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AS ORIGENS DO
TRABALHISMO
BRASILEIRO
Fundação Leonel Brizola - Alberto Pasqualini
NOTA: A representação dos artigos nessa edição são de inteira responsabilidade do autor.
FUNDAÇÃO LEONEL BRIZOLA -
ALBERTO PASQUALINI (FLB-AP)
8
Sumário
PARTE III
1. Da revolução ao governo 12
Em seu discurso de posse, a 4 de novembro, ele anunciou, entre outras medidas, a criação do Ministério
do Trabalho.O discurso começa por uma avaliação do movimento revolucionário, na qual ele parece
acentuar não as possibilidades abertas pelo triunfo mas as responsabilidades impostas por ele.
- O movimento revolucionário - diz o novo Presidente da República (embora assuma o cargo com o título
mais modesto de Chefe do Governo Provisório) - foi a afirmação mais positiva que até hoje tivemos da nossa
existência como nacionalidade. Em toda a nossa história política não há, sob esse aspecto, acontecimento
semelhante. Ele é, efetivamente, a expressão viva e palpitante da vontade do povo brasileiro, afinal senhor
de seus destinos e supremo árbitro de suas finalidades coletivas.
Estará ele dizendo que sua revolução foi o acontecimento mais importante da
história política do Brasil? Mais importante que a república, que a abolição, que a
independência? Será que a vitória e o poder já lhe subiram à cabeça?
Não. O que ele quer dizer é que as
responsabilidades do governo provisório
são maiores porque a revolução foi um
movimento mais amplo. Em primeiro
lugar, porque a população do Brasil é hoje
muito maior que a dos anos da campanha
- No fundo e na forma, a Revolução escapou, por isso mesmo, ao exclusivismo de determinadas classes.
Nem os elementos civis venceram as classes armadas, nem estas impuseram àqueles o fato consumado.
Todas as categorias sociais, de alto a baixo, sem diferença de idade ou de sexo, comungaram um idêntico
pensamento fraterno e dominador: a construção de uma Pátria nova, igualmente acolhedora para grandes
e pequenos, aberta à colaboração de todos os seus filhos.
Vargas conhece os preconceitos contra o Rio Grande, desde a Revolução Farroupilha e sua República
de Piratini, de 1835 a 1845, preconceitos realimentados, nos centros mais conservadores do país e em
suas regiões de agricultura dependente do trabalho escravo, como as do café e da cana de açúcar, pelo
desabrido abolicionismo dos republicanos gauchos, liderados por um grupo de ideólogos apresentados
como positivistas. Mas o velho Correio Paulistano percebera e denunciara logo que esse Getúlio Vargas,
Presidente do Rio Grande e líder dessa revolução, é de fato um comunista disfarçado... (No futuro, o Correio
e quem pense como ele não conseguirão explicar por que esse “comunista” disfarçado será tão acusado
de pendores fascistas e se converterá, em 1935, em alvo de um levante armado do Partido Comunista
destinado a derrubá-lo e, se necessário, matá-lo.)
Se a revolução quer realizar no conjunto do país a mesma obra de pacificação realizada por Vargas
no Rio Grande, como Presidente do Estado, é preciso desarmar tais prevenções. É preciso isolar os
fios desencapados que são as manifestações do Correio Paulistano, o mais fiel e radical intérprete do
pensamento mais profundo do reacionarismo ainda escravagista e ainda inconformado que foi buscar
refúgio e trincheira nos partidos republicanos provinciais antiabolicionistas.
Vargas mostra, então, defensivamente, em que circunstâncias o Rio Grande do Sul avançara além das
fronteiras de seu território:
- O Rio Grande do Sul, ao transpor suas fronteiras rumo a Itararé, já trazia consigo mais de metade do
nosso glorioso Exército.
Não havia, portanto, uma intenção do Rio Grande de invadir e humilhar São
Paulo. Não houve ocupação militar de São Paulo, embora alguns comunicados
se referissem a isso. Tanto que, sem qualquer oposição, os trens, primeiro de João
Alberto e depois de Vargas e Góis Monteiro, atravessaram rapidamente o território de
São Paulo, sem qualquer oposição ou ato hostil, passando por cidades históricas como
Itapetininga e Sorocaba, até chegarem à cidade de São Paulo, onde Getúlio Vargas
teria uma acolhida consagradora, maior talvez que a de 4 de janeiro de 1930.
