no que
diz respeito à valorização e ao incentivo da promoção da alfabetização.
Nesse sentido, paralelamente a tais mudanças, tem ocorrido, como assegura
Kramer (2000, p. 19), avanços significativos no campo teórico, além de uma verdadeira
revolução conceitual, em especial, a mudança no conhecimento sobre as formas e os
processos de ler e escrever, apontando como fatores determinantes para isso os
estudos da Sociolinguística, da Sociologia da Linguagem, da Psicolinguística e, mais
recentemente, da própria História da leitura e também da Antropologia. Estas, por
sua vez, e em conjunto, contribuem significativamente para as discussões sobre as
práticas de leitura e escrita, pois elevam o letramento para outro patamar de reflexão e
discussão crítica.
Assim, para além da definição da leitura e escrita como hábitos, gostos,
práticas, relações, exercícios, instrumentos e necessidades, que por muito tempo
perdurou, como demonstra Kramer (2000, p. 19), nesse novo patamar ampliou-se as
possibilidades para compreensão do que é ler e escrever, entendidos agora como
experiência. Ou seja, a leitura e a escrita, postas nesses termos, transcende o
momento em que se realiza e implica numa consequência que vai além do dado
imediato, atuando na formação de um sujeito pensante, crítico, reflexivo e, portanto,

1
Texto extraído de: LIMA, João Batista; SILVA, Josenildo Marques da; ARAÚJO, Patrícia Cristina de Aragão.
Leitura e escrita em foco: tecendo reflexões sobre práticas de leitura e escrita no espaço escolar. In: ANAIS DO IX
SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUODS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO
BRASIL”. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 31 jul. – 03 ago., 2012. Disponível em:
<www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario9/PDFs/3.46.pdf >. Acesso em 10 ago. 2015.
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capaz de se posicionar diante da realidade em que se vê inserido. Isto nos parece


particularmente significativo, haja vista que “a escola tem o desafio de ampliar o
uso da leitura/escrita, de modo que seus alunos desenvolvam uma das
competências mais importantes para o mundo atual: aprender a pensar e a tomar
decisões” (BEZERRA, 2000, p. 79).
Uma vez que passamos a compreender a leitura e a escrita a partir de
questões mais amplas, que consideram o leitor como sujeito social que interfere no
seu meio se posicionando criticamente frente à realidade, podemos pensar como tais
práticas podem se constituir como importantes mecanismos para a formação da
cidadania. Entretanto, é preciso que consideremos que:

Ler é sempre um ato interativo e criativo, que exige descobrir


novas realidades e maneiras inéditas de relacioná‐las entre
si, de acordo com o contexto. A escola, neste sentido deveria
buscar trabalhar vários tipos de textos, desde os formativos
(livros técnicos e didáticos) até os informativos (jornais,
revistas), mas também os literários (DINIZ, 2007,p. 136).

A partir do fragmento acima reproduzido, podemos evidenciar a necessidade


do papel a ser assumido pela escola a fim de que realmente as práticas de leitura e
escrita possam se constituir em meios eficazes para alcançarmos a formação de
sujeitos leitores e cidadãos. Nesse sentido, dois pontos nos parecem relevantes
explicitar. O primeiro diz respeito ao que os alunos leem e escrevem e o segundo, como
eles leem e escrevem na atualidade.
Refletindo sobre essas questões, Ribeiro (2008, p. 44) faz referência ao
contexto das últimas décadas do século XX, destacando a expansão da tecnologia
digital e das redes de comunicação virtual através do computador, que teria
desenvolvido novos suportes de leitura que se juntaram ao tradicional livro impresso.
Entre esses suportes se destacam, por exemplo, os discos rígidos, disquetes, CD-
ROM e multimídia, que se configuram como novas alternativas para o ato da leitura.
Dentro desse contexto evidenciado pelo autor, é preciso considerar que cada
vez mais se percebe atualmente a presença de uma leitura fragmentada, em que os
alunos “leem pedaços de textos cada vez mais curtos, mensagens, trechos, resumos e
informações” (KRAMER, 2000, p. 20). Por outro lado, e ainda de acordo com a
autora, aparecem novos espaços para a escrita, se destacando o correio eletrônico,
a internet e as histórias em quadrinho, entre outros. Nesses espaços, se escreve
muito, mas também de forma fragmentada e dispersa.
Diante dessa realidade cabe a escola propiciar situações e estratégias que
permitam uma prática de leitura e escrita sistematizada. Esta, embora leve em
consideração o contexto de vida do aluno, não pode deixar, contudo, de lhe oferecer
uma visão mais ampla sobre os conteúdos que fazem parte de uma educação
humanizadora e que, portanto, se configura como essencial à formação de um sujeito
leitor capaz de se posicionar criticamente diante da realidade social em que se vê
inserido.
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2 PADRÕES DE TEXTUALIDADE EM LÍNGUA PORTUGUESA

2.1 Texto e propriedades da textualidade

Qualquer falante sabe que a comunicação verbal não se faz através de


palavras isoladas, desligadas umas das outras e do conte xto em que são produzidas. As
manifestações naturais da linguagem humana são configurações de uma língua natural
qualquer, dotadas de sentido, e visando um dado objetivo comunicativo. A tais
configurações chamamos de TEXTOS ou DISCURSOS. Portanto, TEXTO (ou
DISCURSO) é uma unidade lingüística concreta dotada de sentido, que é tomada pelos
usuários da língua (falante/escritor, ouvinte/leitor), visando um dado objetivo
comunicativo.
Um texto, porém, deve possuir um conjunto de propriedades para que,
realmente, seja um texto. A esse conjunto de propriedades chamamos TEXTUALIDADE.
As propriedades da textualidade, isto é, o que fazem com que um texto
seja um texto, são: a) CONECTIVIDADE (SEQÜENCIAL = COESÃO E CONCEPTUAL =
COERÊNCIA); b) INTENCIONALIDADE; c) ACEITABILIDADE; d) SITUACIONALIDADE; e)
INTERTEXTUALIDADE; f) INFORMATIVIDADE.

a) CONECTIVIDADE

São as relações existentes entre as ocorrências textuais, o que significa dizer


que só haverá conectividade entre duas ocorrências textuais se as interpretações e ntre
ambas forem semanticamente interdependentes.
Ex.: “Alinhei com a esperança de vencer, mas só se vence quando se corta
a linha de chegada.”
Observe que a ocorrência textual em negrito inclui uma relação semântica de
contraste em relação à que não está em negrito.

1) Conectividade Sequencial (Coesão)

Neste caso, a interdependência semântica das ocorrências textuais resulta de


processos linguísticos de sequenciação, isto é, abrange todo e qualquer mecanismo em
que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) do
universo textual. Tem-se, assim, uma forma referencial remissa (que aponta para outro
termo) e um referente (termo para o qual a referência é feita). Algumas formas remissas
remetem para trás (ANÁFORA), para termos anteriores e outras remetem para frente
(CATÁFORA), sendo necessário dar continuidade para descobrir os referentes. Ex.: O
João bateu em Antonio e este ficou ferido (anáfora); Ao pé dela, a moça loura viu o
homem que a perseguia (catáfora).

2) Conectividade Conceptual (Coerência)

É um fator que resulta da interação entre os elementos cognitivos apresentados


pelas ocorrências textuais e nosso conhecimento de mundo. A coerência está
diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto, ou sej a,
ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser
entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto
numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o
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sentido deste texto. Este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é
local. É por isso que uma seqüência como “Maria tinha lavado a roupa quando
chegamos, mas ainda estava lavando a roupa” é vista como incoerente, pois, apesar
de cada uma de suas partes ter sentido, parece difícil ou impossível estabelecer um
sentido unitário para o todo da seqüência. Portanto, para haver coerência, é preciso
que haja possibilidade de estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação
entre seus elementos.
Outro aspecto a ser observado quanto à coerência é que a relação a ser
estabelecida entre os elementos lingüísticos não é apenas semântica, mas também
pragmática, ou seja, a relação tem a ver com os nossos atos de fala.
Ex.: A: É telefone.
B: Estou no banho
A: Tudo bem.
Come é que interpretamos o texto acima?
Por certo, que, nesse caso, devemos imaginar uma situação na qual a
enunciação da primeira frase (o primeiro comentário de A) será interpretada como
pedido, uma vez que é uma frase de clarativa. Tomando o comentário de B como sendo
uma resposta a A e como tendo a força comunicativa de desculpas por não poder o seu
pedido. Da mesma forma, reconhecendo a segunda intervenção de A como aceitação
das desculpas de B e como um oferecimento pessoal para fazer o que A havia solicitado
que B fizesse, podemos considerar como discursos coerentemente constituídos, uma
vez que podemos recuperar os laços proposicionais ausentes e produzir uma versão
com coesão:
A: É telefone. (Você pode atender pra mim, por favor?)
B: (Não vou poder atender porque) Estou no banho
A: Tudo bem. (Eu atendo).
Portando, se há uma unidade de sentido no todo do texto quando este é
coerente, então a base da coerência é a continuidade de sentidos entre os
conhecimentos ativados pelas expressões do texto. Por outras palavras, quer -se dizer
que é através da coerência que percebemos a continuidade de sentido e o
encadeamento entre os componentes de um texto.

b) INTENCIONALIDADE

Refere-se ao modo como os emissores usam o texto para prosseguir e realizar


suas intenções, produzindo, para tanto, textos adequados à obtenção dos efeitos
desejados. É por esta razão que o emissor procura, de modo geral, construir seu texto
de modo coerente e dar pistas ao receptor que lhe per mitam construir o sentido
desejado. (Koch, 1990: 79).
Este fator de textualidade diz respeito também às informações implícitas e
explícitas. Quase sempre somos muito diretos em nossa intenção de dizer, até por
economia. Contudo, em alguns casos, preferimos não deixar clara a nossa intenção.
Ex.: Fiz um curso de informática e aprendi algumas coisas interessantes.
(informação cuja intenção está explícita), mas em Fiz um curso de informática, mas
aprendi algumas coisas interessantes (informação cuja intenção e stá implícita). Se
observarmos melhor, veremos que o uso da conjunção “mas” empresta ao texto o
seguinte sentido: fiz um curso de informática e, apesar das deficiências do curso,
aprendi algumas coisas interessantes.
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c) ACEITABILIDADE

Constitui a contraparte da intencionalidade. Um dos postulados básicos que


regem a comunicação humana é o da cooperação, isto é, sempre que ouvimos ou lemos,
procuramos compreender para interagir completamente com nossos interlocutores.
Contudo, é bom ficarmos atentos ao aspecto da cooperação, pois não é algo que
dependa apenas do leitor. Um texto precisa ser, antes de tudo, uma unidade de
sentido, em que todas as suas partes sejam coesas e coerentes.
Ex.: Digamos que a frase – “Fiz o curso de informática, mas aprendi algumas
coisas interessantes” – tenha sido dirigida ao dono ou responsável pelo curso. O
receptor da mensagem teria duas interpretações: de aceitabilidade (compreenderia que
o curso por algum motivo não está tão bem) ou de não aceitabilidade (não perceberia
na mensagem a intenção não declarada do falante).

d) INFORMATIVIDADE
Diz respeito ao grau em que as informações são esperadas/conhecidas ou não.
Devemos perceber por este fator o quanto é importante apresentarmos nossas
informações num grau satisfatório de aceitabilidade. Por outras palavras, queremos
dizer da importância de sermos claros e objetivos em nossas mensagens, de não sermos
repetitivos e redundantes.
Ex.: “Este líquido é água. Quando pura é inodora, insípida e incolor”. Seria
redundante continuar comentando, por exemplo, que, quando a água não é pura, ela
pode apresentar características de cheiro, cor e sabor.
Há casos em que a informatividade é aparentemente nula. Isto ocorre com
freqüência em textos poéticos, jornalísticos e também em textos public itários.
Exemplo:
Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem-querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder,
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(CAMÕES, Luiz Vaz de. Sonetos. Lisboa: Publicações Europa-América, 1975. p.181)

e) SITUACIONALIDADE
Refere-se ao conjunto de fatores que tornam um texto relevante para dada
situação de comunicação. Se a condição de situacionalidade não ocorre, o texto tende a
parecer incoere nte, porque o cálculo de seu sentido se torna difícil ou impossível.
No texto oral, a coerência depende muito mais do contexto situacional do que
do escrito, porque, no oral, os elementos da situação cooperam no estabelecimento das
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relações entre os elementos do texto em mais alto grau do que no escrito, sobretudo por
haver muitas entidades evocadas situacionalmente e por ser decisiva a influência da
situação no cálculo do sentido. Uma evidência dessa dependência é a dificuldade que
se encontra para interpretar a fala gravada. Todavia, há casos de textos escritos muito
dependentes da situação, como placas indicativas de direção, de silencia em hospitais,
indicativas de salas, seções em instituições diversas etc. Esses textos foram chamados
pela teoria lingüística tradicional de frases de situação.

f) INTERTEXTUALIDADE
Além de o texto conter marcas da individualidade do falante/escritor, contém
também marcas históricas deixadas no segmento textual, pois as ideias expressas não
podem ser compreendidas, nem analisadas, sem que estabeleçamos uma relação com a
sua época de produção. Para entendermos as relações sociais, históricas e culturais
existentes no texto, é preciso entender as relações estabelecidas entre sociedade, época
e cultura, é preciso compreender as relações de um texto com outros textos. É o fator
de intertextualidade que permite ao falante/ouvinte recuperar as marcas textuais que
assinalam as relações que um texto estabelece com outros.
A intertextualidade pode ocorrer quanto à forma ou ao conte údo.
Quanto à forma, ocorre quando o produtor de um texto repete expressões,
enunciados ou trechos de outros textos, ou então o estilo de determinado autor ou de
determinados tipos de discurso.

Exemplo:
“Do que a terra mais garrida “Nosso céu tem mais estrelas
Teus risonhos lindos campos têm mais Nossas várzeas têm mais flores
flores Nossos bosques têm mais vida,
Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.”
Nossa vida em teu seio mais amores.” (Canção do Exílio – Gonçalves Dias)
(Hino Nacional – Osório D. Estrada)

A intertextualidade de conteúdo diz respeito às relações determinadas, por


exemplo, por fatores culturais, de época, de área de conhecimento etc.
Ex.: Segundo Koch (1990), “um subtipo de intertextualidade formal é a
intertextualidade tipológica...”

Identifique nas ocorrências abaixo se são textos ou não. Justifique sua resposta.
a) b) José viajou para são Paulo, pois gostava do Paraná.
Som Ele adora cidades pequenas, por isso escolheu São
frio. Paulo.

Rio
Sombrio.

O longo som
do rio
frio.

O frio
bom c) Pedro: João, você me empresta seu carro amanhã?
do longo rio. João: Se o homem foi à Lua há trinta anos atrás
como vou te emprestar meu carro?
Tão longe,
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tão bom
tão frio
o claro som
Do rio sombrio.

2. Identifique os fatores da textualidade predominantes em cada trecho abaixo:


a) O rapaz correu até o final da rua. Lá ele parou e caiu.
b) A praça era enorme. No meio havia uma coluna: à volta, árvores e canteiros com
flores.

c)
Minha terra tem macieiras da Califórni a Minha te rra tem palmeiras,
onde cantam gaturamos de Veneza. Onde canta o Sabiá;
Os poetas da minha terra As aves, que aqui gorjeiam,
são pretos que vivem em torres de Não gorjeiam como lá
[ametista.
Os sargentos do exército são monistas Nosso céu tem mais estrelas,
[cubistas, Nossas várzeas têm mais flores,
os filósofos são polacos vendendo a Nossos bosques têm mais vida,
[prestações. Nossa vida mais amores,
(Murilo Mendes. Poesias: Canção do Exílio) (Gonçalves Dias. Poesias: Canção do Exílio)

d)

e) Em lugar dos homens, uma aranha é que vai escalar e vistoriar os tanques de
armazenagem de gás espalhados pelo Japão. Essa aranha é um robô de oito pernas,
desenvolvida pela Tokyo Gás & Hitachi para detectar falhas e rachaduras no metal dos
tanques. Suas oito pernas, movidas a ar bombeado por um compressor no chão,
grudam na superfície do tanque graças às ventosas nas patas.

f) A: José vá à padaria comprar um pão.


B: Logicamente, pois eu não poderia comprar um pão na farmácia.

g) O Brasil, em pleno início do século XXI, ainda é vítima de doenças que deveriam
estar banidas de seu cotidiano, como é o caso vergonhoso da dengue que assusta,
novamente, o povo brasileiro.
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3 MECANISMOS DE COESÃO2 E COERÊNCIA TEXTUAIS


“O certo é saber que o certo é certo.”
Caetano Veloso
O texto não é simplesmente um conjunto de palavras; pois se o fosse, bastaria agrupá -
las de qualquer forma e teríamos um.
O ontem lanche menino comeu.
Veja que neste caso não há um texto, há somente um grupo de palavras dispostos em
uma ordem qualquer. Mesmo que colocássemos estas palavras em uma ordem gramatical
correta: sujeito-verbo-complemento precisaríamos, ainda, organizar o nível semântico do texto,
deixando-o inteligível.
O lanche comeu o menino ontem
O nível sintático está perfeito:
sujeito = o lanche
verbo = comeu
complementos = o menino ontem
Mas o nível semântico apresenta problemas, pois não é possível que o lanche coma o
menino, pelo menos neste contexto. Caso a frase estivesse empregada num sentido figurado e
em outro contexto, isto seria possível.
Pedrinho saiu da lanchonete todo lambuzado de maionese, mostarda e catchup, o
lanche era enorme, parecia que “o lanche tinha comido o menino”.
A coesão e a coerência garantem ao texto uma unidade de significados encadeados.

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Texto extraído de: VIANA, Antônio Carlos (coord.) et al. Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo:
Scipione, 1998. p. 28-37.
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A COERÊNCIA
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4 DIRETRIZES PARA A LEITURA, ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO


TEXTOS

Texto adaptado de Adaptado de: SEVERINO,


Antonio Joaquim. M etodologia do trabalho
científico. 20. ed. ver. e ampl. São Paulo: Cortez,
1996.

As maiores dificuldades do estudo e da aprendizagem, em ciência e em filosofia, estão


diretamente relacionadas com a correspondente dificuldade que o estudante encontra na exata
compreensão dos textos teóricos. Habituados à abordagem de textos literários, os estudantes ao
abordarem textos científicos ou filosóficos, encontram dificuldades logo julgadas insuperáveis e
que reforçam uma atitude de desânimo e de desencanto, geralmente acompanhada de um juízo de
valor depreciativo em relação ao pensamento teórico.
Em verdade, os textos de ciência e de filosofia apresentam dificuldades específicas, mas,
nem por isso, insuperáveis. É claro que não se pode contar com os mesmos recursos disponíveis
no estudo de textos literários. No caso da leitura de textos literários, a sequência do raciocínio, o
enredo, é apresentado dentro de quadros referenciais fornecidos pela imaginação: através da
imaginação é facílimo ter presente os quadros gerais em que se desenvolve a ação descrita e
percebe-se logo o encadeamento da estória. Por isso, a leitura está sempre situada, tornando-se
possível entender, sem maiores problemas a mensagem transmitida pelo autor.
No caso de textos de pesquisa positiva, é possível acompanhar o raciocínio já mais
rigoroso, seguindo a apresentação dos dados objetivos sobre os quais tais textos estão fundados.
Os dados e fatos levantados pela pesquisa e organizados conforme técnicas específicas às várias
ciências permitem ao leitor, devidamente iniciado, acompanhar o encadeamento lógico destes
fatos no raciocínio científico.
Mas, diante de exposições teóricas, como em geral são as encontradas nos textos
filosóficos e em textos científicos relativos a pesquisas teóricas, onde o raciocínio é quase sempre
dedutivo, a imaginação e a experiência objetiva não são de muita valia. Nestes casos, conta-se tão
somente com as possibilidades da razão reflexiva, o que exige muita disciplina intelectual para
que a mensagem possa ser compreendida com o devido proveito e para que a leitura se torne
menos insípida.
Na realidade, mesmo em se tratando de assuntos abstratos, desde que o leitor esteja em
condições de “seguir o fio da meada”, a leitura torna-se mais fácil, mais agradável e, sobretudo,
mais proveitosa. Por isso é preciso criar condições de abordagem e de inteligibilidade do texto,
aplicando alguns recursos que, apesar de não substituírem a capacidade de intuição do leitor na
apreensão da forma lógica dos raciocínios em jogo, ajuda muito na análise e interpretação dos
textos.

4.1 Delimitação da Unidade de Leitura

A primeira medida a ser tomada pelo leitor é o estabelecimento de uma unidade de leitura.
Unidade é um setor do texto que forma uma totalização de sentido. Assim, pode-se considerar um
capítulo, uma seção ou qualquer outra subdivisão. Toma-se uma parte que forme certa unidade de
sentido para que se possa trabalhar sobre ela. Desta maneira, determinam-se os limites no interior
dos quais se processará a disciplina do trabalho de leitura e estudo em busca da compreensão da
mensagem.
De acordo com esta orientação, a leitura de um texto quando feita para fins de estudo,
deverá ser feita por etapas, ou seja, apenas terminada a análise de uma unidade é que se passará à
seguinte. Terminando o processo, o leitor se verá então em condições de refazer o raciocínio
global do livro, reduzindo-o assim à sua forma sintética.
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A extensão da unidade será determinada proporcionalmente à acessibilidade do texto a ser


definida por sua natureza, assim como pela familiaridade do leitor com o assunto tratado.
O estudo da unidade deve ser feito de maneira contínua, evitando-se intervalos de tempo
muito grandes entre as várias etapas da análise.

