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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

MÔNICA ABED ZAHER

MODA E CULTURA –

O ESTILO CHANEL NA EUROPA DO SÉCULO XX

São Paulo
2018
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MÔNICA ABED ZAHER

MODA E CULTURA –
O ESTILO CHANEL NA EUROPA DO SÉCULO XX

Dissertação apresentada ao programa de Pós-


Graduação em Educação, Arte e História da
Cultura, do Instituto Presbiteriano Mackenzie,
como requisito parcial à obtenção do grau de
Mestre.

ORIENTADORA: Prof. Dra. Regina Célia Faria Amaro Giora

São Paulo
2018
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Z19m Zaher, Mônica Abed.


Moda e cultura: o estilo Chanel na Europa do século XX / Mônica
Abed Zaher.
94 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) -


Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2017.
Orientador: Regina Célia Faria Amaro Giora.
Bibliografia: f. 93-94.

1. Chanel. 2. Moda. 3. Cultura. 4. Gênero. I. Giora, Regina Célia


Faria Amaro, orientador. II. Título.

CDD 391.009
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Aos meus pais, Salim e Laura,


minha eterna gratidão.
Aos meus filhos, Ali Júnior,
Michel e Karime, todo amor que
possa existir.
À memória de Gabrielle Bonheur
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AGRADECIMENTOS

Acima de tudo, a Deus, que me permitiu viver e realizar.

Agradeço com especial reverência a Prof. Dra. Regina C.F.A.Giora, minha incansável
orientadora, cuja exigência e dedicação me possibilitaram a emoção de cada página.

À Prof. Dra. Rosana M.P.B. Schwartz, sempre disposta, preocupada e assertiva na co-
orientação.

À Prof. Dra. Simonetta Persichetti, que debruçou um olhar cuidadoso e poético sobre este
trabalho, provocando um pouco do meu lado artístico na composição desta Dissertação.

À Prof. Dra. Regina Damião (in memorian), pelos primeiros incentivos à pesquisa e à
docência, por ocasião de minha primeira Graduação, em Letras, na Universidade Presbiteriana
Mackenzie.

Minha gratidão, aos queridos, com quem pude contar nesses dois anos de um estudo
encantador: Carolina Vigna, Deborah Bretas, Ilana Berenholc Eshed, João Braga, José Carlos
Lacerda, Maria Carolina Faggion Garcia, Sonia Helena dos Santos e Vivian Huss. Em
especial, a Robson Ferreira.
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Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais.


Morrer de amor é viver dele.
(Vitor Hugo)
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RESUMO

O presente estudo de caráter biográfico investiga a atualidade e contemporaneidade das


criações da estilista Coco Chanel (1883-1971), contextualizando-a no universo da cultura e
das artes desse período. A sua contribuição para o estudo dessas áreas, por meio da moda,
enquanto linguagem e manifestação estética apresenta relevância incontestável: a moda reflete
a cultura de um povo, de uma época, de uma sociedade. Apesar de sua efemeridade como
produto de consumo, a força da moda se faz presente ao comunicar muito além do gosto.
Comunica também uma necessidade de expressão, data um fato, representa um pensamento e
as atitudes de uma época. A pesquisa sobre Gabrielle Chanel e seu estilo destaca fatos
históricos relacionados à época específica de sua vida para situar não apenas condições em
que seu trabalho se desenvolveu, mas também as aspirações de uma sociedade que já contava
com inovações. A análise de todo o material coletado permite : apontar a importância da
vestimenta em especial para a mulher fortalecendo as questões feministas da época: mulheres
trabalhadoras, com direito ao voto e à voz; identificar a mudança de atitudes do cotidiano
feminino, da escolha da roupa à prática de esportes, ao banho de sol e à manutenção da
elegância sem que a feminilidade precisasse ser exposta ao sensual e refletir sobre a
importância da criatividade e inovação em todas as manifestações culturais e artísticas do
século XX. Ou seja, seu legado cultural possui o peso da mudança dos tempos.

Palavras-chave: Chanel. Moda. Cultura. Gênero.


