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Andrade, Ícaro Yure Freire de.

A sacrali-
dade da pessoa: entre razão e emoção –
Resenha. RBSE Revista Brasileira de
Sociologia da Emoção, v. 16, n. 48, p.
179-182, dezembro de 2017. ISSN 1676-
8965
RESENHA
http://www.cchla.ufpb.br/rbse/

A sacralidade da pessoa: entre razão e emoção - Resenha

The sacrality of the person: between reason and emotion

JOAS, Hans. A sacralidade da pessoa: aliada a uma reinterpretação das dimen-


nova genealogia dos direitos humanos. sões religiosas e morais, pode ser capaz
São Paulo: Editora Unesp, 2012. de possibilitar o entendimento acerca
dessa noção de pessoa universal que
norteia a Declaração dos Direitos Hu-
As discussões acerca dos direitos manos de 1948. Para isso, o sociólogo
humanos ganham cada vez mais proe- alemão expõe no decorrer do seu livro
minência, seja nos espaços acadêmicos, uma análise que se pretende uma so-
como no âmbito da esfera pública e dos ciologia histórica, mas tomando como
debates a respeito da construção de mo- ferramenta auxiliar as interpretações
delos institucionais e de sociabilidade acerca da construção de uma estrutura
guiados pela experiência democrática. emocional que tem sua origem no cam-
Apesar do reconhecimento dos direitos po religioso e a relação entre essa estru-
humanos como uma pauta que denota tura e a adesão aos valores, que consti-
urgência, os processos sociais e os valo- tuem e possibilitam o reconhecimento
res que possibilitaram a sua existência da dimensão sacra da pessoa.
continuam muito pouco esclarecidos. O Hans Joas nos mostra uma so-
livro A sacralidade da pessoa: nova ciologia que toma a moral como pro-
genealogia dos direitos humanos, do blema central. Para ele existem alguns
sociólogo alemão Hans Joas, aqui rese- mitos que permeiam a gênese do reco-
nhado, tem como objetivo apresentar nhecimento dos direitos humanos, entre
uma nova interpretação sobre os proces- os quais o carisma da razão (p. 26). Para
sos sociais e os valores advindos desses o sociólogo alemão, o que faz com que
direitos, possibilitando o reconheci- os indivíduos venham a aderir a valores
mento e a legitimidade da pretensão de não é a dimensão racional da ação hu-
universalidade dos direitos humanos. mana – aqui estabelecendo um debate
Joas propõe uma genealogia a- direto com Max Weber – nem um plano
firmativa como método de exame dos institucional específico, mas a dimensão
processos que redundaram na noção de afetiva em que esses valores são envol-
sacralização da pessoa. A sacralidade da vidos assim como as tensões institucio-
pessoa é apresentada como um valor de nais e de sociabilidade em que esses os
humanidade que tem pretensão a uni- indivíduos estão situados.
versalização. Para o autor, somente a Para isto, Joas debruça-se sobre
partir de uma reconstrução histórica, o período da Revolução Francesa e des-
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constrói algumas ideias a respeito da quanto sujeitos humanos, isto é, o en-


relação entre a revolução e a religião, carceramento aparece como desdobra-
assim como consensos a respeito da mento do reconhecimento da importân-
primeira declaração dos direitos huma- cia da vida humana.
nos. Diferentemente do que alguns a- O terceiro capítulo centra-se nos
creditam a Revolução Francesa não foi processos de positivação dos traumas
um movimento antirreligioso em sua sociais e como os mesmos contribuem
totalidade, onde a ideia de religião que para a discussão e reconhecimento da
era rejeitada por seus ideólogos era a dimensão de sacralidade da pessoa. Para
que reconhecia a Igreja enquanto uma Hans Joas, as experiências coletivas que
instituição política. Hans Joas aponta, nascem desses traumas sociais, junta-
inclusive, como alguns valores religio- mente com os reflexos nas experiências
sos se apresentaram enquanto fomenta- individuais, são os fatores que possibi-
dores da construção dos valores pró- litam o desenvolvimento de uma sensi-
prios a esse acontecimento histórico. bilidade que abarque e conscientize o
Mostra também a influência que a re- reconhecimento da dimensão universa-
volução americana de 1776 teve nos lista pertencente ao humano enquanto
desdobramentos das possibilidades de gênero. Para afirmar tal posição o soci-
reconhecimento da dimensão sagrada da ólogo alemão analisa os movimentos
pessoa, tendo em vista a forte dimensão antiescravagistas dos EUA e da Grã-
religiosa que a permeava. Diferente- Bretanha e como os mesmos foram en-
mente do que foi defendido por Max voltos em valores do âmbito religioso; a
Weber e a “carismatização” da razão, o negação da escravidão só se consolidou
que Hans Joas tenta demonstrar sobre quando a mesma passou a ser encarada
essa reinterpretação das revoluções, enquanto pecado.
tanto francesa quanto americana, são os O reconhecimento da “alma” e
processos que possibilitaram a carisma- da vida como “dom”, que só se torna
tização da pessoa. possível a partir de uma dimensão reli-
Os efeitos dessa “carismatiza- giosa, segundo Joas, aparecem como
ção” dos sujeitos, que emerge na dis- desdobramentos do processo que culmi-
cussão política e social do período, são nou na perspectiva de se pensar em uma
observados numa progressiva rejeição declaração que pleiteie a universalidade
no século XVIII, – tema do segundo dos direitos humanos, ou seja, como
capítulo, – demonstrada a partir da ne- essas noções possibilitam estabelecer
gação gradativa da punição e do reco- uma dimensão que confere um valor
nhecimento da sacralidade da pessoa. sagrado aos seus portadores. A dimen-
Referente a esses desdobramentos, Hans são do sagrado é portadora de dois ele-
Joas está debatendo diretamente com a mentos importantes para o projeto so-
perspectiva foucaultiana apresentada ciológico de Hans Joas: a certeza sub-
em Vigiar e Punir (FOUCAULT, jetiva e a intensificação afetiva (p. 247).
1997). Diferentemente de Foucault, que Muito mais do que somente afirmar a
reconhece a mudança da tortura para o importância da dimensão religiosa para
aprisionamento como consequência do se pensar o âmbito dos direitos huma-
desenvolvimento de uma dimensão dis- nos, Hans Joas está fazendo uma crítica
ciplinar que tem como objetivo exercer a uma sociologia que ignora a dimensão
poder sobre os indivíduos, para Joas a da afetividade ou a coloca em segundo
negação gradativa da tortura no século plano, apontando, desta forma, para esta
XVIII só se torna possível com o de- forte dimensão de adesão dos valores
senvolvimento de uma sensibilidade que que é o campo da sensibilidade.
tende a reconhecer os indivíduos en-

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Metodologicamente, a genealo- note um embate muito bem explícito


