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DISCIPLINA: REGÊNCIA
PROFESSORA: DORIT KOLLING
O referido autor (1990) continua seu discurso afirmando que a prática coral está, muitas
vezes, calcada na individualidade do regente, acima do próprio conhecimento, o que acaba por
dificultar o processo de desenvolvimento do grupo. Cita ainda que, por ser a atividade coral bastante
diferenciada, no que tange a realidade social e musical dos cantores, a mesma deveria incitar uma
formação mais consistente do regente. Esse “incitar” uma formação mais consistente, entretanto, nem
sempre é aceita pelos regentes “menos preparados”, porque geralmente culpam os cantores pelas
falhas dele.
Indo além, muitas vezes, os regentes sem formação assumem uma postura “ditatorial” junto
ao grupo, para não demonstrar a fragilidade do seu preparo técnico e teórico. Assim, considero que
uma prática baseada apenas no “empirismo”, que desconhece os processos técnico-musicais, pode
algumas, senão, frequentes, agir contra uma prática coral efetiva.
Para MATHIAS (op. cit.), há quatro áreas a serem desenvolvidas pelos regentes, em busca de sua
formação, que estão assim subdivididas:
Habilidades Físicas
1. Padrões de regência
2. Gestos expressivos
3. Uso da mão esquerda
4. Preparação - ataques - cortes
5. Dinâmica e agógica
6. Fraseologia
Consciência Auditiva
1. Afinação
2. Consciência tonal
3. Equilíbrio/Unidade
4. Consciência Rítmica
Comunicação
1. Correção das faltas vocais
2. Equilíbrio do som
3. Motivação
4. Exemplificação - demonstração
5. Uso de analogias e ilustrações
6. Liderança
7. Relacionamento inter-pessoal
Interpretação
1. Recriação das intenções do compositor
2. Entendimento dos estilos e períodos históricos
3. Execução da música dentro do estilo próprio
4. Vivência da música (MATHIAS, 1986, p.20).
RUSSO, (s/d), afirma que há elementos essenciais que o regente coral deve possuir,
sem os quais, não é aconselhável que se "enfrente" o trabalho junto a um Grupo Coral. São
estes: “Bom instinto musical; Percepção auditiva dos intervalos melódicos harmônicos Senso
rítmico; Comunicação (instinto pedagógico)" (RUSSO, s/d, p.31).
O mesmo autor continua sugerindo um plano de estudo, com duração
aproximada de quatro anos, uma vez que, em sua opinião, o regente coral necessita buscar
consolidar sua formação, mesmo que isto se dê juntamente com o trabalho que vem
realizando com seu grupo coral. O referido plano está dividido nas seguintes matérias:
Matérias essencialmente formativas, com o estudo da Harmonia e do Contraponto e
Morfologia;
Matérias técnicas, com o estudo da técnica de regência, do canto e de idiomas,
como por exemplo, o inglês, o italiano, o alemão e o latim;
Matérias Estéticas, com o estudo das diversas épocas e estilos - História da Arte
Outros regentes e estudiosos também fazem suas colocações quanto à
necessidade e importância da formação do regente coral, sugerindo inclusive os aspectos ou
disciplinas a serem trabalhadas. Mas o que temos, na essência, é que todos são unânimes
em afirmar a necessidade do regente coral possuir ou buscar uma formação sólida, sem a
qual o desenvolvimento musical dos grupos corais será prejudicado e o trabalho não
atingirá os objetivos ou atingirá com muito desgaste e em um tempo muito maior..
Trazendo essa situação mais especificamente para o Brasil, o que temos é o quadro acima
relatado. A atividade coral está em plena expansão, surgem novos agrupamentos corais a
todo instante. Porém, os regentes corais, na sua maioria, não possuem conhecimento
suficiente para desenvolver um trabalho de qualidade com esses grupos corais. A formação
dos mesmos é assistemática, como afirmado inicialmente, e o trabalho coral torna-se muito
frágil, ficando à mercê da "figura" do regente e não do conhecimento e do desenvolvimento
de um processo.
E o que as Universidades Brasileiras têm feito para remediar esta situação?
