Julho/2009
AUMENTO DA CANA BISADA PREOCUPA ESPECIALISTAS
ALEXANDRE CAROLO, DE PIRACICABA
No Estado de São Paulo, a média de
cana bisada em cada safra é de 4%, no
entanto, nos primeiros meses de 2009, esse
número subiu para 12%. Na região de
Presidente Prudente, por exemplo, a média
de cana bis na safra 2008/09 foi de 20%,
em razão da crise econômica mundial. No
ciclo anterior, a média foi de 5%.
A aumento da cana bis, que
permanece em pé para ser colhida na safra
seguinte, é uma tendência para os
próximos anos. É o que alerta o presidente
da Stab Nacional e Regional Sul, José
Paulo Stupiello. Ele falou sobre as
consequências negativas da cana bis para a
indústria, em uma das palestras do Simtec
2009, em Piracicaba, SP.
O especialista disse que a cana bisada
revela um material estressado, mais
fibroso, com maior teor de amido (em
alguns casos 5 vezes mais), maior
incidência de pragas, além da redução do
volume do caldo (chochamento). "É uma
cana difícil de processar. A capacidade de
moagem deste tipo de cana pode ser de 5%
a 15% menor do que o normal".
Testes realizados este ano na Usina
São Luiz, no município paulista de
Ourinhos, revelaram que o teor de fibra da
cana bisada foi de 18,72%, volume 6,32%
maior do que a cana cortada no tempo
normal de safra. O mesmo teste mostrou
José Paulo Stupiello: material estressado, fibroso e suscetível a pragas
que a cor do caldo extraído da cana bis
ficou entre 13.872 e 16.357, enquanto na
cana de corte normal, a cor ficou entre
6.168 e 7.148.
Em relação à fermentação alcoólica, a
cana bis exige a aplicação de inibidores de
processo e maior tempo de fermentação.
Há também uma ligeira redução da
viabilidade celular, além da necessidade de
recentrifugação.
PRODUÇÃO, DADOS & NOTÍCIAS 19
Stupiello afirma que a densidade da
cana dificulta a alimentação. No
tratamento do caldo, o consumo de cal
aumenta, assim como o consumo de
enzima (amilase). Na etapa de
evapocristalização, há aumento de
viscosidade e do tempo de cozimento. Há
também a destruição de açúcares
(inibidores), além do escurecimento da cor
do açúcar.
O presidente da STAB chama a atenção
para o aumento do custo da moagem da
cana bisada, consequência da maior perda
de açúcar e capacidade da fábrica. O
especialista também não recomenda a
mistura das canas bis e normal. "Não se pode
misturar porque não há auto-regulagem. É
preciso ajustar a moenda de acordo com o
tipo de cana", conta.
A cana bis apresenta enraizamento
aéreo e encurtamento do carretel dos
internódios. Há brotações tardias, laterais.
Normalmente o primeiro indício de que a
cana é bisada é o tombamento,
principalmente em solos úmidos. Stupiello
afirma que a melhor maneira de evitar
mais problemas com a cana bisada é
avaliar as condições dos canaviais "in loco".
O tombamento e o enraizamento
aéreo fazem o teor de impurezas vegetais e
minerais aumentar, o que afeta
diretamente a produção, porque a extração
nas moendas é menor. Há também
aumento da produção de torta, formação
de incrustações, abrasão e corrosão no
interior das caldeiras, além de
comprometer a qualidade do produto.
A incidência destas impurezas
contribui para a contaminação dos caldos
por microrganismos de difícil controle. A
concentração de terra na cana bis aumenta
significativamente, permitindo a maior
presença de bactérias no processo, o que
acaba comprometendo o rendimento
industrial.