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1. Introdução
2. A transformação do sujeito
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Na era pré-moderna sob a forte influência da Igreja Católica, o mundo era norteado por
uma doutrina teocentrista, a qual pregava que todos os pensamentos, idéias e conhecimentos
eram de origem divina. Nesse período, que se estendeu até o século XV aproximadamente, a
concepção de sujeito predominante era a de um sujeito coletivo, dominado pela divindade e
pelas tradições. Segundo Hall (2005, p. 25) “o status, a classificação e a posição de uma
pessoa na “grande cadeia do ser”1 [...] predominavam sobre qualquer sentimento de que a
pessoa fosse um indivíduo soberano.”
Com o Renascimento cultural e científico em meados do século XVI, deslocou-se Deus do
centro do universo e adotou-se uma teoria antropocentrista, na qual o homem passa a ser o
centro do universo, senhor de sua razão. Essa teoria pressupõe uma concepção de sujeito
racional, consciente e unificado. Essa noção de sujeito passa a ser conhecida a partir de então
como sujeito cartesiano, devido às contribuições do filósofo francês René Descartes.
Em nosso breve histórico, finalmente chegamos ao século XX da História Moderna, mais
especificamente na segunda metade desse século. Nesse período, conhecido como
modernidade tardia, conforme termo utilizado por Hall (2005), o conceito de sujeito passa por
transformações que colocarão em xeque o sujeito cartesiano da modernidade. Acredita-se, a
partir de então, que o sujeito se transforma a todo momento. Ou seja, a modernidade tardia
propõe um sujeito cuja identidade “é definida historicamente, e não biologicamente.” (HALL,
2005, p.13). A concepção passa a ser agora de um sujeito descentrado, dividido, fragmentado.
Ele não é mais detentor da razão, pois em muitas das vezes, essa definição temporária de sua
identidade se dá de forma inconsciente, de acordo com as formas pelas quais esse sujeito é
representado ou interpelado pelos sistemas culturais à sua volta.
Gostaríamos de salientar que se trata de um breve resumo histórico e que abordamos os
períodos históricos de maneira extremamente abreviada, visando apenas cumprir nossa
proposta de sucintamente mostrar o trajeto percorrido pelo conceito de sujeito em um âmbito
mais geral. Passemos agora à trajetória da noção de sujeito dentro da AD.
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Aspas do autor
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seja, considerava-se a língua enquanto sistema fechado não afetado por influências exteriores
como a história ou o sujeito. O Gerativismo proposto por Chomsky também desconsidera a
questão do sujeito. Conforme essa episteme, o objeto de estudo deixa de ser o sistema fechado
em si mesmo e passa a ser o processo de produção da linguagem. Nessa abordagem, o sujeito
é também relegado a segundo plano, pois defende-se a produção de linguagem por meio de
sistemas computacionais presentes na mente/cérebro do falante ideal inserido em um contexto
ideal, o que pressupõe a noção de homogeneidade, e, por conseguinte, impõe a
impossibilidade de se levar em consideração qualquer individualidade, ou seja, nega-se o
papel do sujeito.
A partir da década de 60, com o lançamento da Análise Automática do Discurso (1969) de
Pêcheux, passa-se a abordar a questão da linguagem a partir de um outro ângulo que não o
interno (visão sistêmica da linguagem) ou o do seu processo biológico de produção.
Considera-se agora as condições de produção do discurso, ou seja, passa-se a analisar a
situação, o momento em que o sujeito enuncia. A questão torna-se “o porquê de determinado
tipo de indivíduo produzir determinado tipo de discurso”. (STROGENSKI, 1996, p. 1) A
atenção se volta agora para o sujeito do discurso.
Conforme Possenti (2004), duas teses constituem fundamentalmente a noção de sujeito
para a AD - “o sujeito é clivado, ou seja, não é uno; o sujeito é assujeitado, isto é, não é livre e
não está na origem do discurso [...].” (POSSENTI, 2004, p. 386). Compartilhamos da
proposição do autor e trataremos agora de alguns conceitos que consideramos essenciais para
compreendermos essas duas teses.
A noção de sujeito clivado proposta pela AD foi fortemente influenciada pela descoberta
do inconsciente por Freud e mais especificamente, pela releitura de Freud feita por Lacan com
respeito a essa descoberta. O sujeito freudiano não é homogêneo, mas dividido entre o
consciente e o inconsciente. Lacan aborda essa questão do inconsciente de forma mais
precisa:
[...] Lacan assume que o inconsciente se estrutura como uma linguagem, como uma
cadeia de significantes latentes que se repete e interfere no discurso efetivo, como se
houvesse sempre, sob as palavras, outras palavras, como se o discurso fosse sempre
atravessado pelo discurso do Outro, do inconsciente. (MUSSALIM , 2004, p. 107)
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Grifos do autor
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Grifos do autor
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4. Considerações finais
5. Referências bibliográficas: