Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
RESUMO
Este trabalho se constitui em uma atividade inserida no projeto “Arranjo Produtivo Local de
Base Mineral do Calcário Cariri”, apresentado à Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação
Mineral (SGMTM), do Ministério de Minas Energia (MME), com o aporte da Secretaria da Ciência e
Tecnologia do Estado do Ceará – SECITECE, dentro do Convênio de Cooperação Técnico-Científico
entre Centro de Tecnologia Mineral (CETEM/ MCT) e SECITECE, formam esse APL os municípios de
Nova Olinda, Santana do Cariri, Farias Brito e Altaneira. Esses municípios foram escolhidos por
possuírem um grande potencial mineral de dois tipos de calcário: o sedimentar laminado, também
conhecido como Pedra Cariri; e o cristalino, utilizado de forma rudimentar na fabricação da cal virgem
e hidratada.
As amostras dos municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri apresentaram teores médios
de CaO, em torno de 54% e de Fe2O3 baixo, mostrando-se a princípio boa para vários usos, enquanto
que as médias dos teores de MgO, SiO2 e Al2O3 são baixas, mas podem ser melhoradas. Quanto a
região dos municípios de Altaneira e Farias Brito, apresentaram valores mais baixos para os teores
de CaO, entre 44% e 46%, com teores de MgO, SiO2 e Al2O3 maiores em relação a Santana do Cariri
e Nova Olinda e teores de Fe2O3 mais baixos.
INTRODUÇÃO
A região do Cariri cearense se apresenta como um importante polo mineral, no que tange a
sua rica reserva de calcário laminado, que segundo dados do DNPM possui cerca de 97 milhões de
metros cúbicos, equivalentes a 241 milhões de toneladas, e abrange principalmente os municípios de
Santana do Cariri e Nova Olinda. A utilização desses calcários é feita sob a forma de lajes e utilizadas
principalmente em pisos, enquanto que o calcário cristalino dos municípios de Altaneira e Farias Brito,
são utilizados mais na indústria da cal. A cadeia produtiva da Pedra Cariri, que vai da lavra ao
beneficiamento (esquadrejamento) acarreta uma perda de material em torno de 70%. Este trabalho
apresenta alguns aspectos da caracterização tecnológica destes calcários, e em uma etapa posterior,
com todos os resultados mapeados, pretende-se sugerir algumas formas de utilização que
possibilitem o seu aproveitamento racional.
Inicialmente foi observada que a etapa inicial de lavra na região do Cariri, é realizada pela
maioria dos produtores, sem nenhuna mecanização. Depois dessa etapa, as placas de calcário
desmontadas e selecionadas são transportadas para as unidades de corte, onde são esquadrejadas
em dimensões compatíveis com o mercado consumidor. As operações da cadeia produtiva, que vai
da lavra ao processamento (esquadramento) acarretam em uma perda de material de cerca de 70%,
ainda que já existam algumas poucas empresas que apresentam uma lavra semi-mecanizada mais
eficiente.
OBJETIVOS
As áreas para amostragem foram selecionadas com base nos trabalhos de campos “in loco”,
que foram realizados nos municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri, Altaneira e Farias Brito da
seguinte maneira:
• Levantamento de campo, nas principais frentes de lavra, que geram maiores quantidades
de rejeitos;
• caracterização dos rejeitos destas frentes; e
• análises dos métodos de extração.
Amostragem
O trabalho de amostragem contou com o apoio logístico dos produtores locais e foi executado
da forma mais criteriosa possível, pelos técnicos do MCT, da CODECE e da URCA. Em todas as
amostras coletadas, se teve o cuidado de não destruir nenhum exemplar de fóssil, que porventura
estivesse presente nas amostras. Ao todo foram coletadas dez amostras da região do Cariri.
TABELA I – Resultados da distribuição de CaO e MgO contidos em cada fração da amostra média do
município de Nova Olinda.
TABELA II – Resultados da distribuição de CaO e MgO contidos em cada fração da amostra média
do município de Santana do Cariri.
