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JUSTIÇA AMBIENTAL
GUIA DE ACESSO
À JUSTIÇA AMBIENTAL
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G U I A D E A C E S S O J U S T I Ç A A M B I E N T A L
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
ÍNDICE
I – Notas Introdutórias ......................................................................................................4
1.1. A origem do guia ......................................................................................................4
1.2. O papel da justiça na protecção do ambiente ......................................................4
1.3. A necessidade de um guia de acesso à justiça em matérias ambientais ............6
II – Direito e Ambiente ........................................................................................................8
2.1. Ambiente: um direito de todos e uma tarefa do Estado ....................................8
2.1.1. Direito de acesso à informação e de participação procedimental ............................9
2.2. As violações de normas ambientais e formas de reacção ................................11
III – Mecanismos Extra-judiciais ....................................................................................14
3.1. As reclamações e recursos dentro da Administração ......................................14
3.2. A queixa perante a Comissão de Acesso aos Documentos
Administrativos ......................................................................................................17
3.3. Os processos de contra-ordenação ......................................................................18
3.4. A mediação ambiental ............................................................................................21
IV – A Via Judicial ................................................................................................................23
4.1. Organização e funcionamento dos tribunais ......................................................23
4.1.1. Categorias de tribunais ......................................................................................24
4.1.2. A hierarquia dos tribunais e recursos jurisdicionais ..........................................25
4.2. Titularidade do direito de acesso aos tribunais para defesa
do ambiente ............................................................................................................28
4.2.1. Ministério Público ............................................................................................28
4.2.2. Autarquias locais ............................................................................................29
4.2.3. Cidadãos e organizações não governamentais de ambiente ..................................30
4.2.4. O regime especial de representação processual ....................................................32
4.3. Meios de tutela judicial ..........................................................................................35
4.3.1. Tutela provisória e urgente – os procedimentos cautelares ..................................35
4.3.2. Prevenção e cessação de actuações da Administração Pública
lesivas do ambiente ............................................................................................38
4.3.3. Prevenção e cessação de actividades de particulares lesivas do ambiente ..............42
4.3.4. Punição de crimes ambientais ............................................................................43
4.3.5. O caso especial da responsabilidade por danos ambientais ..................................44
4.4. Especialidades na tramitação da acção popular ................................................46
4.4.1. Poderes especiais do juiz ..................................................................................47
4.4.2. Publicidade da decisão ......................................................................................47
4.5. Custos associados ao recurso ao tribunal ..........................................................48
4.5.1. Custas judiciais ................................................................................................48
4.5.2. Patrocínio judiciário ..........................................................................................48
4.5.3. A recolha e apresentação de provas ..................................................................49
V – Quadro-síntese ............................................................................................................51
VI – Glossário ........................................................................................................................52
VII – Legislação Relevante ..................................................................................................58
VIII – Bibliografia ....................................................................................................................77
IX – Contactos e Fontes de Informação ........................................................................79
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
I – NOTAS INTRODUTÓRIAS
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cumprimento dessas regras, os tribunais assumem-se no nosso ordenamen-
to jurídico como o garante último do Direito. O princípio da tutela jurisdi-
cional efectiva ou da proibição da denegação de justiça, consagrado na
Constituição da República Portuguesa, significa que os tribunais, enquanto
órgãos que exercem a função jurisdicional, têm o dever de assegurar o cumpri-
J U S T I Ç A
mento da lei e o respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos.
A mais-valia das decisões judiciais vai muitas vezes para além da resolução
do caso concreto, contribuindo para uma melhor aplicação das normas
ambientais no futuro, ao tornarem-se um exemplo público a ser seguido,
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tanto pelos tribunais, como pelas autoridades administrativas com com-
petência para fiscalizar e fazer aplicar essas leis. Quando essas decisões ga-
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nham impacto mediático, o que é muito frequente em casos ambientais, con-
tribuem ainda para um aumento da consciencialização do público, induzin-
do modificações de comportamento e prevenindo futuras violações.
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Um bom exemplo do que acima foi dito é-nos dado pelo célebre caso das
G U I A
“andorinhas de Nisa”. O FAPAS (Fundo para a Protecção dos Animais
Selvagens) intentou uma série de procedimentos judiciais contra o Estado
porque este retirou todos os ninhos de andorinha que existiam nas paredes
exteriores do tribunal de Nisa e colocou espigões que impediram a nidifi-
cação das aves a partir desse momento. Numa decisão do Supremo
Tribunal de Justiça (que ainda não é a final) foi declarado o dever de não
perturbar nem impedir a normal nidificação das andorinhas, por serem
aves selvagens legalmente protegidas.
Posteriormente, noutras situações em que se pretendia remover ninhos
de um edifício público, surgiram várias denúncias públicas por parte de
cidadãos e o Instituto de Conservação da Natureza (que no caso de Nisa
não se opôs) tomou a iniciativa de iniciar um procedimento de contra-
-ordenação ao abrigo da referida legislação de protecção das aves selvagens.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
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Os resultados deste estudo, encomendado pela Comissão Europeia e conduzido em oito Estados-
-membros (Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Itália, Portugal e Reino Unido) estão
disponíveis em www.euronatura.pt
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
acção popular (o que é a acção popular, quem pode propor uma acção judi-
cial para defesa do ambiente, o que se pode pedir ao tribunal, a que tribu-
nal se deve recorrer, que meios e recursos são necessários, etc.).
A par dos meios judiciais, dão-se ainda a conhecer (de forma sumária)
outros mecanismos de reacção contra violações de normas ambientais de
que os cidadãos podem recorrer. É o caso das reclamações e recursos pe-
rante a Administração Pública, da queixa perante a Comissão de Acesso
aos Documentos da Administração, da denúncia da prática de contra-orde-
nações ou da mediação ambiental.
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Destinado a cidadãos (juristas ou não) interessados em fazer algo mais pela
protecção do ambiente e com a preocupação de utilizar uma linguagem
acessível a todos (com sacrifício, portanto, de algum rigor terminológico e
detalhe na análise jurídica), o presente guia tentará fornecer aos leitores infor-
mação suficiente que lhes permita decidir como reagir perante uma infracção
J U S T I Ç A
ambiental, de forma a garantir o direito de todos a um ambiente sadio e eco-
logicamente equilibrado.
De fora deste guia ficam os mecanismos existentes a nível comunitário.
Face às dificuldades de agir nos tribunais portugueses, muitas vezes há a 7
ideia de que mais vale recorrer directamente a uma instância superior. No
A C E S S O
entanto, é o próprio Direito Comunitário a exigir que se esgotem primeiro
todos os meios nacionais, considerando a intervenção das instituições
comunitárias como um último recurso.
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Além do mais, o acesso dos cidadãos e organizações não governamentais
de ambiente à justiça comunitária é muito limitado: não há, em regra2, aces- G U I A
so directo ao Tribunal de Justiça por parte de cidadãos e ONGA (apenas
podem apresentar uma queixa na Comissão Europeia); as instituições
comunitárias apenas actuam contra Estados-membros (e não contra par-
ticulares) e desde que haja violação do Direito Comunitário; sendo também
limitado o respectivo poder de actuação (se o Estado não respeitar a ordem
para se conformar com o Direito Comunitário, a Comissão pode sus-
pender eventuais fundos e o Tribunal aplicar multas).
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Está actualmente em discussão um regulamento comunitário que permitirá o acesso (em termos
também limitados) de organizações não governamentais de ambiente de âmbito europeu ao Tribunal
de Justiça para contestar actos de instituições comunitárias ofensivos do Direito Comunitário do
Ambiente.
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II – DIREITO E AMBIENTE
mesmo ter por objecto um bem que não é susceptível de apropriação indi-
vidual. O ambiente é um bem uno, usufruído e partilhado em igual medi-
da por um número indeterminável de pessoas. O ar limpo que respiramos
é de todos, assim como a riqueza biológica e a qualidade de vida que resul-
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tam da existência de parques e reservas naturais.
Como é próprio dos direitos sociais, o direito ao ambiente além de
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individualmente ou através das suas organizações, na formulação e exe-
cução da política de ambiente, como forma de garantir a transparência
das decisões, a sua melhor aceitação e qualidade.
A protecção de cada um dos componentes ambientais – o ar, a água, o
solo vivo e o subsolo, a fauna, a flora – é feita através de uma quantidade
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considerável de legislação avulsa, que foi surgindo essencialmente a partir
da transposição de directivas comunitárias, o grande motor do Direito do
Ambiente em Portugal.
Em termos genéricos, as normas de Direito do Ambiente disciplinam o 9
modo de utilização (directa e indirecta) dos recursos naturais, de modo a
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evitar ou limitar os respectivos impactos negativos nos diferentes compo-
nentes ambientais, ou seja, visam compatibilizar as actividades humanas
com o direito a um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado.
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2.1.1. Direito de acesso à informação e de participação
procedimental (instrumentos de defesa do ambiente) G U I A
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mo do Direito, mas existem outras alternativas extra-judiciais.
Quando é a própria Administração, no âmbito da sua actividade, a desres-
peitar as normas ambientais, emitindo, por exemplo, uma licença que viola
um plano director municipal, realizando uma obra pública sem a necessá-
ria avaliação de impacte ambiental ou negando o acesso a documentos
J U S T I Ç A
administrativos, estamos perante um ilícito administrativo. Para obrigar
a Administração a corrigir a situação, é possível recorrer tanto a mecanis-
mos de controlo interno, dentro da própria Administração, como de con-
trolo externo, pelos tribunais. No primeiro caso incluem-se as reclamações e
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recursos administrativos, bem como a queixa perante a Comissão de Acesso
aos Documentos Administrativos (CADA). Trata-se aqui de pedir à própria
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Administração (seja o órgão que praticou a infracção, um seu superior ou um
órgão independente, como a CADA) que reveja a decisão que pôs em causa
a protecção do ambiente. Em alternativa, ou em caso de insucesso no recur-
D E
so a estes meios, a solução será recorrer aos tribunais administrativos.
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Os modos de reagir às violações de normas ambientais praticadas por
particulares variam conforme se trate de um ilícito penal, contra-orde-
nacional ou civil (ver quadro-síntese na pág. 51).
O ilícito criminal (ou penal) corresponde a condutas que, por ofende-
rem com tal intensidade um bem protegido pela ordem jurídica, o legis-
lador definiu como crime.7 A resposta ao ilícito penal é a aplicação pelos
tribunais judiciais de uma sanção (pena de prisão ou multa).
Mais comum é a lei definir certas infracções como contra-ordenações
(no final da generalidade dos diplomas existe um capítulo final relativo à
fiscalização e sanções que tipifica as contra-ordenações). Nestes casos,
6
O “Guia Ambiental do Cidadão” (Lisboa, 2002) fornece uma boa perspectiva do funcionamento
dos mecanismos de acesso à informação e participação em matérias ambientais.