4.2 A Análise Textual (preparação do texto)

A análise textual: primeira abordagem do texto com vistas à preparação da leitura.


Determinada a unidade de leitura, o estudante-leitor deve proceder então a uma série de
atividades ainda preparatórias para a análise mais aprofundada do texto.
Procede-se inicialmente a uma leitura seguida e completa da unidade do texto em estudo.
Trata-se de uma leitura atenta mais ainda corrida, sem buscar esgotar toda a compreensão do
texto. A finalidade desta primeira leitura é uma tomada de contato com toda a unidade, buscando-
se uma visão panorâmica, uma visão de conjunto do raciocínio do autor. Além disso, este contato
geral permitirá ao leitor sentir seu estilo e método.
Durante este primeiro contato deverá ainda o leitor fazer o levantamento de todos aqueles
elementos básicos para a devida compreensão do texto. Isto quer dizer que é preciso assinalar
todos aqueles pontos passíveis de dúvida e que exijam esclarecimento que condicionam a
compreensão da mensagem do autor.
O primeiro esclarecimento a ser buscado são os dados a respeito do autor do texto. Uma
pesquisa atenta sobre a vida, a obra e o pensamento do autor da unidade fornecerá elementos
muito úteis para uma elucidação das ideias expostas na unidade. Observa-se porém que estes
esclarecimentos devem ser assumidos com certa reserva, a fim de que as interpretações dos
comentadores não venham prejudicar a compreensão das ideias expostas na unidade estudada.

4.3 A Análise Temática (compreensão do texto)

De posse dos instrumentos de expressão usados pelo autor, do sentido unívoco de todos os
conceitos e conhecedor de todas as referências e alusões utilizadas por ele, o leitor passará, nesta
segunda abordagem, à etapa da compreensão da mensagem global veiculada na unidade.
Trata-se, nesta análise temática, de ouvir o autor, de apreender, sem intervir nele, o
conteúdo de sua mensagem. Praticamente, trata-se de trazer ao texto uma série de perguntas cujas
respostas darão o conteúdo da mensagem.
A primeira questão a se levantar é a de se saber do que fala o texto. A resposta a esta
questão será o tema ou assunto da unidade. Questão aparentemente simples de ser resolvida, ilude
muitas vezes. Nem sempre o título da unidade dá uma ideia fiel do tema. Às vezes, apenas o
insinua por associação ou analogia; outras vezes não tem nada a ver com o tema. O mais das
vezes, o tema tem uma determinada estrutura: o autor está falando não de um objeto, de um fato
bem determinado, mas de relações as mais variadas entre os vários elementos; além desta possível
estruturação, é preciso tentar captar a perspectiva de abordagem deste tema pelo autor: esta
perspectiva define o âmbito dentro do qual o tema é tratado, restringindo-o a limites bem
determinados.

4.4 A Análise Interpretativa (interpretação do texto)

A análise interpretativa: terceira abordagem do texto com vistas à sua interpretação,


mediante a situação das ideias do autor.
A partir desta compreensão objetiva da mensagem comunicada pelo texto, o leitor passará
a adotar uma atitude de interpretação sem a qual a compreensão profunda do texto não traria
grandes benefícios. Interpretar, num sentido restrito, é tomar uma posição própria a respeito das
ideias enunciadas, é superar a estrita mensagem do texto, é ler nas entrelinhas, é forçar o autor a
um diálogo, é explorar toda a fecundidade das ideias expostas, é cotejá-las com outras, enfim, é
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dialogar com o autor. Bem se vê que esta última etapa da leitura analítica é a mais difícil e
delicada, já que os riscos da interferência da subjetividade do leitor são maiores, além de
pressupor mais instrumentos culturais e mais formação específica.
A primeira etapa de interpretação consiste na tentativa de situar o pensamento
desenvolvido na unidade, na esfera mais ampla do pensamento geral do autor. Trata-se de ver se
as ideias expostas nesta unidade se relacionam com as posições gerais do pensamento teórico do
autor, tal como é conhecido por outras fontes.
A seguir, o pensamento apresentado na unidade pode permitir a situação do autor no
contexto mais amplo da cultura filosófica em geral. Trata-se de situar o autor, por suas posições aí
assumidas, nas várias orientações filosóficas existentes, mostrando-se assim o sentido de sua
própria perspectiva e destacando-se os pontos comuns como originais.

3.3.5 A Problematização (discussão do texto)

A problematização: quarta abordagem da unidade com vistas ao levantamento dos


problemas para a discussão.
A próxima tarefa relativa ao estudo de um texto, sobretudo quando este estudo é feito em
grupo, é a problematização. Trata-se de uma retomada geral de todo o texto, tendo em vista o
levantamento dos problemas mais relevantes para uma reflexão pessoal e principalmente para uma
discussão em grupo.
Os problemas podem situar-se ao nível das três abordagens anteriores; desde problemas
textuais, os mais objetivos e concretos, até os mais difíceis problemas de interpretação, todos
constituem elementos válidos para a reflexão individual ou em grupo. Este debate e esta reflexão
são essenciais à própria atividade filosófica e científica.

3.3.6 A Síntese Pessoal

A discussão da problemática levantada pelo texto e a reflexão a que ele conduz devem
levar o leitor a uma fase de elaboração pessoal ou de síntese. Trata-se, na realidade, de uma etapa
ligada antes à construção lógica de uma redação do que à leitura como tal. Mas, de qualquer
modo, a leitura bem feita deverá possibilitar ao estudioso progredir no desenvolvimento das ideias
lidas, bem como daqueles elementos com elas relacionados. Ademais, este trabalho de reflexão
pessoal de síntese, é sempre exigido no contexto das atividades didáticas, quer como tarefa
específica, quer como parte de relatórios ou de roteiros de seminários. Significa também valioso
exercício de raciocínio – garantia de amadurecimento intelectual. Como a problematização, esta
etapa se apoia na retomada de pontos abordados em todas as etapas anteriores.

Conclusão

Assim, uma leitura analítica bem cuidada desenvolverá no estudante-leitor toda uma série
de posturas lógicas que constituirão a via mais adequada para sua própria formação, tanto na sua
área específica de estudo quanto na sua formação filosófica em geral.
Pra fornecer uma representação global da leitura analítica, assim como para permitir uma
recapitulação de todo o processo, são apresentados a seguir um fluxograma com suas principais
etapas de um esquema detalhado com suas várias atividades.

ESQU EM A

Recapitulando: a leitura analítica é um método de estudo que tem como objetivos:


1. Fornecer uma compreensão global do significado do texto;
2. Treinar para a compreensão e a interpretação crítica dos textos;
3. Treinar ao desenvolvimento do raciocínio lógico;
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4. Fornecer instrumentos para o trabalho intelectual desenvolvido nos seminários, no estudo


dirigido, no estudo pessoal e em grupos, na confecção de resumos, resenhas, relatórios,
etc.

Seus processos básicos são:

1. Análise textual: preparação do texto:


Trabalhar sobre unidades bem delimitadas (um capítulo, uma seção, uma parte, etc., sempre
um trecho com um pensamento completo);
Fazer uma leitura rápida e atenta da unidade para se adquirir uma visão de conjunto da
mesma;
Levantar esclarecimentos relativos ao autor, ao vocabulários específico, aos fatos, doutrinas e
autores citados, que sejam importantes para a compreensão da mensagem;
Esquematizar o texto, evidenciando sua estrutura redacional.

2. Análise Temática: compreensão do texto:

2.1. Determinar o tema-problema, a ideia central e as ideias secundárias da unidade;


2.2. Refazer a linha de raciocínio do autor, ou seja, reconstruir o processo lógico do
pensamento do autor;
2.3. Evidenciar a estrutura lógica do texto, esquematizando a sequência das ideias;

3. Análise Interpretativa: interpretação do texto:

3.1. Situar o texto no contexto da vida e da obra do autor, assim como no contexto da
cultura de sua especialidade, tanto do ponto de vista histórico como do ponto de vista
teórico;
3.2. Explicitar os pressupostos filosóficos do autor que justifiquem suas posturas teóricas;
3.3. Aproximar e associar ideias do autor expressas na unidade com outras ideias
relacionadas à mesma temática;
3.4. Exercer uma atitude crítica frente às posições do autor em termos de:
a) Coerência interna da argumentação;
b) Validade dos argumentos empregados;
c) Originalidade do tratamento dado ao problema;
d) Profundidade de análise do tema;
e) Alcance de suas conclusões e consequências;
f) Apreciação e juízo pessoas das ideias defendidas.

4. Problematização: discussão do texto:

4.1. Levantar e debater questões explícitas ou implícitas no texto;


4.2. Debater questões afins surgidas no leitor;

5. Síntese Pessoal: reelaboração pessoal da mensagem:

5.1. Desenvolver a mensagem mediante uma retomada pessoal da mensagem e um


raciocínio personalizado;
5.2. Elaborar um novo texto, com redação própria, com discussões e reflexão pessoais.
28

A ALEGORIA / O MITO DA CAVERNA

(Do livro VII, capítulo VII da República, Platão) – Diálogo entre Glauco e Sócrates

- E agora – disse eu – compara com a seguinte situação o estado de nossa alma com respeito à
educação ou à falta desta. Imagina uma caverna subterrânea provida de uma vasta entrada aberta para a luz
e que se estende ao longo de toda a caverna, e uns homens que lá dentro se acham desde a infância,
acorrentados pelas pernas e pelo pescoço. Por essa razão eles têm de permanecer imóveis e olhar tão-só
para a frente, pois as ligaduras não lhes permitem voltar a cabeça. Atrás deles, num plano superior, arde um
fogo a certa distância, e entre o fogo e os acorrentados há um caminho elevado, ao longo do qual faz de
conta que tenha sido construído um pequeno muro semelhante a esses tabiques que os titeriteiros colocam
entre si e o público para exibir por cima deles as suas maravilhas.
- Veja daqui a cena - disse Glauco.
- Imagine, então, como ao longo desse pequeno muro passam homens carregando toda espécie de
objetos, cuja altura ultrapassa a da parede, e estátuas de homens e figuras de animais feitas de pedra, de
madeira e outros materiais variados. Alguns desses carregadores conversam entre si, outros se calam.
- Que estranha situação descreves e que estranhos prisioneiros!
- Eles se parecem conosco – disse eu. – Em primeiro lugar, crês que os que estão assim tenham
visto outra coisa de si mesmos ou de seus companheiros senão sombras projetadas pelo fogo sobre a parede
da caverna que está à frente?
- Como seria possível, se durante toda a sua vida foram obrigados a manter imóveis as cabeças?
- E dos objetos transportados, não veriam igualmente apenas as sombras?
- Sim.
- E se pudessem falar uns com os outros, não julgariam estar se referindo ao que se passava diante
deles?
- Forçosamente.
- Supõe ainda que a prisão tivesse um eco vindo da parte da frente. Cada vez que falasse um dos
passantes, não creriam eles que quem falava era a sombra que viam passar?
- É indubitável.
- Eles, – disse eu – só tomariam por verdade as sombras dos objetos fabricados.
- Examina, agora, o que naturalmente aconteceria se os prisioneiros fossem libertados de suas
cadeias e curados de sua ignorância. Quando um deles fosse desatado obrigado a levantar-se, subitamente
virasse o pescoço, caminhasse em direção à luz, e em virtude disto sentisse dores intensas e, com a vista
ofuscada, não fosse capaz de perceber aqueles objetos cujas sombras via anteriormente: e se alguém lhe
dissesse que antes não via mais do que sombras e agora quando se acha mais próximo da realidade e com
os olhos voltados para os objetos mais reais, goza de uma visão mais verdadeira, que supõe que
responderia? Imagina ainda que se lhe fosse mostrando os objetos à medida que passassem e obrigando-o a
nomeá-los: não crês que ficaria perplexo, e o que antes havia contemplado lhe pareceria mais verdadeiro do
que os objetos que agora se lhe mostram?
- Muito mais – disse ele.
- E se o obrigassem a fixar a vista na própria luz, não lhe doeriam os olhos e não se escaparia,
voltando-se para os objetos, que pode contemplar, e que consideraria que eles são realmente mais claros, do
que aqueles que lhe eram mostrados?
- Assim é – respondeu.
- E se o levassem dali à força, obrigando-o a galgar a áspera e escarpada subida, e não o largassem
antes de tê-lo arrastado à luz do próprio sol, não crês que sofreria e se irritaria, e uma vez chegada à luz
teria os olhos tão ofuscados por ela eu não conseguiria enxergar uma só das coisas que agora chamamos
verdadeiras?
- Não, não seria capaz – disse ele – ao menos no primeiro momento.
- Precisaria acostumar-se, creio eu, para poder chegar a ver as coisas lá de cima. O que veria mais
facilmente seriam, antes de tudo, as sombras; depois, as imagens de homens e outros objetos refletidos na
água; e mais tarde os próprios objetos. E depois disto seria mais fácil contemplar a lua e as estrelas, e veria
o céu noturno muito melhor que o sol ou a sua luz durante o dia.
- Como não?
- E por fim, creio eu, estaria em condições de ver o sol – não suas imagens refletidas na água nem
em outro lugar estranho, mas o próprio sol em seu próprio domínio e tal qual é em si mesmo.
- Necessariamente – disse ele.
29

- Mais tarde, passaria a tirar conclusões a respeito do sol, compreendendo que ele produz as
estações e os anos, governa toda a região visível e é, de certo modo, o autor de tudo aquilo que eles (os
prisioneiros) viam.
- É evidente – disse – que veria primeiro o sol e depois pensaria sobre ele.
- E quando se lembrasse de sua habitação anterior, da ciência da caverna e de seus antigos
companheiros de cárcere, não crês que se consideraria feliz por haver mudado e teria compaixão deles?
- E se entre os prisioneiros vigorasse o hábito de conferir honras, louvores e recompensas àqueles
que por distinguirem com maior penetração as sombras que passavam e observassem melhor quais delas
costumavam passar antes, depois ou junto com outras, fossem mais capazes de predizer, pensas que aquele
sentiria saudades de tais honras e glórias e invejaria os que as possuíssem? Não diria ele, com Homero, que
era preferível “lavrar a terra a serviço de um homem sem patrimônio” ou sofrer qualquer outro destino a
viver no mundo das sombras?
- Sim, creio que preferiria qualquer outro destino a ter uma existência tão miserável.
- Atenta agora no seguinte: se esse homem voltasse lá para baixo e fosse colocado no seu lugar de
antes, não crês que seus olhos se encheriam de travas como os de quem deixa subitamente a luz do sol?
- Por certo que sim.
- E se tivesse de competir de novo com os que ali permaneceram acorrentados, opinando a respeito
de tais sombras, que, por não se lhe ter ainda acomodado a vista, enxergaria com dificuldade (e não seria
curto o tempo necessário para acostumar-se), não te parece que esse homem faria papel de ridículo? Diriam
os outros que ele voltara lá de cima sem olhos e que não valia à pena pensar sequer em semelhante
escalada. E não matariam, a quem tentasse desatá-los para a luz, se pudessem deitar-lhe a mão?
- Não há dúvida – disse ele.
- Pois agora, meu caro Glauco, é só aplicarmos com toda exatidão essa imagem da caverna e tudo o
que antes havíamos dito. A caverna subterrânea é o mundo visível. O fogo que ilumina é a luz do sol. O
acorrentado que se eleva à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou,
antes já que o queres saber, é este pelo menos meu modo de pensar, que só a divindade pode saber se é
verdadeiro. Quanto a mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nas últimas fronteiras do mundo inteligível está
a ideia do bem, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da Inteligência e da Verdade no mundo
invisível e, sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos levantados para agir com sabedoria nos
negócios individuais e públicos.

Leitura Analítica do Texto o Mito da Caverna

1. Análise Textual
1.1. O texto é um capítulo do livro República de Platão. Tratando-se de um diálogo entre
Glauco e Sócrates.
1.2. Leitura rápida.

1.3. Esclarecimentos:
a) O autor:
O autor Platão era um filósofo grego conhecido que escreveu a obra República.
b) Vocabulário específico:
Cultura e incultura (educação e falta de educação)
c) Os fatos
A evolução do homem no contexto social.
d) Doutrina
Filosofia.

2. Análise Temática
2.1. Tema Problema: A ignorância e o saber

2.2. Ideia Central: A busca da verdade. O problema a ser solucionado é a ignorância


(falta de educação) para saber agir com sabedoria.

2.3. Ideia Secundária: Os caminhos para se sair das trevas da ignorância para a sabedoria.
30

2.4. Reconstruir o Raciocínio Lógico do Autor:

O autor faz uma analogia em relação à educação e a sua falta utilizando a alegoria do mito da
caverna, passando a descrever a vida de alguns homens no interior de uma caverna subterrânea, reportando
a libertação de um desses homens, que passa a observar a realidade das coisas e a lembrar dos
companheiros que continuavam na escuridão, para, em seguida, concluir que: a caverna é o mundo visível;
o fogo: a luz do sol; a libertação de um dos homens: a elevação da alma ao mundo inteligível e que só a
divindade pode saber o que é realmente verdadeiro, pois, a essa divindade, cumpre-nos levantar os olhos
para agir com sabedoria.

2.5. Esquema das Ideias do Autor:

- Evolução cultural
O Homem - Visão real dos acontecimentos
- Sabedoria
- Leigo
O Homem - Ignorante aos acontecimentos
- Medo da vida real
3. Análise Interpretativa

3.1. Justificar ou criticar:

O texto é puramente filosófico, ele deu origem aos estudos filosóficos.

3.2. Interpretação:

Alguns homens permaneceram no interior de uma caverna subterrânea desde a infância, sem
saberem o que de real e concreto existia fora dessa caverna, vendo, apenas, através dos raios da luz,
imagens (sombras) de objetos refletidos. Um desses homens é libertado e forçado ao contato com a vida
real e passa a ver as imagens reais e, com isso, começa a adquirir noção de educação (cultura), saindo de
uma falsa realidade e, quanto mais esse homem se aproxima da realidade, mais observa que a cultura traz o
que há de real na vida. Depois de certo tempo, após observar e razoar em torno da realidade percebe que
tudo de sua vida outrora era falso e que, agora, já detentor de conhecimento, se aproxima mais da verdade
e passa a imaginar a vida de seus companheiros que continuavam presos na escuridão da ignorância, porém
não havia como convencê-los a saírem daquela falsa realidade e conhecerem seu próprio mundo, assim
como esse homem jamais aceitaria voltar a viver no interior daquela caverna, preferindo qualquer outro
destino. Isto quer dizer que há um mundo visível, real, que remete ao caminho da saber, através da
elevação da alma ao mundo inteligível e um mundo invisível, que é a fronteira do mundo visível, ou seja,
há uma divindade que é a fronteira entre o mundo visível e o mundo invisível, criadora da inteligência e da
Verdade, para a qual devemos nos guiar para agir com sabedoria na vida privada e na vida pública.

3.3. Atitude Crítica:

O autor fundamenta bem a realidade dos acontecimentos. Apesar de o texto ter sido escrito
há mais de 2.400 anos, ainda condiz, exatamente, com o que acontece hoje, ou seja, existem
pessoas com alto grau de cultura e outras completamente leigas ou alienadas.

ATIVIDADE

Faça a leitura analítica dos textos a seguir. Siga o mesmo roteiro utilizado no texto o mito
da caverna.
31

TEXTO 01

OS INSTRUMENTAIS TÉCNICO-OPERATIVOS NA PRÁTICA PROFISSIONAL DO


SERVIÇO SOCIAL

Texto capturado via Internet em: <http://www.webartigos.com/articles/36921/1/OS -INSTRUMENTAIS-TECNICO-


OPERATIVOS-NA-PRATIC A-PROFISSION AL-DO-SERVICO-SOCIAL/pagina1.html>

APRESENTAÇÃO

A utilização dos instrumentais no cotidiano da prática profissional é um fator


preponderante para o assistente social. Como todos os profissionais têm seus instrumentos de
trabalho, e sendo o assistente social um trabalhador inserido na divisão social e técnica do
trabalho, necessita de bases teóricas, metodológicas, técnicas e ético-políticas necessárias para
o seu exercício profissional. Os instrumentais técnico-operativos são como um “conjunto
articulado de instrumentos e técnicas que permitem a operacionalização da ação profissional”
(MARTINELLI, 1994 p. 137).
O uso dos instrumentais técnico-operativos pode ser visto como uma estratégia para a
realização de uma ação na prática profissional, como nos revela MARTINELLI (2000), onde o
instrumental e a técnica estão relacionados em uma “unidade dialética”, refletindo o uso criativo
do instrumental com o uso da habilidade técnica. O instrumental “abrange não só o campo das
técnicas como também dos conhecimentos e habilidades” (p. 138).

OS INSTRUMENTAIS TÉCNICO-OPERATIVOS NA PRÁTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO


SOCIAL

Como prática profissional, o Assistente Social deve coordenar e executar programas de


enfretamento à pobreza, que assegurem a elevação da autoestima, o acesso a bens, serviços e
renda para segmentos mais vulnerabilizados pela situação de pobreza e exclusão social,
desenvolver programas voltados para o atendimento aos grupos de maior risco, realiz ar e
disponibilizar estudos e pesquisas no âmbito das Políticas Sociais.
Quanto às atribuições do assistente social enquanto prática profissional deve coordenar,
elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas e projetos na área de Serviço
Social; prestar informações e elaborar pareceres na área de atuação do Serviço Social; planejar,
coordenar, executar atividades socioeducativas; estabelecer parcerias e contatos institucionais;
atuar como facilitadora de processos de formação de lideranças e organização comunitária;
planejar, coordenar e realizar reuniões e palestras na área de atuação do Serviço Social;
elaborar relatórios técnicos e analíticos; treinar, avaliar, supervisionar e orientar estagiários de
Serviço Social.
Os instrumentos técnico-operativos utilizados pelo assistente social do Programa Acesso
à Cidadania são: folha de produção diária, conversas informais, documentação, Reunião,
observação, entrevistas, fichas de cadastro, encaminhamentos, registros, acompanhamento
social, relatórios e visitas domiciliares.

ALGUMAS TÉCNICAS DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL

A Folha de Produção Diária


Conceito: É um instrumento no qual o assistente social anota as demandas diárias, é uma folha
que especifica a data e a ocorrência dos atendimentos para controle do assistente social.

Finalidade: Na folha de produção diária consta; a data do atendimento ou atividade, ao lado as


atividades e as providências que foram tomadas e a assinatura do estagiário ou assistente social
responsável no momento do atendimento.
32

A Observação
Conceito: “A observação consiste na ação de perceber, tomar conhecimento de um fato ou
conhecimento que ajude a explicar a compreensão da realidade objeto do trabalho e, como tal,
encontrar os caminhos necessários aos objetivos a serem alcançados. É um processo mental e,
ao mesmo tempo, técnico.” SOUZA (2000).

Finalidade: A observação é um instrumento importante em momentos de decisão em que o


assistente social precisa ter segurança, fixando-se nos objetivos no qual se pretende alcançar.

As Visitas domiciliares
Conceito: Segundo AMARO (2003), “é uma prática profissional, investigativa ou de atendimento,
realizada por um ou mais profissionais, junto aos indivíduos em seu próprio meio social ou
familiar”, a autora também nos revela que a entrevista possui pelo menos três técnicas
embutidas como: a observação, a entrevista e a história ou relato oral.

Finalidade: A finalidade da visita domiciliar é específica, guiada por um planejamento ou roteiro


preliminar. As visitas domiciliares têm a finalidade de fazer acompanhamentos relacionados às
condições de moradia, saúde, a fim de elaborar o relatório de visita domiciliar e emissão de
parecer social.

O Acompanhamento Social
Conceito: É um procedimento técnico de caráter continuado, e por período de tempo
determinado, no qual é necessário que haja vínculo entre o usuário e o profissional.

Finalidade: O acompanhamento sociofamiliar é feito quando detectado na entrevista a


necessidade de se fazer encaminhamentos diversificados.

As Entrevistas
Conceito: Técnica utilizada pelos profissionais do Serviço Social junto aos usuários para
levantamento e registro de informações. Esta técnica visa compor a história de vida, definir
procedimentos metodológicos, e colaborar no diagnóstico social. A entrevista é um instrumento
de trabalho do assistente social, e através dela é possível produzir confrontos de conhecimentos
e objetivos a serem alcançados. É na entrevista que uma ou mais pessoas podem estabelecer
uma relação profissional, quanto quem entrevista e o que é entrevistado saem transformados
através do intercâmbio de informações (LEWGOY, 2007).

Finalidade: A entrevista tem objetivo em colher informações sobre o usuário.

Os Relatórios
Conceito: É um documento de registro de informações, observações, pesquisas, investigações,
fatos, e que varia de acordo com o assunto e as finalidades.

Finalidade: Os relatórios são bastante utilizados na prática profissional do assistente social por
que serve como registro importante capaz de subsidiar decisões.

Os Encaminhamentos
Conceito: É um procedimento de articulação da necessidade do usuário com a oferta de
serviços oferecidos, sendo que os encaminhamentos devem ser sempre formais, seja para a
rede socioassistencial, seja para outras políticas. Quando necessário, deve ser procedido de
contato com o serviço de destino para contribuir com a efetivação do encaminhamento e
sucedido de contato para o retorno da informação.

Finalidade: Os encaminhamentos são peça fundamental para que o trabalho do assistente social
seja efetivado, por exemplo, se o programa está relacionado à inclusão no mercado de trabalho
de pessoas com deficiência, é necessário articular vagas nas empresas privadas ou instituições
33

governamentais e não-governamentais. Além de incluir no mercado de trabalho, o assistente


social deverá também proporcionar aos usuários do programa, cursos de capacitação
profissional, neste caso a articulação através das redes se faz imprescindível.

Fichas de Cadastro
Conceito: É um instrumento de registro de informação destinado a receber informes, a fim de
armazenar e transmitir informações sobre o usuário. As fichas de cadastro servem para
transformar dados em informações.

Finalidade: A ficha de Cadastro serve como fonte para agrupamento de dados e informações
sobre o usuário do programa, por exemplo. A ficha de cadastro é composta de informações
diversas desde dados pessoais, endereço, documentação, parecer técnico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os instrumentais técnico-operativos não são apenas as fichas de triagem, visitas


domiciliares, encaminhamentos, entre outros. O Serviço Social atualmente está inserido dentro
de uma perspectiva dialética, em que se acredita na dinâmica social, onde a sociedade está
diversificada e entregue à transformação. É nesta perspectiva que o Serviço Social está
procurando se adequar, sendo também dinâmico e criativo para atender as demandas que
crescem na medida em que cresce as desigualdades sociais.

REFERÊNCIAS

AMARO, Sarita. Visita Domiciliar: Guia para uma abordagem complexa. Porto Alegre: AGE,
2003.
LEWGOY, Alzira Maria Baptista, SILVEIRA, Esalba Carvalho. A entrevista no processo de
trabalho do Assistente Social. Revista Virtual Textos & Contextos. N.º 8. Ano VI. Dezembro,
2007.
MARTINELLI, Maria Lúcia, KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para a questão dos
instrumentais técnico-operativos em Serviço Social. Revista Serviço Social & Sociedade. N.º 54.
São Paulo: Cortez, 1994.
Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte. Dicionário de Termos
Técnicos da Assistência Social. 2007.
SOUZA, Maria Luiza de. Desenvolvimento de Comunidade e Participação. 8ª ed. São Paulo:
Cortez, 2000.

TEXTO 02
ENVELHECIMENTO E AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Texto extraído de: GOLDMAN, Sara Nigri. Caderno Especial nº 8. O Serviço Social e a
questão do envelhecimento. Edição 04 a 18 de fevereiro de 2005. Disponível em:
http://:www.assistentesocial.com.b r/novosite/cadernos/cadespecial8.pdf

Sara Nigri Goldman*

Os dados demográficos do IBGE mostram que o segmento de pessoas com sessenta


anos e mais tem crescido de forma extraordinária no Brasil. Na medida em que tal população
requer atenção nas inúmeras áreas de atuação profissional, destacamos, a seguir, algumas
possibilidades no campo do Serviço Social, lembrando que as demandas são historicamente
determinadas e requerem respostas de políticas sociais adequadas.
O atendimento à população idosa teve relevância desde os primórdios do Serviço Social.
O caráter caritativo e assistencialista, de proteção aos idosos fragilizados, quer seja por
34

questões socioeconômicas, quer seja por abandono dos familiares, foi se modificando, no
decorrer de sua história. Os assistentes sociais comprometidos com as causas sociais, se
assumem como agentes políticos de transformação social, ultrapassam a mera execução das
políticas sociais e aliam-se aos movimentos sociais dos usuários na construção de um projeto
que lhes garanta o usufruto da cidadania. A participação de assistentes sociais foi efetiva nos
espaços de luta pela cidadania dos idosos e pela aprovação do Estatuto do Idoso, um avanço
em termos legais, mas ainda distante de ser implementado.
Cabe registrar que os assistentes sociais devem ser solidários na luta, sem serem os
protagonistas das lutas dos idosos, evitando a tutela e a ocupação do espaço político dos
sujeitos idosos.
O assistente social deve atuar, sempre que possível, com os demais profissionais, numa
ação interdisciplinar que congregue esforços no seu fazer cotidiano e na aliança de parceiros
para a consolidação dos direitos dos idosos, principalmente os da seguridade social: saúde,
previdência e assistência social. São importantes, também ações profissionais na esfera da
educação, não só para os idosos, mas para todas as gerações, para que aprendam a conhecer
e a respeitar os idosos, para que estabeleçam laços sociais de intercâmbio intergeracionais e
para que se preparem para a velhice.
O campo profissional de atendimento à população idosa é bastante amplo com
tendências de ascensão a curto, médio e longo prazos, devido ao aumento demográfico e às
demandas crescentes de produtos e de serviços. Sinalizaremos algumas, a título de exemplo,
deixando claro que há áreas e sub-áreas que emergem de acordo com a realidade social e
histórica.
Na área da Saúde: em hospitais, da rede pública e privada, nos postos de saúde, em
instituições asilares, nas campanhas comunitárias de vacinação, de prevenção de doenças, na
prevenção de quedas, no acompanhamento domiciliar, na informação junto à família, na
formulação de políticas de saúde, na orientação, assessoria e consultoria dos movimentos dos
usuários de saúde, que contemplem as demandas dos idosos, não de forma exclusiva e outras
atividades.
Na área da Previdência Social: Nos postos da Previdência Social, orientando e
viabilizando o usufruto dos direitos previdenciários; em todas os locais de atendimento aos
idosos, esclarecendo direitos e informando aos usuários quanto aos benefícios da Previdência,
nas campanhas comunitárias de esclarecimento, na formulação da política previdenciária, na
orientação, assessoria e consultoria dos movimentos dos aposentados e pensionistas e outras
atividades.
Na área da Assistência Social: Nas repartições públicas de todos as esferas, nas
instituições estatais, nas organizações sociais privadas, nas comunidades, em todos os espaços
que congregam idosos e seus familiares para orientação, prestação de serviços e,
especificamente sobre o Benefício da Prestação Continuada. Participar da formulação de
políticas da área, da assessoria, consultoria e orientação aos movimentos dos usuários da
Assistência Social, dos Conselhos da Assistência em todos os âmbitos, além de outras
atividades.
Na área da Educação: Atuar nos espaços educativos destinados aos idosos, como as
Universidades para a Terceira Idade, as escolas para idosos, os grupos de convivência, os
centros-dia, as entidades de cultura e lazer, as associações de moradores de bairros e das
comunidades, as associações de aposentados e pensionistas, para compartilhar das equipes
interprofissionais de experiências de educação social e política, que envolvam e preparem os
idosos para o exercício pleno da cidadania enquanto sujeitos. Campanhas educativas em todas
as áreas da seguridade social, além das voltadas para as barreiras arquitetônicas, para os
transportes, para a inserção nos espaços sócio-políticos, como os fóruns, conselhos e
associações de idosos, aposentados e pensionistas. Há que se pensar, também, em programas
educativos intergeracionais que possibilitem a construção de uma sociedade pautada na
solidariedade entre as gerações para diminuir o preconceito que os jovens têm dos idosos e
vice-versa.
A educação para a cidadania amplia a ação do Serviço Social em programas dirigidos
aos idosos. Há que se atentar para as demandas que emergirão, certamente, no transcorrer da
história. Mas certamente, o Serviço Social terá espaço de participação em todas elas e nossa
expectativa é de que sua atuação seja comprometida com a cidadania dos idosos, seja
35

competente e crítica, rumo a um mundo em que a Justiça Social se faça presente não só para
os idosos, mas para toda a sociedade brasileira.

Nota - *Professora Adjunta da ESS/UFRJ, Doutora em Serviço Social e Políticas Sociais


pela PUC/SP, Diretora Técnico-Cinentífica da ANG/RJ.

TEXTO 03
O TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL COM MULHERES IDOSAS DA UnATI/UERJ

Texto extraído de: LOBATO, Alzira Tereza Garcia. In: Caderno Especial nº 8. O Serviço
Social e a questão do envelhecimento. Edição: 04 a 18 de fevereiro de 2005. Disponível
em: http://:www.assistentesocial.com.b r/novosite/cadernos/cadespecial8.pdf
.

Neste artigo discutiremos nossa experiência como professora extensionista, a partir de


estudos que temos realizado, nesses dez últimos anos, junto aos idosos e, mais recentemente,
com as mulheres idosas que frequentam as atividades oferecidas num programa de
Universidade de Terceira Idade. A UnATI/UERJ está localizada no campus da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, tradicionalmente frequentado por jovens adultos. Porém, é também
neste espaço que podemos viabilizar o encontro de diferentes gerações, contribuindo para uma
maior integração que ajude a reverter o quadro de desvalorização do idoso em nossa sociedade.
Estudos de VERAS (1994) têm chamado atenção para o rápido processo de
envelhecimento da população brasileira verificado desde a década de 1960. Na década de 1980
ocupávamos o décimo lugar dentre os países mais velhos do mundo. Além disso, temos a
estimativa de ser, até o ano de 2025, o sexto país em população idosa, com aproximadamente
32 milhões de idosos.
Esses dados nos levam a pensar na necessidade de garantir condições dignas de vida
para os idosos que em nosso país vivenciam velhices diferenciadas. Estudos de SANT'ANNA
(1997, p. 75) afirmam que a velhice é uma experiência que tem sido vivenciada "de forma não-
homogênea, e diversificada, em função de gênero, classe, etnia, religião".
Os idosos que chegam aos centros de convivência, clubes de terceira idade ou
universidades de terceira idade, estando na condição de aposentados, pensionistas ou donas -
de-casa, e gozando de boa saúde, querem uma velhice ativa, o que lhes confere o título de
representantes da terceira idade no Brasil.
O conceito de "terceira idade" surgiu na França nos anos de 1960 buscando dar
significado
mais positivo à velhice, que associada a um novo tempo de lazer e não mais associada
à miséria, doença e decadência, é vivenciada após a aposentadoria. Percebemos que a
expressão terceira idade vem dar um novo significado à velhice, uma outra imagem que
simboliza um tempo de liberdade, ou mesmo de ser jovem, independentemente da idade.
Estando os idosos libertos das responsabilidades profissionais e familiares, podem
retomar
projetos deixados ao longo da vida dando um novo sentido ao tempo livre. Portanto, são
com esses idosos, que cada vez mais vem ocupando os espaços públicos e, com
disponibilidade para desenvolver atividades que lhes permitam uma participação ativa, através
da associação em grupos que lhes proporcionam não só o desenvolvimento da sociabilidade,
como também o acesso a informações que lhes deixem sintonizados com as questões
relevantes de seu tempo, que temos desenvolvido nosso trabalho de extensão.
Explicitando o objetivo geral da UnATI/UERJ que é de "contribuir para a melhoria dos
níveis de saúde física, mental e social das pessoas idosas, utilizando as possibilidades
existentes na instituição universitária" (VERAS, 1994), e estando pautada no tripé: ensino,
pesquisa e assistência, além do fato de ser a primeira iniciativa pública dessa natureza no
estado do Rio de janeiro, é que podemos compreender o expressivo quantitativo de idosos que
vêm frequentando o programa. O acesso desses idosos dá-se a partir de 60 anos, sem
exigência de grau de escolaridade, o que lhes permite frequentar cursos livres, a cada semestre,
que são apresentados: em atividades educativas para a saúde, arte, dança, aprendizado de
36

línguas estrangeiras, conhecimentos gerais e conhecimentos específicos sobre a questão do


envelhecimento no Brasil, políticas sociais e direitos sociais dos idosos.
As características das mulheres idosas da UnATI/UERJ indicam que elas estão na faixa
etária de 60 a 69 anos, considerada como de "jovens idosas". Ocupam 86% das vagas do
programa, em sua maioria são viúvas, residem em imóveis próprios e nos bairros da zona norte
vizinhos à Universidade. O nível de escolaridade varia do primeiro grau incompleto ao nível
superior. Há um grande número de aposentadas, embora a maioria seja ainda de pensionistas.
Percebemos que os programas de universidade de terceira idade têm propiciado a
redescoberta de potencialidades adormecidas ou têm criado novas possibilidades para essas
mulheres que chegam desejosas de exercerem uma liberdade que parece ter sido cerceada, a
princípio pelos pais e, após o casamento, pelos maridos e pelas funções de mãe e esposa,
mesmo que tenham também tido uma participação no mercado de trabalho.
Estudos de DEBERT (1994) e MOTTA (1996) sobre gênero e envelhecimento, têm
demonstrado que os programas de terceira idade mobilizam mais o público feminino,
contribuindo para uma redefinição de valores, atitudes e comportamentos dos grupos
mobilizados. As mulheres estão menos resignadas à "velhice" definida no modelo tradicional,
referida à inatividade e descarte social. Além disso, elas dispõem de um tempo pessoal/privado
que pode ser transladado do doméstico para o comunitário ou cultural. As mulheres, neste
momento de suas vidas, buscam uma "liberdade de gênero", que pode ser identificada com as
ideias feministas e recentes mudanças sociais em nossa sociedade.
Considerando essas questões que dizem respeito ao processo de envelhecimento das
mulheres idosas que participam da UnATI/UERJ, organizamos atividades na área de ensino
tendo como eixo principal a questão da participação social e dos direitos sociais na velhice. A
partir dos estudos de AMANN (1980), que trata das condições de participação dos sujeitos na
sociedade, encontramos os conceitos de associativismo, como forma de participação indireta,
que tem sido mais adequado para o desenvolvimento de nosso trabalho com os idosos, dando
ênfase à abordagem grupal. É através da associação "que as diversas camadas sociais podem
partilhar seus problemas e seus interesses, adquirir poder reivindicatório e indiretamente ter
acesso à gestão da sociedade" (AMANN, 1980, p.87).
Em nosso trabalho enfatizamos as condições de participação a nível de conscientização.
Para AMANN (1980) os principais requisitos deste nível estão na área psicossocial do indivíduo,
que são: a informação, a motivação e a educação para participar. No âmbito da informação são
discutidos e apresentados novos conteúdos que operacionalizem os idosos para o exercício de
seus direitos sociais. Na área da motivação são trabalhadas questões relativas ao sentimento de
autoestima e às novas possibilidades de ocupação do tempo livre e, no âmbito da educação
para a participação temos dado ênfase ao exercício de pequenas ações que envolvam os alunos
idosos como sujeitos multiplicadores dos conhecimentos adquiridos quanto às políticas sociais e
direitos sociais deste segmento.
Desde a criação da UnATI/UERJ, em agosto de 1993, temos oferecido aos alunos o
"Curso de Participação Social nas Questões da Terceira Idade" que tem como objetivo
possibilitar aos idosos informação e reflexão sobre as ações de participação social e cidadania
no seu cotidiano a partir do conhecimento do processo de envelhecimento e das políticas sociais
para idosos no Brasil. O curso tem duração de dois semestres com entradas semanais de duas
horas de duração. São oferecidas vinte vagas. O conteúdo programático é dividido em módulos
temáticos. Alguns temas discutidos dizem respeito: a estereótipos e preconceitos na velhice, à
participação dos idosos em programas de terceira idade, à participação na família, à
participação em outros grupos, à participação política, às políticas sociais para a velhice no
Brasil, aos recursos sociais na área da terceira idade. As aulas acontecem enfatizando a
discussão em pequenos grupos e o uso de técnicas de dinâmica grupal que facilitem a interação
entre os participantes. Os coordenadores da atividade, alunos da graduação da FSS/UERJ, sob
supervisão, organizam pequenos textos e material didático para o encaminhamento do curso. As
visitas aos espaços culturais e de organização política dos idosos no âmbito da cidade do Rio de
Janeiro complementam as atividades do curso.
A abordagem de VASCONCELOS (1994, p.150) sobre a prática reflexiva, tem nos
ajudado a trabalhar na abertura de espaços, possibilidades e condições para que o grupo de
alunos idosos problematize as questões de seu cotidiano procurando desvendá-las, a partir dos
37

conhecimentos e informações acumulados em suas experiências de vida, em articulação com


novas informações/conhecimentos que possam vir de seus iguais e/ou profissionais.
Um dos temas de maior importância nesse grupo tem sido a participação das mulheres
idosas na família. Algumas declaram dificuldades em adaptar-se ao ritmo da família de hoje,
afirmando que essa família é mais reduzida, menos unida em decorrência da vida corrida de
seus membros e também da inserção da mulher no mercado de trabalho. Muitas delas convivem
com os filhos separados e netos e, muitas vezes, ainda ajudam no sustento da casa. Outras
declaram o carinho pelos netos, mas não deixam de priorizar as atividades que desenvolvem na
UnATI. Percebemos que, para as mulheres que frequentam nosso curso, a família ocupa um
lugar de destaque, embora essas idosas estejam revendo o modo como participam desse grupo,
considerando seus interesses nesta fase da vida.
Outro tema relevante tem sido a participação política. Este ano problematizamos as
eleições municipais. Discutimos a importância do voto como direito conquistado pelas mulheres
e percebemos que as idosas estão desacreditadas de nossos governantes, mas todas fizeram
questão de votar. Sabemos que a participação política para as mulheres, em nosso país, ainda é
incipiente, mas percebemos que se interessam pelo tema.
Nossa experiência de trabalho com as mulheres idosas nos permite perceber que essas
mulheres declaram estarem mais motivadas a participarem ativamente de seu processo de
envelhecimento, estando mais interessadas e informadas sobre seus direitos sociais. Adquiriram
novas expectativas de mudanças quanto ao seu papel como mulheres idosas, demonstrando
adesão ao signo da terceira idade, frequentando cursos que lhes garantam o desenvolvimento
de novas habilidades, ajudando-as a reverter a representação negativa da velhice, reconstruindo
seu espaço como cidadãs de terceira idade. Além disso, o contato intergeracional das mulheres
idosas com os jovens alunos da universidade tem propiciado um novo olhar para este segmento
jovem, que tem buscado dar novos contornos à velhice como tempo de realizações e
aprendizado.