Esse prazo, talvez calculado pelo coronel Góis Monteiro, com seu costumeiro realismo, com certeza
seria menor na prática. Antes mesmo da deposição de Washington Luís, tropas governistas debandavam
e rendiam-se diante das forças revolucionárias que flanqueavam Itararé, preparando-se para o ataque
maciço afinal abortado pela suspensão das hostilidades. No que derrotassem as forças governistas em
Itararé, as colunas revolucionárias encontrariam caminho aberto até São Paulo, e caminho livre de São
Paulo ao Rio.
- Não seria difícil - prossegue Vargas - prever o desfecho dessa marcha inevitável. À aproximação
das forças libertadoras, o povo do Rio de Janeiro, de cujos sentimentos revolucionários ninguém poderia
duvidar, se levantaria em massa para bater, em seu último reduto, a prepotância inativa e vacilante.
Todas essas explicações do discurso são uma espécie de depoimento prévio que fica para a história -
pois não pode haver a menor dúvida, na cabeça de Vargas, de que suas atitudes e decisões entrarão logo
em julgamento.
Dadas essas explicações, que valerão também para a posteridade, ele diz que é preciso “refletir
maduramente sobre a obra de reconstrução que nos cumpre realizar”:
- O trabalho de reconstrução, que nos espera, não admite medidas contemporizadoras. Implica o
reajustamento social e econômico de todos os rumos até aqui seguidos... Precisamos, por atos e não por
palavras, cimentar a confiança da opinião pública no regime que se inicia.
Ele anuncia, então, um programa de 17 pontos, que não chegam a esgotar as propostas da plafatorma
da Aliança Liberal, apresentada em janeiro, mas são o ponto de partida para sua realização:
1 - Concessão de anistia - [a mesma anistia que era esperada pelo menos desde novembro de 1926, quatro
anos antes, no momento da posse de Washington Luís. Na esperança de que ela fosse concedida, e para dar
condições a Washington Luís de propô-la, a Coluna Prestes encerrou a luta e internou-se na Bolívia no início de
1927].
2 - Saneamento moral e financeiro, extirpando ou inutilizando os agentes de corrupção...
3 - Difusão intensiva do ensino público, principalmente técnico-profissional, estabelecendo, para isso, um
sistema de estimulo e colaboração direta com os Estados. Para ambas as finalidades, justificar-se-ia a criação de
um Ministério da Instrução e da Saúde Pública, sem aumento de despesas.
4 - Instituição de um Conselho Consultivo, composto de inidividualidades eminentes, sinceramente integradas
na corrente das idéias novas,
5 - Nomeação de comissões de sindicância, para apurarem a responsabilidade dos governos depostos e seus
agentes, relativamente ao emprego dos dinheiros públicos.
6 - Remodelação do Exército e da Armada, de acordo com as necessidades da defesa nacional.
- Como vedes - diz Vargas depois de expor esses 17 pontos - temos vasto campo de ação, cujo
perímetro pode ainda alargar-se em mais de um sentido, se nos for permitido desenvolver o
máximo de nossas atividades.
Quem ouvisse esse discurso, tão sóbrio, e prestasse atenção no programa de 17 pontos
exposto pelo novo Presidente, não poderia imaginar que ali começava outra revolução, muito
maior que aquela ali encerrada.
Antes da Abolição, o parlamento imperial brasileiro votara, pressionado pela campanha abolicionista,
duas leis que pretendiam reduzir, mas apenas prolongariam a escravidão - e dariam mais vantagens aos
senhores que aos escravos.
A primeira foi a Lei do Ventre Livre. Ela emancipava, ao nascerem, os filhos da mulher escrava. Com os
avanços da campanha abolicionista e a escravidão notoriamente no fim, não valia a pena sustentar bebês
escravos que não chegariam a trabalhar para pagar a roupa, o teto e até mesmo o leite do seio materno,
propriedade, em certo sentido, do dono dessa mãe.
Não que faltassem propostas ou fórmulas para a abolição. Por exemplo, as de José Bonifácio, o grande
cérebro e o grande homem de ação da independência do Brasil. Entre as propostas de José Bonifácio, é
preciso registrar desde logo a de instalação obrigatória de aulas públicas em todas as vilas e cidades e de
ginásios em todas as capitanias (depois províncias e hoje Estados) – proposta mencionada expressamente
por Getúlio na mensagem à Assembléia Constituinte. Essa proposta é, sem dúvida, precursora da política
educacional do primeiro governo Vargas.
