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Influências da poluição industrial, da precipitação

e da ocupação indevida das encostas de Cubatão


sobre os deslizamentos na Serra do Mar

Antonio Rebouças
Cauê Dias Carrilho
Cleraldo Teixeira
Débora Natali Crispiano
Ericka Pardini
Maurício Traldi Dolci

Tutor: Prof. Dr. Luis Schiesari

1
“ Este trabalho esta licenciado sob uma licença Creative
Commons.
Atribuição – Uso não-comercial a Obras Derivadas 2.5
Para ver esta licença visite:
http://creativecommons.org/licences/br/-nc-nd/2.5/br/”

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Influências da poluição industrial, da precipitação e da
ocupação indevida das encostas de Cubatão sobre os
deslizamentos na Serra do Mar

Antonio Rebouças, Cauê Dias Carrilho, Cleraldo Teixeira, Débora Natali


Crispiano, Ericka Pardini, Maurício Traldi Dolci

Tutor: Prof. Dr. Luis Schiesari

Resumo

O processo de industrialização faz com que ocorram grandes mudanças na natureza. As


indústrias são responsáveis por diversos impactos ambientais, como o desmatamento do local para a
implantação de sua estrutura, assim como a poluição das águas e do ar no seu processo de
funcionamento.
Este projeto de pesquisa analisa os impactos da poluição atmosférica lançada pelas
indústrias de Cubatão na vegetação da Serra do Mar. Analisa também, como a ocupação indevida
das encostas, somada a pluviosidade e aos fatores geológicos, além de outras interferências
humanas, como a construção de estradas, acelera os processos de deslizamentos comuns na região e
seus impactos na sociedade local.
Para a realização desta pesquisa, procuramos associar dados anuais coletados de órgãos
como a CETESB, Defesa Civil de Cubatão e em literaturas já existentes, sobre como a pluviosidade
e a concentração de fluoretos interferem na cobertura vegetal, no seu estado de preservação e no
número de deslizamentos nas encostas da Serra do Mar. Levamos em consideração também, dados
sobre a construção de estradas e sua ligação com o número de deslizamentos. Estes dados foram
coletados em períodos convenientes à análise da situação apresentada. Por fim, são apresentados
resultados das pesquisas e análises aprofundadas da inter-relação destes dados.

3
Introdução

A industrialização ocorre devido à necessidade de uma região de acelerar sua produção para
atender a demanda local ou a demanda de outras regiões. O processo de industrialização faz com
que ocorram diversas mudanças na sociedade e na natureza. Na sociedade, ocorre uma gradual
urbanização, grandes avanços na produtividade industrial e agrícola, elevado aumento na
população, na divisão do trabalho e na renda per capita. Na natureza, as indústrias são responsáveis
por diversos impactos ambientais, como o desmatamento do local para a implantação da estrutura,
assim como a poluição das águas e do ar, no seu processo de funcionamento.
A partir do século XVIII, diversas regiões do mundo passaram por um processo de
industrialização. No Brasil, o processo de industrialização intensificou-se nas décadas de 40 e 50,
sendo que, na segunda metade dos anos 50, as indústrias passaram a ser o carro chefe da economia
brasileira, até então baseada na mineração e na agricultura. Estas indústrias tendem a buscar pólos
mais viáveis, ou seja, mais próximos de portos, estradas, mercados consumidores e outras
indústrias, que apresentem maiores incentivos fiscais, abundância de mão de obra barata e/ou
especializada.
A maior concentração de pólos industriais no Brasil encontra-se na região sul e sudeste,
sendo o estado de São Paulo um grande exemplo de aglomerado de grandes indústrias. Todavia,
daremos destaque ao pólo industrial de Cubatão, localizado no estado de São Paulo e que apresenta
grande destaque no cenário nacional.
Um dos fatores decisivos para a industrialização em Cubatão foi a construção da Rodovia
Anchieta, que liga a região a dois grandes centros de escoamento da produção, São Paulo e Santos.
Além disso, a proximidade com os portos de Santos e São Sebastião e a existência do Rio Cubatão
para o abastecimento de água foram fatores de suma importância para a implantação das indústrias
em Cubatão.
No período de 1955 a 1975, 22 grandes indústrias fixaram-se na área e o próspero futuro
econômico de Cubatão tornou-se uma das maiores ameaças para sua história ambiental. Cubatão
apresenta um parque industrial que atua no ramo da petroquímica e da siderurgia, além de contar
com indústrias de fertilizantes e uma indústria de papel. Nas décadas de 70 e 80, Cubatão foi
considerada a cidade mais poluída do mundo, possuindo 320 fontes poluidoras e despejando no ar
quase 1000 toneladas de poluentes por dia, além de despejar indiscriminadamente outras tantas
toneladas no solo, nos rios e nos manguezais que formam o rico ecossistema da região. Esta grande
poluição fez com que Cubatão fosse considerada o “Vale da Morte”, pois a vegetação foi degradada

