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Sebenta Família – DNB 2016/2017

Índice
Introdução ..................................................................................................................................... 3
Noção básica .............................................................................................................................. 3
Evolução Histórica da Família ..................................................................................................... 3
Polimorfismo Familiar ................................................................................................................ 3
Direito da Família ....................................................................................................................... 4
Normas Constitucionais.............................................................................................................. 4
Normas DIP ................................................................................................................................ 5
Direito Civil da Família ................................................................................................................ 5
Família e Vida Familiar – Jurisprudência do TEDH....................................................................... 6
Jurisprudência Portuguesa ......................................................................................................... 7
Fontes e Relações Jurídicas Familiares ........................................................................................ 8
CASAMENTO ............................................................................................................................... 11
Promessa de Casamento (art. 1591º a 1595º) ........................................................................ 11
Requisitos de fundo do Casamento ........................................................................................ 13
Inexistência.......................................................................................................................... 13
Invalidades .......................................................................................................................... 13
Caso do Casamento Católico – art. 1626º ........................................................................... 16
Casamento Putativo – art. 1647º ........................................................................................ 16
Formação do Casamento ........................................................................................................ 17
Modalidades de Casamento .................................................................................................... 17
Convenções Antenupciais ....................................................................................................... 18
Regime de Bens .......................................................................................................................... 20
Comunhão de Adquiridos........................................................................................................ 20
Comunhão Geral ..................................................................................................................... 20
Separação de Bens .................................................................................................................. 20
Administração de Bens ............................................................................................................... 21
Responsabilidade por dívidas.................................................................................................. 22
CONTRATOS ENTRE CASADOS ................................................................................................. 23
Separação judicial de bens ......................................................................................................... 24
Divórcio ....................................................................................................................................... 24
União de Facto ............................................................................................................................ 27
Efeitos patrimoniais da união de facto ................................................................................... 29
Filiação ........................................................................................................................................ 30
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Introdução
Noção básica
O direito da Família diz-nos muito a todos devido a uma perceção empírica, reflexiva e mediática
do conceito de família. Todos temos uma família seja ela sob que forma exista.

Família: entidade social inerente à vida humana – as formas através das quais se pode constituir
e o comportamento dos sujeitos na vida familiar exprimem momentos determinantes e são bem
identificados por todas as pessoas, como os modelos de constituição de família (casamento,
união de facto, filiação) e os direitos e deveres pessoais e patrimoniais do casal ou as
responsabilidades parentais.
 Realidade familiar é intrínseca à existência humana e faz parte do núcleo de realidades
que a pessoa identificada facilmente
o Udry: mito presente do imaginário de todas as pessoas, tendo como
pressuposto uma ideia nítida da família (da família ideal, que entende
desaparecida, e da família existente)
 Reconhecimento imediato porque é realidade pré-jurídica – sistema de convivência
social

Evolução Histórica da Família


Tendo uma origem gregária e em regra paternalista
A. Antiguidade Oriental: sociedade patriarcal
B. Sociedade Mesopotâmica: patriarcal mas com alguns direitos patrimoniais da mulher
casa, embora sujeita ao marido
C. Antigo Egipto: primórdios consagra direitos femininos dentro da família mas evolui no
sentido da supremacia masculina
D. Grécia Antiga: inicialmente há igualação dos cônjuges, embora na fase homérica há uma
natureza patriarcal
E. Roma: família patriarcal subordinada ao pater famílias
F. Queda do Império Romano: Igreja lentamente começa a instituir os seus institutos como
a monogamia e o matrimónio sacramental
G. Europa Feudal: incompatibilidade de estruturas e instituições com a cultura da
ordenação de família
H. Evolução medieval e moderna: reconhece a dignidade pessoal da mulher
I. Séc. XVI a XVIII: Igreja perde influência mas não a sua cultura jurídica
J. Séc. XVIII a XIX: unificação do Direito Civil com os princípios da família patriarcal
instituídos
K. Liberalismo: desvirtua a natureza inicial de grupo comunitário amplo
L. Séc. XX: ingresso das mulheres no mercado de trabalho origina movimentos femininos
emancipadores
M. Anos 50: advento das democracias reconhece direitos às mulheres e às crianças
N. Atualidade: novas possibilidades da ciência fazem repensar o conceito de família1

Polimorfismo Familiar
Favoreceu-se a ideia de que os esteios que fundam a família na sociedade é o matrimónio
(acordo de vida em comum)

1
Observe-se o caso Paradiso e Campanelli c. Itália + Madesson c. França + La Basset c. França

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 Mag: o casamento não é necessariamente a matriz da entidade familiar


o Nem sempre o casamento ou a união sexual são a origem da família, ela pode
resultar de relações entre pais e filhos por exemplo
o Winch: o início da formação da família pode ser o matrimónio ou a paternidade

Família assume configurações diferentes através dos tempos com morfologias variadas, cujo
modo de formação é heterogéneo, sendo uma emergência social impregnada por aspetos
religiosos, culturais, económicos e etc.
 Polimorfismo que condiciona a sua delimitação e dificulta o seu estudo jurídico

Família revela-se como sistema de convívio social específico entre pessoas que criam elos em
que a intimidade, a sexualidade e a função reprodutiva desempenham um papel
preponderante, mas nem sempre é essencial ou necessário.
 Tem a função de gerar células pessoais estáveis e é ela mesma uma tal célula ou
entidade gregária portadora de estabilidade
 Tem funções económicas

Direito da Família
Entende-se em dois planos:
1. Direito em vigor – conjunto de normas respeitantes à família (sentido normativo)
2. Dimensão juscientífica – estudo juscientífico das normas respeitantes à família (sentido
dogmático)
 Este torna-se o objeto do Direito da Família enquanto ramo da ciência jurídica
pois passa por compreender o sentido das normas, analisar o sistema e as suas
relações com o sistema global e com o sistema jurídico social. Não é mero
enunciado descritivo do Direito positivado

Normas Constitucionais
Normas de cúpula sobre a matéria familiar encontram-se na Constituição.
 CRP em 1976 estava comprometida a compatibilizar as leis com o princípio da igualdade
lidando com vários problemas, nomeadamente a dissolução do casamento católico, o
papel da mulher e a questão dos filhos ilegítimos

Art. 36º - norma sobre a família sediada em direitos, liberdades e garantias


Formulação legal ampla – CRP é cuidadosa e faz alguma definição mas tem consciência que o
conceito de família é assaz mutante pelo que uma densificação deste conceito poroso, sujeito a
alterações, poderia causar perturbação jurídica.
 Mais abrangente que a lei ordinária civil onde a família tem como fonte o casamento e
constituem-na, também, as relações de parentesco, afinidade e adoção – CRP não faz
esta restrição

 nº1: extensão jurídica da família não está vedada – admitindo a possibilidade de


uma união informal ou de facto ser fonte de família + matéria do casamento
homossexual – direito a constituir família é um direito pessoal que deve ser
acomodado pelo princípio da igualdade
o Visão da CRP 1976 nos antípodas da CRP 1933 que era marcada por um não
personalismo e orientada para o serviço público e representada pelo chefe de
família

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 nº2: CRP impregna de espírito laico o conceito de casamento – competindo à lei


ordinária regular os seus efeitos e os da dissolução
 nº3 + nº5: igualdade de direitos por parte dos pais à educação dos filhos +
responsabilidades parentais pelos filhos
 nº4: equiparação dos filhos nascidos dentro e fora do casamento (princípio da
igualdade perante a lei)
 nº6: enfatiza as responsabilidades parentais – em que os pais não devem ser separados
dos filhos
 nº7: remete estatuto jurídico da adoção para a lei ordinária

Art. 26º - âncora hermenêutica do art. 36º


 nº1: afirma os direitos ao desenvolvimento pessoal
 nº2: confirma a reserva de uma vida familiar e privada
 nº3: clarifica o respeito por todas as vertentes das pessoas

Art. 67º - resultam as consequências da realidade social e económica da família


Reconhece a família como “elemento fundamental da sociedade” configurando-lhe o direito
à proteção da sociedade e do Estado efetivando todas as condições que permitem a realização
pessoal de todos os seus membros (os direitos subordinam-se aos interesses dos seus membros
e existem por causa deles)
Ajudado pelo art. 68º em relação à maternidade e paternidade.