Nota - *Professora Assistente do Departamento de Fundamentos Teórico-Práticos da


Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora na
área do Envelhecimento. Ouvidora da UERJ.
38

5 PROCEDIMENTOS DE ESCRITA: FASES DA PRODUÇÃO TEXTUAL

O ato de escrever exige operações elementares como: organizar e selecionar ideias,


produzir e rever o texto para torná-lo cada vez mais inteligível. Neste sentido, o primeiro passo
para aprender a produzir um texto é distinguir as várias fases de sua realização: planejamento
(seleção e organização das ideias), feitura do texto, revisão e redação final.
Portanto, ao escrever um texto, você, assim como qualquer escritor, deve seguir algumas
fases no processo de produção:

Primeira fase: PREPARAÇÃO - você pensa, anota, organiza os dados. Prepara-se,


nessa fase, o projeto do texto.

Segunda fase: ESCRITA - você escreve o texto com total liberdade, sem medo de errar.
Nessa fase, executa-se o projeto do texto.

Terceira fase: REVISÃO - você faz a leitura crítica do texto: lê, relê, risca, acrescenta,
retira, altera, reescreve. Nessa fase, você se torna um leitor crítico do próprio texto.

Quarta fase: PUBLICAÇÃO - você escreve o texto definitivo e apresenta-o a seus


leitores (colegas, amigos, professor, etc.).

EXEMPLOS PRÁTICOS DA APLICAÇÃO DAS FASES DO PROCESSO DE


PRODUÇÃO TEXTUAL

1. Identificação das características da redação

Assunto: Drogas
Tema: Drogas: liberar ou não liberar
Tipo: Argumentativo
Gênero (formato): Artigo
Destinatário: Público em geral
Propósito: Argumentar a favor ou contra a liberação das drogas

2. Elenco desordenado e casual de ideias para o tema

 vulgarização e descontrole geral


 países com estados onde há liberação estão revendo a situação
 quem sairia ganhando?
 a posição do governo diante da paralisação da sociedade
 nenhum benefício poderia amenizar os males causados
 o governo seria o “traficante oficial” da nação
 sensação de poder X disposição para trabalhar
 liberar é desistir do combate e juntar-se ao inimigo
 a liberdade é o bem maior que possuímos, não devemos abrir mão desse bem
 o futuro das crianças
 decisão equivocada e pouco racional

3. Seleção e a organização das ideias configuram o seguinte roteiro:

1. Não liberar
decisão equivocada e pouco racional
39

vulgarização e descontrole geral


nenhum benefício aliviaria os males causados
sensação de poder x disposição para trabalhar

2. Liberando
2.1. quem sairia ganhando?
2.2. a posição do governo
2.3. seria o “traficante oficial”
2.4. países onde há liberação estão revendo a situação

3. A liberdade
3.1. bem maior
3.2. jamais abrir mão dela

Conclusão
- Liberar é desistir do combate e juntar-se ao inimigo
- O futuro das crianças

Versão final do texto

A liberação oficial das drogas é, sem dúvidas, uma decisão equivocada e pouco
racional, uma vez que as tornariam vulgares e ocasionaria um descontrole geral no aumento do
consumo. Além disso, os prejuízos causados por conta dessa liberação seriam incalculáveis, por
conta da sensação de poder que as drogas proporcionaram e a consequente falta de disposição
para o trabalho.
Devemos questionar, no caso de uma provável liberação para essas substâncias, quem
sairia ganhando com isto? A sociedade, certamente, nada ganharia. Ademais, qual seria a função
do governo nesse caso? Seria o “traficante oficial” da nação? Países que as liberaram estão
revendo suas posições, exatamente porque a situação estava ficando caótica.
Além desses questionamentos, devemos refletir em torno da nossa liberdade. Que
liberdade tem uma pessoa que vive presa à sensação de uma substância? Não abramos mão do
nosso bem maior!
Liberar as drogas é, portanto, desistir do combate e juntar-se ao inimigo. É tolher o
futuro brilhante de uma criança. Sejamos mais racionais e não troquemos a beleza do nosso
mundo pela obscura trilha que tem a morte como ponto final.

I. Identificação das características da redação

Assunto: Futebol
Tema: O brasileiro em época de copa do mundo
Tipo: Expositivo-argumentativo
Gênero (formato): Artigo
Destinatário: Público em geral
Propósito: Expor opinião sobre o brasileiro em época de copa do mundo
40

ELENCO DAS IDEIAS E ORDENAÇÃO


- coloca o jogo em 1º lugar
- enfeita as ruas
Patriota (2)
- esquece dos problemas
- torna-se técnico
Conquista (5)
- comemora
- O comércio e
instituições
- único penta O brasileiro em públicas fecham
- participou de As
época de copa cidades - O trânsito para
todas as copas - As pessoas se
do mundo
- hexa param (1) agregam para ver
o jogo
Após o jogo (4)
Comércio (3)
- artefatos nas Esperança (6)
cores do Brasil - se ganhar: faz folia
- fogos e bombas - se perder: fica triste;
lamenta; chora

Versão final do texto


Em época de copa do mundo, o brasileiro é incomparável. Ele é o único povo capaz de parar sua
cidade, fechar o comércio e as instituições públicas e paralisar o trânsito, simplesmente para agregar-se em
grupos e assistir, pela televisão, o jogo da Seleção Brasileira de Futebol.
Por conta disso, o brasileiro é vista, mesmo que temporariamente, como um indivíduo
extremamente patriota, pois coloca o jogo de sua seleção em primeiro lugar. É fácil comprovar isto nas
suas ações: enfeita as ruas; esquece dos problemas; comemora; torna-se comentarista esportivo e, até
mesmo, técnico.
O brasileiro, por ser apaixonado por futebol, nessa época, impulsiona o comércio a colocar à sua
disposição artefatos diverso nas cores da seleção e faz questão de comprar fogos de artifício e bombas para
tornar o momento do em uma inesquecível explosão de alegria.
Após o jogo, se tiver a felicidade de o Brasil vencer, cai na folia: faz carreata e extrapola a
medida normal da comemoração. No entanto, se o Brasil perder, o brasileiro fica triste, lamenta e chora,
pois não aceita que uma seleção com tantas conquistas, a única pentacampeã do mundo e que participou de
todas as copas, venha a perder, sequer, uma partida.
Em época de copa do mundo, o brasileiro, como nenhum outro povo, se reveste de esperança,
vibra, grita, chora e traz sempre no coração a certeza da vitória. Vitória que começou com a conquista da
primeira copa, passou para a segunda, a terceira, a quarta, a quinta e, agora, já ensaia o Brasil
Hexacampeão do Mundo. Se o Brasil for campeão, já começará o sonho de vencer a próxima copa e, se
não for, ficará triste, porém, aguardará, ansiosamente, mais quatro anos para, novamente, se encher de
esperaça e repetir todas as ações que fizera anteriormente. Assim é o brasileiro.

 (1ª) IDENTIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO A SER CONSTRUÍDO


 Assunto: O caso Isabella Nardoni
 Tema: O caso Isabella: investigação, revelação e condenação
 Tipo: Descritivo
 Gênero: Artigo
 Destinatário: Público em geral
 Propósito: Descrever o desenrolar do caso Isabella Nardoni
 (2ª) ELENCO DESORDENADO E CASUAL DE IDEIAS PARA O TEMA
 Surpresa e perplexidade das pessoas
 Uma cena de terror se instala na mente das pessoas
 Movimento policial e ação pericial
41

 O julgamento exaustivo
 A investigação e a revelação dos indícios que apontam o pai e a madrasta da vítima como
suspeitos principais
 A inexistência de provas da participação de uma terceira pessoa
 A figura do promotor
 A montagem da linha do tempo com base no trabalho pericial
 Dois anos se passam
 Os advogados de defesa e a crítica aos trabalhos policial e pericial
 O pai de Nardoni tenta macular a imagem dos policiais e dos peritos para desconsiderar as
provas levantadas
 A presença do público e a pressão por justiça
 A condenação: expressão dos acusados e a manifestação de satisfação da mãe de Isabella
 A reconstituição do ocorrido
 A consciência de justiça feita
 Uma menina de cinco anos de idade cai do sexto andar do Edifício London
 Alguém grita: ladrão!
 A certeza de que não haverá novo julgamento
 O recurso

 SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DAS IDEIAS: ROTEIRO = ESQUEMA DO TEXTO A


SER CONSTRUÍDO

1º PARÁGRAFO:
 - Uma menina de cinco anos de idade cai do sexto andar do Edifício London
 Alguém grita: ladrão!
 Uma cena de terror se instala na mente das pessoas
 Surpresa e perplexidade das pessoas

2º PARÁGRAFO:
 Movimento policial e ação pericial
 A investigação e a revelação dos indícios que apontam o pai e a madrasta da vítima como
suspeitos principais
 A inexistência de provas da participação de uma terceira pessoa

3º PARÁGRAFO:
 A reconstituição do ocorrido
 O pai de Nardoni tenta macular a imagem dos policiais e dos peritos para desconsiderar as
provas levantadas
 Os advogados de defesa e a crítica aos trabalhos policial e pericial
4º PARÁGRAFO:
 Dois anos se passam
 O julgamento exaustivo
 A figura do promotor
 A montagem da linha do tempo com base no trabalho pericial
 A presença do público e a pressão por justiça

5º PARÁGRAFO:
 A condenação: expressão dos acusados e a manifestação de satisfação da mãe de Isabella
 A consciência de justiça feita
 O recurso
 A certeza de que não haverá novo julgamento
42

VERSÃO FINAL DO TEXTO


Surpresa e perplexidade. Uma menina de apenas cinco anos de idade é defenestrada do
sexto andar do Edifício London, um prédio localizado na zona norte da cidade de São Paulo.
Alguém grita: ladrão! Assim as redes de televisão anunciam a tragédia em que fora vítima a
pequena Isabella Nardoni. A partir daí, se instala na mente de todos os brasileiros a cena de terror
daquela criança inerte sobre o jardim do edifício, com os olhos fixos, que mesmo sendo socorrida
não resistiu aos ferimentos sofridos.
Os noticiários passam então a apresentar, exaustivamente, o movimento policial efetuado
ao longo de toda aquela noite, assim como a ação desenvolvida pelos peritos ao longo da
investigação. A versão apresentada pelo pai de Isabella logo foi desconsiderada, já que foi
descartada a presença de uma terceira pessoa no apartamento, pela ausência de indícios ou provas
que confirmassem isso e, ao contrário, para a surpresa de todos, surge a divulgação de elementos
que apontariam o pai e a madrasta da vítima como suspeitos principais, o que resultaria na prisão
preventiva de ambos.
Não há como esquecer a reconstituição do caso. As pessoas, sob olhar atento,
acompanhavam cada passo, cada movimento dos peritos, formulando a opinião do público acerca
da certeza do envolvimento do pai e da madrasta da vítima na consumação dos fatos. Atento a
esse fato, o pai de Nardoni ainda tenta macular a imagem dos policiais e dos peritos com o fito de
desconsiderar as provas que começavam a surgir e a complicar a vida do casal apontado como
suspeito principal. Há também uma dura crítica dos advogados de defesa dos acusados sobre o
trabalho desenvolvido pelos peritos, que resultou em ação judicial impetrada pela Associação de
Peritos contra esses advogados, por se achou ofendida. A justiça se manifestou e nada conseguiu
atrapalhar o trabalho pericial.
A ação penal é desenvolvida e a figura do Promotor Francisco Cembranelli assume,
definitivamente, o compromisso de levar os acusados a júri popular e recebe o respeito e a
admiração do público pelo empenho, o esforço e a seriedade como conduz o andamento da ação
ao julgamento.
Graças ao empenho do Promotor Cembranelli e, mediante decisão unânime dos
desembargadores da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, a ação penal culmina em um
julgamento exaustivo, com duração de cinco dias, tempo em que os jurados passariam a conhecer
intimamente o fato, tanto na oitiva das testemunhas, da mãe da vítima, dos policiais responsáveis
pela investigação, dos peritos como, até mesmo, dos próprios acusados. Além disso, o júri popular
observaria atentamente a montagem da linha de tempo que Cembranelli montara utilizando
recursos como os trabalhos periciais, imagens dos acusados no curso dos minutos anteriores e
posteriores à ocorrência do crime e ligações telefônicas efetuadas naquela noite, colocando o casal
dentro do apartamento no momento do crime. A presença do público e a pressão por justiça
marcariam as imagens televisivas das emissoras ali, provisoriamente, instaladas.
Nem mesmo a argumentação competente da defesa foi suficiente para evitar a
condenação do casal, que chorou ao ouvir a leitura da sentença. Já a mãe de Isabella, expressou
satisfação, agradecendo o apoio da população e a seriedade do júri por considerar o casal culpado
por homicídio triplamente qualificado (pela menina ter sido asfixiada, considerado meio cruel,
não ter tido chance de defesa, por estar inconsciente ao cair da janela, e por alteração do local do
crime) e fraude processual. Com isso, Alexandre Nardoni foi condenado a 31 anos, 1 mês e 10
dias - pelo agravante de ser pai de Isabella - e Anna Carolina Jatobá, a 26 anos e 8 meses, em
regime fechado.
Finalmente, a sociedade brasileira chega à consciência de que a justiça fora feita, apesar
do advogado de defesa Roberto Padval haver recorrido da sentença, logo após a leitura feita pelo
juiz Maurício Fossen, uma vez que há a certeza de que não haverá novo julgamento, pois nenhum
fato grave ou duvidoso foi registrado ao longo da instalação do júri, além da lisura como o
julgamento foi conduzido e pelo nível de manifestação e aceitação apresentada pelos brasileiros,
que se sentem cansados de tanta injustiça.
Antonio Nunes Pereira
43

6 TEXTOS DISSERTATIVOS: DEFINIÇÃO, TIPOS, PROCESSO DE


PRODUÇÃO3

3
Texto extraído de: OLIVEIRA, Ana Tereza de Oliveira. Técnicas de redação. São Paulo: Centro Universitário das
Faculdades Integradas Alcântara Machado, 2012. p. 64-73
44
45
46
47
48
49
50
51
52

7 PRODUÇÃO DE TEXTOS DO GÊNERO ACADÊMICO

7.1 FICHAMENTO DE TEXTOS ACADÊMICOS 4

7.1.1 Conceito

De acordo com Campos (2010, p. 11)5 , fichar um texto significa “sintetizá-lo, o que
requer a leitura atenta do texto, sua compreensão, a identificação das ideias principais e seu
registro escrito de modo conciso, coerente e objetivo”.
Segundo a autora citada, pode-se dizer que esse registro escrito (o fichamento)

é um novo texto, cujo autor é o "fichador", seja ele aluno ou p rofessor. A prática do
fichamento representa, assim, um importante meio para exercitar a escrita, essencial para
a elaboração de resenhas, papers, artigos, relatórios de pesquisa, monografias de
conclusão de curso, etc.

Para Campos (2010, p. 11), a importância do fichamento para a assimilação e produção


do conhecimento é dada pela necessidade que tanto o estudante, como o docente e o pesquisador
têm de manipular uma considerável quantidade de material bibliográfico, cuja informação teórica
ou factual mais significativa deve ser não apenas assimilada, como também registrada e
documentada, para utilização posterior em suas produções escritas, sejam elas de iniciação à
redação científica (tais como os primeiros trabalhos escritos que o estudante é solicitado a
produzir na academia); de textos para aulas, palestras ou conferências, no caso do professor; ou,
então, do relatório de pesquisa, elaboração da monografia de conclusão de curso do graduando, da
dissertação de mestrado, da tese do doutorando.
Além disso, Campos (2010) observa que a principal utilidade da técnica de fichamento é
otimizar a leitura, seja na pesquisa científica, seja na aprendizagem dos conteúdos das diversas
disciplinas que integram o currículo acadêmico, na Universidade e que:

O fichamento é, portanto, uma técnica de trabalho intelectual que consiste no


registro sintético e documentado das ideias e/ou informações mais relevantes (para
o leitor) de uma obra científica, filosófica, literária ou mesmo de uma matéria
jornalística (CAMPOS, 2010, p. 12).

O fichamento tem por objetivos: a) identificar as obras consultadas; b) registrar o


conteúdo das obras; c) registrar as reflexões proporcionadas pelo material de leitura; d) organizar
as informações colhidas. Assim sendo, os fichamentos ou relatórios de leitura, além de possibilitar
a organização dos textos pesquisados e a seleção dos dados mais importantes desses textos,
funcionam como método de aprendizagem e memorização dos conteúdos, constituindo-se em
instrumento básico para a redação de trabalhos outros gêneros textuais acadêmicos, como pode ser
observado na figura abaixo.

4
Texto adaptado de: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. Elaboração de trabalhos acadêmico-científicos.
Disponível em: < https://www.univali.br/pos/mestrado/mestrado-em-administracao/documentos -
diversos/Documents/elaboracao-de-trabalhos-academico-cientificos-caderno-n-4.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2016.
5
CAMPOS, Magna. Gêneros acadêmicos: resenha, fichamento, memorial e projeto de pesquisa. Mariana-MG:
Fundação Presidente Antônio Carlos/Faculdade Unipac de Educação e Ciências de Mariana/MG, 2010.
53

Fonte: Adaptada pelo autor com base em Santos (2013)6

As fichas, sejam elas de cartolina ou de papel A-4 (que substituíram as de cartolina pelas
facilidades oferecidas pelos micros), devem conter três elementos:
• Cabeçalho: no alto da ficha ou da folha, à direita, um título que indica o assunto ao
qual a ficha se refere; pode ser adotado o uso, após o título geral, de um subtítulo;
• Referência: o segundo elemento da ficha será a referência completa da obra ou do texto
ao qual a ficha se refere, elaborada de acordo com a NBR-6023/2002 da ABNT;
• Corpo da ficha, ou seja, o conteúdo propriamente dito, que variará conforme o tipo de
fichamento que o estudante ou pesquisador pretenda fazer.

7.1.2 Procedimentos

Para fazer o fichamento de uma obra ou texto você deve:


1. Ler o texto inteiro uma vez, ininterruptamente;
2. Ler o texto novamente, grifando, fazendo anotações e procurando entender o que o autor
quer dizer em cada parágrafo;
3. Fazer o fichamento.
Severino (2000, p.35-45)7 oferece importantes orientações práticas sobre diferentes tipos
de fichas e sua organização.

6
SANTOS, E. C. dos. Uma proposta dialógica de ensino de gêneros acadêmicos: nas fronteiras do Projeto SESA.
2013. 218 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013. Disponível em:
<http://tede.biblioteca.ufpb.br/bitstream/tede/6432/1/arquivototal.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2016.
7
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 11. ed. São Paulo: Cortez, 1984.
54

As fichas, sejam elas de cartolina ou de papel A-4 (que substituíram as de cartolina pelas
facilidades oferecidas pelos micros), devem conter três elementos:
• Cabeçalho: no alto da ficha ou da folha, à direita, um título que indica o assunto ao qual
a ficha se refere; pode ser adotado o uso, após o título geral, de um subtítulo;
• Referência: o segundo elemento da ficha será a referência completa da obra ou do texto
ao qual a ficha se refere, elaborada de acordo com a NBR-6023/2002 da ABNT;
• Corpo da ficha, ou seja, o conteúdo propriamente dito, que variará conforme o tipo de
fichamento que o estudante ou pesquisador pretenda fazer.

7.1.3 Tipos de fichamento

I. Fichamento bibliográfico (catalogação bibliográfica);


II. Fichamento de citação (transcrição ou citação direta);
III. Fichamento de resumo (conteúdo);
IV. Fichamento de opinião (comentário, analítico, crítico).

I. Fichamento bibliográfico (catalogação bibliográfica)

Segundo Campos (2010), o fichamento bibliográfico deve conter o nome do autor (na
chamada), o título da obra, edição, local de publicação, editora, ano da publicação, número do
volume se houver mais de um e número de páginas e, no corpo do texto, um resumo sobre o
assunto do livro, do capítulo ou do artigo, incluindo detalhes importantes sobre o tema tratado que
possam ajudar ao pesquisador em sua tarefa de pesquisa, seja em que nível de for.

EXEMPLOS DE FICHAMENTO BIBLIOGRÁFICO

EXEMPLO 1

Assunto (TEMA): Feminismo no Brasil Ficha nº. 03

TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1993.

