Sunteți pe pagina 1din 97

 

DIREITOS REAIS 
 
1) Introdução 
 
● Direitos reais ou direitos das coisas? 
 
direitos  reais  ​
Por  que  existe  a  divergência  de  nomenclatura  entre  ​ e ​
direitos  das 
coisas​

A  questão  principal  é  a   análise  do  objeto  de  estudo  deste  sub­ramo  do  direito 
civil.Os  autores  consideram  que  os   direitos  reais  possuem  como  objeto  as  coisas 
materiais,  separando­os  da  propriedade  intelectual,  que  é  um  direito  imaterial.  Quando 
se  fala  em  direitos  reais,  fala­se  tradicionalmente  no  direito  que  o  homem  tem sobre as 
coisas  materialmente  consideradas.  Sendo  assim,  considera­se  que  direito   real  é  o 
direito  que  o homem tem sobre  as coisas materiais. O centro da discussão, portanto, está 
ligado à materialidade do objeto. 
 
Num  primeiro  momento,  trabalharemos  com  os  direitos  de  posse  e  de 
propriedade.  Posteriormente  trabalharemos  com  direitos  reais  de  gozo  ou  fruição  e 
direitos  reais  de  garantia.  Estes  são  direitos  que  desempenham  um  papel  de garantia de 
crédito, como o penhor e a hipoteca. 
 
● Direitos pessoais x Direitos reais 
 
Qual  a  diferença  entre  um  direito  real  e  um  direito  obrigacional (pessoal)? Uma 
das  diferenças  diz  respeito  à  ​
relatividade  dos  efeitos  em  relação   aos  direitos 
obrigacionais.  ​ ,  possuem  ​
Os  direitos  reais  são   oponíveis  a  todos​ erga  omnes​
eficácia   ​ , 
enquanto  os  direitos  pessoais  só  podem  ser  exigidos  daqueles  que  fazem  parte  da 
relação.  O  conteúdo  da  obrigação  só  pode  ser  exigido  das  partes  da  relação.  Os  efeitos 
são  relativos  às  pessoas  que  a  constituem.  No  caso  dos  direitos  reais  a  obrigação  pode 
ser  exigida  indistintamente.  Todos  estariam  obrigados  a  essa  relação.  ​
Ex​
.: todos devem 
respeitar  a  condição  de proprietário de um bem referente  a uma pessoa. Os direitos reais 

1
possuem  um  conteúdo  absoluto,  enquanto  os  direitos  pessoais   possuem   um  conteúdo 
relativo. 
Outra  diferença  é  que  nos  direitos  pessoais,  para  se  alcançar  o  bem  jurídico,  é 
necessária  a  colaboração  do  outro.  Uma  das  partes  não  tem  o  poder  imediato  sobre  o 
bem  jurídico  pretendido.  Nos   ​
direitos  reais​
,  o  titular  do  direito  tem um poder imediato 
sobre  a  coisa,  sobre  o  bem  que  titulariza, de modo que ele ​
não precisa da colaboração 
de  ninguém  para  obter  o  bem  jurídico  pretendido.  ​
O  bem  jurídico  pretendido  
independe da colaboração da outra parte.  
Em  algumas  situações,  alguns  direitos  reais  necessitam  da  colaboração  do outro  
para  que  seu  titular  obtenha  o  bem  jurídico  pretendido.​
Ex​
.:  na  hipoteca,  a  pessoa  é 
titular  de  um  direito  real   (credor  – banco), porém, o devedor continua morando na casa, 
ou  seja,  o titular do direito real de hipoteca precisa da colaboração do outro para exercer 
o  seu  direito.  No momento da venda da  casa, o banco, titular, precisa da contribuição da 
outra parte.  
 
2) Características dos Direitos reais 
 
Todas  as  características  em  geral  apresentam  alguma   imperfeição,  o  que mostra 
a  necessidade   de  uma  visão  crítica  sobre  elas.  Não  obstante,  elas  possuem  um 
importante papel didático na compreensão inicial do objeto. 
Cumpre  destacar  quehoje  não  se  visualiza  mais  uma  separação  estanque  entre 
direito  obrigacional  e  direito  real,  haja  vista  que  é  possível,  por  exemplo,   haver  a 
cooperação  (obrigação  pessoal)  entre  as  duas  partes   para  que uma tenha seu direito real 
integralizado. 
 
a) Poder imediato 
✓ Aderência 
✓ Sujeito Passivo Universal 
 
A  primeira  característica  dos  direitos  reais  é  o  ​
poder  imediato​
.Como  titular  do 
direito  real,  o  proprietário  tem  um  poder  imediato  sobre  a  coisa.  É  ele  que  detém  o 
direito real mais amplo em relação a todos os outros.  

2
A  consequência  do  poder  imediato  é  a  ​
aderência  ​
do  direito  real  à  coisa,  de 
modo  que  aquele  que  possui  o  direito  real  pode  exercer  o poder imediato sobre a coisa. 
Em  virtude  disso,  o  dever  que  as  pessoas  têm  de  respeitar  a  condição  do  titular   do  
direito  real  permanece  sobre  a  coisa, independentemente de quem a detenha.Quem quer 
que  detenha  essa   coisa  continua  tendo  que  observar  a condição jurídica de titular. Onde 
quer que a coisa vá deve esse direito ser observado. 
Ex​
.: eu posso emprestar o meu telefone, mas quem quer eventualmente detenha 
o bem permanece na condição de devedor de respeito a minha posição de titular, isso 
porque o vínculo adere à coisa.  
 
Do  outro  ladotem­se  a  condição  de  ​
sujeito  passivo  universal​
.  No  caso  dos 
direitos  reais,  toda  a  coletividade deve respeitar a condição de titular do direito. Pode­se 
opor  a  condição  de  titular  do  direito  à  coletividade,  de  maneira  indistinta.  Deve  a 
coletividade respeitar essa condição de titular do direito real. 
 
Alguns  autores,  por  conta  dessa  relação  intensa  entre  a  coisa   e  o  direito  real, 
defendem  que  a  relação  jurídica  de  direito  real  é  uma  relação  que  se  constitui  entre   o  
titular  e  o  bem  (teoria  realista).  A  estrutura  da  relação  jurídica  seria  angular  entre  o 
titular  do  direito  e  a  coisa,  isso pela intensidade desse vínculo. Isso seria possível? Não, 
porque  a  relação  jurídica  é  sempre  entre  pessoas  (teoria  personalista),  não  podendo  ter 
em um dos polos da relação uma coisa.  
Se  a  relação  é  sempre  entre  pessoas,  quem  são  as  pessoas  na  relação jurídica de 
direito  real?  Na   relação  jurídica  de  direito  real  opolo  passivo  é  ocupado  pelo  ​
sujeito 
,  representado  pela  ​
passivo  universal​ coletividade​
.  Assim,  a  coletividade  tem  a 
obrigação  de  respeitar  a  condição  de  titular  do  direito  real.  Ninguém  tem  o  direito  de 
violar o conteúdo dessa titularidade. 
É  possível  falar  que  nos  ​
direitos  obrigacionais  a  coletividade  também  deve 
respeitar  a  condição  de  titular  do  direito?  Tradicionalmente,  pela  teoria  clássica,  não 
seria  possível  responsabilizar  um terceiro pelo não cumprimento do contrato, porque ele 
não  faz  parte  da  relação  jurídica,  não  tendo  responsabilidade  nenhuma  quanto  ao  bom 
andamento  da  relação.  Mas  hoje  essa  teoria  clássica  vem  sendo  revista  e,  assim,  a 
distância  entre  direitos  reais  e  obrigacionais  vem  sendo  diminuída  quanto  a  esse 

3
aspecto.  Desta  feita,  se  pensarmos  bem,  podemos  reconhecer  também  esse  aspecto  de 
sujeito  passivo  universal  para  os  direitos  obrigacionais.  Os  terceiros possuem um dever 
de  respeito  para  com  a  relação  contratual,  podendo  elesserem  responsabilizados  em 
determinados situações, chamada de ​
tutela externa do crédito. 
 
 
b) Caráter Absoluto 
✓ Oponibilidade ​
erga omnes 
erga omnes ​
✓ Eficácia ​ x Relatividade dos efeitos 
 
Se a coletividade está na condição de sujeito passivo universal, isso significa que 
o direito real tem caráter absoluto, tendo a coletividade que respeitá­los.  
O  caráter  absoluto  dos   direitos   reais,  assim,  diz  respeito  à  ​
eficácia​
erga 
omnes​
desses  direitos.  Eficácia  é  sinônimo  de  oponibilidade.  Os  direitos  reais  são 
oponíveis  contra  todas  as  pessoas,  indistintamente.  Todos  devem  respeitar  o  direito  do 
titular sobre a coisa. 
erga  omnes ​
Ao  contrário  da  eficácia  ​ dos direito reais, tem­se a ​
relatividade dos 
efeitos​
dos  direitos  obrigacionais,  ou  seja,  somente as pessoas que participam da relação 
obrigacional  previamente  pactuada  é  que  devem  respeitá­la.  Em  outras  palavras,  o 
direito obrigacional gera efeitos apenas entre as partes integrantes do negócio jurídico.  
 
Essa  tradicional  condição  de  absoluto  ou  relativo  vem  a  cada  dia  sendo   mais 
contestada.  
 
➢ Ambulatoriedade do Dever Jurídico 
 
A  ​
ambulatoriedade  está  ligada  à  aderência.  O  direito  real  adere  à  coisa  e 
permanece  com  ela  onde  quer  que  ela  esteja.  ​
Ex​
.: perdi o celular, mas continuo sendo o 
proprietário.  Assim,  qualquer  um  que  encontrar  o  telefone  deverá   respeitar  a  minha 
condição  de  proprietário.  É  um  dever  jurídico  que  deve  ser  observado  em  qualquer 
situação. 
 

4
c) Sequela 
 
Se  o  direito  real  adere  a  coisa  de  forma  permanente  e  ambulatória  (porque 
continua com a coisa), o proprietário pode retomar a coisa através do direito de sequela. 
Sequela​
,  então,  é  o  direito  que  tem  o  titular  do  direito  real  de  retomar  a 
coisa  que  se  encontra  nas  mãos  de  quem  quer  que  injustamente  a  detenha​
.  A 
sequela permite que o titular do direito persiga a coisa, retome o bem. 
Ex​
.  hipoteca  –  o  detentor  hipotecário  não  perde  a  detenção  do  imóvel  antes  do 
vencimento  da  dívida.  Posso  também,  enquanto  proprietário,  vender  a  coisa, mas tenho 
que  informar  da  hipoteca  e  do  risco de perder a casa para o banco, caso a dívida não for 
paga, isso em razão do direito de sequela do banco. 
 
d) Publicidade 
✓ Racionalizada> registro 
✓ Espontânea 
 
Outra  característica  é  a  ​
publicidade.  ​
Ela  pode  ser  ​
espontânea  ​
ou 
racionalizada​

Espontânea  é  a  que  surge  de  maneira  ​
facilmente  inteligível​
.  O  titular 
espontaneamente  demonstra  o  poder  que  detém  sobre  a  coisa.  Torna  visível  o  poder 
sobre  o  bem.  Ex.  se  eu  estou  dirigindo  meu  carro,  demonstro  de  forma  espontânea  que 
eu tenho o poder sobre ele. 
De  outro  lado,  a  publicidade  é  considerada  ​
racionalizada  quando  ocorre  o 
registro​
,  que  é   um  mecanismo  de  geração  de  publicidade  de   forma  sistematizada, 
racionalizada. 
Sempre  que  falamos  de  direitos  reais,  teremos  o  registro  como  referência, 
porque  os  direitos  reais  dependem  dele.  Ex.:  posso  ter  o  poder  sobre determinado bem, 
mas essa minha relação não necessariamente reflete um direito real.  
Deste  modo,  os  direitos  reais  dependem  do  registro  para  serem  considerados 
direitos  reais,  sendo  que  a  simples apreensão não serve para determinar quem é o titular 
do  direito  real.O  ​
registro  é  fundamental  para  a  caracterização  dos  direitos  reais,  uma 

5
vez  que  somente  ele  gera  a  ​ erga  omnes​
oponibilidade  ​ ,  de  modo  que  todos 
indistintamente tenham o dever de respeitar o direito real. 
 
e) Especialidade 
 
Fala­se  ainda  na  ​
especialidade  como  característica  dos  direitos  reais.  O   objeto  
do  direito  real  precisa  ser  muito  bem  delimitado,  deve  ser  precisado  com  exatidão.  A 
especialidade  é,  pois,  a  qualificação  precisa  do  objeto   sobre  o  qual  a  obrigação  se 
constitui. Isso é importante para que a coletividade saiba o que ela deve respeitar. 
 
 
 
f) Preferência 
✓ “prioridade no tempo, prioridade no direito”. 
✓ Crédito com garantia real x quirografário 
 
Tem­se  ainda  a  ​
preferência.  ​
Aquele  que  registra  primeiro  tem  o  direito  sobre  a 
coisa  (prioridade  no  tempo,  prioridade  no  direito).  A  prioridade  do  registro  é  que 
determina a ordem de preferência. 
Outro  aspecto  diz  respeito   à  superioridade  do  ​
crédito  com  garantia  real   em 
contraposição  aos  ​
credores  quirografários  (só  possuem  a  garantia  pessoal).  Porque  é 
interessante  ter  uma  garantia  real?  É  interessante  ter  uma  garantia  real  (ex.:  hipoteca) 
porque  ela  gera  segurança  quanto  ao  pagamento  da   dívida,   pois  a  garantia  real  incide 
sobre  um  bem  determinado  dentro  do  patrimônio  do  sujeito.  Ex.  casa.  O  direito  está 
vinculado  a  um  bem  determinado  e  essa  condição  gera  uma  preferência  no  que  diz 
respeito  à  execução  e  ao  pagamento  dos  credores.  Os  credores  que  possuem  uma 
garantia  real   tem  preferência  em  relação  aos  credores  que  não  a  possuem(credores 
quirografários).  
 
g) Taxatividade legal e Tipicidade dos direitos reais 
 
Outras características são a ​
tipicidade ​
e a​
 taxatividade​
.  

6
Os  direitos  reais  são  taxativos,  apenas  são  direitos  reais  aqueles  previstos 
expressamente  pelo  legislador  (em  leis  esparsas  e,  principalmente,  no  CC).  Tem­se  um 
elenco  fechado de  direitos reais.Isso significa que os particulares  não possuem liberdade 
para  criar  novas  figuras,  de  acordo  com  sua  vontade.É  o  chamado  sistema 
numerusclausus. 
Os  direitos  reais  possuem  ainda  um  conteúdo  típico,  conteúdo  que  é  delimitado 
pelo  legislador.  As  figuras  criadas  pelo  legislador  acabam  por  suprir  a  necessidade 
social  em  torno  da  criação  dos  direitos  reais.  Ele  estabelece  um  conteúdo  típico,  mas 
isso não significa o esgotamento da possibilidade de atuação da autonomia privada. 
 
 
 
 
h) Perpetuidade 
 
Última característica dos direitos reais: a​
perpetuidade​
. São perpétuos no sentido 
de  que  você  não   perde  o  direito  em  função  da  passagem do tempo.Os direitos reais não 
se extinguem pelo não uso.  
Essa  característica,  no  entanto,  não  é absoluta. Há casos sim nos quais o não uso 
do  direito  real  acarreta  a  sua  extinção. ​
Ex​
.: se a pessoa não utilizar a servidão a que tem 
direito  pode  perdê­la,  uma  vez  que  aquele  que  possui  o  terreno  com  o  gravame  da 
servidão tem uma desvalorização no valor do imóvel.  
 
Obs​
.: Direito de propriedade 
 
O  direito  de  propriedade  é  o  direito  real  máximo,  mais  amplo.  Ele  é  a  principal 
referência,  pois  todos  os   outros   representam  parcelas  do  direito  de  propriedade, 
englobando  aspectos  que  individualizados  originam  outros  direitos  reais.  O  uso,  por 
exemplo, é um dos aspectos do direito de propriedade, assim como o usufruto.  
Sendo  assim,  pode­se  dividir os direitos reais em 2 espécies: o ​
direito real pleno 
direitos reais limitados​
e os ​ . 

7
Direito  real  pleno  é  o direito de propriedade. Já os direitos reais limitados são os 
demais  direitos  reais,   os  quais   levam  o  nome  de  “limitados”  porque  são  parcelas  do 
direito real de propriedade. 
Os direitos reais limitados subdividem­se em 3 tipos:  
➢ Direitos reais de gozo ou fruição​
; 
➢ Direitos reais sobre coisas alheias; 
➢ Direitos reais de garantia​
.  
 
Entende­se,  portanto,  que   o   direito  de  propriedade  é  ​
elástico​
, uma vez que pode 
mudar de tamanho conforme as figuras criadas a partir dele.  
Ex.:  direito  real  de  usufruto  sobre  uma  casa,  eu  continuo  sendo  o  proprietário, 
podendo  vender  a  casa, mas o titular do direito de usufruto não pode vender, porque seu 
direito  é  menor;  apesar  do  direito  do  titular  do  usufruto  ser  menor,  o  proprietário 
também  tem  seu  direto  de propriedade limitado; o direito real de propriedade volta a ser 
pleno  quando  o  direito  de   usufruto  se  extinguir,  como  no  caso  de  morte.  Desta  forma, 
podemos perceber a elasticidade do direito de propriedade.  
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A POSSE 
 
● Pergunta​
: como é possível saber que uma pessoa tem o direito que alega ter? 
 
No campo judicial, por meio dos elementos probatórios.  Mas  e no nosso dia a 
dia?  Por  ex,  no  caso  de   imóvel,  o  registro  é  uma forma de comprovar a titularidade.Por 
meio do registro é possível saber se a pessoa tem o direito que alega ter.  
Quando  pensamos  nos  direitos  reais,  o  título  não  é  tão  visível  nas  relações 
cotidianas.  Ex.:  ao  ver  uma  pessoa  dirigindo  um  veículo,  não  dá  para  saber   que  título 
aquela pessoa ostenta com o bem. 
 
­ a tensão entre o fato social e a causa jurídica 
 
O  primeiro  ponto  na  respostaé:  através  do título é possível averiguar se a pessoa 
atua ou não em conformidade com o direito.  

8
Mas  é  possível  que  a pessoa não tenha o título,  e ainda assim terá o direito.Hoje, 
portanto,  em  muitas  situações,  o  título  por  si  só  não  é  suficiente  para  que  a  pessoa 
obtenha  a  tutela  jurisdicional  para  a  defesa  do  seu  direito.  Ex.:  usucapião  (exemplo 
clássico  de  uma  situação  em  que  de  um  lado  há  uma  pessoa  possuidora  de  um  título, 
mas  que  não  obtém  a  tutela  jurídica  dada  pelo  seu  título  em  virtude  de  direitos 
garantidos pela CF a outras pessoas). 
Há,  portanto,  uma  tensão entre o fato social e a causa jurídica (= título). Ex.: sou 
titular  do  direito  de  propriedade  do  terreno;  alguém  passa  a  morar  nele;  ao  longo  do 
tempo há um embate entre o proprietário e outra pessoa que não possui o título, mas tem  
um direito garantido constitucionalmente. 
 
Questão​
:  o  não  uso  do  terreno   pode  ser  considerado  um uso do terreno (especulação)? 
É uma questão controversa.  
 
O  estudo  da  posse  reflete  a  possibilidade  de  proteção  de  uma  situação  de  fato  e 
de  maneira  independente  do  eventual  direito.  Ou  seja,  a  posse  demanda  uma  proteção 
autônoma em relação à propriedade.  
Como  assim?  Uma  vez  constatada  a  condição  de  possuidor,  é  garantido  a 
proteção  jurídica,  independentemente  do  direito  de  propriedade.  Há  inclusive  a 
possibilidade de uma proteção do possuidor (ex: ação possessória) contra o proprietário.  
 
● Pergunta: qual é o objeto de estudo da posse? 
 
O  objeto  de  estudo  é  a  situação  de  fato  autônoma  que  tem legitimidade para ser 
protegida, independentementedo direito de propriedade. 
 
­ conceito de posse­teorias 
 
➢ Teoria Subjetiva de Savigny 
 
Para  Savigny,  a  posse  tem  2  elementos  essenciais  para  ser  caracterizada:  um 
(corpus)​
objetivo ​ e um ​
subjetivo ​
(animus). 

9
 
­ Elementos: 
 
a) Objetivo > corpus 
 
O  ​
corpus  representa  a  ​
detenção  materialda  coisa.  Aquele  que  detém 
efetivamente a coisa é o possuidor. 
 
b) Subjetivo >​
animus domini 
 
O  ​
animus  domini  é  a  ​
vontade  de  se  apropriar  da  coisa​
,  de  ocupar  o  lugar  do 
proprietário. 
 
Apesar  de  não   ser  a  teoria  predominante,  a  teoria  subjetiva  tem  importância 
quando  se  pensa  na  usucapião.  Neste  instituto,  há  o  ​
animus  domini  do  possuidor  do 
imóvel de se tornar o proprietário.   
 
 
 
­ problemas da teoria subjetiva 
 
A teoria subjetiva serve para distinguir a condição do possuidor da do detentor. 
Detentor  é  aquele  que tem o controle sobre a coisa, tem a relação material com a 
coisa,  mas  não  quer  se   tornar o proprietário; ele exerce direitos sobre a coisa sob ordens 
corpus​
do  proprietário.  Ex:  chofer,  caseiro  –  têm o ​ animus​
, mas não tem o ​ ; eles seguem 
ordens do proprietário; são, por isso, detentores da coisa. 
Mas  essa  teoria  falha  em  outras  situações.  Por  ex,  quando  se  pensa  no locatário 
de  um  imóvel.  Ele  é  detentor  ou  possuidor?  Pela  teoria  de  Savigny,  ele  seria  detentor. 
Entretanto, o locatário é considerado possuidor.  
É  importante  a  distinção  entre  detentor  e  possuidor,  pois  este  possui  medidas 
judiciais  para  garantir  os  seus  direitos;  já  aquele  não  tem  meios  judiciais  para defender 
seu direito. 

10
Para  tentar  consertar  sua  teoria,  Savigny  acrescentou  a  ideia  da  ​
“posse 
derivada”. 
 
­ posse derivada – possuidores sem o ​
animus 
 
Savigny  disse  que  o  proprietário  pode  gerar  uma  posse  em  favor  de  terceiros 
sem  o  elemento  subjetivo,  ou  seja,  o  possuidor  teria  a  detenção  material  da 
(corpus)​
coisa​ (animus domini)​
, mas não teria intenção de se apropriar da coisa ​ . 
Entretanto,  o  jurista  cai  em  contradição,  pois primeiro ele disse que é necessário 
o  ​ animus​
corpus  e  o  ​ ;  depois  ele  diz  que  é   possível  uma  posse  derivada  na  qual  o 
animus​
possuidor não tem o ​ . 
 
➢ Teoria objetiva de Ihering 
 
Teoria adotada pelo CC 2002. 
 
Ihering apresenta críticas à teoria subjetiva.  
 
­ Crítica à teoria subjetiva 
*subjetivismo desnecessário – reducionismo do corpus 
* artificialismo 
Ihering  diz  que  a  teoria  subjetivanão  é  boa  porque  apresenta  um  subjetivismo  
desnecessário,  de  difícil  averiguação.  Somente  é  possível  conhecer  a  vontade  de  cada 
pessoa  se  ela  for  exteriorizada.  As  ações  refletem  a   sua  vontade.  Portanto,  o 
subjetivismo  só  é  relevante  quando  exteriorizada  a  vontade,  materializada  por  meio  de 
ações.Ex.:  um  caseiro   pode,  depois  de  muitos  anos,  querer  usucapir  o  imóvel.  Ele 
começa  a  fazer  obras  no  imóvel,  age  como  se  fosse  o  proprietário.  Por  meio  de  ações 
concretas,  ele  está  mudando  a  sua  condição.  Porém,  enquanto  ele  não  agir,  não  é 
animus ​
possível saber se ele tem o ​ de se tornar o proprietário. 
Além  disso,  Ihering  critica  a  noção  reducionista  de  ​
corpus  dada  por Savigny. O 
possuidor  não  perde  sua  condição  simplesmente  perdendo  a  relação  material  com  a 
coisa.  