Normas DIP
Normas da família não pertencem ao grupo das que evidenciam mais pontos em comum nos
vários Estados, mas implicam um conhecimento recíproco por parte dos cidadãos da Europa.
 Algumas normas de Direito Europeu fazem parte do Direito Português como o direito a
formar família dado pelo art. 16º da Declaração Universal dos Direitos do Homem,
proteção da família no art. 5º/d da Convenção Internacional sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Racial
 Art. 8º da Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades
Fundamentais – garante a vida familiar mas não explicita o seu conteúdo2

Direito Civil da Família


Os conceitos constitucionais e legais ordinários influenciam-se reciprocamente por
fundamentos comuns.
Em 1976 as normas constitucionais trouxeram, inerentes a si, exigências face ao Código Civil:
em 1977, atendendo a Direito Comparado, iniciava-se a reforma do CC

Domínio temático mais complexo e mutante do Direito Civil.


Apesar das diferenças técnicas, Savigny estruturou e sistematizou o CC de forma a que se
acomode o Direito da Família.
“O homem aparece como membro de um todo orgânico, que compõe a humanidade,
com a qual se relaciona por meio de indivíduos determinados; e precisamente a sua
posição face a estes indivíduos constitui a base de outra espécie particular e
inteiramente nova de relações de Direito”

2
Havendo vários litígios no TEDH devido à vagueza do conceito – artigo controverso

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CC é lacónico quanto ao conceito de Família que não densifica nem materializa3


 Art. 1576º: primeira norma do Livro da Família que indica quais as fontes de relações
familiares (casamento, parentesco, afinidade, adoção4)

Temas Fundamentais:
 Estudo dos fenómenos da vida humana na esfera íntima e privada – normas que
regulam as relações entre as pessoas não na vida pública, mas enquanto unidas por
laços de intimidade e relações de privacidade e vida comum
 Estudo das relações pessoais que advêm de vínculos de sangue
o Relações entre cada cônjuge e a família do outro também está sujeito a relação
familiar mas menos intensa
o Integra-se ainda as adoções e as uniões informais e uniões de facto

Política Familiar: medidas familiares que se legitimam com a finalidade de desenvolver as


famílias ou de as conformar normativamente
Os objetivo e missões são: proteção dos filhos e sua socialização, fixação de laços civis
entre as pessoas ligadas por uma relação familiar, proteção dos enfermos que
pertençam ao agregado, celebração de atividades sociais.

Família e Vida Familiar – Jurisprudência do TEDH


Muito do Direito da Família é hoje reflexivo da jurisprudência internacional – especialmente do
TEDH.

Indeterminação do conceito de família e vida familiar está hoje no cerne de muitos litígios no
TEDH, pois o conceito na Convenção Europeia dos Direitos do Homem é difuso e sujeito a
interpretações casuísticas e critérios pontuais.

Ylmaz c. Alemanha
Dificuldade em recortar o critério que preside à expressão de família e vida familiar leva a uma
extensão deste conceito para além das relações diretas entre cônjuges, companheiros, parentes
e adotados.
 TEDH alarga o âmbito do conceito de família e vida familiar: tem em conta a presença
da família nuclear de Ylmaz na Alemanha, equaciona as responsabilidades parentais e
um não distanciamento do seu filho alemão e atende à formação da sua personalidade
através de um percurso de vida naquele país.
o Conceito não é dissociável das relações interpessoais mais estreitas que cada
pessoa estabelece – família é o espaço de desenvolvimento humano e da
personalidade de Ylmaz cuja vida se desenrolou na Alemanha e aí tem encontro
com experiências nefastas mas só aí terá probabilidade de as reverter
o Vida familiar é mais suscetível de concretização na Alemanha a que estava unido
por laços de sangue e laços culturais

3
Dada a polivalência do conceito de família, mutabilidade da relação familiar, bem como a complexidade
da determinação ou densificação desses conceitos fundamentais – mutações sistémicas fundas que
caracterizam uma realidade social muito dinâmica
4
Hoje em dia, com a alteração constante do Direito da Família, muitos dos laços adotivos passam a estar
regulados em legislação extraordinária.

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o Conceito não é dissociável do meio social que potencia a capacidade de


desenvolvimento da personalidade
 Expressão normativa conglobadora que sacrifica o rigor à eficácia.

Jurisprudência Portuguesa
Tem feito um esforço de facilitação do entendimento da família e das suas projeções jurídicas.

Temos um direito tecnicamente tranquilo e complexo, mas, muito intranquilo em relação a


novos institutos – universo plural e complicado de perceber devido à tecnicidade
exageradamente profunda.
 Mag: Não é o conceito, mas sim os critérios que hoje problematizam a ocorrência da
família.

Há doutrina que fala num direito da família europeu por verificar que o Direito da família
ocidental se aproxima muito em vários aspetos e convive cada vez melhor com as diferenças
recíprocas que o sulcam, não questionando princípios básicos nem direitos fundamentais.
Uniformização do Direito da família pela interpretação do TEDH da CEDH.

Temos um Direito das famílias como expressão do polimorfismo familiar: pluralidade jurídica e
necessidade de estruturar uma dogmática jusfamiliar que se harmonize com ela.

Direito Público e Reserva da Vida Privada


Acórdão STJ 2/3/2011, relatora: Maria dos Prazeres Pizarro Beleza
Deve o conhecimento da intimidade originar efeitos relevantes para interpor uma ação de
indemnização ao tempo do divórcio? Qual a fronteira entre o estritamente privado e o suscetível
de integração no acervo probatório? Tribunal não poderia utilizar tal como prova pois não está
no domínio público nem é crime, logo a lei não prevê a utilização de tais dados para esses fins.

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Fontes e Relações Jurídicas Familiares


Relações Familiares – exprimem os direitos e deveres que ligam as pessoas pelo facto de
pertencerem a uma família e variam de acordo com a posição ou estado que o sujeito possua.

Art. 1576º Fontes


 Artigo que não está completo – faltam as uniões de facto5 – podem haver mais
situações jurídicas criadoras de família
o Casamento é fonte pois surge como um contrato que une a vontade de 2
pessoas
o Parentesco não é fonte, e já família – a relação familiar já existe independente
da vontade
o Afinidade também já é família
o Adoção é fonte

Art. 1577º Casamento


 Modo de constituição (fonte) de relações familiares dominante na ordem jurídica
portuguesa
o Gera uma nova família
 Alterado desde 2010 para integrar casamento de pessoas do mesmo sexo – mais
englobante e de perfil menos fixo
 “plena comunhão de vida” – expressão jusfamiliar porosa
 Artigo remissivo para as “disposições” do CC

Art. 1578º - Parentesco


 Força de exprimir nexo biológico na família – transcende ambos na relação jurídica
o Não é sobredeterminável pela vontade e capacidade de cada um, existe de
acordo com circunstância social que nos ultrpassa
 Une juridicamente pessoas que 1) descendem uma da outra ou 2) que têm progenitor
comum

Art. 1579º6, 1580º, 1581º, 1582º


 1) Descendem uns dos outros: relação na linha reta
o Contam-se os elementos e subtrai-se o progenitor comum – pode ser contado
de forma ascendente ou descendente e na linha materna e
paterna

Pais e filhos são parentes no 1º grau da linha reta; avós e netos


no 2º grau da linha reta

Efeitos: direito ao nome; efeitos em negócios jurídicos; direitos


sucessórios; incapacidades (de casamento)

5
Opinião Mag e Guilherme de Oliveira contra Jorge Duarte Pinheiro que afirma que é relação parafamiliar.
 Família é realidade inequívoca e ninguém tem uma parafamília
6
Geração em sentido jusfamiliar não tem a mesma aceção que o termo comum – usa a expressão apenas
para se referir aos graus do parentesco

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 2) Têm progenitor comum: relação colateral (cada um provém de uma linha reta)
o Mesma contagem dos termos

 Irmãos7 são colaterais de 2º grau


 Tia e sobrinho são colaterais de 3º grau
 Primos direitos são colaterais de 4º grau
 Tia-avó e sobrinho são colaterais de 4º grau
 4º grau é realidade compósita porque nele cabem várias
relações: se Nascimento morre sem testamento e David sobrevive,
por ele também se divide a herança; com primos direitos só se Bé não
tivesse cônjuge, ascendentes, descendentes e irmãos é que Carlos
seria chamado a herdar (mas se houvesse um tio-avô de Bé vivo, este
também herdaria)
 David e Carlos são colaterais de 5º grau
 David e Hugo são colaterais de 6º grau

Doutrina dos anos 40/508 questionava estas contagens porque se A é pai de B, B é parente de A
no grau 0 – hoje em dia não levanta discussão.

Efeitos: deveres para com menores quando os pais não podem; constituição conselho de família

Limite do art. 1582º - “salvo dispensa na lei” – como no caso da sucessão de irmãos (onde pode
vir alguém em direito de representação, de irmão morto, além do 6º grau colateral.