A obra se insere no campo da história e da antropologia social. A autora utiliza-se de


fontes secundárias colhidas por meio de livros, revistas e depoimentos. A abordagem é
descritiva e analítica. Aborda os aspectos históricos da condição feminina no Brasil a partir
dos anos de 1500. A autora descreve em linhas gerais, o processo de lutas e conquistas da
mulher.
Biblioteca em que se encontra a obra: Biblioteca da UNIT (UNIVERSIDADE
TIRADENTES – Campus II - FAROLANDIA)
55

EXEMPLO 2

Assunto (TEMA): Metodologia do trabalho científico Ficha nº. 04

MARCONI, M.A; LAKATOS, E.M. Metodologia do trabalho científico. 4. ed.


São Paulo: Atlas, 1995. 214 p.

O livro trata de questões relevantes para a metodologia do trabalho científico. Seu


propósito fundamental é evidenciar que, embora a ciência não seja o único caminho de
acesso ao conhecimento e à verdade, há diferenças essenciais entre o conhecimento
científico e o senso comum, vulgar ou popular, resultantes muito mais do contexto
metodológico de que emergem do que propriamente do seu conteúdo. Real, contingente,
sistemático e verificável, o conhecimento científico, não obstante falível e nem sempre
absolutamente exato, resulta de toda uma metodologia de pesquisa, a que são submetidas
hipóteses básicas, rigorosamente caracterizadas e subsequentemente submetidas à
verificação. Mostrando todo o encadeamento da metodologia do conhecimento científico, o
conteúdo deste livro aborda ciência e conhecimento científico, métodos científicos, fatos,
leis e teorias, hipóteses, variáveis, elementos constitutivos das hipóteses e plano de prova –
verificação das hipóteses.
Biblioteca em que se encontra a obra: Biblioteca pessoal do fichador

II. Fichamento de citação (transcrição ou citação direta);

Para Campos (2010), o fichamento de citação é aplicado para partes de obras ou


capítulos. Consiste na transcrição fiel de trechos fundamentais da obra estudada, obedecendo
algumas normas:
a) toda citação deve vir entre aspas;
b) após a citação, deve constar entre parênteses o número da página de onde foi extraída
a citação;
c) a transcrição tem que ser textual e não esquemática;
d) a supressão de uma ou mais palavras deve ser indicada, utilizando-se no local da
omissão, três pontos, entre colchetes [...].
e) Nos casos de acréscimos ou comentários, colocar dentro do colchetes [ ].
f) O fichamento não deve conter opiniões ou posicionamentos do leitor.
g) O fichamento não deve acrescentar novas informações ao que foi exposto pelo
texto.
h) Se houver erros de grafia ou gramaticais, copia-se como está no original e
escreve-se entre parênteses (sic).

Exemplos de citações:

 Citação completa

"O homem nasce já inserido em sua cotidianidade. O amadurecimento do homem significa, em


qualquer sociedade, que o indivíduo adquire todas as habilidades imprescindíveis para a vida
56

cotidiana da sociedade (camada social) em questão. É adulto capaz de viver por si mesmo a sua
cotidianidade"8 .

 Citação com supressão

Para HELLER (1992, p. 19), "O adulto deve dominar, antes de mais nada, a manipulação
das coisas [...] Mas embora a manipulação das coisas seja idêntica à assimilação das relações
sociais, continua também contendo inevitavelmente, de modo imanente , o domínio espontâneo
das leis da natureza".

OBSERVAÇÕES:

Quando a citação passar de uma página para outra, deve-se conter o número das duas
páginas (Exemplo: p. 325-326);
Quando a supressão é de vários parágrafos deve se usar uma linha pontilhada entre as
transcrições. Exemplo:

.......................................................................................................................................................

EXEMPLOS DE FICHAMENTO DE TRANSCRIÇÃO (OU CITAÇÃO DIRETA)

EXEMPLO 1

Assunto (TEMA): Vida e cotidiano Ficha nº. 01

HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 4.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

"O homem nasce já inserido em sua cotidianidade. O amadurecimento do homem


significa, em qualquer sociedade, que o indivíduo adquire todas as habilidades
imprescindíveis para a vida cotidiana da sociedade (camada social) em questão. É adulto
capaz de viver por si mesmo a sua cotidianidade" (p. 18).

"O adulto deve dominar, antes de mais nada, a manipulação das coisas [...] Mas
embora a manipulação das coisas seja idêntica à assimilação das relações sociais,
continua também contendo inevitavelmente, de modo imanente , o domínio espontâneo
das leis da natureza" (p. 19).

Biblioteca em que se encontra a obra: Biblioteca da UNIT (UNIVERSIDADE


TIRADENTES – Campus II - FAROLANDIA)

8
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992. p. 18.
57

EXEMPLO 2

Assunto (TEMA): Feminismo no Brasil Ficha nº. 02

Educação da mulher: a perpetuação da injustiça (p. 30 - 132). 2º capítulo.

TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1993.

"[...] uma das primeiras feministas do Brasil, Nísia Floresta Augusta, defendeu a
abolição da escravatura, a o lado de propostas como educação e a emancipação da
Mulher , e a instauração da República". (p. 30)

"[...] na justiça brasileira, é comum os assassinos de mulheres serem absolvidos sob a


defesa de honra". (p. 132)

"[...] a mulher buscou com todas as forças sua conquista no mundo totalmente masculino".
(p. 43)
Biblioteca em que se encontra a obra: Biblioteca da UNIT (UNIVERSIDADE
TIRADENTES – Campus II - FAROLANDIA)

III. Fichamento de resumo (conteúdo)

 É a apresentação sintética, clara e precisa do pensamento do autor. A apresentação das


ideias principais, das teses defendidas.
 Não é uma cópia dos tópicos, nem a exposição abreviada das ideias o autor, bem
como também não é a transcrição.
 É uma ficha não muito longa, mas traz todos os elementos necessários para a
compreensão do texto.
 O autor da ficha vai por a sua compreensão do texto, usando seu próprio estilo. Não se
afastando jamais das teses originais.
 Não precisa obedecer estritamente à estrutura da obra: lendo a obra, o estudioso vai
fazendo anotações dos pontos principais. Ao final, redige um resumo, contendo a essência do
texto.
EXEMPLOS DE FICHAMENTO DE RESUMO

EXEMPLO 1

Assunto (TEMA): Feminismo no Brasil Ficha nº. 05

Educação da mulher: a perpetuação da injustiça (p. 30 - 132). 2º capítulo.

TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1993.
58

O trabalho da autora baseia-se em análise de textos e na própria vivência nos


movimentos feministas, como relato de uma prática. A autora divide seu texto em fases
históricas compreendidas entre Brasil Colônia (1500 - 1822), até os anos de 1975, em
que foi considerado o Ano Internacional da Mulher. Ainda são trabalhados assuntos
como, por exemplo, as mulheres na periferia de São Paulo, a luta por creches, violência,
participação em greves, saúde e sexualidade.

Biblioteca que se encontra a obra: Biblioteca da UNIT (UNIVERSIDADE


TIRADENTES – Campus II - FAROLANDIA)

EXEMPLO 2

Assunto (TEMA): Ciência e Conhecimento Científico Ficha nº. 06

MARCONI, M.A; LAKATOS, E.M. Ciência e conhecimento Científico. In:


______. Metodologia do trabalho científico. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995.
p.08-22.
O conhecimento científico se caracteriza pela possibilidade de se comprovar os
dados obtidos nas investigações acerca dos objetos. Para que o conhecimento seja
considerado científico, é necessário analisar as particularidades do objeto ou fenômeno
em estudo. A partir desse pressuposto, Lakatos & Marconi apresentam dois aspectos
importantes: a) a ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade;
b) um mesmo objeto ou fenômeno pode ser observado tanto pelo cientista quanto pelo
homem comum; o que leva ao conhecimento científico é a forma de observação do
fenômeno.
Biblioteca que se encontra a obra: Biblioteca pessoal do fichador

IV. Fichamento de opinião (comentário, analítico, crítico).

Consiste na explicação ou interpretação crítica pessoal das ideias expressas pelo autor ao
longo de seu trabalho ou parte dele. Pode apresentar:
a) comentário sobre a forma pela qual o autor desenvolve seu trabalho, no que se refere
aos aspectos metodológicos;
b) análise crítica do conteúdo, tomando como referencial a própria obra;
c) interpretação de um texto obscuro para tomá-lo mais claro;
d) comparação da obra com outros trabalhos sobre o mesmo tema;
e) explicitação da importância da obra para o estudo em pauta.

EXEMPLO DE FICHAMENTO DE OPINIÃO

Assunto (TEMA): Garimpos e garimpeiros Ficha nº. 02

MARCONI, Marina de Andrade. Garimpos e garimpeiros em Patrocínio Paulista. São


Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1978, 152 p.
59

Texto da Ficha:
Caracteriza-se por uma coerência entre a parte descritiva, entre a consulta bibliográfica
e a pesquisa de campo. Tal harmonia difícil e às vezes não encontrada em todas as obras dá
uma feição específica do trabalho e revela sua importância.
Os dados, obtidos por levantamento próprio, com o emprego do formulário e
entrevistas, caracterizam sua originalidade.
Foi dado especial destaque à fidelidade das denominações próprias, tanto das
atividades de garimpo quanto do comportamento e atitudes ligadas ao mesmo.
O principal mérito é ter dado uma visão global do comportamento do garimpeiro, que
difere da apresentada pelos escritores que abordam o assunto, mais superficiais em suas
análises, e evidenciando a colaboração que o garimpeiro tem dado não apenas à cidade de
Patrocínio Paulista, mas a outras regiões, pois o fruto de seu trabalho extrapola o município.
Carece de uma análise mais profunda da inter-relação entre o garimpeiro e o rurícola, em
cujo ambiente às vezes trabalha, e o citadino, ao lado de quem vive.
De todos os trabalhos sobre garimpeiros é o mais detalhado, sobretudo nos aspectos
socioculturais, porém não permite uma generalização, por se ter restrito ao garimpo de
diamantes em Patrocínio Paulista.
Essencial na análise das condições econômicas e socioculturais da atividade de
mineração do Nordeste Paulista.

Biblioteca que se encontra a obra: Biblioteca da UNIT (UNIVERSIDADE TIRADENTES


– Campus II - FAROLANDIA)

De acordo com Campos (2010), no fichamento de citação é o raciocínio, a argumentação


do autor da obra ou do texto que "comanda" o trabalho de resumo do fichador. Já no fichamentos
bibliográfico, de resumo e de opinião, são os propósitos temáticos de quem estuda as obras
consultadas que "comandam" a seleção das ideias, conceitos, elementos teóricos ou factuais que
integrarão o resumo.
Para finalizarmos a compreensão sobre o fichamento, precisamos entender que, além de
constituir-se em um novo texto, ele é um recurso valioso para a assimilação da palavra do outro,
pois nele o aluno – ou qualquer outro fichador – registra e documenta informações que poderão
ser referenciadas em suas próximas produções escritas. Referendar-se no discurso do outro é um
requisito básico na escrita de textos acadêmico-científicos, principalmente em textos de iniciantes,
nos quais o reconhecimento da autoridade da área é uma das condições necessárias para a
instauração da cientificidade. E o fichamento otimiza esta tarefa, pois, quando o aluno ficha um
texto, ele seleciona as informações mais centrais sobre determinado tema, que poderão ser citadas
seja em um artigo, um relatório de pesquisa, uma monografia ou qualquer outro gênero que irá
produzir (SILVA E BESSA, 2011)9 .
Nessa perspectiva, Silva e Bessa (2011) afirmam que devemos pensar o fichamento
enquanto um gênero que permite ao estudante constituir-se como produtor de texto, isto é, além
de resumir ou transcrever fragmentos relevantes de um texto, o aluno precisa deixar explícito no
fichamento sua compreensão sobre o que está sendo fichado, de forma clara e coerente. Nesses
termos, a voz do aluno não pode ser totalmente encoberta pela voz do autor e pelas outras vozes
presentes no texto, mas ambas devem aparecer na tessitura textual do fichamento.

9
Produção de textos na universidade:
SILVA, Ananias Agostinho da e BESSA, José Cezinaldo Rocha.
uma proposta de trabalho com sequências didáticas com o gênero fichamento. Juiz de Fora/MG:
UFJF, 2011. Disponível em: <http://www.ufjf.br/revistagatilho/files/2011/10/agostinho.pdf>. Acesso em: 13 jul.
2017.
60

7.2 RESUMO
O resumo, seguramente, é um dos gêneros mais solicitados na esfera acadêmica, seja por
professores (as), seja pelas comunidades científicas, tendo em vista que, segundo Schneuwly e
Dolz (1999, p. 15), é um “eixo de ensino-aprendizagem essencial para o trabalho de análise e
interpretação de textos e, portanto, um instrumento interessante de aprendizagem”10 . Para Abasse
(2008, p. 27), “a produção de resumo é útil tanto ao aluno, como instrumento de estudo, quanto ao
professor, como instrumento de avaliação para verificar a compreensão global do texto lido”.11
De acordo com Ferreira (2011), o resumo, que é tido como gênero, constitui exemplo de
práticas de linguagem com particularidades no que diz respeito à esfera comunicativa de
circulação, funções, objetivos, estilos, entre outras, sendo um dos gêneros mais importantes no
meio escolar e acadêmico, em função da sua constante solicitação pelos professores. A autora
citada salienta que as capacidades necessárias para a produção desse gênero são necessárias,
também, para a produção de outros gêneros de igual importância na academia, como resenhas e
artigos científicos, pois envolve habilidades não só relativas à escrita, mas também à leitura
compreensiva.12
Para Ferreira (2011, p. 64), resumir, numa perspectiva mais cognitiva, “seria depreender
as sequências maiores do tema global de um texto-base e realizar o processo mental de
sumarização das informações, através do uso de macrorregras: apagamento, substituição,
generalização e construção”.
Nesse sentido, Ferreira (2011, p. 64) afirma que, na produção de um resumo,

O autor realiza, mesmo que intuitivamente, estratégias/regras de redução de informação


semântica, de apagamento e substituição que levam em consideração uma série de fatores
contextuais. As primeiras seriam seletivas e as segundas seriam
construtivas podendo dar-se por meio de táticas de generalização e/ou construção. O
processo de resumir, ou seja, implica um trabalho complexo sobre os textos com vistas a
um objetivo e a um destinatário.

De acordo com Matencio (2002) apud Ferreira (2011, p. 64), a produção do resumo
envolve também uma retextualização, isto é, a produção de “um novo texto a partir de um texto-
base, pressupondo-se que essa atividade envolve tanto relações entre gêneros e textos – o
fenômeno da intertextualidade – quanto relações entre discursos – a interdiscursividade”.
Levando-se em consideração que o resumo é apresentado em dois tipos distintos, ou seja,
o resumo síntese e o resumo de planejamento de trabalhos acadêmicos , importa ressaltar que,
de acordo com o tipo a apresentação da situação enunciativa muda, tendo em vista que, segundo
Schneuwly e Dolz (2004) apud Ferreira (2011, p. 64-65), o resumo síntese

É um trabalho de injunção semanticamente paradoxal, no qual o autor precisa „dizer em


poucas palavras, mas do mesmo ponto de vista enunciativo, o que o autor do texto a
resumir quis dizer‟, seguido por uma atividade complexa de paráfrase, „por meio da qual
o „resumidor‟ revive, em seu resumo, a „dramatização discursiva‟ construída no texto a
resumir, a partir de uma compreensão das diferentes vozes enunciativas que nele agem‟.

Já o resumo de planejamento de trabalhos acadêmicos, ou abstract, de acordo com


Guimarães Silva e Da Mata (2002) paud Ferreira (2011, p. 65), “é um gênero produzido e
10
SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Os gêneros escolares: das práticas de linguagem aos objetos de ensino. Revista
Brasileira de Educação, n. 11, p. 5-16, maio/jun./jul./ago. 1999.
11
ABASSE, Maria Cristina Jacob Pessoa. A produção do resumo-escolar como resultado da atividade de
retextualização. 2008, 137f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da
Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2008.
Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/DAJR-
88TETE/1191m.pdf?sequence=1>. Acesso em: 20 fev. 2017.
12
FERREIRA, Elisa Cristina Amorim. Fazer um resumo, mas como? Revista ao Pé da Letra. Vol. 13.1, p. 61-78,
2011.
61

consumido na comunidade acadêmica e tem por finalidade apresentar brevemente


aspectos de uma pesquisa, ou seja, informações de cunho teórico-metodológico, objetivo, por
exemplo”.

7.2.1 Conceito

De acordo com a NBR 6028 (2003, p. 2), da Associação Brasileira de


Normas Técnicas (ABNT), o resumo consiste na “apresentação concisa dos
pontos relevantes de um documento”.13
Para Therezzo (2001, p. 21), resumo é:

A condensação de um texto, inteligível em si mesma, redigida, em nível


padrão de linguagem, com as próprias palavras do leitor resumidor. É uma atividade
característica do ambiente escolar e, às vezes, do mundo do trabalho, que
pressupõe exercício de leitura e de redação, pois quem o elabora deve ser capaz de:
1) compreender claramente o conteúdo, de modo a poder fazer escolhas: deixar de
lado o acidental (detalhes, explicações, exemplos) e ficar com o essencial (ideias
principais);
2) organizar as ideias fundamentais do texto original num discurso seu, coeso e
coerente;
3) ser absolutamente fiel às ideias expressas pelo autor, não acrescentando informações
subsidiárias;
4) usar nível padrão de linguagem, com vocabulário próprio, sem copiar frases ou
expressões (a não ser as absolutamente necessárias). 14

França e Vasconcellos (2004, p. 80-81), por sua vez, define o resumo como “a
apresentação concisa e seletiva de um texto, ressaltando de forma clara e sintética a natureza do
trabalho, seus resultados e conclusões mais importantes, seu valor e originalidade”. 15

7.2.2 Tipos de resumo

Quando estávamos expondo a situação, vimos que o resumo se apresenta em dois tipos
distintos: o resumo síntese e o resumo de planejamento de trabalhos acadêmicos.

7.2.2.1 Resumo síntese

De acordo com Ferreira (2011), o resumo síntese pertence ao domínio da comunidade


acadêmica, resultando de uma atividade de retextualização de outro gênero, sendo os mais
comuns artigos científicos, artigos de opinião, monografias, livros e capítulos.
Nesse sentido, para a autora citada, o resumo síntese é um gênero produzido a partir da
sumarização das ideias de um texto-base, correspondendo a uma atividade que vincula leitura e
escrita, já que atesta a compreensão do escritor do resumo sobre o texto lido. Ou mais
precisamente, é uma apresentação concisa dos conteúdos/ideias mais importantes de outro texto,
com o objetivo de informar ao leitor sobre esses conteúdos.

13
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-6028: informação e documentação-resumo-
apresentação. Rio de Janeiro: 2003.
14
THEREZO, Graciema Pires. O resumo como prática de leitura e produção de texto. Revista de Letras, Campinas:
PUC, v. 20, n. 1/2, p. 20-43, dez. 2001.
15
FRANÇA, Junia Lessa & VASCONCELLOS, Ana Cristina de Vasconcelos. Manual para normatização de
publicações técnico-científicas. MG: Editora da UFMG, 2004.
62

Segundo Machado (2010) apud Ferreira (2011), no resumo síntese, tem-se um


enunciador que não corresponde ao autor do texto original, ou seja, há uma distinção entre o autor
do resumo e do texto resumido. Em relação ao autor do resumo, não se faz referência no resumo,
ao passo que, em relação ao autor do texto resumido, são feitas menções em diferentes partes do
texto e de diferentes formas, além de indicações de suas ações marcadas linguisticamente.
De acordo com Ferreira (2011), como atividade acadêmica, o resumo síntese permite ao
professor avaliar a compreensão global do texto lido e, na escrita, o desenvolvimento das ideias e
a articulação entre elas no texto produzido. Pois, segundo Medeiros (2003) apud Ferreira (2011, p.
69), “um leitor que é capaz de resumir um texto com suas próprias palavras demonstra ter
compreendido as ideias nele expostas”.
É consenso que a maioria dos autores que trabalham com orientação de elaboração de
resumo, observa alguns procedimentos a serem adotados para a confecção de um resumo,
conforme apresentamos na sequência:
Primeiramente, faz-se uma leitura global do texto a ser resumido, sem nenhum tipo de
registro, mas somente para identificar o gênero do texto, do que ele trata e para tentar ordenar
mentalmente as principais ideias do texto, na mesma ordem em que elas são apresentadas;
Na sequência, fazem-se outras leituras (as vezes que forem necessárias), porém mais
atentas, para analisar o texto e compreender a sua organização, sublinhando-se as palavras-chave,
dividindo o texto em partes, dando um título a cada uma das partes, esquematizando as ideias
expostas e construindo um plano do texto (resumo);
Começa-se a construção do novo texto (resumo) a partir do esquema das ideias. Para
isso, selecionam-se as ideias ou fatos essenciais do texto original. Para tanto, deve-se suprimir:
palavras ou frases referentes a ideias ou fatos secundários, repetições e redundâncias, interjeições
e tudo que identifique o estilo pessoal do texto, pormenores desnecessários, como exemplos,
citações e pequenas histórias, expressões explicativas, como “ou seja”, “isto é”, “quer dizer”,
“dito de outro modo” e “por outras palavras”;
Construção do novo texto (resumo) e fazer uma autocorreção (revisão).
Kintsch & van Dijk (198316 ,198517 ), que são os autores mais utilizados nas abordagens
sobre produção de resumos, identificaram as seguintes ações para a produção desse gênero textual
acadêmico:
1. Apagamento: apagamento de todo material linguístico que indica propriedades
acidentais do referente do discurso, se estas não constituírem condição de interpretação para uma
outra proposição subsequente. Ex.: < A menina brincava com a bola. A bola era azul> ⇒ <A
menina brincava com a bola>. (exemplos menos simplórios)
2. Seleção: apagamento de proposições que representam condições, componentes ou
consequência normais de um fato expresso em outra proposição, mantendo, assim, somente esta.
Ex.: <Eu fui ao Rio de Janeiro. Então, eu fui ao aeroporto, comprei uma passagem, peguei o
avião...> ⇒ <Eu fui ao Rio de janeiro>.
3. Generalização: substituição de uma sequência de itens ou proposições por um único
item ou proposição imediatamente superior a eles, capaz, portanto, de abrangê-los todos em um
único superconceito. Ex.: <A menina brincava com a bola, com a boneca, com os bichinhos de
pelúcia...> ⇒ <A menina brincava com brinquedos>.
4. Construção: substituição de uma sequência de proposições que denotam condições
normais, componentes ou consequências por uma única proposição. Ex.: <Eu fui ao aeroporto,
comprei uma passagem,...> ⇒ Eu viajei (de avião).

16
KINTSCH, W. & VAN DIJK, T. A. (1983) Strategies of discourse comprehension. San Diego, California,
Academic Press.
17
KINTSCH, W. & VAN DIJK, T. A. (1985) Cognitive psychology and discourse: recalling and summarizing
stories. In: SINGER, H. & RUDELL, R. (eds.). Theoretical models and processes as reading. Newark, Delaware,
IRA, 794-812.
63

Para melhor entendimento acerca do processo de produção e das características do


resumo síntese, apresentamos, a seguir, um exemplo com a respectiva análise, adaptada de
Ferreira (2011).

Texto original que foi resumido:

Cultura da paz18

A cultura dominante, hoje mundializada, se estrutura ao redor da vontade de poder que se


traduz por vontade de dominação da natureza, do outro, dos povos e dos mercados. Essa é a lógica
dos dinossauros que criou a cultura do medo e da guerra. Praticamente em todos os países as
festas nacionais e seus heróis são ligados a feitos de guerra e de violência. Os meios de
comunicação levam ao paroxismo a magnificação de todo tipo de violência, bem simbolizado nos
filmes de Schwazenegger como o “Exterminador do Futuro”. Nessa cultura o militar, o banqueiro
e o especulador valem mais do que o poeta, o filósofo e o santo. Nos processos de socialização
formal e informal, ela não cria mediações para uma cultura da paz. E sempre de novo faz suscitar
a pergunta que, de forma dramática, Einstein colocou a Freud nos idos de 1932: é possível superar
ou controlar a violência? Freud, realisticamente, responde: “É impossível aos homens controlar
totalmente o instinto de morte… Esfaimados pensamos no moinho que tão lentamente mói que
poderíamos morrer de fome antes de receber a farinha”.
Sem detalhar a questão, diríamos que por detrás da violência funcionam poderosas
estruturas. A primeira delas é o caos sempre presente no processo cosmogênico. Viemos de uma
imensa explosão, o big bang. E a evolução comporta violência em todas as suas fases. São
conhecidas cerca de 5 grandes dizimações em massa, ocorridas há milhões de anos atrás. Na
última, há cerca de 65 milhões de anos, pereceram todos os dinossauros após reinarem, soberanos,
133 milhões de anos. A expansão do universo possui também o significado de ordenar o caos
através de ordens cada vez mais complexas e, por isso também, mais harmônicas e menos
violentas. Possivelmente a própria inteligência nos foi dada para pormos limites à violência e
conferir-lhe um sentido construtivo.
Em segundo lugar, somos herdeiros da cultura patriarcal que instaurou a dominação do
homem sobre a mulher e criou as instituições do patriarcado assentadas sobre mecanismos de
violência como o Estado, as classes, o projeto da tecnociência, os processos de produção como
objetivação da natureza e sua sistemática depredação.
Em terceiro lugar, essa cultura patriarcal gestou a guerra como forma de resolução dos
conflitos. Sobre esta vasta base se formou a cultura do capital, hoje globalizada; sua lógica é a
competição e não a cooperação, por isso, gera guerras econômicas e políticas e com isso
desigualdades, injustiças e violências. Todas estas forças se articulam estruturalmente para
consolidar a cultura da violência que nos desumaniza a todos.
A essa cultura da violência há que se opor a cultura da paz. Hoje ela é imperativa.
É imperativa, porque as forças de destruição estão ameaçando, por todas as partes, o
pacto social mínimo sem o qual regredimos a níveis de barbárie. É imperativa porque o potencial
destrutivo já montado pode ameaçar toda a biosfera e impossibilitar a continuidade do projeto
humano. Ou limitamos a violência e fazemos prevalecer o projeto da paz ou conheceremos, no
limite, o destino dos dinossauros.
Onde buscar as inspirações para cultura da paz? Mais que imperativos voluntarísticos, é o
próprio processo antroprogênico a nos fornecer indicações objetivas e seguras. A singularidade do
1% de carga genética que nos separa dos primatas superiores reside no fato de que nós, à distinção
deles, somos seres sociais e cooperativos. Ao lado de estruturas de agressividade, temos
capacidades de afetividade, com-paixão, solidariedade e amorização. Hoje é urgente que

18
Texto extraído de: MACHADO, Anna Rachel (Coord.); LOUSADA, Eliane Gouvêa; ABREU-TARDELLI, Lília
Santos Abreu. Resumo. São Paulo: Parábola, 2004. p. 33-35.
64

desentranhemos tais forças para conferir rumo mais benfazejo à história. Toda protelação é
insensata.
O ser humano é o único ser que pode intervir nos processos da natureza e copilotar a
marcha da evolução. Ele foi criado criador. Dispõe de recursos de reengenharia da violência
mediante processos civilizatórios de contenção e uso de racionalidade. A competitividade
continua a valer mas no sentido do melhor e não de destruição do outro. Assim todos ganham e
não apenas um.
Há muito que filósofos da estatura de Martin Heidegger, resgatando uma antiga tradição
que remonta aos tempos de César Augusto, veem no cuidado a essência do ser humano. Sem
cuidado ele não vive nem sobrevive. Tudo precisa de cuidado para continuar a existir. Cuidado
representa uma relação amorosa para com a realidade. Onde vige cuidado de uns para com os
outros desaparece o medo, origem secreta de toda violência, como analisou Freud. A cultura da
paz começa quando se cultiva a memória e o exemplo de figuras que representam o cuidado e a
vivência da dimensão de generosidade que nos habita, como Gandhi, Dom Helder Câmara e
Luther King e outros. Importa fazermos as revoluções moleculares (Gatarri), começando por nós
mesmos. Cada um estabelece como projeto pessoal e coletivo a paz enquanto método e enquanto
meta, paz que resulta dos valores da cooperação, do cuidado, da com-paixão e da amorosidade,
vividos cotidianamente.
Resumo Síntese do texto com análise (adaptado de Ferreira (2011))
RESUMO DO TEXTO “A CULTURA DA PAZ” IDENTIFICAÇÃO DO TEXTO
DE LEONARDO BOFF RESUMIDO
Fulano de Tal
Leonardo Boff inicia o artigo "A cultura de paz" Autor do
Resumo
apontando o fato de que vivemos em uma cultura que
se caracteriza fundamentalmente pela violência. Referência ao autor do texto
Diante disso, o autor levanta a questão da resumido
possibilidade de essa violência poder ser superada ou
não. Inicialmente, ele apresenta argumentos que
sustentam a tese de que seria impossível, pois as Indicação de ações realizadas
próprias características psicológicas humanas e um pelo autor do texto resumido
conjunto de forças naturais e sociais reforçariam essa
cultura da violência, tornando difícil sua superação.
Mas, mesmo reconhecendo o poder dessas forças,
Boff considera que, nesse momento, é indispensável Menção ao texto
estabelecermos uma cultura da paz contra a da resumido
violência, pois esta estaria nos levando à extinção da
vida humana no planeta. Segundo o autor, seria
possível construir essa cultura, pelo fato de que os
seres humanos são providos de componentes Tese do texto resumido
genéticos que nos permitem sermos sociais,
cooperativos, criadores e dotados de recursos para Argumentos apresentados pelo
limitar a violência e de que a essência do ser humano autor do texto resumido para
seria o cuidado, definido pelo autor como sendo uma
defender a tese
relação amorosa com a realidade, que poderia levar
à superação da violência. A partir dessas
constatações, o teólogo conclui, incitando-nos a
despertar as potencialidades humanas para a paz, Conclusões do autor do texto
construindo a cultura da paz a partir de nós mesmos, resumido.
tomando a paz como projeto pessoal e coletivo.
(MACHADO, Anna Rachel (coord.) et alli. Resumo.
São Paulo: Parábola Editorial, 2004.)
65

7.2.2.2 Resumo de planejamento de trabalhos acadêmicos

Para Ferreira (2011), esse tipo de resumo, também denominado abstract ou ainda resumo
acadêmico-científico, originalmente se constituiu como parte inicial de um texto maior (artigos
científicos, monografias, teses etc.), entretanto, “começa a se fixar como gênero autônomo, uma
vez
que aparecem desligados dos gêneros a que pertenciam originalmente” (MACHADO, 2010, apud
FERREIRA, 2011, p. 71).
É importante destacar que, independente de estar ligado ou não ao gênero base, o resumo
de planejamento de trabalho acadêmico é produzido pelo próprio autor do texto resumido, isto é,
há apenas um autor: o que produziu o resumo é o mesmo que produziu o texto-base ou que irá
produzi-lo posteriormente, em primeira ou terceira pessoa.
Para Ferreira (2011), esse autor, em ambos os textos, desempenha um papel social de
especialista que aborda um determinado tema e tem como interlocutores outros membros da
comunidade acadêmica-científica, ou seja, é um texto previsto para circular na área de
conhecimento específica. Entretanto, de acordo com Guimarães Silva e Da Mata (2002) apud
Ferreira (2011), esse circuito comunicativo de produção e difusão é mais amplo que o do resumo
síntese, visto que vai além das relações de sala de aula (professor/aluno(s)), difundindo-se entre
leitores membros da academia e outros leitores que apenas consultam periódicos, livros ou sites, à
procura de material bibliográfico que atenda aos seus interesses.
Ainda segundo Ferreira (2011), sua função é resumir as informações do texto mais longo,
permitindo que os leitores tenham acesso mais rápido ao conteúdo desse texto, apresentando, de
forma breve, informações de cunho teórico e metodológico, sobre o objeto em discussão no texto-
fonte. Assim, geralmente, segue a mesma estruturação do texto resumido (objetivo, indicação dos
fundamentos teóricos e metodológicos, resultados e conclusões).
A seguir, apresentamos, de forma clara e concisa, um exemplo de resumo de
planejamento de trabalho acadêmico, destacando suas partes (marcas discursivas), para melhor
compreensão:
66

FATORES ASSOCIADOS AO TABAGISMO NA TÍTULO CORRESPONDENTE


GESTAÇÃO AO TÍTULO DO TEXTO
RESUMIDO
Giordana de Cássia Pinheiro da Motta
Isabel Cristina Echer Autor (es) correspondente (s) ao
Amália de Fátima Lucena (s) autor (es) do texto resumido

Resumo: Muitas mulheres param de fumar durante a gestação, Breve introdução sobre o
mas a maioria volta ao tabagismo pouco tempo após o parto. O assunto (O quê)
objetivo da pesquisa relatada neste artigo é testar um
programa para a prevenção da recidiva do tabagismo no Objetivos (Para quê, qual o
período pós-parto comparando-se os índices de abstinência ponto de partida?)
contínua do fumo, os cigarros fumados por dia e a
autoconfiança no abandono do fumo nos grupos em tratamento
e de controle. Os métodos envolveram um ensaio clínico
aleatório, realizado inicialmente no hospital, na época do
nascimento, em que as enfermeiras proporcionaram sessões de Métodos (Como?)
aconselhamento face a face, seguidas por aconselhamento por
telefone. A população alvo incluía as mulheres que
interromperam o fumo durante a gestação e deram à luz em
um de cinco hospitais. As 254 mulheres participantes foram
entrevistadas seis meses depois do parto e investigadas
bioquimicamente para a determinação do estado de tabagismo.
Os resultados indicaram que o índice de abstinência contínua Resultados (O que
do fumo foi de 38% no grupo de tratamento e 27% no grupo de encontramos?)
controle [...]. Mais participantes do grupo de controle (48% ) do
que do grupo de tratamento (34% ) declararam fumar
diariamente [...]. A autoconfiança no abandono do tabagismo
não variou significativamente entre os grupos. As conclusões
são de que as intervenções para o abandono do tabagismo Conclusões (Qual o ponto de
concentradas no período pré-natal não resultaram em chegada? Indicativos para um
abstinência a longo prazo e que elas podem ser fortalecidas se estudo maior? Há relação com os
forem estendidas no período pós-parto. objetivos?)
Palavras-chave: Tabagismo; Gravidez; Cuidado Pré-Natal;
Abandono do Uso de Tabaco.

Portanto, diante do que foi abordado, percebe-se que a principal diferença entre resumo
síntese e resumo de planejamento de trabalho acadêmico apresentada por Ferreira (2011), está
relacionada à marcação linguística do autor, tendo em vista que, no resumo síntese, o autor deve
fazer menção ao autor do texto fonte, colocando-se como uma terceira pessoa (aquela que fala
sobre o referente). Já no resumo de planejamento de trabalho acadêmico, o autor é o próprio
autor do texto fonte (que pode ser um artigo científico ou uma monografia, por exemplo),
devendo ele falar sobre o que foi por ele pesquisado (ou ele e sua equipe, quando for o caso).
Além disso, como observado acima, o resumo de planejamento de trabalho acadêmico deve
apresentar as seguintes marcas discursivas: breve introdução sobre o assunto; objetivos,
métodos, resultados e conclusões.
67

7.3 RESUMO ESQUEMÁTICO OU ESQUEMA19

Esquema é um registro dos principais pontos de um texto. Deve ter, segundo Salomon
(2004, p. 105), as seguintes características:
Fidelidade ao texto original: o autor do resumo deve manter as ideias do autor do texto,
mesmo quando fizer uma paráfrase.
Estrutura lógica do assunto: a partir da ideia principal e dos detalhes importantes você
pode organizar as ideias partindo das mais importantes para as menos importantes.
Adequação ao assunto estudado e funcionalidade: esta característica significa que
quanto mais complexo o texto, mais complexo o esquema. Para assuntos com menos
profundidade, o esquema consequentemente é mais simples, apresentando somente palavras-
chave.
Utilidade de seu emprego: como instrumento de estudo, o esquema deve ser útil, isto é,
deve facilitar seu retorno ao texto, para revisão, sobretudo quando próximo da avaliação, e para
elaboração de trabalhos acadêmicos.
Cunho pessoal: você pode desenvolver seu modelo de esquema, conforme suas
tendências, hábitos, cultura, recursos e experiência pessoal. Por isso, um mesmo texto estudado
por duas pessoas pode apresentar esquemas diferentes.

Observe alguns tipos de esquemas elaborados a partir do fragmento de texto sobre o


problema da seca no Nordeste20 :

A história demonstra que a região nordestina é marcada pela falta de chuvas. Entretanto,
faz-se necessário compreender como o fenômeno da escassez pluviométrica ocorre no Nordeste.
Para tal, convém analisar este fenômeno nos seus aspectos geográficos, políticos e sociais.
O problema da seca não é só um problema de falta d´água, como se imagina
superficialmente, é um problema muito mais grave que envolve muitas outras variáveis e ciências
diversas como a economia, a política, a sociologia, a meteorologia, a engenharia, dentre outras, ou
seja, é um problema complexo, mas que se consegue conviver com o mesmo, como acontece em
outros países situados em regiões geográficas mais desfavoráveis que a do semiárido nordestino.
Apesar de ser um fenômeno meteorológico previsível, as secas continuam ainda hoje a
atingir de forma devastadora as populações carentes nordestinas, que vivem na zona rural e nos
pequenos municípios no interior da região e que têm como fonte de renda principal a agricultura
de subsistência.
Na realidade, o problema das secas no Nordeste e dos flagelos causados as populações já
foram documentados e relatados na imprensa desde inicio do século, e foi um tema que
sensibilizou os grandes escritores, músicos e artistas do Nordeste.

Usar uma das formas:

a) Por enumeração

1. Região nordestina
1.1 Fenômeno da escassez pluviométrica
1.1.1 Aspectos geográficos, políticos e sociais.
1.2 O problema da seca
1.2.1 Envolve diversas variáveis e ciências

19
Feito a partir de: DINIZ, Célia Regina e SILVA, Iolanda Barbosa da. Metodologia científica. Campina Grande;
Natal: UEPB/UFRN - EDUEP, 2008.
20
SOUZA, C. A. F. Águas: legislações e políticas para uma utilização racional, o caso dos irrigantes do açude
Epitácio Pessoa – Boqueirão- Paraíba – Brasil. 2001. 159f. Dissertação (Mestrado Interdisciplinar em Ciência da
Sociedade) – Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande: Universidade Estadual da Paraíba, 2001.
68

1.2.2 Atinge populações carentes


1.2.2.1 Zona rural e pequenos municípios

b) Por chaves

Aspectos geográficos, políticos


- Fenômeno da escassez pluviométrica
e sociais

Região nordestina
- Envolve diversas variáveis e
- O problema ciências
da seca
- Atinge populações carentes Zona rural e pequenos
municípios

c) Por caixas

Região nordestina

O problema da seca
Fenômeno da escassez
pluviométrica

Atinge populações
Envolve diversas
Aspectos geográficos, carentes
variáveis e ciências
políticos e sociais

Zona rural e pequenos


municípios

ATIVIDADE DE APLICAÇÃO:

Leia com atenção o fragmento de texto abaixo, intitulado Os sistemas ambientais 21 e elabore um
esquema.

A poluição do meio ambiente é assunto de interesse público em todas as partes do


mundo. Não apenas os países desenvolvidos vêm sendo afetados pelos problemas ambientais,
como também os países em desenvolvimento. Isso decorre de um rápido crescimento econômico
associado à exploração de recursos naturais. Questões como: aquecimento da temperatura da
terra; perda da biodiversidade; destruição da camada de ozônio; contaminação ou exploração
excessiva dos recursos dos oceanos; a escassez e poluição das águas; a superpopulação mundial; a

21
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Saneamento ambiental. In: ______. Manual de
saneamento. 3. ed. rev. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2006, p. 15.
69

baixa qualidade da moradia e ausência de saneamento básico; a degradação dos solos


agriculturáveis e a destinação dos resíduos (lixo), são de suma importância para a Humanidade.
Ao lado de todos esses problemas estão, ainda, os processos de produção utilizados para
extrair matérias-primas e para transformá-las numa multiplicidade de produtos para fins de
consumo em escala internacional. Embora se registrem progressos no setor de técnicas de controle
da poluição, para diversos campos da indústria de extração e de transformação, é preciso
reconhecer que não há métodos que propiciem um controle absoluto da poluição industrial.
As considerações econômicas exercem um grande papel quando se trata de definir a
melhor tecnologia disponível, que até certo ponto é influenciada por fatores relativamente
independentes das necessidades de controle da poluição. Existem indícios, por exemplo, de que
muitas empresas de grande porte tendem a se transferir para áreas sem padrões rígidos de
controle, instalando-se em países em desenvolvimento que, na busca de investimentos
econômicos, aceitam a poluição como um mal necessário.