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No glossário são elencados e definidos os principais crimes ambientais tipificados no Código Penal.
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e da protecção do ambiente.
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recursos administrativos, o que pode ser uma boa razão para utilizar estes
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As regras relativas à reclamação e recurso administrativos constam dos artigos 158º e seguintes do
Código de Procedimento Administrativo.
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Convém sublinhar que será ilegal e não, inconveniente, um acto da Administração que, no âmbito
de poderes discricionários, viole os princípios gerais da actuação administrativa (igualdade, propor-
cionalidade, justiça, imparcialidade e boa-fé), pois estes princípios funcionam como limite à activi-
dade discricionária.
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b) recurso hierárquico impróprio – decidido pelo órgão que exerça
poder de supervisão fora do âmbito da hierarquia administrativa sobre
o orgão recorrido;
c) recurso tutelar – apreciado pelo órgão que exerça o poder de tutela
ou superintendência, no caso de actos administrativos praticados por
J U S T I Ç A
órgãos de pessoas colectivas públicas diferentes, e ligadas por uma
relação de tutela ou superintendência;
As Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) são
serviços desconcentrados do Ministério das Cidades, Administração Local,
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Habitação e Desenvolvimento Regional (pertencem à mesma pessoa colecti-
va), prosseguindo as suas atribuições na dependência e sob a direcção do
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respectivo ministro. Assim, das decisões do presidente de uma CCDR cabe
recurso hierárquico para o ministro.
O recurso hierárquico impróprio existe, nomeadamente, no âmbito de
D E
uma delegação de competências entre órgãos administrativos, pois um dos
efeitos da delegação é precisamente o de extinguir a relação hierárquica que G U I A
mérito, para que o recurso tutelar possa ter por objecto a conveniência e
não só a legalidade da decisão administrativa recorrida.
O requerimento de recurso administrativo pode ser entregue junto do
autor do acto administrativo ou junto do órgão que vai apreciar o pedido,
sempre dirigido a este último, devendo ser apresentado no prazo de 30 dias
J U S T I Ç A
midade para reclamar e recorrer dos actos administrativos que ofendam esses
interesses (artigos 160º n.º 2 e 53º n.º 2 e 3 do Código de Procedimento Admi-
nistrativo).
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3.2. A QUEIXA PERANTE A COMISSÃO DE ACESSO AOS
DOCUMENTOS ADMINISTRATIVOS
Sempre que um pedido de acesso a um documento, formulado no âmbito da
Lei de Acesso aos Documentos Administrativos (Lei n.º 65/93, de 26 de
J U S T I Ç A
Agosto, alterada pelas Leis n.º 8/95, de 29 de Março, e 94/99, de 16 de Julho),
seja recusado ou não obtenha resposta, o interessado pode dirigir uma queixa
à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA).
A CADA é uma entidade pública independente, que funciona junto da
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Assembleia da República, criada para zelar pelo cumprimento da referida
Lei de Acesso aos Documentos Administrativos.
A C E S S O
A queixa deve ser apresentada no prazo de 20 dias a contar da recusa
expressa ou do fim do prazo que a Administração tinha para responder (10
dias a contar do pedido). A CADA tem então um prazo de 30 dias para
D E
emitir o seu parecer e enviá-lo a todos os interessados. Este parecer não é
vinculativo, a Administração apenas tem de o tomar em consideração numa G U I A
decisão em segunda leitura, que deve ser tomada num prazo de 15 dias.
Caso se mantenha a recusa ou não haja decisão final neste prazo, resta ao
interessado recorrer ao tribunal (existindo um processo específico para
esse fim, que tem uma tramitação urgente11).
10
Antes de 1997 só era possível contestar em tribunal um acto administrativo que fosse “definitivo e
executório”, ou seja, que fosse a última palavra da Administração, em termos do andamento do pro-
cedimento e da hierarquia dos órgãos administrativos. Só depois do procedimento terminado e da
cadeia hierárquica do autor do acto se ter pronunciado, seria possível passar aos tribunais. A redacção
actual da lei apenas exige, como requisito para a imediata impugnação judicial, que o acto administrati-
vo possua eficácia externa (afecte a esfera jurídica de particulares) e seja susceptível de lesar direitos ou
interesses legalmente protegidos.
11
Trata-se da intimação para a prestação de informações, consulta de processos ou passagem de cer-
tidões, que será descrita mais adiante, no âmbito dos meios de tutela judicial para prevenção e cessação
de actuações da Administração Pública lesivas do ambiente.
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Comunitário de Ecogestão e Auditoria)
Inspecção-Geral da Administração Actividade das autarquias locais,
do Território (IGAT) nomeadamente no âmbito do urbanismo
e ordenamento do território
Instituto de Conservação Protecção da biodiversidade (espécies
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da Natureza (ICN) e habitats)
Comissões directivas Actividades desenvolvidas nas áreas pro-
das áreas protegidas tegidas (parques, reservas, etc.)
Instituto dos Resíduos (INR) Resíduos (pilhas, pneus, óleos usados, etc.) 19
Instituto Regulador de Águas Água para consumo humano
A C E S S O
e Resíduos (IRAR)
Comissões de Coordenação Ruído, emissões de compostos orgânicos
e Desenvolvimento Regional (CCDR) voláteis, águas residuais urbanas, utiliza-
ção do domínio hídrico, etc.
Câmaras municipais Ruído, exploração de massas minerais e D E
G U I A
pedreiras, urbanismo, etc.
final (artigo 10º da Lei das ONGA – Lei n.º 35/98, de 18 de Julho).
Na prática, os valores das coimas são, muitas vezes, superados pelo bene-
fício económico que o infractor retira com a prática da contra-ordena-
D E
A M B I E N T A L
3.4. A MEDIAÇÃO AMBIENTAL
Na mediação todo o processo é controlado pelas partes em conflito e não
por um terceiro exterior que vem impor a sua decisão, nisso se distinguin-
do do clássico modelo da resolução através do juiz ou de um terceiro
decisor.
J U S T I Ç A
O mediador funciona como um terceiro neutro e imparcial, tendo por
tarefa facilitar o diálogo e auxiliar os participantes a dialogar, a compreen-
der mutuamente os respectivos interesses e necessidades e a gerarem
soluções. É assim importante que as partes abandonem a tradicional pos-
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tura adversarial e assumam um espírito colaborativo, construtivo e criativo,
de procura conjunta de soluções satisfatórias para todos. Por isso mesmo,
A C E S S O
a mediação exige um particular empenhamento das partes, no sentido de
participarem activamente no diálogo, trazendo o máximo de informação
que possa ser relevante para conhecer todos os ângulos do conflito e todos
D E
os interesses em jogo, e contribuir para a procura de consensos. A confi-
dencialidade de todo o processo e do conteúdo de todas as sessões de G U I A
IV – A VIA JUDICIAL
O princípio da tutela jurisdicional efectiva e do acesso ao direito e aos tri-
bunais, essencial a qualquer Estado democrático, significa que os tribunais
são o garante último da aplicação do Direito e que a ninguém pode ser
denegada a justiça para protecção dos seus direitos e interesses legalmente
protegidos.
A possibilidade dos cidadãos recorrerem aos tribunais para defesa do
ambiente é garantida por força do direito de acção popular, consagrado na
A M B I E N T A L
Constituição desde 1976, mas apenas regulamentado desde 1985 na Lei de
Acção Popular.
Antes de saber quem pode recorrer aos tribunais e como pode fazê-lo
(ou seja, quais são os meios de tutela judicial), importa descrever sumaria-
mente de que modo funciona e se organiza o sistema judicial português.
J U S T I Ç A
4.1. ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS
Recorrendo às palavras da Constituição, “os tribunais são os órgãos de
soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo”
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(artigo 202º). Têm por função assegurar a defesa dos direitos e interesses
legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade
A C E S S O
democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados.
Os tribunais são absolutamente independentes dos demais órgãos do
Estado. Os juízes não podem ser responsabilizados pelas suas decisões,
D E
embora elas possam ser controladas e revistas por tribunais superiores.
O Conselho Superior de Magistratura é o único órgão com poder discipli- G U I A
mada, Beja, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Funchal, Leiria, Lisboa, Loulé,
Loures, Mirandela, Penafiel, Ponta Delgada, Porto, Sintra e Viseu);
b) jurisdição comum ou dos tribunais judiciais, onde se incluem o
Supremo Tribunal de Justiça, quatro Tribunais da Relação (Coimbra,
24 Évora, Lisboa, Porto) e umas centenas de tribunais de primeira instân-
cia distribuídos pelas várias comarcas de todo o país.
A C E S S O
Esta divisão assenta numa distinção básica entre os tipos de litígios que
são apreciados numa e noutra jurisdição.
Tentando simplificar, pode dizer-se que os tribunais administrativos
D E
são competentes para julgar conflitos quando esteja em causa uma relação
G U I A
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Mas, por outro lado, para a execução dos trabalhos de remoção dos ninhos
e de colocação dos espigões, o Secretário-geral do Ministério da Justiça
recorreu aos serviços de um empreiteiro ao qual adjudicou as obras. Por se
tratar de um ente público, a escolha foi feita através de um acto de adjudi-
cação, um acto característico da actividade administrativa, pelo que o
J U S T I Ç A
FAPAS também diligenciou no sentido da abertura de um processo nos tri-
bunais administrativos. A mesma realidade – o dever de respeitar a nidifi-
cação das andorinhas – é assim apreciada pelas duas jurisdições.
É importante notar ainda que o facto de uma actividade de um privado 25
ter sido autorizada por uma licença administrativa não significa automati-
A C E S S O
camente que apenas se possa recorrer aos tribunais administrativos. Por
diversas vezes os tribunais vincaram a distinção entre a impugnação da
licença administrativa, que deve ter por base um qualquer vício do processo
autorizativo e é da competência dos tribunais administrativos, por um lado
D E
e, por outro, a contestação da actividade do particular que infringe normas
G U I A
ambientais, que deve ser feita perante os tribunais judiciais.
Os tribunais judiciais julgam os ilícitos penais (a prática de crimes) e
civis (a violação de normas legais por parte de particulares, ofendendo os
direitos e interesses de terceiros).
Existem tribunais judiciais de 1ª instância de competência genérica, que
julgam tanto os ilícitos civis como penais. Nas comarcas (circunscrições
judiciais) já com alguma dimensão e movimento de processos, os tribunais
judiciais especializam-se em função da matéria, existindo por isso juizos
cíveis e criminais.
Com efeito, nas acções penais, por estarem em causa bens pessoais fun-
damentais (a liberdade do arguido ou os valores protegidos pelas normas
G U I A
13
Convém distinguir este termo de outros que parecem semelhantes mas têm significados bem distintos:
– o “recurso jurisdicional” é a revisão de uma decisão de um tribunal (cível, criminal ou administra-
tivo) por um outro tribunal hierarquicamente superior;
– a anterior lei processual administrativa designava como “recurso contencioso” a apreciação de
uma decisão de um órgão da Administração (acto administrativo) por um tribunal administrativo.
