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Copyright Luiz Zanotti

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de 14/12/1973. É proibida a reprodução total ou parcial, por
quaisquer meios, sem autorização por escrito do autor.

Z36u

Zanotti, Luiz
Urucuia: Próxima parada/ Luiz Zanotti.
São Paulo: Catrumano, 2019.
14 x 21 cm.
76 pgs

ISBN: 978-85-64471-59-7

1.Poesia brasileira - B869.1

CDU 82-1
CDD 028.5

Produtora da ficha: Renata Lopes Mariano dos Santos CRB-8/7615.

Diagramação: Ricardo Bomfim


Projeto Gráfico: Jurandir Barbosa
Revisão: O autor
Fotos: Acervo do autor

Impresso no Brasil

Esse livro foi impresso por


Jurandir Barbosa Durães de Oliveira
Editora Catrumano do Brasil Eireli
CNPJ: 13.055.552/0001-49
São Paulo-SP | Setembro/2019
‘‘ andando,
se esbarrando,
nunca sabendo onde vai chegar
’’
Yamile1

Jazmín arrancada de mi jardin


Que insiste en difundir tu perfume.
El jardín fue profanado una vez más.
Y yo
Destrozado como Violeta
Estoy soltando mis lagrimas
Por toda el America Latina
Saudades por no lo habido conocida.

1
Abogada y dirigente política Yamile Guerra, fue asesinada
porque defendía el páramo de Santurbán, acosado ya años
por varios proyectos mineros, que pueden dañar todos los
ecosistemas que protegen a la ciudad de
Bucaramanga. También era conocida por promover el
proceso de restitución de tierras despojadas por la violencia".

URUCUIA: próxima parada


7
Prefácio

Pois é. A gente vai andando, se esbarrando,


sendo barrado, esculhambado e nunca sabe onde vai
chegar. Sai de Bateias meio desacorçoado. Sai dos
botecos de Campo Largo. Pois este é o meu caso,
acadêmico, professor e doutor, virei e girei e acabei em
Urucuia. Tenho muito medo dos bits vencerem os
beats, Talvez eu seja o ultimo beat. Mas ai, lembro
Aristóteles. Daí, salto de novo para a cruz. Vendo
nascer novos urucuianos que não Joãozinho empinando
sua pipa.
Onde que é isto Sô. Para quem não sabe é a
região onde Guimarães Rosa escreveu Grande Sertão:
Veredas. Coincidência? Eu também sou Roza. Luiz
Roberto Zanotti. Luiz Roza.
Mas enfim, este panfleto fala sobre um pouco
sobre Campo Largo, um pouco sobre a Romênia, um
pouco sobre Urucuia, mas muito deste meu coração
beat. Ele sussurra enquanto devia uivar como Ginsberg.
Se cala muitas vezes. Pira, transpira pois somos corpos.
Tenta fazer as pazes com a morte, a pior espécie de
solidão.
Este livro mistura o sertão com uma série de
poemas que tem a ver como a vida e as mulheres na
minha concepção ou pelo menos as que eu tive
oportunidade de conviver que são construídas em
nossos imaginários como castelos contra a dor e a
solidão mas não passam de castelos de areia que o mar
da vida quebra e leva embora ver o programa mulheres
de areia.
Luiz Zanotti
8
Mas estou em Brasov, na meia noite de um dia
inteiro. No expresso da noite inteira. Alguém roubou
meu palhacinho na Fazendinha, maldade... Mas existe
Urucuia, cidade laranja. Não quero falar como é
pequeno o meu pintinho. Vou caminhando iuiuiu. O
barzinho perto da rodoviária. Os sorrisos desdentados.
É um livro de lembranças de pessoas que já se foram. A
saúva continua cortando nosso coração. Mas o mais
importante pra mim foi perceber a importância da água.
Pois todas estas minhas lágrimas que correm dos meus
olhos não serão jamais suficientes para nos fazer
navegar o Judá.
A merda da internet é fazer como autores como
eu pirar. Eu não sei o que escrevi ontem e não tenho
projeto do que vou escrever amanhã. Então, aquela
grande poesia, aquele grande texto se perde na rede
intratexto. Sorry. Eu estou bêbado como sempre e quero
falar de uma nova história que ainda não inventei. Pêra
ai, é do cara e do coroa. Fui hoje beber no Pepino. A
mente a mil.
Vejo a senhorinha descendo estrada de terra que
vai levar ao meu lugar. Abaixo anda passos de japonesa.
Passos tímidos. Todos os meus relógios que estavam
parados voltam a funcionar, mesmo aqueles que a
arquitetura urbana das cercada por grades deixou fora
do meu pensamento: De onde vem tanto medo
O Rio Cascavel mostra o movimento de nossos
intestinos ao percorrer a areia arenaginosa do sertão
paranaense.
Surto bem ao lado de uma escola primária. Vivo
o reino maravilhoso de Baco.
URUCUIA: próxima parada
9
Em cada esquina um cão raivoso. Eu morto de raiva. E
daí, só me resta esperar a próxima carona. Mas não
espero, eu corro. Pois a vida continua deliberadamente
correndo. E dance, como nos propõe Zaratustra, vida é
movimento, é dança. Danço com milhões de gafanhotos.
Vintu de jos. * da manhã. Continuo pela mesma
estrada. Qual será a próxima parada. Ades? Terei que
enfrentar os cães de Caronte? Ou a perda do sentido das
palavras? Nada disso, vou voltar a viajar. Não continuo
até a próxima estação. Inácia? Talvez?

Luiz Zanotti
10
SILVER

Este livro foi feito em homenagem à Silvinha


Silvia/ Silvona/ Silver
Mar de prata no meu olhar
Estrelas na sua visão
Hoje já sinto a sua falta
Melhor amiga/ Melhor mãe
Florinda das flores
Sussurro/ Surro/ Substituo
O sorriso por Silver
Prepotente, presunçosa, assim como eu
Melhor amiga/ Melhor avó
Iemanjá/ Baile de formatura
Hoje já não sinto a sua falta
Porque você está em mim
A cada simples momento da fluidez do meu sangue
Me falando/ Minha irmã/ Melhor bisavó
Você tomaste todos os líquidos
Que ainda mereceriam ser conquistados
Mas ainda ei de achar um novo
E este novo liquido que vai nascer eu chamo
SILVER
O liquido prateado de nossas vidas
Água e os sonhos
O impulso que escava o fundo do ser primitivo
Que estabelece a profunda germinação.
Mergulho na sua piscina para encontrar a semente
Numa profundidade que valoriza o mistério
Uma imaginação aberta.
Pois é, você sempre sonhou antes de contemplar
Tudo pra você é onírico
Nós nos banhamos duas ou três vezes no mesmo rio
URUCUIA: próxima parada
11
E será no infinito ou no encontro nas águas.
Que nós de novo nos encontraremos.
Está cravado na profundidade.
Na nossa casa natal
Em nosso aquário
A água prateada sempre surgirá.
Pois você como a água é também um das maiores
valorizações do pensamento humano: a valorização da
pureza.
A supremacia da água doce sobre as águas dos mares.
O universo é infinitamente pequeno.
Para as águas prateadas, para suas águas amorosas.
Aquela água que você sempre me devolveu um pouco
de inocência e de naturalidade.
Aquela chuva que você faz cair
Águas profundas, águas mortas, água pesada.
No fundo do meu coração uma lembrança imperecível.
As águas nos levam para a morte
Toda água é clara, límpida como uma musica cristalina,
mas que vai se escurecer.
Contemplo Silver e me sinto escoar, morrer.
Pois a água , substancia da vida, também é da morte
para o devaneio ambivalente.
A Morte é uma viagem.
Silver e o mar, símbolos maternos.
Nós te amamos e damos a você a infinitude do amor por
uma mãe.
Alimenta com seu leite.
Toda água é um leite.
Mergulhe em mim, para poder surgir de mim.
Silver você que sempre nos ensinou a falar, apesar das
dores e das lembranças, me ensina a lidar.
Com a sua falta.
Tenho sede.

