Quando a gente pensa no propósito essencial de uma escola e se distancia um pouco dos conteúdos das áreas de conhecimento, tende a concluir que um aluno que passa por 13 anos de educação básica deve sair da escola sabendo, sobretudo, como é que se aprende. É claro! Ora, se o menino ou a menina passou 13 anos estudando, tem que ter aprendido a estudar, no mínimo.
Mas, o que é saber estudar e saber aprender?
Os cientistas da aprendizagem têm diferentes definições e teorias para esta questão, mas a abordagem que eu prefiro fazer aqui remonta à ideia de habilidade – no âmbito do saber fazer algo – e à ideia de metacognitivo – que diz respeito a executar processos cognitivos que regulam outros processos cognitivos. Vamos falar então da avaliação e do desenvolvimento de habilidades metacognitivas.
Por meio do desenvolvimento de um instrumento avaliativo dessas habilidades,
o Questionário sobre Motivação e Estratégias para Aprendizagem – MSLQ, os pesquisadores Paul R. Pintrich e Elisabeth V. De Groot da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, sistematizaram durante a década de 1980 uma estrutura que: 1. considera duas dimensões: Motivação para Aprendizagem e Estratégias para Aprendizagem; 2. supõe que os atributos (aqui chamados de habilidades) que compõem essas dimensões são desenvolvíveis, ou seja, podem ser aprendidos.
E quais são, então, essas habilidades metacognitivas? A figura a seguir ajuda a
entendê-las.
Por exemplo, a autoeficácia para a aprendizagem e desempenho refere-se à
confiança que o aluno tem de que irá aprender e ter um bom desempenho numa tarefa instrucional se empenhar-se para realizá-la. Um aluno que pensa que não vai conseguir tem sua motivação evidentemente comprometida. Já a ansiedade em relação a avaliações é o nome técnico do famoso “branco na hora da prova”. Problema que afeta mais de 40% dos alunos, quando presente em alta intensidade, essa habilidade (entendida de maneira reversa) faz com que a pessoa fique muito ansiosa pelo resultado durante uma tarefa instrucional que lhe é apresentada como avaliação. Muitas vezes, a pessoa conseguiria realizar com facilidade a mesma tarefa se não estivesse numa situação avaliativa. Já aconteceu com você de estar lendo um texto e perceber que o faz de maneira automática, sem compreendê-lo? Aliás, leitor, você está me acompanhando (perdoe-me, não resisti à metapiada)? A habilidade de monitorar o próprio pensamento ao longo de uma tarefa instrucional é a autorregulação. Saber fazer bons resumos e fichamentos do que se estuda, bem como reproduzir um raciocínio simples ou complexo, está relacionado com reprodução e elaboração. O aluno que consegue compreender algo a partir da ajuda dos colegas tem a habilidade de aprendizado de pares.
E como avaliar e desenvolver tais habilidades na escola?
A chave está em investir na formação de coordenadores e professores para que tenham um profundo entendimento de tais habilidades. Se isso acontece, o próprio professor pode avaliar continuamente seus alunos nessas habilidades, ao longo das tarefas instrucionais que desenvolve. Um professor experiente já avalia os seus alunos o tempo todo, sabe ler suas reações. Trata-se de lhe dar novas lentes para enxergar habilidades diferentes. Para muitos, a compreensão deste modelo será meramente colocar nomes em ideias que eles já conhecem. Evidentemente, a escola pode baixar na internet o manual do MSLQ de Pintrich & De Groot, bem como outras versões do questionário já adaptadas para a Educação Básica e fazer uma aplicação mais formal. Mas, sem a compreensão dos professores do que os resultados vão significar, a iniciativa será inócua. O desenvolvimento dos alunos também depende deste entendimento profundo dos professores. De jogar xadrez a praticar meditação transcendental, muito já se tentou fazer para encontrar a fórmula certa para desenvolver a capacidade de aprender dos alunos. Correlações obviamente existem, particularmente, adoro o xadrez. Mas, será que não é justamente o aluno que gosta de xadrez aquele que tem facilidade de desenvolver as próprias estratégias de aprendizagem? A causalidade, neste caso, dá-se ao contrário. Não é o xadrez que o faz aprender a aprender, mas ele se aprofunda no xadrez porque aprendeu a aprender... .
Mas, se essas habilidades são desenvolvíveis, como desenvolvê-
las? A evidência que se encontrou até hoje se baseia em gerar awareness. Desculpem o uso do inglês, literalmente esta palavra se traduz como consciência, o que pode nos confundir na polissemia da língua portuguesa. Trata-se de: 1. promover o entendimento pelo aluno de como funcionam essas habilidades, e isso só acontece se o professor puder explicar; 2. tecer relações de significado das habilidades com as situações de aprendizagem nas tarefas instrucionais realizadas a todo momento, ou seja, fazer os links para o aluno.
Isso gera uma espécie de “estado de atenção” no aluno, continuamente nutrido
pelo professor, que o faz avançar em suas habilidades metacognitivas.
FRANCO R. O. S. Aplicativo Móvel para apoio ao aprendizado de vocabulário de Língua Inglesa com Conteúdo Geolocalizado. 2010. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação) - Universidade Federal de Pernambuco, . Orientador: Alex Sandro Gomes.