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e houve uma perda substancial da biodiversidade local, com diversas extinções de espécies de
peixes e aves, como o guará-vermelho, hoje, símbolo da revitalização da região.
O tipo de poluição está diretamente relacionado com os tipos de indústrias existentes no
local. Os poluentes lançados pelas indústrias chocam-se com a Serra do Mar, isso porque Cubatão
encontra-se em uma região de baixada, e os ventos que carregam estes poluentes são impedidos de
se dispersarem graças a essa barreira geológica.
A seguir, serão citados os principais poluentes existentes em Cubatão e seus efeitos sobre a
vegetação.

- Partículas: podem ser caracterizados como partículas restos da combustão incompleta dos
combustíveis fósseis, fragmentos de ferrugem dos altos fornos e partículas originadas na trituração
de rochas fosfáticas utilizadas pelas indústrias de fertilizantes. A grande presença dessas partículas
no ar gera uma turvação atmosférica que afeta a estética da região. Na vegetação, essas partículas
podem depositar-se sobre as folhas e obstruir os estômatos, impedindo, assim, a respiração, a
fotossíntese e a transpiração.

- Hidrocarbonetos: estes poluentes são lançados na atmosfera através da queima de combustíveis


como o petróleo, o carvão e o álcool. Estas substâncias químicas são extremamente instáveis e, com
a alta temperatura da atmosfera, podem sofrer reações, transformando-se em outras substâncias
químicas menos instáveis. Na vegetação, sua ação concentra-se nas regiões mais sensíveis como as
raízes, danificando-as e impedindo que a planta absorva os nutrientes do solo.

- Óxidos de nitrogênio (NOX): estes óxidos reagem com o grupo hidroxila (OH) da água das chuvas
formando o ácido nítrico ( HNO3 ) que contribui para a formação das chuvas ácidas. Esta chuva
corrói a vegetação e torna os solos ácidos, dificultando a existência de vida, pois a fauna e a flora
não conseguem se desenvolver em meio muito ácido. Para os vegetais, além de afetarem as folhas,
são inibidores da fotossíntese.

- Dióxido de Enxofre (SO2): esta substância também contribui para a chuva ácida uma vez que
H2O + SO2 -> H2SO4 , e o ácido sulfúrico é extremamente forte. Além disso, afeta diretamente a
vegetação. O dióxido de enxofre enfraquece as folhas dos vegetais, tornando-as amareladas e mais
suscetíveis às pragas. Além disso, é o maior responsável pela formação da chuva ácida que lesa as
folhas das árvores, órgão responsável pela fotossíntese, respiração, transpiração e gutação.

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Esta poluição pode afetar toda a sociedade, causando diversos problemas de saúde como,
por exemplo, os problemas respiratórios. Entretanto, o enfoque principal deste projeto é a maneira
com que a poluição atmosférica somada com a astronômica precipitação da região e com a
ocupação indevida das encostas influencia os fenômenos dos deslizamentos de terra. Vale ressaltar
que a poluição atmosférica tem fortes influências na vegetação da região. De maneira direta, esses
poluentes afetam as folhas e o caule dos vegetais sendo responsáveis pela morte das plantas,
principalmente as de grande porte, devido a maior área de exposição à toxidade. De maneira
indireta, afetam o solo, tornando-os menos ricos em nutrientes, menos oxigenados impedindo assim
a existência dos microorganismos. Além disso, os solos tornam-se mais ácidos, afetando a
vegetação que é de extrema importância para a estabilidade dos solos, pois suas raízes atuam como
fixadores e as copas das árvores impedem com que os solos sofram com os agentes climáticos.
Estes fatores, somados aos aspectos geológicos de uma região, podem acelerar processos de erosão
e de deslizamentos, fato constante na Serra do Mar.
A acidez dos solos se dá através do processo das chuvas ácidas que, quando precipitam,
levam à diminuição do seu pH. Esta alteração atua como um fator limitante do crescimento das
plantas. A diminuição dos nutrientes disponíveis nos solos se dá pelo acúmulo de poluentes, o que
limita o crescimento dos vegetais. Além disso, o sistema radicular, que absorveria nutrientes, passa
a absorver substâncias tóxicas que são responsáveis por doenças como necroses e descoloração das
folhas, além de perturbar os processos de crescimento, amadurecimento, de reprodução de
metabólicos e alteração na biomassa.
Diante dessas situações, as florestas das encostas vão adquirindo características peculiares
exemplificadas na tabela abaixo:

