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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE LETRAS E LINGÜÍSTICA


MESTRADO EM LINGÜÍSTICA
DISCIPLINA: ANÁLISE DO DISCURSO – TURMA 2006/1
PROFESSOR: PROF.ª DRA. FERNANDA MUSSALIM

O SUJEITO DA AD – O PERCURSO DE UM CONCEITO

Kássia Gonçalves Arantes

1. Introdução

O campo da Análise do Discurso apresenta horizontes conceituais tão amplos e complexos


que, à primeira vista, nos pareceu um campo indecifrável. Atravessamos uma longa e
inegavelmente exaustiva jornada até nos sentirmos minimamente capazes de descortinarmos
esses horizontes. O presente ensaio constitui a avaliação final da disciplina “Análise do
Discurso” oferecida no primeiro semestre de 2006 pelo curso de Mestrado em Lingüística do
Instituto de Letras e Lingüística da Universidade Federal de Uberlândia. Neste trabalho
optamos por abordar o tema do sujeito por considerá-lo de inestimável relevância não só para
o campo da Análise do Discurso (doravante AD) como para o campo no qual se inscreve
nossa pesquisa, que é o campo da Lingüística Aplicada, mais especificamente no que tange ao
ensino e aprendizagem de línguas.
Intencionamos por meio deste ensaio atingir dois objetivos: 1) apresentar um breve
resumo histórico mostrando a transformação do conceito de sujeito a partir de uma visão
antropológica; 2) traçar o percurso da noção de sujeito dentro da AD. Para o nosso respaldo
teórico, consideraremos os textos discutidos e as reflexões surgidas quando da participação na
disciplina supracitada.

2. A transformação do sujeito
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Na era pré-moderna sob a forte influência da Igreja Católica, o mundo era norteado por
uma doutrina teocentrista, a qual pregava que todos os pensamentos, idéias e conhecimentos
eram de origem divina. Nesse período, que se estendeu até o século XV aproximadamente, a
concepção de sujeito predominante era a de um sujeito coletivo, dominado pela divindade e
pelas tradições. Segundo Hall (2005, p. 25) “o status, a classificação e a posição de uma
pessoa na “grande cadeia do ser”1 [...] predominavam sobre qualquer sentimento de que a
pessoa fosse um indivíduo soberano.”
Com o Renascimento cultural e científico em meados do século XVI, deslocou-se Deus do
centro do universo e adotou-se uma teoria antropocentrista, na qual o homem passa a ser o
centro do universo, senhor de sua razão. Essa teoria pressupõe uma concepção de sujeito
racional, consciente e unificado. Essa noção de sujeito passa a ser conhecida a partir de então
como sujeito cartesiano, devido às contribuições do filósofo francês René Descartes.
Em nosso breve histórico, finalmente chegamos ao século XX da História Moderna, mais
especificamente na segunda metade desse século. Nesse período, conhecido como
modernidade tardia, conforme termo utilizado por Hall (2005), o conceito de sujeito passa por
transformações que colocarão em xeque o sujeito cartesiano da modernidade. Acredita-se, a
partir de então, que o sujeito se transforma a todo momento. Ou seja, a modernidade tardia
propõe um sujeito cuja identidade “é definida historicamente, e não biologicamente.” (HALL,
2005, p.13). A concepção passa a ser agora de um sujeito descentrado, dividido, fragmentado.
Ele não é mais detentor da razão, pois em muitas das vezes, essa definição temporária de sua
identidade se dá de forma inconsciente, de acordo com as formas pelas quais esse sujeito é
representado ou interpelado pelos sistemas culturais à sua volta.
Gostaríamos de salientar que se trata de um breve resumo histórico e que abordamos os
períodos históricos de maneira extremamente abreviada, visando apenas cumprir nossa
proposta de sucintamente mostrar o trajeto percorrido pelo conceito de sujeito em um âmbito
mais geral. Passemos agora à trajetória da noção de sujeito dentro da AD.