Art. 1584º, 1585º Afinidade


 Ingresso recíproco nas famílias dos cônjuges – pessoas cujo relacionamento resulta do
matrimónio
 Efeitos bem menos amplos que o parentesco
o Controvérsia doutrinária com o facto de ter as mesmas linhas e impedimentos
ao casamento do parentesco
 Só sobrevive a afinidade quando a morte dissolve o casamento
o Restringida pela mais recente lei do divórcio

7
Pai e mãe comum: irmãos germanos; Pai comum: irmãos consaguíneos; Mãe comum: irmãos uterinos
Beneficiam de direitos sucessórios diferentes
8
Braga da Cruz e Pires de Lima

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Se dois parentes casam, os restantes membros da família mantêm-se parentes, tornam-se afins
ou são parentes e afins?
 Mag: afinidade é vínculo ex-novo, e se já existe um vínculo de parentesco, não faz
sentido criar-se um novo vínculo. Mantém-se o vínculo do parentesco pois já existia e
não faz sentido acumular vínculos. Não faz sentido também acumular-se afinidade e
parentesco pela dogmática dos estados familiares.

Quanto aos impedimentos do casamento por afinidades (linha reta), com a positivação do
“exercício das responsabilidades parentais” como impedimento ao casamento, esgota-se todo
o sentido que queria dar ao Código ao impedir-se o casamento por vínculo de afinidade.

Art. 1586º Adoção


 Vínculo estritamente legal
o Apenas modalidade plena (a restrita caiu em desuso e foi suprimida e revogada
– portanto o art. 1604º/e está revogado)
o Os efeitos da adoção geram relação familiar de parentesco, portanto em relação
aos impedimentos do casamento conta-se como graus de parentesco
 Recentemente abriu-se para a adoção internacional e para casais homossexuais (ainda
não legisladas)

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CASAMENTO
O casamento é um ato jurídico por via do qual o nubente se afirma na vontade de integrar o
estado de casado.
Ao consenso dos nubentes segue-se o assentimento ou aval do Estado9 - mas apesar de
a intervenção do Estado constituir condição de existência do casamento, é a
declaração de consentimento dos nubentes que tem o papel principal na
disciplina do instituto.

Jorge Duarte Pinheiro: Casamento implica a assunção de um compromisso recíproco que


tem reflexos amplos – plena comunhão de vida (cláusula geral que depois se traduz nos
deveres particulares do art. 1672º)
Traduz-se num contrato pessoal e solene

Natureza do casamento tem-se alterado e desde 2010 deixou de se exigir a diferença dos sexos
– dinamização da legislação e das relações familiares.

Promessa de Casamento (art. 1591º a 1595º)


Contrato pelo qual duas pessoas se comprometem reciprocamente a contrair casamento –
traduz o compromisso de casar.

Mag: só quem tem capacidade para casar é que tem capacidade para fazer promessas de
casamento. Sem essa capacidade, a promessa seria inválida (assim como o casamento) – art.
1602º e ss.

Art. 1591º
No CC de 1966, valida-se a promessa de casamento pondo fim a uma nulidade destes esponsais/
desposórios (que queria evitar os casamentos informais), atribuindo-lhe eficácia e perfil
negocial.
 Legislador positiva, faz valer juridicamente as promessas assumidas ante a as da
concretização do negócio matrimonial, e decide que não é um contrato que gera a
obrigação de casar – juridicamente seria abusivo obrigar as pessoas a casarem contra a
sua vontade10.
o Juridicamente permite-se a promessa de casamento, mas o rompimento não
gera a obrigação de casar.

Art. 1592º - Motivos para romper o contrato11


1. Incapacidade
2. Retratação: sendo aqui assumida como aquele que não quer casar por razões
ponderosas e sérias; alheias a si e transcendendo a sua vontade

9
E aqui a doutrina diverge sobre o que é mais importante entre: a vontade dos nubentes e liberdade de
casar e os critérios de exigência estadual para a perfeição do casamento e as normas a que o casamento
se sujeita
10
Pois este é um negócio jurídico pessoalíssimo (PPV)
As pessoas ficam vinculadas a casar mas a natureza desta obrigação não leva à execução
específica da promessa
11
Legislador pretende evitar que um nubente decida casar só para não ressarcir o outro pelos prejuízos
materiais.

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a. (Mag: diz que retratar-se é simplesmente mudar de ideias e que o CC tem-no


impregnado de seriedade)
Deixa de lado qualquer ressarcimento por danos causados.

Art. 1593º - Incumprimento por morte


Classificação de caráter mais técnico que faz exigência ao nível das famílias.
 nº1 – há direito a manter as coisas do prometido, se aceitar abdicar daquelas que lhe
deu.

Art. 1594º - Indemnizações


Em relação aos motivos “fúteis” para romper o contrato (Encontramos outro argumento sistemático
para entender-se a retratação com um sentido ético e de ponderação); CC considera esta como uma
decisão culposa
 Mag: Este artigo e as consequências são incompatíveis com a noção de liberdade de
casar (que mesmo com a promessa não é uma obrigação) o legislador não deve alastrar
a indemnização por motivos morais e, sim, limitá-la em nome de uma tutela de
expectativas e de salvaguarda.
o nº3 – legislador usa recurso à equidade de forma a temperar este regime de
indemnizações (para que não se tornem assim tão graves e se coadune com o
princípio da liberdade de casar)
 “dar lugar a que” – ex: ter outro namoro em público que leve a que a prometida queira
acabar

Art. 1595º - caducidade das ações quando a restituições e indemnizações

Lei não diz qual a validade da promessa de casamento.


Mag: aplica a regra de caducidade da convenção antenupcial (1 ano – art. 1716º)

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Requisitos de fundo do Casamento


Dependendo da modalidade – civil e/ou católico – o casamento está sujeito a regimes e mecanismos de
invalidades diferentes.

Sendo o casamento negócio jurídico assente na vontade dos nubentes, a vontade deve ser
livre, esclarecida e determinada – art. 1619º

Inexistência
Sanção aplicável a certos atos jurídicos de tipo matrimonial que não têm correspondência com
a lei (não obedeceu a pressupostos fixados no CC, não sendo casamento em sentido técnico-
jurídico) – art. 1628º
 Acrescenta-se também o caso em que os nubentes não expressam vontade de casar
(quando sobre tal são questionados)
São destituídos de efeitos – inexistência pode ser invocada a todo o momento e não depende
de declaração judicial (art. 1630º)

Invalidades
Casamentos juridicamente existentes mas cuja validade a lei não admite pois não são livres e/ou
não cumprem todos os requisitos de vontade e capacidade.

1. Falta ou Vício da Vontade


Art. 1634º
Presume-se sempre a vontade e a liberdade no casamento
Art. 1635º: falta de vontade
a) Falta de consciência no ato – incapacidade acidental ou outra causa
b) Ex: casar com alguém com um gémeo, sósia e etc.
c) Ex: Mag – alguém com uma faca encostada às costas
d) No caso de simulação

Art. 1636º: vontade viciada


Cláusula com uma tipicidade aberta.
Tem que haver erro sobre as qualidades essenciais da pessoa do outro cônjuge12 – que sejam
sindicáveis judicialmente. (Mag: é de caráter objetivo e deve ser preenchido doutrinaria e
jurisprudencialmente – o Tribunal tem que ser competente para aferir)
Jorge Duarte Pinheiro: qualidade essencial é a qualidade de uma pessoa que, em
abstrato, seja idónea para determinar o consentimento matrimonial. Considerado à luz
da consciência social dominante
Tem que ser desculpável (desculpabilidade deve ser avaliada subjetivamente pelo padrão do
nubente) e demonstrado que sem ele (ao conhecer-se a verdade), razoavelmente, o casamento
não se celebraria (padrão geral em que a pessoa não contrariaria casamento)

12
Conceito de essencialidade revela grande complexidade desde que se retirou à cláusula geral um elenco
ilustrador do erro, desde 1977, desde o erro sobre a cidadania ao da virgindade feminina.
O dolo que esconde aspetos triviais da personalidade de outrem não tem dimensão para invalidar um
casamento mas a intenção de defraudar o outro nubente acerca de uma qualidade essencial releva.

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Sebenta Família – DNB 2016/2017

Art. 1638º: coação moral

Art. 1640º: legitimidade para anulação fundada na falta de vontade


Há simulação quando o casamento não é com vista à plena comunhão de vida e sim com outros
fins (ex: obter a nacionalidade – casamento de conveniência é crime)
nº2 – No propor a ação a legitimidade é só do cônjuge, mas no prosseguir podem ser os
outros elencados

Art. 1641º: anulação fundada em erro-vício

Prazos: art. 1644º e ss.

2. Impedimentos
São impedimentos matrimoniais as circunstâncias que obstam à celebração do casamento, sob
pena de sobre ele impenderem sanções.
Impedimentos Dirimentes: non debere casare; muito graves
 Absolutos – impede de casar com qualquer pessoa – art. 1601º
a) Falta de idade núbil (que se alterou como conquistas de ingualdade de género)
b) Notória = grave, reconhecível no meio social: basta haver intervalos não lúcidos
com grande gravidade para que haja uma demência notória13 (na terminologia
jusfamiliar); é mais difícil de avaliar no ato do casamento que a interdição e a
inabilitação14
c) Critério de segurança jurídica para não se incorrer em bigamia (crime segundo
art. 247º, CP)

 Relativos – impede de casar com essas pessoas – art. 1602º


a) Razões de ordem eugénica e de ordem moral
b) Lei 137/2015 que alargou os efeitos jurídicos das responsabilidades parentais15
c) Razões de ordem eugénica e de ordem moral
d) Que cessa por divórcio (desde 2008) mas não por morte

Que efeitos jurídicos têm os casamentos celebrados com invalidades?


A celeridade dos dias de hoje e seus mecanismos faz com que sejam poucos os casamentos com
invalidades.
Invalidade matrimonial – Anulabilidade, art. 1631º16

Anulabilidade de casamentos com Impedimentos Dirimentes– art. 1639º por força do art.
1631º/a

13
Acórdão STJ 27/1/05: demência é o conjunto de perturbações mentais graves que alteram a estrutura
mental da pessoa em causa, com profunda diminuição da sua atividade psíquica, tornando-a incapaz de
reger a sua pessoa e bens.
É aferível socialmente
14
Que hoje suscitam discussão na doutrina sobre a legitimidade deste impedimento. Mag: tem dúvidas
sobre quem poderia vir a ter responsabilidades parentais caso tivessem filhos
15
Mag: repercute-se no apadrinhamento civil pois as responsabilidades parentais têm sempre o mesmo
valor (e se aqui são impedimento dirimente, são-no sempre)
16
Sede no art. 287º

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Ação de invalidação do casamento/anulação: quem tem legitimidade são as entidades


da família (limitada às relações de maior importância com o nubente) e o MP (Estado
pode intervir para fazer vale a Ordem Pública) – para não dar aso a uma devassa pública
da vida familiar

Prazos – art. 1643º


1. c) lei permite a pessoas familiares (e não familiares como o tutor, curador, outro cônjuge
– acentua a privacidade do casamento) um prazo mais alargado a todos os que não são
impedimentos dirimentes absolutos.
2. Prazo para a proposição da ação para se apurar qualquer impedimento é mais lato para
o MP no caso de impedimentos dirimentes a absolutos e mais restrito para
impedimentos dirimentes relativos.

A anulabilidade pode ser sanada pelo art. 1633º (convalidação = validação)


Forte favorabilidade à validação do casamento.
Casos de impedimentos dirimentes absolutos: o fundamento da invalidade deixou de
existir, podendo ganhar sentido a relação conjungal entre os nubentes, sustentada
numa vontade livre e esclarecida ou dissipada a potencial ilegalidade que obstara à
celebração.
No caso da demência, o ex-demente tem o ónus de validar judicialmente a sua
sanidade

Na lei parece que tem de existir alguma ação intentada. Mas já sabemos que MP pode
sempre intentar a invalidação.
Mag: é por o MP poder sempre intentar a invalidação que se deve interpretar
este artigo como a possibilidade da validação mesmo sem ação interposta17

Impedimentos Impedientes
Obstam ao casamento e podem levar à não celebração do casamento.
Art. 1604º
a) O conservador pode suprir (sobrepondo-se à vontade dos pais ou tutor) quando se
apercebe de certas realidades: maturidade, filho para nascer e etc.
b) Remete para o art. 1605º (Prazo Internupcial)
c) Remete para o art. 1650º/2 - sancionando o tio/tia, não podendo este receber
benefícios, doação ou testamento
 Mag: viola-se aqui o princípio da igualdade
d) Remete para o art. 1650º/2
e) Revogado – adoção restrita definia vínculo que não era idêntico à filiação como o da
adoção plana
Impedimentos ao casamento que podem ser suprimidos por autorização do conservador (no
ato do casamento) pelos art. 1609º/1 e 2 e pelo art. 1612º/2
Há casos de celebração de casamento com impedimentos impedientes a que a lei aplica
sanções – art. 1649º e 1650º

Consequências – art. 1650º

17
Quanto aos menores, ao tingir maioridade, lei permite manter o casamento, agora válido, perante
funcionário do registo civil.

15
Sebenta Família – DNB 2016/2017

1. Desrespeitando prazo internupcial não pode receber doações ou testamento do antigo


cônjuge – embora seja sucessível legitimário, a partir do novo casamento deixa de o ser,
mas, se não houver testamento recebe-se tudo.
2. Incapacidade de receber no caso de doações ou testamentos – mas até pode ser
herdeiro integral se não houver nenhum destes (Mag: será coerente?)

A Lei do Apadrinhamento Civil (Lei 103/2009) estabelece que este vínculo é um impedimento
impediente (art. 22º/1).
 Mag: devemos interpretar de forma abrogante e valorativa – como nestas relações há
exercício das responsabilidades parentais (art. 2º), deve ser considerado como
impedimento dirimente relativo

Caso do Casamento Católico – art. 1626º


A lei coloca na alçada dos tribunais do Estado a apreciação das decisões referentes a casamentos
eclesiásticos, nas situações configuradas.
Decisão eclesiástica é relativa à nulidade mas só produzirá efeitos civis após revisão e
confirmação, nos termos da lei processual, pelo competente tribunal do Estado – a que compete
o seu averbamento no registo civil.

Casamento Putativo – art. 1647º


Quando há vícios, o casamento que se dá é putativo – exige-se o trânsito da sentença em
julgado.
Casamento que é judicialmente declarado inválido, mas sendo contraído de boa fé por ambos
os cônjuges ou apenas um dos cônjuges que produz efeitos até declaração judicial.
nº3: mesmo os casamentos católicos são apreciados nos tribunais cíveis (art. 1626º) – a
competência é sempre dos tribunais do Estado (nº2)

 O casamento nulo (católico) ou anulado (civil) vai produzir efeitos, mesmo que mitigados
o Regime está elencado no nº2: mantém-se a produção de efeitos relativos à
proteção de terceiros, relativos aos próprios cônjuges, relativos à sua
descendência.
 Se houver bens comuns? A pessoa que agiu de boa fé tem direito à sua
meação (parte do bem comum) – art. 1647º/2
 Não é obrigatória a meação e só faz sentido ser pedida se
beneficiar o de boa fé, se prejudicar então não se pede.
 Outro efeito patrimonial: doação para casamento (art. 1753º) –
envolve-se um terceiro e não faz sentido que a doação continue a
produzir efeitos (opinião Mag contrária ao art. 1760º/1/a)
o Se ambos os cônjuges estiverem de má fé então não se produzem os efeitos

Entendimento da boa fé é diferente no direito civil e no direito canónico


 Boa fé em sentido objetivo para o casamento putativo é indicada no art. 1648º - aceção
normativa – os vícios são os resultantes dos impedimentos, mas pode ser qualquer
situação em que o agente não tem consciência do ato inválido que pratica

16
Sebenta Família – DNB 2016/2017

Formação do Casamento
Exige a concretização de diligências que o precedem – processo preliminar (art. 1610º a 1614º)
 Lei submete a celebração do casamento a um processo precedente cuja regulação
remete para a lei do registo civil – verifica-se aspetos relativos aos esposados e se há
impedimentos – sindica-se o perfil jurídico dos nubentes para evitar que se contraia
casamento contrário à Ordem Pública.
 No final do procedimento o casamento pode ter lugar.

Casamento civil está sujeito a registo e ao ser lavrado o registo, os seus efeitos retroagem à
data da celebração (art. 1670º)

Casamento Urgente – art. 122º e ss.


Relevância social e cultural: não sujeita a processo preliminar certas situações
 Não sujeita a mais delonga alguém quase a morrer
 A ordem jurídica não exige o casamento para o ter filhos nem admite filhos ilegítimos
mas protege quem assim queira.
Legislador atende à consideração que pode assumir na personalidade de cada um o estado de
casado.

Falta de formalidade sujeita-os a homologação (art. 1623º). Casamento não subsiste se não for
homologado (art. 1628º/b)
Sujeita a regime imperativo de separação de bens – proteção patrimonial (art. 1720º) do
procedimento preliminar não-terminado.

Também pode haver casamento católico urgente (art. 1599º) e em âmbito mais vasto

Modalidades de Casamento
Civil e Religioso (Católico)
 Excede a forma, a invalidade a que estão submetidos é diferente e no canónico releva o
dolo (Cânone 1098) e não o objeto do mesmo.

Todo o casamento católico está sujeito a transcrição – efeito probatório cujo objetivo é
equiparar o efeito desta transcrição ao de qualquer outro ato de registo de casamento,
produzindo efeitos.
Art. 1625 e ss.
Art. 1626º/1 – decisões eclesiásticas estão sujeitas a confirmação por Tribunal Estadual18

18
Para se evitar um caso como Pellegrini c. Itália, julgado no TEDH

17
Sebenta Família – DNB 2016/2017

Convenções Antenupciais
Interfere no conteúdo do casamento incidindo em aspetos da vida pessoal e sobretudo
patrimonial.
 São negócios jurídicos (contratos) que antecedem o casamento.
 Têm como objetivo principal estipular um regime de bens para o casamento, ainda que
o seu conteúdo se possa estender a outras matérias.
o Se não for definida uma convenção antenupcial, os nubentes casam com o
regime de bens supletivo de comunhão de adquiridos – e só se altera esse
regime de bens supletivos em sede de convenção antenupcial

Art. 1698º - Liberdade de Convenção


Pode-se escolher o regime de bens se não estiver sujeitos a um regime imperativo (art. 1720º)19
Na escolha podemos definir um regime misto.

Art. 1699º - matérias impedidas de ser reguladas por convenção antenupcial


1. d) não pode, pois são incomunicáveis por serem bens estritamente pessoais
2. não podem casar com comunhão de bens mais ampla que o regime de adquiridos – legislador
salvaguarda o património destes filhos
Mag: se os filhos forem dos 2 nubentes, o sentido perde-se, pois só existe para não
prejudicar os filhos em termos sucessivos.

Art. 1708º - Capacidade


Art. 1709º
Art. 1710º20
Art. 1711º - Efeitos para Terceiros21
Art. 1712º - Revogação ou Modificação
Art. 1713º - Condição ou Termo22

Em princípio as convenções são imutáveis (art. 1714º/1) exceto se a lei determinar o contrário.

Convenção antenupcial tinha enquadramento histórico e social que hoje já não se verifica.

Art. 1756º/1 – têm de ser feitas em sede de convenção antenupcial e obter os requisitos de
forma para produzirem efeitos.
 Têm de ser feitas a um dos esposados ou ambos e tendo em vista o seu casamento (art.
1753º/1).
 Um nubente pode fazer ao outro e terceiros podem fazer aos nubentes.
 Mas não pode ser doações dos nubentes a terceiros pois tal é exógeno aos interesses
do casamento.

19
regimes imperativos (art. 1720º) e que não podem ser alterados por meio de convenção. Art. 1720º/1/b
– acautela-se interesses sucessórios.
20
importante nos contratos mortis causa
21
não são considerados terceiros, na convenção antenupcial, além dos nubentes, os demais outorgantes
e os herdeiros dos cônjuges. Estipula a obrigatoriedade do registo como condição de produção de efeitos
relativamente a terceiros. Relaciona-se com as doações para casamento
22
Condição ou termo tem que ser situação incompleta e não determinada no momento.

18
Sebenta Família – DNB 2016/2017

 Sendo a doação feita para casamento não é revogável unilateralmente (art. 975º/a – e
não se submete à ingratidão do donatário cujo regime geral é o do art. 974º, mas tem
de ser DOAÇÃO PARA CASAMENTO).
 Caduca se casamento for invalidado (art. 1760º/1) pois perdeu-se o sentido jurídico do
negócio principal, este outro deixa de produzir efeitos na ordem jurídica.

Doações Mortis Causa


Na convenção antenupcial podem celebrar-se pactos sucessórios seja nomeando os nubentes,
herdeiros ou legatários – dependem de aceitação (art. 1701º/1).
 Pode ser de 3º aos esposados e está sujeito a requisitos de forma.
 Razão de ser é o benefício patrimonial dos futuros membros da comunidade conjugal.
o Entre esposados, não são revogáveis por mútuo consentimento (art. 1758º).
o Mas as de terceiro são.

Certas disposições institutivas de herdeiros ou que nomeiem legatário são ilícitas na convenção.
Apenas as admitirá se for por um dos esposados ao outro ou de terceiro a esposado.

Alteração
O regime de bens pode mudar, em função de condição ou termo.
 Tem de ser ditada por fatores aleatórios e não pela vontade dos cônjuges POSTERIOR
ao casamento.
 As condições e os termos devem de estar totalmente independentes da simples vontade
dos cônjuges, assim não se poderá alterar o regime de bens se os cônjuges o quiserem.
 Imutabilidade do regime foi ponderada no acórdão do STJ de 16/5/1993 (processo
nº083628)
Pode-se alterar caso haja revogação das doações mortis causa (art. 1715º/1/a)

Se uma cláusula da convenção é inválida, não significa que toda a convenção seja, pelo princípio
do aproveitamento dos negócios jurídicos.

19
Sebenta Família – DNB 2016/2017

Regime de Bens
Até 1966 o regime supletivo era a comunhão geral de bens – acompanhava a ideia de casamento
“para a vida”.

Hoje, o regime supletivo é a comunhão de adquiridos – que pode ser, redundantemente,


positivada em convenção antenupcial.

Comunhão de Adquiridos
Bens próprios – art. 1722º/b é encurtada com particularidades da administração (se receber
bens imóveis e os quiser alienar tem de obter autorização do outro); art. 1722º/c é, por
exemplo, adquirir propriedade de que já era possuidora (clarificado no nº 2) – pode haver
compensação se o outro cônjuge ajudar a pagar
Alínea a, exemplo, já se fez herança, antes do casamento, e está-se à espera da partilha

Art. 1723º/a – troco a casa de Melides por uma em Faro; b – preço pelo qual vendi a casa que
tinha (sendo imóvel implica autorização do outro cônjuge); c – para que um dos cônjuges não
se aproveite do património do outro para adquirir ou valorizar bens próprios.
Jurisprudência recente vem dizer que entre cônjuges pode ser em fase posterior mas
para o 3º é no momento do contrato.

Art. 1724º/a – mesmo neste regime cada um administra o seu próprio (remete para o art.
1678º/2/a)

Art. 1726º/1 – casos de aquisição com bens comuns e bens próprios, a natureza do bem é a da
prestação mais valiosa sendo que os bens adquiridos serão parcialmente próprios e
parcialmente comuns. Bem comum e adquirido parcialmente com bens próprios – lei reconhece
que o cônjuge lesado pode ser compensado pelo património comum. Compensação é feita no
momento da dissolução e partilha da comunhão (art. 1726º/2)

Art. 1727º a 1729º - outras situações em que os bens são considerados próprios de um dos
cônjuges.

Art. 1730º - meação é um compósito de bens suscetíveis de divisão.


Art. 1736º/1 – tende a proteger a confiança e celeridade do comércio jurídico para se saber a
titularidade do bem.

Comunhão Geral
Estipulado por convenção antenupcial e nem ela pode estabelecer comunicabilidade do art.
1733º (por força do art. 1699º/1/d)
 Aplicam-se disposições da comunhão de adquiridos por força do art. 1734º - como no
exemplo do art. 1726º.

Separação de Bens
Cada membro do casal mantém a titularidade dos seus bens.
Não há meação no regime de separação e o que se admite é a titularidade pelos cônjuges de
bens em compropriedade (afirmado pelo Acórdão STJ 14/4/2015).

20
Sebenta Família – DNB 2016/2017

Administração de Bens
Conceito de Administração – atos que se destinam à frutificação ou conservação e que não
alteram a substância da coisa, tendo em consideração a repercussão económica do ato no
estatuto do casal – atos de administração ordinária. Afirmado pelo Acórdão STJ 11/6/1991
 É extraordinária nos casos do art. 1682º/1; 1682º/3/a, b; art. 1678º/223

Temos de distinguir entre o regime de bens primário (administração e dividas conjugais) e o


secundário (qual o regime de bens que rege relações entre os cônjuges – saber se determinado
bem é comum ou próprio).

Classificação significa que é hierarquia? Não. Regras sobre administração aplicam-se


independentemente do regime de bens, daí serem primárias.
 Sistematicamente até vem regulado antes do regime de bens secundário – regras de
administração precedem, pois a sua aplicação não depende do regime de bens escolhido
pelos cônjuges.
 Mag discorda da sistematização – em primeiro lugar precisamos de saber se é bem
comum ou próprio, pois isso é determinante quanto a saber a quem responde pelas
dividas e quem o pode administrar. Regras de administração pressupõe o conhecimento
e prévia aplicação de regras do regime de bens.

Regras de administração e dívidas não podem ser alteradas nem em convenção antenupcial –
evita-se que um dos cônjuges que possa ter ascendência sobre outro ao ponto de o implicar de
um regime muito mais oneroso daquele que resulta da lei. Legislador tenta evitar a que se
perpetre abusos devido a controlo.

Administração não tem a ver com propriedade mas sim com possibilidade de alienar, usar,
dispor e etc. – exercício da atuação sobre o bem

art. 1678º/2 – a), b) entende-se que estes bens são rendimentos intuitu personae; c) administra
quem levou, independente da caracterização como comum; d) quando exlcui o outro cônjuge
da liberalidade; e) alarga à administração ao outro cônjuge independentemente de ser próprio
ou comum; f) atuação supletiva para garantir interesse do ausente, representação tolerada; g)
contrato mandato

Faz sentido que quanto a bens comuns qualquer cônjuge tenha a capacidade da administração
ordinária.
Os da extraordinária só com autorização dos dois.

E se os cônjuges violarem regras da administração?


Ex da alínea e). Consequências – art. 1681º
Art. 1682º/1 - administração extraordinária
 Consequência violar art. 1682º/3 – 1681º (apenas relacionado com as relações entre os
cônjuges: prestação de contas; dispensa prestação de contas nos termos gerais, para
evitar que casamento seja mercearia, legislador vem dizer que não há que prestar
contas, só se houver dolo na administração dos bens – mau administrador responde na

23
Castro Mendes: disposição e alienação dos bens e alteração da substância da coisa; ordinárias seria
conservação, gratificação e etc.

21
Sebenta Família – DNB 2016/2017

medida do que prejudicou e do dolo) + 1687º (que tem âmbito de aplicação mais
restrito: alienação e oneração; relacionado com a validade dos atos de disposição ou
oneração – não se cinge a regulação das relações entre os cônjuges mas tem implicações
da relação com terceiros)
 Regra independente de saber se bem é próprio ou comum – pressupõe sempre
consentimento dos dois cônjuges.

Titularidade de bens e possibilidade conferida pelo legislador à administração de bens são


regimes pressupostos, mas não andam dissociavelmente ligados. Regra justificada com base na
igualdade conjugal. Espaço de autonomia patrimonial na sociedade conjugal.

Art. 1678º, Art. 1681º - cônjuge administrador de bens comuns não é obrigado a prestar contas
ao outro cônjuge, mas pode responder por atos praticados em prejuízo do casal ou do outro
cônjuge.

Uma má administração de bens é valorada pelo legislador e pode levar à separação judicial de
bens (art. 1767º + 1769º). Passa a valer esse regime de bens e procede-se à partilha como se o
casamento tivesse sido dissolvido (art. 1770º/1)

Um cônjuge pode alienar legitimamente móveis próprios ou comuns que administre (art. 1678º
e art. 1682º/2).
 Há uns que necessitam de consentimento comum (art. 1682º/3 e 4). Sendo que os
demais atos de alienação indevida são anuláveis pelo art. 1687º.
 Pedido de autorização de um cônjuge para alienar imóvel – reforçado por Acórdão STJ
29/4/2014 – art. 1682º-A
 Amplia-se no art. 1682º-B

Responsabilidade por dívidas


Princípio da liberdade de cada cônjuge contrair dívidas sem o consentimento do outro24 – art.
1690º/1.

Art. 1691º - responsabilidade de ambos os cônjuges – que sofre extensão no regime de


comunhão de bens em que qualquer dívida antes do casamento em proveito comum do casal é
responsabilidade de ambos (nº2)
 Art. 1691º/1/c – tem de ser para 1) proveito comum do casal e 2) dentro dos poderes
de administração (não pode exorbitar esses poderes, senão não respondem ambos os
cônjuges)
 Art. 1691º/1/d – um dos cônjuges é comerciante; ressalva do regime de bens é
argumento para que não se aplique este regime às uniões de facto onde não vigora
regime de bens; não se presume proveito comum do casal, tem de se provar (art.
1691º/3)
 Art. 1691º/2 – qualquer dívida mesmo sem autorização de um dos cônjuges, na
comunhão geral. Não se pode fazer refletir este regime de dívidas às uniões de facto.
Numa situação em que o regime de bens não existe não se pode fazer saber sobre quem
impende as dívidas.

24
Não se aplica às Uniões de Facto

22
Sebenta Família – DNB 2016/2017

Art. 1692º - responsabilidade exclusiva de um dos cônjuges


 Art. 1692º/c – remete para o art. 1694º/2 (dívidas sobre o bem próprio são apenas de
um dos cônjuges, mas, se os frutos desses bens próprios são rendimentos comuns – ex:
rendas de imóveis – o imposto sobre esse rendimento onera ambos os cônjuges)
Art. 1693º - dívidas que oneram doações, heranças e etc.
 Art. 1693º/2 são consideradas comunicáveis pelo que respondem ambos os cônjuges
(art. 1691º/e) – falam do regime de comunhão de adquiridos, um atípico que consagre
que os bens doados se comuniquem.

Que bens respondem pelas dividas da responsabilidade de um dos cônjuges ou de ambos?


Art. 1695º/1 e 2 – casal – responde à cabeça os bens comuns e subsidiariamente os bens próprios
Art. 1696º - um cônjuge – em que podem responder alguns bens comuns – responde à cabeça
os bens próprios e subsidiariamente a meação nos bens comuns – não pode valer para separação
de bens porque nesse regime não há meação
 Lei prevê mecanismo de compensação quando apenas um dos cônjuges respondeu por
dívidas da responsabilidade de ambos – o cônjuge que efetuou a prestação torna-se
credor do outro na medida em que tenha efetuado uma prestação que exorbite a que
lhe competia fazer.
 Compensação apenas devida no momento da partilha dos bens do casal.
 Se for separação de bens, o crédito é exigível a todo o tempo (art. 1697º/1)

Regime de dívidas dos cônjuges não se aplica às uniões de facto pois o estatuto patrimonial dos
cônjuges (regime de bens e etc.) não se aplica em bloco aos unidos. Esse regime do casamento
é mais formal e união de facto é mais informal – Mag recusa analogia de Jorge Duarte Pinheiro

CONTRATOS ENTRE CASADOS


Art. 1714º/2 proíbe compra e venda e sociedade (ressalva-se herdeiros, não disfarçando
liberalidades).

Doações entre casados são segundo as regras da doação (art. 940º e ss.) subsidiariamente.
Valem as regras dos art. 1761º e ss.
 São revogáveis a todo o tempo – art. 1765º
 Têm apertada vigilância legislativa face ao seu regime e efeitos.
 Proibidas se regime de bens imperativo (da separação)
 Submetidas ao regime geral da revogação por ingratidão, art. 1765º.
 Doações caducam em art. 1776º/1/a, b; art. 1791º; art. 1763º/1, 2
 Doações versam sobre bens próprios e não se comunicam.

Controlo do legislador pois: Doações não devem poder desvirtuar o regime de bens acordado e
vigente; um dos cônjuges não deve poder aproveitar o seu ascendente sobre o doador
Mag: as doações entre casados deviam de se admitir como um negócio jurídico normal
– nada justifica regime tão restritivo para as doações entre casados, no entanto é o que
está na lei.

23
Sebenta Família – DNB 2016/2017

Separação judicial de bens


Art. 1767º - um dos cônjuges tem má administração dos bens ou em insolvência: requisitos para
se pedir
 Para todos os tipos de regimes.
 Apenas ocorre por ação litigiosa – art. 1768º

Quem tem legitimidade é o cônjuge lesado (ou se interdito, o seu representante legal).

Aplica-se à separação judicial de pessoas e bens o regime do divórcio (art. 1794º) – tal separação
não dissolve o casamento mas extingue os deveres conjugais (exceto o direito a alimentos e o
respeito)
Pode terminar-se a separação a todo o tempo – art. 1795º-B; havendo reconciliação art. 1795º-
C

Divórcio
Simplificação do regime em 1977. Nova Lei do Divórcio entra em vigor em 2008 (Lei 61/2008, de
31 de Outubro)

Significa dissolução do casamento – é o modo jurídico de por fim ao casamento.

É diferente da invalidade do casamento pois nesses casos o casamento não produziu efeitos a
partir da data de celebração. Exceto os casos de boa fé no casamento putativo.
É diferente da separação de pessoas e bens pois nesses casos o casamento mantém-se e apenas
se suspende a produção de efeitos (podendo pôr-lhe um fim com a dissolução ou voltar à
situação matrimonial antecedente)

Modalidades de divórcio
Divórcio por mútuo consentimento/acordo – resulta de acordo dos cônjuges de se por fim
à sociedade conjugal – art. 1775º e ss. – acautela os interesses sociais fundamentais como os
alimentos, casa de morada de família, responsabilidades parentais e etc. (art. 1776º-A e art.
1778º-A)
 O Estado intervém na mediação familiar do art. 1774º

Divórcio litigioso (conceito da lei do divórcio da I República) – quando um dos cônjuges interpõe
ação contra o outro, alegando violação culposa de deveres conjugais.
 Culpa como juízo de censurabilidade sobre a conduta do cônjuge – apreciação de
desvalor que resulta da atuação do cônjuge num caso concreto em que incumpriu um
dever conjugal.
 Segue sempre a via judicial

Conceito ultrapassado que foi substituído pela figura do Divórcio sem o Consentimento de
um dos cônjuges – abole a culpa como fundamento do divórcio e fundamenta o divórcio na
rutura de casamento, ou seja, verificação da existência de fatores que determinam a
insustentabilidade da vida comum.

24
Sebenta Família – DNB 2016/2017

 Art. 1779º obedecendo a fundamentos do art. 1781º. 25


 Divórcio sem consentimento é precedido de tentativa de conciliação, e quando não
resulta o juiz procura o divórcio por mútuo consentimento preocupando-se em evitar
conflitualidade no final do casamento – art. 1779º

Art. 1781º/d – incompatibilidade para continuar com a vida conjugal para a generalidade das
pessoas, critério de aferição social que reside também no critério de decisão do juiz.
 Divórcio pode ser requerido a todo o tempo e obedece ao princípio da judicialidade.

Não é passível aplicar-se sanções a nenhum dos cônjuges e não importa à lei qual dos cônjuges
tenha culposamente dado origem à rutura da vida conjugal
 Os danos provocados a um dos cônjuges pelo outro são apreciados em processo
autónomo à ação de divórcio – exceto os do art. 1792º/126 e 1781º/b – não é uma
compensação por culpa, mas sim a determinação rigorosa de um dano não patrimonial
que advém duma opção nefasta para o réu com a decisão de divórcio pelo autor da
ação.

Partilha pelo art. 1790º em que nenhum dos cônjuges poderá receber mais do que lhe
competiria receber nos casos em que o regime de bens estipulados seja o da comunhão de
adquiridos – não frustra expetativas de casais idosos casados em comunhão geral?
 Mag: sim, pois caso os cônjuges soubessem deste futuro regime de partilha talvez
tivessem mitigado os seus efeitos e não teriam organizado a sua vida patrimonial tendo
conta a álea do regime de bens. Tem dúvidas se não há aqui tutela de expetativas
jurídicas quando as pessoas se casam (como no anterior Código de Seabra que era a
comunhão geral). Lei quebrou a expetativa em 2008.

Art. 1671º/2 estipula que os cônjuges organizem a sociedade conjugal. Se se der o caso de um
que tenha ficado especialmente onerado com o trabalho doméstico deverá ter uma
compensação devida pelo património comum ao património próprio – visa repor justiça social e
patrimonial.
 Pressupostos muito rigorosos do art. 1676º/2. O sentido da compensação ao cônjuge
mais sacrificado implica análise da vida comum e das suas vicissitudes e só no final da
mesma é possível saber se um dos membros da sociedade conjugal foi verdadeiramente
prejudicado (é no momento da partilha, art. 1676º/3)
o O aplicador tem algum arbítrio (pois há conceitos de certa forma
indeterminados)
o Este crédito compensatório não faz sentido para a separação de bens (Mag) –
se decidiram casar num regime que separa sempre e todos os bens, então não
faz sentido que depois venham reclamar um crédito compensatório. Já se
admite para casos em que se case no regime imperativo.

Nos casos em separação de bens não há partilha e poderá é haver ações de divisão de coisa
comum para o caso de os cônjuges serem comproprietários (art. 1412º e 1735º).

25
1º tenta-se o acordo, art. 1779º/1 e depois o divórcio pacífico, art. 1779º/2
26
Art. 1792º - dúvidas sobre a palavra lesado. Lesado com os efeitos do divórcio (e não com a violação
dos deveres no casamento). nº2 – liga ao art. 1781º/1/b

25
Sebenta Família – DNB 2016/2017

 Crédito compensatório exigido só no final do casamento, no momento da partilha, art.


1676º, mas aplica-se à separação de bens?
o Quem escolhe este regime é porque afirma implicitamente que os efeitos
patrimoniais do casamento serão escassos e favorece-se autonomia
patrimonial.
 Mas a compensação pode ter lugar legítimo no regime de separação de
bens (pois as vicissitudes podem projetar-se muito além do momento
da estipulação do regime)

Lei rege direito a pensão de alimentos pelo critério da necessidade aplicando o art. 1676º - não
é o padrão de vida da vida de casado (art. 2016º-A/3)

O mesmo regime do art. 2016º se aplica a separação judicial de pessoas e bens

Partilha é feita de acordo com o art. 1689º

Os créditos de cada cônjuge sobre o outro são pagos pela meação do cônjuge devedor no
património comum.

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Sebenta Família – DNB 2016/2017

União de Facto
Lei 7/2001
Uniões informais de casais heterossexuais e homossexuais com modo de vida próximo do
conjugal, às quais se atribuem alguns efeitos jurídicos, mais parcimoniosos e menores, na
generalidade dos casos, do que os efeitos do casamento.
 O que separa essencialmente a união de facto do casamento são os efeitos patrimoniais,
onde se incluem os efeitos sucessórios e as formalidades requeridas.
o Contrariando Jorge Duarte Pinheiro, TEDH reconhece caráter familiar às uniões
de facto.
 São argumentos estritamente formais que obstam a que União de Facto seja de caráter familiar.
o PMA é igual para unidos de facto e para casados
o Art. 1903º - como conceber a união de facto e não reconhecer caráter familiar
a uma lei que nos diz isto?!
o Interpretação sistemática diz que é seguramente uma relação familiar.

Modo de vida análogo ao dos cônjuges – cônjuges constituem família, logo, se as uniões de
facto são caracterizadas por um modo de vida análogo, são fontes de relações familiares.
 Uniões de facto têm o pressuposto de um modelo de vida determinado para que a união
de facto se constitua como realidade jurídica.
 O modelo pressupõe a analogia com a vida dos cônjuges – Acórdão STJ 9/7/2014 veio
reconhecer sintonia entre deveres pessoais dos unidos de factos e os deveres conjugais.

Apenas se admite a união de facto a partir do momento em que ela ganha relevância jurídica –
aproximando-se à identidade do casamento.
 Art. 1º/2 – é ao fim de 2 anos que se consagra a união de facto; dignificação das uniões
de facto
 Art. 2º/c – não é realidade nova em Portugal mas países como a Alemanha não a
admitem – maior inimigo na lei à natureza da união de facto.
o Mag: resulta de erro do legislador.

O que são condições análogas às dos cônjuges?


No casamento há vários “tipos de casamentos”, com traições que se aceitam, com momentos
em que vivem separados.
Nas uniões de facto, não se podem ter estas liberdades – têm que ser mais certinhos e
legalmente as condições são mais exigentes – no caso e irem para fora, já se aceita porque o
mesmo também se aceita para os cônjuges e não violam deveres de coabitação.

Contagem dos prazos: exigências de coabitação – para Jorge Duarte Pinheiro, se não há
coabitação, mas tal não tem o propósito de por fim à comunhão, o prazo de contagem
suspende-se voltando a correr logo que os cônjuges retomem vida em comum;
 Mag: como a união de facto é situação análoga à dos cônjuges e o distanciamento físico
entre os cônjuges não é impeditivo do cumprimento dos deveres conjugais, então tal
também não o é para a união de facto.

No caso dos cônjuges, não viver na casa de morada de família não resulta por si só de violação
de deveres conjugais – art. 1673º/2.

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Sebenta Família – DNB 2016/2017

Prova de união de facto é complicada e pode ter que se solicitar documento comprovativo à
junta de freguesia.

Requisitos da união de facto são regulados por lei: capacidade, liberdade e vontade de vida em
comum.

Art. 1601º - a partir dos 16 anos pode contar-se o prazo para se iniciar vida de tipo conjugal
suscetível de obter relevância jurídica

Lei opta por regime em razão do parentesco e afinidade idêntico aos fundamentos de
impedimentos dirimentes relativos do casamento. Mas não obsta ao exercício das
responsabilidades parentais para a união de facto – lapso do legislador que não alterou art, 2º
da lei.

Atender à afinidade por razões de ordem moral e social é argumento no sentido da natureza
familiar.

Lei não atribui relevância aos impedimentos impedientes.

Pode constituir-se união de facto se um ainda estiver casado, desde que tenha obtido
separação de pessoas e bens (art. 1794º)

Jurisprudência tem entendido que os dois anos do art. 1º/1 não têm de decorrer após o divórcio
de um dos membros da união de facto, sendo suficiente, que no momento da cessação qualquer
deles não se encontre casado e tenham já vivido juntos em condições análogas à dos cônjuges
por período igual ou superior a 2 anos.