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Tabela 1 – Classificação da vegetação afetada por poluição. (CETESB. 1985).

Tipo de Floresta Características


Vegetação arbórea, estágio avançado de desenvolvimento, estrutura
Florestas Primárias secundária, dossel fechado e heterogêneo com altura acima de 20 metros e
com copa grande
Vegetação arbórea em estágio de desenvolvimento, dossel acima de 10
Floresta Afetada por
metros, evidência de indivíduos mortos no dossel, mais de 50% das árvores
poluição 1
com grande copa, presença de árvores mortas
Vegetação arbórea semelhante a floresta de Poluição 1, mas diferente nos
Floresta Afetada por
seguintes pontos: presença de menos de 50% de árvores com grandes
poluição 2
copas, isoladas e com presença de clareiras
Recebem também o nome de “paliteiros” e são caracterizadas por
Floresta Baixa Afetada
apresentar um dossel abaixo de 10 metros, presença de extensas clareiras e
por Poluição
solos muito pobres.

Esta degradação ambiental tem amplas implicações, pois toda a vegetação da Serra do Mar
abriga inúmeras espécies de animais que utilizam as árvores como abrigo ou alimento. Portanto, um
desaparecimento das árvores gera um forte desequilíbrio no ecossistema, acarretando na morte
destes animais. Além disso, a vegetação possui um papel fixador do solo das encostas. As raízes dos
vegetais, formando ramificações, envolvem os grãos do solo de diversas camadas a fim de retirar
água e sais minerais. A decomposição das folhas que caem dos vegetais, somada à presença de
outros compostos orgânicos, levam a formação do húmus que agrega as partículas do manto, o que
facilita a absorção da água pela superfície em detrimento de seu movimento horizontal. Vale
ressaltar que a cobertura vegetal também interfere no ciclo da água através da intercepção,
amenizando os impactos da chuva no solo e o protegendo da luz solar direta e da erosão. A erosão
ocorre quando há a remoção do material intemperizado do solo por agentes naturais em movimento
como por exemplo a água e o vento.
A degradação da cobertura vegetal resulta na decomposição das raízes e na diminuição da
evapotranspiração, o que gera um acúmulo exagerado da água capilar, ou seja, aquela disponível no
solo para ser absorvida pelos vegetais. Esta água em excesso percola pelo solo até atingir os
lençóis freáticos, aumentando seu volume e deixando o solo mais sucetível aos deslocamentos de
massas, tais como os deslizamentos. Deslizamentos são processos marcantes na evolução das
encostas, caracterizando-se por movimentos rápidos, limites laterais e profundidade bem definidos.
Podem movimentar solo, solo e rocha ou apenas rocha.