3. O sujeito da AD – a trajetória de um conceito

Em primeiro lugar, faz-se mister esclarecer o papel da AD enquanto proponente de uma


noção até então desconsiderada por estudos lingüísticos anteriores – a noção de sujeito. No
Estruturalismo Saussuriano, por exemplo, adotava-se uma visão imanentista da língua, ou

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Aspas do autor
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seja, considerava-se a língua enquanto sistema fechado não afetado por influências exteriores
como a história ou o sujeito. O Gerativismo proposto por Chomsky também desconsidera a
questão do sujeito. Conforme essa episteme, o objeto de estudo deixa de ser o sistema fechado
em si mesmo e passa a ser o processo de produção da linguagem. Nessa abordagem, o sujeito
é também relegado a segundo plano, pois defende-se a produção de linguagem por meio de
sistemas computacionais presentes na mente/cérebro do falante ideal inserido em um contexto
ideal, o que pressupõe a noção de homogeneidade, e, por conseguinte, impõe a
impossibilidade de se levar em consideração qualquer individualidade, ou seja, nega-se o
papel do sujeito.
A partir da década de 60, com o lançamento da Análise Automática do Discurso (1969) de
Pêcheux, passa-se a abordar a questão da linguagem a partir de um outro ângulo que não o
interno (visão sistêmica da linguagem) ou o do seu processo biológico de produção.
Considera-se agora as condições de produção do discurso, ou seja, passa-se a analisar a
situação, o momento em que o sujeito enuncia. A questão torna-se “o porquê de determinado
tipo de indivíduo produzir determinado tipo de discurso”. (STROGENSKI, 1996, p. 1) A
atenção se volta agora para o sujeito do discurso.
Conforme Possenti (2004), duas teses constituem fundamentalmente a noção de sujeito
para a AD - “o sujeito é clivado, ou seja, não é uno; o sujeito é assujeitado, isto é, não é livre e
não está na origem do discurso [...].” (POSSENTI, 2004, p. 386). Compartilhamos da
proposição do autor e trataremos agora de alguns conceitos que consideramos essenciais para
compreendermos essas duas teses.
A noção de sujeito clivado proposta pela AD foi fortemente influenciada pela descoberta
do inconsciente por Freud e mais especificamente, pela releitura de Freud feita por Lacan com
respeito a essa descoberta. O sujeito freudiano não é homogêneo, mas dividido entre o
consciente e o inconsciente. Lacan aborda essa questão do inconsciente de forma mais
precisa:
[...] Lacan assume que o inconsciente se estrutura como uma linguagem, como uma
cadeia de significantes latentes que se repete e interfere no discurso efetivo, como se
houvesse sempre, sob as palavras, outras palavras, como se o discurso fosse sempre
atravessado pelo discurso do Outro, do inconsciente. (MUSSALIM , 2004, p. 107)

E nessa relação entre o “eu” e o “outro”, constitui-se um sujeito descentrado, dividido,


clivado, que não tem consciência se fala por si ou pelo “outro”, ou seja, o sujeito da AD não é
homogêneo, uno, e muito menos consciente de suas escolhas.
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Já com relação à noção de sujeito assujeitado, é preciso esclarecer primeiramente três


conceitos essenciais para tal entendimento - os conceitos de formação discursiva, ideologia e
interdiscurso.
“Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que, numa formação ideológica dada,
isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de
classes, determina o que pode e deve ser dito [...]”2 (PÊCHEUX, 1997b, p. 160). É por isso
que a partir de Pêcheux (1997a), podemos dizer que o sentido é da ordem das formações
discursivas e não da ordem da língua, pois “[...] o sentido de uma seqüência só é
materialmente concebível na medida em que se concebe esta seqüência como pertencente
necessariamente a esta ou àquela formação discursiva[...]” (PÊCHEUX, 1997a, p. 169)
Podemos notar com relação ao conceito de formação discursiva, que este envolve a relação
entre discurso e ideologia, pois as formações discursivas representam no discurso as
formações ideológicas e por essa razão, o sentidos são sempre determinados ideologicamente,
conforme nos mostra Orlandi (1999).
Com respeito à noção de ideologia, a consideramos aqui não como um conjunto de idéias
no campo do imaginário, mas como “idéias que são atos materiais inseridos em práticas
materiais, reguladas por rituais materiais, eles mesmos definidos pelo aparelho ideológico
material de onde provêm as idéias do dito sujeito.” (ALTHUSSER, 1985, p. 92)
Finalmente, para definirmos interdiscurso, recorremos a Orlandi (1999, p.31), que o
define como sendo: “memória discursiva; o saber discursivo que torna possível todo dizer e
que retorna sob a forma do pré-construído, o já-dito que está na base do dizível, sustentando
cada palavra.” Ou seja, por interdiscurso podemos compreender todos os dizeres
anteriormente ditos que o sujeito inconscientemente utiliza ao construir o seu discurso.
A partir desses conceitos podemos agora compreender a noção de sujeito assujeitado, que
configura-se como um sujeito que é interpelado pela ideologia. Conforme Pêcheux (1997b, p.
161), “[...] os indivíduos são „interpelados‟ em sujeitos-falantes (em sujeitos de seu discurso)
pelas formações discursivas que representam „na linguagem‟ as formações ideológicas que
lhes são correspondentes.”3 Ou seja, o sujeito não é livre e não está na origem do discurso,
pois ao enunciar, é interpelado pela ideologia por intermédio da formação discursiva na qual
se insere e por intermédio do interdiscurso, aqui compreendido como o conjunto das
formações ideológicas que atravessam o discurso desse sujeito.