Luiz Zanotti
12
GERAÇÃO PSIU

Infelizmente ou felizmente, sofro de alka-seltzer, digo


Alzheimer, e não poderei lembrar-me da riqueza das
poesias que os poetas da Geração Psiu trouxeram para
esta casa das Rosas. Rosas, Guimarães Rosas, Elomar
Figueira de Melo. Lembro o ultimo, nos êxtases do
Alzheimer para dizer: Mas foi tanto doa=s vaqueiros
que reinou no eu sertão, se cantando o dia inteiro não
menajo todos não. Casas das rosas, apesar desta azia
cerebral não posso deixar de pontuar a importância do
movimento que já sobrevive a duras penas, não dos
escritores, a trinta anos. Psiu estabeleceu a importância
da poesia em alguns poucos setores da sociedade. Não
somos beat, não somos civilizados, não somos EUA,
somos Montes Claros. Não somos Ginsberg, nem
Kerouac, nem tampouco Burroughs, somos Aroldo,
Turiba, Jurandir e tantos mais. Somos Téo de Azevedo.
Mas, também não temos Donald Trump, e trampamos
pra caralho pois vender um livrinho de poesia por dez
reais é mais difícil que convencer todo um povo. A
Geração Psiu pode ter passado despercebida pela mídia
devorada pelos metais sertanejos. Mas ela nunca deixou
de ser fazer presente e deixar o povo falar. A Geração
Psiu será descoberta daqui a muito muito tempo quando
deixarmos de ser um Brasil mudo. Quando elevarmos
nossa voz e sairmos do berço esplêndido O nosso Psiu
não é pra calar e sim pra deixarem ouvir a nossa voz. É
pra mostrar que conseguiremos rever a nossa voz e
deixar calar as Dilmas e Lulas da vida. É pra deixar
calar os que não se preocupam com a fome, com a
violência e com a mulher. Mas este país nos ensinou a
nós Geração Psiu, que é melhor calar do que o
calabouço. Nós desta geração que vivemos sobre o
hedge do silencio.
URUCUIA: próxima parada
13
As crianças nas cadeiras jesuíticas convidadas a calar.
O réu político corrupto frente ao júri diz que nada tem a
dizer. Instalado uma lei do silencio moral e imoral de
assedio sexual que proíbe o psiu para a moça mas que
deixa o pedófilo ficar calado apesar de condenado em
varias instancias. Psiu não é para calar e para você
ouvir a nossa geração Psiu. Alguém fez psiu e ecoou no
coração do Brasil.
E da deixamos de nos calar

Luiz Zanotti
14
SUSSUIVO
Para Allen Ginsberg

E quanto mais eu me embaraçava


Mais eu procurava entender o significado
Das estreitas estradas de barro e lama da Fazendinha
Procurava entender a casa onírica
A minha mãe
E vamos revolucionar
Cadê os piolhos
Cadê os chatos da sua buceta
Não me vexe não
Tenho um acorde misterioso no meu coração
Não uivo, simplesmente sussurro
Tudo aquilo que as monjas de verdade não querem
ouvir
A verdade
Não existe verdade
Somente resquícios da pele fina
Do diamante fino
Daí, eu lapido as palavras
Mas não sou um bom ourives
Não consigo fazer ou trazer perolas do fundo da
linguagem/pensamento
Canso
Como canso nesta minha imensa inabilidade de
transformar bosta em perolas
Sou o Rei Merdas
Transformo perolas em merda
E daí
Tudo é matéria
URUCUIA: próxima parada
15
Pelos franceses caídos pelo Estado Islâmico
SUS
Surro
O governo pelos doentes brasileiros
Muito mais que os cento e vinte franceses
Que vão morrer
Não por culpa do Estado Islâmico
Mas por culpa de nós todos
Surro e sussurro a minha, a nossa poesia, porca e
decante
Que não mais altera nada, não serve pra nada
Sussurro e surro e me tornarei surdo
Pelos apelos de humanidade
Pelas velas recolhidas e postadas em frente a tantos
altares da miséria e da televisão e da
internet
Quero voltar aos apelos de uma humanidade que tinha
Kerouac
Ginsberg
Burroughs
Mas sou apenas
UM VAGABUNDO UIVO NÚ NA ESTRADA

Luiz Zanotti
16
INAUGURANDO 2019

Gritos de horror
Frio na espinha
Ranger da geladeira
Nada de Magic Slim
Nenhum Jimmy Hendrix
Só nos sobrou Bolsonaro
Os bits venceram os beats
Aplausos emocionado de honor
Brasa do churrasco
Crepitar das chamas
Tudo do Adolf
Eternamente Costa e Silva
Vivemos com o que sobrou nos nossos bolsos
Os bits venceram os beats

URUCUIA: próxima parada


17
PRÓXIMA PARADA

Procurando Urucuia
Procurando sem insensatez a minha identidade
Olhei de um lado
O meu lado cimento
E do outro
O lado tijolo
Um cinza nojento
O outro
Um coração crioulo
Quem é o herói da historia?

Luiz Zanotti
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FUNGO

Fungo
Sempre que se dá um breakdown,
Eu procuro você
Minha poesia
Merda, poeira, nada
Não consigo resgatar nada
E existe algo a ser resgatado?
Sempre que eu me encontro numa storm
E eu procuro dentro de mim
Só vejo a merda, a poeira, o nada
Que poderiam me dar consistência
Então procuro o puro,
O puro, o pulo, o vinho
Fungo cada vez mais
E cada vez mais me pareço com os fungos
Sempre que se dá um deja vu,
eu procuro você
Minha poesia
Carinhosa, poeira, nada
Consigo resgatar o nada do seu olhar
Nada a ser resgatado
A tempestade se encontra em mim
Esta longe de dentro de mim
A merda, a poeira, o nada
Que poderiam me dar consistência
Puro, puro,
Pulo o vinho
Fungo cada vez mais
E cada vez mais me pareço com os fungos

URUCUIA: próxima parada


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DESISTI

Realmente o que leva um ser a desistir


O que leva um ser a existir
E o que o leva a coexistir?
Difícil questão.
Poderíamos ser sozinhos
Como os pássaros ao deixar o ninho
Mas somos incentivados a união
Seres humanos
Animal consciente
Falava Aristóteles
Idealmente o que leva um ser a se incluir
Numa atmosfera bizarra de um facebook
O que a achar que assim existe
E o que o leva a coexistir?
Difícil questão.
Poderíamos ser sozinhos
Como os ácaros num colchão
Mas somos incentivados a viver em colônia
Somos seres humanos
Mais jamais animais conscientes
Desculpe Aristóteles

Luiz Zanotti
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Preâmbulo

Eu jamais conseguirei ser cem por cento poeta como


foram Ginsberg e Whitman, pois pousa sobre mim a
importância da família, de educar, de ter posto alguém
no mundo pra cuidar. Além disso, existe o lance da
epifania, pois, diferentemente do que todos os poetas
acreditam escrevemos com o corpo com as mãos, com a
maquina de escrever, e este momento é o ultimo que
temos possibilidade de abarcar a realidade. Esperou para
escrever depois, já era. Foi e não é mais arte, e como diz
Heidegger, a poesia é o nosso único e ultimo contato
com a realidade, e daí eu escrevo esta epifania quando
voltava de Curitiba para Campo Largo:

CALO?