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Os deslizamentos são fenômenos naturais na Serra do Mar devido à presença de um relevo
extremamente íngreme, o que favorece o escoamento da água e o conseqüente escorregamento do
manto, gerando um quadro de instabilidade geológica. A intensidade de precipitação também tem
influência nos deslizamentos naturais. Cubatão apresenta um dos índices pluviométricos mais altos
do Brasil, sendo o período de dezembro a abril o mais chuvoso, com uma média de 3500 mm/ano.
Esta grande quantidade de chuvas ocorre devido ao relevo local, e são conhecidas como chuvas
orográficas. A massa de ar úmida choca-se com essa barreira geológica e eleva-se encontrando
camadas mais frias que condensam o vapor de água. Além disso, os núcleos de condensação
(poeira, cinza e foligem), abundantes na região, são responsáveis por estimular a agregação de
pequenas partículas de água, gerando gotículas maiores que precipitam. A ação das águas pluviais é
de suma importância no fenômeno dos deslizamentos, pois os solos expostos recebem a chuva com
uma maior intensidade, intensificando o processo erosivo. Somado a este fato, a infiltração dessas
águas no solo, através de trincas e fissuras, pode diminuir sua resistência, provocando a ruptura de
cortes e aterros. Entretanto, a ação humana é fundamental para a intensificação dos deslizamentos.
Um tipo de deslizamento comum em encostas ocupadas é o escorregamento induzido, ou
seja, aquele gerado pela ação do homem. Este é gerado pelas construções de estradas e pela
ocupação indevida das encostas. As construções das estradas na região de Cubatão, como as das
Vias Anchieta e Imigrantes, iniciadas em 1939 e 1971, respectivamente, trouxeram diversos
impactos para a estabilidade das encostas, como desmatamento, lançamento de material escavado
nas encostas, preparação de emboques e desemboques de túneis e construção de canteiros de obra.
Na época destas construções, as encostas foram intensa e extremamente escavadas e
desestabilizadas, o que iniciou o processo de erosão dos solos expostos, criando condições
favoráveis para os escorregamentos. A ocupação das encostas iniciou-se com a construção da Via
Anchieta, onde os primeiros estabelecimentos eram acampamentos de obra e posteriormente
tornaram-se moradias. A partir do momento em que Cubatão tornou-se um pólo Industrial, não
possuindo um planejamento habitacional, a população passou a ocupar intensamente as encostas.
Os bairros que se encontram nas encostas são denominados bairros de Cota. Estes bairros recebem
este nome por indicarem sua altitude em relação ao mar.
A ocupação indevida destes locais gera um grande desmatamento, expondo os solos e
tornando-os suscetíveis aos fenômenos que geram os deslizamentos, como os citados anteriormente.
Dados da Prefeitura de Cubatão mostram um aumento de 4.000 pessoas nas encostas no período
entre 2000 à 2005, porém os moradores não concordam com este número e estimam que houve um
aumento de 14.000. Diante desta situação, os moradores ficam constantemente expostos aos riscos
de desabamentos e soterramentos, principalmente nos períodos de chuva. (Fig. 2)

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Atualmente, a maior causa de deslizamentos de terra é a ocupação das encostas, visto que os
bairros cota crescem cada dia mais e que a poluição atmosférica, por estar mais controlada, deixou
de ser agente principal. A presença de moradias nas encostas é um grande agravante dos
deslizamentos, pois apresenta certas características como uma ocupação desordenada sem nenhum
critério técnico, desmatamento, cortes de talude, lançamento de águas servidas, vazamento em
fossas sanitárias, cultivo inadequado de certas plantas como a bananeira que aumenta a umidade do
solo e lançamento inadequado de lixo (Defesa Civil).
Para avaliar a situação ambiental das encostas de Cubatão gerada pela poluição das
indústrias locais que afetam a vegetação e as conseqüências desta situação nos fenômenos de
deslizamentos de terra, demos ênfase ao que se encontra em destaque no diagrama de fluxo abaixo
(Fig. 1). Levamos em consideração também, outros fatores ilustrados, porém, de menor relevância
para este projeto de pesquisa.

Qualidade
Relevo e Geologia Precipitação
do Solo

Poluição Vegetação Deslizamentos

Desmatamento
Industrialização Ocupação
Estradas
Indevida
das Encostas
Mão de Obra

Fig 1- Diagrama de Fluxo. Os temas das caixas duplas e cinzas representam o caminho principal da pesquisa. As caixas
simples e brancas apresentam temas relevantes, mas que serão tratados de maneira secundária.

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Para reverter a intensa degradação de Cubatão, a prefeitura em união com a Cetesb iniciou
um plano de recuperação de meio ambiente, controlando as 320 fontes poluidoras primárias. Além
disso, iniciou-se um processo de recuperação de áreas degradadas das encostas que já encobriu
grande parte dessas áreas. Alguns indícios de que Cubatão tem recuperado seu meio ambiente são
os guarás vermelhos, que foram consideradas aves em extinção, mas voltaram.O reconhecimento
por esse trabalho foi coroado durante a ECO 92, pela ONU (Organização das Nações Unidas), que
outorgou o Selo Verde à Cubatão, como Cidade-Símbolo da Ecologia e Exemplo Mundial de
Recuperação Ambiental. (TORRES, F.R.2002.)