A lei actual classifica este meio judicial, de forma mais correcta, como acção de impugnação de
actos administrativos (já que não está em causa a revisão de uma decisão judicial);
– o “recurso administrativo” corresponde à revisão de uma decisão de um órgão da Administração
por outro órgão também da Administração, não sendo, portanto, um meio judicial mas um meca-
nismo de auto-controlo da Administração.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
vez que às acções sobre bens imateriais, como é o caso dos bens ambien-
tais, a lei atribui o valor da alçada da Relação mais um cêntimo, o recurso
será sempre possível, primeiro para a Relação e depois para o STJ.
A M B I E N T A L
que conhecem em primeira instância todas as acções administrativas. Porém,
se estiver em causa a actuação de certos órgãos superiores do Estado
(Presidente da República, Assembleia da República, Conselho de Ministros,
Primeiro-Ministro ou Tribunais), a acção14 deve ser proposta directamente
junto do Supremo Tribunal Administrativo. Os actos de um ministro,
J U S T I Ç A
nomeadamente da pasta do Ambiente, não se incluem nesta categoria, pelo
que a acção deve ser intentada no TAC territorialmente competente.
No que respeita à admissibilidade dos recursos na jurisdição administra-
tiva, em regra existe apenas uma instância de recurso, que poderá ser di- 27
rectamente o Supremo Tribunal Administrativo (STA) ou o Tribunal Central
A C E S S O
Administrativo (TCA)15.
Excepcionalmente, poderá haver recurso para o STA das decisões do
TCA, proferidas em 2ª instância, quando esteja em causa a apreciação de
uma questão, que pela sua relevância jurídica ou social, se revista de
D E
importância fundamental ou quando a admissão do recurso seja claramente
G U I A
necessária para uma melhor aplicação do Direito (a verificação deste requi-
sito é objecto de uma apreciação preliminar sumária pelo próprio STA).
Quando o STA funciona como 1ª instância, as decisões são proferidas
pela Secção de Contencioso Administrativo deste tribunal, cabendo depois
recurso para o pleno da mesma Secção.
14
Ver glossário.
15
Da leitura conjugada dos artigos 151º e 34º do Código de Processo nos Tribunais Administrativos
resulta a seguinte regra de competência para conhecimento dos recursos:
– das decisões de mérito (sobre o conteúdo do pedido) proferidas pelos TAC nas acções relativas a
bens imateriais (como o ambiente) ou que visem impugnar normas de planos urbanísticos e de ordena-
mento do território, cabe recurso directo para o STA se estiverem em causa apenas questões de direito
(se não se pretender contestar os factos que foram considerados provados), ou para o TCA caso se
pretenda pôr em causa os factos considerados provados pelo TAC.
– das decisões dos TAC que não se pronunciem sobre o mérito da causa, ou seja, que apenas apreciem
questões processuais, cabe recurso para o TCA.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
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O respectivo regime consta do artigo 280º da Constituição e artigos 69º e seguintes da Lei do Tribunal
Constitucional.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
A M B I E N T A L
(artigo 16º da Lei de Acção Popular). A fiscalização da legalidade traduz-se,
por exemplo, na possibilidade do Ministério Público tomar o lugar do autor
da acção quando entenda que este está a ter um comportamento lesivo dos
interesses ambientais em causa (utilizando o falso pretexto do interesse do
ambiente para alcançar outros fins com ele incompatíveis).
J U S T I Ç A
No caso dos crimes ambientais o Ministério Público tem um papel ainda
mais importante, uma vez que este órgão tem uma competência genérica para
o exercício da acção penal (nestes e em todos os crimes). Esta função traduz-
-se na investigação de factos que possam constituir um crime e na apresen- 29
tação da respectiva acusação em tribunal contra os responsáveis (os arguidos).
A C E S S O
Durante algum tempo (até à entrada em vigor da Lei de Acção Popular
em 1995), o Ministério Público era, de acordo com estudos então realiza-
dos, o mais frequente autor de acções para defesa do ambiente, situação
que contudo deixou de se verificar, com uma clara predominância actual-
D E
mente para as acções interpostas por ONGA. G U I A
Face às dificuldades, em termos de meios e capacidade técnica, de muitas
ONGA e mesmo dos cidadãos, seria desejável um papel mais interventivo
do Ministério Público, que fosse capaz de dar resposta e seguimento às
queixas e denúncias por aqueles apresentadas.
terminável de pessoas.
Enquanto que numa acção que visa apurar as responsabilidades num aci-
dente automóvel cada interveniente está a defender os seus interesses pes-
soais (danos sofridos na sua propriedade privada ou integridade física),
ninguém tem um interesse especial e diferente dos outros para reivindicar um
J U S T I Ç A
ar limpo para respirar. O que não significa que ninguém o possa defender.
Muito pelo contrário, o facto de todos serem igualmente afectados por uma
ofensa ao ambiente legitima todos os interessados/afectados a defendê-lo.
30 Reconhecendo isso mesmo, a Constituição (artigo 52º) e a lei (artigo 2º
da Lei de Acção Popular, 45º da LBA e 26º-A do Código de Processo Civil)
A C E S S O
(individualmente ou em grupo),
b) associações e fundações defensoras dos referidos interesses,
desde que preencham os seguintes requisitos:
– terem personalidade jurídica, ou seja, serem uma pessoa colectiva
autónoma, constituída por escritura pública;
– incluírem expressamente nas suas atribuições ou nos seus objec-
tivos estatutários a defesa dos interesses em causa no tipo de acção
de que se trate, neste caso a protecção do ambiente;
– não exercerem qualquer tipo de actividade profissional concor-
rente com empresas ou profissionais liberais, ou seja, não prossegui-
rem fins lucrativos.
As organizações não governamentais de ambiente (ONGA) são as associa-
ções que preenchem estes requisitos, tendo por objectivo estatutário, exclu-
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
A M B I E N T A L
De entre as várias prerrogativas decorrentes do estatuto de ONGA
vale a pena destacar as principais:
• direito de consulta e informação junto dos órgãos da Administração
Pública sobre documentos;
J U S T I Ç A
• direito de participar na definição da política e das grandes linhas de orien-
tação legislativa em matéria de ambiente;
• direito de representação em órgãos consultivos da Administração
Pública;
31
• legitimidade para iniciar e intervir em procedimentos administrativos
em defesa do ambiente;
A C E S S O
• possibilidade de solicitar aos laboratórios públicos competentes a reali-
zação de análises sobre a composição ou o estado de quaisquer compo-
nentes do ambiente e divulgar os correspondentes resultados;
• legitimidade para recorrer a tribunal em defesa do ambiente; D E
G U I A
17
Carlos Adérito Teixeira, “Acção Popular – Novo Paradigma” (Lisboa, 1996)
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
A M B I E N T A L
exemplo os danos sofridos pelos pescadores quando se regista uma maré
negra). Por serem semelhantes, estes direitos podem ser apreciados con-
juntamente numa acção popular, mas sendo juridicamente distintos, tam-
bém poderão ser regulados separadamente e por isso se abre a oportu-
nidade de o respectivo titular se auto-excluir (e eventualmente propor uma
J U S T I Ç A
acção individual para o seu caso concreto).
Já numa acção relativa, por exemplo, a descargas poluentes, em que está
em causa um bem único, o ambiente, objecto de um interesse difuso, se o
tribunal decide que a actividade foi realizada ilegalmente e tem de cessar,
33
essa decisão é necessariamente válida para todos, não podendo mais tarde
vir a ser decidido de outra forma para outro interessado que não tenha par-
A C E S S O
ticipado na primeira acção.
A representação processual no âmbito da acção popular tem várias con-
sequências:
D E
1) ao nível da tramitação da acção:
G U I A
ral, o que significa que mais nenhum titular do mesmo interesse (mes-
mo os que não intervieram) pode vir a propor nova acção com o
mesmo pedido e o mesmo fundamento;
b) a decisão só vincula as partes que efectivamente intervieram na
34 acção, ou seja, o caso julgado tem uma eficácia apenas entre as
partes quando:
A C E S S O
A M B I E N T A L
forma (tipo de pedido e tramitação processual) mas sim a delimitação ampla
do círculo de pessoas (singulares e colectivas) que a podem propor. As regras
gerais do processo civil, penal e administrativo são portanto aplicáveis, com
algumas adaptações decorrentes da especialidade do autor popular. Algumas
delas, como o chamamento de todos os interessados, ou a eficácia do caso
J U S T I Ç A
julgado, já foram assinaladas a propósito do regime especial de representação
processual na acção popular, outras serão apresentadas adiante.
4.3.1. Tutela provisória e urgente – os procedimentos cautelares
35
As lesões a bens ambientais são por vezes irreparáveis e irreversíveis, tor-
nando necessária e indispensável uma regulação urgente, ainda que pro-
A C E S S O
visória, da situação, sob pena de, no final da acção judicial (que pode levar
anos) já não existirem os valores ambientais que se pretendiam acautelar.
Os chamados procedimentos cautelares18 constituem a forma de pedir
D E
ao tribunal essa regulação urgente. Previamente à propositura da acção ou na
pendência da mesma, o seu autor pode apresentar um pedido ao tribunal G U I A
iuris. Sendo feita esta prova sumária, a providência será decretada desde que
não cause à outra parte um prejuízo superior àquele que se pretende evitar.
Os procedimentos cautelares são urgentes, o que significa que a sua apre-
ciação tem prioridade sobre outros actos judiciais não urgentes, não se sus-
pendendo a sua tramitação no período de férias judiciais. Quando a audiên-
J U S T I Ç A
cia prévia da outra parte (o requerido) puser em risco sério o fim ou a eficá-
cia da providência cautelar, o tribunal pode decretar de imediato a
providência e só depois ouvir o requerido. De acordo com a lei, este tipo
de procedimentos deveria ser decidido em 1ª instância no prazo máximo
36 de dois meses, desde a apresentação do pedido (ou 15 dias no caso de a
providência ter sido decretada pelo tribunal sem audição da parte con-
A C E S S O
A M B I E N T A L
ambiente sadio pedir a suspensão de actividades lesivas deste, sejam estas
conduzidas por particulares ou pela própria Administração (no primeiro caso
o tribunal competente será o judicial, no segundo o administrativo).
No caso de se tratar de uma situação que deva ser regulada pelos tribunais
administrativos, a doutrina21 tem considerado que a figura dos embargos
J U S T I Ç A
administrativos deve ser utilizada quando estejam em causa actuações pura-
mente materiais da Administração (ou seja, quando não exista nenhum acto
administrativo formal, nomeadamente um acto de licenciamento) e não haja
nenhuma providência especificamente adequada ao caso em concreto de
37
entre as tipificadas na lei de processo administrativo.