Na velocidade desenfreada do carro de Jagrena


Vejo a imagem obliterada pelos pingos da chuva no
pára-brisa da Igreja da Fazendinha
Estou no fundo do fundo do poço que ainda tem um
alçapão
Mas é melhor viver calado e deixar um regado
Deixei minha terra, minha saudade, meu pé de qualquer
coisa, no meio de uma fumaça, solidão e fuligem.
Moloch de Ginsberg
Mas sempre quis deixar algo, que alguém falasse, que
alguém achasse legal dizer, como um santo, um político
ou ao menos um fanfarrão.
Queria deixar a pureza que existe no teatro triste tigre de
Vilsek
URUCUIA: próxima parada
21
Queria levar os acordes dissonantes que tiram o som
e o sono de Jaremick
Queria ser mais Campo Largo e menos São Paulo
No congestionamento asfixiado de racionalidade
cartesiana
Não consigo desvelar o seu eu que existe
Além do seu eu minha amada
Estou no alto da montanha, acima de tudo,
Grito e ouço meu eco
Vou atrás do meu eu verdadeiro que é cantador, poeta e
preliminarmente falso.
Ouço o meu eco, melhor do que ser cantado é ser
lembrado, algoz juvenil.
Volto para estrada, de nunca deveria ter saído
On the Road, sou Kerouac
Sai da onda de falar sobre a exacerbação da
racionalidade
Vou falar somente sobre a Roberta dançando com as
mãozinhas de Cleópatra
Somente as canções que a Luiza gosta de cantar:
Maria, Maria
Exatamente o que você espera: não vou ser como a
maioria dos poetas:
Vou calar

Luiz Zanotti
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LONGE DA CRUZ

Salto de novo a realidade


E peço um pouco de carinho
Lembro dos momentos no caminho
Do perdão que machuca e fere
A luz se ascendeu
E não me deixou mais ver as estrelas
O amor nunca mais ira brotar
Outros são os planos
Outros são os tempos
Suas mãos, este imenso tormento
Os seus braços cruzados em cruz
Final da paixão
Apaixonar, verbo difícil de predicar
A rudez, a insensatez
Choro por dentro este encontro
Minha cruz
O abraço, a nudez
Falo insanamente
Quero morrer longe desta cruz

URUCUIA: próxima parada


23
NEGRINHA

Vejo uma negrinha sentada na beira fio


Ouve um regae, um funk, sei lá
Na janela à frente pendurado um guarda chuva
A chuva chegou em Urucuia
Não como queiramos
Mais veio
O sapo que eu tirei com o ancinho pela manhã
Esbalda-se numa das poças
O feijão de corda esta seco
Mais um filho de Urucuia nasceu
Gabriel
Não consigo amarrar os cadarços do meu tênis
Vejo uma borboleta sentado numa flor
Orquídea, violeta, flor campestre, sei lá
No pasto à frente nenhum boi, nenhuma grama
Eu derrapando pela areia de Uru cuia
Não como desejava
Mais aconteceu
O carro eu quase caiu na ribanceira pela manhã
Agora troca pneus
A carne seca não secou
Mais um filho de Urucuia nasceu
Odília

Luiz Zanotti
24
PIRO

Transpiro
Vejo o suor saindo de suas palavras nuas
Toscas, enviesadas, sem sentidos
Você emaranha meu cabelo
Desafia meu tesão
Que está perdido entre as minhas pernas magras
Nas piras, nas pirocas
Nos porres de Houfhman, nas piras das tochas olímpicas
Mas este suor
Não é desidratação de água e sal
É puro esperma
Mas não de uma relação entre corpos solitários
É um suor sozinho e solitário
Então Trans-piro
E percorro todo caminho trilhado pela humanidade
Percorro por tudo que é abjeto e que é saído de nossos
corpos
Tudo o que nos enoja
Urina, suor, merda, saliva, esperma, catarro,
menstruação, gases, babo
Amanhã acordaremos com o fedor de nossas bocas mal
escovadas
Cheias de e/ou cheirando o gosto acre da buceta ou do
caralho
Você ira colocar a gravata
E você o salto alto pra mais um dia de trabalho
Tudo não passa de uma grande alegoria
O pau que tocou fundo
Que lhe fez chamar de meu amor
Esta perdido na cueca samba canção
Mas na verdade a única musica que tocou na madrugada
perdida
Foi a musica do corpo
URUCUIA: próxima parada
25
O resto não valeu a pena
Não vale a pena comentar
Falar
Falo/ânus /falaz

Luiz Zanotti
26
VERDE

Joãozinho empina sua pipa


Verde e branca pelo céu azul
Vai Joãozinho solta a linha do carretel
De repente a o fio elétrico
E a pipa vira bandeirinha de Portinari
O verde da pipa cresce num muro
Bem na frente da criança
Que não o vê
O muro as separa
Dentro deste muro uma casinha de boneca
E mais verde crescendo pelas arvores
Uma renda portuguesa
E Bela Adormecida voltando para a casinha
Uma grande pedra de cristal e o príncipe
Agora o vento empina a pipa de Joãozinho
Solta do seu carretel, mas presa ao destino de pipa
O cárcere liberto do céu azul
Vai Joãozinho pelo muro
De repente o tombo para o outro lado
E o vermelho do sangue vira quadro de Poloski
O vermelho se espalha por entre o verde do muro
Bem na nossa frente
Que não vemos (ou esquecemos) a criança
O muro que nos separa
Deste mundo descolorido
E da casinha de boneca
Com todas as suas matizes
Está pintado de vermelho e verde
Parado
Agora só me resta
Soltar a linha do meu carretel
E esperar novos ventos

URUCUIA: próxima parada


27
QUIMERA

Faixas continuas dos lados


Viajo
Não como Kerouac
Mas na estrada de Bateias
Onde procuro quimeras
Que merda
Rifes de guitarra
Mostram a vida
Que muito segurei
Dedilhados do teclado
Trazem os sonhos
Mas ai acordo
No beco do Zampier
Gente ouvindo merda alto
Cachorros deseducados como os donos
Dormindo o dia
Uivando a noite
Gente ruim, gente pior que gado
Se você me discordar
Não posso me desculpar
Vou ouvir meu radinho
Baixinho
Em outro lugar