11
Iheringdisse ainda que a teoria subjetiva é artificial, não condiz com a realidade. 
 
­ elementos: 
 
a) corpus >controle sobre a destinação econômica do bem 
 
Para  Ihering,  a  característica  do  ​
corpus  é  o  ​
controle  sobre  a  destinação 
econômica  da  coisa.​
Ex:  tenho  meu  relógio  roubado  na  rua. Perco a posse do bem, pois 
não  tenho  mais  o  controle  sobre  a  destinação  econômica  da  coisa.  O  ladrão  dará  o  fim 
econômico que quiser. 
 
affectiotenendi​
b) ​ > comportamento de proprietário 
 
­ possuidor e detentor não se diferenciam pelo ​
animus 
 
O ​
affectiotenendi  é semelhante ao ​
animus definido por Savingy. É a ideia de que 
o possuidor tem um comportamento de proprietário. 
Alguns  dizem  que  Ihering  nega  a  existência  do  animus.  Isso  está  errado!  Não  é 
que  não  existe  o  ​
animus  na  teoria  objetiva;  na  verdade,  Ihering  diz  que  através  do 
animus  não  é  possível  diferenciar  possuidor  e  detentor.Para  ele, o que permite a correta 
diferenciação  entre possuidor e detentor é a forma como o legislador disciplina qualquer 
uma das situações – ​
a lei​
 (por isso a teoria é objetiva). 
 
Atenção!​
 A teoria objetiva ​
não​ (animus)​
 ignora o elemento subjetivo​ .  
 
O  problema  da  teoria   de  Ihering  é  que  este  considera  a  posse  subordinada  à 
propriedade,  o  que   não  é verdade, pois alguém poderá ser possuidor de um determinado 
bem sem ser o proprietário.  
 
POSSE NO DIREITO BRASILEIRO 
 
­ CC, 1196 – exercício autônomo  

12
 
Art.  1.196.  Considera‑se  ​
possuidor  todo  aquele  que  tem  de  fato  o 
exercício,  pleno  ou  não,  de  algum  dos   poderes  inerentes  à 
propriedade. 
 
O  legislador  quis  ressaltar,  neste   artigo,  que  a posse é um exercício. Quando faz 
referência  a  “exercício”,  verifica­se  a  ideia  de  autonomia  da  posse  em  relação  à 
propriedade.  Não  é  através  da  verificação  do  título  que   se  descobre  o  possuidor.  O 
importante  é  verificar  quem  tem  de  fato  o  poder  de  exercício  de  alguns  poderes  da 
propriedade.  
Ainda  que  a  pessoa  tenha  o  título,  se  ela  não  tiver  de  fato  o  exercício de  alguns 
poderes da propriedade, ela não será o possuidor. 
O  art.  1196  fala  em  “alguns  dos  poderes”  porque,  se  fosse  todos,  haveria 
confusão  entre  proprietário  e  possuidor.  Assim,  por  exemplo,  o  possuidor  não  possui  o 
poder de disposição. 
A  posse  é  como  a  exteriorização  da  propriedade,  agindo   como  se  fosse  o 
proprietário. 
 
­ Fundamento da proteção possessória 
­  Autonomia  da  posse (Art.1197) – possuidor direto  é aquele que tem o poder da 
coisa,  indireto  é  aquele  que  tem  o  poder,  porém  não  a  possui  materialmente.   O 
possuidor direto tem o direito de defender a sua posse contra o indireto. 
 
­ conceito de detentor: CC, 1198 
 
Art.  1.198. Considera‑se ​
detentor aquele que, achando‑se em  relação 
de  dependência para com outro,  conserva a posse em nome deste e em 
cumprimento de ordens ou instruções suas. 
Parágrafo  único.  Aquele  que  começou a comportar‑se  do  modo como 
prescreve  este  artigo,  em  relação  ao  bem  e  à  outra  pessoa, 
presume‑se detentor, até que prove o contrário. 
 

13
 
O  legislador  fez  uma  diferenciação  entre  detenção  e  posse.  E  nessa  previsão  do 
legislador  é  possível  verificar  aquelas  distinções  feitas  anteriormente:  considera­se 
detentor  aquele  que  está  numa  posição  de  subordinação  em  relação  ao  possuidor;  ele 
recebe ordens do possuidor. 
O  possuidor  tem  mecanismos  judiciais  a  sua   disposição  para  a  defesa  da  sua 
condição. Já o detentor não os possui. 
Do  ponto  de  vista  externo,  analisando  as  condutas  do  detentor  e  do  possuidor, 
nem sempre é possível diferenciá­los. 
O par. único reflete a  dificuldade em se diferenciar detentor e possuidor. Quando 
fala  em  “presume­se”,  é  uma  presunção  relativa.  Aquele  que  age  cumprindo  ordens 
presume­se  detentor.  Mas  é  possível  provar  o  contrário.  Ou  seja,  o  detentor  pode 
demonstrar  que  possui  a  condição  de  possuidor.  Essa  mudança  de  condição  não 
acontece  simplesmente  pela  vontade  do  indivíduo;  ela  precisa  ser  atestada  por  uma 
mudança  de  postura  do  detentor, que passa a praticar atos que extrapolam a condição de 
detentor,  assemelhando­se  à  figura  do  possuidor.  Ele  passa  a  agir  de  forma  autônoma, 
em  posição  contrária  ao possuidor. Neste caso, pode­se falar que o detentor passou a ser 
possuidor. 
Essa mudança de postura faz com que o detentor, agora possuidor, possa se valer  
dos  mecanismos  judiciais  cabíveis  para  a  defesa  da  condição de possuidor. Além disso, 
em  última análise, essa  nova condição permite que o detentor reivindique a propriedade, 
por meio do instituto da usucapião. 
 
­ natureza jurídica da posse: fato ou direito? 
 
* Fato: Windscheid / Espinola 
* Direito: Caio Mário; Orlando Gomes 
 
A  posse  é  um  fato  ou  um  direito? Embora  essa seja uma discussão história, hoje 
não  se  contesta  mais  que  a  natureza  da  posse  é  um  direito.  Epor  quê?  Porque  existem 
mecanismos  judiciais  que  tutelam  a  posse.  Há  uma  série  de  normas  que  protegem  a 
condição do possuidor.Ainda que a posse seja efêmera, ela gera efeitos jurídicos. 

14
Um  dos  argumentos  utilizados  para  a  defesa  da  condição  da  posse  como  mero  
fato  é  a  condição  do  ladrão.  Sendo  a posse um direito, até mesmo o ladrão  teria direitoa 
posse  sobre  a  coisa  roubada.Lembrando­se  da  ideia  de  que  a  posse  é  o  exercício  de 
alguns  poderes  inerentes  a  propriedade,  o  ladrão  assume  a  condição  de  possuidor. 
Entretanto, trata­se de uma posse injusta, mas ainda assim ele tem a posse da coisa. 
O  possuidor,  ainda  que  tenha  a  posse  injusta   da  coisa,  terá  direito  a  exercer 
mecanismos  judiciais  para  proteger  a  sua  condição  de  possuidor.  Ex.:  uma  pessoa 
invade  uma  propriedade;  depois  outra  pessoa  invade; aquela primeira pessoa, possuidor 
injusto, pode exercer mecanismos judiciais, pois é possuidor. 
Portanto,  esse  argumento  de  que   a  posse  não  pode  ser  de  direito  por  causa  do 
ladrão  não  prevalece.  Hoje se aceita que o ladrão adquire a condição de possuidor e, por 
isso, pode exercer os mecanismos judiciais. 
 
Que tipo de direito: real ou pessoal? 
 
­ real: Orlando Gomes; Caio Mário 
 
Uma  vez  que  a   posse  é  um  direito, este é real ou pessoal? A maioria dos autores 
entende  que  ​
posse é um ​
direito real​
. E por quê? Porque a posse tem os 2 elementos que 
caracterizam de forma mais efetiva os direitos reais, quais sejam:  
 
➢ O ​
poder imediato​
 sobre a coisa; e 
 
➢ Oponibilidade  ​
erga  omnes  (todos,  indistintamente,  têm  o  dever  de 
respeitar a condição possessória alheia). 
 
­ pessoal: Fachin; Bessone 
* não está previsto 
* não é levado a registro 
* leva o outro direito real 
 

15
Ao  contrário,  há  aqueles  que  entendem  que  a  ​
posse  ​
é um ​
direito pessoal​
, como 
o professorFachin. E por quê?2 argumentos: 
 
➢ A  posse  não  está  presente  no  rol  taxativo  de  direitos  reais  elencados 
pelo legislador.  
 
➢ A  posse  não  está  entre  os  direitos  que  podem  ser  levados  a 
REGISTRO.  
Assim,  a  consequência  é  entender aposse como um direito pessoal do possuidor; 
logo, ele não poderia ser transferido.  
Mas  esses  2  argumentos  são formais, não impedem que seja possível reconhecer  
concretamente  que  o  possuidor  tenha  poder  imediato  sobre a coisa e possa opô­lo sobre 
todos. 
 
­ Objeto da posse: coisas ou direitos? 
* CC, 1916 – art. 485 (?) – “propriedade ou domínio” 
* Caso da Escola Politécnica do Rio > Ruy Barbosa – 1896 
* Tese que prevalece: posse somente sobre bens corpóreos 
 
Somente  as  coisas  corpóreas  podem  ser  objeto  de  posse  ou  também  os  direitos 
podem ser objeto da posse? Tradicionalmente, a posse incide sobre bens corpóreos.  
Porém,  Ruy  Barbosa  levantou  a  possibilidade   de  posse de direitos. Caso: alguns 
professores  foram  afastados  de  suas  funções;  Ruy,  para  defendê­los,  como  não  havia 
Mandado  de  Segurança,  criou  a  tese  de  que  os professores deveriam ser  reintegrados às 
suas  funções  porque  tinham  posse  do  direito   de exercê­las. Ele entrou com uma medida 
possessória,  com o intuito de reintegrar  os professoresàs suas funções, considerando que 
haveria turbação da posse. Ruy  baseou sua defesa no art. 485, CC 1916, o qual dizia que 
o  possuidor  era  aquele   que  tinha  o  exercício  dos  poderes  inerentes  a  propriedade  e  ao 
domínio.  Assim,  Ruy  entendeu  que  o  legislador  estabeleceu  uma  diferenciação  entre 
domínio  e  propriedade;  domínio  referia­se  a  coisas  corpóreas;  propriedade  englobaria 
coisas  corpóreas  e  direitos.  Era  possível,  para  essa  teoria,  falar  em  propriedade  de 
direitos; logo, era possível falar em posse de direitos. 

16
Essa  tese  não  prevaleceu.  O  que  vale  é  que  não  existe   posse  sobre direitos, mas 
somente sobre coisas corpóreas. 
 
Súmula  228  do  STJ:  ​
“é  inadmissível  o  interdito  proibitório  para  a 
proteção do direito autoral”. 
 
­ Posse de direito reais limitados  
> “quase posse” 
>posse de servidão 
 
Pode­se  falar  em  posse de penhor, usufruto, servidão? Sim, existe essa indicação 
no  nosso  ordenamento.  Estes são direitos reais limitados, pois  só representam uma parte 
dos deveres inerentes a propriedade. 
Há o entendimento de que é possível  a ​
posse de direitos reais limitados​
, pois se 
busca proteger a relação entre o individuo e a coisa. 
Quando  se  fala  em   posse  de  direitos  reais  limitados,  tem­se  tambémem  vista  a 
relação  do  individuo   com  a  coisa  corpórea.  Há,  por ex, a possibilidade de usucapir uma 
servidão. 
quase posse”​
Alguns autores chamam essa posse de direitos reais limitados de “​ . 
O detentor é conhecido como “fâmulo da posse”. 
 
É  possível  a ​ , que é a ​
intervenção da posse​ mudança da qualificação da posse​

Ou  seja,  o  possuidor  justo  pode  passar  a  ser  injusto.  Ex.:  aluguei  um  imóvel,  estou 
morando  nele,  sou  possuidor  justo  (a  posse  foi  viabilizada  pelo  proprietário);  eu  posso 
passar  a  condição  de  possuidor  injusto,  uma  vez  que  eu  tenha sido instado a devolver o 
imóvel,  mas  não  o  faça.  Nesse  caso,  não  há  a  perda  da  condição  da  posse.  Ocorreu  a 
intervenção da posse. 
 
­ posse sobre bens apropriáveis> questão da posse de bens públicos 
CF, 191, § ú 
 

17
O  CC  1916  tinha  uma  disciplina  que  dava  a  entender  que  só  era  possível  ter 
posse  sobre  os  bens  que  estavam  no  comércio.  Não  haveria  posse  sobre aquilo que não 
podia  ser  apropriado.   Só  existia  posse  sobre  os  bens  passíveis  de  aquisição.  A  retirada 
do bem do trânsito comercial fazia com que a posse deixasse de existir.  
No  CC  2002  essa  disciplina  não  se  repetiu.  E  aí  fica  a  dúvida:  ​
existe  a  posse 
sobre  bens  públicos?  Não  podemos  esquecer  que,  se  eu  sou  possuidor  de  um  bem 
público, tenho mecanismos judiciais e tenho também direitos aos frutos. 
O entendimento é que é possível a  posse de bens públicos. Porém, não é possível 
usucapir  um  bem  público,  por   expressa  previsão  constitucional  (art.  191,  par.  único, 
CF). 
 
Quando  falamos de bens públicos, é preciso lembrarque eles se dividem em ​
bens 
comuns  (praça,  rua,  etc.),  ​
bens  de  uso  especial  (prédio  da  PJF,  etc.)  e  ​
bens  dominicais 
(são passíveis de alienação, não estando afetados ao serviço público). 
É  possível  a  ​
posse  apenas  de  ​
bens  públicos  dominicais​
.  Mas  não  é  possível  a 
usucapião. 
Imagine  o  caso  de  uma   pessoa  ter  a  posse  de  um  bem  público  durante  anos;  o 
Estado  pode  exigir  a  sua  saída?  Depende!  Isso  porque  se  trata  da  chamada  ​
“concessão 
de  uso  especial”​
,  neste  caso,  para  fins  de  moradia.  A  concessão  de  uso  especial  é  um 
direito que, preenchidos os requisitos, independente da autorização do Estado.  
 
Art.  1.197:  A  posse  direta,  de  pessoa  que  tem  a  coisa  em  seu 
poder,temporariamente,  em  virtude   de  direito  pessoal,  ou  real,  não 
anula  a  indireta,  de  quem  aquela  foi  havida,  podendo  o  possuidor 
direto defender a sua posse contra o indireto. 
 
O  artigo  fala  que existe uma posse direta e uma posse indireta. É o que se chama 
de ​
“desdobramento da posse”. 
Como  proprietário  ou  possuidor, é possível desdobrar  a posse. Ex.: ao alugar um 
imóvel, o proprietário transfere ao locatárioa posse indireta. 
O  desdobramento  da  posse  não  representa  a  perda  da  posse  pelo  seu  titular 
inicial.  

18
Tem  sentido  em  falar  em  “posse  direta”  quando  existe  apenas  um   possuidor? 
Não!  Só  tem  sentido  falar  em  “possuidor  direto”  quando  se  puder  visualizar  um 
“possuidor indireto”. 
Quem  é  o  possuidor  direto?  No  caso da locação, por ex, é o locatário; ele possui 
um  contato  direto  com  o  bem.  Do   outro  lado,  há  o  possuidor indireto, que é aquele que 
desdobrou sua posse, que é o locador. 
Se  há  2  possuidores,  ambos  tem  legitimidade  para  pleitearem  judicialmente  a 
defesa da posse? Sim! Ambos podem  usar medidas  judiciais para proteger a posse.Tanto  
o  possuidor  direto  quando  o  indireto  podem  pleitearjudicialmente  a  defesa  da  sua 
condição frente ao outro. Ex.: um locatário pode defender sua posse frente ao locador.  
 
 
 
Elementos presentes no desdobramento da posse: 
 
1º)​
relação  jurídica  anterior  –  sempre  existirá  uma  relação  jurídica  anterior  que  dará  
ensejo ao desdobramento da posse. 
 
2º)caráter ​
temporário​
 desse desdobramento. 
 
3º)  há  uma  certa​
autonomia  do  possuidor   direto​
,  mas  é  uma  autonomia  limitada  pela 
relação  jurídica  anterior.  Ex.:  no  caso  da  locação,  essa  autonomia  é  regulada  pelo 
contrato. 
 
4º)​
A  posse  que  era  única,  desdobrou­se.  A  posse  única  passou  a  ser  posse  indireta, 
surgindo  também  a  posse  direta.  Existe  uma  gradação,  especialmente   quando  se  pensa 
nos  direitos  dos  possuidores.  O  possuidor  indireto  tem  mais  poderes   do   que  o  direto, 
inclusive  regulando  quais   são  os  poderes  do  possuidor  direto.  É  possível,  ainda,  um 
novo desdobramento (ex.: sublocação). 
 
­ composse 
 

19
Art.  1.199  ­  Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá 
cada  uma  exercer  sobre  ela  atos  possessórios,  contanto  que  não 
excluam os dos outros compossuidores. 
 
a) “coisa indivisa” 
b) Origem condominal 
c) Composse indireta/posse direta, etc.. 
d) Utilização dos interditos entre os compossuidores 
 
Composse  é  a  posse  conjunta  sobre  o  mesmo  bem.  Há  mais  de  uma  pessoa 
exercendo a posse sobre o mesmo bem. Ex.: condomínio.  
O  artigo  fala  em  “coisa  indivisa”.  Essa  expressão  não  deve  ser   lida   como 
sinônima  de  “indivisível”,  pois  a  coisa  está sobre o ​
“estado de indivisão”, mas isso não 
quer dizer que não pode ser dividida. 
Ex.:2  proprietários  de  um   imóvel  resolvem  alugá­lo.  Há  nesse  caso  composse? 
Seriam  compossuidores  indiretos.  Se  o  domínio  é  compartilhado,  a posse também será 
compartilhada, ainda que indireta. 
Portanto, a copropriedade liga­se necessariamente a composse. 
 
Ex.:  2  proprietários  alugam  um   imóvel.  Eles  terão  a  posse  conjunta  indireta 
(compossuidores  indiretos).  O  locatário  será  possuidor  direto.  Percebe­se,  neste  caso, o 
desdobramento  da  posse  na   “horizontal”  (composse)  e  na  “vertical”  (posse 
direta/indireta). 
É  possível  ter  também  a  posse  indireta  e  a  composse  direta.  Um  único 
proprietário aluga o imóvel para mais de uma pessoa.  
Se  a coisa se encontra no estado de indivisão, não se tem uma limitação de como 
cada  pessoa  poderá  exercer  sua  posse.  A  coisa  ser  indivisa  implica  que  todos  os 
possuidores  podem  exercer  a  posse  sobre  toda  a  coisa.  Ex.:  2  locatários 
(compossuidores  diretos);  não  existe  limitação,  como  posse  só do quarto e do banheiro; 
é a posse de todo o imóvel. 

20
Se  todos  são  possuidores  da  mesma  forma,  todos  possuem  os  mesmos  poderes. 
Eles  precisam  entrar  em  acordo  no  exercício  de  seus  direitos.  O   exercício  do direito de 
posse por um não pode impedir o exercício do direito de posse do outro. 
Se  eventualmente  essa  harmonia  não  existir,  o  1199  diz  que  os  compossuidores 
podem defender a sua posse tanto em relação a terceiros quanto ao outro possuidor.  
Os  possuidores  tem  legitimidade  para  usar  os​
interditos  possessórios​
em caso de 
turbação  da  posse  por  um   deles.  Ex.:  um  dos  locatários  impede  que  o  outro  entre  no 
imóvel;  isso  não  é  possível,  pois  está  turbando  a  posse  do  outro; sendo a coisa indivisa, 
todos  os  possuidores  têm  os  mesmos  poderes  sobre  a  coisa; eles estão numa posição de 
igualdade; em caso de turbação, pode se valer das ações possessórias. 
Portanto,  qualquer  possuidor  pode  defender  seu  direito  à  posse  tanto  frente  a 
terceiros como frente aos demais possuidores. 
 
­ CC, art. 1.200 
 
Art.  1.200.  É  justa  a  posse  que  não  for  ​
violenta​
,  ​
clandestina  ou 
precária​

 
* posse justa – desprovida de vício na aquisição 
* posse violenta (física ou moral) 
 
Esse  artigo  trata  dos  ​
vícios   objetivos  da  posse,   que  são  a  ​
violência​
,  a 
clandestinidade​
 e a ​
precariedade​

A ​
posse  adquirida sem vícios objetivos é a chamada ​
“posse justa”. Toda posse 
que  for  adquirida  mediante  violência,  clandestinidade  ou  precariedade  será  uma ​
“posse 
injusta”. 
Quais  as  consequências  dos  vícios   objetivos  e  subjetivos  da  posse? Esses vícios 
refletem  no  instituto  da  usucapião  (eles  colocam  um  quantidade  maior  de  requisitos,  
dificultando a usucapião) e também nos frutos decorrentes da coisa.  
Os  vícios  objetivos  da  posse,  segundo  a  doutrina,  devem  ser  interpretados 
restritivamente.  Por  ex,  a  violência  seria o uso da força direta contra o legítimo detentor 
da posse da coisa.  

21
Ex.: um grupo de baixa renda invade um terreno que está vazio, não havendo um 
embate  físico  com  o  proprietário.  Essa  posse  é  justa  ou  injusta?Pela  ideia  de 
interpretação   restritiva,  não  houve  violência  (uso  de  força  física).  Além  disso,  pode  até 
se  pensar  que  não  houve  clandestinidade,  entendendo  esta  como  aquela  que  é  feita  “às 
escuras”.  
Mas  essa  definição  de  posse  injusta  não  é  pacífica.  Por  ex,  Marcos  Rios 
Gonçalves  entende  que  no  exemplo  do  grupo  que  invade  o terreno quebrando a  entrada 
constitui posse injusta por meio da violência. 
Portanto,  a  posse  violenta  é   aquela  ligada  a  uma  força  exercida  indevidamente 
para  a  aquisição  da  posse.  É  importante  entender  que  o  uso  da  violência  se  dá 
diretamente para a aquisição da posse.Essa violência pode ser física ou moral. 
 
Questão​
:O esbulhado pode utilizar a força para retomar sua posse? 
 
O esbulhado é aquele que perdeu a posse da coisa para alguém (esbulhador). 
 
Caso​
:  o  indivíduo  tinha  adquirido  a  posse  de  forma  clandestina  de  parte  do  terreno  de  
uma  pessoa.  Esta,  sabendo  disso,  não  fez  nada.  O  esbulhador  faleceu.  Seu  filho 
continuou  morando  no  terreno. Posteriormente, o esbulhado juntou um grupo de amigos 
e  queria  retomar  a  posse  do  terreno,  que  estava  sob  as  mãos  do  filho  do  esbulhador. 
Nesta hipótese, o esbulhador agiu corretamente? Não! 
O  esbulhado  pode  defender  a  sua  posse,  desde  que  seja  imediatamente  e  na 
proporção  em  que   ele  sofreu  a força (desforço  imediato). Ele não pode querer retomar a 
posse  posteriormente.  Para  tanto,  ele  tem  meios  judiciais,  como a ​
ação de reintegração  
de posse. 
 
O  detentor  pode  retomar  a  posse?  Sim!  Ele  pode  usar  da  força  para  defender  a 
posse  do  possuidor,  desde  que  o  façaimediatamente  e  na  proporção  com  a  qual a  posse 
foi tomada (desforço imediato).  
 
Obs​
.:  Orlando  Gomes  diz  que,  quando  o  detentor  usa  da  força  para  defender  a  posse, 
está agindo na condição de possuidor. 

22
 
Portanto,  a  legítima  defesa  da  posse  é  possível  desde  que  seja  imediatamente 
após  a  turbação   da posse, e o uso  da força deve ser proporcional àquela que o esbulhado 
sofreu.  
 
Obs​
.:  Farias  e  Rosenvald  falam  que   aquele  com  o  qual  o esbulhador está disputando a 
posse é chamado de​
“detentor autônomo”. 
 
­ CC, 1208 ­ “enquanto persistir...” 
 
Art.  1.208.  Não  induzem  posse  os  atos  de  ​
mera 
permissãooutolerância  assim  como  não  autorizam a sua aquisição os 
atos  violentos,  ou  clandestinos​
, ​
senão depois de cessar a violência ou 
a clandestinidade. 
 
Enquanto  houver  violência  ou  clandestinidade,  não  há  que  se  falar  em  posse, 
ainda  que  injusta.  Somente  após o fim dos atos de violência ou de clandestinidade é que  
existe a posse injusta. 
Alguns  autores,  erroneamente,  dizem  que  a  posse  deixa  de  ser  injusta  quando  
cessar  a  violência ou a clandestinidade. O correto, segundo o1208, é que a posse  passa a 
ser  injusta  quando  termina  os  atos de violência e de clandestinidade. Enquanto houver  o  
embate, não há posse para o esbulhador.  
 
­ o esbulhador tem proteção contra o possuidor primitivo? Relatividade dos efeitos 
 
O  esbulhador  possui  mecanismos  judiciais  para  defender  a  sua  posse  injusta 
contrao possuidor primitivo? Temos que analisar 2 questões.  
Ex.:  João  emprega  violência  e  toma a posse de Manoel.João é possuidor injusto. 
Se  um  terceiro  (José)   decide  ocupar  o  lugar  de  João,  pode  este  usar  de  meios  para 
defendera  sua  posse  frente  a  José?  Sim!  Isso  porque  a  posse  injusta  só  pode  ser 
combatida por aquele que detém realmente o direito a posse (o possuidor primitivo).  

23
Somente  aquele  que  sofreu  a  violência,  a  clandestinidade  e  a  precariedade pode 
pleitear  judicialmente  a  retomada  da  posse.  Um  terceiro  não  pode  se  valer  disso.  Por 
isso,  o  esbulhador  pode  usar  de  meios  judiciais  para  defender  sua  posse  injusta  contra 
um terceiro que turbe a sua posse. 
O  entendimento  é  que  o  possuidor  injusto  (que  tomou  o  lugar  do  possuidor 
primitivo)tem  a  sua  posse  injusta  estabilizada  conforme  o  tempo  que  ele  a  exerça. Se a 
tentativa  de  retomada  da  posse  se  der  após  1  ano, o possuidor primitivo não tem direito 
de retomar a posse  imediatamente. O entendimento é que o período de  1  ano consolida a 
posse injusta.  
Esse  período  de  1  ano  não   converte  a  posse  injusta em justa. Ele apenas impede 
a  retomada  da  posse  imediata  pelo  possuidor  primitivo.  Isso  evita,  por  ex,  que  este 
consiga uma liminar. É uma questão processual. 
 
Obs​
.: Maria Helena Diniz fala que a posse se converte em justa. Não! 
 
­ violência para a celebração de negócio jurídico do qual decorre a posse 
 
Gustavo Tepedino diz que, se a violência for empregada para a celebração de um 
negócio  jurídico,  a   partir  do  qual  a  posse  decorrerá,  essa  posse  não  será  injusta,  isso 
porque  a  violência  não  foi  usada  diretamente  para  adquirir  a  posse,  mas  sim  para  a 
celebração  do  negócio  jurídico.  Assim,  a  violência  é  causa  para  a  anulação  do  negócio 
jurídico (defeito do negócio jurídico – coação). 
 
­ posse clandestina 
 
A  ​
posse  clandestina  é  um  nome  impróprio,  pois  a  posse  será  injusta,   o   meio  
empregado para o exercício da posse é que será clandestino. 
O  1208  diz  que,  enquanto  houver  clandestinidade  da  ação,  não  haverá  posse. 
Ex.:  uma  pessoa  muda  a  cerca  do  terreno  durante  a  madrugada.  Neste  caso,  o  meio  é 
clandestino.  
A  posse  só  deixa  de  ser  clandestina  a  partir  do  momento  em  que  há  a 
publicidadedo  exercício  da  posse  injusta,  do  ato  que  gerou  essa  posse  injusta.Isso 

24
porque  o  possuidor  primitivo  só  poderádefender  sua  posse  depois  que  efetivamente  a 
tiver perdido. 
 
­ possuidor injusto pode defender processualmente a sua posse? 
 
Depois  de  um  ano,  o  possuidor  legítimo  não  poderá  reintegrar  a  posse 
liminarmente,  tendo  que  fazer  provas  mais  robustas  para  conseguir  a  medida.  O 
entendimento  é  que  o  possuidor   injusto  terá  mais  formas  de  ser  defender  após  a 
passagem de tempo. 
Terceiros  não   poderão  entrar  com  a  ação  de  esbulho,  haja  vista  que  os  vícios 
entre estes e o possuidor injusto é relativo. 
 
­ posse precária – abuso de confiança 
 
Na  ​
posse  precária  o  possuidor  é  legítimo  num  primeiro   momento,  mas  depois 
ele se torna um possuidor injusto.  
Ex.1: locatário que se recusa entregar o imóvel.  
Ex.2: zelador (detentor) se recusa a sair do imóvel. 
 
Obs​
.:  Muitos autores ligam a posse precária ao abuso de confiança. Dizem que o abuso 
de confiança não admite a convalidação.  
 
Analogia: * Posse Violenta = roubo 
* Posse Clandestina = furto (Art. 1208) 
* Posse Precária = apropriação indébita (Art. 1203) 
 
­ posse injusta permite usucapião? 
 
A  posse  injusta  permite  usucapião?Sim!  Os  vícios  objetivos   não  impedem  a 
aquisição  da  posse  pela  usucapião.  Existe,  por  ex,  a  usucapião  extraordinária,  que  não 
exige sequer boa­fé.  

25
Portanto,  a  presença  dos   vícios  objetivos  por  si  só  não  impede  a  aquisição  do 
imóvel pela usucapião. 
 
­CC, 1201 – vícios subjetivos 
 
Art.  1201.  É  de  boa‑
fé  (subjetiva)  a  posse,  se  o  possuidor  ignora  o 
vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. 
Parágrafo  único.  O  possuidor  com  justo  título tem por si a presunção 
de  boa‑fé,  salvo  prova  em  contrário,  ou  quando  a  lei  expressamente 
não admite esta presunção. 
 
­ “aquisição da coisa” 
 
A  autonomia da posse em relação à propriedade impõe uma interpretação ampla, 
de  modo  a  considerar  “aquisição  da  coisa”  como  aquisição  da  posse   e  não  apenas 
aquisição da titularidade da coisa (ou seja, transferência da propriedade). 
 
­ pressupõe a existência de vícios 
­ boa­fé subjetiva –desconhecimento do vício 
 
O  1201fala  em  ignorânciade  vício  ou  de  obstáculo.  Isso significa que o vício ou 
obstáculo existe, mas é desconhecido. 
 
A  posse  é  de  boa­fé  se   a  pessoa  ignora,  não  conhece  os  vícios.  Se  a  pessoa 
conhece  os  vícios,  a posse  é de má­fé. Em ambos os casos, a posse é viciada, pois  existe 
algum obstáculo que impede a posse da coisa. 
 
A  posse  ​
a  non  domino  é  posse  viciada?  Sim!  Não  houve  violência, 
clandestinidade ou precariedade, mas a posse foi adquirida de quem não era possuidor. 
Ainda  que  não  haja  vício objetivo, a  legitimidade da posse pode ser contestada e  
a  análise  da  boa­fé  será  necessária.  Outros  elementos  podem  interferir  na  qualificação 
da posse. 

26
Desta  forma,  aquele  que  adquiriu  a  posse  daquele  que  não  era  o  legítimo 
possuidor, embora não haja vícios objetivos, terá uma posse ilegítima. 
 
 
­ valoração da conduta 
 
A  posse,  tanto  com  vícios  objetivos  quanto  subjetivos,  é  injusta.  O  que  as 
diferencia é apenas o aspecto da ignorância ou não do vício ou do obstáculo. 
Apesar  da  referência  doutrinária  quanto  ao  caráter  subjetivo  do  vício,  a 
valoração  do  conhecimento  do  vício  será  feita  de  acordo  com  a  atitude  do  sujeito,  ou 
seja,  deverá   existir   uma  valoração  da  conduta  para   qualificar  a  posse  como  de  boa  ou 
má­fé. 
 
­ justo título – causa eficiente da posse 
 
O  1201fala  em  ​
“justo  título”.  O  que  é  isso?  Ex.:  uma  escritura  não  registrada 
não é um justo título, pois o registro é essencial para a transferência da propriedade.  
A  doutrina  e  a  jurisprudência  divergem,  mas  se  pode  dizer  que  justo  titulo  é  o 
titulo  que,  ao  menos  em  tese,  é  hábil  para  realizar  a  transferência  do  direito.Diz­se que 
justo título é ​
“a causa eficiente da posse”. 
Por  que  a  referência  “ao  menos  em  tese”?  Porque,  se  o  título  fosse  capaz  de 
transferirconcretamente  a  posse,  não  haveria  divergência  doutrinária  e  jurisprudencial. 
Assim, por ex, o compromisso de compra e venda não registrado é, para o STJ, um justo 
título para a transferência da posse. 
O  individuo  que  alega  ser  o  possuidor  precisa  ter  um  fundamento  jurídico  do 
direito  que  alega  ter.  A  noção  de  “justo  título”  está  ligada  a  essa  necessidade  de 
fundamentação jurídica. 
Ex.:  eu  invadi  um  terreno  e  me  instalei  lá;  não  há uma causa jurídica suficiente; 
não há um justo título. 
 
­ posse de boa­fé com justo título 
­ justo título sem boa­fé 

27
­ boa­fé sem justo título 
 
Existe  justo  título  sem  boa­fé?  É  possível  ter  justo  título  com  consciência  do 
vício  acerca  de  uma  posse?  Ex.:  moro  com  meu  pai  num  terreno   esbulhado  por  este; 
meu  pai  morre  e  eu   adquiro  a  posse  que  era  dele  (pois  a  posse  está  dentro  dos  direitos 
decorrentes da herança); aqui se percebe posse com justo título, mas sem boa­fé.  
É  possível  reconhecer  a  má­fé  também  quando  alguém  adquire   onerosamente 
um  terreno  que  foi  esbulhado,   tendo  o  adquirente  conhecimento  desta  situação.  Aqui 
também há posse com justo título e sem boa­fé. 
Mas,  é possível ter posse de boa­fé  sem justo título? Sim! Ex.: ajustes de compra 
e  venda  feitos  de  forma  não  disciplinada  pelo  direito  nas  comunidades  de  baixa  renda; 
as  transações  imobiliárias  feitas  nessas  comunidades  sem  observância das formalidades 
legais. Nesse caso, há boa­fé, porém não há justo título. 
Então,  percebe­se  que  o  “justo  título”  e  boa­fé  não  caminham  juntos;  são  ideias 
independentes.  
 
Art.  1.202.  A  posse  de  boa​fé  só  perde  este  caráter no caso e  desde o 
‑​
momento  em  que  as  circunstâncias  façam  presumir  que  o  possuidor 
não ignora que possui indevidamente. 
 
Esse  artigo  indica  a  possibilidade  de  ​
modificação  do caráter da posse​
, ou seja, 
da mudança da posse de boa­fé para a posse má­fé.  
Muitos  autores  dizem  que  a  posse  não   pode  ter  o  seu  caráter  modificado 
simplesmente  por  questões  subjetivas,  psicológicas,   mas  é  preciso  circunstâncias 
objetivas, condutas que externalizem a sua má­fé.  
 
­ como a mudança pode ser atestada processualmente? 
 
Os autores discutem como se comprova essa mudança.  
 
Digamos  que  uma  pessoa  está  exercendo  a  posse  e  outra  pessoa  vem  e  protesta 
judicialmente  essa  posse.  A  partir  de  que  momento  este  possuidor  que  está  sendo 

28
demandado  judicialmente  caracteriza­se  como  possuidor   de  má­fé,  ou  seja,  omite  os 
vícios? Ou seja, a partir de que momento o possuidor de boa­fé passa a ser de má­fé? 
 
Existem 3 posições sobre o tema: 
 
1ª) diz que o indivíduo deixa de ser possuidor de boa­fé a partir da ​
propositura da ação 
(Orlando Gomes). O professor não concorda com essa posição. 
 
2ª)diz  que  a  má­fé  surge  a  partir  da  ​
citação​
,  pois  é  a  partir  deste  momento  que  o  réu 
toma  conhecimento  das  razões  da  parte  autora  que  questiona  a   posse.  Essa  é  a  posição 
majoritária. 
 
3ª)diz  que  o  momento  da  caracterização  da  má­fé  seria  no  momento  da  ​
contestação​

pois é neste momento que o réu formula sua defesa.  
 
Os  autores  fazem  essa  avaliação  partindo  do  pressuposto  de  que  aquele  que 
intentou  a  ação  já  ganhou.  Porém,  isso  está  incorreto.  O  correto  seria  entender  que 
somente ao final do processo é que se pode falar em mudança do caráter da posse. 
Orlando  Gomesargumenta  que,  se  aquele  que  questiona  a posse sair vencedor, a 
má­féestará  caracterizada  a  partir  da  propositura  da  ação.  O  argumento  dele  demonstra 
que  se  parte  de   um  pressuposto  errado, pois ainda não se pode dizer que o autor da ação 
sairá vencedor. 
 
Art.  1.203.  Salvo  prova  em  contrário,  entende​se   manter  a  posse  o 
‑​
mesmo caráter com que foi adquirid​
a. 
 
p.  da  continuidade  da  posse​
Faz  referência  ao  ​ ,  ou  seja,  a posse permanece com 
os  elementos  com  os  quais  foi  originalmente  adquirida,  a  menos  que  se  prove  o 
contrário. 
O possuidor pode alterar o caráter da sua posse de diversas maneiras.  
Ex.1:  aquele  que  aluga  um  imóvel  (locatário)  possui  a  posse  direta;  caso  ele 
venha  a  adquirir  o  imóvel,  ele  alterará  o  caráter   da  sua  posse,  pois  deixará  de  ter posse 

29
direta  e  passará  a  ter  a  posse  plena.  Antes  sua  posse  decorria   do   contrato  de  locação; 
agora ela decorre de um direito real de propriedade.  
Ex.2:  o  caráter  da  posse  pode  ser  alterado  passando  da  condição  de  possuidor  
justo para de possuidor injusto (posse precária). 
Ex.3: pode a posse deixar de ser de boa­fé para ser de má­fé. 
 
Obs.:  o  1203  é  analisado  segundo  a  situação  daquele  que  tem  a  posse,  ou  seja, 
analisa­se o indivíduo, e não a coisa.  
 
O  caráter  da  posse  pode  ser  modificado  através  da  transmissão?  Ou  a 
transmissão da posse descaracteriza a sua condição?  
Ex.:  aquele  que  compra  o  terreno  de  um esbulhador. Neste caso, a posse viciada 
perde seus vícios ao ser transmitida? 
 
Existem2 posições acerca dessa situação: 
 
➢ Um dos entendimentos é que os vícios não mantêm o seu caráter original, 
ainda  que  aconteça  a  transmissão,  pois  aquele  que  adquiriu  a  posse  do 
bem  o  fez  de  maneira  justa,  uma  vez  que  não  usou  de  violência, 
clandestinidade ou precariedade.  
 
➢ Por  outro  lado,  há  aqueles  que  entendem,  também  com  base  no  1202, 
quea  posse  do  indivíduo  que  a  adquiriu  do  esbulhador  é  injusta,  não 
porque  houve  violência,  clandestinidade  ou  precariedade,  mas  porque  a 
posse mantémo seu caráter com a transmissão.  
 
Ex.:  uma  pessoa  invade  um   terreno  (clandestinidade,  portanto,  posse  injusta), 
vende­o  para  outra  pessoa  (de  boa­fé),  não  existindo  os  vícios  do  1200  (violência, 
clandestinidade ou precariedade). 
Para  a  1ª  corrente,  essa  posse  é  justa.  Já  para  a  2ª  corrente  a  injustiça  da  posse 
continuaria  com   a  transferência  da  posse,  a  qual  não  seria  capaz  de  sanar  o  vicio 
original. 

30
 
Qual  é  a  consequência  da  discussão  da  boa­fé  do  possuidor?  O  possuidor  de 
boa­fé  tem direito aos frutos e de ser ressarcido pelas benfeitorias. O possuidor de má­fé 
não  tem  direito  aos  frutos,   e  só  tem  direito  a  ser  ressarcido  pelas  benfeitorias 
necessárias. 
 
Obs​
.: intervenção do caráter da posse = modificação do caráter da posse 
 
Questão  de  prova​
:  João  tem  a  posse  de  um  imóvel  e  realiza  benfeitorias.  Depois,  a 
posse  é  contestada  judicialmente  por  Manoel.  Mesmo  após  a  instauração  do processo, 
João  ainda  realiza  benfeitorias.  Pergunta­se:  João  tem  direito  de  ser  ressarcido  pelas 
benfeitorias? Para responder é preciso enfrentar as  3  posições sobre em que momento a 
posse  de boa­fé  passa a ser de má­fé. Adotando­se a posição majoritária, após a citação 
João só teria direito de ser ressarcido pelas benfeitorias necessárias. 
 
AQUISIÇÃO DA POSSE 
 
Art.  1.204.  Adquire​se  a  posse  desde  o  momento  em  que  se  torna 
‑​
possível  o  exercício,  em  nome  próprio,  de  qualquer  dos  poderes 
inerentes à propriedade. 
 
Pontos importantes: 
 
­  autonomia da posse em relação àpropriedade. A posse é adquirida a  partir do momento 
em  que  é  possível  exercer  alguns  dos  poderes  inerentes  à propriedade. O possuidor não 
necessariamente  é  o  proprietário.  É  possível,  inclusive,  defender  a   condição  de 
possuidor contra o proprietário.  
 
­  o  possuidor  pode  defender  a  sua  posse  porque  detém  um  dos  poderes  inerentes  ao 
domínio,  e  pode  defendê­la  também  em  razão  de  um  título  que  dá  direito  a  posse 
(veremos depois). 

31
 
­  a  posse  é  uma  questão   de  fato.  É  possuidor  aquele  que  de  fato  detém  o  exercício  de 
poderes  inerentes   à  propriedade.  Se  é  questão  de  fato,  não  se  analisa o titular do direito 
real,  quem  é  o  proprietário,  mas  sim  quem  diretamente  tem  a  posse.  Isso  porque,  por 
exemplo, o proprietário pode ter perdido a posse. 
 
­ a perda da posse implica necessariamente a perda da propriedade? Não! É possível que 
o proprietário perca a posse, sem que isso implique a perda da titularidade da coisa. 
 
Juízo petitório​
* ​  – analisa quem detém um título. 
Juízo possessório​
* ​  – analisa quem tem de fato o exercício da posse. 
 
 
­ importância da verificação do momento da aquisição da posse 
 
a) Percepção dos frutos 
 
O  ​
possuidor  de  boa­fé  tem  ​
direito  aos  frutos  e  direito  de  ser  ressarcido  pelas 
benfeitorias  (necessárias  e  úteis).  Já  o  ​
possuidor  de  má­fé  não  tem  direito  aos  frutos; 
entretanto,  tem direito ao ressarcimento das ​
benfeitorias necessárias​
. Lembrando que o 
possuidor  de  boa­fé  passa  a  ser  possuidor  de  má­fé,  processualmente,  no  momento  da 
citação (posição majoritária). 
 
b) Contagem dos prazos para usucapião 
 
O  momento  da  aquisição   da  posse  é  importante  para  fixar  o  início  da contagem 
dos prazos para  usucapião.  Para que esta ocorra, é preciso transcorrer um lapso temporal 
durante  o qual uma pessoa exerce a posse sobre o bem (lembrando que estamos tratando 
do possuidor que quer se tornar proprietário, ou seja, quer usucapir o imóvel). 
 
c) Interditos 
 

32
Sabemos  que  o  possuidor  temdireito  de  defender  a  sua  condição.  Logo,  ele 
possui  ações  judiciais  através  das  quais  pode  defender  a  sua  posse.  São  os  chamados 
“interditos possessórios”. 
 
­ é possível ter posse de bem público? 
 
O  art.  1204  não  faz  limitação  do  objeto  do  exercício  da  posse.  Ele  não  diz  que 
não  é  possível  o  exercício  de  alguns  poderes  inerentes  à  propriedade  sobre  bens 
públicos, ou seja, ele não proíbe a posse sobre bens públicos. 
A  posse  não  é  mais  a  porta   de  entrada  para  a  propriedade,  como  se  pensava. 
Hoje  se  entende  que  a  posse  independe  da propriedade, de forma  que é possível a posse 
de bens que não podem ser adquiridos, como os bens públicos. 
É  pacífico  na  doutrina  de  que  é  possível  a  posse  de  bens  públicos, 
principalmente  em   tratando  de  bens  dominicais.  Não  obstante,  por  expressa  previsão 
constitucional, é vedada a usucapião de bens públicos. 
­ a posse pode ser adquirida por incapaz? CC, 1205 
 
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: 
I – pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; 
II – por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. 
 
A  posse  pode  ser  adquirida  por  incapaz?  É  preciso  ter  discernimento  para  ser 
possuidor?A leitura do 1204 não indica nenhum requisito.  
Um  incapaz,  do  ponto  de  vista  fático,  pode  exercer  de  fato  alguns  dos  poderes 
inerentes  à  propriedade  (ou  seja,  a  posse).  Porém,  para  Moreira  Alves, 
animusdomini​
independentemente  da  teoria  adotada  (subjetiva  ou  objetiva),  o  ​ é  um 
elemento  essencial  para  o  exercício  da  posse.  Em  virtude  disso,  diz­se  que  o  ​
animus 
implica  necessariamente  a  existência  de  discernimento,  logo  o  incapaz  não  poderia  ter 
posse. 
 
­ constituto possessório – aquisição sem apreensão material 
 

33
Constituto  possessório  diz  respeito  à  possibilidade  de  aquisição  da  posse  sem  a 
apreensão material do bem. 
Ex.:  o  proprietário  de  um  apartamento  vende­o,  mas,  por  um  motivo  qualquer, 
ele  não  pode  sair  de  imediato  dele  (tem  que  esperar  a  reforma  da  casa);  por  isso,  o 
vendedor  (ex­proprietário)  combina  com  o  comprador  que  precisa  ficar  morando  no 
imóvel  por  mais  1  mês;  neste  caso,   o   comprador  do  apartamento  já adquiriu a posse do 
bem, mesmo não tendo ocorrido a apreensão material. 
A pessoa que permanece com o bem é detentor ou possuidor direto? No exemplo  
acima ela é detentor, e não possuidor, pois apenas tem um contato material com o bem. 
Mas  é  possível  que  essa  pessoa   tenha  a  posse  direta.  É  comum  colocar  num 
contrato  a  chamada  ​
“clausula  constituti”, através da qual se pactua que o individuo que  
permaneça com o bem seja qualificado como possuidor direto.  
Assim,  se  não  houver  nenhuma  indicação  expressa,  o  individuo  será  detentor. 
“clausula constituti”, ​
Havendo a ​ ele setápossuidor direto. 
 
 
 
­ CC, 1206 – manutenção dos caracteres 
 
Art.  1.206.  A  posse  transmite​se  aos  herdeiros  ou  legatários  do 
‑​
possuidor com os mesmos caracteres. 
 
­ CC, 1207 
 
Art.  1.207.  O  sucessor  universal  continua  de  direito  a  posse  do  seu 
antecessor;  e  ao  sucessor  singular  é  facultado  unir  sua  posse  à  do 
antecessor, para os efeitos legais. 
 
A  transmissão  universal  entre  pessoas  físicas  só  ocorre  com  a  morte.  Essa 
sucessão ocorre automaticamente no momento da morte. 

34
Já  a  sucessão  singular  (legado),  que  ocorre  quando  alguém  herda  um  bem 
de  cujus​
específico  do  patrimônio  do  ​ ,  não  ocorre  automaticamente.  Ela   depende  do 
cumprimento da sentença do inventário. 
 
O  1206  faz  menção  à  manutenção  da  posse.  Assim,  tanto  na  transmissão 
universal como na singular, a posse será transmitida com as mesmas características.  
Assim,  se  a  posse  era  injusta,  com  a  transmissão,  os  herdeiros também terão uma posse 
injusta. 
 
Quando  se fala em  usucapião,  tem­se como um dos requisitos a existência de um 
lapso  de  tempo  para  ela  ser  reconhecida.  É  possível  realizar  a  soma  do  exercício  da 
posse? Sim, de acordo com o 1207. 
Ex.:  meu  pai  era  possuidor  do  bem  por  3  anos;  ele  morreu,  eu  herdei  a  posse  e 
continuo  morando  por  mais  4  anos;  nesta  hipótese,  posso  usucapir  o  imóvel,  uma  vez 
que o exercício da posse não foi interrompido, houve apenas a sucessão. 
O  antigo  possuidor  não  precisa  ser  necessariamente  um  ascendente  ou 
descendente; pode a posse ter sido exercida anteriormente por qualquer pessoa. 
inter  vivos​
Essa  soma  pode  ser  feita  também  quando  atransmissão  for​ .  Tudo 
dependerá de provas concretas da continuidade da posse. 
 