A C E S S O
O Código de Processo nos Tribunais Administrativos prevê algumas
providências cautelares que podem ser usadas em prol da defesa do am-
biente, nomeadamente:
D E
a. Suspensão da eficácia de um acto administrativo – tem por objecti-
vo impedir a execução material de uma decisão da Administração (por G U I A
mo judicial não deve ser utilizado com grande ligeireza. Se a providência for
considerada injustificada ou vier a caducar por facto imputável ao requerente
(porque, por exemplo, não propôs a acção principal dentro do prazo previs-
to na lei) e por falta de diligência do mesmo, será o requerente responsável
38 pelos danos culposamente causados ao requerido. Antes de se pedir, por
exemplo, a suspensão das obras de um grande projecto é, portanto, conve-
A C E S S O
niente ter a certeza de que estão reunidas mais do que as provas sumárias
exigidas para o procedimento cautelar (pois na acção principal elas serão
necessárias) e que haverá meios para propor atempadamente a acção principal.
D E
A M B I E N T A L
clássicas de actuação administrativa (o acto, o contrato e a norma adminis-
trativa), o que deixava sem protecção uma série de situações em que a ofen-
sa não cabia nesses parâmetros formais, sendo muito limitado o âmbito de
pedidos admissíveis em tribunal.
J U S T I Ç A
Com a entrada em vigor, a 1 de Janeiro de 2004, das novas regras do con-
tencioso administrativo (Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais e
Código de Processo nos Tribunais Administrativos), passou a existir uma
maior diversidade de meios processuais e pedidos que podem ser apresen-
tados perante os tribunais administrativos, tendo por objectivo garantir que 39
a todo o direito e em cada situação caiba uma forma de protecção adequa-
A C E S S O
da (é o princípio da tutela jurisdicional efectiva).
As novidades mais assinaláveis são a possibilidade de reagir perante
omissões da Administração (por exemplo a falta de fiscalização das activi-
dades de particulares) ou contra puras acções materiais (uma conduta da
D E
Administração que não se seja um acto, regulamento ou contrato adminis- G U I A
trativo), a possibilidade de actuar preventivamente (evitando a prática de
actos ou condutas lesivas do ambiente), a possibilidade de, em determi-
nadas condições, actuar contra particulares e, finalmente, a introdução da
figura dos processos urgentes.
Recorrendo à panóplia de pedidos admissíveis nos tribunais administra-
tivos, enunciados sumariamente no quadro abaixo, será possível prevenir
lesões ambientais causadas por actuações formais ou materiais da
Administração ou mesmo, em determinadas condições, de particulares,
condenando-os a actuar de determinada forma ou a absterem-se de o fazer
desde que haja perigo de lesão futura. É ainda possível reagir perante lesões
actuais ou consumadas, obrigando à cessação de um comportamento lesi-
vo, à eliminação de um acto ou norma ilegal, à reconstituição da situação
anterior à lesão ou à indemnização pelos danos causados.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
A M B I E N T A L
da a fazê-lo, a Administração não tenha adoptado as providências
adequadas para pôr cobro à situação.
2. Acção administrativa especial – seguem uma forma de acção pró-
pria os processos nos quais sejam formulados os seguintes pedidos:
a. anulação ou declaração de nulidade ou inexistência de um acto
J U S T I Ç A
administrativo (como, por exemplo, uma licença industrial, ou
uma autorização de construção) – corresponde ao antigo “recurso
contencioso de anulação”;
b. condenação à prática de acto legalmente devido (que tenha sido
ilegalmente omitido ou recusado); 41
c. declaração de ilegalidade de uma norma emitida no exercício de
A C E S S O
funções administrativas, ou da omissão de uma norma que devesse
ter sido emitida para tornar exequíveis actos legislativos carecidos
de regulamentação – cabem aqui as normas constantes, por exem-
D E
plo, de regulamentos administrativos, planos directores municipais
ou planos de ordenamento de áreas protegidas. G U I A
A M B I E N T A L
damente na regulamentação da caça.
Sendo provada a prática de um crime, será aplicável uma pena de prisão ou
de multa.
As pessoas colectivas, como por exemplo, as empresas, não são respon-
sáveis criminalmente, apenas o podendo ser os indivíduos que agem em
J U S T I Ç A
seu nome, desde que quanto a eles se demonstrem preenchidos todos os
requisitos do tipo penal (ilicitude, dolo, culpa e punibilidade).
A C E S S O
Público (este organismo tem o dever de abrir um inquérito para
averiguar se existem indícios da prática do respectivo crime);
b. constituindo-se assistentes (“acusadores particulares”) no processo,
D E
o que lhes permite:
i. intervir em várias fases do processo oferecendo provas e reque- G U I A
23
Uma descrição do conteúdo destes crimes pode ser encontrada no glossário.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
indemnização em dinheiro.
No domínio do Direito do Ambiente, a importância da manutenção do
equilíbrio ecológico exige que a indemnização só seja opção quando a
44 restauração natural não seja de todo possível. A Lei de Bases do Ambiente
(LBA) expressamente determina que os infractores são obrigados a
A C E S S O
24
Ver glossário.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
Responsabilidade subjectiva
Determina a Lei de Acção Popular que nos casos de responsabilidade civil
subjectiva, a indemnização tem de ser pedida para todos os titulares do inte-
A M B I E N T A L
resse afectado. Se os titulares são indeterminados, ela é pedida globalmente
(não tendo de indicar um montante exacto e preciso); se, pelo contrário, hou-
ver titulares identificados, todos eles devem ser apresentados como tal.
A indemnização é fixada globalmente, cabendo posteriormente a cada um
dos interessados/lesados requerer que lhe seja atribuída a sua parte de acor-
J U S T I Ç A
do com os danos sofridos. O direito à indemnização prescreve no prazo de
três anos a contar do trânsito em julgado da sentença que o tiver reconhecido.
Os montantes não reclamados são entregues ao Ministério da Justiça que os
escriturará em conta especial, e os afectará ao pagamento de procuradoria e
45
ao apoio no acesso ao direito e tribunais por titulares de acção popular.
Como em outros pontos da Lei de Acção Popular, trata-se de um regime
A C E S S O
processual aplicável no caso de haver interesses individuais homogéneos (situ-
ação em que cada indivíduo sofre um dano próprio e individualizável, embora
com causa comum, tendo portanto direito à correspondente indemnização),
D E
não se adequando a danos ambientais não quantificáveis individualmente,
onde só faz sentido uma destinação colectiva da indemnização. G U I A
Haverá que preencher esta lacuna da lei e determinar qual deve ser essa
destinação, eventualmente equacionando a afectação destes valores a um
fundo especial para conservação da natureza. Não existem tão-pouco
regras específicas sobre o nexo de causalidade (imputação do dano a um
agente/actividade), problema muitas vezes difícil de resolver em situações
em que o dano ambiental não tem uma origem directa e imediata, havendo
um concurso de causas que eventualmente se potenciam entre si.
Responsabilidade objectiva
No que toca à responsabilidade objectiva há uma quase total inexistência
de regras substantivas (não é definido o conceito de “actividade objectiva-
25
Ver glossário.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
Responsabilidade da Administração
A M B I E N T A L
A M B I E N T A L
(por exemplo a utilização abusiva da acção popular pelo autor para obter be-
nefícios próprios), excluindo assim a eficácia geral do caso julgado26, o que sal-
vaguarda os verdadeiros titulares do interesse em causa, pois significa que eles
podem vir a propor nova acção com o mesmo objecto (artigo 19º da LAP).
No que respeita ao apuramento dos factos, ainda que limitado às
J U S T I Ç A
questões fundamentais definidas pelas partes, o juiz tem iniciativa própria
em matéria de recolha de provas, sem estar vinculado à iniciativa das partes
(ao contrário do que acontece nas regras gerais de processo civil). Significa
isto que o juiz pode, por exemplo, ordenar peritagens que não tenham sido
pedidas pelas partes, caso considere isso importante para o apuramento 47
dos factos (artigo 17º da LAP).
A C E S S O
Finalmente, outra excepção às regras processuais gerais é a já referida
possibilidade do juiz conferir eficácia suspensiva a um recurso, para evitar
dano irreparável ou de difícil reparação, ainda que a lei não preveja esse
D E
efeito para o recurso. Isto significa que a decisão recorrida não produz
efeitos, ou seja, não é passível de ser executada até que seja proferida a G U I A
26
Vide supra a secção sobre o regime especial da representação processual, onde se descrevem os efeitos
do caso julgado na acção popular.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
A M B I E N T A L
Advogados comprometeram-se a criar gabinetes de consul-
ta jurídica com vista à gradual cobertura territorial do país.
– Apoio judiciário: no recurso ao tribunal pode ser concedida a
quem não disponha de meios económicos para tal:
• Dispensa total e/ou parcial, ou diferimento do pagamento da
J U S T I Ç A
taxa de justiça e demais encargos com o processo.
• Nomeação e pagamento de honorários de patrono ou paga-
mento de honorários a patrono escolhido.
49
No entanto, esta Lei que define o regime de acesso ao direito e aos tri-
A C E S S O
bunais, remete para regulamentação posterior a definição dos esquemas
destinados à tutela de interesses difusos e dos direitos só indirecta ou
reflexamente lesados ou ameaçados de lesão. Esta regulamentação conti-
nua sem existir desde há bem mais de uma década, levantando a questão de
D E
uma possível inconstitucionalidade por omissão. G U I A
A solução que tem vindo a ser encontrada por quem propõe acções popu-
lares é encontrar advogados dispostos a trabalhar gratuitamente, o que nem
sempre é fácil. A CIDAMB – Associação para a Cidadania Ambiental foi
constituída pela Liga para a Protecção da Natureza, Quercus e GEOTA
tendo como um dos principais propósitos apoiar e informar quem queira
actuar judicialmente em defesa do ambiente e encontrar uma “bolsa” de
advogados dispostos a patrocinar tais acções. Mais uma vez as ONGA
assumem uma tarefa que é do Estado.
Ainda estamos longe dessa realidade, mas vai sendo possível encontrar
alguma informação dispersa pelas várias instituições com responsabilidade
na área do ambiente e respectivos sítios na internet.
D E
Por outro lado, como já se referiu por diversas vezes, tanto os cidadãos
como as ONGA têm direito de consultar e obter cópias dos documentos
G U I A
V – QUADRO-SÍNTESE
Administrativo Emissão de parecer não vinculativo
Queixa perante a CADA
(violação pela Administração das normas pela CADA e decisão em segunda
(por violação do direito de acesso Queixoso
que regulam o exercício da sua actividade leitura pelo órgão detentor do
a documentos administrativos)
de prossecução dos interesses públicos, documento administrativo
actuando com poderes de autoridade)
Condenação da Administração à
adopção ou abstenção de condutas
Controlo Acção perante os tribunais (actos administrativos, normas regula-
Autor
externo administrativos mentares ou operações materiais)
e/ou ao pagamento de indemnização
por danos ambientais
Penal
processo-crime perante os tribunais Denunciante Aplicação de penas de prisão
(infracção praticada por pessoas
judiciais (criminais) e/ou assistente ou multas ao agente infractor
singulares, tipificada na lei como crime)
G U I A D E A C E S S O J U S T I Ç A A M B I E N T A L
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
VI – GLOSSÁRIO
Tentando descodificar alguns dos termos técnico-jurídicos mais utilizados
quando se fala de acesso à justiça em matérias ambientais, apresentam-se
algumas explicações simples que não pretendem ser definições completas
e absolutamente rigorosas, mas sim permitir uma primeira aproximação do
cidadão comum às realidades descritas.