Luiz Zanotti
28
FAZES

A since
Ridade
As vezes
Rói
As vezes
Dói
Fases
Fazes
Fezes
A terceira
Idade
A humanidade
Muitas
Mas as vezes
É dor
Cadáveres
Putrefatos
Cadê você?
Milhares de cebolinhas
Perdidos no balcão
Uma aliança
E um discurso
Perdido
Que não sabe
O que quer
Ser
Assassino ou pastor
Realidade ou escritor
Pai severo
Ou mero gestor
Querendo tudo
E não é nada

URUCUIA: próxima parada


29
RAPIDAMENTE

Depois de tantas palavras ditas


Dito Benedito acredito
Em dEUS?
Talvez.
Encontro com bêbados igual a mim
Nos butecos de Campo Largo
E , depois de tantas palavras tontas
Tonteria, tolice, cálice
Sempre acaba em dEUS?
Talvez não sejamos capazes de falar da mãe
Da canção que adormece as crianças
Da canção que nos tira da embriagues
E mesmo sabendo que a palavra dita
É a Benedita
A raiz de um povo que não saiu do rascunho de um
papel
Que enobrece capitães
Que não são de areia
E preferem o chumbo
Dito Benedito acredito
Em dEUS?
Talvez.

Luiz Zanotti
30
A MORTE

Nada acontece em Urucuia


Todos dias iguais
A eternidade
Nada muda
Todos os dias morremos um pouco
Por que fez aquilo
A morte no Islamismo
Porque não atropelou ele
Porque não vai pelo caminho direto
E ai continuamos
Perdemos amigos
Garotos
Que vão direto pra o céu
Herói, mártir
Não confiamos em você
Burguês
Achei que você não entenderia
Sexo
Me conta, preciso saber.
Vida
Me fale deles.
Deus.
Aqueles santos que o guiam.
Sete dias, hora do rush
As células
Abra o portão do paraíso
Hades, Caronte
Quero desistir
Me aguarde
Instale o programa
Vamos estourar a célula
Vou embora
Não
URUCUIA: próxima parada
31
Vou sair
É uma pena
Quero ser mulçumano
Mal conheço a si mesmo
Que alguém cuide de minha alma
Já que eu não pude cuidar
Sou um bom policial
Esta não é a questão
Qual será o numero de vitimas
Santiago de Compostela era o purgatório agora escrever
sobre a morte
Dante
Urucuia
Qual o numero do seu terno para o enterro
Ruídos
Som de zumbido
Coberto de sangue
Bem-vindo a Meca
Mexendo nas coisa dele
Ele esta mentindo
Abre a porta do elevador
Stairways to haven
Zora
Porque deixou ele entrar
Eu que insisti
Sinto muito
Você está me machucando
O que você quer contar neste momento final
Problemas
Lava o seu corpo
Bata na porta
Noque noque on the heabes door
Sabe como eu percebi
Não se encontre sozinho com a esposa de outro
O alvo tem que mudar
Luiz Zanotti
32
Ordens são ordens
Somos bárbaros, inimigos
A sua bota espremendo meus dedos
Explosão
Mulheres e crianças
Seu filho
Ninguém pode deter o mal
Comece a rezar
Cala a boca, vai se danar
Quem dá as ordens
Estamos em guerra
Vitimas
A bíblia em suas mãos
Explicação
Guerra santa
Alá
Matar crianças
Responda
O meu olhar penetrando o seu olhar
Estou fora
Sangue jorrando
Inferno
Ler Dante
Saio do carro e encontro você
Qual vai ser o campeão
Vou acreditar que você é melhor do que eu
Não tenha medo
Ela vem lentamente
Por mais rápida que apareça
E fecha a porta para a realidade
The Doors
Chore
Beije
Se possível na boca.
Não custa nada
URUCUIA: próxima parada
33
Lagrimas não enchem o Urucuia
Beba um copo d’água
Enquanto existe
Bombas no porta-mala
No dia seguinte seu corpo estará coberto de sangue
Ou sem
O que eu quero dizer?
Que compartilho a sua visão de mundo.
Que você não está sozinho.
Abra a porta para o inferno
Grave a ultima entrevista com o diabo
Fale
O que?
O que quiser.
Amanhã te encontro.
Mas está morte é só sua
Única coisa que em vida é só sua
Te amo.

Luiz Zanotti
34
A SOLIDÃO

O roubo dos bonequinhos dos primos


Desorientação na bebedeira para Raposo
O que eu me lembro da vida?
Tocar bateria na lata de leite ninho
As idas na igreja do Jonas
Paixão pela Lidia
Festivais: minha mãe puta da cara
Rasputin
Movimento Rumo. Eu Pedro e Helton
As cagadas de Urucuia

URUCUIA: próxima parada


35
BRASOV

27 de outubro de 2013
Na meia noite de um dia inteiro
Dei três voltas na catedral negra
Não apareceu nenhum diabo
A minha alma está em baixa
Ninguém quer
Ao meio dia de uma noite inteira
Entrei pelos labirintos do conde Drácula
Meu sangue avido de ser sorvido
Meu corpo querendo ser tocado
Nada
Imensas galerias, escadas esperando por escalas
Bruma sem existência
Castelo sem príncipe
Príncipe sem princesa
Sem grandes emoções
Atentei
A sua carne branca
A quentura de suas coxas
O vão entre suas coxas no meu pensamento
Sórdido, porem sólido como uma rocha
Tranças trançadas trancadas na escadaria do meu
pensamento
Arranque o que sobrou da minha existência
Aquilo que nem o demônio de Fausto quis

Luiz Zanotti
36
CLUJ NAPOCA

26 de outubro de 2013 5:45 à caminho de Vintu de Jos


O expresso da inteira noite
As janelas sujas e embaçadas não permitem ver lá fora
E nem mesmo dentro de mim
Velhos romenos de boinas dormem
Jogados sobre os bancos do trem
A inteira escuridão da noite romena
Desabou sobre a minha alma
Palavras estranhas sussurradas
Formando novas palavras
E se perdendo nesta mesma solidão
Mas estas palavras não são e nem soam menos estranhas
Que aquelas que você inventou para me machucar
Nem são mais nem menos solitárias
Somente estranhas, talvez até menos estranhas
São quase humanas ou desumanas sei lá
Simulacros daquilo que um dia chamamos de
humanidade
Os jovens romenos que cantavam Love my life do Quen
no barzinho da peatonal Potaissa
Ainda tem algo a dizer ou a cantar possível de se
entender
Eu e os velhos do trem não temos mais nada para dizer
ou para cantar que possa significar algo
Somente esta maldita negritude suja e embaçada
Somente este choro antigo da velha camponesa
Com o mau odor do corpo ou das palavras não faladas
A incrível capacidade de sofrimento
Nada a fazer ou a falar senão sentir o medo da
aproximação da morte
Somentemente nada a fazer
Somentemente nada a falar
Somentemente o triste balançar do trem da eterna noite
URUCUIA: próxima parada
37
Sussurrando em nossos ouvidos cansados de tanta dor,
de tanta vida
Tata tata
Tata tata
Tata tata
(balançar a poesia)