gia afirmativa proposta por Hans Joas entre a sacralização universalista da
parte de uma sociologia que reconheça pessoa e a autossacralização do indiví-
as pretensões universalistas da sacrali- duo privado. Para o autor, a dimensão
zação da pessoa e que tenha na dimen- sacra apresentada como contraponto
são histórica seu aporte analítico, para crítico a uma perspectiva racionalista de
que se possam entender os processos direitos só é possível na sua dimensão
sociais que permitiram o reconheci- coletiva e universalista. Indivíduo e pes-
mento dessa dimensão universalista de soa são duas categorias que não são si-
pessoa, onde se teria como base princi- nônimos.
pal uma Mas esse embate não faz com
(...) teoria da gênese de valores, que o reconhecimento dos direitos seja
numa investigação de experi- rejeitado, como Hans Joas explica, a
ências constitutivas de valores e negação dos direitos humanos como
especialmente de experiências, necessários ou como uma pauta que seja
das quais pode surgir um vínculo de suma importância para se pensar a
afetivo com valores de univer- democracia, não anula o reconheci-
salismo moral. (p. 221). mento de sua universalidade, uma vez
Além do que a rejeição de uma inter- que se torna necessário que se reco-
pretação dos fenômenos sociais por uma nheça algo como possível para que se
perspectiva que tome o desenvolvi- possa rejeitá-lo. A gênese dos direitos
mento gradativo da racionalidade em humanos “(...) se desenrola no campo
detrimento do campo afetivo e religioso. de tensão de práticas, valores e institui-
A dimensão religiosa torna-se ções.” (p. 247), mantendo desta forma
uma importante dimensão na sociolo- sua dimensão processual e emergente.
gia-histórica proposta pelo autor por A desqualificação a quem questiona ou
carregar em seu cerne a dimensão de apresenta argumentos favoráveis ou
possibilidade de universalização, assim contrários aos direitos humanos só en-
como a dimensão afetiva que possibilita fatiza a dimensão afetiva da adesão dos
a adesão aos valores sociais apresenta- valores, segundo Joas.
dos na noção de sacralidade da pessoa, Finalizando seu argumento em A
isto é, onde se torna possível o relevo sacralidade da Pessoa Hans Joas apon-
dado a ta para possibilidades em meio às ten-
sões e conflitos dessa pretensão da pes-
(...) suposição de um cerne soa enquanto um valor universal. O so-
sagrado de todo ente humano, não
ciólogo reconhece os obstáculos e ame-
adquirido pelas próprias realiza-
ções, mas que tampouco pode ser
aças a esse reconhecimento da pessoa,
perdido ou destruído. (p. 221) mas traz como maneira de manter a di-
mensão bem-sucedida deste princípio
Hans Joas não reconhece esse quando pensada em três termos:
desenvolvimento de uma sensibilidade No campo das práticas, trata-se
que tem o respeito ao humano como da sensibilização para as experiências
base imune a problemas enfrentados. O de injustiça e violência e de sua articu-
sociólogo alemão afirma que o reconhe- lação. No âmbito dos valores, trata-se
cimento desta dimensão moral univer- da fundamentação argumentativa da
salista é construído a partir de uma série pretensão de validade universal, que, no
de conflitos, entre os quais se situa pen- entanto – como se pretendeu mostrar
sar a dimensão do individual em contra- aqui -, não será possível sem que seja
posição a uma dimensão da pessoa. Da- permeada com narração. E, no plano das
da as circunstâncias e desdobramentos instituições, trata-se das codificações
históricos e sociais, é possível que se

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nacionais bem como globais permitindo As contribuições apresentadas


que pessoas de culturas bem diferentes em A sacralidade da pessoa: novas ge-
se reportem aos mesmos direitos. (p. nealogias dos direitos humanos para o
275) campo da teoria social referem-se ao
A dimensão religiosa analisada reconhecimento da relação intrínseca
por Joas, não age única e exclusiva- entre valores sociais e sentimentos, as-
mente a favor do reconhecimento dos sim como a pertinência da interpretação
direitos humanos. Neste sentido, o autor das dinâmicas sociais a partir de uma
apresenta como a mesma se colocou sociologia que tome a história como
diversas vezes como contrária a noções ferramenta de percepção dos fenômenos
democráticas no percorrer da história. O sociais enquanto processos em plena
argumento eminentemente sociológico construção, ou seja, a genealogia afir-
apresentado pelo Hans Joas no decorrer mativa proposta por Hans Joas apre-
de sua obra centra-se no reconheci- senta-se enquanto “(...) uma tentativa de
mento dessa dimensão sacra da pessoa fundamentação de valor refletida em
como fruto dos desdobramentos históri- termos históricos.” (p.197), mas sem
cos e sociais, assim com o resultado com isso esquecer ou anular a dimensão
direto do desenvolvimento de uma es- de cunho histórico - realista. É a partir
trutura afetiva – neste ponto o autor traz da relação entre essas duas dimensões
mais uma vez à tona a importância da metodológicas de percepção dos fenô-
relação entre afetos e adesão a moral menos sociais que podemos entender a
social retomando assim problemas apre- gênese dos valores apresentada pelo
sentados por Émile Durkheim em obras autor no decorrer de sua obra.
como A Educação moral (2008). Esses
desdobramentos e possibilidades são
Referências
eminentemente permeados por tensões e
conflitos, ou seja, a dimensão dos pro- Durkheim, Émile. A Educação Moral.
cessos sociais enquanto embates e con- Tradução: Raquel Weiss. Petrópolis, RJ:
flitos e na consequentemente construção Vozes, 2008.
das dimensões afetivas, dos valores e Foucault, Michel. Vigiar e Punir: histó-
institucionais. ria da violência nas prisões. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1997.

Ícaro Yure Freire de Andrade

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