TABELA III – Resultados da distribuição de CaO e MgO contidos em cada fração da amostra média
do município de Altaneira.
TABELA IV – Resultados da distribuição de CaO e MgO contidos em cada fração da amostra média
do município de Farias Brito.
Os resultados das análises químicas das amostras médias de “head sample” das pedreiras de
Nova Olinda, Santana do Cariri, Altaneira e Farias Brito estão apresentados na Tabela V, abaixo.
TABELA V – Resultados das análises químicas médias das amostras “head sample” dos rejeitos das
pedreiras de Nova Olinda e Santana do Cariri, assim como dos depósitos de Altaneira e Farias Brito.
Nova Olinda 42,5 53,9 0,78 1,16 0,27 0,81 0,027 0,041 0,046 0,069 0,19 0,045
Santana do Cariri 43,3 54,0 0,88 0,44 0,089 0,49 0,019 0,024 0,146 0,071 0,18 0,058
Altaneira 41,9 44,3 6,84 4,36 0,281 0,302 - 0,112 - 0,312 0,010 -
Farias Brito 42,0 46,2 5,87 2,26 0,287 0,312 - 0,085 - 0,272 0,010 -
O teor médio de 54,0% de CaO, para as amostras de Nova Olinda e Santana do Cariri é em
princípio, boa para várias especificações, entretanto a média dos teores de MgO, SiO2 e Al2 O3 são
baixos, mas podem ser blendados com outros compostos para obter se um valor mais alto, enquanto
que o valor médio de Fe2O3 é baixo.
Quanto a região dos municípios de Altaneira e Farias Brito, valores mais baixos para os teores
de CaO, entre 44% e 46%, apresentando teores de MgO, SiO2 e Al2O3 maiores em relação a Santana
do Cariri e Nova Olinda e teores de Fe2O3 mais baixos.
Uma das aplicações que prevemos ser promissora é a da obtenção de carbonato de cálcio
precipitado (PCC), que é normalmente obtido por meio da hidratação da cal (CaO), se obtendo um
produto denominado leite de cal (Ca(OH)2). Logo após, é feita a carbonatação (CO2) do leite de cal,
se obtendo um produto que pode ser aragonita ou calcita. A rocha calcária, em nosso caso, a Pedra
Cariri, que mediante a calcinação dá origem a cal, não necessita inicialmente de uma alvura natural
elevada (até 80%, ISO), no entanto deve apresentar uma boa pureza química, ou seja, deve ser
isenta de minerais multivalentes, como manganês e ferro, responsáveis diretos pela redução da
alvura.
TABELA VI – Padrões qualitativos para utilização industrial de Minérios Carbonáticos Calcíticos
MgO SiO2 Al2O3 Fe2O3 P2O5 SO3 K2O+ CaO P.F. Observações
Na2O
Cimento Portland 4.5 13.0 - 7.0 0.37 1.7 0.45 42.0 ND Padrões muito variáveis
Cimento branco 4.5 13.0 ND 0.001 0.37 ND 0.45 42.0 ND
Brita Siderúrgica 2.5 6.0 - 2.5 0.01- 1.25 0.03 50.0 43.0 Variação conforme o
(Metalúrgica Fe) 1.5 processo siderúrgico
Brita Siderúrgica 1.0 2.5- - 3.0 2.2 ND 0.12 50.0 43.0 Variações conforme o
Ligas FeMn/FeCr 5.0 processo siderúrgico
Cal calcítica 1.4 1.0- 1.0 0.5 ND ND ND 53.0 42.0 Padrão standard (USA)
2.0
Cal calcítica 1.4 1.0 0.5 0.15 ND ND ND 54.0 43.0 Padrão médio para
(qualidade superior) utilizações nobres