Luiz Zanotti
38
O ROUBO DO PALHACINHO

Mãos fortes encontram a barra da asa delta


A janela aberta expõe a intimidade do poeta
Mãos sujas agarram aquilo que está mais próximo
O infinito estará muito mais além e julgara

Olhos remelentos de drogado


Mulher remelenta de drogado
Mãe que encobre o crime do palhacinho
Mãos que estão cobertas de ódio

Abro a porta cinzenta de um novo amanhã


Tento ser um novo São Francisco
Mas sou só Luiz, São Luiz
Amanhã estarei de novo na Fazendinha

Orando e transando com a senhora do Miqueleto


Bebendo o meu Dimel com os amigos
E entediado com esta vida Severina
E com o roubo feito pelo meu vizinho drogado

Mães sujas encobrem a fraqueza dos filhos


Meu palhacinho da asa delta voando na sujeira deste lar
O coração do poeta não aguenta, quer voar
Mães sugam todo aquele sangue que restou do meu
coração
O finito esta muito próximo e mata

Respiração ofegante de drogada


Olhar repelente de serpente
Meu palhacinho abandonado
Nas mãos que estão cobertas de ódio

URUCUIA: próxima parada


39
Tranco a porta violentamente para um novo amanhã
Tento ser de novo um poeta
Mas sou só Luiz, Jeca Kerouac
Nunca mais estarei na Fazendinha

Mijando e cagando na igreja do Miqueleto


Mentindo estórias de sexo e cruz com os amigos
E endiabrado dentro desta vida dionisíaca
E querendo acabar com o meu vizinho drogado

Luiz Zanotti
40
NÃO QUERO

Não quero te falar


Você é um pequeno amor
Como é pequeno meu pinto
Quero denunciar o que fazem comigo
Sou obtuso, retardado, fora do tempo
E daí?
Se eu concordar com a rejeição do meu artigo
Me torna melhor?
Sim, ele entendeu.
E Allen Ginsberg entenderia?
Merda!!!
Não quero te falar
Você é o meu grande amor
Homossexual
Não como eu
Mas você faz do seu pinto o que quiser
Quero mesmo denunciar o que fazem comigo
Que te defendo e sou retratado como
Obtuso, retardado, fora do tempo
E daí?
Me ajuda Ginsberg

URUCUIA: próxima parada


41
URUCUIA II

Sobre o acidente que matou várias pessoas


Cidade laranja
Com todos os seus tijolinhos intestinos a mostra
Cidade
Não esconde a dor que tem em suas virilhas
Tijolo por tijolo num desenho lógico
Telhas protegendo as nossas cabeças
Rio laranja
Com todos os seus redemoinhos convidando
Para a morte
Que não esconde a dor da vida
Que vivemos
Cada barco tem uma direção
Algumas naufragam
Salvador, Xingu
Urucuia
Falta reboco em seus lares
Muros altos, pouca tinta
O rio do meu amor de Guimarães
Mostra como é difícil viver
O principio da aguacidade
Secamos a cada momento
Não podemos mais esconder as lagrimas
Que secam
Tudo seca
Gotejar por gotejar numa tragédia provável
Telhas protegendo as nossas cabeças
Do que?
E a chuva não vem.
Ao invés de redemoinhos do rio
Temos redemoinhos de morte
Procuramos nos esconder
Que vivemos
Luiz Zanotti
42
Cada barco tem uma direção
Seja para Salvador ou Xingu
Todos navegam para o Ades

URUCUIA: próxima parada


43
PEDRO

Se você não está lembrando


Abre as portas da percepção
Foi nas ruas da Zuquim
Nos tempos de felicidade
E de que o amor corria lento
Você tinha tomado um pé no cú da Aurea
E eu da Silvia Bigode
Mas Santana era só felicidade
Hinos de louvor no Natal nas guaritas da Voluntários
Corra, pois existem sempre gente
Querendo você e te desquerendo
Olhando por cima de seu ombro para te criticar
Se você esqueceu
E agora talvez tenha esquecido
Sou ainda seu melhor amigo
Que perdeu milhões de chances de te fazer feliz
No nosso quarto irmão da rua da Zuquim
Nos tempos de inocência
De que você me levava pela mão ao Salete
Que eu ainda não tinha tantos caranguejos no peito
E eu da Silvia melhor amiga
Mas Jardim São Paulo era só felicidade
Bolo de aniversário feito numa espiriteira Jacaré
Morra, pois existem sempre gente
Querendo você e te desquerendo
Olhando por cima e esquecendo
Que também vão morrer

Luiz Zanotti
44
TODA DESCIDA

Toda descida
Toda retorcida
Tijolos de barro
O solo de jazz sobre os telhados
Que não são os daqui
Mas que possuem a mesma chama de vida
Você me entende
Que o nunca sempre existe para aqueles que acreditam
Toda reviravolta
Swinging in the rain
O som é afrodisíaco
Bandinha alemã tocando musicas folclóricas
E eu preciso ir
Para um lugar estranho, sem amigos
E quando nesta noite estranha e sem luz eu estiver
Vou querer respirar as nuvens
Vou querer muito mais que ser o tempo
E na escuridão eu furarei meu buraco
Vamos dançar na calçada
Quem você acha que é
Vamos dançar
Mesmo que falte o ar
Eu perdi toda a possibilidade de razão
Ao menos que você volte para o meu lado
Desce dos céus ao inferno
Ferro virado em aço
Torcida nas arquibancadas
O sono tranquilo dos corruptos
Ponte para o céu de Maomé
Não chame isto de existência
Você nunca me entende
Que o sempre acontece numa reviravolta
Como numa roda gigante ao contrário
URUCUIA: próxima parada
45
Fucking in the rain
A chuva é afrodisíaca
Um tsunami arrebentando as frágeis tendinhas humanas
E eu preciso rir
De algo estranho, coisas que acontecerem com amigos
E, não existe a conjunção “e”
O resto é uma possibilidade de ouvir um gemido
Sentido em meio a um sexo
Um momento
Em que alguém diz sentir alguma
Estou num momento que não acontecera jamais
Vou querer sentir o seu corpo
Vou ver muito mais que as luzes choradas de uma velha
roqueira
E na batida taquicardíaca da bateria
Vamos dançar na beirada do abismo
Você pode me ver?
Vamos dançar
Mesmo que falte o chão
E nos perdemos na imensidão do vazio
Tendo você o meu lado

Luiz Zanotti
46
SAUVA

sau
va
vaidade
o olhar se adentrou no portal
e tornou
babou
por aquela grande figura
a vaidade
vai

a verdade
abre o coração e vê
que aquela coisa que era ruim
se tornou
sauva
saliva
saudade

URUCUIA: próxima parada


47
ÁGUA

As lagrimas que correm dos meus olhos


Não serão jamais suficientes
Para nos fazer navegar o Judá
Kerouac pelos caminhos de asfalto
Eu pelos caminhos secos do rio
Sou pó e poeira
Água
Bendita palavra
Benta
Bendita, planeta, última vontade do meu ser/sede
O ser é sede e a sede de tudo
Alegria, dinheiro, sexo
Mas, sobretudo, sede
Água
Minhas lagrimas secam como o Urucuia
E seus afluentes, meu Judá
E eu sou cada vez menos barqueiro
E cada vez tenho menos vida
Águas ... Só as do Hades
Caronte
Bendita vida, vamos virar esta página
E encharcar os nossos córregos e rios
Para não defrontarmos Caronte
Água para nossos filhos