Acção judicial – pedido apresentado em tribunal para que este se pronuncie
A M B I E N T A L
ca de um crime.
G U I A
A M B I E N T A L
(ao contrário da multa pela prática de um crime, a coima não é convertível em dias
de prisão).
Contra-ordenação – infracção a uma regra legal, punível com a aplicação de uma
coima (sanção pecuniária), e eventualmente sanções acessórias, determinada por
uma autoridade administrativa, na sequência de um processo administrativo que
J U S T I Ç A
visa apurar a prática de tal infracção. Ao contrário dos crimes, a prática de uma
contra-ordenação implica uma conduta que não viola valores éticos fundamentais
à sociedade, podendo ser imputada tanto a pessoas singulares como a pessoas
colectivas (empresas, associações, etc.).
Crime – infracção a uma regra legal, que pune determinados comportamentos, 53
por atentatórios de valores fundamentais à sociedade, através da aplicação de pena
A C E S S O
de prisão ou de multa (pagamento de uma determinada quantia pecuniária a uma
taxa diária, convertível em prisão). Para que determinada conduta seja punível
como crime é necessária a existência de uma norma penal que expressamente pre-
D E
veja essa conduta e que o agente actue voluntariamente (sabendo que está a violar
a norma penal). Só as pessoas singulares/físicas podem ser punidas penalmente, G U I A
do subsolo em toda uma área regional. Este crime é punido com pena de
prisão até 3 anos ou com pena de multa até 600 dias.
• Crime de poluição (artigo 279º do Código Penal) – a descrição do
comportamento que corresponde a este tipo penal assenta no conceito de
“poluição em medida inadmissível”, o que significa que só será punido o
agente que: (a) poluir águas ou solos, ou por qualquer forma degradar as
suas qualidades, ou poluir o ar mediante a utilização de aparelhos técnicos
ou de instalações, ou provocar poluição sonora mediante a utilização de
aparelhos técnicos ou de instalações, em especial de máquinas ou de
A M B I E N T A L
tenham sido dadas sob cominação de que a sua violação implicaria a práti-
ca do crime de poluição. Este crime é punido com pena de prisão até 3
anos ou com pena de multa até 600 dias ou, se o agente actuar com negli-
54 gência, será punido apenas com pena de prisão até 1 ano ou com pena de
multa.
A C E S S O
uma decisão de forma quando o pedido é rejeitado, por exemplo, porque o tribu-
nal se considera incompetente ou declara uma das partes ilegítima.
Decisão de mérito – decisão que se pronuncia sobre o conteúdo do pedido apre-
sentado.
Discricionariedade administrativa – liberdade conferida pela lei a um órgão
administrativo para que este escolha e decida, de entre um número limitado ou
ilimitado de opções, aquela que melhor serve o interesse ou necessidade pública
que se pretende satisfazer numa dada situação. A escolha é feita com base num
A M B I E N T A L
juízo de conveniência e não estrita legalidade, embora o respeito pelos grandes
princípios que norteiam a actividade administrativa funcione como limite à
margem de discricionariedade (princípios da igualdade, proporcionalidade, justiça,
imparcialidade e boa-fé).
Documentos administrativos – quaisquer suportes de informação gráficos,
J U S T I Ç A
sonoros, visuais, informáticos ou registos de outra natureza, elaborados ou detidos
pela Administração Pública, designadamente processos, relatórios, estudos, pare-
ceres, actas, autos, circulares, ofícios-circulares, ordens de serviço, despachos nor-
mativos internos, instruções e orientações de interpretação legal ou de enquadra-
mento da actividade ou outros elementos de informação (definição legal dada pela 55
Lei n.º 65/93 de 26 de Agosto e válida para efeitos do exercício do direito de aces-
A C E S S O
so aí previsto).
Doutrina – opiniões dos autores que se dedicam ao estudo do Direito.
Interesses colectivos – interesses cuja titularidade pertence a um conjunto deter-
D E
minado e diferenciado de titulares, identificável em função de uma característica
G U I A
objectiva comum que liga os seus membros, tendo por objecto um bem insus-
ceptível de apropriação individual e sendo, por isso, exercidos ou defendidos no
interesse desse grupo (por exemplo os interesses dos utentes de um serviço público).
Interesses difusos – interesses cuja titularidade pertence a um número tenden-
cialmente indeterminado e indiferenciado de sujeitos (a todos e a cada um dos
membros de uma comunidade, de um grupo ou de uma classe, não representados
organicamente), sem que, todavia, sejam susceptíveis de apropriação individual
por qualquer um desses sujeitos, sendo exercidos ou defendidos por qualquer
membro no interesse de todo o grupo ou colectividade (por exemplo, o interesse
na protecção de uma paisagem natural, na qualidade do ar que todos respiramos,
na preservação da biodiversidade e dos ecossistemas).
Interesses individuais homogéneos – interesses que, tendo uma origem comum,
têm uma tradução concreta individual pois o seu objecto é divisível e susceptível
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
Pena de prisão – uma das punições possíveis pela prática de crimes, consistindo
na privação de liberdade.
Procedimentos cautelares – processo judicial, acessório de uma acção principal,
56 no qual se pede uma regulação provisória e urgente de uma situação, objecto tam-
bém da acção principal, tendo por objectivo acautelar o efeito útil da decisão
A C E S S O
A M B I E N T A L
(com consciência de que a sua conduta era ilícita).
Réu – pessoa (singular ou colectiva) contra quem é proposta uma acção judicial
cível ou administrativa.
Sentença – decisão final sobre um processo judicial proferida por um tribunal sin-
gular.
J U S T I Ç A
Trânsito em julgado – uma decisão transita em julgado quando já não é possí-
vel recorrer da mesma, pela ultrapassagem do prazo de recurso, pela inexistência
de tribunal superior ou pela inadmissibilidade de recurso da decisão em causa.
Tutela jurisdicional – protecção dos direitos através dos tribunais, realizada pela 57
declaração ou realização coerciva dos mesmos.
A C E S S O
Valor da acção – valor que representa a utilidade económica do pedido e é fixa-
do de acordo com vários critérios definidos na lei (no caso de acções que versam
sobre interesses imateriais, considera-se que têm o valor da alçada da Relação mais
um cêntimo, ou seja, 14963,95 euros).
D E
G U I A
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
Lei de Acção Popular (LAP) – Lei n.º 83/95 de 31 de Agosto, que regula o direito
G U I A
A M B I E N T A L
1 – A presente lei define os casos e termos em que são conferidos e podem ser exercidos o
direito de participação popular em procedimentos administrativos e o direito de acção po-
pular para a prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infracções previstas no n.° 3
do artigo 52° da Constituição.
2 – Sem prejuízo do disposto no número anterior, são designadamente interesses protegi-
dos pela presente lei a saúde pública, o ambiente, a qualidade de vida, a protecção do con-
J U S T I Ç A
sumo de bens e serviços, o património cultural e o domínio público.
Artigo 2°
Titularidade dos direitos de participação procedimental
e do direito de acção popular
1 – São titulares do direito procedimental de participação popular e do direito de acção po- 59
pular quaisquer cidadãos no gozo dos seus direitos civis e políticos e as associações e fun-
A C E S S O
dações defensoras dos interesses previstos no artigo anterior, independentemente de terem
ou não interesse directo na demanda.
2 – São igualmente titulares dos direitos referidos no número anterior as autarquias locais em
relação aos interesses de que sejam titulares residentes na área da respectiva circunscrição.
D E
Artigo 3°
Legitimidade activa das associações e fundações G U I A
ou agregados populacionais de certa área do território nacional devem ser precedidos, na fase
de instrução dos respectivos procedimentos, da audição dos cidadãos interessados e das enti-
dades defensoras dos interesses que possam vir a ser afectados por aqueles planos ou decisões.
2 – Para efeitos desta lei, considera-se equivalente aos planos a preparação de actividades
coordenadas da Administração a desenvolver com vista à obtenção de resultados com
impacte relevante.
3 – São consideradas como obras públicas ou investimentos públicos com impacte relevante
para efeitos deste artigo os que se traduzam em custos superiores a um milhão de contos
ou que, sendo de valor inferior, influenciem significativamente as condições de vida das
populações de determinada área, quer sejam executados directamente por pessoas colecti-
vas públicas quer por concessionários.
A M B I E N T A L
Artigo 5°
Anúncio público do início do procedimento para elaboração dos planos
ou decisões de realizar as obras ou investimentos
1 – Para a realização da audição dos interessados serão afixados editais nos lugares de esti-
lo, quando os houver, e publicados anúncios em dois jornais diários de grande circulação,
bem como num jornal regional, quando existir.
J U S T I Ç A
indicações sobre eventuais consequências que a adopção dos planos ou decisões possa ter
G U I A
Artigo 9°
Dever de ponderação e de resposta
1 – A autoridade instrutora ou, por seu intermédio, a autoridade promotora do projecto,
quando aquela não for competente para a decisão, responderá às observações formuladas e
justificará as opções tomadas.
2 – A resposta será comunicada por escrito aos interessados, sem prejuízo do disposto no
artigo seguinte.
Artigo 10°
Procedimento colectivo
1 – Sempre que a autoridade instrutora deva proceder a mais de 20 audições, poderá deter-
A M B I E N T A L
minar que os interessados se organizem de modo a escolherem representantes nas audiên-
cias a efectuar, os quais serão indicados no prazo de cinco dias a contar do fim do período
referido no n.° 1 do artigo 7°.
2 – No caso de os interessados não se fazerem representar, poderá a entidade instrutora
escolher, de entre os interessados, representantes de posições afins, de modo a não exce-
der o número de 20 audições.
3 – As observações escritas ou os pedidos de intervenção idênticos serão agrupados a fim
J U S T I Ç A
de que a audição se restrinja apenas ao primeiro interessado que solicitou a audiência ou ao
primeiro subscritor das observações feitas.
4 – No caso de se adoptar a forma de audição através de representantes, ou no caso de a
apresentação de observações escritas ser em número superior a 20, poderá a autoridade
instrutora optar pela publicação das respostas aos interessados em dois jornais diários e
num jornal regional, quando exista. 61
Artigo 11°
A C E S S O
Aplicação do Código do Procedimento Administrativo
São aplicáveis aos procedimentos e actos previstos no artigo anterior as pertinentes dis-
posições do Código do Procedimento Administrativo.