Essa transmissão da posse é capaz de sanar os vícios anteriormente existentes? 
Ex.:  sou  possuidor  injusto  e  transmito  a  posse;  aquele  que  recebe  será  um 
possuidor justo ou injusto?  
Muitos  autores,  fazendo  uma  interpretação  restritiva,  dizem  que  aquele  que 
adquiriu  a  posse  de  forma  derivada  não  cometeu  nenhuma  das  hipóteses  do  1200  (não 
cometeu  vícios  objetivos);  desta  forma,  ele  teria  a  posse  justa,  sendo  a  transmissão 
capaz de sanar os vícios existentes. 
O  professor  não  concorda  com  essa  posição.  Para ele, a transmissão não sana os 
vícios. Aquele que transmite um  direito não pode transferir mais direitos do que ele tem. 
Assim,  se  o  possuidor  tem  a  posse  injusta,  ele  não   pode transmitir uma posse justa. Por 
isso,  a  transmissão  da  posse  não  é  capaz  de  sanar  os vícios eventualmente existentes.  É 
possível contar o tempo da posse, mas os vícios permanecem. 

35
alvo  prova  em  contrário,  entende​
Nesse  sentido  prevê  o  art.  1203:  “s​ se  manter 
‑​
a posse o mesmo caráter com que foi adquirida”. 
 
O  1207  diz  que  “​
ao  sucessor  singular  é  facultado  unir  sua  posse  à  do 
antecessor”.  ​
Se  o  sucessor  singular  decidir   somar  o  tempo  da  sua  posse  com  a  do  seu 
antecessor,  ele  continua  a  posse  deste  com  os  mesmos  caracteres  que  ela  apresentava, 
conforme  previsão   do   1206.   Mas  se  o  sucessor  decidir  não  somar,  aí  a  posse  é  livre de 
vícios. 
 
Resumindo: 
 
● 1ª corrente​
 ­ ​
a transmissão é capaz de sanar os vícios da posse​
 (Venosa) 
 
Principal  fundamento:  aquele  que  adquire  a  posse não pratica nenhum dos  atos 
previstos no 1200, logo teria posse justa. 
O 1207 dá a faculdade ao sucessor singular de somar o seu tempo de posse com 
o  do  seu  antecessor.  Para  essa  1ª  corrente,  se  o  sucessor  optar  por  somar  o  tempo  de 
posse,  ele  continua  a  posse  do  antecessor,  logo  a  sua  posse  terá  os  mesmos caracteres 
da  posse  do  seu  antecessor.  Por  outro  lado,  se  ele  não  fizer  a  soma  dos  tempos  da 
posse, a sua posse seria livre de vícios. 
 
● 2ª  corrente  –  ​
a  transmissão  singular da  posse não é capaz de sanar os vícios 
existentes​
 (professor e Tepedino) 
 
O  1207  traz  uma  faculdade  ao  sucessor  singular:  unir  ou  não  a  sua  posse  a  do 
seu  antecessor.  Mas   essa  faculdade  não  interfere  nos  vícios  da  posse,  isto  é,  ela  não  é 
capaz  de   saná­los,  de  forma  que,  independentemente  se  o  sucessor  exercer  essa 
faculdade, os caracteres da posse serão transmitidos. 
 
Obs​
.:  na  sucessão  universal não há dúvida sobre a transmissão dos caracteres da posse, 
por expressa previsão do 1207. Assim, os vícios serão transmitidos. 

36
 
Obs​
.:  há  uma  discussão  se  a  transmissão  singular do 1207 abrange também o legatário 
ou  apenas  se  refere  a  transmissão  inter  vivos.  O  legatário  teria,  assim,  faculdade  de 
unir a sua posse a do seu antecessor?  
Prevalece  o  entendimento  de  que  tanto  a transmissão singular inter vivos como 
a  transmissão  após  a  morte  (legatário)  admite  o  exercício  da  faculdade  da  soma  da 
posse do 1207. 
Lembrando  que  o  legatário  é  um  sucesso  singular  que  recebe  a propriedade de 
um bem específico do patrimônio do ​
de cujus. 
 
­ CC, 1208 – permissão e tolerância 
 
Art.  1.208.  Não  induzem  posse  os  ​
atos  de  mera  permissão  ou 
tolerância  assim  como  não  autorizam  a  sua  aquisição  os  atos 
violentos,  ou  clandestinos,  ​
senão  ​
depois  de  cessar  a  violência  ou  a 
clandestinidade. 
 
Enquanto  houver  permissão  ou  tolerância  não  há  posse.  Seria  a  hipótese  do 
“detenção precária”​
indivíduo que tem, segundo Farias e Rosenvald, a ​ do bem. 
Da  mesma  forma,  enquanto  houver  violência  ou  clandestinidade,  não   há 
efetivamente a posse, pois esta precisa de uma estabilidade para ser caracterizada. Ex.: o 
sujeito  alterou  a  linha  demarcatória  do  terreno  (clandestinidade); ele não será possuidor 
enquanto o ato se mantiver como clandestino, ele precisa se tornar público. 
Obs​
.:  Arnold  Wald  faz  uma  interpretação  equivocada  do  1208.  Para  ele,  enquanto 
houver  violência  ou  clandestinidade,  a  posse  é  injusta.  Cessada  a  violência  ou  a 
clandestinidade, a posse passa ser justa. Errado! 
 
­ ligação entre o 1208 e 1224. 
 

37
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou 
o  esbulho,  quando,  tendo  notícia  dele,  se  abstém  de  retornar  a  coisa, 
ou, tentando recuperá​la, é violentamente repelido. 
‑​
 
Para  saber  se   o   esbulhado  perdeu  ou  não  a  posse  é  preciso  investigar  a  sua  
inércia​
.  Se  aquele  que  sofreu  esbulho  manteve­se  inerte,  perderá  a  posse.  Mas,  se  o 
esbulhado  não  tinha  condições  de  saber  que  ocorreu  o  esbulho,  o  1224  determina   que, 
ainda  que  o  esbulhador  esteja  materialmente  exercendo  a  posse,  o  esbulhado  ainda  não 
perdeu a sua posse. 
 
Em síntese: 
* o individuo que não tinha como saber – não perde a posse 
* aquele que ficou sabendo e não fez nada (ficou inerte) – perde a posse 
* aquele que foi violentamente repelido – perde a posse. 
 
­ CC, 1209 
 
Art.  1.209.  A  posse  do  imóvel faz presumir, até prova contrária, a das 
coisas móveis que nele estiverem. 
 
EFEITOS DA POSSE 
 
A posse permite a utilização dos interditos (ações possessórias). 
 
­ CC, 1210 
 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser ​
mantido na posse em caso de 
turbação​
,  ​
restituído  no de ​
esbulho​
, e ​
segurado de ​
violência iminente​

se tiver justo receio de ser molestado. 
 
Este  artigo  traz  as  hipóteses  que  servem  de  base  para  o  manejo  das   ações 
possessórias.  

38
 
Iuspossessionis​
: posse decorrente do exercício (do fato da posse). 
Iuspossidendi​
: posse derivada do título. 
 
Essa  diferença  diz  respeito  ao  âmbito  no  qual  a  questão  possessória  será 
analisada. 
Quando  se  fala  em   ​
iuspossessionis (juízo possessório), deve­se analisar a posse 
decorrente do exercício​

Quando  se  fala  em   ​
iuspossidendi  (juízo  petitório),   deve­se analisar o ​
títuloque 
garante a posse. 
 
­ Ações possessórias: 
 
a) Ação de reintegração de posse – esbulho 
 
Tem  como  objetivo  fazer  com  que  o  possuidor  que perdeu efetivamente a  posse 
retome­a.  
O  possuidor  tem  direito  a  ser  restituído  em  caso  de  esbulho.  O  esbulho indica a 
situação  na  qual  o  indivíduo  perdeu  a  posse  de  maneira  injusta.  Esse  é  o  chamado 
“esbulho possessório”​
,​ ação de reintegração de posse”​
“​
 que permite o ajuizamento da ​ .  
 
b) Ação de manutenção da posse – turbação 
 
Esta  ação  cabe  quando  a  posse  ainda  não  foi  perdida,  mas  o  exercício  da  posse 
“turbação  da  posse”.  ​
está  sendo  violado  por  meio   da  ​ Ex.:  estou  no  meu  terreno;  os 
pretensos  invasores  estão  em  volta  dele  e  cortam  a  luz;  há  um  prejuízo   no  exercício do 
direito de posse. 
 
c) Ação proibitória ou interdito proibitório 
 

39
Quando  não  existe  ainda uma ação efetiva por parte dos interessados em tomar a 
posse  do  individuo,  mas  existe um perigo, uma situação de ameaça ao bom exercício  do  
direito de posse.  
 
.:  os  autores  admitem  a  aplicação  do ​
Obs​ p. da fungibilidade entre as 3 ações, uma vez 
que elas se confundem. 
 
­ posse do esbulhador 
 
Ex.:  MST  invade  o  terreno  de  um  sujeito.  A  posse,  com  o  passar  do  tempo, 
adquire  estabilidade.  Se  a  posse  é  um  exercício  com  função  social,  os  mecanismos  de 
tutela se fortalecem com o tempo. 
 
● Posse  nova:  até  1  ano  e  um  dia.  Procedimento  especial  (CPC,  art.  927)  e 
Possibilidade de liminar (CPC, art. 928). 
 
● Posse  velha:  mais  de  1  ano  e  1  dia.  Procedimento  ordinário  –  CPC,  971. Tutela 
antecipada – CPC, 273 
 
No  caso  da  posse  nova,  em  que  se  usa  o  procedimento  especial,  os  requisitos 
para  comprovar  a  posse  são  mais  superficiais,  não  se  tem  um  rigor  para  comprovar  a 
posse.  Já  no  caso  da  posse  velha, com procedimento ordinário, a comprovação da posse 
é mais demorada, exige mais requisitos. 
Essa  questão  de  posse  nova  e  posse  velha,  importante  para  determinar  se  o 
procedimento  será  especial  ou  ordinário,  é  analisada  sob  a  ótica  do  esbulhador.  A 
análise  do  juiz  quando   o   esbulhador tem uma “posse nova” é mais superficial; quando  a 
posse é velha, é mais profunda. 
A  lei  determina   que,  quando  o  esbulhador tem a posse a menos de 1 ano e 1 dia, 
a  posse  é  qualificada  como  posse  nova,  e  o  procedimento  é  especial  (929,  CPC), 
admitindo que o esbulhado entre com liminar. 
Quando a posse do esbulhador  é maior do que 1 ano e 1 dia, o procedimento será  
ordinário e o esbulhado terá o direito de pedir a antecipação de tutela. 

40
O  fato  de  a  posse  ser  nova  ou  velha  é uma questão processual, não interfere nos 
vícios  da  posse.  Alguns autores falam, erradamente, que a posse velha se  transforma em 
posse justa. Nada a ver! 
 
­ Desforço pessoal 
 
* Reação imediata 
“contanto que o faça logo”​
* ​  – qual o momento? 
 
Art.  1210,  § 1º  O  possuidor  turbado, ou esbulhado, poderá manter​se  
‑​
ou  restituir​se  por  sua  ​
‑​ própria  força​
,  ​
contanto  que  o  faça  logo​
;  os 
atos  de  defesa,  ou  de  desforço,  não  podem   ir  além do indispensável à 
manutenção, ou restituição da posse. 
 
A  pessoa  que  está  sendo   esbulhada  pode  reagir,  utilizando­se  da  própria  força 
para  se  defender.  Isso  está  ligado  à  ideia  de  legitima  defesa.  Essa  defesa  deve  ser, 
obviamente, proporcional à ofensa. 
O  detentor  pode  realizar  o  desforço  pessoal  para  defender  a  posse  de  outrem 
(ex.:  caseiro  pode  defender  a  posse  do  dono  da  casa)?  Sim!  Desde  que  aja 
proporcionalmente à ofensa. 
O  legislador  disse  que  o  esbulhado  pode  reagir  ​
“contanto  que  o  faça  logo”.  A 
doutrina discute o que se entende por isso.  
A  doutrina  majoritária  entende  que  o  “contanto  que  o  faça  logo” diz respeito ao 
momento em que o indivíduo tomou conhecimento da violação a sua posse.  
Já  a  doutrina  minoritária  entende  que​
“logo”  é imediatamente após o esbulhador 
tomar  a  posse.  Assim,  se  um  indivíduo  invade  um  terreno  e  o  proprietário  só  toma 
conhecimento depois de 1 ano, este não pode usar do desforço imediato. 
 
­ Exceção de domínio 
 
*STF – S. 487 
* Enunciado 78 do CJF 

41
 
Ex.:  2  pessoas  disputam  a  posse  de  um  terreno;  aquele  que  está  sendo 
demandado  (réu)  reconhece  que  não  é  possuidor,  mas  diz  ser  o  proprietário.  Isso  é  a 
“exceção  de  domínio”,  ​
chamada  ​ ou  seja,  ele  reconhece  que  perdeu  a  posse,  mas  alega 
que é proprietário. 
 
Art.  1210,  §2º  Não  obsta  à  manutenção  ou  reintegração  na  posse  a 
alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. 
 
Com  este  dispositivo,  o  legislador  garantiu  que  a  pessoa  não  terá  o  direito  de 
posse  reconhecido  simplesmente  por  ser  proprietário  ou  possuir  qualquer  outro  direito 
real  sobre  a  coisa. O importante é analisar quem efetivamente  detém alguns dos poderes 
inerentes à propriedade, será este que terá direito a posse. 
A exceção de domínio, assim, não é admitida no direito brasileiro.  
 
Essa questão sempre foi muito discutida na doutrina e jurisprudência.  
Sob  a  vigência  do  CC  1916,  entendia­se  que,  primeiramente,  devia­se  analisar 
(iuspossessionis)​
quem  detinha  o  exercício  da  posse  ​ .  Só que em determinadas situações 
nenhuma  das  partes  que  pretendiam  ser  reconhecidas  como  possuidoresconseguia 
provar  o  direito  de  posse;  neste  caso, analisava­se em favor daquele que detinha o título 
(a propriedade) do bem. 
Neste  sentido  o  ​
STF  editou  a  ​
súmula  487​
:  “​
Será  deferida  a  posse  a  quem, 
evidentemente,   tiver  o domínio, se com base neste for ela disputada”. ​
A súmula realça a 
diferença entre juízo possessório e juízo petitório.  
 
Além disso, há o ​
enunciado 78 do CJF: 
 
78​
.  Art.  1.210:  Tendo  em  vista  a  não­recepção,  pelo  novo  Código 
Civil, da exceptioproprietatis (art. 1.210, § 2º) em caso de ausência de 
prova  suficiente  para  embasar  decisão  liminar  ou  sentença  final 
ancorada  exclusivamente  no  iuspossessionis,  deverá  o  pedido  ser 

42
indeferido  e  julgado  improcedente,  não  obstante  eventual  alegação  e 
demonstração de direito real sobre o bem litigioso 
 
Este  enunciado  tem  o objetivo de confirmar a diferença  entre  ​
juízo possessório e 
juízo  petitório​
.  Diz  o  enunciado  que,  quando  a  pessoa  não  conseguir  mostrar  em  juízo 
que  é  possuidora  da  coisa,   terá  o  pedido  julgado  improcedente  e  o  processo  termina. 
Não se admite que no mesmo processo se discuta o título, a propriedade. 
 
Obs​
.:  o  Conselho  da  Justiça  Federal,  órgão  do  CNJ,  realiza  esporadicamente  jornadas  
com  o  propósito  de  discutir  problemas  relativos  à  interpretação  do  CC.  Nestas 
jornadassão  aprovados  enunciados,  que  servem  de  orientação  para  os  aplicadores  do 
direito. 
 
­ CC, 1211 
 
Art.  1.211.  Quando  mais  de  uma  pessoa  se  disser  possuidora, 
manter​se​
‑​ á  provisoriamente  a  que  tiver  a  coisa,  se  não  estiver 
‑​
manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso. 
 
Existindo  uma  disputa,  provisoriamente  a  posse  será  mantida  nas  mãos  daquele 
que tiver a apreensão material da coisa, a menos que fique evidente o esbulho. 
 
­ CC, 1212 
 
Art.  1.212.  O  possuidor  pode  intentar  a  ação  de  esbulho,  ou  a  de 
indenização,  contra  o  terceiro,  que  recebeu  a  coisa  esbulhada 
sabendo que o era. 
 
O  individuo  recebeu  a  coisa  viciada  sabendo  que  o  era  recebe  a  posse  injusta. 
Quando  falamos  de  injustiça  da  posse,  estamos  nos  referindo  aos  vícios  objetivos  da 
posse (violência, clandestinidade e precariedade). Existem também os vícios subjetivos. 

43
O  1212determina  que,  se  o  indivíduo  que  recebeu  a  posse  viciada  não  tiver 
conhecimento  dos  vícios,  tendo,  por  isso,  uma   posse  de  boa­fé,  ele  não  poderá  ser 
demandado judicialmente. 
Por  outro  lado,  quando  o  individuo  é  possuidor  de  má­fé,  ou  seja,  ele  recebe  a 
posse injusta sabendo que o era, poderá ser demandando na ação de esbulho.  
 
DIREITO AOS FRUTOS 
 
Art. 1.214. O possuidor de boa​fé tem direito, enquanto ela durar, aos 
‑​
frutos percebidos. 
Parágrafo  único.  Os  frutos  pendentes  ao  tempo  em  que  cessar  a 
boa​fé  devem  ser  restituídos,  depois  de  deduzidas  as  despesas   da  
‑​
produção  e  custeio;  devem  ser  também  restituídos  os  frutos  colhidos  
com antecipação. 
 
O  indivíduo  que  recebeu  a  posse  viciada,  mas  é  possuidor  de  boa­fé  (não  tinha 
conhecimento dos vícios objetivos), terá direito aos frutos da coisa. 
 
Obs​
.: Os frutospodem ser: 
* Fruto que ainda não foi colhido – ​
fruto pendente 
* Fruto que já foi separado ­ ​
fruto percebido 
* Fruto que não foi colhido, mas já deveria ter o sido ​
– fruto percipiendo 
 
Art.  1.215.  Os  frutos  naturais  e  industriais  reputam​se  colhidos  e 
‑​
percebidos,  logo  que  são  separados;  os  civis  reputam​se  percebidos 
‑​
dia por dia. 
 
Art.  1.216.  O  possuidor  de  má​fé  responde  por  todos  os  frutos 
‑​
colhidos  e  percebidos,  bem  como  pelos  que,  por  culpa  sua,  deixou de 
perceber,  desde  o momento em que se constituiu de má​fé; tem direito 
‑​
às despesas da produção e custeio. 
 

44
Art.  1.218.  O  possuidor  de  má​fé  responde  pela  perda,  ou 
‑​
deterioração  da  coisa,  ainda  que  acidentais,  salvo   se  provar  que  de 
igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. 
 
O  1218  traz  a  regra  de  responsabilidade  civil  do  possuidor  de  má­fé.  Este  é 
responsável  mesmo  numa  situação  acidental,  a menos que ele prove  que a situação teria 
ocorrido se a coisa estivesse sob a posse do possuidor legítimo. 
PROPRIEDADE 
 
Pergunta 1​
: o que é propriedade? CC, 1228 
* elemento desigual 
* exclusividade 
* CC, 1231 
 
Art.  1.228.  O  proprietário  tem  a ​
faculdade de usar, gozar e dispor da 
coisa,  e  o ​
direito de reavê​la do poder de quem quer que injustamente 
‑​
a possua ou detenha. 
§ 1º  O   direito  de  propriedade  deve  ser  exercido  em  consonância  com  
as  suas  finalidades  econômicas  e  sociais  e  de  modo  que  sejam 
preservados,  de  conformidade  com  o  estabelecido  em  lei  especial,  a 
flora,  a  fauna,  as  belezas  naturais,  o  equilíbrio  ecológico  e  o 
patrimônio  histórico  e  artístico,  bem  como  evitada  a poluição do ar e 
das águas. 
§ 2º  São  defesos  os  atos  que  não  trazem  ao  proprietário  qualquer  
comodidade,  ou  utilidade,  e  sejam   animados  pela  intenção  de 
prejudicar outrem. 
§ 3º  O   proprietário  pode  ser  privado  da  coisa,  nos  casos  de 
desapropriação,  por  necessidade  ou  utilidade  pública  ou  interesse 
social,  bem  como  no  de  requisição,  em  caso  de  perigo  público 
iminente. 
 

45
O  artigo  não define o que é propriedade, fala apenas quais são as  faculdades e os 
direitos do proprietário. 
O  que  é  propriedade?  Alguns  autores  tentaram  definir.  A  ideia  básica  é  que  ​

propriedade  indica  a  submissão  de  uma  coisa  em  todas  as  suas  potencialidades  a 
uma pessoa​
 (Windscheid). 
Quando  falamos  em  propriedade,  um  dos  elementos  mais  comum  no  senso 
comum  é  a  ideia de ​
exclusividade no uso da coisa, de modo que pode excluir os demais 
sobre  o  uso  do  bem.O  direito  de  propriedade  aparece  como  um  mecanismo  através  do 
qual  uma  pessoa  passa  a   ter  de  forma  exclusiva  a  possibilidade  de  usufruir  de  
determinado bem. 
O  conceito  é  vazio   porque  indica  somente  que  a  pessoa  tem  a  exclusividade 
sobre bem, não individualiza qual é o bem. 
Quando  falamos  que  o  proprietário  de  um  bem pode usá­lo, fruí­lo, estamos nos 
referindo,  principalmente,  ao  ​
aspecto  econômico​
.  Portanto,  a  primeira  ideia  que  temos 
sobre  propriedade  é  a  sua  ligação  com  o  aspecto  econômico.   Ser  proprietário  é  bom 
porque ele tem a possibilidade de explorar a coisa economicamente. 
Ao  lado  do  aspecto  econômico,  pode­se  ressaltar  o  ​
aspecto  do  acesso  a 
propriedade​
, isto é, nem todos tem acesso à propriedade, mas somente o proprietário. 
Além  disso,  tem  o aspecto da  compatibilização do direito da propriedade com os 
interesses da coletividade,  é a chamada ​
“função social da propriedade”.​
O exercício  do  
direito de propriedade tem que respeitar os interesses da coletividade.  
Ex.:  eu  tenho  uma  fazenda;  ela  tem  que  ser  produtiva  (aspecto  econômico); 
ninguém  pode  invadir  (aspecto  do  acesso);  não  posso  utilizar  mão  de  obra  escrava 
(aspecto social). 
 
  Propriedade,  como  vimos,  é  a  submissão  de  um  bem  com  todas  as  suas 
potencialidades a uma pessoa.   
Vimos  também  que  um  dos  principais  aspectos  da  propriedade  é  a 
A propriedade presume​
exclusividade.  Nesse  sentido,  prevê  o  1231  do  CC: “​ se plena e 
‑​
exclusiva, até prova em contrário.” 

46
Por  que  a  propriedade  presume­se  plena  e  exclusiva?  Porque  existem  situações 
nas  quais  a  propriedade  não  é  exclusiva.  Ex.:  condomínio  –a  propriedade  não   é 
exclusiva de uma pessoa; o domínio é compartilhado. 
Há  várias  limitações  ao  direito  de  propriedade,  de  forma  que  nem  sempre  ela  é 
plena.  Ex.:  servidão,  limitações  ao  direito  de  construir  (tamanho  do  apartamento), 
cláusula  de  inalienabilidade  (ex.:  o  donatário­proprietário  fica  privado  no  direito  de 
dispor  da  coisa),  tombamento;  propriedade resolúvel (é aquela em  que há uma condição 
na qual o indivíduo pode exercer seu direito de propriedade) não é uma limitação. 
 
A  propriedade  é,  em  regra,  ​ ,  mas  isso  é  uma  ​
exclusiva​ presunção  relativa​

Presume­se  também  ​ ,  mas  da   mesma  forma  é  uma  ​
plena​ presunção  relativa​
,  que 
admite prova em contrário. 
 
 
­ núcleo econômico: 
a) usar 
b) gozar  
d) dispor 
 
Quandono  1228  se  fala  em   ​
usar,  gozar  e  dispor  da  propriedade,  faz­se 
referencia  ao  ​
núcleo  econômico  do  direito  de  propriedade.  Representam  faculdades 
através  das  quais o proprietário poderá extrair o proveito econômico do exercício do seu 
direito de propriedade. 
 