Luiz Zanotti
48
IUIUIUIUIU

A boca como um assobio


Iuiuiuiuiu
Pensando nas coisas deixadas
Desde que aportou aquele velho navio
Neste novo mundo arcabouço
Porra
Nada muda
Nada inunda
O nada imundo do navegar
Tifo
Tiro
Pólvora
Noticias de genocídio
Destino
Porra
Lululu
Daí
Nasceu a minha bonequinha
Na boca como de quem assumiu
Uma música que eu fiz
lululu
Largo os maiores portos
Seguros
Para deixar coisas importantes para traz
Desde que aportou aquele velho navio
Porra
Nada muda
Nada inunda
O nada imundo do navegar
Tifo
Tiro
Pólvora
Paz
URUCUIA: próxima parada
49
Gente que vem da Polônia
Gente que vem pelo mar
Felicidade rasgante
Que atinge como um raio
As novas descobertas
Tuiui tuiui
A vida como um assoalho
Tuiui tuiui
Solto todas as amarras
Deste velho navio
Longe de saber do calabouço
Urra
Não há mais mudas
Só o meu emuder continuo
Nada a falar
Tipo
Retiro

Noticias de genocídio
Destinados ao jornal da noite
Orra
Tuiui tuiui
Dali
Nasceu a minha formiguinha
No relógio de quem assumiu
Notas músicais
tralala
seguro-me as corrimões
Não tão Seguros
Para não me deixar cair
Escorregar
Daquele velho navio que aportou no cai
Porra
Nada muda
Nada inunda
Luiz Zanotti
50
O nada imundo do navegar
Tifo
Tiro
Pólvora
Paz
Gente que vem da Polônia
Gente que vem pelo mar
Felicidade rasgante
Que atinge como um raio
As novas descobertas

URUCUIA: próxima parada


51
O BARZINHO

O barzinho perto da rodonãoviaria


Não tem nada
Apenas apresenta a loucura de um neném no braço
Vivo apenas
Vivo tudo isto e não consigo
Traduzir em palavras
Este pequeno sertão
Não tenho os neologismos de Guimarães
Não sou nem Rosa e nem Kerouac
Não sou
Nada
Vejo um vulto passar por traz de mim
Um cachorro pulguento
A dona do restaurante, mãe do neném
Está aflita
Quer fazer o almoço pra num sei de quem
Eu no meu kit
Caralho
Podia ser homossexual, como Ginsberg e uivar a queda
de Urucuia
Podia ser Toninho Silva e uivar a extinção da corrupção
Mas entre a lógica e a realidade existem homens
Sapiens?
Sabia sabia assubia
Esgotamos todos os recursos do mundo
Cansamos este mundo fatigado
E eu também cansei
Quero voltar a estrada com Sá. Guarabira, Kerouac e
Ginsberg
Batidas de panela as sete da noite
Não são exatamente o som do jazz
E nem do rock rural
Não são nenhum som
Luiz Zanotti
52
Entrecortes servidos nos restaurantes da Paulista
Baby beef não aplacam a nossa fome
Não nos fazem mais brilhantes
Cansei do púlpito da igreja evangélica
Urucuia, a cidade e o rio se despedaçando
Milhares de pivôs
Robores, transformers nos amedrontando
Milhares de rigotes
Que veem somente
Aquilo que só vamos ver a cem anos
A destruição
Bem, voltamos à estrada poeirenta até São Francisco
Nenhuma estrada nos leva ao coração de Urucuia
Nenhuma artéria
Somos safenados
Urucuia só existe no coração de cada bêbado
Em cada triste habitante
Em cada zumbi tomando café da manhã na frente da
casa poeirenta
O mundo parou aqui e esqueceu de prosseguir
Esqueceu de mandar água
Universo sem água
A frescura de um corpo jovem e nu
No abandono de uma vida vida que foi abandonada ao

Morro várias vezes
Não consigo soletrar Grande Sertão
Uai
Queria ser Ginsberg, ou pelo menos Graciliano
Mas eu sou muito mais
Sou matuto
Passo ao lado deste toda esta revolução de iphones e
wifis
E ouço o ranger das rodas dos carros de bois
Uuuolllh
URUCUIA: próxima parada
53
Ooollhhha
Aaaaiiiiii
Deus quer me parar
Tem medo que eu revele o segredo da vida
Buceta
Podia ter sido traficante
Ser preso e sentenciado na Tailandia
Pena capital
Podia ser pastor de uma igreja evangélica
Ou de uma seita
E anunciar como Jim Jones a ressurreição dos fiéis
Mas prefiro a magia da folia de reis
Pois entre a fantasia e a ficção
Estamos nós, homem, animal.
Sapo com a boca costurada.
Fabio do que?
Vamos vivendo. Nos odiando e sorrindo
Dois vivas para a rede Globo
To o pique agora
Quero ser Luciano Hulk e Faustão
Batidas de punheta pelas dançarinas
Não compõe um samba
Mc Donalds na veia
Geração e vida merda
Imaginei Urucuia como a minha noiva
Cheiros, pura e linda
Como me apresentou padrinho Guimarâes
Mas no meio da festa de casamento
Olhei os convidados
Na eram de Guimarães
E eu tentando realizar este casamento
Sonhando com as veredas que ainda existem
E sonhando com aquilo que temos de melhor
Ser brasileiros do norte de Minas Geraes

Luiz Zanotti
54
CALDAS

A vida no bar
Bebidas, sorrisos e desdentados
Quer ver o que vai acontecer?
Entre conhaques e cervejinhas
Não consigo distinguir a face do anjo loiro
E nem tampouco beber as nuvens
Porque quero ver a cara de Deus
O cara
Morre como morre no porre de cada momento
A cada momento que fico mais tonto e torto
E me enrosco como uma rosca
Olá, quero falar com Alan Poe
Poire
Não
Esta palavra estava cravada em desejo
De não ser língua portuguesa
Toque um som de Vitor Jara
E deixe as mãos livres pra voar

URUCUIA: próxima parada


55
SOMBRINHA

Vejo a senhorinha descendo estrada de terra


Abaixo
Passos tímidos
Todos os meus relógios que estavam parados voltam a
funcionar
Vejo a arquitetura urbana das cercada por grades
De onde vem tanto medo
O Rio Cascavel mostra o movimento de nossos
intestinos
Percorrendo a areia arenaginosa do sertão
Surto
Ao lado de uma escola primária
Vivo o reino maravilhoso de Baco
Preciso saber de onde veio esta senhorinha e toda a sua
humanidade
Descartes bebia vinho
Kant era viado
Hegel nulidade
Viva a vida urucuiana
Da qual Guimarães é uma ínfima parte