Getúlio, em seguida, refere-se ao projeto de Constituição de José Bonifácio e seu irmão Antônio Carlos:
Se pudesse haver dúvidas, essa referência expressa confirma o vínculo entre as idéias de Getúlio, em
1930, e as de José Bonifácio mais de cem anos antes.
Na segunda parte da mensagem, ao tratar das atividades de cada um dos ministérios do governo
provisório, Getúlio retoma o tema da educação:
- Todas as grandes nações, assim merecidamente consideradas, atingem nível superior de progresso
pela educação do povo... Nesse sentido, nada temos feito de orgânico e definitivo... Convençamo-nos de
que todo brasileiro poderá ser um homem admirável... Para isso conseguirmos, há um só meio, uma só
terapêutica, uma só providência: é preciso que todos os brasileiros recebam educação.
O que José Bonifácio propusera, desde seus dias de Coimbra até a Constituinte de 1823, tinha sido
realizado, depois de José Bonifácio, não no Brasil, mas no Japão. Getúlio diz:
- Relembrai o exemplo do Japão. O Imperador Matuzahito, certo dia, baixou um édito determinando
“fosse o saber procurado no mundo, onde quer que existisse, e a instrução difundida de tal forma que
em nenhuma aldeia restasse uma só família ignorante e que os pais e irmãos mais velhos tivessem por
entendido que lhes cabia o dever de ensinar os seus filhos e irmãos mais moços”.
- O Imperador foi obedecido. O milagre da instrução, em pouco mais de quarenta anos, de 1877 a 1919,
fez com que a exportação e a importação do país centuplicassem; o Japão vencia a Rússia e entrava para
o rol das grandes potências.
De fato, o governo provisório obrigou toda a nação a mobilizar-se em torno de um grande programa
educacional. Na trilha do exemplo japonês, o governo provisório de Getúlio Vargas recorreria a todos os
seus poderes para promover essa mobilização.
Um decreto conhecido como o Código dos Interventores e destinado a regular os poderes e atribuições
dos Interventores nomeados para responder pelos governos estaduais, determinou que os Estados
empregassem 10%, no mínimo, das respectivas rendas na instrução primária, e deu a eles o poder de exigir
até 15% das receitas municipais para aplicação nos serviços de segurança, saúde e instrução pública,
quando por eles exclusivamente atendidos.
Em 1931, de cada mil brasileiros aptos a estudar, 513, mais da metade, não chegavam a entrar na
escola. Dos 487 que entravam na escola, 110 matriculavam-se mas não frequentavam as aulas; 178
frequentavam-nas ao longo do primeiro ano, não chegando bem a ler; 85 frequentavam somente até o
segundo ano, alfabetizando-se muito superficialmente; 84 avançavam um pouco além, mas sem concluir
os estudos; e apenas 30 adquiriam integralmente a instrução elementar comum. Trinta brasileiros em mil
adquiriam, em 1931, a instrução elementar comum. Desses trinta, quantos frequentariam e concluiriam o
ginásio e quantos chegariam à universidade?
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1
Rosa Maria Barboza de Araújo, O Batismo do Trabalho, Rio, 1981, Civilização Brasileira, p. 71.
No ensino secundário, os números eram igualmente expressivos. Em 1920, havia 109 mil matrículas
para 30 milhões de habitantes, 0,36%. Em 1940, com 41 milhões de habitantes, ou seja um aumento de
um terço na população, o número de matrículas subira para 260 mil, quase duas vezes e meia, ou 0,63%
da população.2
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2
Celso de Rui Besiegel, “Educação e Sociedade no Brasil”, em História Geral da Civilizção Brasileira, direção de Bóris Fausto, vol. 11, O Brasil Republicano/Economia
e Cultura (1930-1964), São Paulo, Difel, pp. 383-384.
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3
Stanley Hilon, O Brasil e as Grandes Potências, Rio, 1977, Civilização Brasileira, p. 54.
O Império, ao desmoronar, dizia Getúlio, deixara intacta a questão do trabalho, porque a escravidão
chegara até as portas da República e o trabalho livre permanecera sem qualquer organização. A Primeira
República também não se preocupara com isso e sua Constituição, votada em 1891, limitou-se a garantir
o livre exercício de qualquer profissão. Só em 1926, 35 anos depois, uma emenda constitucional permitiu
que o Congresso votasse leis trabalhistas.
- Cristalizara-se – diz Getúlio - a mentalidade política ... que julgava o problema operário, no Brasil,
simples caso de polícia... No terreno da organização do trabalho, estava tudo por fazer. A Revolução teve
O Ministério do Trabalho foi criado por decreto de 26 de novembro de 1930, menos de um mês depois da
instalação do governo provisório. Com sua criação e, em seguida, com a aprovação das leis de proteção
ao trabalho e a instituição da Justiça trabalhista, Getúlio realizaria a segunda das grandes propostas de
José Bonifácio - a outra era a relativa à educação - e completaria o resgate da dívida social que o Império
transferiria à República.
O Brasil era um mercado de trabalho ainda muito pequeno, de poucos empregos para os próprios
brasileiros. Apesar disso praticava, não em seu interesse mas no de países estrangeiros, aos quais seus
governos anteriores não queriam desagradar, uma política de imigração indiscriminada e sem controle.
O resultado é que faltavam empregos para brasileiros perfeitamente aptos, em setores nos quais era
absoluto o predomínio do trabalhador estrangeiro. Isso não acontecia só em ocupações de alta qualificação
profissional, técnica ou mesmo científica: nos restaurantes, por exemplo, 80% de todos os empregos eram
ocupados por estrangeiros.
A Lei dos Dois Terços, diria o Ministro do Trabalho Lindolfo Collor em sua exposição de motivos, não
tinha por objetivo forçar o desemprego de estrangeiros e sim garantir a preferência legal para os brasileiros.
Nem se tratava de uma lei original.
- Todos os países cuidadosos de sua ordem social e de seu desenvolvimento econômico – acrescentava
o ministro – praticam a defesa de seu território contra invasões desordenadas de estrangeiros.
Para que a lei não fosse acusada de xenofobia,a exposição de motivos citava a legislação semelhante
de mais de vinte países, entre os quais os Estados Unidos, a Alemanha, a França e a Inglaterra. E ainda
o documento “Regulamentação das Migrações”, do Bureau Internacional do Trabalho, precursor da atual
Organização Internacional do Trabalho, segundo o qual as restrições à imigração constituíam remédio
legítimo contra o desemprego. Cada país, além disso, tinha o direito de escolher os elementos que, por sua
qualificação, preenchessem as lacunas da mão-de-obra nacional.
Essa primeira lei criou alguns problemas de curto prazo e exigiu pequenas adaptações: depois
incorporou-se naturalmente aos hábitos da vida econômica e profissional do Brasil.
O regime de prioridade para o trabalhador nacional, vigente em todos os países - e com mais ferocidade
no mais rico de todos os tempos, os Estados Unidos - seria abalado no Brasil pelo arrastão neoliberal do fim
do século 20. Com a abertura comercial indiscriminada e descontrolada, passamos a exportar empregos
para os países produtores das mercadorias e componentes que comprávamos, naquilo a que se deu o
nome de a “farra dos importados” e ia de automóveis a brinquedos, de caviar a sucos de fruta, de canetas
a computadores.
A segunda lei trabalhista importante, a lei dos sindicatos, de 19 de março de 1931, é que estigmatizou
toda a legislação social da Revolução de 30, acusada de fascista e de ter sido inspirada na Carta del
Lavoro, o código trabalhista de Mussolini.
Algumas semelhanças acidentais com a legislação italiana serviram, desde logo, para a tentativa de
estabelecer uma identificação ideológica entre essa lei e a Carta del Lavoro de Mussolini, embora a lei
brasileira tivesse mais semelhanças ou mais pontos de contacto com a legislação francesa, que de nenhum
modo poderia ser considerada fascista.
No início, só a Lei dos Sindicatos foi identificada com a Carta del Lavoro. Com o tempo, todas as leis
trabalhistas passariam a ser tratadas da mesma forma. Seria isso verdade?
Menos de um mês depois da investidura do governo provisório, o Ministério do Trabalho tinha sido criado
e começava a funcionar. O Ministro era o ex-deputado Lindolfo Collor, do Rio Grande, que se especializara,
como jornalista e parlamentar, em questões econômicas e financeiras.
Dos parlamentares que mais se tinham dedicado à luta pelos direitos trabalhistas, nenhum se destacara
mais que Maurício de Lacerda, deputado socialista pelo então Distrito Federal, que desde os anos dez
liderava esse debate na imprensa e na Câmara. Maurício de Lacerda mais tarde seria mais conhecido
como pai de Carlos Lacerda, mas em 1930 era mais famoso do que seria o filho. Num de seus livros, A
Evolução Legislativa do Direito Social Brasileiro, Maurício de Lacerda escreverá que foi convidado por
Esse convite talvez explique uma suposta demora de Vargas para aceitar o nome de Lindolfo Collor.