Justificativa

Os deslizamentos nas encostas de Cubatão são constantes e ameaçam a população dos


Bairros Cota. A ocupação destes bairros deu-se no período de construção da via Anchieta e
agravou-se com a expansão do pólo industrial de Cubatão, sem planejamento de moradia para a
população.
Este problema é tão constante que, nos períodos mais chuvosos, a população fica em estado
de alerta, pois os deslizamentos podem ocorrer a qualquer momento. Assim, Policiais da Defesa
Civil são treinados para analisar regiões de riscos e orientar os moradores a se retirarem dos locais
ameaçados. É comum que, em um único dia de chuva, diversas casas sejam soterradas ou tenham
suas estruturas abaladas, fazendo com que várias famílias, além de perderem suas moradias, percam
seus pertences, como roupas e mobílias.
Estamos diante de um problema de difícil solução, pois vários fatores que influenciam a
formação dos deslizamentos são impossíveis de serem manipulados, como os climáticos e os
geológicos.

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Objetivos

Este projeto tem como objetivo testar a hipótese de que modificações antrópicas na estrutura
vegetal das encostas da Serra do Mar em Cubatão, somada aos agentes climáticos, têm
conseqüências para a estabilidade do solo, intensificando os processos de deslizamentos. Esta
hipótese foi testada através de dados históricos de literatura e de órgãos fiscalizadores, e envolve os
seguintes componentes:
1. A precipitação é um fator decisivo para os fenômenos de deslizamentos, visto que a água
aumenta o grau de saturação do solo, diminuindo sua resistência e desenvolve pressões
hidrostáticas, através do preenchimento de vazios como: trincas, juntas etc.
2. A poluição atmosférica tem conseqüências negativas na vegetação das encostas, o que
favorece a ocorrência dos deslizamentos de terra.
Caso esta hipótese esteja correta, podemos fazer as seguintes previsões:
1. Quanto maior for o índice pluviométrico no período chuvoso, maior será o número de
deslizamentos.
2. Os anos em que a poluição atmosférica foi maior terão sido acompanhados de maior número
de deslizamentos.

Metodologia

Área de Estudo

Cubatão localiza-se a 57 Km da capital de São Paulo e a 16 Km de Santos ou São Vicente,


na região da Baixada Santista, ao pé da Serra do Mar (Fig. 2). Possui uma área de 148Km2 no
paralelo 23°53’30’’ de latitude Sul, e no meridiano 43°25’30’’ de longitude oeste de Greenwich.
Apresenta uma população estimada de 119.068 habitantes, segundo dados do IBGE de 2005.
Faz fronteiras ao norte com os municípios de São Bernardo e Santo André, e a leste ao sul
com Santos e São Vicente.
O relevo de Cubatão está dividido entre a área Serrana e a de Planícies. A região serrana é
formada por escarpas (grandes blocos de rochas cristalinas originadas de falhas tectônicas) e
piemontês (extensa planície de aluvionamento fluvial formada pelos rios: Cubatão, Mogi, e Rios
das Pedras). As planícies são constituídas de depósitos marinhos (mangues), fluviais (brejo) ou por

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antigos depósitos de areia de origem marítima. Nessas planícies encontram-se também Morros
Isolados que no passado constituíam ilhas e que são compostos por rochas cristalinas.
A altitude máxima atingida na Serra do Mar na região de Cubatão é de 700 m, enquanto que
a mínima na planície é de 3 m.
Os solos da região das encostas que recobrem as rochas pré-cambrianas são classificados
como solos coluviais. Estes apresentam características areno-silte-argilosos com uma coloração
variando do marrom médio ao marrom acinzentado, e possuem espessura inferior a 1,5m. Estes
solos apresentam grande importância na estabilidade superficial das encostas. Outros tipos de solos
existentes na região de Cubatão são: Latossolos, Gleyssolos, Podzólicos, Cambissolos, Litossolos e
Solos Aluviais.
O município constituía-se, originalmente, por 91 Km² de Mata Atlântica, 24 Km² de Mata de
Restinga, 29 Km² de manguezais e 4 Km² de corpos de água. A vegetação predominante é
conhecida como Floresta Tropical Fluvial Atlântica que apresenta elevada umidade, grande
diversidade de espécies, plantas latifoliadas e ambiente interno sombreado e abafado. Destacam-se
entre as árvores: embaúba-preta, araúba, amarelinho, quaresmeira, trepadeiras, as ervas e as epífitas.
Apesar de estar situada nos limites entre as Zonas Tropical e Temperada, Cubatão apresenta
clima Tropical Úmido, com altos índices pluviométricos, umidade relativa do ar acima de 85% e
temperatura média anual de 23°C. O período mais chuvoso ocorre entre outubro e março, e os
menos chuvosos entre Junho e Agosto. A região é conhecida por apresentar um dos maiores índices
de pluviosidade do Brasil, com uma média anual de 3.500mm/ano.
Cubatão é um importante pólo industrial, apresentando indústrias que atuam no ramo da
Petroquímica, Siderurgia, Fertilizantes, além de existir na região uma indústria de papel.