Carbureto de cálcio 1.2 1.2 1.0 0.5 0.04- 0.25- ND 54.0 43.0 Al2O3+Fe2O3S1.0%
0.23 0.50
CaCO3 ppt médio (pcc) 2.4 1.3 ND 0.05 ND ND ND 50.0 ND 99.5% < 250 mesh
CaCO2 ppt superior (pcc) 2.0 1.0 ND 0.02 ND ND ND 53.0 ND 100% < 325 mesh
Cerâmica branca 1.5 2.0 ND 0.3 ND 0.1 ND 53.0 42.0 ASTM (USA)
Cerâmica branca 4.0 5.0 ND 0.3 ND ND ND 45.0 35.0 IASA (Recife-PE)
Refino de açúcar 1.7 1.7 0 5.0 ND ND ND 48.0- ND Padrões muito variáveis
50.0
Indústria de papel 1.5 ND 1.0 7.0 ND ND ND 51.8 ND USBS (USA)
Vidros comuns 1.5 5.0 2.8 0.5 0 6.0 ND 51.0 40.0 CaO+MgO;USBS(USA)
Vidros especiais 0.8 1.5- 0.25 0.02 ND ND ND 53.0 42.0 Sta. Marina – SP
2.0
Vidros comuns 3.0 3.0- 2.0 0.5 ND ND ND 50.0 36.0 CIV (Recife-PE)
6.0
Vidros especiais 1.0 2.2 1.7 0.02 0 6.0 ND 53.0 42.0 USBS (USA)
Barrilha 1.3 3.0 1.0 5.0 ND ND ND 52.0 42.0 ALCANORTE (RN)
Industria textil 1.7- 1.4 1.0 4.0 ND ND ND 52.0 42.0 sob a forma de cal ;
3.0 Se RI < 2,5%
Ração animal 1.5 ND ND ND ND ND ND 50.0 41.0 80% < 325 mesh
Nota: ND= resultados não determinados
CONCLUSÕES E OBSERVAÇÕES
• O uso dos rejeitos também deverá obedecer uma avaliação sobre a presença de fósseis nos
mesmos, de forma a evitar a perda de exemplares que possam estar presentes;
• Como resultado dos trabalhos executados até o momento, se conclui que a quantidade de
rejeitos das pedreiras de calcário da região do Cariri, totalizam 1.030.000,00m³, com temores
médios de 54,0% CaO e 0,7% a 0,9% de MgO, para a região de Santana do Cariri e Nova
Olinda, enquanto a região de Altaneira e Farias Brito, apresentou uma média de 44,0% a
46,0% de CaO e 5,9% a 6,8% de MgO;
• Visando um maior aproveitamento dos rejeitos, são propostos dois tipos de bloquetes padrão,
nas formas cúbica e paralelepípeda para a produção de ladrilhos de tamanho 40 x 40 cm com
espessura de 1cm;
• Uma das aplicações que prevemos ser promissora é a da obtenção de carbonato de cálcio
precipitado (PCC), que normalmente obtido por meio da hidratação da cal (CaO), se obtendo
um produto denominado leite de cal (Ca(OH)2).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral. Sumário Mineral. Brasília, 2003, p.110-
111.
BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral. Anuário mineral brasileiro. Brasília, 2001,
p.313-329.
MORAIS, J.O. et al. Rochas industriais: Pesquisa Geológica, Explotação, Beneficiamento e Impactos
Ambientais, Fortaleza, SECITECE/ FUNCAP, Fortaleza, 2003, 514p.
VIDAL, F.W.H; PADILHA, M.W.M. A indústria extrativa da pedra Cariri no Estado do Ceará:
problemas x soluções. In: SIMPÓSIO DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO NORDESTE, 4, 2003,
Fortaleza, Anais, Ceará, 2003, p.199-210.
VIDAL, F.W.H; PADILHA, M.W.M; OLIVEIRA, R.R. Estudo de Exploração Preliminar dos
Rejeitos da Pedra Cariri - CE. In: I CONGRESSO INTERNACIONAL DE ROCHAS
ORNAMENTAIS / II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ROCHAS ORNAMENTAIS, 2005, Guarapari,
Anais, Espírito Santo, 2005, CD Rom.