D E
CAPÍTULO III – DO EXERCÍCIO DA ACÇÃO POPULAR G U I A
Artigo 12°
Acção procedimental administrativa e acção popular civil
1 – A acção procedimental administrativa compreende a acção para defesa dos interesses
referidos no artigo 1° e o recurso contencioso com fundamento em ilegalidade contra
quaisquer actos administrativos lesivos dos mesmos interesses.
2 – A acção popular civil pode revestir qualquer das formas previstas no Código de
Processo Civil.
Artigo 13°
Regime especial de indeferimento da petição inicial
A petição deve ser indeferida quando o julgador entenda que é manifestamente improvável a
procedência do pedido, ouvido o Ministério Público e feitas preliminarmente as averiguações
que o julgador tenha por justificadas ou que o autor ou o Ministério Público requeiram.
Artigo 14°
Regime especial de representação processual
Nos processos de acção popular, o autor representa por iniciativa própria, com dispensa de
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
serem aplicáveis as decisões proferidas, sob pena de a sua passividade valer como aceitação,
sem prejuízo do disposto no n.° 4.
2 – A citação será feita por anúncio ou anúncios tornados públicos através de qualquer meio
de comunicação social ou editalmente, consoante estejam em causa interesses gerais ou
geograficamente localizados, sem obrigatoriedade de identificação pessoal dos destinatários,
que poderão ser referenciados enquanto titulares dos mencionados interesses, e por refe-
J U S T I Ç A
rência à acção de que se trate, à identificação de pelo menos o primeiro autor, quando seja
um entre vários, do réu ou réus e por menção bastante do pedido e da causa de pedir.
3 – Quando não for possível individualizar os respectivos titulares, a citação prevista no
número anterior far-se-á por referência ao respectivo universo, determinado a partir de cir-
cunstância ou qualidade que lhes seja comum, da área geográfica em que residam ou do
62 grupo ou comunidade que constituam, em qualquer caso sem vinculação à identificação
constante da petição inicial, seguindo-se no mais o disposto no número anterior.
4 – A representação referida no n.° 1 é ainda susceptível de recusa pelo representado até ao
A C E S S O
termo da produção de prova ou fase equivalente, por declaração expressa nos autos.
Artigo 16°
Ministério Público
D E
1 – O Ministério Público fiscaliza a legalidade e representa o Estado quando este for parte
na causa, os ausentes, os menores e demais incapazes, neste último caso quer sejam autores
G U I A
ou réus.
2 – O Ministério Público poderá ainda representar outras pessoas colectivas públicas quan-
do tal for autorizado por lei.
3 – No âmbito da fiscalização da legalidade, o Ministério Público poderá, querendo, substi-
tuir-se ao autor em caso de desistência da lide, bem como de transacção ou de comporta-
mentos lesivos dos interesses em causa.
Artigo 17°
Recolha de provas pelo julgador
Na acção popular e no âmbito das questões fundamentais definidas pelas partes, cabe ao juiz
iniciativa própria em matéria de recolha de provas, sem vinculação à iniciativa das partes.
Artigo 18°
Regime especial de eficácia dos recursos
Mesmo que determinado recurso não tenha efeito suspensivo, nos termos gerais, pode o
julgador, em acção popular, conferir-lhe esse efeito, para evitar dano irreparável ou de difí-
cil reparação.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
Artigo 19°
Efeitos do caso julgado
1 – As sentenças transitadas em julgado proferidas em acções ou recursos administrativos
ou em acções cíveis, salvo quando julgadas improcedentes por insuficiência de provas, ou
quando o julgador deva decidir por forma diversa fundado em motivações próprias do caso
concreto, têm eficácia geral, não abrangendo, contudo, os titulares dos direitos ou interes-
ses que tiverem exercido o direito de se auto-excluírem da representação.
2 – As decisões transitadas em julgado são publicadas a expensas da parte vencida e sob
pena de desobediência, com menção do trânsito em julgado, em dois dos jornais presumi-
velmente lidos pelo universo dos interessados no seu conhecimento, à escolha do juiz da
causa, que poderá determinar que a publicação se faça por extracto dos seus aspectos essen-
A M B I E N T A L
ciais, quando a sua extensão desaconselhar a publicação por inteiro.
Artigo 20°
Regime especial de preparos e custas
1 – Pelo exercício do direito de acção popular não são exigíveis preparos.
2 – O autor fica isento do pagamento de custas em caso de procedência parcial do pedido.
J U S T I Ç A
3 – Em caso de decaimento total, o autor interveniente será condenado em montante a fixar
pelo julgador entre um décimo e metade das custas que normalmente seriam devidas, tendo
em conta a sua situação económica e a razão formal ou substantiva da improcedência.
4 – A litigância de má-fé rege-se pela lei geral.
5 – A responsabilidade por custas dos autores intervenientes é solidária, nos termos gerais.
Artigo 21° 63
Procuradoria
A C E S S O
O juiz da causa arbitrará o montante da procuradoria, de acordo com a complexidade e o
valor da causa.
que de acções ou omissões do agente tenha resultado ofensa de direitos ou interesses pro-
tegidos nos termos da presente lei e no âmbito ou na sequência de actividade objectiva-
mente perigosa.
Artigo 24°
Seguro de responsabilidade civil
Sempre que o exercício de uma actividade envolva risco anormal para os interesses prote-
gidos pela presente lei, deverá ser exigido ao respectivo agente seguro da correspondente
responsabilidade civil como condição do início ou da continuação daquele exercício, em ter-
mos a regulamentar.
Artigo 25°
A M B I E N T A L
A M B I E N T A L
O acesso dos cidadãos aos documentos administrativos é assegurado pela Administração
Pública de acordo com os princípios da publicidade, da transparência, da igualdade, da
justiça e da imparcialidade.
Artigo 2°
Objecto
1 – A presente lei regula o acesso a documentos relativos a actividades desenvolvidas pelas
J U S T I Ç A
entidades referidas no artigo 3.º e transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva do
Conselho n.º 90/313/CEE, de 7 de Junho de l990, relativa à liberdade de acesso à infor-
mação em matéria de ambiente.
2 – O regime de exercício do direito dos cidadãos a serem informados pela Administração
sobre o andamento dos processos em que sejam directamente interessados e a conhecer as
resoluções definitivas que sobre eles forem tomadas consta de legislação própria. 65
Artigo 3°
A C E S S O
Âmbito
1 – Os documentos a que se reporta o artigo anterior são os que têm origem ou são deti-
dos por órgãos do Estado e das Regiões Autónomas que exerçam funções administrativas,
órgãos dos institutos públicos e das associações públicas e órgãos das autarquias locais, suas
D E
associações e federações e outras entidades no exercício de poderes de autoridade, nos ter-
mos da lei. G U I A
2 – A presente lei é ainda aplicável aos documentos em poder de organismos que exerçam
responsabilidades públicas em matéria ambiental sob o controlo da Administração Pública.
Artigo 4°
Documentos administrativos
1 – Para efeito do disposto no presente diploma, são considerados:
a) documentos administrativos: quaisquer suportes de informação gráficos, sonoros, visuais,
informáticos ou registos de outra natureza, elaborados ou detidos pela Administração
Pública, designadamente processos, relatórios, estudos, pareceres, actas, autos, circulares,
ofícios-circulares, ordens de serviço, despachos normativos internos, instruções e orien-
tações de interpretação legal ou de enquadramento da actividade ou outros elementos de
informação;
b) documentos nominativos: quaisquer suportes de informação que contenham dados pes-
soais;
c) dados pessoais: informações sobre pessoa singular, identificada ou identificável, que con-
tenham apreciações, juízos de valor ou que sejam abrangidas pela reserva da intimidade da
vida privada.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
a sua reprodução, bem como o direito de ser informado sobre a sua existência e conteúdo.
3 – O depósito dos documentos administrativos em arquivos não prejudica o exercício, a
todo o tempo, do direito de acesso aos referidos documentos.
4 – O acesso a documentos constantes de processos não concluídos ou a documentos
D E
5 – O acesso aos inquéritos e sindicâncias tem lugar após o decurso do prazo para even-
tual procedimento disciplinar.
6 – Os documentos a que se refere a presente lei são objecto de comunicação parcial sem-
pre que seja possível expurgar a informação relativa à matéria reservada.
7 – O acesso aos documentos notariais e registrais, aos documentos de identificação civil e
criminal, aos documentos referentes a dados pessoais com tratamento automatizado e aos
documentos depositados em arquivos históricos rege-se por legislação própria.
Artigo 8°
Acesso aos documentos nominativos
1 – Os documentos nominativos são comunicados, mediante prévio requerimento, à pessoa
a quem os dados digam respeito, bem como a terceiros que daquela obtenham autorização
escrita.
2 – Fora dos casos previstos no número anterior os documentos nominativos são ainda
comunicados a terceiros que demonstrem interesse directo, pessoal e legítimo.
3 – A comunicação de dados de saúde, incluindo dados genéticos, ao respectivo titular faz-
-se por intermédio de médico por ele designado.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
Artigo 9°
Correcção de dados pessoais
1 – O direito de rectificar, completar ou suprimir dados pessoais inexactos, insuficientes ou
excessivos é exercido nos termos do disposto na legislação referente aos dados pessoais
com tratamento automatizado, com as necessárias adaptações.
2 – Só a versão corrigida dos dados pessoais é passível de uso ou comunicação.
Artigo 10°
Uso ilegítimo de informações
1 – A Administração pode recusar o acesso a documentos cuja comunicação ponha em
causa segredos comerciais, industriais ou sobre a vida interna das empresas.
A M B I E N T A L
2 – É vedada a utilização de informações com desrespeito dos direitos de autor e dos direi-
tos de propriedade industrial, assim como a reprodução, difusão e utilização destes docu-
mentos e respectivas informações que possam configurar práticas de concorrência desleal.
3 – Os dados pessoais comunicados a terceiros não podem ser utilizados para fins diversos
dos que determinaram o acesso, sob pena de responsabilidade por perdas e danos, nos ter-
mos legais.
J U S T I Ç A
Artigo 11°
Publicações de documentos
1 – A Administração Pública publicará, por forma adequada:
a) todos os documentos, designadamente despachos normativos internos, circulares e orien-
tações, que comportem enquadramento da actividade administrativa; 67
b) a enunciação de todos os documentos que comportem interpretação de direito positivo
ou descrição de procedimento administrativo, mencionando, designadamente, o seu título,
A C E S S O
matéria, data, origem e local onde podem ser consultados.
2 – a publicação e o anúncio de documentos deve efectuar-se com a periodicidade máxima
de seis meses e em moldes que incentivem o regular acesso dos interessados.