Maurício de Lacerda tinha mais experiência que ninguém para as tarefas que seriam conferidas ao Ministério
do Trabalho, mas com certeza era radical demais para as forças mais conservadoras que tinham apoiado
a Revolução.
Aceitando nomear Lindolfo Collor, Getúlio tomou a iniciativa – que Collor não rejeitou nem contestou – de
cercá-lo de especialistas nas questões do direito do trabalho. Os dois primeiros foram o socialista Joaquim
Pimenta e o também professor Evaristo de Morais, igualmente socialista.
Aos dois juntaram-se dois outros socialistas, ainda mais radicais, Carlos Cavaco e Agripino Nazaré, e
o industrial paulista Jorge Street, que não era socialista mas tinha assumido tais posições em defesa dos
direitos sociais que fora obrigado a deixar os postos de direção que exercia em entidades empresariais de
São Paulo.Lindolfo Collor ficou pouco tempo no Ministério
do Trabalho. Joaquim Pimenta permaneceu, trabalhando
como assessor jurídico com os sucessores de Collor, a
começar por Salgado Filho, o primeiro deles. Eis o balanço
que Joaquim Pimenta fez da ação do Ministério do Trabalho
no período entre a criação do Ministério, em novembro de
1930, e a instalação da Assembléia Nacional Constituinte,
em novembro de 1933:
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Lindolfo Collor
4
Maurício de Lacerda, A Evolução Legislativa do Direito Social Brasileiro, Rio, Nova Fronteira, 1980, página xxxii.
brasileiro.5
Essas primeiras leis trabalhistas, especialmente a dos sindicatos, foram todas elaboradas por Joaquim
Pimenta, que, na lei dos sindicatos, contou com a colaboração de Evaristo de Morais. Como seriam fascistas
leis elaboradas por socialistas das convicções de Joaquim Pimenta e Evaristo de Morais?
No caso da lei dos sindicatos, temos ainda uma espécie de laudo técnico definitivo nos estudos do
professor Evaristo de Morais Filho, filho de Evaristo de Morais, que em seus livros faz críticas veementes ao
Presidente Vargas, mas ressalva ter essa lei muito mais identidade com a lei francesa correspondente que
com qualquer outra. A França não estava – longe disso – submetida a qualquer regime fascista.
No Brasil, os grupos de nosso espectro político mais aparentados com o fascismo, manifestaram-se
contra a Lei dos Sindicatos. Em ato público em Fortaleza, Ceará, com a presença do Ministro Lindolfo
Collor, o presidente da Legião Cearense do Trabalho, Severino Sombra (ele e ela precursores da futura
Ação Integralista), condenou a Lei de Sindicalização, porque ela proibia a pregação política nos sindicatos.6
Não só os grupos de extrema direita tomavam posição contrária à política trabalhista e especialmente às
leis de proteção ao trabalho do governo Vargas. No Rio Grande do Sul, foi assim, fato registrado por Rosa
Maria Barboza de Araújo:
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5
Joaquim Pimenta, obra citada, p. 385.
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6
Rosa Maria Barboza de Araújo, O Batismo do Trabalho, a experiência de Lindolfo Collor, Rio, Civilização Brasileira, 1981, p. 82.
Como disse Joaquim Pimenta, os elaboradores dessa e outras leis trabalhistas do início do primeiro
governo Vargas não estavam preocupados com filigranas intelectuais, mas com os meios de garantir
efetivamente a organização e o funcionamento dos sindicatos.
O governo provisório da Revolução sabia-se efêmero e precisava ter certeza de que, depois, os sindicatos
não seriam fechados e proibidos, como tantas vezes antes – violência da qual Joaquim Pimenta fora vítima
pessoalmente em Pernambuco. Essa certeza dependia de mecanismos como aqueles estabelecidos na
Lei dos Sindicatos de 1931.
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7
Ibidem, p. 83.
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8
Ibidem, p. 152.
Mais que a lei dos sindicatos em si, a ação do governo provocou reações que retardaram a decretação
das demais leis trabalhistas em estudo no Ministério. Seria, aliás, inútil decretar uma lei atrás de outra,
numa verdadeira enxurrada, sem condições de fazer cumprir cada uma delas. A lei dos dois terços fora
quase uma decisão de emergência, para atenuar a crise de emprego e para sinalizar a determinação do
governo provisório quanto a seus compromissos diante da questão social finalmente reconhecida. A lei dos
sindicatos abriu caminho para as leis trabalhistas que viriam depois.