2
Grifos do autor
3
Grifos do autor
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4. Considerações finais

Inicialmente, percorremos um breve, mas significativo percurso do sujeito antropológico


partindo do tempo em que o teocentrismo era a doutrina dominante e o sujeito era tratado de
forma coletiva, dogmaticamente submisso a uma ordem divina. Passamos então à fase do
Renascimento cultural e científico, quando o sujeito cartesiano racional e teoricamente
soberano tornou-se o centro do universo com a doutrina antropocentrista, e finalmente
atingimos a pós-modernidade ou modernidade tardia com as noções de sujeito descentrado,
dividido, fragmentado.
Tratamos posteriormente do trajeto do conceito de sujeito dentro do campo da AD, campo
reconhecido por nós como o responsável pela proposição deste conceito até então
desconsiderado ou no mínimo relegado a segundo plano por estudos lingüísticos anteriores.
Com relação aos pressupostos da AD no que tange ao sujeito, notamos que resumidamente ela
o considera como sendo clivado, i.e., dividido, não homogêneo; e ainda, assujeitado,
interpelado pela ideologia, e que não está na origem do discurso.
Ao analisarmos esses conceitos, nos permitimos fazer a seguinte constatação: o sujeito da
AD não é definitivamente “dono” de sua vontade. Ainda que o faça de forma inconsciente, o
sujeito sempre recorre a algo para construir seu próprio discurso: ora ao processo de
assujeitamento realizado pela ideologia, ora ao seu próprio inconsciente, e ainda, a discursos
outros preexistentes no interdiscurso.

5. Referências bibliográficas:

ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de Estado: nota sobre os aparelhos ideológicos de


Estado. Tradução de Walter José Evangelista e Maria Laura Viveiros de Castro. 2. ed. Rio de
Janeiro: Edições Graal, 1985. 128 p.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e


Guacira Lopes Louro. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. 102 p.

MUSSALIM, F. Análise do Discurso. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina


(Orgs.) Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2004, v. 2. p.
101-142.

ORLANDI, E.P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Editora


Pontes, 1999. 100 p.
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PÊCHEUX, M.; FUCHS, C. A propósito da análise automática do discurso: atualização e


perspectivas. Tradução de P. Cunha. In: GADET, F.; HAK, T. (orgs.) Por uma análise
automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas: Editora da
UNICAMP, 1997a. p. 163-251.

PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de Eni


Pulcinelli Orlandi. 3. ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1997b. 317 p.

POSSENTI, S. Teoria do Discurso: um caso de múltiplas rupturas. In: MUSSALIM,


Fernanda; BENTES, Anna Christina (Orgs.) Introdução à lingüística: fundamentos
epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004, v. 3, p. 353-392.

STROGENSKI, P. J. R. Linguagem e Sujeito. Revista de Letras. Curitiba, PR, n. 1, 1996.


Disponível em <http://www.cefetpr.br/deptos/dacex/paulo.htm> Acesso em: 09 jul. 2006.

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