D E
CAPÍTULO II – EXERCÍCIO DO DIREITO DE ACESSO
G U I A
Artigo 12°
Forma do acesso
1 – O acesso aos documentos exerce-se através de:
a) consulta gratuita, efectuada nos serviços que os detêm;
b) reprodução por fotocópia ou por qualquer meio técnico, designadamente visual ou
sonora;
c) passagem de certidão pelos serviços da Administração.
2 – A reprodução nos termos da alínea b) do número anterior far-se-á num exemplar,
sujeito a pagamento, pela pessoa que a solicitar, do encargo financeiro estritamente corres-
pondente ao custo dos materiais usados e do serviço prestado, a fixar por decreto-lei ou
decreto legislativo regional, consoante o caso.
3 – Os documentos informatizados são transmitidos em forma inteligível para qualquer
pessoa e em termos rigorosamente correspondentes ao do conteúdo do registo, sem pre-
juízo da opção prevista na alínea b) do n.° 1.
4 – Quando a reprodução prevista no n.° 1 puder causar dano ao documento visado, o
interessado, a expensas suas e sob a direcção do serviço detentor, pode promover a cópia
manual ou a reprodução por qualquer outro meio que não prejudique a sua conservação.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
Artigo 13°
Forma do pedido
O acesso aos documentos deve ser solicitado por escrito através de requerimento do qual
constem os elementos essenciais à sua identificação, bem como o nome, morada e assi-
natura do interessado.
Artigo 14°
Responsável pelo acesso
Em cada departamento ministerial, secretaria regional, autarquia, instituto e associação
pública existe uma entidade responsável pelo cumprimento das disposições da presente lei.
Artigo 15°
A M B I E N T A L
Resposta da Administração
1 – A entidade a quem foi dirigido o requerimento de acesso a um documento deve, no
prazo de 10 dias:
a) comunicar a data, local e modo para se efectivar a consulta, efectuar a reprodução ou
obter a certidão;
b) indicar, nos termos do artigo 268° n.° 2, da Constituição e da presente lei, as razões da
J U S T I Ç A
Artigo 18°
Comissão
1 – É criada a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), a quem cabe
A M B I E N T A L
zelar pelo cumprimento das disposições da presente lei.
2 – A CADA é uma entidade pública independente, que funciona junto da Assembleia da
República e dispõe de serviços próprios de apoio técnico e administrativo.
Artigo 19°
Composição da CADA
J U S T I Ç A
1 – A CADA é composta pelos seguintes membros:
a) um juiz conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo, designado pelo Conselho
Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, que preside;
b) dois deputados eleitos pela Assembleia da República, sendo um sob proposta do grupo
parlamentar do maior partido que apoia o Governo e o outro sob proposta do maior par-
tido da oposição; 69
c) um professor de Direito designado pelo Presidente da Assembleia da República;
d) duas personalidades designadas pelo Governo;
A C E S S O
e) um representante de cada uma das Regiões Autónomas, designados pelos respectivos
Governos das Regiões;
f) uma personalidade designada pela Associação Nacional dos Municípios Portugueses;
g) um advogado designado pela Ordem dos Advogados;
D E
h) um membro designado, de entre os seus vogais, pela Comissão Nacional de Protecção de
Dados. G U I A
2 – Todos os titulares podem fazer-se substituir por um membro suplente, designado pelas
mesmas entidades.
3 – Os mandatos são de dois anos, renováveis, sem prejuízo da sua cessação quando ter-
minem as funções em virtude das quais foram designados.
4 – O presidente aufere a remuneração e outras regalias a que tem direito como juiz con-
selheiro do Supremo Tribunal Administrativo.
5 – À excepção do presidente, todos os membros podem exercer o seu mandato em acu-
mulação com outras funções.
6 – Os direitos e regalias dos membros da CADA são fixados no diploma regulamentar da
presente lei, sendo aplicáveis à CADA as disposições do n.º 1 do artigo 11º, dos n.ºs 2, 4 e
5 do artigo 13º, do artigo 15º, das alíneas a) e c) do n.º 1 e do n.º 2 do artigo 16º e do n.º 1
do artigo 18º da Lei n.º 43/98, de 6 de Agosto.
7 – Nas sessões da Comissão em que sejam debatidas questões que interessam a uma dada
entidade pode participar, sem direito de voto, um seu representante.
8 – Os membros da CADA tomam posse perante o Presidente da Assembleia da
República nos 10 dias seguintes à publicação da respectiva lista na l.ª série do Diário da
República.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
Artigo 20°
Competência
1 – Compete à CADA:
a) elaborar a sua regulamentação interna;
b) apreciar as queixas que lhe sejam dirigidas pelos interessados ao abrigo da presente lei;
c) dar parecer sobre o acesso aos documentos nominativos, nos termos do n.º 2 do artigo
15º, a solicitação do interessado ou do serviço requerido;
d) dar parecer sobre a comunicação de documentos nominativos entre serviços e organis-
mos da Administração em caso de dúvida sobre a admissibilidade dessa revelação, salvo nos
casos em que o acesso deva ser autorizado nos termos da Lei n.º 67/98, de 26 de Outubro;
e) pronunciar-se sobre o sistema de classificação de documentos;
A M B I E N T A L
f) dar parecer sobre a aplicação do presente diploma e bem como sobre a elaboração e apli-
cação de diplomas complementares, a solicitação da Assembleia da República, do Governo
e dos órgãos da Administração;
g) elaborar um relatório anual sobre a aplicação da presente lei e a sua actividade, a enviar
à Assembleia da República para publicação e apreciação e ao Primeiro-Ministro;
h) contribuir para o esclarecimento e divulgação das diferentes vias de acesso aos docu-
mentos administrativos no âmbito do princípio da administração aberta.
J U S T I Ç A
A M B I E N T A L
Artigo 1º
Objecto
A presente lei define o estatuto das organizações não governamentais de ambiente, adiante
designadas por ONGA.
Artigo 2º
J U S T I Ç A
Definição
1 – Entende-se por ONGA, para efeitos da presente lei, as associações dotadas de persona-
lidade jurídica e constituídas nos termos da lei geral que não prossigam fins lucrativos, para
si ou para os seus associados, e visem, exclusivamente, a defesa e valorização do ambiente
ou do património natural e construído, bem como a conservação da Natureza.
2 – Podem ser equiparados a ONGA, para efeitos dos artigos 5º, 6º, 13º, 14º e 15º da pre- 71
sente lei, outras associações, nomeadamente sócio-profissionais, culturais e científicas, que
A C E S S O
não prossigam fins partidários, sindicais ou lucrativos, para si ou para os seus associados, e
tenham como área de intervenção principal o ambiente, o património natural e construído
ou a conservação da Natureza.
3 – Cabe ao Instituto de Promoção Ambiental , adiante designado por IPAMB, proceder,
no acto do registo, ao reconhecimento da equiparação prevista no número anterior.
D E
4 – São ainda consideradas ONGA, para efeitos da presente lei, as associações dotadas de
personalidade jurídica e constituídas nos termos da lei geral que não tenham fins lucrativos G U I A
e resultem do agrupamento de várias ONGA, tal como definidas no n.º 1, ou destas com
associações equiparadas.
das condições referidas no número anterior e emitir a respectiva declaração de utilidade pública.
3 – A declaração de utilidade pública referida no número anterior é publicada no Diário da
República.
4 – Será entregue às ONGA objecto de declaração de utilidade pública o correspondente
diploma, nos termos da lei geral.
5 – As ONGA a que se referem os números anteriores estão dispensadas do registo e
demais obrigações previstas no Decreto-Lei n.º 460/77, de 7 de Novembro, sem prejuízo
do disposto nas alíneas b) e c) do artigo 12º do mesmo diploma legal.
6 – A declaração de utilidade pública concedida ao abrigo do disposto no presente artigo e
as inerentes regalias cessam:
a) com a extinção da pessoa colectiva;
A M B I E N T A L
ecológica.
2 – A consulta referida no número anterior é gratuita, regendo-se o acesso aos documentos
G U I A
2 – As ONGA de âmbito regional ou local têm direito de representação nos órgãos con-
sultivos da Administração Pública regional ou local, bem como nos órgãos consultivos da
Administração Pública central com competência sectorial relevante, de acordo com a
especificidade e a incidência territorial da sua actuação, com vista à prossecução dos fins
previstos no n.º 1 do artigo 2º.
3 – Para efeitos do direito de representação previsto no presente artigo, entende-se por:
a) ONGA de âmbito nacional – as ONGA que desenvolvam, com carácter regular e per-
manente, actividades de interesse nacional ou em todo o território nacional e que tenham
pelo menos 2000 associados;
b) ONGA de âmbito regional – as ONGA que desenvolvam, com carácter regular e per-
manente, actividades de interesse ou alcance geográfico supramunicipal e que tenham pelo
A M B I E N T A L
menos 400 associados;
c) ONGA de âmbito local – as ONGA que desenvolvam, com carácter regular e perma-
nente, actividades de interesse ou alcance geográfico municipal ou inframunicipal e que te-
nham pelo menos 100 associados.
4 – O disposto no número anterior aplica-se também às ONGA que resultem do agrupa-
mento de associações, relevando apenas, para apuramento do número de associados, as
associações que preencham os requisitos fixados no n.º 1 do artigo 2º.
J U S T I Ç A
5 – O exercício do direito de representação pelas ONGA que resultem do agrupamento de
associações exclui o exercício do mesmo direito pelas associações agrupadas.
6 – Cabe ao IPAMB, no acto do registo, a atribuição do âmbito às ONGA.
Artigo 8º
Estatuto dos dirigentes das ONGA 73
1 – Os dirigentes e outros membros das ONGA que forem designados para exercer funções
A C E S S O
de representação, nos termos do artigo 7º, gozam dos direitos consagrados nos números
seguintes.
2 – Para o exercício das funções referidas no número anterior, os dirigentes das ONGA que
sejam trabalhadores por conta de outrem têm direito a usufruir de um horário de trabalho
flexível, em termos a acordar com a entidade patronal, sempre que a natureza da respecti-
D E
va actividade laboral o permita.
3 – Os períodos de faltas dados por motivo de comparência em reuniões dos órgãos em que G U I A
os dirigentes exerçam representação ou com membros de órgãos de soberania são consi-
derados justificados, para todos os efeitos legais, até ao máximo acumulado de 10 dias de
trabalho por ano e não implicam a perda das remunerações e regalias devidas.
4 – Os dirigentes das ONGA referidos no n. 1 e que sejam estudantes gozam de prerrogativas
idênticas às previstas no Decreto-Lei n.º 152/91, de 23 de Abril, com as necessárias adaptações.
Artigo 9º
Meios e procedimentos administrativos
1 – As ONGA têm legitimidade para promover junto das entidades competentes os meios
administrativos de defesa do ambiente, bem como para iniciar o procedimento administra-
tivo e intervir nele, nos termos e para os efeitos do disposto na Lei n.º 11/87, de 7 de Abril,
no Decreto-Lei n.º 442/91, de 15 de Novembro, e na Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto.
