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Josali Amaral
Kelly Sheila Inocêncio Costa Aires
Maria Betânia da Silva Dantas
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
A constituição da postura
ética e responsável
do estagiário
1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
2 COMEÇANDO A HISTÓRIA
Figura 1
Caro aluno,
Mas nessa aula vamos falar de ética no sentido normativo, ou seja, como um
conjunto de normas de conduta que devem ser adotadas como parâmetro de
ação. Essas normas têm por finalidade garantir que o profissional assuma um
compromisso com a comunidade com a qual convive. Além disso, numa disciplina
que prepara para o exercício profissional, discutir as normas de conduta que
devem orientar a nossa prática implica em refletir sobre o nosso papel social
e sobre a responsabilidade que temos para com a sociedade. Especialmente
na nossa área de atuação, que prepara os indivíduos para viver em sociedade.
Nessa aula vamos introduzir alguns princípios éticos que regem o âmbito
profissional e suas implicações para o exercício do magistério, bem como refletir
sobre a conduta do estagiário durante sua experiência formativa.
3 TECENDO CONHECIMENTO
“justiça” e “virtude”, indicando que a busca desses ideais deve regular a conduta
humana. Defendia que a sociedade perfeita deve ser regida por leis racionais,
as quais devem se pautar em princípios verdadeiros, cuja fundamentação está
na harmonia social e não em um fim externo, como beneficiar a alguém ou a
si mesmo. Tradicionalmente, ética é um conhecimento intimamente ligado à
política e ao direito, cuja função é organizar a sociedade por meio de preceitos
e princípios que propiciem o bem estar coletivo.
As leis e as regras têm função ordenadora das ações humanas e, por isso, estão
associadas a punições para aqueles que não as cumprem. Elas se referem a fatos
concretos, cuja experiência acumulada demonstrou a necessidade de interditar
a possibilidade de que eles ocorram ou propiciem condições para a ação do
Estado. Por exemplo, o assassinato, o roubo, a cobrança de impostos, o respeito
às autoridades. Mas quando nos referimos à conduta humana, estamos tratando
da perspectiva da ação futura, ou seja, de ideias ou princípios que são tomados
como parâmetro para as nossas decisões.
No âmbito da ética, os princípios não podem ser confundidos com crenças, pois
eles devem ser racionais e fundamentados, de modo que possam gerar a ação
justa e justificável.
Mas você deve estar se perguntando: “porque essa conversa toda”? Porque no
exercício do magistério estamos em contato direto com seres humanos em
formação e precisamos refletir sobre o que direciona a nossa conduta, se nossos
princípios são racionais e justificáveis ou se derivam de crenças infundadas. Isso
porque a função do professor se confunde com a capacidade humana de julgar,
de decidir entre o que é correto ou não.
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A constituição da postura ética e responsável do estagiário
O século XIX foi, por excelência, o palco do surgimento das profissões liberais,
as quais se distinguem dos antigos ofícios pelo fato de que os sujeitos, além
de dominarem saberes específicos (teóricos e práticos), devem ser capazes
de tomar decisões e assumir responsabilidades. Em resumo, uma profissão é
definida pelo grau de autonomia que o indivíduo que a exerce detém. Nesse
sentido, distingue-se de formas de trabalho que submetem o indivíduo a práticas
repetitivas e mecanizadas, para as quais basta um simples treinamento.
têm a mesma formação podem tomar; o agente de saúde exerce um ofício que
requer um menor período de formação e treinamento.
Portanto, a ideia que temos do que é uma profissão envolve o grau e a capacidade
de tomar decisões de um indivíduo, com base na sua formação e treinamento, o
que implica ainda na extensão de responsabilidade que devém de suas decisões.
Além dessa concepção ser deveras complicada, gera ainda preconceitos e
discussões acerca do papel e importância de cada profissional na sociedade.
Mas aqui não é o lugar de tratar dessa temática e se você tem interesse sobre
o assunto, consulte a aula 7 de Filosofia da Educação e os textos da bibliografia
dessa aula.
Kant sugere então que devemos fazer um uso diferenciado da razão. Isso significa
que temos que desenvolver a capacidade de ponderar consigo mesmo e, antes
de proferir opiniões ou críticas que impliquem em certas responsabilidades,
devemos estar atentos sobre com quem, onde e quando vamos expressar nossas
inquietações. Ele chama essa distinção de “uso público da razão” e “uso privado da
razão”. O primeiro diz respeito ao direito que cada um tem de pensar livremente
e expressar suas opiniões. O segundo refere-se ao universo das profissões, dos
ofícios, quando nossas decisões devem ser pautadas pelas orientações coletivas,
quais sejam, os conhecimentos comprovados, as regras, normas e leis que regem
a comunidade em que convivo. Na prática isso significa que enquanto indivíduo
eu posso duvidar e crer livremente, mas quando exerço o meu ofício, eu devo
observar os limites impostos pelo reconhecimento social da minha profissão.
uma opinião, ele carrega consigo uma carga enorme de responsabilidade, mesmo
que não tenha consciência exata desse fato.