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Fig 2 – Mapa da área estudada

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Métodos

Buscamos na literatura e nos arquivos de órgãos competentes, como a CETESB (Companhia


de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e a Defesa Civil de Cubatão, além de em indústrias
locais, dados referentes ao período chuvoso sobre:
• a concentração de fluoreto
• o número de escorregamentos nas encostas da Serra do Mar em Cubatão
• a pluviosidade
Levamos em consideração também a ocupação indevida das encostas, que podem
influenciar a probabilidade de deslizamentos.

Inicialmente, buscamos dados anuais desde 1950 até o presente. No entanto, apesar das
buscas intensas obtivemos dados de 1998 ate 2006, estes dados foram consultados nos períodos
chuvosos (dezembro a abril). Vale ressaltar que apenas estes períodos foram analisados, pois a
Defesa Civil de Cubatão contém apenas dados de deslizamentos referentes aos anos estudados.
Além disso, fizemos previsões levando em consideração o período em que os dados não foram
encontrados e os conhecimentos históricos referentes a tal. Por exemplo, como não encontramos
dados sobre o número de deslizamentos nas décadas de 70 e 80, consideramos o fato de que,
nesta época, a poluição atmosférica era intensa e que, provavelmente, o número de
deslizamentos foi grande.

Tendo todas essas informações, testamos a hipótese de que a poluição realmente foi um fator
de degradação da vegetação e que há uma relação entre a degradação e a grande quantidade de
escorregamentos que ocorrem nas encostas.

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Resultados

Para testar a hipótese de que modificações antrópicas na estrutura vegetal das encostas da
Serra do Mar em Cubatão, somada aos agentes climáticos, têm conseqüências para a estabilidade do
solo, intensificando os processos de deslizamentos, foram analisados os seguintes dados referentes
ao período chuvoso (dezembro a março) em Cubatão:

Tabela 2 – Dados de deslizamentos, precipitação e concentração de fluoretos nos


período chuvosos. (Defesa Civil de Cubatão)
Período Chuvoso Precipitação Concentração de
(Dezembro a Deslizamentos (mm/período fluoreto (ton/período
Março) chuvoso) chuvoso)
1998-1999 13 1457 21,88
1999-2000 28 1781 23,33
2000-2001 2 867 23,33
2001-2002 2 897 16,67
2002-2003 9 905 66,67
2003-2004 30 1852 ___
2004-2005 12 1170 ___
2005-2006 24 1425 ___

A seguir, analisaremos as relações entre deslizamentos X poluição e deslizamentos X


precipitação ilustradas nos gráficos abaixo.

 Deslizamentos X Precipitação

Gráfico 1 Gráfico 2

35 2000
Precipitação (mm)

30
Deslizamentos

1500
25
20 1000
15
10 500
5
0 0
1998- 1999- 2000- 2001- 2002- 2003- 2004- 2005- 1998- 1999- 2000- 2001- 2002- 2003- 2004- 2005-
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Período Chuvoso ( Dezem bro a Março) Período Chuvoso (Dezem bro a Março)

Gráfico 1 – número de deslizamentos na Serra do Mar Gráfico 2 – precipitação na Serra do Mar em Cubatão

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Gráfico 3

35
30
Deslizamentos

25
20
15
10
5
0
0 500 1000 1500 2000
Precipitação (mm/período chuvoso)

Gráfico 3 – número de deslizamentos na Serra do Mar em Cubatão em função da precipiatação (1998-2006).

Analisando os gráficos 1, 2 e 3, podemos constatar que a pluviosidade apresenta relação


direta com a quantidade de deslizamentos. Os períodos chuvosos de 1999-2000, 2003-2004 e 2005-
2006, que tiveram maiores índices pluviométricos, foram acompanhados de um maior número de
deslizamentos. Pode-se perceber, no gráfico 1, que estes anos apresentam grandes números de
deslizamentos representados pelos picos do gráfico. No gráfico 2, que representa a pluviosidade, os
picos se sobrepõem com os do gráfico 1. Da mesma maneira, pode-se observar que os períodos
chuvosos 2000-2001, 2001-2002, 2002-2003, apresentando uma baixa pluviosidade, foram
acompanhados com um menor número de deslizamentos. Estes são fortes indícios de que
pluviosidade e número de deslizamentos se relacionam. Esta relação é nitidamente ilustrada pelo
gráfico 3, no qual podemos observar uma distribuição linear positiva, ou seja, quanto maior o índice
pluviométrico, maior o número de deslizamentos.