­ Usar ≠ gozar ≠ dispor 
 
faculdade  de  gozo  ou  fruição  faz­se  referência  a  possibilidade  de  ​
● A​ adquirir 
produtos ou frutos ​
decorrentes do bem.  
 
faculdade de uso​
● Já na ​  não se adquire produtos, ​
apenas se usa o bem​
.  
 

47
● A ​
faculdade  de  dispor  significa  a  possibilidade  de  o  proprietário  ​
determinar  o 
destino do bem​
, tem a possibilidade de transferir a propriedade do bem. 
 
Só o proprietário tem a faculdade de disposição.  Já  o  exercício  da  faculdade 
de  uso  ou  gozo  pode  ser  transferido  para  outras  pessoas  que  não  são  necessariamente 
proprietárias.  Ex.:  o  proprietário  pode constituir direitos reais em nome de outra pessoa, 
como  o  direito  de  usufruto;  neste,  o  usufrutuário  (beneficiário)  pode  fazer  quase  tudo, 
exceto  dispor  do  bem,  ou  seja,  ele  tem  a  faculdade  de  uso  e  gozo,  mas  não  a faculdade 
de  dispor;  no  usufruto, diz­se que o proprietário passa a ser o nu­proprietário, possuindo 
somente a faculdade de dispor. 
 
­ Elasticidade 
 
Vimos  que  o  proprietário  pode  transferir  para  outra  pessoa  certas  faculdades  do 
seu  direito  de  propriedade  (como  no  usufruto).  Disso  resulta  outra  característica  do 
direito de propriedade: a elasticidade. 
elasticidade​
A  ​ ,  portanto,significa  que  ​
o  proprietário  pode  transferir 
temporariamente​
 certas faculdades do direito de propriedade. 
 
­ núcleo jurídico: possibilidade de defesa através da ação reivindicatória 
 
O  1228,  ​ “direito de reavê​
caput  diz  que  o proprietário da coisa tem ​ la do poder 
‑​
de  quem  quer  que  injustamente  a  possua  ou detenha”. ​
O  núcleojurídico de propriedade 
representa  a  possibilidade  de  o  proprietário  defender  sua  condição  contra  outra  pessoa 
que a tenha ameaçado, através da ​
ação reivindicatória​

 
Pergunta2​
: o detentor pode figurar no polo passivo na ação reivindicatória? 
 
O  1228  fala  que  o  proprietário  tem  direito  de  usar,  gozar,  dispor  e  de  reaver  do 
poder de quem quer que injustamente a possua ou ​
detenha​

O  proprietário  de  uma  casa  pode,  por  ex,  ajuizar  ação  reivindicatória  contra  o 
caseiro  (detentor)?  A  doutrina  entende  que  não,  pois  o  detentor  segue  as  ordens  do 

48
proprietário,  sendo  assim,  não  haveria  um  conflito  de  interesses,  condição  necessária 
para  a  prestação  jurisdicional.  Na  verdade,  quando  o  detentor  muda  o  seu 
comportamento,  não   mais  respeitando  as  ordens  do  proprietário,  ele  deixa  de  ser 
detentor  e  passa  a  ser  possuidor.  Este  sim  tem  condições  de  figurar  no  polo  passivo  de 
uma ação reivindicatória. 
“detenha” ​
Por  isso,  Alexandre Freitas Câmara defende que a expressão ​ deve ser 
riscada do 1228. 
Portanto, ​
o detentor não é parte legitima na ação reivindicatória​

 
Pergunta 3​
: A propriedade prescreve?Existe prazo para a reivindicatória? 
 
A doutrina diz que a propriedade é um direito perpétuo. O  professor  indaga: 
essa  posição  está  certa?  A  princípio,  poderíamos  alegar  a  função social da propriedade, 
a  usucapião.  Entretanto,  nestes  casos,  há  outra  pessoa  reivindicando  a  propriedade.  O 
simples  fato  de  não  exercer  o direito de propriedade, sem que ninguém reinvidique, não 
gera  a  perda  do  direito.Somente  quando  alguém  reivindicar  a   propriedade  é  que  pode 
ocorrer a perda do direito. 
A  passagem  do  tempo  por  si  só  não  faz  com  que  o  indivíduo  perca  a  sua 
condição  de  proprietário,  isto  é,  a  propriedade  não  prescreve.  O  proprietário  só perde o 
seu direito se houver alguém. 
“prescrição  aquisitiva”,​
A  doutrina  fala  em  ​ quando  alguém  adquire  o  direito  de 
propriedade por meio da usucapião. 
A propriedade não prescreve  pelo  tempo,  precisa  da  intervenção  do  Estado  ou 
de outra pessoa. 
 
Existe  prazo  para  que  o  proprietário  defenda  o  direito  de  propriedade  violado 
por  meio  da  ação  reivindicatória?  Não  existe!  A ação reivindicatóriapode ser ajuizada a 
qualquer tempo. 
Analisando  o  CC,  não  existe  um  prazo  prescricional  para a ação reivindicatória. 
O  que  existe  são  os  prazos  dentro  dos  quais  uma  pessoa  que  violou  o  direito  de 
propriedade pode vir a se tornar proprietária (são as hipóteses de usucapião).   
 

49
Pergunta 4​
: Existe propriedade de bens incorpóreos? 
 
Existe!  São  as  hipóteses  de  ​
propriedade  intelectual​
.  Mas  esta  não  é  igual  à 
propriedade que estamos tratando aqui. 
Os  civilistas  entendem  que,  em   direitos   reais,  a  propriedade  é  sempre   sobre 
direitos  corpóreos  ou  direitos  reais.  Eles  entendem  que  os  direitos  incorpóreos  não 
geram  o  direito  de  propriedade,  pois  há  diferenças  quanto  à  exclusividade  e  à 
especialidade  (delimitação  espacial  do  bem). Assim, há limitações as características dos 
direitos reais. 
 
Pergunta 5​
: Existe diferença entre “propriedade” e “domínio”? 
 
A maior parte da doutrina não faz diferença entre propriedade e domínio. Mas há 
aqueles  que  a  fazem,  como  Farias  e  Rosenvald.  Dizem  que  ​
propriedade  é   expressão 
utilizada  para  designar  a  ​ ;  já  ​
titularidade  do  bem​ domínio  indica  o  ​
conteúdo  da 
propriedade  (normalmente  esse  conteúdo  está  ligado  ao  núcleo  econômico  da 
propriedade). 
 
 
­ Constitucionalização do núcleo funcional da propriedade: 
 
* CF, art. 170 
* CF, art. 5º, XXII, XXIII 
* CF, art. 182­185 
* CF, art. 190­191 
 
Há  vários  dispositivos  constitucionais  que  tratam  do  tema  propriedade.  É 
importante  perceber  que  a  CF  não  fala  de  uma  só  propriedade,   ela  trata  do  tema 
propriedade  de   uma  forma  diversificada.  E  essa  diversificação  pode  ser  vista  pelos 
referenciais  utilizados  pela  CF.  A  propriedade  vai  ter  um  tratamento  especifico 
dependendo  da  sua  destinação.  Por  exemplo,  a  propriedade  urbanatem  tratamento 
diferente da propriedade rural (questões atinentes à produtividade, meio ambiente, etc.). 

50
 
Diversidade: 
A) Destinação do bem (urbana/rural) 
B) Potencialidadeeconômica (produtiva/improdutiva) 
C) Titularidade (nacional/estrangeira) 
 
Portanto,  quando  falamos  de  propriedade, o correto é pensar em “propriedades”, 
ou seja, ela é urbana ou rural, produtiva ou improdutiva, nacional ou estrangeira. 
Obviamente,  todas  essas  “propriedades”  têm  as  características da exclusividade, 
especialidade, elasticidade, mas a concretização do direito de propriedade é variável. 
 
CC, 1228, §2º – análise objetiva 
 
§ 2º  São  defesos  os  atos  que  ​
não  trazem   ao   proprietário  qualquer 
comodidade,  ou  utilidade,  e  sejam   animados  pela  ​
intenção  de 
prejudicar outrem. 
 
Tradicionalmente,  a  doutrina  falava  do  abuso  do  direito  como  o  ato  praticado 
com  o  intuito  de  prejudicar  outrem.  Entretanto,  hoje,  o  ato  abusivo  tem  uma  avaliação 
objetiva,  não  se  analisa  mais  a  intenção  de  prejudicar  (aspecto  subjetivo).  Portanto,  o 
abuso  da  propriedade  deve  ser  analisado  objetivamente,  sem  perquirir   a  intenção  de 
prejudicar, e ainda que o ato traga benefícios para o proprietário. 
Nesse  sentido  prevê  o  187,  CC:  ​
“Também  comete  ato   ilícito  o  titular  de  um  
direito  que,  ao  exercê​lo,  excede  manifestamente  os  limites  impostos  pelo  seu  fim 
‑​
econômico ou social, pela boa​fé ou pelos bons costumes”. 
‑​
 
Obs​
.: 1228, § 4º e 5º ­ trata do instituto da acessão 
 
­ CC, 1233 – descoberta 
* CPC, 1170 a1176 – procedimento 
* CC, 1234 – recompensa 
* CC, 1235–dever de reparar o dano 

51
* CC, 1236 – divulgação 
* CC, 1237–hasta pública 
 
Art.  1.233.  Quem  quer  que ache coisa alheia perdida há de restituí​la 
‑​
ao dono ou legítimo possuidor. 
Parágrafo  único.  Não  o  conhecendo,  o  descobridor  fará  por 
encontrá​lo,  e,  se  não  o  encontrar,  entregará  a  coisa  achada  à 
‑​
autoridade competente. 
 
Descoberta  é  o  ato  de  encontrar,  achar  coisa  alheia  perdida.  Esse  ato  gera 
deveres  para  quem  achou  e  para  o proprietário. Para quem achou, o dever é de devolver 
ao  proprietário.  Já  o  proprietário  tem  uma  obrigação  facultativa,  ou  seja,  ele  pode 
escolher 2 formas de adimplir a obrigação: ou ele recompensa ou ele entrega a coisa.  
A  descoberta  recai  apenas  sobre  ​
bens  móveis​
. Não faz sentido recair sobre bens 
imóveis (imagina, por ex, “achei uma casa”).  
 
Obs​
.: o CC 1916 chamava o instituto de ​
“invenção”. 
 
A descoberta é diferente do instituto da ocupação.  
A ​
ocupação  é  o  ato  de encontrar coisa alheia ​
abandonada​
. Na ocupação aquele 
que  encontrou  adquire  a  titularidade  da  coisa,  pois  o  proprietário  a  perdeu  quando  a 
abandonou.  
Por  que  se  tem  o  dever  de  devolver  a  coisa  na descoberta? Porque a coisa, além 
de  não  ser  de  quem   achou,  não  foi  abandonada  pelo  proprietário, de modo que este não 
perde a titularidade sobre ela. 
  Como  se  diferencia  a   ​ coisa  abandonada​
coisa  perdida  da  ​ ?  Não  há  um  critério 
objetivo  abstrato  suficiente  para  diferenciar.  Dependerá  das  circunstancias  do  caso 
concreto. 
O  professor  entende  ser   possível  aquele  que  achou coisa perdida usar  do  ​
direito 
de retenção​
 até que o proprietário pague a recompensa.  
 
✓ USUCAPIÃO 

52
 
­ CC, 1238, ​
caput 
 
Art.  1.238.  Aquele  que,  por  quinze  anos,  sem  interrupção,  nem 
oposição,  possuir  como  seu  um  imóvel,  adquire​lhe  a  propriedade,  
‑​
independentemente   de  título  e  boa​fé;  podendo  requerer  ao  juiz  que 
‑​
assim  o  declare  por  sentença,  a  qual  servirá  de   título  para   o  registro 
no Cartório de Registro de Imóveis. 
 
­ noções preliminares: 
 
* conceito 
 
Usucapião  é um modo de aquisição da propriedade decorrente da junção da 
passagem  do  tempo  com  a  posse,  em conformidade com os requisitos estabelecidos 
pela lei (para cada hipótese de usucapião). 
 
* aquisição originária 
 
A  doutrina  majoritária  entende  que  a  usucapião  é  um  modo  de  ​
aquisição 
originária​
 da propriedade.Não ocorre, portanto, a passagem da titularidade. 
Caio  Mário,  por  sua  vez,  defende  que  a  usucapião  é  um  modo  de  aquisição  
derivado da propriedade (posição minoritária). 
Por  que  é  importante  definir  se  a  aquisição  é  originária  ou  derivada? Por contra 
dos  vícios.  Quando  falamos de aquisição derivada, reconhece­se que os eventuais vícios 
da  propriedade   são  transmitidos;  já  na  aquisição  originária,  os  vícios  não  são 
transmitidos.  
 
Os  vícios  decorrentes  da  posse  injusta  são  convalidados  pela  usucapião?  Sim! 
Não  se  pode  falar  em  continuidade  posse.  A  aquisição  da  propriedade  pela  usucapião 
quebra  a  posse,  de  modo  que  aquele  que  usucapiu  passa  a  ter  a  posse  justa,  ainda  que 

53
antes  a  posse  seja  injusta.  Isso  porque  a  usucapião  é  modo  de  aquisição  originária  da 
propriedade, isto é, há um direito novo. 
 
* fundamento: função social  
 
Se  o  individuo  que  usucapiu  cumpriu  os  requisitos  (posse  +  tempo  +  requisitos 
específicos),  ele  exerceu  a  função  social,  e  com  base  nela  tem  a  legitimidade  de 
reconhecer a titularidade sobre o imóvel. 
Orlando Gomes: segurança jurídica. 
Lafaiete Rodrigues Pereira: presunção de renúncia. 
 
* objeto: coisas materiais / direitos reais 
 
O  que  pode  ser  objeto  de   usucapião?  ​
Coisas  materiais  e  ​
direitos  reais  (ex.: 
servidão  de  passagem   pode  ser  usucapida;  a  titularidade não é transferida, mas o direito 
de uso passa a pertencer a outra pessoa). 
 
* elementos comuns: posse + tempo 
 
Posse  e  ​
tempo estão presentes em todas as hipóteses de usucapião. A posse pode 
ser  justa  ou  injusta;  o  tempo  pode  ser  maior  ou menor; não obstante isso, são requisitos 
essenciais para qualquer forma de usucapião. 
ad  usucapionem​
Quando  se  fala  em   usucapião,  a  posse  tem  que  ser  ​ ,  ou  seja,  o 
possuidor tem que ter o interesse de ser proprietário. 
 
­ ​
Pergunta​
: bens condominiais podem ser usucapidos? 
 
Ex.:  três  pessoas  exercem  em  condomínio  a  titularidade  sobre  um  terreno. Pode 
haver a usucapião por um deles? 
Caio  Mário  e  Orlando  Gomes  dizem  que  não  é  possível  a  usucapião  de  bens 
condominiais.  Justificam  que  haveria  uma  autorização  implícita  para  que  um  tenha  a 
posse do terreno. 

54
A  doutrina  majoritária  entende  que  é  possível,  dependendo  da  forma  como  a 
posse  esteja  sendo  exercida.  Se,  por  ex,  no  caso  concreto  apenas  um  dos  proprietários 
esteja  exercendo  a  posse,  de  forma  exclusiva,  contrária  à  posse  dos  demais,  é  possível 
reconhecer a usucapião.  
Posse  ​
pro  diviso:  quando  há  uma  demarcação.  Ex.:  um  irmão  possui  50%  do 
terreno e o outro 50%. Doutrina majoritária: exigência para a usucapião. 
Posse  ​
pro  indiviso:  quando  não  há  uma  demarcação.  Ex.:  os  dois  irmãos 
possuem  os  100%  do  terreno.  Para  o  professor,  nada  impede  a  usucapião,  mas  a 
doutrina majoritária entende de forma diferente. 
Há  discussões  se  há  posse  exclusiva  em  relação  aos  ​
atos  de  mera  permissão ou 
tolerância​

HIPÓTESE LEGAL: Art. 1.240­A do CC 
 
­ ​
Pergunta​
: áreas comuns podem ser usucapidas? 
 
Ex.: o individuo fecha o final do corredor de um prédio. É possível usucapir? 
De  um  lado,  o  condomínio  vai  defender  que  é  ato  de  mera  permissão  ou 
tolerância; já o individuo vai falar que está exercendo a posse exclusiva. 
Há  decisões,  inclusive  no  STJ,  reconhecendo  a  usucapião  de  bens  comuns. 
Justificou­se  que,  se  a  área  não  traz  qualquer  tipo de utilidade para os demais, a não ser 
para  o  indivíduo,  admite­se  a  usucapião.  Faz­se  referência  também  ao  princípio  da 
boa­fé  objetiva.  Algumas  decisões  não  reconhecem  a  usucapião,  e  outras  dizendo  em 
manutenção da situação consolidada. 
Qual  a  importância  em  se  falar  em  usucapião  ou  manutenção  da  situação 
consolidada?  Se  falar  em  usucapião,  o  individuo  pode  realiar  obras;  pode  vender  o 
apartamento  com  o  corredor.  Por  outro  lado,  se  falar  em  manutenção  da  situação 
consolidada,  há  a  discussão  se  o  indivíduo  pode  ou  não  integrar  o  bem  comum  ao  seu 
imóvel. 
 
 
 
 

55
>Hipóteses de usucapião 
 
animus  domini​
Elementos  comuns:  posse  contínua;  ​ ;  sem  oposição  (saiu 
vencedor de todas as tentativas de retomada) 
 
● Usucapião extraordinária​
 (1238, caput) 
 
­ Elementos: posse + tempo (15 anos) > fato da posse como função social 
 
O  legislador  exige  como  requisitos  a  ​
posse  e  ​
passagem   do  tempo​
.  Ele não fala 
em  boa­fé,  em  justo  título,  em  posse  justa  ou  injusta.  Nesta  hipótese,  portanto,  o 
indivíduo tem que exercer a posse durante ​
15 anos. 
 
● Usucapião extraordinária com prazo reduzido​
 (1238, p.ú) 
 
Parágrafo  único.  O prazo estabelecido neste artigo reduzir​se​
‑​ á a​
‑​ dez 
anos  se  o  possuidor  houver  estabelecido  no  imóvel  a  sua  ​
moradia 
habitual​
, ​
ou​
 nele realizado ​
obras ou serviços de caráter produtivo​

 
Aqui há requisitos não cumulativos (um ou outro): 
 
➢ Moradia  habitual​
.  O  morador pode ter outros imóveis, não há restrições 
quanto a isso (em outras hipóteses de usucapião há essa exigência). 
 
➢ Realiza obras ou serviços de caráter produtivo​

 
Nesses 2 casos o tempo é de 10 anos. 
 
pro labore ​
● Usucapião rural, ​ ou agrário–“especial rural”​
 (1239) 
 
Art.  1.239.  Aquele  que,  ​
não  sendo  proprietário  de  imóvel  rural  ou 
urbano​
,  possua  como  sua,  por  ​
cinco  anos  ininterruptos​
,  ​
sem 

56
oposição​
,  área  de  terra  ​
em  zona  rural  ​
não  superior  a  ​
cinquenta 
hectares​
,  tornando​a  ​
‑​ produtiva  por  seu  trabalho  ou  de  sua  família, 
tendo nela sua ​
moradia​
, adquirir​lhe​
‑​ á a propriedade. 
‑​
 
Há os seguintes requisitos: 
 
a) Residir no imóvel e não possuir outro; 
 
b) Área  rural  –  a  qualificação  de  uma  área  como  rural  pode  se  dar  por  lei  ou  pelo 
juiz; 
 
c) Área de até 50 hectares. 
 
d) Área produtiva.​
O individuo precisa trabalhar na área​

 
­ prova negativa 
 
O  1239  fala  que  o  individuo  não  pode  ter  outro  imóvel.  Como  se  prova  isso? 
prova  negativa:  ​
Através  da  chamada  ​ o  usucapiente  precisa  apenas  declarar  que  não 
possui  outro  imóvel;  já  aquele  que  quer  defender  o  seu  direito  de  propriedade 
(usucapido)  deve  provar  que  aquele  tem  um  imóvel  (ex.:  leva  uma  certidão  do  cartório 
de registro de imóveis). 
 
­ terreno com mais de 50 hectares 
* posse de 50 hectares  
* posse de mais de 50 hectares 
 
Como fica a usucapião quando: 
 
­  o  terreno  tem  mais  de  50  hectares,  mas  a  posse  é  de  50  hectares  (ou  menos)? 
Pontes de Miranda diz que nesta hipótese é possível a usucapião da área. 
 

57
­  o  terreno  tem  mais  de  50  e  a  posse  é  mais  de  50  hectares​
?  Pontes  de  Miranda  diz 
que  nesta  hipótese não é  possível a usucapião. Argumenta­se que o proprietário pode ter 
deixado  de  enfrentar  a  situação  porque  a  lei  veda  a  usucapião  nesta  hipótese.  O 
professor  entende  que  esse  argumento  é  fraco;  permite­se  a   desídia  do  proprietário. 
Entretanto,  ele  reconhece  que  permitir  a  usucapião  nesta  hipótese  é  contrário  à  função 
social  da propriedade; uma área superior de 50 hectares é  muito grande, o que permitiria 
um  enriquecimento  injustificável,  contrário  a  função  social  da  propriedade.  Nesta 
hipótese,  poderia  o  possuidor  reivindicar  a  usucapião  pela  modalidade  extraordinária 
(1238). 
 
O  1239  fala  em  ​
posse  contínua  e  sem  oposição​
.  O  que  significa  sem 
oposição?Sem  oposição  não  significa  que  a  posse  não  tenha  sido  contestada;  na 
verdade,  significa  que  o  indivíduo  venceu  todas  as  contestações  feitas;   ninguém  
conseguiu sobrepor sua posse sobre aquele que pretende usucapir. 
 
­ acessão de posses – possível ou não? CC, 1243 
 
Art.  1.243.  O  possuidor  pode,  para  o  fim  de  contar  o  tempo  exigido 
pelos  artigos  antecedentes,  acrescentar  à  sua   posse  a  dos  seus 
antecessores  (art. 1.207),  contanto  que  todas  sejam  contínuas, 
pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa​fé. 
‑​
 
Acessão  de  posses  é  a  possibilidade  de  o  atual  possuidor  unir  a  sua  posse  a 
do  seu  antecessor,  com  o  objetivo  de  alcançar  o  tempo  para  usucapir​
.  Ex.:  meu 
antecessor  exerceu  a  posse  durante  5  anos;  eu,  durante  10  anos;  utilizo   da acessão para 
usucapir pelo 1238 (usucapião extraordinária). 
 
A  acessão  está  presente  em  todas   as  hipóteses  de  usucapião​
.  Alguns 
doutrinadores,  porém,  costumam  fazer  algumas  ressalvas.  Entende­se,  por  ex,  que  não 
seria  possível  a  acessão  de  posses  na  usucapião  rural,  pois  esta  seria  uma  hipótese 
personalíssima  (o  individuo  teria  que  exercer  a  posse  durante  os  5  anos).  O  professor, 

58
por  sua  vez,  entende  que  o  1243 não diz nada; logo, ele entende que se aplica a todas as 
hipóteses. 
 
Obs​
.:  Há  um  enunciado  do CJF que diz que não é possível a acessão de posses no caso 
da usucapião rural. 
 
 
 
● Usucapião urbana – “especial urbana”​
 (1240) 
 
­ CF, 183​
(= 1240) 
­ Estatuto da cidade – art. 10º, lei 10.257/2001 
 
Art.  1.240.  Aquele  que  possuir,  como  sua,  área  urbana  de  até 
duzentos  e  cinquenta  metros  quadrados,  por  cinco  anos 
ininterruptamente  e  sem  oposição,  utilizando​a  para  sua  moradia  ou 
‑​
de  sua  família,  adquirir​lhe​
‑​ á  o  domínio,  desde  que  não  seja 
‑​
proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
 
A usucapião urbana tem como fundamentoso 183, CF e o direito fundamental a 
moradia. 
 
­ Requisitos: 
 
a) Único imóvel 
b) Área urbana 
c) Área máxima de 250 m² ​
(independentemente se o terreno é ou não edificado). 
d) Moradia sua ou da família 
 
Surge  aqui  a  discussão  acerca  da possibilidade de acessão da posse. O indivíduo 
que  receber  a  posse  do  seu  antecessor  precisa  estar  morando  no  imóvel  ou  não?  Ele 
pode unir a sua posse com a do antecessor ou não?  