2 – As ONGA podem solicitar aos laboratórios públicos competentes, por requerimento
devidamente fundamentado, a realização de análises sobre a composição ou o estado de
quaisquer componentes do ambiente e divulgar os correspondentes resultados, sendo estes
pedidos submetidos a parecer da autoridade administrativa competente em razão da matéria
e atendidos antes de quaisquer outros, salvo os urgentes ou das entidades públicas.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
Artigo 10º
Legitimidade processual
As ONGA, independentemente de terem ou não interesse directo na demanda, têm
legitimidade para:
a) propor as acções judiciais necessárias à prevenção, correcção, suspensão e cessação de
actos ou omissões de entidades públicas ou privadas que constituam ou possam constituir
factor de degradação do ambiente;
b) intentar, nos termos da lei, acções judiciais para efectivação da responsabilidade civil rela-
tiva aos actos e omissões referidos na alínea anterior;
c) recorrer contenciosamente dos actos e regulamentos administrativos que violem as dis-
posições legais que protegem o ambiente;
A M B I E N T A L
Artigo 11º
J U S T I Ç A
Artigo 12º
Isenções fiscais
1 – As ONGA têm direito às isenções fiscais atribuídas pela lei às pessoas colectivas de utili-
dade pública.
2 – Nas transmissões de bens e na prestação de serviços que efectuem as ONGA benefi-
D E
ciam das isenções de IVA previstas para os organismos sem fins lucrativos.
G U I A
3 – As ONGA beneficiam das regalias previstas no artigo 10º do Decreto-Lei n.º 460/77,
de 7 de Novembro.
Artigo 13º
Mecenato ambiental
Aos donativos em dinheiro ou em série concedidos às ONGA e que se destinem a finan-
ciar projectos de interesse público previamente reconhecido pelo IPAMB será aplicável,
sem acumulação, o regime do mecenato cultural previsto nos Códigos do IRS e do IRC.
Artigo 14º
Apoios
1 – As ONGA têm direito ao apoio do Estado, através da Administração central, regional
e local, para a prossecução dos seus fins.
2 – Incumbe ao IPAMB prestar, nos termos da Lei n.º 11/87, de 7 de Abril, e dos regula-
mentos aplicáveis, apoio técnico e financeiro às ONGA e equiparadas.
3 – A irregularidade na aplicação do apoio financeiro implica:
a) suspensão do mesmo e reposição das quantias já recebidas;
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
A M B I E N T A L
Artigo 16º
Dever de colaboração
As ONGA e os órgãos da Administração Pública competentes devem colaborar na realiza-
ção de projectos ou acções que promovam a protecção e valorização do ambiente.
J U S T I Ç A
CAPÍTULO III – REGISTO E FISCALIZAÇÃO
Artigo 17º
Registo
1 – O IPAMB organiza, em termos a regulamentar, o registo nacional das ONGA e
equiparadas. 75
2 – Só são admitidas ao registo as associações que tenham pelo menos 100 associados.
A C E S S O
3 – As associações candidatas ao registo remetem ao IPAMB um requerimento instruído
com cópia dos actos de constituição e dos respectivos estatutos.
4 – O IPAMB procede anualmente à publicação no Diário da República da lista das associa-
ções registadas.
D E
Artigo 18º
Actualização do registo G U I A
1 – As associações inscritas no registo estão obrigadas a enviar anualmente ao IPAMB:
a) relatório de actividades e relatório de contas aprovados pelos órgãos estatutários compe-
tentes;
b) número de associados em 31 de Dezembro do ano respectivo.
2 – As associações inscritas no registo estão obrigadas a enviar ao IPAMB todas as altera-
ções aos elementos fornecidos aquando da instrução do processo de inscrição, no prazo de
30 dias a contar da data em que ocorreram tais alterações, nomeadamente:
a) cópia da acta da assembleia geral relativa à eleição dos órgãos sociais e respectivo termo
de posse;
b) cópia da acta da assembleia geral relativa à alteração dos estatutos;
c) extracto da alteração dos estatutos publicada no Diário da República;
d) alteração do valor da quotização dos seus membros;
e) alteração da sede.
Artigo 19º
Modificação do registo
O IPAMB promove a modificação do registo, oficiosamente ou a requerimento da interessada,
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
sempre que as características de uma associação registada se alterem por forma a justificar
classificação ou atribuição de âmbito diferente da constante do registo.
Artigo 20º
Fiscalização
1 – Compete ao IPAMB fiscalizar o cumprimento da presente lei, nomeadamente através
de auditorias periódicas às associações inscritas no registo.
2 – O IPAMB pode efectuar auditorias extraordinárias às associações inscritas no registo
sempre que julgue necessário, nomeadamente:
a) para verificação dos dados fornecidos ao IPAMB no acto de registo;
b) no âmbito da prestação do apoio técnico e financeiro.
A M B I E N T A L
3 – Das auditorias pode resultar, por decisão fundamentada do presidente do IPAMB, a sus-
pensão ou a anulação da inscrição das associações no registo quando se verifique o incumpri-
mento da lei ou o não preenchimento dos requisitos exigidos para efeitos de registo.
Transição de registos
1 – As associações de defesa do ambiente inscritas no anterior registo junto do IPAMB
transitam oficiosamente para o novo registo nacional das ONGA e equiparadas quando
preencham os requisitos previstos na presente lei.
76 2 – O IPAMB, no prazo de 30 dias a contar da entrada em vigor da presente lei, notifica as
associações interessadas da transição referida no número anterior.
3 – Se da aplicação da presente lei resultar a alteração da classificação ou do âmbito a
A C E S S O
atribuir, ou o não preenchimento dos requisitos exigidos para efeitos de registo, o IPAMB
notifica desse facto as associações interessadas, concedendo-lhes um prazo de 180 dias para
comunicarem as alterações efectuadas.
4 – Na falta da comunicação das alterações a que se refere o número anterior, considera-se,
D E
Artigo 22º
Regulamentação
A presente lei será objecto de regulamentação no prazo de 90 dias após a data da sua pu-
blicação.
Artigo 23º
Revogação
É revogada a Lei n.º 10/87, de 4 de Abril.
Artigo 24º
Entrada em vigor
1 – Na parte que não necessita de regulamentação esta lei entra imediatamente em vigor.
2 – As disposições da presente lei não abrangidas pelo número anterior entram em vigor
com a publicação da respectiva regulamentação.
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
VIII – BIBLIOGRAFIA
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Ambiente”, Revista Jurídica de Urbanismo e Ambiente, n.º 18/19, Dezembro 2002/Junho 2003.
– ALMEIDA, Teresa, “A Jurisprudência das Relações em Matéria de Direito do
Ambiente”, Anuário de Direito do Ambiente, Ambiforum, Lisboa, 1995.
– AMARAL, Diogo Freitas do, “Análise Preliminar da Lei de Bases do Ambiente”, Textos
– Ambiente e Consumo, Centro de Estudos Judiciários, 1994.
– ANTUNES, Nuno Sérgio Marques, O Direito de Acção Popular no Contencioso
A M B I E N T A L
Administrativo Português, Lex, Lisboa, 1997.
– BENJAMIM, António Herman V., “A Insurreição da Aldeia Global Contra o Processo Civil
Clássico”, Textos – Ambiente e Consumo, II Volume, Centro de Estudos Judiciários, Lisboa, 1996.
– FERREIRA, Jaime Octávio Cardona, “Direito do Ambiente: Jurisprudência do
Supremo Tribunal de Justiça”, Anuário de Direito do Ambiente, Ambiforum, Lisboa, 1995.
J U S T I Ç A
– FERREIRA, M. Manuela Flores, “Responsabilidade Civil Ambiental em Portugal –
Legislação e Jurisprudência”, Textos – Ambiente e Consumo, II Volume, Centro de Estudos
Judiciários, Lisboa, 1996.
– FREITAS, José Lebre, “A Acção Popular ao Serviço do Ambiente”, Ab Uno ad Omnes: 75
Anos da Coimbra Editora 1920-1995, organiz. Antunes Varela et al, Coimbra Editora, 1998. 77
– GOMES, Carla Amado, “Acção Popular e Efeito Suspensivo do Recurso: Processo
A C E S S O
Especial ou Especialidade Processual? Anotação ao Acórdão do Tribunal Constitucional
n.º30/2000 (Proc. n.º 1132/98)”, Revista Jurídica de Urbanismo e Ambiente.
– GOMES, Manuel Tomé Soares, “A Responsabilidade Civil na Tutela do Ambiente –
Panorâmica do Direito Português”, Textos – Ambiente e Consumo, II Volume, Centro de
D E
Estudos Judiciários, Lisboa, 1996.
– MACHADO, J. M. Pires, “A Jurisprudência Administrativa”, Anuário de Direito do G U I A
78
A C E S S O
D E
G U I A
GUIA DE ACESSO À JUSTIÇA AMBIENTAL
IX – CONTACTOS E FONTES DE
INFORMAÇÃO
Perante a recusa de um pedido escrito de acesso a um documento detido pela
Administração...
Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos
Rua de São Bento, n.º 148, 2.º andar
1200-821 Lisboa
Tel.: 21 393 3570
A M B I E N T A L
Fax: 21 395 5383
E-mail: geral@cada.pt
J U S T I Ç A
Comando – Geral da Guarda Nacional Republicana
SEPNA – 3ª Repartição
Largo do Carmo
1200-092 Lisboa
Tel.: 21 321 7000
Fax: 21 321 7153 79
E-mail: cg.rep3@gnr.pt
A C E S S O
Portal na internet: www.gnr.pt/portal/internet/sepna/
Inspecção-Geral do Ambiente
Rua de ‘O Século’, n.º 63
1249-033 Lisboa
D E
Tel.: 21 322 5500
Fax: 21 343 2777 G U I A
E-mail: iga@ig-amb.pt
1070-116 Lisboa
Tel.: 21 385 0136
E-mail: cidamb@clix.pt
GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento
do Território e Ambiente
80 Travessa do Moinho de Vento, n.º 17 – Cv D.ta
1200-727 Lisboa
Tel.: 21 395 6120
A C E S S O
E-mail: geota@geota.pt
Site: www.geota.pt
LPN – Liga para a Protecção da Natureza
Estrada do Calhariz de Benfica, n.º 187
D E
1500-124 Lisboa
Tel.: 21 778 0097
G U I A
E-mail: lpn.natureza@mail.telepac.pt
Site: www.lpn.pt
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Rua Eng.º Ferreira Mesquita, Bloco C – 1.º D.to
1070-116 Lisboa
Tel.: 21 381 5930
E-mail: quercus.lisboa@sapo.pt
Site: www.quercus.pt
Fapas – Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens
Rua Alexandre Herculano, n.º 371 – 4.º D.to
4000-055 Porto
Tel.: 22 200 2472
Fax: 22 208 7455
E-mail: fapas@mail.esoterica.pt
Site: www.fapas.pt