7.4 RESENHA
Para início de conversa, é necessário entender que, como um gênero textual, a resenha é
um texto em forma de síntese, que expressa a opinião do autor sobre um determinado fato
cultural, podendo ser um livro, um filme, peças teatrais, exposições, artigos, shows etc., pois,
segundo Jorge (2007, p. 26 ), a resenha, tal como o resumo, que já estudamos no Módulo II deste
curso, “apresenta informações resumidas de determinado texto, mas, além dessas informações, ela
apresenta comentários e avaliações sobre esse texto. Esses comentários e avaliações são feitos
pelo autor da resenha”.22
Nesse sentido, ao escrever uma resenha escolar/acadêmica, você deve levar em
consideração, segundo Machado (2004, p. 31), que estará escrevendo para seu professor, o qual
indicou a leitura e deve conhecer a obra. Por isso, “ele avaliará não só sua leitura da obra, através
do resumo que faz parte da resenha, mas também sua capacidade de opinar sobre ela”. 23
Além disso, a resenha apresenta algumas divisões. Neste estudo vamos enfocar a
resenha acadêmica, que é a mais conhecida e que apresenta moldes bastante rígidos,
responsáveis pela padronização dos textos científicos. Ela se subdivide em resenha crítica,
resenha descritiva e resenha temática.
A resenha-crítica (ou avaliativa) é um texto que, além de resumir o objeto, faz uma
avaliação sobre ele, uma crítica, apontando os aspectos positivos e negativos. Trata-se, portanto,
de um texto de informação e de opinião, denominado de recensão crítica.
A resenha descritiva (ou resenha-resumo) é um texto que se limita a resumir o
conteúdo de um livro, de um capítulo, de um filme, de uma peça de teatro ou de um espetáculo,
sem qualquer crítica ou julgamento de valor. Trata-se de um texto informativo, pois o objetivo
principal é informar ao leitor.
Já a resenha temática, é um texto no qual você fala de vários textos que tenham um
assunto (tema) em comum.
Nesse sentido, a situação de produção da resenha no ensino superior se difere de resenhas
produzidas em outros contextos, a exemplo de uma resenha que você vai fazer de um filme que
assistiu para publicar em um jornal de grande circulação, pois você vai ter que privilegiar algumas
informações, como o tipo de leitor desse jornal, que vai influenciar no seu estilo de escrita e
quantas vezes vai ter que assistir ao filme para escrever a resenha. Por isso, é necessário refletir
sobre a produção da resenha no contexto universitário. Por isso, antes de escrever a resenha, Jorge
(2007) recomenda que você deve observar os procedimentos sintetizados abaixo para entender
bem a situação enunciativa que se apresenta para a escrita do texto:
22
JORGE, Gláucia Maria dos Santos. Prática de leitura e produção de texto. Ouro Preto-MG: UFOP/CEAD, 2007.
23
MACHADO, Anna Rachel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI, Lília Santos. Resenha. São Paulo: Parábola
Editorial, 2004.
70

1. Leitura do texto a ser resenhado: verificar quantas vezes você necessita ler o texto, se
é necessário grifar (marcar, sublinhar) partes do texto lido e como selecionar essas
partes;
2. A quem o texto resenhado se destina: o destinatário será seu professor, colegas de
curso, você mesmo, ou leitores de uma revista acadêmica? Isso determina o estilo de
escrita que você deve utilizar na resenha;
3. Qual é o suporte/espaço de circulação da sua resenha: Trabalho exclusivo a ser
entregue a um professor? O jornal da sua instituição? Um mural? Seus arquivos
pessoais de resenhas?
4. Seus objetivos ao produzir a resenha: Simplesmente cumprir uma tarefa solicitada
pelo professor? Posicionar-se de maneira crítica ante uma obra lida? Criar um
arquivo para facilitar seus estudos e sistematizar conteúdos apreendidos durante a
leitura de determinado texto?
5. Aspectos da resenha que vão ser observados ou avaliados pelo destinatário: verificar
se você compreendeu o texto lido e soube posicionar-se criticamente em relação a
esse texto.

I. Resenha crítica

No que diz respeito à elaboração da resenha crítica, devemos observar que ela deve
conter a seguinte estrutura:
1) Identificação da obra (Referência bibliográfica), indicando: Autor, título da obra,
edição, lugar de publicação, editora, ano de publicação e número de páginas.
2) Credenciais do autor (biografia);
3) Resumo da obra (de que se trata o texto);
4) Conclusões da autoria (a que conclusões o autor chegou);
5) Metodologia da autoria (qual é o gênero? Que técnicas utilizou?);
6) Quadro de referência do autor (em que autores o autor se apoiou);
7) Crítica do resenhista (apreciação; pode ser positiva ou negativa). Nesse caso, você
deve ficar atento também em relação aos comentários (críticas) que faz sobre a obra.
Segundo Jorge (2007, p. 43), caso a crítica seja negativa:

é preciso ser polido e respeitoso com o autor. Por exemplo: em vez de escrever „o texto é
muito vago e confunde absolutamente o leitor‟, opte por expressões que funcionam como
„atenuadoras‟ das críticas: „o texto apresenta algumas lacunas, como, por exemplo, a
ausência de definições conceituais importantes para a compreensão da obra...‟.

8) Indicações do resenhista (a quem é dirigida a obra);


9) Assinatura e identificação do autor da resenha, do curso e da Universidade.

Para que você entenda a estrutura da resenha crítica, veja um exemplo apresentado Por
Belmont (2004)24 , seguido de comentários feitos pela citada autora:

24
BELMONT, Rejane Cléia Canonice. Como elaborar resenhas. Revista Uningá, nº 01, p. 115-118, jan./jun. 2004.
71

RESENHA CRÍTICA DO TEXTO “COMO ORDENAR AS IDEIAS”, DE EDIVAL


BOAVENTURA.

BOAVENTURA, Edivaldo. Como ordenar as ideias. 8 ed.


São Paulo: Ática,1998.64p.

Edivaldo Boaventura nasceu em Feira de Santana, Bahia, em 1933. Concluiu o


ensino médio no Colégio Antônio Vieira e na Universidade Federal da Bahia fez
bacharelado em Direito (1959) e em Ciências Sociais (1969). É doutor em Direito e
mestre em Educação.
Além do livro “Como ordenar as ideias”, publicou outros, entre eles: “Ordenamento
das ideias” (1969), “A educação brasileira e o direito” (1997), “O Parque Estadual de
Canudos”(1997) e UFBA (1946-1996) – artigos, editoriais, entrevistas, memórias,
notícias, etc.
Boaventura mostra que, para exprimir bem o pensamento se faz necessária uma
comunicação com clareza e, para isso, deve-se ordenar as ideias. Sendo assim,
esquematiza-se e faz-se o plano, que pode ter valor de comunicação ou somente
pedagógico. O primeiro relaciona-se com a clareza, com um sistema a ser seguido, já
que assim a possibilidade de repetir a mesma ideia, divagar ou não se aprofundar é
menor. E o segundo, para a mente adquirir disciplina. O plano é a organização, é como
se fosse um estudo preliminar, é ter conhecimento do que se vai dizer, é a análise para a
melhor integração entre as partes. Mesmo o tema sendo comum a todos, o plano é único
e de cada um. O plano divide-se em três grandes partes: o anúncio do tema (introdução),
o desenvolvimento por partes (corpo e exposição) e o resumo marcante (conclusão).
Na primeira parte, cabe ao emissor anunciar o assunto, o tema. Por isso é importante
compreender, dominar sobre o que irá ser apresentado. Depois de refletido, escolhem-se
duas ou três ideias as quais possuem as características de serem as melhores
fundamentadas. Dependendo do tema, do contexto histórico, geográfico, temporal ou
teórico são encontrados. Ao final, fornecem-se as ideias centrais e como é o plano. No
entanto, o receptor deve ser motivado, convidado, estar interessado no assunto. Tudo
isso faz parte da introdução.
Logo adiante, há o corpo de exposição. Neste, divide-se o assunto. No mínimo deve
haver duas partes, pois, caso contrário, não tem como ordenar e é o número ideal. Encontram-se
mais partes em obras maiores que artigos, provas, teses etc. Após a divisão, tem-se a subdivisão,
que pode ser tradicional (clássica) ou por numeração progressiva (moderna). Essas partes e
subdivisões devem ter títulos interessantes.
O desenvolvimento é por oposição ou por progressão, evitando fazer referências
articulares, vantagens e desvantagens, comparações, causas e consequências, teses opostas, entre
outros, pois esses tendem à repetição e vulgarização. Porém, mesmo com o assunto dividido, com
a existência das partes, deve existir uma relação, interligação entre elas.
Na última parte, conclusão, sintetizam-se todos os argumentos expostos; faz referências
do que se comunicou, afirma ou nega a hipótese apresentada no tema na introdução. Se existirem
dúvidas sobre qualquer assunto de que não se tenha conhecimento abrangente, é no resumo
marcante que se faz apelo para tal.
Esse “método” exposto é um meio que, se praticado, a comunicação seria melhor
explorada, seja oralmente ou redigida.
O autor utiliza-se de citações para a realização da obra, como a de Descartes. Por este
fato, “Como ordenar as ideias” torna-se um livro mais enriquecido, pois está fundamentado com
base em grandes nomes. É objetivo e simples, mostrando como ordená-las. Apesar da existência
de diversos livros do gênero, neste encontra-se de uma forma abrangente e específica o que se
procura.
72

Pode-se afirmar que Edivaldo Boaventura exibe com clareza e de uma forma simples e
compreensível o que foi proposto, sendo, assim, de grande utilidade para todos, em especial para
os universitários, professores, escritores e palestrantes.

HELENA TOKIKO YAMAGATA


Discente do curso de Comunicação Social

COMENTÁRIOS SOBRE A RESENHA

O texto é uma resenha crítica, pois nela a resenhadora analisa as partes que compõem o
objeto, o livro, e faz uma apreciação do seu valor, seguindo a estrutura trabalhada em sala de aula
da teoria citada acima.
No 1º parágrafo, faz a referência bibliográfica, abordando os devidos aspectos, tais como:
autor, título da obra, editora, data e número de páginas. A parte descritiva da obra é reduzida ao
mínimo indispensável.
Nos 2º e 3º parágrafos, faz uma breve biografia do autor; abordando os aspectos
mais relevantes da obra.
Do 4º ao 9º parágrafo, apresenta o resumo, que é uma indicação do conteúdo global
da obra.
No 10º parágrafo, a resenhista aborda os autores dos quais o autor do livro se apoiou para
enriquecer a sua obra, finalizando, desta forma, a parte de narração da resenha.
No último parágrafo, emite juízo de valor positivo sobre a obra. Comenta ser um livro
que apresenta clareza e de fácil compreensão, fazendo, em seguida, indicações a quem a obra
pode ser dirigida. Representa a parte de dissertação da resenha. E, ao final, assina a resenha.
Estamos diante de uma resenha bem elaborada, pois informa ao leitor o conteúdo do
livro com objetividade.

II. Resenha descritiva

Na resenha acadêmica descritiva, a estrutura é exatamente a mesma da resenha crítica,


excluindo-se a crítica do resenhista, pois, como o próprio nome já diz, a resenha descritiva apenas
descreve, não expõe a opinião o resenhista.
Veja um exemplo:

RESENHA DESCRITIVA DO “TEXTO ELETROTERAPIA PRÁTICA BASEADA EM


EVIDENCIAS. FISIOLOGIA DA DOR” DE TIM WATSON

WATSON, Tim. Eletroterapia prÁtica baseada em


evidencias. Fisiologia da Dor. 12. ed. Rio de janeiro: Elsevier,
2009, 75p.

O Capítulo “Fisiologia da Dor”, do livro Eletroterapia Prática Baseada em


Evidência, de Watson (2009), engloba os diversos aspectos de um conjunto de sensações
subjetivas que ativam nociceptores aferentes ou não e sinalizam estímulos
lesivos ao tecido, sendo esta, considerada uma deinição lexível de dor.
O autor Tim Watson, é professor de Fisioterapia da Universidade de Hertfordshire, em
Hatied, UK.
O capítulo foi constituído com característica acadêmica, subtítulos, termos técnicos,
linguagem em terceira pessoa, tabelas, figuras explicativas anexas e com um levantamento de
referencial bibliográfico científico.
73

A fisiologia da dor desenvolve-se como um mecanismo protetor aos tecidos lesados,


apresentando diferentes respostas subjetivas que variam conforme estímulo, sensibilidade,
resposta psicológica, emocional e cultural de cada indivíduo.
Watson reitera que os tecidos apresentam aspectos periféricos constituídos por
nociceptores conhecidos como terminações nervosas livres (TNL), estes possuem um limiar de
ativação alto e são sensíveis a estímulos mecânicos, térmicos, elétricos e químicos,
potencialmente nocivos ao tecido. Dão origem a dois grandes grupos de fibras sensitivas
aferentes: as fibras mielinizadas (grupo III), que se caracterizam pela transmissão de dor
transitória e rápida e também estão envolvidas no reflexo de retirada, que ocorre a nível medular,
e as fibras C não-mielinizadas (grupo IV), transmitem estímulos dolorosos prolongados, e
geralmente acompanham um maior grau de dano tissular, com liberação de mediadores químicos.
Nos aspectos centrais a informação dos nervos aferentes nociceptivos é transmitida para
a medula espinal, onde influencia na atividade reflexa, ou é transmitida
através de vias específicas para os centros cerebrais superiores. A informação chega à substância
gelatinosa da medula espinal, percorre por neurônios de segunda ordem, chega ao tálamo, onde
ocorrem sinapses com neurônios de terceira ordem, até finalmente chegar ao córtex cerebral, onde
esta informação é definida como dolorosa.
A modulação da dor pode ser feita por vias ascendentes ou descendentes. Pelas vias
ascendentes se pode interferir na sustância gelatinosa da medula espinal, pois ela tem a apacidade
de inibir as células T, ou seja, os neurônios de segunda ordem, para que estes não levem a
informação dolorosa até os centros superiores. Pode-se modular a dor, através de impulsos
inibitórios descendentes, neste mecanismo os centros superiores liberam substâncias que agem na
substância cinzenta da medula e inibem a continuidade da passagem da informação dolorosa.
O autor explica que a ação de mediadores químicos inflamatórios pode provocar uma
sensibilidade aumentada nas terminações nervosas livres, sendo esta considerada uma
sensibilização periférica. Apresenta-se também a sensibilização central que ocorre com a ativação
dos aferentes do grupo C, onde a excitabilidade das células de transmissão do corno posterior da
medula pode permanecer por várias horas, através das alterações nos segundos mensageiros
intracelulares nessas células, o que conduz a mudanças nos canais e receptores de membrana que,
por sua vez, aumentam tanto a excitabilidade dos neurônios quanto sua sensibilidade para
transmissores sinápticos. A sensibilização central é uma característica da dor crônica, uma dor
persistente além da duração do período normal para a reparação tecidual e com aproximadamente
três ou mais meses pós–lesão, que está associada a doenças estruturais e funcionais prolongadas
dentro do sistema nervoso central.
De acordo com o autor, a síndrome dolorosa complexa regional é um conjunto de
distúrbios dolorosos anormais resultado de pequenos traumas teciduais, se compõe por dois tipos:
tipo I, o qual não possui envolvimento evidente de dano aos nervos periféricos; e o tipo II, em que
está presente lesão nervosa.
Por fim, assevera que os estados da dor se apresentam em três conceitos:
normoalgesia, hipoalgesia e hiperalgesia. Em cada um desses três estados possíveis, a mesma
intensidade de estimulo pode produzir diferentes sensações subjetivas de dor. O deslocamento da
sensação de dor profunda é conhecida com dor referida, que se explica no padrão de convergência
das fibras nervosas aferentes no corno posterior da medula espinal. A dor também pode acontecer
em um membro fantasma, gerada nas terminações dos nervos que foram seccionados durante a
amputação ou lesão, pode gerar padrões anormais de descarga nas fibras nervosas periféricas, aos
quais são retransmitidos aos centros superiores e percebidos como sensações de dor surgindo nas
áreas que esses nervos supriam anteriormente.
Conclui-se que a modulação e a intensidade da dor variam conforme a lesão, o tecido
envolvido, e a sensibilidade de cada indivíduo.

RAFAELA NOVAES VIEIRA


Aluna do 3° período do Curso de Fisioterapia - Faculdade Dom Bosco
74

III. Resenha temática

Por fim, na resenha temática, você fala de vários textos que tenham um assunto (tema)
em comum, sendo que a estrutura é mais simples que os outros tipos de resenha. Ou seja:
1. Apresentação o tema: informação ao leitor sobre qual é o assunto principal dos textos
que serão tratados e o motivo por você ter escolhido esse assunto;
2. Resuma os textos: utilizando um parágrafo para cada texto, dizendo, logo no início,
quem é o autor e explique o que ele diz sobre aquele assunto;
3. Conclusão: Após explicar cada um dos textos, agora é sua vez de opinar e
tentar chegar a uma conclusão sobre o tema tratado;
4. Mostre as fontes: colocando as referências Bibliográficas de cada um dos textos que
você usou;
5. Assine e identifique-se: Coloque seu nome, o curso e a Universidade.
Veja o modelo abaixo:

RESENHA TEMÁTICA SOBRE O BULLYING NA ESCOLA

O que vem a ser o bullying? É um termo utilizado para descrever atos de violência física
ou psicológica, intencional e repetida, praticada por um indivíduo ou grupo de indivíduos
causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.
Escolhi esse tema por ser algo que está sendo discutido atualmente pela sociedade, apesar
de ser uma situação já muito existente nas escolas. Verificando essa temática no artigo de Mônica
Machado, Bullying em contexto escolar: uma proposta de intervenção, percebe-se que a autora
procura mostrar, de forma detalhada, como este fato ocorre e o que pode acontecer com os que
sofrem tais agressões e também o que leva os agressores a ter estas atitudes. Enfoca também o
papel da escola com relação ao assunto e procura trazer proposta para solucionar a situação. Em
suma o artigo traz uma analise sobre a violência escolar, como uma elevada importância nos
últimos tempos. A identificação dessa problemática se apresenta como um ponto importante para
que as escolas possam encontrar meios para melhor se defenderem. Considera-se, assim,
importante que todos os seus elementos sejam englobados neste processo de prevenção da
violência escolar, procurando este artigo apresentar algumas sugestões de intervenção a serem
implementadas.
Já no artigo de Aramis A. Lopes Neto, o Bullying é visto como Comportamento
agressivo entre estudantes, também focado basicamente nos mesmos moldes já descritos acima,
com a diferença que o autor, neste caso, procura enfatizar a importância de se identificar desde
sedo uma criança que possa vim a ter uma personalidade mais agressiva para que assim seja
encaminhada a um tratamento adequado. Encontram-se também dados quantitativos da situação e
um enfoque na responsabilidade da sociedade e governo junto à questão.
Para mim, o bulliing geralmente começa a ocorrer no âmbito familiar entre primos,
irmãos etc. No bairro, com vizinhos, mostrando que não é só na escola que acontece.
A questão tem todo um contexto para ser avaliada, uma criança agride, muitas vezes, por
não ter sido devidamente orientado e monitorado no berço familiar. Por isso, é necessário que os
pais procurem estar presentes no cotidiano dos seus filhos, verificando seus atos, posturas e
comportamentos para, assim, identificarem, o quanto antes, se seus filhos são agressores ou
vítimas desse ato cruel.

REFERÊNCIAS

MACHADO, Mônica. Bullying em contexto escolar: uma proposta de intervenção. Psicologia.pt,


03 set. 2011. Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0577.pdf>. Acesso em:
25 mar. 2017.
75

LOPES NETO, Aramis A. Comportamento agressivo entre estudantes Neto. Jornal de Pediatria,
vol. 81, nº 05 (Supl.), 2005. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa06.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2017.

ROSILANE VALENTIM
ESTUDANTE DE CONTABILIDADE DA UNEB

Portanto, diante do que foi abordado, percebe-se que fazer uma resenha parece muito
fácil à primeira vista, mas é necessário ter muito cuidado, pois, dependendo do lugar, os
resenhistas podem fazer um livro mofar nas prateleiras ou transformar um filme em um
verdadeiro fracasso.

7.5 O ARTIGO CIENTÍFICO

De acordo com NBR 6022, artigo científico é “parte de uma publicação com autoria
declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas
áreas do conhecimento.”25

7.5.1 Estrutura

O artigo científico possui a mesma estrutura dos demais trabalhos científicos:

ELEMENTOS ITENS FREQUÊNCIA


− Título, e subtítulo (se houver); Obrigatório
Pré-textuais − Nome(s) do(s) autor(es); Obrigatório
− Resumo na língua do texto; Obrigatório
− Palavras-chave na língua do texto; Obrigatório
− Resumo em língua estrangeira; Obrigatório
− Palavras-chave em língua estrangeira; Obrigatório
− Introdução; Obrigatório
Textuais − Desenvolvimento; Obrigatório
− Conclusão. Obrigatório
− Título, e subtítulo (se houver) em língua Obrigatório
estrangeira; Obrigatório
− Nota(s) explicativa(s); Obrigatório
Pós-textuais − Referências; Obrigatório
− Glossário; Obrigatório
− Apêndice(s); Opcional
− Anexo(s). Opcional

7.5.1.1 Elementos pré-textuais

São as partes preliminares que apresentam informações necessárias para melhor


caracterização e reconhecimento da origem e autoria do trabalho.

Veja na ilustração abaixo a forma de utilização adequada desses elementos.

25
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: Informação e documentação: artigo em
publicação periódica científica impressa – apresentação. Rio de Janeiro: mai. 2002, p. 2.
76

TÍTULO do artigo (Centralizado, em SUBTÍTULO (se houver) segue o


negrito e com fonte Times New Roman, mesmo formato do título, separado
tamanho 12). deste por dois pontos.

3 cm 
Dois espaces de
1,5 entre o título
O ARTIGO CIENTÍFICO: COMO ESTRUTURÁ-LO e Autor(s).