59
O  entendimento  majoritário  é  que  o  herdeiro não precisa ser morador  da casa. O 
Estatuto  da  Cidade dizia o contrário, mas o CC 2002 não o faz. Sendo assim, entende­se 
que  o  herdeiro,  ainda  que  more  em  outro  lugar,  pode  juntar  a  posse  do  seu  antecessor 
para completar os 5 anos. 
 
Obs​
.:  discussão  acerca  da  acessão  de  posse.  Tanto  na  usucapião  rural  como na urbana 
vale  a  mesma  ideia:  o  1243  não  faz  nenhuma  ressalva  quanto  as  modalidades  de 
usucapião,  de  modo  que  em  qualquer  modalidade  de  usucapião  é  possível  a   soma  das 
posses. A ressalva é feita pela doutrina, o que é criticável, pois a lei não o faz. 
● CC, 1240­A – nova modalidade de usucapião 
 
Art.  1.240­A​
. Aquele  que  exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente 
e  sem  oposição,  posse  direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano 
de  até  250m²  (duzentos  e  cinquenta  metros  quadrados)  cuja 
propriedade  divida  com  ex­cônjuge  ou  ex­companheiro  que 
abandonou  o  lar,  utilizando­o  para  sua  moradia  ou  de  sua  família, 
adquirir­lhe­á  o  domínio  integral,  desde  que  não  seja proprietário de 
outro imóvel urbano ou rural. ​
(lei nº 12.424, de 2011) 

§  1o​

   O  direito  previsto  no caput não  será  reconhecido  ao  mesmo 
possuidor mais de uma vez. 
 
O  entendimento  é  que  essa   nova  modalidade  de  usucapião  surgiu  em virtude de 
problemas  detectados  em  certas  comunidades  nas  quais  um  dos  cônjuges  desaparecia  e 
deixava  o  outro  com  uma  pendência  no  financiamento  do  imóvel.  Essa  modalidade  foi 
instituída pela lei que criou o programa“Minha Casa, Minha Vida” (lei 12.424/2011). 
Entende­se  que  essa  modalidade  diz  respeito  mais  ao  direito  de  família  do  que 
propriamente aos direitos reais. 
 
­ Pontos importantes: 
 
* O prazo é de 2 anos. 
 

60
* A moradia precisa ser docônjuge abandonado. 
 
separação de fato​
*  Quando  se  fala  de  “ex­cônjuge”,  entende­se que se trata da ​ , 
não necessitando ter um processo de separação judicial em curso. 
 
*  A  partir  de  quando  passa  a  contar  os  2  anos?  A  partir da publicação da  lei,  ou 
seja, 2011. 
 
*  O  imóvel  precisa  ser  de  ​
titularidade  conjunta​
,  tanto é  assim que o legislador 
colocou  que  o  cônjuge  vai  adquirir  “o  domínio  integral”,  inferindo­se  que  ele  não  o 
possuía. 
*  Entende­se  que  a  expressão  “posse  direta”  é  empregada  na  acepção  atécnica. 
Posse  direta  quer  dizer  que  as  pessoas  estão  morando  no  imóvel,  não  é  que  este  foi 
alugado, arrendado, não existindo tecnicamente posse direta e posse indireta. 
 
­ CC, 1241 – natureza declaratória da sentença da usucapião 
 
Art.  1.241.  Poderá  o  possuidor  requerer  ao  juiz  seja  declarada 
adquirida, mediante usucapião, a propriedade imóvel. 
Parágrafo  único.  A  declaração  obtida  na  forma  deste  artigo 
constituirá  título  hábil  para  o  registro  no  Cartório  de  Registro  de 
Imóveis. 
 
O  artigo  busca  ressaltar  a  ​
natureza  declaratória  da  sentença  da  usucapião​

Isso  quer  dizer  que  o  juiz,  ao  sentenciar,  simplesmente  reconhece  uma  situação  que  já 
está  consolidada:  o  individuo  já  adquiriu  o  domínio  do  imóvel.  A  sentença  apenas  vai 
atestar essa situação. 
 
­Súmula 237 do STF–​
“O usucapião pode ser arguido em defesa” 
 
Diante  de  uma  ação  reivindicatória,  o  sujeito  pode  alegar  usucapião  como 
matéria de defesa? O entendimento do STF é que o indivíduo pode. 

61
Ex.:  o  autor  fala  que  quer  o  imóvel  de  volta  por  ser  o  proprietário  e  o  réu  pode 
contestar defendendo que não vai entregar porque ele usucapiu o imóvel. 
Em  tese  não  seria  possível  porque  haveria  confusão  entre  o  ​
juízo  petitório  e  o 
juízo  possessório​
.Na  ação  reivindicatória  estamos  no  âmbito  do  juízo  petitório,  pois  se 
discute  o  título.  Já  na  ação  de  usucapião  o  juízo  é  possessório,  pois  se  discute  o 
exercício de fato da posse. 
 
­ retroatividade dos efeitos da sentença: inicio da posse ou consolidação dos requisitos? 
 
A  partir  de  que  momento  o  indivíduo  vai  ser  reconhecido  como  proprietário  e 
quais as consequências disso? 
 
 
O individuo vai ser considerado proprietário desde o momento em que cumpriu 
os requisitos necessários para usucapir ou desde o momento em que ele iniciou a posse 
no imóvel? 
A ​
corrente minoritária entende que a  retroatividade é desde o ​
momento em que 
o  indivíduo  obteve  os  requisitos​
.  Como  fica  o  período  entre  o  início  da  posse  e  a  
obtenção  dos  requisitos,  em  que  o  individuo  tinha  a  posse,  mas  não  a propriedade? Por 
não  ser  ainda  proprietário,  o  usucapiente  teria  que  devolver  os  frutos   do   imóvel  ao 
usucapido  (antigo proprietário). Embora minoritária, o professor acha esta  corrente mais 
correta. 
posição  majoritária​
A ​ ,  por  outro  lado,  entende  que   a  retroatividade  considera o 
individuo  proprietário  ​
desde  o  inicio  da  sua  posse​
.  Usa­se  como  argumento  a   justiça 
social, a aparente propriedade do possuidor frente a terceiros. 
 
­ ​
Questão​
: hipoteca constituída pelo proprietário 
 
Durante  o  período  entre  o  início  da  posse  até  a  sentença  de  usucapião,  é  aquele 
que  sofreu  a  usucapião  que  constava  nos  registros  do  imóvel,  era  ele  o  oficialmente 
proprietário.  Sendo  assim,  ele  poderia  gravar  o  imóvel  com  direitos  reais,  como  a 
hipoteca.  

62
 
Obs​
.:  hipoteca  –  é  um  direito  real  de  garantia  sobre  bem  imóvel.  Ou  seja,  o  titular  do 
imóvel  coloca  imóvel  a  disposição  de  um  eventual  credor  para  que   diante  do 
inadimplemento  o  imóvel  seja  vendido  para  o  pagamento  da  dívida.  Ex.:  tomei  um 
empréstimo  junto  ao  banco  e,  como  garantia  do  pagamento,  constituo  hipoteca  sobre 
minha casa. 
 
  O  que  acontece  se  o  imóvel  objeto  de  usucapiãofoi  gravado  com  hipoteca?  O 
usucapiente  recebe  o  imóvel  gravado  com  a  hipoteca,  ou  ele  se  torna  proprietário  sem 
esse gravame?  
A ​
doutrina  majoritária  entende  que  a  usucapião  é  uma​
aquisição  originária da 
propriedade,  logo  aquele  que  usucapiu  irá  adquirir  a  titularidade  do  imóvel   livre  da 
hipoteca.  
Alguns  autores,  como  Caio  Mário,  discordam;  para  eles,  a  usucapião  é  uma 
aquisição derivada​
, logo a hipoteca continuaria gravando o imóvel. 
 
Questão​
:  quem  é  o  responsável pelos impostos durante o período entre o início da posse 
e  a  sentença  da  usucapião?  Se  o  proprietário  paga  os  impostos,  cumpre  as  
determinações da  prefeitura quanto a manutenção e conservação da propriedade, ele está 
exercendo  uma  função  social,  pode­se  defender  que  o  proprietário  não  está  inerte, logo 
poderia usar isso na sua defesa na ação de usucapião. 
Para o professor, o pagamento de impostos é um dos elementos que caracteriza o 
exercício da função social. Mas não é o único. Vai depender do caso concreto. 
Em  regra,  o  obrigado  a  pagar  os  impostos  é  o  titular  do  imóvel. Entretanto, não 
havendo  o  pagamento  dos  impostos  e   o   imóvel  for  objeto  de  usucapião,  quem  deverá 
pagar?  A  princípio,  o professor  entende que aquele que usucapiu teria  que pagar, por ter 
se  tornado  o  proprietário  desde  o  início  da  sua  posse  (segundo  a  corrente  majoritária). 
Não obstante, essa saída dependerá muito do caso concreto.  
O  sujeito  que  perdeu  a  propriedade  pode  entrar  com  uma  ação  de  cobrança 
contra  aquele  que  usucapiu  pelos  impostos  pagos  entre  o  início  da  posse  deste  e  a 
sentença  da  usucapião?  Para  o  professor  depende  da  linha  de  raciocínio  adotada: 
adotando  a  concepção  majoritária,  segundo  a  qual  aquele  que  usucapiu  se  torna  o 

63
proprietário  desde  o  início  da  posse,  ele  teria  que  arcar  com  os  impostos  desde o início 
da  posse;  por  outro  lado,  pode­se   entender  que  obrigá­lo  a  pagar  seria  contra  a  justiça 
social, contrariando até mesmo a ideia de solidariedade da usucapião. 
 
● Usucapião ordinária​
 (1242) 
 
­ Requisitos: posse + prazo + justo título + boa­fé 
 
Art.  1.242.  Adquire  também  a  propriedade  do  imóvel  aquele  que, 
contínua  eincontestadamente​
,  ​
com  justo  título  e  boa​fé​
‑​ ,  o  possuir 
por ​
dez anos​

 
* 10 anos 
* justo título 
* boa­fé 
 
usucapião  ordinária  ​
Na  ​ ad  usucapionem​
a  posse,  além  de  ser  ​ ,  ​
tem  que  ser 
derivada de​
justo título​
 e ser de​
boa­fé​
.  
Não  obstante,  essa  posse  pode  ser viciada. A existência do justo título e a boa­fé 
não  indicanecessariamente  uma  posse  livre  de  vícios.A  posse  pode  ser  injusta  e  ainda 
sim permitir a usucapião ordinária. 
 
Obs​
.: posse de boa fé é a ignorância quanto à existência de vícios. 
 
● Usucapião tabular​
 (p.ú, 1242) 
 
Parágrafo  único.  Será  de  ​
cinco  anos  o  prazo  previsto  neste  artigo  se 
o  imóvel  houver  sido  adquirido,  ​
onerosamente​
,  com  base  no  ​
registro 
constante do respectivo cartório,  cancelada posteriormente, desde que 
os  possuidores  nele  tiverem  estabelecido  a ​
sua moradia​
,  ​
ou realizado 
investimentos de interesse social e econômico. 
 

64
Sabe­se  que  o  registro  é  o  modo  de  aquisição  da  propriedade  imóvel.  Ex.: 
comprei  uma  casa,   paguei R$1 milhão; isso não me faz proprietário; eu preciso registrar 
a casa no registro de imóveis; o contrato de compra e venda só tem efeito obrigacional. 
O  ​
registro  gera  uma  ​ (iuris  tantum)​
presunção  relativa​ da  veracidade  das 
informações nele contidas.  
Ex.:  João  comprou  um  imóvel,  pagou  e   verificou  no  registro  que  o  vendedor 
constatava  como  o  real  titular;  posteriormente,  um  terceiro  conseguiu  judicialmente  a 
retificação   do   registro,  o  titular  (que  vendeu  a  casa)  não  era  o  real  proprietário, e sim o 
terceiro.Neste  caso,  o  terceiro  tem  direito  de  retomar  o  imóvel  que  foi  vendido  para 
João? 
Solução​
:  a  presunção  gerada  pelo  registro  é  relativa,  logo,  não  se  pode  confiar 
fielmente  nele,  ainda  que  se  tenha  tomado  as  diligências  possíveis.  Assim,  aquele  que 
adquiriu  a  casa  (João)  perderá  o  imóvel  que  comprou,  cabendo­lhe  cobrar  o  valor 
daquele que falsificou o registro. 
usucapião tabular​
Em  virtude  de  essa solução ser injusta,  criou­se a ​ : aquele que 
adquiriu  ​ e   de  ​
onerosamente​ boa­fé  o  imóvel  com  base  em  ​
registro​
terá   direito  a 
usucapião  tabular,  desde  que  tenha  feito  do  imóvel  a  sua  ​
moradia  ou  tenha  realizado 
nele ​
investimentos de interesse social ou econômico​
, durante o prazo de ​
5 anos. 
­ CC, 1245 – aquisição pelo registro 
 
Art.  1.245.  Transfere​se  ​
‑​ entre  vivos  a  propriedade  mediante  o 
registro​
 do título translativo no ​
Registro de Imóveis​

§ 1º  Enquanto  não  se   registrar  o  título  translativo,  o  alienante 
continua a ser havido como dono do imóvel. 
§ 2º  Enquanto  não  se   promover,  por  meio  de  ação  própria,  a 
decretação  de  invalidade  do  registro,  e  o  respectivo  cancelamento,  o 
adquirente continua a ser havido como dono do imóvel. 
 
Vimos  às  hipóteses  de  usucapiãoda  propriedade  imóvel,  que  são  modos  de 
aquisição  (originária)  da  propriedade.  Aqui  vamos  tratar  de  ​
aquisição  de  propriedade 
imóvel pelo registro​
 (e não pela usucapião). 

65
No  direito  brasileiro  tem­se  2  etapas  para  a  aquisição  da  propriedade  pelo 
registro:  ​ relação  obrigacional  (contrato);  e  ​
1)​ 2)​
transferência  do  imóvel  mediante  o 
registro.  A  transferência  da  titularidade  ocorre,  portanto,  a  partir  da  realização  do 
negocio jurídico e com o registro. 
No  direito  brasileiro,  o  registro  mantém  conexão  com  o  negócio  jurídico  que  o 
fundamenta.  A  presunção  de  veracidade das informações contidas no registro é relativa, 
ou seja, se o negocio jurídico levado ao registro for nulo, o registro será modificado. 
 
Obs​
.:  na  Alemanha,  por  exemplo,   a  presunção  do  registro  é  absoluta.  Lá,  ainda  que  o 
negócio seja nulo, a transferência ocorrida com o registro não se altera. 
 
Questão​
:  se  a  sentença  de  usucapião  tem  caráter  declaratório,  por  que  é  necessário  o 
registro para transferir a propriedade do imóvel? 
Alguns  autores  fazem   diferença  entre  propriedade  e   domínio.  Dizem  que  o 
domínio  é  o  conteúdo  material   da  propriedade,  aquilo  que  é  possível  fazer  a  partir  da 
condição  do  proprietário;  já  a  propriedade  é  o  conteúdo  formal  da  propriedade.  Na 
prática,  o  domínio  materializaria  a  propriedade.  Para  esses  autores,  não  haveria  uma 
contradição  entre  a  sentença  declaratória  e  a  obrigatoriedade  do  registro. A sentença de 
usucapião  seria  declaratória  da  aquisição  do  domínio.  E  a  propriedade,  a  titularidade,  a 
questão formal seria resolvida pelo registro da sentença de usucapião.  
A  maioria  da  doutrina  não  diferencia  propriedade  e  domínio,  de  modo  que  a 
sentença  de  usucapião  teria  natureza  declaratória  e  representaria exceção à regra de que 
a titularidade só é adquirida com o registro. Este só teria mera função de dar publicidade 
à transferência do domínio/propriedade. 
 
­ Atributos do registro: 
 
a)  Constitutividade  –  O  registro  tem  ​
caráter  constitutivo​
,  ou  seja,  ele cria ou modifica 
uma  situação  jurídica,  de  modo  que  sem  ele  não  é  adquirida  a  propriedade  (exceto  na 
p.  da  obrigatoriedade​
usucapião).  Está  ligado  ao  ​ ,  pois  o  registro  é  obrigatório  para  a 
aquisição da propriedade. 
 

66
b)  Prioridade  ou  Preferência​
–o  registro  funciona  como  histórico  do  imóvel  (titulares,  
direitos  reais  gravados,  etc.)  e  estabelece  uma  relação  de  preferência  entre   os  títulos 
(título que transfere a titularidade; titulo que grava com ônus; etc.) que constam nele.   
 
Esta prioridade pode ser analisada de 2 formas: 
 
>é  possível  estabelecer  a  ordem  dos  títulos com base na ordem de registro dos negócios 
jurídicos  celebrados.  Ex.:  o  mesmo  imóvel  é  vendido  2  vezes;  será  proprietário  aquele 
levou primeiro ao registro. 
 
Obs​
.:  há  uma  ordem  para  se  registrar  um  imóvel:  aquele  que  levou  o  negócio  jurídico 
primeiro  ao  registroterá  prioridade.  Ressalte­se  que  o  registro  é um ato complexo: até o 
ato  final  do  registro  ocorrem  outros  atos,  como,  por  exemplo,  durante  30dias  o 
Cartórioanalisaa  regularidade  do  imóvel.Sendo  assim,  a  ordem  de  chegadanão 
necessariamente  vai  se materializar no final do registro, pois existe uma análise material 
do título, a qual pode impedir o registro do negócio que foi levado primeiro. 
 
>  é  possível  estabelecer  uma  ordem  de  preferência  com  base  no  registro  de  direitos 
reais,  por  exemplo,  a  hipoteca.  Ex.:  dois  credores  hipotecários  sobre  o  mesmo  bem; 
existe  uma  ordem  de  preferência  dada  pelo  registro;  a  hipoteca  é  executada;  o 
pagamento  aos  credores  será  feito  com  base  na  ordem  do  registro  da  hipoteca;  desta 
forma, é possível que o 2º credor não leve nada. 
 
c)  Continuidade​
–o  registro   serve  como  “biografia”,  estabelecendo   uma  continuidade 
dos  titulares  dos  imóveis  e  dos  direitos  reais  constituídos.   Essa  continuidade  será 
respeitada  no  momento  da  transferência  da  titularidade,  pois  a  pessoa  que  pretende 
transferir a titularidade está credenciada para tanto no registro. 
Em  síntese,  a  continuidade   determina  que  a  pessoa  que  figura  no registro  é apta 
para transferir a titularidade para outra pessoa, de modo a garantir a continuidade. 
 

67
d)  Publicidade  formal​
­  o  registro  é  um mecanismo que garante a publicidade dos títulos 
do  imóvel.  É  formal  porque nem todos  têm  condições fáticas de saber que o imóvel está  
registrado. 
 
e)  Legalidade​
–o   oficial  do  registro  faz  um  exame  de  legalidade  do  registro,  porém  tal 
exame  de  legalidade  é  superficial, ou seja, analisa­se se  o  registro está de acordo ou não 
com  as exigências da  lei  (ex.: feito por instrumento público, taxas, etc.); não se analisa o 
conteúdo do registro (ex.: não vai analisar se o negócio jurídico é viciado).  
 
­ Princípios: 
 
1– Obrigatoriedade 
 
O registro é obrigatório para a aquisição de propriedade imóvel. 
 
2 – Consentimento formal 
 
Quandose  realizaum  negócio  jurídico  com a tentativa de transferir a titularidade, 
há  um  consentimento  do  titular  do  imóvel   quanto  à  transferência  da  sua  titularidade. 
Feito  isso,  não  é  preciso  de  outro  consentimento.  Existe  um  consentimento  implícito 
pela  própria  existência  do  negócio  jurídico,  através  do  qual ele dá inicio ao processo de 
transferência,  presumindo­se  que  o  registro  independe  de  uma  nova  manifestação  de 
vontade por parte do vendedor. 
Em  síntese,  o  consentimento  é  formal  porque,  uma  vez  realizado  o  negócio 
jurídico,  presume­se  que  o  vendedor  quer  transferir  a  propriedade,  não  necessitando  de 
um novo consentimento para a realização do registro.  
3 – Fé pública x presunção relativa 
 
De  um  lado,  as  informações  que  constam  do  registro  possuem  fé  pública,  ou 
seja,  presumem­se  verdadeiras  (“pode  confiar”).  De  outro  lado,  há  a  questão  da 
presunção  relativa  da  veracidade  das  informações  contidas  no  registro,  pois, 
eventualmente, pode o sujeito adquirir o imóvel confiando no registro e, posteriormente, 

68
ser  surpreendido  por   uma  sentença  judicial  que  retifica  o  registro  falso   e  reconhece  a 
titularidade a outra pessoa que não a que vendeu o imóvel. 
iuris  tantum​
  O  fato  de  a  presunção  ser  ​ afeta  ou  não  a  noção  de  fé  pública  do 
registro?  O  entendimento  majoritário  é  que  não  há  contradição;  vale  aquela  ideia 
“confie,  mas  sempre  com  um  pé  atrás”.  Entende­se  que  não  há  contradição  porque não 
há  como  garantir  absoluta  veracidade  das  informações.  Não  obstante,  garante­se  fé 
pública porque, via de regra, as informações são verdadeiras. 
 
Registro Torrens 
 
É  um  registro  que  gera  presunção  absoluta  quanto às informações nele  contidas. 
Não é muito comum, pois requer um procedimento especial muito caro.  
 
­ CC, 1248 ­ Aquisição por acessão 
 
acessão​
A ​  é uma forma de aquisição da propriedade. No 1248 há diversos tipos 
de acessão, mas o professor não analisará todos. 
 
● 1ª  hipótese​
(clássica):  dono  do  material  constrói  em  terreno  alheio.  O  que  fazer 
com  essa  construção?  Deve  ressarcir  aquele  que  construiu?  O  dono  do  terreno 
deve  ser  indenizado?  Deve  demolir  a  construção?Essa   prática  pode  ocorrer  de 
boa­fé ou de má­fé.  
 
● 2ª hipótese​
: o dono do terreno constrói com material alheio. O que acontece?  
 
● 3ª  hipótese​
:  o  individuo   não  é  proprietário  nem  do  terreno  e  nem  do  material. 
Qual a consequência? 
 
­ requisitos: 
 
A  acessão  é   um  modo  de   aquisição  da  propriedade  que  decorre   dos  seguintes 
requisitos. 

69
 
1) Coisas distintas​
 (ex.: terreno x material x construção) 
 
2) Relação acessório/principal 
 
Doutrina  e  jurisprudência   entendem  que  nessas  hipóteses consolida uma relação 
de  acessório  e  principal  entre  essas  coisas  distintas.  Isso  tem  relação  com  o  ​
p.  da 
gravitação  universal​
,  segundo  o  qual  o  acessório  segue   a  sorte  dada  ao  principal. 
Diantedisso, o dono do principal se torna o dono do acessório. 
Ex.1:  o  dono  do  terreno  (principal),  via  de  regra,  torna­se  o  dono  da  casa 
(acessório). 
Ex.2:  mas  se  o  valor  da  casa  é  maior  do  que  o  terreno,  aquela  passa  a  ser  o 
principal e este, o acessório. 
 
3) União entre as coisas 
 
4) Proprietários distintos 
 
5) Não é possível / recomendável desfazer 
 
Se  for  possível  (leia­se:  economicamente  viável)  desfazer  a  obra,  a  solução  é 
simples: desfaz. O problema é quando o resultado do desfazimento é inviável. 
Ex.:  constrói  2  prédios  no  terreno;  materialmente  é  possível  derrubá­los;  mas 
não é recomendável fazê­lo. 
 
 
 
 
 
 
AQUISIÇAO POR ACESSAO (cont.) – NÃO CAI NA PROVA 
 

70
Acessão é modo de aquisição da propriedade que pode ganhar formas diversas. 
Aqui nos temos estudando a acessão (junção) de móvel a imóvel. 
Vimos  os  requisitos  para  acessão:  as  coisas  pertencem  a  donos  diversos,  existe 
uma  relação  de  acessório  e  principal,  essas  coisas  se  conectam  e  passam  a  ser  não 
recomendável do ponto de vista econômico.  
Vimos  as  3hipoteses:  dono  do  terreno  controi  com  material  alheio,  dono  do 
material constrói em terreno alheio, alguém constrói com material e terreno alheios. 
 