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ABSTRACT

The present study of a biographical nature, investigates the up-to-dateness and

contemporaneity of stylist Coco Chanel’s (1883-1971) creations, setting her into context in

the universe of culture and arts in this period. Her contribution for the study in these areas,

through fashion, while being a language and aesthetic manifestation presents unquestionable

relevance: fashion reflects the culture of people, of a time, of a society. Despite its ephemeral

nature as a product for consumption, the strength of fashion is present by communicating far

beyond taste. Fashion also communicates a need for expression, it dates a fact, represents a

thought and puts into context the situations of a particular time. The research on Gabrielle

Chanel and her style highlights historical facts related to the specific timeframe in her life to

situate not only the conditions under which her work developed, but also the aspirations of a

society that already experienced innovations. The analysis of all the material collected

allows: to point out the importance of clothing, especially for women, strengthening the

feminist questions of the time: working women, with the right to vote and to have a voice;

identify the changes in women’s day-to-day attitudes, the choice of clothing, practice of

sports, sunbathing and keeping the elegance without femininity having to be exposed to

sensuality and reflect on the importance of creativity and innovation in all cultural and artistic

manifestations of the XXth century. That is, her cultural legacy holds the weight of the change

in times.

Keywords: Chanel. Fashion. Culture. Gender.


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Verso da folha de rosto – ficha catalográfica - bibliotecário


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Spring/ Summer 1989 Ready to Wear. Coco in Biarritz………… 49


Figura 1 Fall/ Winter 1988-1989 Ready to Wear. Tweeds & Plaids………. 50
Figura 3 Automne-Hiver 2016/17 – I........................................................... 51
Figura 4 Automne-Hiver 2016/17 - II........................................................... 52
Figura 5 Automne-Hiver 2016/17 - III......................................................... 53
Figura 6 Automne-Hiver 2016/17 - IV......................................................... 54
Figura 7 Automne-Hiver 2016/17 - V.......................................................... 55
Figura 8 Man Ray Bazaar Years.................................................................. 57
Figura 9 Ícone de Chanel. - I........................................................................ 59
Figura 10 Ícone de Chanel - II....................................................................... 60
Figura 11 Ícone de Chanel - III...................................................................... 61
Figura 12 Ícone de Chanel - IV...................................................................... 62
Figura 13 Marylin Monroe............................................................................. 63
Figura 14 Ícone de Chanel - V....................................................................... 64
Figura 15 Chanel............................................................................................ 66
Figura 16 Chanel com amigos........................................................................ 67
Figura 17 Chanel em passeio ao ar livre........................................................ 68
Figura 18 Maquiagem de Chanel................................................................... 69
Figura 19 O despojamento de Chanel............................................................ 70
Figura 20 Chanel costurando.......................................................................... 71
Figura 21 Chanel orientando uma modelo..................................................... 71
Figura 22 Chanel por Paul Iribi...................................................................... 73
Figura 23 Chanel por Bernard Blossac.......................................................... 74
Figura 24 Desenho de Chanel - I.................................................................... 75
Figura 25 Desenho de Chanel- II................................................................... 76
Figura 26 Desenho de Chanel - III................................................................. 77
Figura 27 Desenho de Chanel - IV................................................................. 78
Figura 28 Uma das composições de Chanel................................................... 79
Figura 29 Nadima Gabriel Abed (1898 -1998) e Salim Abed (1928)............ 80
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SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO.......................................................................................... 13

2 METODOLOGIA............................................................................................ 16

3 INTRODUÇÃO................................................................................................ 17

4 CULTURA E MODA...................................................................................... 19

4.1 A EUROPA DO FINAL DO SÉCULO XIX E O NASCIMENTO DE


GABRIELLE BONHEUR CHANEL................................................................ 21
4.2 A EUROPA EM ACRISOLAMENTO............................................................. 25
4.3 AS POSSIBILIDADES DE CRESCIMENTO.................................................. 27
4.4 ALÉM DE COSTUREIROS, ATRIZES E DAMAS DA SOCIEDADE: O
CONTATO DE CHANEL COM AS ARTES E COM A CULTURA.............. 28
4.5 SUFRAGISTAS E GREVISTAS...................................................................... 31

5 UMA MODISTA, O GUARDA-ROUPA MASCULINO, E AS


QUESTÕES DE GÊNERO............................................................................. 34

5.1 A FIGURA FEMININA NO CONTEXTO SOCIAL DA ÉPOCA.................. 35


5.2 DEFINIÇÕES, CONTEXTUALIZAÇÕES: AS RELAÇÕES DE GÊNERO
E A LUTA PELO SUFRAGISMO FEMININO............................................... 38
5.3 CHANEL NÃO ESTAVA NO PEDESTAL..................................................... 40

6 IMAGEM DE MODA..................................................................................... 42

6.1 CHANEL CONSTRUÍDA PELA MÍDIA........................................................ 42


6.2 ÍCONES DE CHANEL..................................................................................... 44
6.3 A MARCA CHANEL: CONTEMPORANEIDADE........................................ 46
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6.4 O ESTILO CHANEL EM IMAGENS.............................................................. 48


6.4.1 Chanel sob nova assinatura............................................................................ 48
6.4.2 Chanel por Man Ray (1890-1976).................................................................. 56
6.4.3 Os ícones de Chanel......................................................................................... 58
6.4.4 Imagens de uma mulher moderna.................................................................. 65
6.4.5 Desenhos de Lagerfeld e amigos de Chanel................................................... 72
6.4.6 O processo criativo inacabado........................................................................ 78
6.4.7 Alguma referência do estilo Chanel em São Paulo....................................... 79

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 81

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 83
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1 APRESENTAÇÃO

O apreço pelo tema moda se faz presente há anos em minha vida, inicialmente como
leitura de lazer. Entretanto, a curiosidade e as possibilidades de estudos acerca do assunto
acabaram por transformá-lo em foco de interesse acadêmico, apurado por meio de cursos de
extensão, leituras específicas e prática em sala de aula, com a oportunidade de lecionar a
disciplina de Produção de Moda no curso de Design de Moda da Universidade de Araraquara
(2014 e 2015).
Com a intenção de contextualizar o tema em período mais recente da História, este
trabalho investiga as criações da estilista Coco Chanel - nascida Gabrielle Bonheur Chanel-
no universo da cultura e das artes do período compreendido entre o final do éculo XIX à
segunda metade do século XX. A questão que trago como problema é:
Por que as criações de Coco Chanel (1883-1971) se mantêm atuais por mais de um
século?
O estudo da vida da estilista, responsável pela criação ou inovação de muitas peças de
vestuário emblemáticas, que até hoje são adquiridas para fazer parte de um guarda-roupa
considerado clássico e atemporal, trará como contribuição uma melhor e mais ampla
compreensão da moda como linguagem em diferentes culturas.
Moda e cultura estão inter-relacionadas em vários estudos e pesquisas.
Neste específico estudo biográfico, o diálogo se dará entre cultura, artes e linguagens.
Em sua obra Ensaios sobre Moda, Arte e Globalização Cultural (São Paulo: SENAC,
2011), a socióloga americana Diana Crane afirma ser a moda um fenômeno, cuja
complexidade pode ser investigada tanto pela sociologia como pela arte e pela cultura,
amplamente difundidas pelos meios de comunicação. Aqui se encontra o enfoque de minha
pesquisa, de caráter interdisciplinar.
Da mesma forma, ao citar Philippe Perrot (1981), Rosane Feijão, em Moda e
Modernidade na belle époque carioca, transcreve sobre “o caráter simbólico das roupas,
contrapondo-se à ideia de que elas estariam ligadas primeiramente às funções de proteção,
pudor e ornamentação” (FEIJÃO, 2011, p. 83). Para Perrot,

o ato de vestir-se constitui essencialmente um ato de significação, capaz de


manifestar uma essência, uma tradição, uma herança, uma casta, uma
linhagem, uma etnia, uma geração, uma religião, uma proveniência
geográfica, um estatuto matrimonial, uma posição social, um papel
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econômico, uma posição política, uma afiliação ideológica. (PERROT apud


FEIJÃO, 2011, p. 83)

Maria Alice Ximenes, em Moda e Arte na Reinvenção do Corpo Feminino do Século


XIX escreve que

O corpo feminino sofreu oscilações devido à sociedade e à cultura que


responderam por meio da roupagem, indício de um tempo em que pertencer
a um espaço privado não se restringia apenas a estar dentro de casa, e, sim,
dentro de roupas-territórios que, apesar de oprimirem as mulheres,
constituíram um valor erótico inegável. (XIMENES, 2009, p. 68)

Cumpre citar que estes dois últimos trabalhos foram desenvolvidos como dissertações
de mestrado, posteriormente editados como livros, sendo ambos de alunas da PUC Rio de
Janeiro e Campinas, respectivamente.
Neste estudo que investiga sobre a vida e o processo criativo da estilista Coco Chanel,
pode-se compreender o contexto histórico-cultural da época de seu nascimento, sua infância e
juventude. É esta uma das razões para que se desenvolva um estudo interdisciplinar.
A partir do século XIX, o mundo ocidental, mais especificamente a Europa, viveu
experiências transformadoras em diferentes segmentos. A ascensão da burguesia como nova
classe social promoveu grandes mudanças econômicas, sociais e políticas que transformaram
os costumes: o desenvolvimento do comércio, o acesso às artes por parte das classes menos
favorecidas financeiramente, e, consequentemente, maiores possibilidades de
desenvolvimento cultural.
Por estar aprisionada a um mercado de consumo, a moda foi afetada por tais fatores. A
adequação impôs-se não apenas pelo gosto, mas principalmente pelas necessidades. Os
tempos modernos exigiam praticidade no estilo de vida.
No universo das artes, em suas diferentes linguagens, vieram mudanças representadas
por inúmeros artistas, dentre os quais Jean Cocteau, Salvador Dali, Igor Stravinsky, Diaghilev
e outros, que tinham na estilista Coco Chanel uma amiga comum.
Assim, o enfoque interdisciplinar oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na sua linha
de pesquisa de Cultura e Artes na Contemporaneidade, oferece os melhores recursos para que
esta pesquisa se desenvolva.
Este estudo visa compreender as características presentes no estilo Chanel; identificar
as influências sofridas pela estilista por meio dos movimentos artísticos do início do século
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XX; descrever as situações que a levaram a inovar o vestuário feminino; estabelecer uma
relação entre a situação cultural vivida na Europa à época de Chanel e o desenvolvimento de
seu processo criativo; comparar a indumentária feminina do final do século XIX aos anos
iniciais do século XX e comprovar a influência de Chanel sobre a mudança do vestuário e do
comportamento feminino até os dias atuais.
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2 METODOLOGIA

Para este projeto de foi utilizada a metodologia da pesquisa biográfica, que consiste
em analisar o sujeito e suas relações com o meio; suas influências, interferências e atuações.
A vida de Gabrielle Bonheur Chanel foi pesquisada em bibliografias que trataram de
sua vida e obra do ponto de vista histórico, cultural e social, ressaltando suas atividades e
relações profissionais e pessoais na Europa do século XX.

O projeto fundador da pesquisa biográfica inscreve-se no quadro de uma das


questões centrais da antropologia social, que é a da constituição individual:
como os indivíduos se tornam indivíduos? Logo, essa questão convoca
muitas outras con- cernentes ao complexo de relações entre o indivíduo e
suas inscrições e entornos (históricos, sociais, culturais, linguísticos,
econômicos, políticos); entre o indivíduo e as representações que ele faz de
si próprio e das suas relações com os outros; entre o indivíduo e a dimensão
temporal de sua experiência e de sua existência. (DELORY-MOMBERGER,
2012, p. 523)
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3 INTRODUÇÃO

As criações de Coco Chanel refletem as mudanças ocorridas na cultura e no pensamento à


época em que viveu (1883-1971). Para maior compreensão do papel e importância de Chanel
na atualidade, é indispensável que este contexto seja investigado.

Coco Chanel não escreve com papel e tinta (a não ser nas horas vagas), mas
com pano, formas e cores, o que não impede que lhe atribuam a autoridade e
o prestígio de um escritor do século XVIII: elegante como Racine, jansnista
como Pascal (que ela cita), filosófica como la Rochefoucauld (que ela imita,
deitando máximas), sensível como Mme. de Sevigné, contestadora, enfim,
como a Grande Mademoiselle , de quem ela reúne cognome e função (ver
suas recentes declarações de guerra aos costureiros). Chanel, segundo dizem,
retém a moda à beira da barbárie e a cumula de todos os valores de ordem
clássica: razão, naturalidade, permanência, prazer de agradar, não de
surpreender; gostam muito de Chanel no FIGARO, onde, com Cocteau, ela
ocupa as margens da boa cultura mundana. (BARTHES, 2005, pp. 365-366).

As críticas, contestações e influências exercidas e sofridas por Coco Chanel têm amplo
reflexo no comportamento feminino até os dias atuais. Em uma época em que a mulher não
alcançava expressões nem mesmo para a escolha de sua aparência, a história de vida da jovem
Gabrielle Chanel - cuja origem pobre e solitária ela própria fazia questão de esconder e
fantasiar - representa um pensamento transgressor levado adiante por uma mulher corajosa e
ousada. Formadora de opinião, tanto na moda como na cultura, a estilista é considerada como
uma das mais marcantes personalidades do século XX.
Suas criações traduzem o pensamento de mudanças ocorridas na política, na educação,
na economia e no âmbito sociocultural da época em que viveu (1883-1971).
Uma mulher de vanguarda, como é descrita Coco Chanel por diferentes autores de sua
biografia, trouxe ao mundo da moda elementos de vestuário inimagináveis para o uso
feminino na época (início do século XX). Por meio de sua conscientização das necessidades
de adaptação aos esportes, ao trabalho e à simplificação do cotidiano, ela própria viveu cada
uma das situações que se propôs a inovar, transformando a vestimenta diferenciada em
característica de seu estilo e personalidade.
As atividades culturais, sociais e esportivas nas quais Chanel se envolvia, pediam
facilidade de movimentação. Com isso, desenvolveu um olhar até certo ponto facilitador e,
posteriormente estético, levando ao inusitado na moda feminina.
A resiliência havia sido sua companheira nos tempos de orfanato - e depois internato -
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sem que ela, no entanto, se conformasse com o aprisionamento do corpo feminino pelos
espartilhos, pelos chapéus ostensivamente enfeitados e pelo excesso de tecidos que
dificultavam a movimentação. Além disso, Chanel não aceitava o fato de que sua imagem
estivesse vinculada à pobreza, à origem humilde e a uma família não reconhecida na
sociedade francesa. Seu espírito inquieto e desejoso de novidades estava sempre em busca de
situações e pessoas que pudessem levá-la a um mundo mais criativo, diferenciado e
desafiador, o que se apresentou tanto em seu trabalho como estilista como em sua vida
pessoal e afetiva. A constante troca de parceiros poderia ter feito dela uma mulher
questionada, porém admirada justamente pela coragem e ousadia até então inadmissíveis para
uma jovem.
É necessário, para este estudo, compreender a vida da mulher tida como referência não
apenas no mundo da moda, mas como precursora de uma série de contestações
protagonizadas por gerações que a sucederam. Chanel está presente até hoje no
comportamento e no pensamento das mulheres e, ainda que não seja conhecida por todas, está
presente nos hábitos femininos contemporâneos.
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4 CULTURA E MODA

O estudo das relações entre cultura e moda é relevante por tratar das características de
uma determinada época. Além de ser uma forma de comunicação, a moda representa a
expressão de uma cultura e está condicionada- mas não determinada- a um contexto histórico-
cultural. Na moda, o pensamento de uma época e a identidade do indivíduo são traduzidos em
imagem. Funções, classes sociais e grupos de pertencimento refletem-se em diferentes peças
de vestuário e seus usos peculiares.
A moda é indicadora do processo de época pela qual uma determinada sociedade está
passando: locais, expressões artísticas, literatura, ideias, pensamentos, hábitos e bens de
consumo fazem parte desta cultura cujo produto individual representa a imagem de cada um.
Essa imagem pessoal, oriunda do processamento dos elementos de moda, é determinada pela
vestimenta, pela atitude, pela intenção e pela percepção do corpo; não é compreendida apenas
pela aparência, mas pelas diversas maneiras de usar as roupas e os acessórios e tais
indicadores estão presentes no gestual, na fala, na postura, na maneira de andar, agir. Sua
relevância está intimamente ligada com a intenção da ideia que se deseja passar ao
interlocutor. Imagem não é moda, mas pode representá-la, constituindo uma forma de
comunicação não-verbal.
A maneira como você se veste e se comporta reflete seus valores, personalidade,
pensamentos e atuação profissional, sinalizando seus gostos, estilo, crenças, costumes e o que
está vivendo. (KAWASAKI, 2014, p. 25)
O tema moda tem sido consideravelmente estudado nos últimos anos, mais
especificamente a partir dos anos 1980, devido à expansão desse mercado, conforme
observamos nas pesquisas, onde há maior facilidade na divulgação das criações dos estilistas
pelas diversas mídias.
A moda explodiu, em meados do século XX, junto com a onda consumista da cultura de
massas, tão transitória quanto são passageiras as imagens nos jornais, nas capas de revistas,
nas telas do cinema, na publicidade televisiva...
Nada poderia ser mais eficaz do que a moda para dar expressão teatral à experiência
alucinatória do mundo contemporâneo. (SANTAELLA, 2008, p. 116)
Afinal, o que se entende por moda?
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Conforme Roland Barthes em Inéditos Vol. 3 – imagem e moda, “a moda consiste em


imitar o que de início se mostrou inimitável” (BARTHES, 2005, p. 353). Para Giles
Lipovetsky,

há séculos, a moda apresenta-se como a quintessência, o próprio símbolo da


superficialidade, da fertilidade e da leveza. Por muito tempo qualificada de
“deusa caprichosa”, a moda é a manifestação social mais emblemática do
espírito e da estética frívolos. (LIPOVETSKY, 2016, p. 149)

Mestre em História da Ciência e especialista em História da Moda, o Professor João


Braga afirma em Tenho dito - Histórias e Reflexões que a palavra moda “tem sua origem
etimológica na língua latina e é derivada de modus que significa modo, maneira” (BRAGA,
2007, p. 121). E complementa:

Sendo de uso geral e amplo, moda fica associada ao estilo de época, ou seja,
algo que foi aceito por um grande número de pessoas, tornou-se coletivo,
datou o tempo e passou a ser sinônimo do gosto e do padrão estético
específicos de um determinado intervalo de tempo e de um grupo de pessoas.
(Idem, p. 122)

Ainda para Barthes, (...) os trabalhos propriamente científicos sobre a indumentária


apareceram por volta de 1860; são trabalhos de eruditos, de arquivistas como Quicherat,
Demay ou Enlart, em geral medievalistas; seu principal objetivo é tratar a indumentária como
uma soma de peças, e a peça indumentária em si, como uma espécie de acontecimento
histórico, convindo, antes de tudo, tratar seu aparecimento e dar sua origem circunstancial.
(BARTHES, 2005, p. 258)
Segundo Navarri, a moda configura um “instinto, portanto, que se preocupa talvez
mais com a mudança, com a ruptura do que com o conteúdo” (NAVARRI, 2010, p. 25). Neste
aspecto contextualizam-se as novidades trazidas por Coco Chanel, representando uma
verdadeira ruptura com ideias e comportamentos de uma época em que a valorização da
silhueta significava o aprisionamento do corpo feminino.
A Moda tem origem na Idade Média, segundo Braga, conforme cita em História da
Moda, uma narrativa (2008, p. 40), com o crescimento do poder econômico da burguesia, o
que permitia a essa classe social copiar as roupas da nobreza. As roupas passam a ser datadas,
recriadas e novamente copiadas. Tal sistema de crescimento do consumo de moda se verifica
desde então e a identidade dos grupos começa a criar pequenas diferenças entre si.
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Examinando a moda da aristocracia e da burguesia, percebem-se as semelhanças, decorrentes


da imitação da primeira pela segunda.
Em estudos de autores como o próprio João Braga, a exclusividade representativa da
nobreza teria seus dias contados a partir da possibilidade do desenvolvimento desta nova
classe, a burguesia. O status das aparências estaria então comprometido por meio de uma
nova maneira de se trajar, pela qual a burguesia intencionava se igualar aos seus dirigentes,
ainda que de uma forma superficial, visto tratar-se de uma classe sem tradição. A questão da
aparência tinha tão grande importância que determinadas cores, tipos de peles de animais e
tamanhos de bicos de calçados determinavam o status social de quem os usasse. Estava
instalado um sistema de diferenciação social, como forma de valorização individual.
Iniciado este movimento de imitação, tal recurso se mantém até nossos dias,
representado pelas coleções de moda lançadas em pelo menos duas grandes etapas anuais -
norteadas pelas estações de verão e inverno - por diferentes estilistas ao redor do mundo.
Recorrendo a uma breve análise do tema na França, especificamente, percebemos que,
ao longo do tempo e em diferentes épocas, o país é tido como referência de comportamento e
aparência. Etiqueta e moda são divulgadas em diferentes estudos com base nos costumes
franceses.
A moda faz parte da cultura e a reflete nas ruas, nos eventos e nas diversas situações
cotidianas. A partir de agora o tema será contextualizado no estudo do legado e das
influências sociais e culturais de Gabrielle Bonheur Chanel, Coco Chanel ou Mademoiselle
Chanel, como foi chamada durante as diferentes fases de sua vida: Infância e juventude,
conhecimento público e consolidação do nome, respectivamente.

4.1 A EUROPA DO FINAL DO SÉCULO XIX E O NASCIMENTO DE


GABRIELLE BONHEUR CHANEL

A Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX) e as duas Guerras Mundiais (1914-1918


– 1939-1945) foram grandes acontecimentos na história da humanidade que trouxeram
mudanças. Neste contexto será abordada a questão que se refere à posição das mulheres na
sociedade, a partir do trabalho de Coco Chanel.
Gabrielle Bonheur Chanel nasceu em 19 de agosto de 1883, em Saumur, interior da
França. Cresceu em meio à simplicidade, ao desconforto e, principalmente, com a ausência do
pai. Aos doze anos de idade perdeu sua mãe e foi levada pelo pai, juntamente com uma irmã,
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a viver no Orfanato de Aubazine. Lá permaneceu até completar dezoito anos. Sua


adolescência não foi muito diferente da infância. Foram anos de privações, de solidão e
educação rígida, o que a levou a se interessar por livros e imaginar-se em lugar das
protagonistas, quase sempre com final feliz.
Gabrielle Chanel nasceu em determinada situação da Europa. Não foi à toa que seus
intentos, quando mais velha, foram, aos poucos, se concretizando. Situar-se é viver em
determinada época, em determinado contexto. E ela estava situada, ciente do que poderia
aproveitar diante de tudo o que se apresentaria a sua frente.
Chanel não surgiu pela vontade de ser uma profissional da moda. Ao contrário, o
contexto histórico em que se encontrava foi a oportunidade para que sua criatividade e astúcia
se apresentassem em meio à marcha pela busca de novas identidades: a sociedade europeia
presenciava, desde meados do século XIX, as transformações na ciência, na arquitetura, nas
artes, na sociedade como um todo.
Diante desta realidade, a moça nascida no interior da França e criada no internato foi
encontrar no comércio a fonte de renda possível para se manter, aos vinte anos, após ter
vivido seis anos em Aubazine e dois anos em um pensionato. Chanel sempre se mostrou
inquieta no campo das ideias.
Como vendedora de uma loja para uma clientela burguesa em Moulins, Chanel logo se
tornou uma atendente conhecida pelo capricho com que tecia pequenos consertos. E assim
conheceu Étienne Balsan(1878-1953), um oficial da infantaria. Por meio dele, Chanel
conheceu uma nova realidade de vida. Depois que passou a se apresentar no La Rotonde, uma
casa de música e dança frequentada por homens e mulheres em busca de companhia e
diversão, tornou-se conhecida por seu aspecto jovial e encantava os frequentadores da casa,
cantando e dançando. Chanel era chamada a frequentar corridas de cavalo em companhia de
Balsan e foi convidada, pouco tempo depois, para residir em Royallieu, residência deste
jovem milionário. Ela estava com 25 anos.
Para ser convidada a Royallieu, uma mulher precisava ser alegre, usar botas e estar
disposta a galopar o dia inteiro, de um extremo a outro na floresta. (CHARLES-ROUX, 2007,
p. 71).
A inventividade de Chanel passa a se mostrar de maneira mais intensa e objetiva,
quando a necessidade de adequar as vestimentas se tornam indispensáveis diante da nova vida
com a qual se confrontava. Ela não hesita em usar roupas masculinas para cavalgar, por
exemplo, e acaba transformando o hábito de adaptar o masculino para o feminino em sua
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marca registrada. Com graciosidade e feminilidade as calças compridas, as gravatas, paletós e