Luiz Zanotti
56
ADEUS URUCUIA

Em cada esquina um boteco


Em cada boteco a figura de um sertanejo
Passo
Em cada passo um cercado de arame de galinheiro
E um cão raivoso latindo
Se não tivesse a cerca, seria o cão mais dócil do mundo
Dois troncos de madeira feito banco
Para a conversa do alvorecer e o entardecer
Aqui a vida passa mansa
O vento é que incomoda
Cria moda
Traz um mundarão de areia
Em cada vida uma história
Legitimando este povo sertanejo
Paro
Em cada sussurro do meu pensamento
Ouço um cão raivoso latindo
Que se não tivesse a cerca, seria o cão mais dócil do
mundo
Duas possibilidades de vida
Para o que virá e para o que já se foi
A decisão atrapalhada
O vento é que incomoda
Cria moda
Traz um mundarão de ideias
Em cada esquina uma esquina
O rastro morno de um sertanejo
Gaguejo
Acabo carcarejando como uma galinha
Amedrontada por um cão raivoso
Não percebo a cerca que me defende
Duas taquaras e um rolo de arame
Que brilha no alvorecer e o entardecer
URUCUIA: próxima parada
57
Aqui a vida passa mansa
O vento é que incomoda
Cria moda
Traz um mundarão de penas e ciscadas
Em cada ombro, um chora
Lacrimejando uma vida perdida
Titubeio
Em cada aspirada deste clima seco
E um ladrão de minha memória correndo
Que se não tivesse a cerca, seria contido
Abraço-as, as diversas possibilidades da minha
existencia
Para o rir e para o chorari
Decisão atrapalhada
O vento é que incomoda
Cria moda
Traz um mundarão de caminhos

Luiz Zanotti
58
CORRO

Corro sempre das discussões


Estou minguando
Absolutamente
Morro
A cada uma das inter-relações
Quero vida
Viva
Coro
Dos gregos na minha morte
Soa
Os sinos da catedral que não existe
Coro
O meu rosto vermelho
Sou um ponto fora da curva
Absurdamente
Renasço
A cada uma das interrelações
Quero vida
Viva
Coro
Dos gregos na minha morte
Soa
Os sinos da catedral que não existe

URUCUIA: próxima parada


59
DELIBERADAMENTE

A vida continua deliberadamente correndo


Entre folias
As de rei
E outras mais
O espaço preto formado por triângulos
Dizem da eferemeridade da vida
Eu vou virar um caramujo
Encontrar uma concha e se esconder
Mas no meio do sertão
As possibilidades são poucas
Rabisco
Tento lembrar todos os produtos do barzinho de Severo
Doces de abobara cristalizado
Canudos de um sorvete quente
O ser-para-a-morte continua vivo
Entre despistes
Blefes
Com a vida e outras coisas mais
O triangulo mineiro vive no espaço preto
Ouvem o sertanojo universitário
Eu sou apenas um a mais que
Tenta se livrar da concha e encontrar a liberdade
Escolhi o sertão
Pois no meio deste mundo caramelizado as
possibilidades são poucas
Desenho
Figuras dantescas que só lembram rabiscos
Traços desconsertados que se cristalizam
Numa guerra de Canudos
Num filme de Glauber Rocha
O sexo é uma questão sempre fundamental
Entre almas
Às de paus
Luiz Zanotti
60
Nunca mais
O tempo está impregnado por triângulos
Dizem dos ascendentes da astrologia
Sou do signo de câncer
Um caranguejo envolto em sua concha
Que procura se esconder
Mas no meio do mar
Que um dia virará sertão
As possibilidades são poucas
Vomito
Ponho para fora todas as lembranças
Doces de abobara cristalizado
Canudos de um sorvete quente
O ser-para-a-morte finalmente segue o seu caminho
No rio Ades
O barqueiro distribuindo alpistes
Passarinhos
Com a morte e outras coisas mais
O triangulo de Maslow vive no quadro negro
Expõe-se para um publico sertanojo universitário
Eu sou apenas um a menos
Pois desisti de me livrar da concha e encontrar a
liberdade
Escolhi o sertão
Pois no meio deste mundo caramelizado as
possibilidades são poucas
Sonho
Figuras dantescas que só lembram rabiscos
Guernica de Picasso
Traços desconsertados que se cristalizam
Numa guerra de Canudos
Num filme de Glauber Rocha
Na vida que eu escolhi

URUCUIA: próxima parada


61
PRÓXIMA CARONA

As palavras me dão enjôo


Vem amorfas, célticas (céticas)
Tudo aquilo que penso
Deteriora vira iutube
As idéias cessaram
O que vive são os anfíbios
Repteis youtubers
A estrada que eu viajava
A velha highway
Hoje é bitstream
Coragem
Couraça
Tream
Trema
Que a muito tempo deixou de ser usado
É só se adaptar
E como os repteis que sairam do mar
E caminhar
Por estas novas
Highways
Desculpe Kerouac
Desculpe Ginsberg
Mas não vou perder a próxima carona
Que vem vindo
Não melhor nem pior do que a sua
Mas que vem com diferenças
Mais integração
Mais corpo
Acredite que as palavras que me dão enjoo
Um dia vão se transformar em imagens
Pois alguém, que não sou eu
As colhera nos limbos
E as transformarão
Luiz Zanotti
62
De um estado de dicionário
Naquilo tudo aquilo que penso
Tudo virará iutube
As ideias florescerem
Como a língua que é anfíbia
Ela é a terra que púnhamos os pé
E o oceano em que nos afogamos
É a estrada que eu viajo
A velha highway
Hoje é bitstream
Coragem
Couraça
Tream
Trema
Que a muito tempo deixou de ser usado
É só se adaptar
E como os repteis que sairam do mar
E caminhar
Por estas novas
Highways
Desculpe kerouac
Desculpe ginsberg
Mas não vou perder a próxima carona
Que vem vindo
Não melhor nem pior do que a sua
Mas que vem com diferenças
Mais integração
Mais corpo
Acredite, assim como lennon
Um dia nosso sonho será realizado
Podem dizer que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único

URUCUIA: próxima parada


63
SEVERO

Severo, Savaedra
A última imagem da feirinha do produtor em Urucuia
Som alto
Indelicadeza/ Insensatez
Forço a barra para dizer algo
Algo que foi forjado às sete e meia da manhã
Um kit
Um Presidente e uma cerveja
As roupas num continuum no varal
Os livros abarrotando pra ninguém ler
A continuidade nas lembranças da feirinha do produtor
em Urucu ia
Alface, couve, pastel, queijo
Delicadeza/ Amizade
Estou fora da minha camisa de força
Algo que acontece às sete e meia da manhã
Quando você se levanta da cama
Um Gato e um Joaquim
As barracas num continuum no areal
A minha cabeça cada vez mais perdida
Sem destino certo
O ultimo santinho entregue na sua missa de falecimento
Um canto de incelença
Você incelença, entrou no paraíso
Adeus, adeus, até o dia do juízo
Você entrou no paraíso
Encontrou Dante
Caronte, Deus
E daí?
Forço a barra para dizer algo
Algo que foi forjado às sete e meia da manhã
Um kit
Um Presidente e uma cerveja
Luiz Zanotti
64
SPLATCH