­ CC, 1254 
 
Art.  1.254.  Aquele  que  semeia,  planta  ou  edifica  em  terreno  próprio 
com  sementes,  plantas  ou  materiais  alheios,  adquire  a  propriedade 
destes;  mas  fica  obrigado  a  pagar​lhes  o  valor,  além  de  responder 
‑​
por perdas e danos, se agiu de má​fé. 
‑​
 
Na  maioria  das  vezes  o  dono  do  terreno  acaba adquirindo a  propriedade do bem 
que foi construído no terreno, pois o terreno é o principal e a construção é o acessório. 
Mas  pode  ocorrer  da  construção  ser  mais  valiosa  e  passar  a  ser  o  principal, 
invertendo o p. da gravitação universal. 
Dificilmente  a  construção  será  desfeita,  pois  na  maioria  das  vezes  é 
economicamente inviável a demolição. 
O  1254  traz  o  dono  do  terreno  que  construiu  com  material  alheio.  O  material,  
por  ser  acessório,   passará  a  ser  de  propriedade  do  dono  do  terreno.  Haverá  então  a 
aquisição da propriedade, mas terá que indenizar o dono do material. 
 
­ obrou no próprio terreno com material alheio – aquisição + indenização 
CC, 1255 
 
Art.  1.255.  Aquele  que  semeia,  planta  ou  edifica  em  terreno  alheio 
perde,  em  proveito  do  proprietário,  as  sementes,   plantas  e 
construções; se procedeu de boa​fé, terá direito a indenização. 
‑​
Obrou no terreno alheio > perde os materiais 

71
 
O  1255  traz  o  dono  do  material  que  construiu  no  terreno  alheio.  Será  o 
proprietário  do  terreno, a principio, que ficará com a propriedade da construção. O dono 
do material perderá os materiais.  
A  doutrina  discute  se  esse  cara  construiu  em  terreno  alheio,  ele  é  possuidor  do 
terreno  (pelo  menos  na  parte  na  qual há a construção; isso que foi construído no terreno 
alheio  pode  ser  comparada  as  benfeitorias,  para  fins  de  indenização. Se for considerado 
possuidor  de  boa­fé,  terá  direito  ao  ressarcimento  pelas  benfeitorias.  Se  for  de  ma­fe, 
não terá direito. 
O  entendimento  majoritário  é:  pode­se  aplciar  o  regime  das  benfeitorias  ao 
materiais.  A  doutrina   se  divide  quanto a  possibilidade do direito de retenção, ou seja, se 
o dono do material pode reter a coisa até que o dono do terreno indenize. 
Se  o  dono  do  material  (possuidor)  tiver  a  posse  de má­fé, é pacifico que ele não 
terá a ser ressarcido. 
 
O p. ú diz que se a construção for mais valiosa, adota­se outra solução. 
 
Parágrafo  único.  Se  a  construção  ou  a  plantação  exceder 
consideravelmente  o  valor  do  terreno,  aquele  que,  de boa​fé, plantou 
‑​
ou  edificou,  adquirirá  a  propriedade  do solo, mediante pagamento da 
indenização fixada judicialmente, se não houver acordo. 
 
­ valor da obra maior que o do solo 
 
Aqui  a  lógica  se  inverte:  a  construção  passa  a  ser  o principal e o terreno  passa a 
ser  o  acessório.  Mas devemos nos ater ao seguinte: o legislador fala em “construção que 
excede  manifestamente  o  valor  do  terreno”; assim, a construção tem que ser muito mais 
valiosa. 
 
CC, 1256 – ambos de ma­fé 
 

72
Art.  1.256.  Se  de  ambas  as  partes  houve  má​fé,  adquirirá  o 
‑​
proprietário  as  sementes,  plantas  e  construções,  devendo  ressarcir  o 
valor das acessões. 
Parágrafo  único.  Presume​se  má​
‑​ fé  no  proprietário,  quando  o 
‑​
trabalho  de  construção,  ou  lavoura,  se  fez  em  sua  presença  e  sem 
impugnação sua. 
 
O  1256  preve  que  tanto  o  dono  do  terreno  quanto  o  dono  do  material  atuam  de 
má­fé.  O  primeiro  invade  o  terreno  e faz uma construção. O segundo, ciente de que tem 
alguém construindo, deixa pra lá e depois questiona. 
Nesta  hipótese,  aplica­se  a  mesma  ideia  quando  ambos  estao  de  boa­fe:  o  dono 
do terreno adquire a propriedade, mas deve indenizar o dono do material. 
 
CC, 1257 
 
Art.  1.257.  O  disposto no artigo antecedente aplica​se ao caso  de não 
‑​
pertencerem  as  sementes,  plantas  ou  materiais   a   quem  de  boa​fé  os 
‑​
empregou em solo alheio. 
Parágrafo  único.  O  proprietário  das  sementes,  plantas  ou  materiais 
poderá  cobrar  do  proprietário  do  solo  a  indenização  devida,  quando 
não puder havê​la do plantador ou construtor. 
‑​
 
* O proprietário do material cobra de quem construiu 
* O dono do terreno é devedor do obreiro 
 
Alguém  utiliza  materiais  alheios  para construção em terreno de outra pessoa (ele 
não  é  dono  de  nada).  Qual  é  a  solução?  Para  o  professor,  seguindo  Caio Mario, o dono 
do  material  cobra  de  quem  utilizou  o  material;  o  dono do terreno adquire a propriedade 
da construção, e tem que indenizar o obreiro (dono do material). 
O  dono  do  terreno  tem  responsabilidade  subsidiária  quando  a  indenização  dos 
materiais.  
 

73
 
Obs.:  o  legislador  desconsiderou  a  extensão  da  obra  e  também  se  o  proprietário  tem 
interesse em adquirir a construção. 
 
CC, 1258 
 
Prevê  a  hipótese  do  sujeito   que  constrói  invadindo parte do terreno alheio. Parte 
da  construção  está  no  seu  terreno,  parte  no  terreno  alheio.  Sendo  viável 
economicamente  a  destruição,  faça­a. Não o sendo, o legislador traz duas soluções, com 
base na extensão da área invadida. 
 
Art.  1.258.  Se  a  construção,  feita  parcialmente   em  solo  próprio, 
invade  solo  alheio  em  proporção não superior à vigésima parte deste, 
adquire  o  construtor  de  boa​fé  a  propriedade  da  parte  do  solo 
‑​
invadido,  se  o  valor  da  construção  exceder  o  dessa  parte,  e responde 
por  indenização  que  represente,  também,  o  valor  da  área  perdida e a 
desvalorização da área remanescente. 
Parágrafo  único.  Pagando  em  décuplo  as  perdas  e  danos  previstos 
neste  artigo,  o construtor de má​fé adquire a propriedade da parte  do  
‑​
solo  que  invadiu,  se  em proporção à vigésima parte deste e o valor da 
construção  exceder  consideravelmente  o  dessa  parte  e  não  se  puder 
demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção. 
 
O  construtor  está  de  boa­fé,  invadiu  pequena  parte  no  terreno  alheio.  Qual  é  a 
solução?  O  construtor  adquire  a  propriedade  do terreno que invadiu, mas tem que pagar 
uma  indenização,  cujo  valor  engloba  o  valor  do  terreno,  o  valor  da  desvalorização  (o 
terreno  invadido  pode  sofrer  uma  desvalorização  em  função  da  invasão  recair  sobre 
parte do terreno valorizada). 
 
E  se  o  construtor  está  de  má­fé,  qual  é  a  solução?  Está  no  p.  ú:  o  construtor 
adquire  a  propriedade,  por  conta  da  dificuldade  do  desfazimento  da  obra.  Porém,  tem 

74
que  pagar  uma  indenização  cujo  valor  é  10x  maior  do  que  a  indenização  normal 
(acima). 
 
Boa­fé + área menor que 1/20 
 
­ adquire a propriedade + indenização pelo valor do terreno + desvalorização da área 
­ má­fé + área menor que 1/20: 
Solução igual+ indeniação de 10x 
 
CC, 1259 
 
Art.  1.259.  Se  o  construtor  estiver  de  boa​fé,   e  a  invasão  do  solo 
‑​
alheio  exceder  a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte 
do  solo  invadido,  e  responde  por  perdas  e  danos  que  abranjam  o 
valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o 
da  desvalorização  da  área  remanescente;  se  de  má​fé,  é  obrigado  a 
‑​
demolir  o  que  nele  construiu,  pagando  as  perdas  e  danos  apurados, 
que serão devidos em dobro. 
 
­ boa­fé + área maior do que 1/20 
­ adquire a propriedade + perdas e danos 
 
O  professor  ressalta  a  incroguencia  do  legislador,  pois  no  1259se  dá  valor  a 
extensão  da  área.  Nesta  hipótese,  aquele  que  construiu  passará  a  ser  o  proprietário  do 
imóvel. 
Porém,  quando  trata  do  construtor  de  má­fé,  a  obra deve ser demolida.  Segundo  
o  professor,  se  a  construção  é  extensa,  mantendo­se  a  lógica  dos  artigos  precedentes,  o 
construtor teria que pagar uma indenização, ainda que de alto valor.  
A  doutrina  também  aponta  essa  incogruencia,  argumentando  que  o  ideal  é  o 
construtor  adquirir  a propriedade do terreno e ressarcir o proprietário. Isso em respeito a 
função social da propriedade e a inviabilidade econômica do desfazimento da obra. 
 

75
 
 
 
 
Atenção!​
 CC, 1228, §§4º e 5º 
 
­ Reivindicatória; extensa área; posse de boa­fé; obras 
­ deficiências: 
a) boa­fé? 
b) quem paga a indenização? 
c) valor da indenização 
 
Art.  1.228.  O  proprietário  tem  a  faculdade  de  usar, gozar e dispor da 
coisa,  e  o direito de reavê​la do poder de quem quer que injustamente 
‑​
a possua ou detenha. 
(...) 
§ 4º  O   proprietário  também  pode  ser  privado  da  coisa  se  o  imóvel 
reivindicado  consistir  em  extensa  área,  na  ​
posse   ininterrupta  e  de 
boa​fé​
‑​ ,  por  mais  de  ​
cinco  anos​
,  de  ​
considerável  número  de pessoas​

e  estas  nela  houverem  realizado,  em  conjunto  ou  separadamente, 
obras  e  serviços  considerados  pelo  juiz  de  interesse  social  e 
econômico relevante. 
§ 5º  No  caso  do  parágrafo  antecedente,  o  juiz  fixará  a  justa 
indenização  devida  ao  proprietário;  pago  o  preço,  valerá  a  sentença 
como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. 
 
O  legislador  criou um instituto que, na pratica, não tem aplicação, por apresentar 
muitos  problemas.  Esse  instituto  é  considerado,  por muitos autores,  como uma hipótese 
de usucapião.  O  professor,  porém,  discorda.  Para  ele,  a  previsão  no  §5º   de  pagamento 
de indenização descaracteriza a usucapião.  

76
Outros  autores  falam  em  “desapropriação”.  Mas  também  está  incorreto,  pois  o 
artigo  não  fala  da   participação  do  Estado.  Sabe­se  que  a  desapropriação  é  um  ato 
privativo do Estado, e não é essa a hipótese prevista nos §§4º e 5º.  
O  melhor  entendimento  é  que  vê  o  instituto  como  uma  hipótese  de  ​
“acessão 
social  invertida  coletiva”  (professor  Pablo  Renteria).Faz  sentido  falar  em  acessão  por 
enxergarmos  alguém  que  constrói  em  terreno  alheio  e  acaba  adquirindo  a  propriedade 
desse terreno. 
Essa  disposição  legal  surgiu  daquela  situação  na  qual  há  um  grupo  de  pessoas 
invade um terreno, fixa residência, sendo inviável socialmente a reversão da situação. 
O  instituto  acaba  sendo  prejudicado  por  ser  obscuro.  Por  ex,  fala  em  “extensa 
área”,  “obra  de  interesse  social”,  “considerável  número  de  pessoas”,  etc.;  enfim,  são 
conceitos indeterminados que impedem o enquadramento legal. 
Outra  questão  apontada  pelo  professor  que  prejudica  o  instituto  é  a  “boa­fé”. 
Isso  porque  aquelas  pessoas  que  invadem  têm  conhecimento  que  o  terreno  é   de 
propriedade de alguém. 
Outro  problema:  a  indenização.  Normalmente,  as  pessoas  que  invadem  tem 
baixa  renda,  não  tendo  condições  de  pagar  a  indenização. Por outro lado,  o  proprietário 
deve ser indenizado. Isso dificulta a aplicação do instituto. 
Alguns  autores  questionam:  qual  o  valor  da  indenização?  As  benfeitorias 
construídas  pelo  grupo de invasores, em geral, diminuem o valor do terreno. Neste caso, 
os  invasores  devem  pagar  pelo  valor  atual  do  terreno,  ou  pelo  valor anterior à invasão? 
Dúvida! 
 
AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL 
 
­ usucapião de bens móveis (CC, 1260 a 1262) 
 
O  professor  não  aprofundará  no  assunto,  pois o instituto não se altera muito para 
a  usucapião  de  bens   imóveis.  A  principal  mudança  é  o  tempo  para  a  usucapião,  pois  a 
posse  dos  bens  móveis  da  maior  visibilidade,  o  proprietário  teria  mais  condições  de 
reaver a coisa. 
 

77
­ ocupação (CC, 1263) 
 
Art.  1.263.  Quem  se  assenhorear  de  coisa  sem  dono  para  logo  lhe 
adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei. 
 
O  instituto  da  ocupação  diz que quem assenhorear de coisa sem dono passa a ser 
dono.  
Vimos  que  a  descoberta  se  refere a bens móveis perdidos. Aquele que descobriu 
tem  o  dever  de  devolver,  pois  a  coisa  ainda  tem  dono.  A  descoberta  não  é  forma  de 
aquisição da propriedade, pois a coisa tem dono. 
A  ocupação  é  forma  de  aquisição  da  propriedade,  pois  a  coisa,  que  não  tem 
dono, passa a pertencer aquele que passa a te­la. 
 
­ achado do tesouro (CC, 1264 a 1266) 
 
Art.  1.264.  O  depósito  antigo  de  coisas  preciosas,  oculto  e  de  cujo 
dono  não  haja  memória,  será  dividido  por  igual  entre  o  proprietário 
do prédio e o que achar o tesouro casualmente. 
 
O  instituto  “achado  do  tesouro”  refere­se  a  coisas  móveis  ou  coisas que tenham 
se tornado imóveis (ex.: faz uma parede de ouro). 
A  expressão  “preciosidade”  pode  se  referir  não  necessariamente  ao  valor 
econômico, mas também de valor cultural.  
Quando  se  usa  a  expressão   “depósito  antigo”,  não  é  relevante  a  passagem  do 
tempo. refere­se a impossibilidade de se descobrir o proprietário da coisa. 
 
Art.  1.265.  O  tesouro  pertencerá  por  inteiro  ao  proprietário  do 
prédio,  se  for  achado  por  ele,  ou  em  pesquisa  que   ordenou,  ou  por 
terceiro não autorizado. 
 

78
Se  a  pessoa  que  achou  estiver  agindo  sob  ordens  do  proprietário,  ela  não  terá 
direito  sobre  a  coisa.  Entretanto,  se ela encontrou casualmente, aí ela tem direito a parte 
da coisa.  
 
­ tradição (CC,  
 
 
?????pegar última aula antes da prova (quinta) 
 
 
 
DIREITO DE VIZINHANÇA 
 
Art.  1.277.  O  proprietário  ou  o  possuidor  de  um prédio tem o direito de fazer cessar as 
interferências  prejudiciais  à  segurança,  ao  sossego  e  à  saúde  dos  que   o   habitam, 
provocadas pela utilização de propriedade vizinha. 
Parágrafo  único.  Proíbem​se  as  interferências  considerando​
‑​ se  a  natureza  da 
‑​
utilização,  a  localização  do  prédio,  atendidas  as  normas  que  distribuem  as edificações 
em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança. 
 
O  termo  vizinhança  é  utilizado  de  forma  ampla.  O  vizinho  não  é  apenas  aquele 
que  está  imediatamente  ao  lado.  Diz  respeito  ao  conjunto  de  residentes  que  podem 
sofrer algum tipo de interferência no exercício do direito de propriedade. 
propterrem​
As  normas  de  vizinhança  são  encaradas  como  obrigações  ​ ,  ou  seja, 
próprias  da  coisa.  São  obrigações  que  devem  ser  observadas  não  só  pelo  proprietário, 
mas  também  pelo  possuidor. São obrigações que  aderem à coisa, de forma que qualquer 
pessoa  deve  observa­las.  Isso   mostra  que  não  estamos  falando  somente  do exercício do 
direito  de  propriedade,  pois  o  possuidor  e  até  mesmo  o  detentor  devem  observar  as 
normas. 
 
Estamos  tratando  das  normas  que  disciplinam  situações  nas  quais  o  uso  da 
propriedade está sendo feito de maneira indevida, inadequada. 

79
 
­ limitações no interesse da vizinhança 
 
Os  doutrinadores  começam  falando  que  o  direito  de  vizinhança  representaria 
uma limitação ao direito de propriedade. 
Será  que  essa  afirmação  é  correta?  O  direito  de  vizinhança  objetiva  estabelecer 
uma disciplina harmônica do convívio dos vizinhos. 
Para  o  prof,  aquela  afirmação  não  é  verdade.  Para  ele,  se  estamos  falando  de 
limitação  ao  direito  de   propriedade,  há  o  pressuposto  que  o  direito  de  propriedade  é 
livre,  pleno,  e  que  o  legislador  estaria  o  limitando.  Entretanto,  para  o  prof,  nenhum 
direito,  inclusive  o de propriedade, é absoluto, ilimitado, mas todos possuem limitações, 
são relativos. 
Para  o  prof,  o  direito  de  vizinhança  consiste  numa  conformação,  disciplina  do 
direito de propriedade, com o intuito de se alcançar o objetivo de harmonizar as relações 
de vizinhança. 
 
­ vizinhança # servidão 
 
 
No  CC,  há  varias  situações  relativas  a  direito  de  vizinhança  (passagem  das 
águas,  por  ex).  Não  vamos  estudar  todas,  somente  a  passagem  forçada,  que  se 
assemelha a servidão. 
Quando  se  fala  em   servidão,  trata­se  de  direito  real.  Já  as  normas  de  direito  de 
vizinhança  não  constituem direitos reais, mas simplesmente disciplinam as relações, são 
obrigações  propterrem.  Analisa­se  um  dos  aspectos  do  direito  de  propriedade,  que  tem 
como  objeto  imediato  uma  coisa,  um  bem.  Grosso  modo,  estudamos  o  que  o 
proprietário pode e o que ele não pode fazer no exercício do seu direito de propriedade. 
As  normas  reguladoras   do   direito  de  vizinhança  têm  como  origem  no  CC,  ou 
seja,  elas  são  impostas  pelo   legislador.  Não  há  espaço  para  autonomia  privada.  Já  os  
direitos  reais  são  constituídos  por  vontade  das  pessoas.  Por  ex,  a  servidão é constituída 
de maneira livre, decorre da autonomia da vontade. 

80
Quando  falamos  de  direito  de  vizinhança,  tutela­se  o  interesse  da  vizinhança, 
abrangendo  mais  do  que  o  direito  individual  (do  proprietário).  Já  nos  direitos  reais 
tutela­se  os  interesses  das  partes  pactuantes,  e  não  de  um  grupo  de pessoas. Assim, por 
ex,  quando  eu  constituo  em   usufruto um imóvel para minha mãe, apenas ela e eu somos 
os interessados. 
 
Estamos  tratando  de  normas  que  buscam  tutelar  os  interesses  da  vizinhança,   o  
que  implica  em  evitar  danos  indevidos.  Assim,   a  tutela das normas consiste em evitar o 
surgimento  de  danos  indevidos  pelos  vizinhos.Ou  seja,  as  normas  determinam  quais 
danos devem ser ressarcidos e quais danos devem ser suportados pelas partes. 
 
­ o que é uso anormal da propriedade? 
 
CC, art. 1277 
* iguais 
* abusivas 
* licitas > lesivas 
 
O  entendimento  é  de  que  o  uso  anormal  da  propriedade  é  que  deve   ser  evitado, 
combatido.  A  contrario  senso,  presume­se  que  o  uso  normal  da  propriedade  não   causa 
prejuízos que demandem restrições. 
O  uso  anormal  decorre  de  ​
condutas  flagrantemente  ilegais​
.  Ex.:  num 
condomínio edilício, um dos moradores começa a manipular explosivos. 
O  uso  anormal  pode  decorrer  de  ​
condutas  abusivas​
. Por estas deve­se entender 
aquelas  condutas  que  excedem  ​
“manifestamente  os  limites  impostos  pelo  seu  fim 
econômico  ou  social,  pela  boa​fé  ou  pelos  bons  costumes”  ​
‑​ (art.  187,  CC).  Ressalte­se 
que  o  ato  abusivo  é  aferido  de  acordo  com  critérios  objetivos,  de  tal  forma  que  a 
intenção  do  agente  não  interessa.  Ex.:  é  vedado  escutar  som  alto   depois  das  10  horas; 
isso  é  imposto  pela  norma;  mas  se  a  pessoa  escutar  som  alto  durante  o  dia,  claramente 
há uma conduta abusiva, caracterizando um uso anormal do direito de propriedade. 

81
Alguns  autores  colocam  que  todo  o  dano  que  deve  ser  ressarcido  é  ilícito,  e 
justamente  por  ser  ilícito  é  que  deve  ser  ressarcido. Se ele deve ser ressarcido, é porque 
ele é contrario ao que determina o direito. ​
???? 
 
­ critérios para aferição: 
 
a) Extensão do dano / incomodo 
b) Local do conflito / dano 
c) Anterioridade / teoria da pré­ocupação 
 
Há  dificuldade  em  especificar  quais  seriam  os  danos  ressarciveis.  Para  tanto,  os 
tribunais  adotam  alguns  critérios  para  identificar  um  dano  que  deve  ser  ressarcido  no 
âmbito do direito de vizinhança. São eles: 
 
A)  extensão  do  dano  ou  incomodo  –  o  juiz  vai  dizer  que  o  dano  é  intolerável, está fora 
do que é normalmente aceito. Para o prof, é um critério extretamente subjetivo. 
 
B)  local  do  conflito  ou  do  dano  –  esse  critério  é  objetivo.  Os  municípios  possuem 
estudos  sobre  o  mapeamento  urbano,  de  modo  que  se  sabe  onde  a  zona  é  industrial, 
onde é urbana, e de acordo com isso se admite danos suportáveis diferentes. 
 
C)  critério  da  anterioridade  (teoria  da  pré­ocupação)  –  aqueles  que  chegaram  em 
primeiro lugar, ditam os usos e costumes do lugar.   
 
­ bens jurídicos afetados: 
* segurança – sossego 
* saúde – decoro? 
 
As  normas  de  direito  de  vizinhança  buscam  tutelar  os  seguintes  bens  jurídicos: 
segurança,  sossego,  saúde​
.  Embora  o  1277  não  diga,  alguns,  como  CRG,  defendem 
que tutela­se também o ​
decoro. 
 

82
­ soluções: 
 
Diante  de  uso  anormal  da   propriedade,  quais  as  soluções  judiciais  possíveis? 
Pode­se entrar com uma medida judicial pleiteando: 
 
a) Redução ­ ​
do nível de ruído, poluição, etc.. 
 
b) Cessação–​
da atividade 
 
c) multa  /  indenização–​
a  multa  é  imposta  pelo  descumprimento  da  ordem judicial; 
a indenização é calculada tendo em vista a desvalorização dos imóveis. 
 
Passagem forçada: 
 
CC, art. 1285 
 
­ passagem penosa: admite passagem forçada? 
 
Art.  1.285.  O  dono  do  prédio  que  não  tiver  acesso  a  via  pública,  nascente  ou  porto, 
pode,  mediante  pagamento  de  indenização  cabal,  constranger  o  vizinho  a  lhe  dar 
passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário. 
§ 1º  Sofrerá  o  constrangimento   o   vizinho  cujo  imóvel  mais  natural  e  facilmente  se 
prestar à passagem. 
§ 2º  Se  ocorrer  alienação  parcial  do  prédio,  de  modo  que  uma  das  partes  perca  o 
acesso  a  via  pública,  nascente  ou  porto,  o  proprietário  da  outra  deve  tolerar  a 
passagem. 
§ 3º  Aplica​se  o  disposto  no  parágrafo  antecedente  ainda  quando,  antes  da alienação, 
‑​
existia  passagem  através  de  imóvel  vizinho,  não  estando  o  proprietário  deste 
constrangido, depois, a dar uma outra. 
 