Consideramos que seja muito pouco. O que temos são os cursos de Bacharelado em
Composição e Regência, com currículos muitas vezes fora da realidade, onde os alunos
regem, na maioria das vezes, gravações. Os poucos regentes corais que buscam sua
formação nas Universidades Brasileiras acabam por freqüentar esses cursos de
Composição e Regência ou o próprio curso de Licenciatura em Educação Artística -
Habilitação em Música que, por sua vez, não tem por objetivo principal formar regentes
corais, até porque as Licenciaturas buscam formar o professor de música para os I e II graus, não
enfocando a importância de cursos técnicos em nível de II grau para estimular a formação do
músico.
Temos conhecimento apenas do Bacharelado em Música - Habilitação: Regência
Coral, oferecido pelo Departamento de Música do Instituto de Artes da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, curso este relativamente novo, que foi desenvolvido com o
objetivo de proporcionar uma formação mais sólida ao regente coral, adaptando-o à
realidade de um estado que possui uma atividade coral bastante grande e profícua, além da
escassez de orquestras oferecendo poucas possibilidades de mercado de trabalho para o
graduando.
Fazendo uma análise geral do seu currículo, pode-se observar que muitos dos
elementos, ou melhor, áreas de formação citadas anteriormente estão desenvolvidas
neste curso que oferece ao aluno/regente coral uma formação musical geral, com
disciplinas como História da Música, Estética, Teoria e Percepção, Forma e Análise Musical,
Harmonia e Contraponto.
Oferece ainda disciplinas "técnicas", como Canto Coral, Regência Coral, Técnica
Vocal, Fisiologia da Voz, além de Arranjos Vocais e Prosódia. O estudo de idiomas, tão
importante para a atividade coral, também faz parte do currículo, com as disciplinas de
Inglês, Alemão e Francês Instrumental; e o estudo de um instrumento, além do enfoque à
necessidade da leitura de partitura, também fazem parte do referido curso por meio das
disciplinas Teclado Complementar e Leitura de Partitura ao Piano.
Muito importante, também, em nossa opinião, são as disciplinas Música Brasileira e
Folclore Musical Brasileiro, pois acreditamos que devemos conhecer profundamente a
"nossa música", para que a mesma comece a ser valorizada inicialmente por todos nós,
músicos profissionais ou não, além das disciplinas de formação geral, como Filosofia da
Arte e Filosofia da Cultura.
Mas, será que este é o melhor currículo? Com este curso o regente coral teria sua
formação garantida?
Torna-se muito arriscado e complexo fazer uma “avaliação” neste momento, além
do que muitos outros fatores, não só o currículo, interferem no processo educacional. Pensamos,
sim, que um estudo mais aprofundado do currículo acima descrito se faça necessário,
juntamente com a análise das ementas e planos de ensino das disciplinas, observação de
aulas, dos professores e alunos, entre outras situações. Isso tudo para que possamos ter
parâmetros mais consistentes para só então procedermos a uma avaliação criteriosa do curso e
seu currículo.
Porém, em uma “avaliação geral”, sem entrar em um julgamento mais aprofundado
do currículo e do curso, pelas questões acima descritas, podemos afirmar que o curso tem uma
boa estrutura, oferendo as disciplinas ou áreas de estudos necessárias à formação do regente
coral, servindo como referência não definitiva de uma formação em nível superior na área
da Regência Coral. Sentimos falta, no entanto, de duas áreas mencionadas por regentes e
estudiosos como importantes na formação de um regente coral, com as quais
concordamos: a formação do líder e, principalmente, com a formação do educador.
Além das áreas citadas acima, outra questão deve ser repensada nos cursos de Regência
que, em sua maioria, incluindo o da UFRGS, utilizam-se de modelos europeus ou
norteamericanos. Neste sentido, como fica o ensino da Música Brasileira, da Música Popular
Brasileira e a busca da identidade latino-americana? É importante pensar os diversos ritmos,
melodias, harmonias e sonoridades presentes nas diferentes regiões do Brasil e, muito mais
amplo, da América Latina.
Como afirma FIGUEIREDO (1990) na conclusão de seu trabalho:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. O ensaio coral como momento de aprendizagem: a prática
coral numa perspectiva de Educação Musical. Porto Alegre: 1990. (Dissertação de Mestrado em
Música). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1990.
GALLO, J. A.; GRAETZER, G.; NARDI, H. & RUSSO, A. El Director de Coro - Manual para Ia
dirección de coros vocacionales. Buenos Aires: Ricordi Americana.
GARRETSON, Robert L. Conducting Chorai Music. 4th edition. Boston: Allyn and Bacon,
1975.