Ninguém pode julgar ninguém


Pelo calidoscópio de um copo de uísque
Por uma saideira
Fugi estrada abaixo
Encontrei os três cães de Carontes
Negros como as cavernas
Ninguém pode julgar ninguém
Atravessei navegando este copo de uísque
Velejei pelos rios do Hades
Aportei num porto inseguro
Splatch, splatch, splatch
Adormeci no meu leito
Acordei, ainda sem poder julgar ninguém
A garganta clamava leite
Por um descanso
Naveguei a bombordo
Encontrei os três montanhas
Cheias de vegetação e de cavernas
Ninguém pode julgar ninguém
Atravessei abaixado por entre morcegos e aranhas
Velejei pelos fiosques
Gelados de um porto inseguro
Splatch, splatch, splatch
Subi a escada para o meu aposento

URUCUIA: próxima parada


65
VINTU DE JOS

8 da manhã
A névoa nevoa meu olhar
Continuo na interminável vida de palavras ou sem
Desço até a profundidade do ser
Para descobrir
Não há ninguém
Castelo de fantasmas
Não sei seu nome
Não sabe o meu
Talvez Joana
O sol nunca brilha aqui
A névoa encobre o nosso olhar
Amor encoberto pelo latido dos cães
Queria você aqui
Por um minuto ou algumas horas
Sei lá
Pra que?
Conversar talvez
Ou trepar violentamente
Neste castelo de brumas
Onde eu não vivo
Você não vive
Ninguém vive
Só fantasmas
A névoa obliterando a nossa vontade
Fumaça
Só fumaça
Só fumaça
Sem trem

Luiz Zanotti
66
DANCE

Dance todas as letras para formar o meu pensamento


Transe
Amontoem-se como uma dupla penetração
Doam ou doem
Que a dor é a principal palavra do nosso dicionário
Assim como pasmem ou passem (away)
Infindas e infinitas
Veja todas as possibilidades
Dance no trapézio com todas as letras
Que desamparam o meu pensamento
Violente
Acomode-se no sofá para ver Brasil Urgente
E veja como incomodam
Estas palavras
Que são a dor
Todas enfileiradas em nosso dicionário

URUCUIA: próxima parada


67
GAFANHOTOS

Milhões de gafanhotos
Atacando as mangas e os coqueiros
Nenhum ar
Eu deitado
Meu fígado esperando a morte de um corpo que já se foi
Respiro, espiro, espirro a secura deste ar
Qual movimento nos resta fazer?
Sonho, sonhos semelhantes
Milhões de gafanhotos
Atacando a minha alma
Breath
Eu conformando a realidade apolínea
Meu ser esperando por Dionísio
Recuo, avanço
O coração bate o tambor
Qual movimento nos resta fazer?
Caminho por lugares, lugares semelhantes
Milhões de gafanhotos
Se vingam no meu caminhar
Vie
Não tenho mais sonhos e nem tempo
Tudo foi desvelado pelo meu ser
Arrisco uma ultima palavra ou pensamento
As palavras não querem partir
Qual movimento nos resta fazer?

Luiz Zanotti
68
ESTRADA

A mesma estrada que nos leva, nos traz


A única sem volta é a do Ades
Sem lembranças, sem memória
Barco em deriva, rumo certo
A mesma mão que afaga, agride
A única sem rumo é a mão do cego
Sem direção apenas pede
Mente em suspenso, bruma escondida
Sinto de leve de novo meu coração
Sinto de neve de ouro meu coração
Peço para que alguém leve meu coração
Sinto, sinto muito esta perda
A mesma volta pela estrada que já foi ida
A única ida para o além do além
Todas as recordações, mesmo aquelas do útero materno
Criança em deriva, nascimento breve
A mesma mãe que cria, mata
A mãe é uma nau sem rumo
Mas mantém a somente a sua direção
Para um futuro, felicidade escondida
Sinto feliz de novo meu coração
Sinto de leve o seu carinho
Sinto que você foi muito mais para mim
Sinto, que foi mais que uma simples perda

URUCUIA: próxima parada


69
PERDA

Peço perdão
Por não mais poder formular
Palavras
Todos as têm
Milhares
Em suas imaginações
Perco
A possibilidade de as livrarem dos limbos
De inventar novos ritmos
E significados
Peço licença
Para invadir a sua oração subordinada adjetiva
E dizer que nada foi acrescentado a pelo menos uma
única palavra
Porque todas são misteriosas
Bruxas
Mulheres
Em suas indagações
Passo
A última possibilidade de sobrevida
Viva
O nada
E que me tragam o seu significado

Luiz Zanotti
70
VIAJAR

Encontrar novas palavras


Ui!!
Esqueci tudo que eu ia escrever
Acho que falava de Hemingway
Alcoolizei
Vi um novo mundo de inspiração
Vie
Mas o gelado da vida me retroage
Viajei
Várias vezes pelo seu corpo
E descobri cartografia
Norte, seus cabelos encaracolados
Sul, pés de fetiche
Leste
Seus dedos longilíneos sedentos de prazer
Oeste
O velho e belo mamilo pedindo
Um dia viajarei
Para um lugar muito estranho
Noruega por exemplo
Onde encontrarei novas palavras
Para Amor
De novo o alzeimher
Esqueci tudo que eu ia escrever
Acho que falava de Kerouac
Alcoolizei
Vi um novo mundo de transpiração
Ame
Mas o gelado da Noruega age
E me esquenta
Lembra das poucas vezes que caminhei pelo seu corpo
E finquei minhas bandeirolas
Norte, seus sonhos enfeitiçados
URUCUIA: próxima parada
71
Sul, andando pelos caminhos beats
Leste
Suas unhas cravadas no meu corpo
Oeste
O coração é aquilo que a face mostra

Luiz Zanotti
72
Índice

Yamile.................................................................................................. 7
Prefácio ................................................................................................ 8
Silver.................................................................................................... 11
Geração Psiu.....................................................................................13
Sussuivo..............................................................................................15
Inaugurando 2019...........................................................................17
Próxima parada................................................................................18
Fungo................................................................................................... 19
Desisti.................................................................................................. 20
Calo?.................................................................................................... 21
Longe da cruz...................................................................................23
Negrinha............................................................................................. 24
Piro....................................................................................................... 25
Verde.................................................................................................... 27
Quimera.............................................................................................. 28
Fazes.................................................................................................... 29
Rapidamente..................................................................................... 30
A morte...............................................................................................31
A solidão............................................................................................35
Brasou................................................................................................. 36
Cluj napoca.......................................................................................37
O roudo do palhacinho.................................................................39
Não quero..........................................................................................41
Urucuia II...........................................................................................42
Pedro.................................................................................................... 44
Toda descida......................................................................................45
Sauva.................................................................................................. 47
Água................................................................................................... 48
Iuiuiuiuiu.......................................................................................... 49
O barzinho.......................................................................................52
Caldas................................................................................................ 55
Sobrinha............................................................................................ 56
Adeus Urucuia................................................................................57
Corro.................................................................................................. 59
Deliberadamente............................................................................ 60
Próxima carona..............................................................................62
Severo................................................................................................ 64
Splatch............................................................................................... 65
vinto de Jos......................................................................................66
Dance................................................................................................. 67
Gafanhotos....................................................................................... 68
Estrada............................................................................................... 69
Perda...................................................................................................70
Viajar.................................................................................................. 71

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