A  passada  forçada  existe  quando  o  prédio  não  tem  saída  para  via  pública, 
nascente  ou  porto.  É  o  chamado  “prédio  encravado”.  Esse   dono   terá  direito  a 

83
constranger  o  vizinho  a  conceder­lhe  passagem,  tendo,  em  contrapartida,  que 
indeniza­lo.  
A  passagem  forçada  é  devida  quando  a  propriedade está encravada, ou seja, não 
tem saída. Mas não se caracteriza em razão de maior comodidade.  
A  passagem  forçada  só  é  devida  quando  o  individuo  não  tem  realmente  outra 
saída. 
Nos  tribunais  há  alguns  temperamentos  a  esse  entendimento.  Por  ex,  se  a 
passagem  for  penosa,  admite­se  a  passagem  forçada.  Ainda  que  exista  uma  passagem, 
alguns juízes admitem a passagem forçada.  
 
Condomínio Geral – CC, art. 1228 // edilício 
 
O  que  é  o  condomínio?  Condomínio  significa  domínio  compartilhado,  ou  seja, 
há mais de uma pessoa na condição de titular do direito de propriedade. 
O  condomínio  geral  diz   respeito  ao  compartilhamento  de  domínio  de  bens  em 
geral  onde  não  há  uma  edificação  (prédio).  Ex.:  há  mais  de  um  proprietário  sobre  uma 
casa. 
Quando  se  tratar  de  edificação  (prédio),  tem­se  um  regime  específico:  o 
condomínio  edilício.  Neste  há  uma   confusão,  pois  ao  mesmo  tempo  que  há 
compartilhamento  de   propriedade  sobre  o  prédio,  cada  morador  tem  propriedade 
exclusiva sobre sua unidade. 
No  caso  do  condominio  geral  não   há  essa  propriedade  exclusiva  por  um  dos 
proprietários, todos possuem igual propriedade sobre o mesmo bem.  
O  problema  é  como  disciplinar  a  relação  entre  os  proprietários.  Este  possuem 
direitos  qualitativamente  idênticos,  nenhum  pode  exercer  de  forma  exclusiva  o  seu 
direito lesando o outro (exceção a regra de propriedade exclusiva).  
 
­ fração ideal – mecanismo para atribuição de direitos e deveres 
 
Criou­se  a  ideia  da  “fração  ideal” como o mecanismo para atribuição de deveres 
e  direitos  aos  proprietários.  Quando  se  fala em fração ideal, constitui­se  no  critério para 

84
delimitar  os  direitos  e  deveres  de  cada  proprietário.  Normalmente,  a  fração  ideal  é 
calculada tendo por base a contribuição pecuniária para a aquisição do bem. 
 
­ origem: 
* convencional / voluntário 
* legal / necessário 
* eventual 
 
­ forma: pro diviso / pro indiviso 
 
Questão​
: condomínio fechado legitimidade para cobrança de taxas 
 
Pós­greve 
 
CONDOMÍNIO GERAL 
 
­ concepção 
* indivisão material 
* divisão abstrata – fração ideal 
 
O  grande  problema   com  relação  ao  condomínio  é  a  compatibilização  dos 
interesses de cada condômino. 
Condomínio  geral  –  trata­se de uma pluralidade de direitos de propriedade sobre 
o mesmo bem. Há diversos proprietários.  
Essa  ideia  de  vários  proprietários  desafia  a  ideia  de  propriedade.  Isso  porque  a 
noção  desta  está  ligada  à  exclusividade.  No  condominio,  essa  carcterística  não  está 
presente, colocando em xeque a noção de propriedade. 
No  condominio,  portanto,  não  há   a  exclusividade.  De  uma  lado,  há  uma 
pluralidade  de  proprietários  e,  de  outro,  a  mesma  coisa.  Inevitavelmente,  essa  situação 
gerará conflitos, decorrente da divergência de opiniões dos proprietários. 
É  possível  que  cada  um  dos  proprietários  tenham  contribuído  de  maneira 
diferente  para  aquisição  do  bem  (ex.:  um  terreno). Se a coisa permanece indivisa (não é 

85
dividida),  é  preciso  estabelecer  critérios  de  diferenciação  na  fixação  de  direitos  e 
deveres na medida de cada contribuição individual. 
De  um  lado,  existe  uma   indivisao  imaterial  (ele  está  materialmente  não  
dividido).  Mas  existe  uma  divisão  abstrata,  que  está  caracterizada  na  “fração  ideal”. 
Cada  proprietário  tem  uma  fração  ideal,  que  consiste  numa  divisão  abstrata  do  bem  de 
acordo com a contribuição de cada proprietário na aquisição do bem. 
Falar  em  fração  ideal  não  quer  dizer  que  a  pessoa  somente  será  proprietária  no 
percentual em que contribuiu. Ela será proprietária de tudo. 
Ex.:  se  o  imóvel  é  alugado.  A  divisão   dos  frutos (alugueres) será feita com base 
na  fração  ideal.  Da  mesma  forma,  o  gasto  para  manutenção  do  bem  respeitará  a  fração 
ideal.  
 
Obs.:  Existe  uma  diferenciação  entre  o  bem  que  é  indivisível  e  aquele  que  permanece 
indiviso.  Existem  bens  que  são  indiviseis  (não  podem  ser  divididos)  e  bens  que  podem 
ser dividos, mas permanecem não divididos.  
 
No  condominio  edilício  também   existe  a  figura ideal, que é a unidade autônoma 
(apartamentos).  Isso  porque,  embora  cada  pessoa  seja  proprietária  de  uma  unidade 
autônoma,  todos  são  co­proprietários  das  partes  comuns do imóvel (ex.: salão de festas, 
piscina,  corredores  de  prédio,  etc.).  No  condomínio  edilício,  a  fração  ideal  serve  para 
determinar  quanto  cada  proprietário  deverá  pagar  com  as  despesas  condominais,  serve 
também para determinar o peso do voto nas decisões das assembleias. 
 
 
­ condomínio e a regra da transitoriedade – CC, 1320 
 
No condominio geral, temos uma peculiaridade: “regra da transitoriedade” 
 
Art.  1.320.A  todo  tempo  será  lícito  ao  condômino  exigir  a  divisão  da  coisa  comum, 
respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão. 
§ 1º  Podem  os  condôminos  acordar  que  fique  indivisa  a  coisa  comum  por  prazo  não 
maior de cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior. 

86
§ 2º  Não  poderá  exceder  de  cinco  anos  a  indivisão  estabelecida  pelo  doador  ou  pelo 
testador. 
§ 3º  A   requerimento  de  qualquer  interessado  e  se graves razões o aconselharem, pode o 
juiz determinar a divisão da coisa comum antes do prazo. 
 
A  regra  da   transitoriedade  prevê  que  o condômino pode a qualquer tempo exigir 
a divisão da coisa comum.  
O  §1º   prevê  que  existe  um  prazo  dentro  do  qual  os  condôminos  podem 
concordar  com  a permanência da indivisao da coisa comum. Mesmo dentro desse prazo, 
o  legislador  permite  que  o  condômino requeira a divisão da coisa em virtude de “graves 
razões”. 
 
Será  que  isso  ocorre  no  condominio  edilício?  Não!  O  legislador  não  permite  o 
desfazimento  do  condominioedílicio  porque  nele  há  um  hibrido  de  partes  comuns  e 
unidades  autônomas.  Ao  mesmo  tempo,  o  proprietário  detém  a  exclusividade sobre seu 
apartamento  e  é  proprietário  das  partes  comuns.  Assim,  não  é  possível  pleitear 
judicialmente a quebra do condominio edilício. 
 
­ uso do imóvel – CC, 1314 
­ disposição jurídica – CC, 1314 
* direito de preferência 
 
O  uso  do  bem  tem  que  ser  compatível  com  os  fins  definidos  em comum acordo 
entre  os  proprietários.  A   destinação,  a  forma  de  utilização  devem  ser  fruto  de  uma 
deliberação conjunta dos titulares. E isso será feito através de reuniões, assembleias. 
Nessa  deliberação,  aquele que possui uma fração ideal maior terá um peso maior 
na definição da forma e finalidade da utilização do bem. 
 
Art.  1.314.Cada  condômino  pode  usar  da  coisa  conforme  sua 
destinação,  sobre  ela  exercer  todos  os  direitos  compatíveis  com  a 
indivisão,  reivindicá​la  de  terceiro,  defender  a  sua  posse  e  alhear  a 
‑​
respectiva parte ideal, ou gravá​la. 
‑​

87
Parágrafo  único.  Nenhum  dos  condôminos  pode  alterar  a  destinação 
da  coisa  comum,  nem  dar  posse,  uso  ou  gozo  dela a estranhos, ​
sem o 
consenso dos outros. 
 
O artigo traz que o uso precisa ser “harmônico”.  
Todos  os  condôminos  podem  defender  a  posse  contra  terceiros.  Não  é  preciso 
pedir  autorização  para  os  demais  condôminos  para  defender  a  posse.  Além  disso, 
qualquer  condômino  pode  defender  a  posse  de  todo  o  bem,  independentemente  da  sua 
fração ideal. 
É  possível  até  mesmo  a  defesa  da  posse  de  uns  contra  os  outros. Assim, por ex, 
se  um  dos  condôminos  não  permite  a  entrada  de  outro,  este  pode  ajuizar  uma  ação 
possessória. 
 
IPC! Este artigo permite que as partes ideais sejam gravadas.  
 
Um  dos  condôminos  pode  dar  a  posse  do  bem  a  um  terceiro?  Não!  Se  a coisa é 
indivisa,  as  decisões  sobre  o  uso  do  bem  precisam  ser  compartilhadas.  Assim,  não  é 
possível  dar  posse  do  bem  a  terceiros  sem  que  todos  os  condôminos  concordem  com 
isso. 
Essa  situação  não  acontece  no  condominio  edilício.  Isso  porque  o  proprietário 
tem  a  exclusividade  sobre  a  sua  unidade  autônoma  e,  justamente  por  isso,  pode  dar  a 
posse  para  qualquer  pessoa.  E  no  condominio  edilício  as  unidades  autônomas  são 
“principais” e as partes comuns têm importância secundária (“acessórios”). 
 
No condominio geral, o condômino pode gravar ou alhear a sua parte ideal.
 
Quando  o  condômino  dá  a  sua  parte  em  garantia,  ele  está  gravando  a  sua  parte 
ideal.  
Ele  pode  também  alhear,  que  consiste  na  venda  da  sua  parte  ideal.  Nesta 
circuinstância,  o  condominio  não  será  extinto.  Contudo,  o  condômino  deve  observar  o 
direito  de  preferência  dos  demais  condôminos.  Existem  critérios  para  estabelecer  a 
prioridade no direito de preferência: realização de benfeitorias e fração ideal. 

88
 
Existe direito de preferência no condominio edilício? Não!   
 
­ divisão dos frutos – CC, 1326, 1319 
 
Os  frutos  serão  divididos  na  proporção  da  fração  ideal,  assim  como  na 
contribuição das despesas condominiais. 
 
­ administração do condomínio 
* CC, 1323 
* CC, 1325 
 
Art.  1.323.  Deliberando  a   maioria  sobre  a  administração  da  coisa  comum,  escolherá  o 
administrador,  que  poderá   ser  estranho  ao  condomínio;  resolvendo  alugá​
la, 


preferir​se​
‑​ á, em condições iguais, o condômino ao que não o é. 


 
É  interessante  que  os  condôminos  escolham  um  administrador  para  o 
condominio. 
 
Art. 1.325.A maioria será calculada pelo valor dos quinhões. 
§ 1º As deliberações serão obrigatórias, sendo tomadas por maioria absoluta. 
§ 2º  Não  sendo  possível  alcançar  maioria  absoluta,  decidirá  o  juiz,  a  requerimento  de 
qualquer condômino, ouvidos os outros. 
§ 3º Havendo dúvida quanto ao valor do quinhão, será este avaliado judicialmente. 
 
Nas assembleias a maioria será determinada pela fração ideal 
 
CONDOMÍNIO EDILÍCIO ­ CC, 1331 e ss. 
 
­ conceito 
 

89
Art.  1.331.  Pode  haver,  em  edificações,  partes  que  são  propriedade 
exclusiva, e partes que são propriedade comum dos condôminos. 
 
São  edificações  nas  quais  existem,  de  um  lado,  partes  que  são  propriedade 
exclusiva e, de outro, partes que são comuns. 
No  condomínio  edilício  a  assembleia  geral  (“reunião  do  condomínio”)  decide 
todas  as  questões  atinentes  ao  condomínio.  E  o  que  rege  o  condominio  é  a “convenção 
do  codomínio”,  conjunto  de  regras  que  regulam  o  condominio.  Na  votação,  aquele que 
possui uma fração ideal maior terá um peso maior nas decisões 
 
­ características: 
a) permanente e indissolúvel 
b) direito de ceder o uso da unidade 
c) direito de alienar e gravar livremente 
 
­ elementos constitutivos 
­ CC, 1334 
­ direito dos condôminos – CC, 1335 
­ deveres dos condôminos – CC, 1336 
­ casos bizarros  
 
Discute­se  hoje  na  doutrina   e  jurisprudência  a  possibilidade  de  exclusão  do 
condômino  antissocial.  Este  continuaria  proprietário  do  seu  apartamento,  mas  estaria 
impedindo de morar nele. 
 
 
 
 
 
 
DIRIETOS REAIS NA COISA ALHEIA 
 

90
­ CC, 1225 
­ domínio > desdobramento / elasticidade 
 
Entre  as  características  dos  direitos  reais,  existe  a  ​
elasticidade​
.  O  direito  de 
propriedade  dá   para  o  seu  titular  uma  multiplicidade  de  formas  de  exercício  da  sua 
condição  de  proprietário.  O  CC  prevê  que  o  proprietário  pode  usar,  gozar,  dispor  e 
reaver a sua propriedade. Essas faculdades são conteúdos do domínio.  
Assim,  por  ex,  o  proprietário  de  um  imóvel  pode:  morar,  alugar,  realizar  
eventos, etc.. 
Quando  se  fala  nos  direitos  reais  na  coisa  alheia,  faz­se  referencia  a  algumas 
dessas  faculdades.  O  domínio  pode  ser  desdobrado  em outros direito reais. De um lado, 
portanto, há o domínio e, de outro, há múltiplas formas de exercício da titularidade. 
É possível constituir novos direitos reais a partir do desdobramento do domínio. 
E  qual  a  relação  entre  “domínio”  e  “elasticidade”?  Quando  se  fala  em 
elasticidade,   refere­se  ao  caráter  temporário  do  desdobramento  do  domínio.  Assim, por 
ex,  se  eu  constituo  um  usufruto  em   favor  de  uma  pessoa,  temporariamente  eu  estarei 
sem  a  faculdade  de  alguns  direitos  do  domínio.  Mas, posteriormente, eu retornarei a ter 
novamente o domínio em sua plenitude. 
 
­ classificação/tipos dos direitos reais: 
 
Existem 3 tipos, de acordo com suas funções: 
 
* direitos reais de garantia 
 
Penhor e hipoteca. 
 
* direitos reais de uso e função (ou direitos reais na coisa alheia) 
 
Esses direitos permitem que o seu beneficiário tenha alguma utilidade no bem de 
outrem.  
 

91
* direito real de aquisição 
 
Promessa de compra e venda. 
 
USUFRUTO 
 
­ conceito 
 
Constitui  em  favor  de  outra  pessoa  múltiplas  possibilidades  de  uso  da  coisa, 
exceto dispor. 
É  um  direito  real  que  tem  caráter  temporário,  personalíssimo,  que  se  constitui 
pela  transferência  das faculdades uso, gozo e fruição, desde que mantida a substância da 
coisa. Assim, o beneficiário não possui da faculdade de dispor. 
Usufrutuário = beneficiário 
 
Por  que  a  substância  da  coisa deve ser mantida? Porque, pelo caráter temporário 
do usufruto, o proprietário terá que receber a coisa em condições de utilizá­la. 
“quase­usufruto”​
No  entanto,  há  uma  figura   peculiar:  ​ ,  no  qual  o  usufruto  recai 
sobre bens consumíveis, que, ao serem usados, perdem a sua substância.  
 
­ função 
 
Disciplinar  a  separação  entre  a  titularidade  e  o  aproveitamento  econômico  do 
bem. 
 
­ Características: 
 
a) Personalíssimo 
 
O  usufruto  é  personalíssimo.  Isso  significa  que  ele  é  constituído  em  favor  de 
uma pessoa, tendo em vista as suas características.  
 

92
b) impossibilidade de usufruto sucessivo 
 
Não  é  possível,  em  função  do  caráter  personalíssimo,  constituir  o  usufruto  em 
favor mais de uma pessoa sucessivamente. 
 
Obs​
.:  é  possível  o  usufruto  simultâneo  –  constituído  em  favor  de  mais  de  uma  pessoa 
para exercício simultâneo. 
 
Obs.:  direito  de  acrescer  ou  cláusula  de  acrescer  –  o  usufruto,  como  vimos,  é 
temporário.  Em  muitas  ocasiões,  é  constituído  de  forma  vitalícia  (enquanto  o 
usufrutuário  viver,  tem  direito  ao  usufruto).  Após  a  morte,  o  usufruto  se  extingue  (por 
ser  temporário  e  personalíssimo).  Assim,  o  aproveitamento  econômico  retorna  ao 
proprietário. 
Nocaso  de  usufruto  simultâneo  concedido  de  forma  vitalícia,  o  usufruto 
permanece  em  relação  aos  demais  usufrutuários  e  se   extingue  apenas  para  aquele  que 
morreu.  Porém,  as  partes   podem  convencionar  a  ​
“​
clausula  de  acrescer​
”:   a   parte  do 
falecido se transfere aos usufrutuários sobreviventes. 
Ex.:  3  irmãos  tinham  o  usufruto  de  um  imóvel,   o   qual  estava  alugado,  de modo 
que  o  aluguem  era  dividido  entre  os  3.  Com a  clausula de acrescer, caso um dos  irmãos 
venha  a  falecer,  a  parte  do  aluguel  que  cabia  ao  irmão  que  faleceu  é  dividida  entre  os 
sobreviventes. 
 
c) é inalienável 
 
Não  se  pode  vender  a  condição  de  usufrutuário,  em  virtude  do  caráter 
personalíssimo.  Embora  não  possa  vendar,  o usufrutuário pode ceder os seus direitos de 
uso, gozo e fruição. 
 
d) natureza alimentar (mitigada) – CC, 1393 
 
Isso é mitigado, pois é possível hoje o usufruto em favor de pessoa jurídica. 
 

93
e) conexão com a substância da coisa – CC, 1392, §2º 
 
 
Obs.:  por  ser  um  direito  real,  o  usufruto  precisa  de  um registro; logo, apenas através de 
um  documento  escrito  pode  ser  constituído  o  usufruto.  Se  permitisse  o  contrato  verbal, 
sairia da seara do direito real para o direito obrigacional. 
 
Obs.:  Quando  se  constitui  um  usufruto,  o  nu­proprietário  fica  apenas  com  o  título  de 
propriedade  do  bem,  transferindo  ao  usufrutuário  o  direito  de  aproveitamento 
econômico do bem.  
Em  virtude  do  caráter  de  ​
oponibilidade  erga  omnes  dos  direitos  reais,  o 
usufruto  têm  efeitos  sobre  todos,  de  modo  que,  se  o  nu­proprietário  dispor  da  coisa,  o 
adquirente terá que obedecer ao direito real existente (como o usufruto).   
 
Objeto – CC, 1390 
 
O  1390  fala  do  objeto  do  usufruto:  bens  móveis  (ex.:  trator,  carro,  animal)  ou 
imóveis (ex.: casa, terreno). Nestes casos, o usufruto recai sobre bens específicos 
 
­ bens específicos (usufruto particular) 
 
Usufruto  pleno  –  é  aquele  constituído  sem  restrição  sobre  a  utilização  da  coisa, 
desde que mantida a substância da coisa. 
 
­ patrimônio – usufruto universal 
 
 
 
­ usufruto pleno 
 
É aquele constituído sem restrição  sobre a utilização da coisa, desde que mantida 
a substância da coisa. 

94
 
­ usufruto restrito 
 
É  aquele  que  restringe  o  modo  de  aproveitamento  do  bem.  Ex.:  constitui  o 
usufruto sobre uma fazenda, não permitindo que ela seja usada como hotel fazenda. 
 
“Quase usufruto” – CC, 1392, §1º  
 
­ Modos de constituição 
 
a) legal 
* pais 
* usufruto indígena – CF, 20, X 
 
Ex.: usufruto indígena sobre terras da União. 
Ex.: usufruto dos pais sobre os bens dos filhos menores. 
Ex.: usufruto do cônjuge viúvo sobre os bens do ​
de cujus.  
 
b) usufruto judicial 
 
ex.:  processo  de  execução.  O  juiz  constitui  o usufruto em favor do exequente 
e vinculado ao pagamento do débito. 
Isso  descaracteriza  a  ideia  de  usufruto,  pois  não  existe  a  ideia  de  manter  a 
substância da coisa, para que esta possa retornar ao proprietário. 
Esse tipo é discutível. 
 
 
c) usufruto voluntário ou convencional 
* alienação 
* detenção 
 
É  aquele  constituído  a  partir  da  autonomia  da  vontade.  O  usufruto  voluntário 
pode se constituir através de 2 formas: alienação e detenção. 

95
O  usufruto  voluntário é constituído por alienação quando o proprietário continua 
proprieátio e constitui um usufruto em favor de outra pessoa. 
O  usufruto  voluntário  é  constituído  por  detença  quando  o  proprietário  doa  a 
propriedade,  mas  constitui  um  usufruto  para  si  mesmo  (o  proprietário  passa  a  ser 
beneficiário). 
Essa  última  forma,  muitas  vezes,  pode  mascarar  uma  fraude  contra  credores.  A 
pessoa doa a fim de evitar que o credor volte contra seu patrimônio. 
 
Usucapião de usufruto – CC, 1391 
 
Quando  ele  resulta  de  usucapião,  não  precisa  de  registro,  por  ser  decorrente  de 
situação de fato (posse). A sentença de usucapião é declaratória. 
Como  se  pode  usucapir  o  usufruto?  Perceba­se  que  aqui  está  se  falando  de 
usucapião sobre direitos (e não sobre o bem).  
Ex.:  A  constitui  usufruto  em  favor   de  B.  Num  determinado  momento,  fica 
provado  que  A  não  era  proprietária  (o  usufruto  a  non  domino).  Nesta  circunstância, 
surge a hipótese da usucapião do usufruto. Logo, B passa a ter o direito ao usufruto. 
 
Obs.:  O  professor entende que, uma vez constituído o usufruto, não pode o usufrutuário, 
posteriormente,  alegar  que  possui  a  posse  com  ânimo  de  definitividade  (animus 
domini). Isso porque, quando da constituição do usufruto, a posse já tinha sido limitada. 
 
­ direitos do usufrutuário  
* CC, 1394 
* CC, 1396 – 1398 
 
Obs.:  1397  –  prevê  o  usufruto  sobre  animais.   Este  artigo  prevê  que  as  crias  serão  de 
propriedade  do  usufrutuário  só  depois  que  inteirar  as  cabeças  que  estavam  no  início do 
usufrutuário. 
 
­ obrigações do usufrutuário 
 

96
* CC, 1400 – inventario 
 
* CC, 1401 – garantia 
 
Se  o  proprietário  quiser,  ele  pode  exigir  a  caução  para  constituir  o 
usufruto.  Caso  o  usufrutuário  não  queira  ou  não  possa  dar  caução,  ele  perderá  a 
administração  do  bem,  que  ficará  a cargo do proprietário. Para administrar o usufruto, o 
proprietário  terá   que,  mediante  caução,  entregar  os  rendimentos  da  coisa  ao 
usufrutuário,  deduzidas  as   despesas  com  a  administração,  inclusive  a remuneração pela 
administração. 
 
* CC, 1403 e 1404 – conservação 
 
­ extinção do usufruto – CC, 1410 
 
a) morte do usufrutuário 
* CC, 1411–usufruto simultâneo e o direito de acrescer 
 
Obs.:  obviamente, quando o usufruto for constituído em favor de pessoa jurídica, não há 
que  se  falar  em  extinção  por  morte.  O  CC  prevê  o  prazo  máximo  de  30  anos  para  a 
duração do usufruto (duração a termo) – 1410, III 
 
b) renúncia 
c) culpa 
d) definição da coisa 
* CC, 1410, V 
* CC, 1408 
* CC, 1409 
e) consolidação 
f) termo 
g) condição 
h) decadência 
 

97

S-ar putea să vă placă și