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 Deslizamentos X Poluição

Gráfico 1 Gráfico 4

35 70,00

Fluoreto (ton/período
30 60,00

Deslizamentos
25 50,00

chuvoso)
20 40,00
15 30,00
10 20,00
5 10,00
0 0,00
1998- 1999- 2000- 2001- 2002- 2003- 2004- 2005- 1998- 1999- 2000- 2001- 2002-
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 1999 2000 2001 2002 2003
Período Chuvoso ( Dezem bro a Março) Período Chuvoso (Dezem bro a Março)

Gráfico 1 - número de deslizamentos na Serra do Mar Gráfico 4 – concentração de fluoretos em função na Serra
de Cubatão em função dos períodos chuvosos (1998-2006) do Mar em Cubatão em função dos períodos chuvosos
(1998-2006)

Gráfico 5

35
30
Deslizamentos

25
20
15
10
5
0
0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00
Concentração de Fluoretos (ton/período chuvoso)

Gráfico 5 – número de deslizamentos na Serra do Mar em Cubatão em função da concentração de fluoretos (1998-2006)

Analisando os gráficos 1, 4 e 5, podemos observar que não há claras relações entre


concentração de fluoreto e número de deslizamentos. No gráfico 4, observa-se que entre 1998 e
2002, a concentração de fluoreto é praticamente constante. Entretanto, de acordo com o gráfico 1,
estes anos são acompanhados por grande variância no número de deslizamentos.

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Discussão

Atualmente, a maior causa de deslizamentos é a ocupação indevida das encostas, visto que a
emissão de poluentes está na melhor fase de controle da época industrial de Cubatão (Defesa Civil
de Cubatão). Como a poluição atmosférica tem um efeito a longo prazo sobre a vegetação e no
período analisado houve programas de reflorestamento das encostas, podemos dizer que o período
estudado é insuficiente para avaliar precisamente as relações entre poluição atmosférica e
deslizamentos de terra. Salientamos que as épocas anteriores não foram estudadas pela falta de
dados de deslizamentos.
A seguir, uma figura que ilustra os estágios de degradação, ao longo do tempo, na
vegetação.

A ausência de uma nítida relação entre concentração de fluoreto e deslizamento de terra no


período estudado é ilustrada pelo gráfico 5, no qual podemos constatar que não existe um aumento
concomitante entre concentração de fluoreto e número de deslizamentos.

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Apesar de não possuirmos dados de deslizamentos e concentração de fluoretos referentes às
décadas de 70 e 80 em Cubatão, e partindo das análises anteriores de que a precipitação está
relacionada com os deslizamentos, podemos tirar algumas conclusões do gráfico a seguir:

Gráfico 6

1800
Precipitação (mm)

1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
1

9
97

97

97

97

97

98

98

98

98

98
-1

-1

-1

-1

-1

-1

-1

-1

-1

-1
70

72

74

76

78

80

82

84

86

88
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19
Período Chuvoso (Dezembro a Março)

Gráfico 6 - – índice pluviométrico nos períodos chuvosos

Os períodos de 1975-1976, 1987-1988 e 1988-1989 devem ter sido marcados por uma
elevada quantidade de deslizamentos, uma vez que, segundo análise dos gráficos 1, 2 e 3, as chuvas
são um fator determinante para a ocorrência dos deslizamentos de terra. Além disso, considerando
que nesta época Cubatão foi considerada a cidade mais poluída do mundo e que a poluição
atmosférica tem um efeito negativo sobre a vegetação, podemos supor que a maior causa dos
deslizamentos ocorridos nessa época era a alta pluviosidade somada com a degradação vegetal.
Vale ressaltar que nesta época existia uma quantidade muito menor de ocupação indevida nas
encostas e que, portanto, este não devia ser o agente principal causador de deslizamentos como se
verifica nos dias de hoje.
As moradias das encostas de Cubatão são causadoras dos deslizamentos de terra e também
sofrem grandes conseqüências com esses fenômenos. As pessoas que moram nessa região estão
constantemente ameaçadas pelos deslizamentos, por estes gerarem soterramento das moradias ou
mesmo a morte das pessoas. (CETESB, 1985). A seguir, uma tabela com a população dos bairros
cota e o número de pessoas em risco no ano de 2000, último ano em que foi feita a contagem.