Três Antonio Nunes Pereira1 Nome completo


espaces de Rejane Tavares2 do(s) autor(s) na
1,5 . forma direta, em
fonte 10, sem
negrito, alinhados
à direita e com
Resumo: Segundo a NBR 6028 (2003), o resumo é uma descrição números arábicos
sumária da totalidade do artigo entre 100 a 250 palavras, em que indicando nota de
são destacados os objetivos, o método, os resultados e conclusões rodapé, onde será
colocado breve
mais importantes. Deve ser descrito com fonte 10, espaçamento
currículo do (s)
simples em um único parágrafo, de forma discursiva afirmativa e autor (s).
não apenas uma lista dos tópicos .
São palavras
Palavras-chave: Xxxxxxx. Zzzzzzzz. Sssssssss. Aaaaaaa. representativas do
Texto, colocadas
abaixo do Resumo.
Deve-se usar
Abstract (em inglês) ou Resumen (em espanhol) ou Résumé (em maiúsculo somente
francês): De acordo com a NBR 6022 (2003), é a versão do texto na primeira letra e
do resumo em língua estrangeira. O autor deve optar por uma separá-las com
língua para a devida tradução, mantendo as características do texto ponto [.]. Também


são digitadas em


original.
fonte 10.
Key-words: Xxxxxxx. Zzzzzzzz. Sssssssss. Aaaaaaa.
3 cm 2 cm Key-words (em
inglês) ou Palabras
clave (em espanhol)
ou Mots-clés (em
francês): aqui as
______________________ palavras-chave são
1
Professor – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
traduzidas para a
Ceará – Campus Iguatu. Graduado em letras – Universidade Estadual do
mesma língua
Ceará. E-mail: nunespereira@ifce.edu.br
2 estrangeira do
Bibliotecaria - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
resumo.
Ceará – Campus Iguatu. Graduado em biblioteconomia– Universidade
Estadual do Ceará. E-mail: rejane@ifce.edu.br

2 cm
↑ 2 cm
Breve currículo do (s) autor (s),
em notas de rodapé.
77

5.1.2 Elementos textuais

5.1.2.1 Introdução

Na introdução deve-se apresentar a finalidade e os objetivos do trabalho, de modo que


o leitor consiga ter uma visão geral do que se trata o artigo. Segundo a NBR 6022 (2003, p. 4) é
a “parte inicial do artigo, onde devem constar a delimitação do assunto tratado, os objetivos da
pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do artigo.”

5.1.2.2 Desenvolvimento

Parte principal e mais extensa do trabalho na qual se deve apresentar a fundamentação


teórica, a metodologia, os resultados e a discussão. De acordo com a NBR 6024 (2003), divide-
se em seções e subseções, que variam em função da abordagem do tema e do método.
Dessa forma, o desenvolvimento pode ser subdividido em três etapas: revisão da
literatura, material e métodos e resultados e discussão, conforme segue:
a) A revisão da literatura tem um papel fundamental no artigo científico, uma vez que
é por meio dela que o trabalho é situado dentro de uma grande área de pesquisa. Também é por
intermédio dela que se reporta e avalia o conhecimento produzido em pesquisas prévias,
destacando conceitos, procedimentos, resultados, discussões e conclusões relevantes para o
trabalho.
b) A etapa de material e métodos compreende o(s) material(s) empregado(s) e a
descrição das técnicas adotadas durante o desenvolvimento do trabalho. Trata-se da descrição
precisa dos métodos, materiais, técnicas e equipamentos utilizados de tal forma que possa
permitir a repetição do experimento ou estudo com a mesma exatidão por outros pesquisadores
c) Já na etapa de resultados e discussão, o autor deve apresentar e discutir
resultados obtidos em sua pesquisa, de forma precisa e clara, analisando e apresentando os
dados nas diversas formas (valores estatísticos, tabelas, figuras etc.), como também
relacionados a causas e efeitos, procurando esclarecer as teorias e princípios, ressaltando os
aspectos que confirmem ou refutem as teorias estabelecidas, apresentando novas perspectivas
e/ou limitações para a continuidade da pesquisa.

5.1.2.3 Conclusão

É a parte do artigo em que o autor irá destacar os resultados obtidos, apontando


críticas, recomendações e sugestões para pesquisas futuras. É um fechamento do trabalho
estudado, devendo responder às hipóteses enunciadas e aos objetivos do estudo, que foram
apresentados na introdução.

5.1.3 Elementos pós-textuais

São os elementos que compreendem as informações que irão complementar o artigo


científico:
a) Título, e subtítulo (se houver) em língua estrangeira.
a) Notas explicativas são usadas para fazer certas considerações que não caberiam
no texto sem quebrar a sequência lógica. Segundo a NBR 6022 (2003), são enumeradas com
algarismos arábicos, numa ordenação única e consecutiva para cada artigo, sem iniciar a cada
página.
b) Referências: consistem, segundo a NBR 6023 (2003), de uma lista ordenada dos
documentos efetivamente citados no texto, que permite a identificação, no todo ou em parte, de
documentos impressos ou registrados em diferentes tipos de materiais.
c) Glossário: relação em ordem alfabética de palavras pouco conhecidas, ou
estrangeiras, ou termos e expressões técnicas com seus respectivos significados.
d) Apêndices: material elaborado pelo autor que se junta ao texto para complementar
sua argumentação.
78

e) Anexos: material complementar ao texto para servir de fundamentação,


comprovação ou exemplificação que não seja elaborado pelo autor.

5.2 Apresentação gráfica do artigo científico

5.2.1 Papel, formato e impressão

O texto deve ser digitado no anverso da folha, utilizando-se papel no formato A4, (210 x
297 mm), e impresso na cor preta, com exceção das ilustrações.
O tipo de fonte a ser utilizada é TIMES NEW ROMAN e o tamanho da fonte deve ser 12
para o título do artigo (em letras maiúsculas), o texto (introdução, desenvolvimento e conclusão)
e as referências. O tamanho da fonte deve ser 10 para nome(s) do(s) autor(s), titulação do(s)
autor(s), notas de rodapé, resumo, palavras-chave, abstract, Key-words, citações diretas longas,
paginação, legendas das ilustrações e das tabelas.

5.2.2 Margens

As margens são formadas pela distribuição do próprio texto no papel, justificado, dentro
dos limites padronizados com as seguintes medidas:
Superior e esquerda: 3,0 cm
Inferior e direita: 2,0 cm.

5.2.3 Paginação

A numeração deve ser colocada no canto superior direito, a 2 cm da borda do papel


com algarismos arábicos e tamanho da fonte menor (10). A primeira página não leva número,
mas é contada.

5.2.4 Espaçamento

O espaçamento entre as linhas é de 1,5 cm. As notas de rodapé, o resumo, as


legendas de ilustrações e tabelas, as citações textuais de mais de três linhas devem ser
digitadas em espaço simples. As referências listadas no final do trabalho devem ser digitadas
em espaço simples e separadas entre si por um espaço duplo.

7.6 PAPER

O paper é um artigo menos abrangente, um pequeno artigo. De acordo com Souza (apud
TEIXEIRA, 2005, p. 45), as características desse trabalho acadêmico “podem
convencionalmente consistir em atividade acadêmica, servindo usualmente como um trabalho
escrito para a avaliação do desempenho em seminários, cursos e disciplinas. Devem possuir a
mesma estrutura formal de um artigo”.
Ainda conforme essa autora, as principais características do paper são: “a) estudo sobre
um autor; estudo de um tema num autor; c) estudo de uma obra de um autor; e d) estudo de um
tema / questão / problema em diversos autores”. (apud TEIXEIRA, Elizabeth. As Três
Metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. Petrópolis: Vozes, 2005. p.45).
79

7.7 SEMINÁRIO26

O QUE É UM SEMINÁRIO?

FINALIDADES

COMO ORGANIZAR UM SEMINÁRIO?

ETAPAS DE UM SEMINÁRIO

26
COM BASE EM: ANDRADE, Antonio Abreu de. Guia de apresentação de seminários com os recursos do
Microsoft Powerpoint. Cascavel-PR: Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz (FAG), 2010.
80

NA APRESENTAÇÃO

POSTURA IDEAL PARA A APRESENTAÇÃO


81

EXPRESSÕES CORPORAIS NEGATIVAS – EVITAR

EXPRESSÕES CORPORAIS POSITIVAS – EMPREGAR

NA APRESENTAÇÃO DO CONTEÚDO
82

NA APRESENTAÇÃO DO CONTEÚDO

SIGNIFICADO DAS CORES


83

COMBINAÇÃO ENTRE COR DA LETRA E DO FUNDO

7.8 PAINEL

Ao contrário do que imaginamos, o painel é uma atividade de divulgação científica que


não necessariamente precisa apresentar cartazes. Consiste na reunião de vários interessados
que expõem suas ideias sobre determinado assunto, de maneira informal e dialogada.
A participação é espontânea, o que possibilita uma troca de ideias e conduz ao
conhecimento aprofundado do tema. Em geral, participam da exposição de três a cinco
especialistas em um determinado assunto que realizam o debate sob a coordenação de um
moderador.
A função do moderador é inaugurar os trabalhos, apresentar o tema e os debatedores
aos ouvintes. Além disso, ele deve coordenar a apresentação de cada um, organizando a
discussão.

OS PAINÉIS PODEM SER:

De interrogação:
Os participantes responderão questões básicas indicadas pelo professor.

De debate:
Além de expressar ideias, os participantes também questionam as ideias dos demais.

7.9 MESA REDONDA

A mesa-redonda apresenta pontos de vista variados acerca de um mesmo tema. Os


participantes, no máximo seis, conhecem previamente o texto dos outros expositores e podem
apresentar questionamentos aos membros da mesa. Fundamentadas sobre um tema específico,
seguida de uma sessão de perguntas e debates.

 Apresentação de um tema sob pontos de vista diferentes e até mesmo divergentes;


 Os participantes conhecem previamente o texto do expositor;
 Após a exposição os demais participantes apresentam os seus comentários críticos;
 A palavra retorna ao expositor, que poderá concedê-la à plateia.
84

7.10 PALESTRA
Com base em: PARRA FILHO, Domingos. SANTOS,
João Almeida. Metodologia Científica . 6. ed. São
Paulo: Futura, 1998.

Estamos habituados a assistir palestras inseridas em eventos de maior abrangência ou


em locais onde elas ocorrem isoladamente. Mas o que é uma palestra?
A palestra é uma exposição oral sobre um tema. Nela estão presentes ouvintes que têm
interesse em um determinado tema científico ou literário, pois o objetivo maior da palestra é a
troca de conhecimentos.
O palestrante desenvolve sua apresentação de modo metódico e estruturado sem aprofundar,
mas de forma objetiva e clara, evidenciando a importância destes estudos e experiências.

A palestra, por ser temática, pode ser apresentada no contexto de um evento mais
abrangente como congressos, simpósios e encontros científicos, e, nestas ocasiões o
pesquisador pode participar de duas maneiras. Conforme salienta Parra Filho e Santos (1998, p.
159), o pesquisador pode participar da palestra como “palestrante – de modo a colocar em
discussão suas ideias, e para tanto deve estruturar tecnicamente o discurso a ser proferido – ou
como ouvinte, e neste caso deve se preparar, estudando o tema, para conseguir um bom
aproveitamento”.

A Palestra é...

Uma exposição oral individual, na qual o palestrante deve informar, esclarecer e divulgar
um tema relacionado ao seu trabalho

7.11 CONFERÊNCIA
Modalidade de comunicação oral que ocorre na comunidade científica São
apresentações mais curtas que as palestras. É uma exposição c ientífica sobre um tema,
realizada por um especialista na área. Pode ou não permitir a participação da plateia, que lança
questionamentos ao conferencista para que ele possa esclarecer pontos que não ficaram claros.
Possui, em média, a duração de uma hora.

 Exposição oral mais breve que a palestra;


Ao final, poderá ser reservado um tempo para indagações dos participantes, mas isso não é
uma regra. Pode limitar-se à exposição de ideias do expositor.

7.12 RELATÓRIOS
Incluiu-se o relatório entre os tipos de trabalhos acadêmico-científicos por ser
uma modalidade de trabalho escrito solicitada com alguma regularidade ao aluno de
graduação, em diversas disciplinas, com vistas a um conjunto bastante variado de
propósitos pedagógicos, geralmente relacionados a atividades práticas – visitas, viagens
de estudo, experimentos ou testes de laboratório, observação de eventos, aplicação de
uma determinada técnica, realização de uma intervenção ou procedimento
especializado, etc. – as quais, após terem sido desenvolvidas, são complementadas ou
concluídas pelo relato de sua realização. Embora seja utilizado com freqüência, esse
tipo de trabalho acadêmico por vezes tem sua elaboração negligenciada, seja no seu
conteúdo, na sua organização ou apresentação, talvez por ser consi derado um trabalho
"pequeno" ou "rápido", de menor importância, ou mesmo por não serem muito
difundidas orientações para sua elaboração.
O relatório de que se trata aqui é uma modalidade de trabalho escrito que não
se confunde com o relatório de pesquisa – esse destinado exclusivamente à
85

comunicação dos resultados de uma pesquisa científica –, o qual, embora seja um dos
principais trabalhos acadêmico-científicos comumente realizados na universidade, não
é abordado neste documento.

Conceito
A compreensão do que é um relatório pode começar pelo exame das definições
que os léxicos oferecem. Em Michaelis (1998, p.1808) encontram-se as seguintes:

1 Exposição, relação, ordinariamente por escrito, sobre a seqüência de


um acontecimento qualquer. 2 Descrição minuciosa e circunstanciada
dos fatos ocorridos na gerência de administração pública ou de
sociedade. 3 Exposição por escrito sobre as circunstâncias em que está
redigido um documento ou projeto, acompanhado dos argumentos que
militam a favor ou contra a sua adoção. 4 Parecer ou exposição de um
voto ou apreciação. [...] 6 Qualquer exposição pormenorizada de
circunstâncias, fatos ou objetos [...]

Relatório é, então, uma narração, descrição ou exposição de um evento


qualquer (algo que ocorreu e foi observado, algo que foi realizado), de uma prática ou de
um conjunto de práticas, até mesmo de um objeto. Vale salientar o detalhamento como
uma característica do relatório, pois os termos minuciosa e circunstanciada são usados
para qualificar a descrição, em pelo menos uma das definições.
O relatório é, por conseguinte, um documento através do qual um profissional
ou acadêmico faz o relato de sua própria atividade ou de um grupo ao qual pertence. O
objetivo é comunicar ao leitor a experiência acumulada pelo autor (ou pelo grupo) na
realização do trabalho e os resultados obtidos. Dessa forma, na elaboração de um
relatório, qualquer que seja seu tipo, a preocupação maior deve estar voltada para a
eficiência da comunicação.

Propósitos do relatório

Relatórios podem ter os mais diversos propósitos: descrever ampla variedade de


atividades realizadas – observações de campo, procedimentos técnicos, visitas, viagens,
inspeções, verificações, medições, auditorias, avaliações, vistorias, etc.; informar sobre
o andamento de um projeto, de uma obra ou sobre as atividades de uma
administração; oferecer informações e análises sobre empresas, mercados, produtos ou
tecnologias; sobre áreas promissoras do mercado e tecnologias emergentes; expor
conhecimentos aprofundados sobre uma determinada instituição, ou ainda descrever
atividades realizadas em laboratório, em campo, etc. (MARCONI e LAKATOS, 1999;
SEVERINO, 2000).
Considerando o largo uso de relatórios nos diversos campos de atividades
profissionais, é importante que o acadêmico apre nda, durante a sua formação, a
elaborá-los, pois como profissional certamente será solicitado a fazê -lo, em diferentes
situações. A esse respeito, Barrass (1986, p.20) aconselha: "Não basta termos uma boa
ideia ou executarmos um bom trabalho; é preciso também sermos capazes de fazermos
com que outras pessoas entendam o que estamos fazendo, porque o fazemos e com que
resultados".

Tipos de relatórios

Flores, Olímpio e Cancelier (1992, p.168-193) apresentam uma útil tipologia de


relatório, cuja síntese, elaborada segundo os propósitos deste documento, apresenta-se
a seguir. Inicialmente, as autoras classificam os relatórios quanto à estrutura e à
função.
Quanto à estrutura (partes componentes), podem apresentar diferentes níveis
de formalidade, desde o relatório formal – aquele que segue todas as normas de um
trabalho técnico, tem forma de apresentação rigorosa, trata de assunto complexo e se
86

destina a grandes audiências, como, por exemplo, o relatório de uma Secretaria de


Estado – até o relatório informal , que trata de um único assunto, têm poucas páginas
(às vezes uma única) e uma apresentação breve; entre esses dois extremos estariam os
relatórios semi-informais, de alguma extensão (5 a 15 páginas ou pouco mais), que já
requerem uma apresentação técnica, tratam de assunto de certa complexidade e
apresentam conclusões ou recomendações fundamentadas em dados.
Quanto à função, os relatórios podem ser informativos e analíticos.
Os relatórios informativos transmitem informações sem analisá-las ou fazer
recomendações; são pouco extensos e, portanto, informais ou semi -informais.
Subdividemse
em:
- relatório informativo de progresso: trata do andamento de uma atividade ou
ação; pode ser periódico (mensal, semestral, anual) ou abranger um período de tempo
maior, demarcado, por exemplo, pelo início e término de uma determinada ação ou
projeto;
- relatório informativo de posição ou de status: descreve ocorrências ou
fatos relativos a um determinado momento, ou em data previamente estabelecida (ex.:
relatório sobre a situação dos estoques de uma empresa);
- relatório informativo narrativo: faz o registro de ocorrências ou eventos;
nessa modalidade encontram-se os relatórios de viagem, de visita e os relatórios
administrativos. Os relatórios analíticos são aqueles cujo propósito consiste em
analisar fatos ou informações e apresentar conclusões e recomendações como dedução
da análise realizada.

Procedimentos

A estrutura e a organização de um relatório serão variáveis assim como são


variáveis os tipos de relatórios, e m decorrência de seus objetivos e destinação.
A elaboração de um relatório se inicia por uma reflexão sobre sua finalidade;
para isso, são úteis três perguntas:
- O que deve ser relatado? – da resposta a esta pergunta resulta um roteiro ou
esquema do conteúdo do relatório;
- para quem deve ser relatado? – essa pergunta pode ajudar a decidir quanto ao
tipo de relatório (formal, informal ou semi-formal), nível de complexidade e
aprofundamento do conteúdo, estilo da redação, etc.;
- por que deve ser relatado? – essa pergunta auxilia a decidir se o relatório será
informativo ou analítico e a esclarecer aspectos relativos à abordagem e tratamento das
informações e/ou conclusões e recomendações a serem apresentadas.
A seguir apresentam-se alguns roteiros possíveis para o corpo do relatório.

Sugestões de roteiros para o corpo do relatório


– Elementos pré-textuais)
– Elementos textuais:
1. Dados de identificação
- quem: identifica o(s) autor(es) do relatório;
- quando e onde: identificam o local e a data em que a atividade relatada foi
realizada;
- o quê: identifica a atividade realizada.
2. Finalidade da atividade
3. Descrição da atividade
4. Conclusões/recomendações
5. Assinatura do(s) autore(s)
– Elementos pós-textuais:
– Referências (caso existam)
– Anexos / apêndices
87

Quando se tratar de um relatório de experiências realizadas em laboratórios,


construção/teste ou verificação de máquinas, aparelhos ou sistemas, que pode ser
caracterizado como um relatório do tipo informal ou semi -informal, sugere -se a
estrutura abaixo. Nota-se que, conforme a extensão do relatório, os elementos pré -
textuais poderão ser limitados ao mínimo indispensável: se o relatório tiver 2 ou 3
páginas, basta a folha de rosto, sendo o sumário dispensável; com maior número de
páginas, além da folha de rosto, deve conter um sumário.
1 Dados de identificação
2 Descrição do problema
3 Aparelhagem ou equipamento
4 Procedimento(s)
5 Resultado dos testes
6 Análise dos resultados
7 Conclusões
Referências
Anexos / apêndices
É importante lembrar que o roteiro do relatório deve ser adaptado às
necessidades da disciplina ou aos propósitos da atividade realizada. Os roteiros
apresentados acima são sugestões para que o professor possa, a partir dessas ideias,
criar o modelo de relatório que melhor contemple as necessidades de formação do seu
aluno.
A melhor maneira de relatar a seqüência de desenvolvimento de uma atividade
é cuidar para que a exposição seja clara, o estilo simples, preciso e objetivo, marcado
pelo uso de termos técnicos adequados, pela observância das regras gramaticais, pela
ausência de períodos longos, detalhes desnecessários, adjetivação excessiva.

Avaliação

Para assegurar que nada tenha sido esquecido na versão final do relatório,
Laville e Dionne (1999) sugerem a seguinte verificação, que tanto pode ser usada pelo
acadêmico para verificar se seu trabalho está bem feito, antes de entregá -lo ao
professor, como pode ser um roteiro adequado para que este avalie os relatórios
elaborados por seus alunos.
- O título do relatório diz explicitamente do que ele trata?
- O plano do relatório permite conduzir o leitor por meio de uma demonstração
eficaz, e seu sumário reflete isso?
- O relatório se limita ao essencial, afastando o supérfluo ou não-pertinente?
- É escrito em um estilo simples e preciso?
- O leitor encontra nele todas as informações e referências de que precisa para
assegurar-se da boa condução da testagem ou da atividade realizada?
- As regras de apresentação (citações, notas e referências, etc.) são aplicadas de
forma metódica e homogê nea?
- As tabelas e figuras, se houver, são apresentadas de maneira uniforme, com
seus títulos e legendas?

REFERÊNCIAS
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atividade de retextualização. 2008, 137f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação
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