Para Kant, o uso público da razão, quando exerço meu direito inalienável de pensar
e criticar, deve ser feito entre os pares, entre aqueles que têm a mesma formação
e nível intelectual, para que possa haver divergência legítima e para que as críticas
sejam refutadas e apreciadas por pessoas que tem conhecimentos suficientes
para julgar se as ideias que estão sendo apresentadas têm fundamentos. Já o
uso privado da razão é aquele que deve ser empregado quando, no exercício de
minhas atribuições profissionais, devo tomar decisões ou declarar esclarecimentos
condicionados pelos conhecimentos, regras, leis, normas pertinentes ao meu
ofício e em obediência ao Estado.
Figura 2
É certo ainda afirmar que pelo conceito de gestão democrática da escola todos
os membros da comunidade podem e devem participar das discussões sobre
educação, porém esse conceito não pode ser resumido a um simples “falar
mal”, apontar defeitos no trabalho do outro, recusa de adotar procedimentos
metodológicos ou ministrar conteúdos programáticos etc. O exercício da livre
opinião na escola deve ser realizado mediante reuniões, oficinas de trabalho,
estudos dirigidos, em lugares e momentos propícios à discussão racional.
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A constituição da postura ética e responsável do estagiário
Na primeira aula dessa disciplina dissemos que o estágio se inicia pela observação,
bem como enunciamos acima que no que tange à capacidade de avaliação da
razão humana e as suas responsabilidades éticas, o estagiário ocupa uma posição
intermediária, ou seja, ele não é nem o profissional que está ofertando o serviço
do ensino e nem o aluno que o recebe. Então, qual a conduta ideal do estagiário?
Essa descrição tem por objetivo expor a você aluno, a situação delicada em
relação à ética que o estagiário ocupa. Considerando a posição que expusemos
de Immanuel Kant, qual lugar apropriado para que o estagiário possa expor suas
opiniões e críticas acerca do que está experienciando? É o espaço no qual ele
ocupa o lugar de aluno, junto a sua instituição de ensino e com seus professores
e orientadores.
A observação inicial que o estagiário deve cumprir tem que ser orientada pela
ideia de não interferência nas rotinas da sala de aula ou da escola. Sabemos que
isso é impossível, pois a simples presença de uma pessoa estranha à comunidade
escolar provoca alteração no comportamento rotineiro, seja manifesta pela
curiosidade dos alunos ou pela preocupação que desperta no professor regente
36
AULA 2
de classe. Mas o ideal é que o estagiário se mantenha neutro nas relações que
estão estabelecidas na sala de aula, e, mesmo, evite estreitar afinidades ou
divergências com alunos e funcionários da escola.
Algumas vezes, a própria escola ou o professor regente de classe abre espaço para
uma maior participação do estagiário nas atividades rotineiras, mas o estagiário
nunca deve perder de vista que esse procedimento é apenas uma concessão e
sua autoridade está limitada a esse condicionante.
Vamos frisar novamente que o lugar em que o estágio está sendo realizado
não é ideal para expor suas dúvidas, críticas e opiniões e que elas devem ser
conduzidas ao seu ambiente de aprendizagem e aos professores do seu curso.
Exercitando
4 APROFUNDANDO O CONHECIMENTO
5 TROCANDO EM MIÚDOS
Vimos que a ética é uma reflexão sobre a conduta humana que deve se deter em
princípios racionais para avaliar as ações. É no campo discursivo que a ética se
realiza, quando empregamos argumentos para defender os princípios da ação, de
forma a abrir mão de crenças e valores herdados tradicionalmente que não têm
fundamentação. Discutimos a criação dos códigos de ética profissional e a sua
função de regular a relação entre prestador de serviço e usuário, com a finalidade
de manter o respeito mútuo e a garantia de cumprimento das obrigações de ambas
as partes. Ressaltamos que, embora no magistério não haja um código de ética
específico, as Leis que regem a educação brasileira determinam um conjunto de
atitudes desejáveis para os agentes escolares. Estudamos as formas apropriadas
do uso da razão que prescreve que devemos saber usar o discernimento para
expressar nossas opiniões em lugares e momentos apropriados, de modo a
garantir que nossas ideias sejam avaliadas antes de ser aceitas como verdades.
Finalmente, compreendemos que o estagiário ocupa uma posição delicada no
ambiente de estágio e deve manter uma posição de neutralidade nas dinâmicas
da sala de aula em que estagia e discutir suas opiniões e dúvidas com seus
professores e orientadores do curso que realiza.
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AULA 2
6 AUTOAVALIANDO
Reflita sobre sua conduta enquanto aluno do curso de letras e avalie se você faz
o uso público e o uso privado da razão de modo adequado, quando expressa
suas opiniões acerca da educação.
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A constituição da postura ética e responsável do estagiário
REFERÊNCIAS
TOMASI, Antonio de Pádua N. & SILVA, Ivone Maria Mendes. Ofícios de ontem
e ofícios de hoje: ruptura ou continuidade? In: Anais do XIII Congresso
Brasileiro de Sociologia, Grupo de Trabalho Ocupações e Profissões, Recife:
PE, 2007, disponível em: http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.
php?option=com_docman&task=cat_view&gid=145&Itemid=171
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AULA 2
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