19
Tabela 3 – População nos bairros cota. (Desenvolvimento Econômico – Aplan e Defesa Civil de Cubatão)
Áreas de risco em População em nº de: Nº de pessoas em
encosta Famílias Pessoas risco
Cota 95/100 858 2982 324
Cota 200 1711 5971 504
Cota 400 191 682 80
Cota 500 1 5 sem risco

Estas situações de risco são determinadas pela quantidade de habitações nas encostas, visto
que estas são um dos principais causadores dos deslizamentos de terra atualmente. Ou seja, quanto
maior for o número de famílias e/ou pessoas nas encostas, maior serão as chances de ocorrerem
deslizamentos.

Conclusões

Durante a análise dos dados, pudemos corroborar a seguintes previsão feita anteriormente:
1. Quanto maior for o índice pluviométrico no período chuvoso, maior será o número de
deslizamentos.
Esta previsão foi confirmada, pois, de acordo com a análise dos gráficos 1, 2 e 3, os períodos
chuvosos com uma maior pluviosidade foram marcados por um maior número de
deslizamentos.
Todavia, não pudemos corroborar a seguinte previsão:
2. Os anos em que a poluição atmosférica foi maior terão sido acompanhados de maior número
de deslizamentos.
Esta previsão não foi corroborada. Porém, de acordo com dados de literatura da CETESB e
da Defesa Civil de Cubatão, a poluição tem efeitos negativos sobre a vegetação que possui papel
estabilizador dos solos. Além disso, a poluição não apresenta efeito imediato sobre a vegetação.
Com isso, podemos dizer que os dados obtidos são insuficientes, pois abrangem um curto período
de tempo.

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Literatura Citada

- ALONSO, C.D. 1992. A evolução da qualidade do ar em Cubatão. Química Nova. Vol.15.


Nº 02
- BRANCO, S.M. 1984. O fenômeno Cubatão na visão do ecólogo Samuel M. Branco.
CETESB.
- CETESB. 1984 à 2003. Qualidade do ar no Estado de São Paulo.
- CETESB. 1985. Baixada Santista - Carta do meio ambiente e de sua dinâmica.
-CETESB. 1994. Implantação de bosques experimentais visando o aumento da biodiversidade
da Mata Atlântica em Cubatão.
- CETESB. www.cetesb.sp.gov.br/
- CUNHA, M.A. 1991. Ocupação das encostas: manual. Ed. IPT.
- DEFESA CIVIL DE CUBATÃO
- FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE SANTOS.1990. Estudo epidemiológico da
asma brônquica, rinite e bronquite crônica na cidade de Cubatão em dói períodos 1982 e
1988.
- GUTBERLET, J.1996. Cubatão, desenvolvimento, exclusão social, degradação ambiental.
Ed. Edusp/FAPESP.
- IBGE. www.ibge.gov.br/
- JAPAN INTERNATIONAL COORPORATION AGENCY. 1991. The study on the disaster
prevention and restoration project in Serra do Mar, Cubatão Region, State of São Paulo
- LEITÃO FILHO, H.F.1993. Ecologia da Mata Atlântica em Cubatão. Ed.UNESP
-MACHADO FILHO, J.G. 2000. Estabilidade de condicionantes geológicos,
geomorfológicos e estruturais, num trecho na serra de Cubatão. Dissertação de mestrado.
- NALON, M.A. 2000. Mapeamento de risco de escorregamento na região de Cubatão, SP.
Dissertação de mestrado.
- PREFEITURA DE CUBATÃO. www.cubatao.sp.gov.br/
- SANTOS, A.R. 2004. A grande barreira da Serra do Mar. Ed. O Nome da Rosa.
- SECRETARIA DO ESTADO DO MEIO AMBIENTE. 1990. A Serra do Mar : Degradação
e recuperação.
- SECRETARIA DO ESTADO DO MEIO AMBIENTE. A poluição atmosférica e os danos a
vegetação dos trópicos – A Serra do Mar como exemplo.
- TORRES, F.R..2002. O que você precisa saber sobre Cubatão. Ed. Design & Print.

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