Regime de prova livre (pois não há requisito de forma) embora a junta de freguesia possa emitir
declaração comprovativa (art. 2º-A/2)

Dissolução é informal e lei não adotou o reconhecimento dum direito de compensação ao


membro da união de facto que tivesse contribuído de forma particularmente intensa para os
encargos da vida familiar – não há analogia ao art. 1676º CC.

Para aproveitar os efeitos da dissolução tem de se fazer prova da união de facto.

Aplica-se o regime de bens à união de facto?


Não. São relações jurídicas diferentes, não existe homologia de razões de facto e de direito que
permite estender regime de bens às uniões de facto.
 Aplicando regime de bens seria violação da liberdade constitucional de não casar
(porque se está em união de facto não se quis casar, portanto afasta-se regime da
responsabilidade de dividas conjugais do casamento aos unidos de facto).
 Estabelece apenas proteção mínima aos unidos de facto.
Aprovação da lei das uniões de facto não foi medida legislativa pacífica. Argumento histórico de
occasio legis que demonstra que há intenção do legislador de excluir o regime do casamento às
uniões de facto.

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Sebenta Família – DNB 2016/2017

Efeitos patrimoniais da união de facto


Não possui regime de bens, pelo que os membros podem adquirir bens em compropriedade e a
título pessoal apenas – não há bens comuns nem regras de administração.
 Os unidos de facto não pretenderam que vigorassem regras típicas do casamento pelo
que não se podem introduzir impositivamente.

Responsabilidade por dívidas – responsabilidade sobre dívidas recai sobre aquele que a
contraiu.

Situação da morada de família


 Rutura – art. 4º - o membro que viva em casa arrendada pelo outro poderá ter o direito
de optar pela transmissão do arrendamento ou pela concentração a seu favor (art.
1105º/1). Podem-se aplicar as disposições do casamento, como art. 1793º
 Dissolução por morte– art. 5º - titularidade da casa segue as regras de sucessão por
morte, mas ao membro sobrevivo é reconhecido o direito de permanecer na casa e de
uso do recheio (aplica art. 1484º). Lei confere uma situação jurídica que atende à situação
de ter havido coabitação: é direito de uso e de habitação; significa que direito real do
membro sobrevivo não é direito de propriedade (os proprietários são os herdeiros do
membro falecido) – esse direito de propriedade está onerado ao membro sobrevivo,
cujo proprietário que tem de respeitar até que passem os prazos e o herdeiro possa ser
o proprietário.
o Se forem comproprietários, uso e habitação é exclusivo do sobrevivo (art. 5º/3
da Lei 23/2010) – excluindo os sucessores do falecido. Regime da
compropriedade, o sobrevivo tem direito a metade da casa por via do contrato
de aquisição do imóvel (e não de acordo com comunhão de adquiridos e etc.)
enquanto estiverem os 2 vivos, após morte de um deles há exclusividade para
um deles – não é aproximação ao regime de comunhão de adquiridos e do
casamento porque o que há é comunhão de direitos reais.
 Sobrevivo tem direito de preferência com base legal (desta lei)
o Prazo pode ser superior a 5 anos (art. 5º/2).
o Esgotado o prazo pode ficar no imóvel como arrendatário nas condições gerais.
o Tem também direito de preferência na alienação do imóvel (art. 5º/9) –
afirmado por STJ em 14/1/14

Situação dos alimentos: art. 2020º alarga a obrigação de alimentos ao membro sobrevivo da
união de facto – tem direito a exigir elementos da herança do falecido
 Não há estatuto de sucessível mas não se deixa de reconhecer que os unidos de facto
merecem uma proteção após um dos membros falecer. Alargamento do direito de
exigência de alimentos – quem responde perante esta obrigação é a herança.
 Assume-se que o critério para esta obrigação é análogo ao do casamento.

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Filiação
A filiação tem uma expressão objetiva: o conhecimento da identidade genética da pessoa é
matéria de interesse geral e de interesse público.
A filiação pode ser constituída por uma destas modalidades, taxativamente: reconhecimento
voluntário, reconhecimento judicial e/ou presunção.

1. Reconhecimento Judicial – Ação de Investigação de Maternidade e Ação de Investigação


de Paternidade
Recurso a uma ação judicial com vista a obter-se uma sentença que constitua o vínculo
de parentesco entre duas pessoas: pai/mãe e filho/filha.

Incumbe ao filho – art. 1814º


Maternidade é atípica. Pode ser a mãe a pedir a sentença (art. 1814º) para que funcione a
presunção de paternidade para o seu marido (art. 1826º, 1828º, 1829º, 183º e 1831º) e a criança
não poderá considerar-se filha do perfilhante, e sim do marido

Quem pode propor a ação? Art. 1819º/1


 Prazos: art. 1817º27, seja maternidade ou paternidade (por força do art. 1873º) – Mag:
inconstitucionalidade material dos art. 26º/1 e 36º CRP pois o direito à história pessoal
é um direito fundamental (que engloba os interesses pessoais e patrimoniais e não há
“caça às heranças” porque tais interesses sucessórios são legítimos)
o 10 anos são compatíveis com o direito ao conhecimento da nossa historicidade
e genética?
 Conhecimento da maternidade pode ser proposta a todo o tempo e não
só nos 10 anos; o prazo viola art. 26º e 36º CRP
 Plano sucessório de saber se independentemente do conhecimento da
maternidade existem apenas 10 anos para receber direitos sucessórios
ou tal poderia ser uma "caça às heranças". Problema de saber se o
direito à herança é direito ou vantagem social decorrente da lei? Nos
termos do CC é entendido como direito subjetivo, portanto não há caça
a heranças porque eles são titulares desse direito à herança.

Filho deve provar que nasceu da pretensa mãe (art. 1816º) e Paula Costa e Silva admite que o
tribunal pode requerer exames de ADN. A questão levanta dúvidas na doutrina e Pereira Coelho
e Guilherme de Oliveira duvidam se pode haver imposição coerciva.

Presunção de maternidade (art. 1816º)

Paternidade: art. 1869º

2. Reconhecimento Voluntário – Declaração de Maternidade e Perfilhação


Declaração por parte daquele que se assume progenitor de certa pessoa, prestada
perante autoridade pública, e não sujeita a um regime unívoco de forma, à qual a lei
confere o efeito de estabelecimento da filiação da pessoa a quem se refere.

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Art. 1817º/1 – Mag: norma que tem história jurídica curiosa e o prazo é constitucionalmente discutível
(art. 26º CRP com o direito do conhecimento da família)

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Declaração de fixação de maternidade: declaração de maternidade (art. 1803º a 1807º)28


 Menos de um ano – art. 1804º
 Mais de um ano – art. 1805º
o Art. 1805º/2 - é necessário que a mãe venha declarar e deve notificar-se

Art. 1806º - caso de omissão do registo quanto à maternidade, a mão pode fazer tal declaração

Declaração de fixação de paternidade: perfilhação (art. 1849º a 1863º) – é ato pessoal e livre

Se for perfilhada por pessoa diferente do marido da mãe, só prevalecerá se for afastada a
presunção de paternidade (art. 1823º/2)

Presunção no art. 1826º + art. 1827º e 1828º


 Cessa no art. 1829º

Prazos para a impugnação da presunção de paternidade: art. 1842º


Paternidade estabelece-se por presunção dentro do casamento. Fora do casamento a
paternidade é reconhecida por perfilhação - ato de consciência - se não perfilhar há
investigação oficiosa.

Art. 1796º/1 - Mag: dúvidas quanto à compatibilidade com o regime da gestação de


substituição; artigo deveria de ser revisto, mas não é o único; artigo deveria também ser
extensível às uniões de facto

Não é mera declaração de ciência e hoje tem mais argumentos a favor: como a lei que vem
alterar a PMA (art. 8º - gestação de substituição)
Assento de nascimento é cada vez mais ato de consciência e do qual decorrem várias
implicações - já não é qualquer parturiente que pode registar como mãe porque há
diferença entre gestante e mãe jurídica
Implica que declaração de maternidade seja cada vez mais uma declaração de consciência e não
declaração de ciência - mãe é mais do que ser gestante

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Art. 1803º - mãe não é obrigada logo após o parto a registar a criança, mas se alguém o for registar deve
identificar a mãe
Art. 1804º - se a mãe nada disser, aquilo que ficar registado considera-se como o estabelecimento da
maternidade relativamente à menção que foi feita, nos casos inferiores a 1 ano. Regras de segurança
jurídica.

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