AS LEIS DA PREVIDÊNCIA
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9
Leôncio Martins Rodrigues, “Sindicalismo e Classe Operária”, em História Geral da Civilização Brasileira, direção de Bóris Fausto, São Paulo, Difel, 1986, vol. 10, O
Brasil Republicano / Sociedade e Política (1930-1964), p. 528.
Assinada a 1º. de outubro de 1931, a nova Lei das Caixas de Previdência tratava especialmente dos
- Após um ano de governo, marcado dia a dia, por tenaz esforço, visando normalizar a vida do país ...
o povo já pode compreender a impossibilidade de transformar, de momento, em paradigma de ordem e
prosperidade, uma situação confusa e ruinosa, agravada, ainda, pelo desequilíbrio econômico universal,
que não poupou, sequer, sólidas e velhas organizações...
É um longo manifesto, que se detém em cada um dos setores do governo provisório. Sobre o Ministério
do Trabalho, Getúlio diz:
- Não exageraremos recordando que, para a mentalidade predominante no regime passado, o problema
operário, no Brasil, era simples questão de polícia. Em círculo de concepção tão estreita, não cabiam as
justas reivindicações proletárias, conquistas correntes que se haviam incorporado à legislação social
da maioria dos países civilizados. Garantias mínimas, quase universalmente outorgadas às classes
trabalhadoras, aqui ainda consistiam em vagas aspirações, algumas displicentemente consubstanciadas
em leis sem aplicação, outras, em maior número, de que o poder público absolutamente não cogitava.
Ele sempre pensara de forma diferente e em sua plataforma de candidato tinha declarado:
- Não se pode negar a existência da questão social no Brasil, como um dos problemas que terão de ser
encarados com seriedade pelos poderes públicos.
Na sequência, Getúlio recapitula o que dissera em janeiro de 1930 na plataforma da Aliança Liberal,
para, afinal, acrescentar:
- A criação deste Ministério [do Trabalho], com o programa que vem executando, além de cumprir
promessas solenemente feitas e obedecer aos imperativos da época, impunha-se ao governo provisório,
como o primeiro passo para a organização, no país, do trabalho, da indústria e do comércio, não somente
- A legislação que tem sido elaborada por intermédio dessa secretaria de Estado, com alto espírito de
conciliação, sem extremismos de escolas ... começa a produzir os primeiros frutos.
Essas comissões permanentes e mistas para a solução de conflitos de trabalho seriam precursoras
da Justiça do Trabalho, criada formalmente pela Constituição de 1934 e instalada depois pelo governo
Vargas. A organização de um critério para o estabelecimento dos salários mínimos enfrentaria grandes
resistências e dificuldades e a primeira tabela de salários mínimos, variáveis conforme as regiões do país
e o custo de vida em cada uma delas, só seria decretada em 1940.
Em março de 1932, Lindolfo Collor deixou o Ministério do Trabalho, rompendo com Getúlio Vargas, da
mesma forma que outros gaúchos do governo, como o Ministro da Justiça Maurício Cardoso e o Chefe de
Polícia Batista Luzardo, no curso de uma crise em que boa parte das lideranças políticas do Rio Grande
do Sul passou para a oposição.
O novo Ministro do Trabalho, Joaquim Pedro Salgado Filho, manteve os assessores de Collor -
especialmente Joaquim Pimenta - e encaminhou a Getúlio Vargas todos os projetos deixados pelo ex-
ministro.
Com exceção da lei do salário mínimo, que só entraria em vigor, efetivamente, em 1940, os projetos
elaborados na gestão de Lindolfo Collor foram convertidos em lei ainda em 1932.
A mesma coisa aconteceu com a lei de regulamentação do trabalho da mulher, que proibia o trabalho
noturno e qualquer trabalho nas quatro semanas anteriores e nas quatro semanas posteriores ao parto
(nessas oito semanas de trabalho proibido, a empresa teria de pagar metade do salário à empregada
licenciada.
44
As origens do Trabalhismo Brasileiro 45
“A riqueza de cada um, a cultura, a alegria,
não são apenas bens pessoais: representam
reservas de vitalidade social, que devem
ser aproveitadas para fortalecer a ação de
Estado!”
Getúlio Vargas
As origens do Trabalhismo Brasileiro 47
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