suéteres se moldam ao seu guarda-roupa, para espanto e admiração dos amigos de Étienne
Balsan. Chanel quebrava os padrões, em um momento em que todos ansiavam por novidades.
Aos poucos se inicia o processo de seu reconhecimento.
Sua convicção em usar sempre o que fosse adequado às atividades e situações
começava a se mostrar. Chanel estava decidida a ser aceita da maneira em que se apresentava,
com o espírito contestador, inovadora e atrevida para a época, e aspirava mais. Seu olhar
objetivo era traduzido principalmente na simplicidade “construída” com que se vestia. Em sua
fala se percebe o conceito pessoal que tinha sobre elegância, uma das características da
atemporalidade de suas roupas:
A moda tem dois objetivos: o conforto e o amor. A beleza é quando ela chega a isso.
“O conforto tem formas. O amor tem cores. Uma saia é feita para cruzar as pernas e
uma manga, para cruzar os braços.” Chanel (CHARLES-ROUX, 2007, p. 377)
O acesso ao mercado de trabalho por ocasião da I Guerra, quando os homens passaram
a combater nas trincheiras, trouxe a necessidade de adequação de roupas usadas até então para
as tarefas domésticas e para a vida social. Excesso de detalhes e adereços passaram a ser
substituídos por modelos cuja praticidade favorecia as novas atividades femininas. Mulheres
encurtavam suas saias, ajustavam os vestidos, deixando-os mais próximos ao corpo a fim,
principalmente, de evitar acidentes com as máquinas. Além disso, este é o período em que
tem início a liberdade sexual. Os cabelos também foram cortados, para facilitar o manuseio
das novas ferramentas de trabalho utilizadas pela população feminina, além de representar
novo olhar sobre a imagem da mulher: facilidade e liberdade de expressão visual. O tempo é
valorizado financeiramente nesta sociedade capitalista. Tais mudanças permaneceram mesmo
após o período de guerra, oferecendo novos ares para a moda e o código de vestimenta.
Nas duas guerras do século, fatores políticos, econômicos e sociais modificaram a
situação feminina, forçando as normas culturais. As mulheres voluntárias ou oficialmente
chamadas para o trabalho engajaram-se na economia de guerra, são a mão-de-obra nas
fábricas, nos hospitais ou ânimo no campo de batalha... Os papéis sociais e econômicos do
masculino e do feminino modificam-se. A mulher rompe com a dedicação exclusiva ao lar e
explora novos espaços, não só pela necessidade social da guerra, mas pela busca de
integridade pessoal. (DE CARLI, 2002, p. 130)
A Europa se encontra em pleno período de emancipação das mulheres e os excessos da
Belle Époque (1890, aproximadamente, a 1914) vão se moldando à simplicidade de um
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vestuário condizente com a nova realidade cultural. Uma verdadeira onda de mudanças foi
iniciada muito antes do aparecimento das primeiras peças assinadas por Coco Chanel,
advindas tanto das necessidades de trabalho quanto das novas atividades femininas
representadas pela euforia pós-guerra. Ainda que a I Guerra tenha chegado ao fim, esta
população, que havia se colocado no mercado de trabalho, não abre mão da liberdade
conquistada. Eis aí a característica da indumentária desta época, traduzida por liberdade de
expressão, mesmo que utilizada dentro dos conformes de uma sociedade com resquícios de
conservadorismo ainda sob o choque dos recentes anos de guerra.
É certo que não existe moda sem que haja uma equipe interdisciplinar que a origine e
dê embasamento. São os fatos e as necessidades que contextualizam e permitem o surgimento
e crescimento das inovações, através de mentes visionárias como Chanel.
Não apenas a criatividade, mas a sensibilidade e a percepção permitiram que seu
espírito inquieto desenvolvesse suas habilidades através das roupas. Chanel soube
compreender a necessidade de alterações no vestuário feminino e, com ele, demonstrar a
mudança de atitudes, comportamentos e conceitos.
O Estilo Chanel, como ela própria denominou suas criações, estendeu-se para além do
guarda-roupa e tornou-se atemporal, conforme se comprova através dos anos. Dotada de
criatividade e espírito contestador, Coco Chanel facilitou as atividades cotidianas femininas,
eliminando excessos, proporcionando conforto e liberdade de movimentos. Mais do que isso,
suas atitudes ousadas para os padrões da época serviram de incentivo a uma geração de
mulheres até então submissas às regras de pensamento, ação e escolha. Neste âmbito, Chanel
apresentou com maestria a possibilidade de uso de tecidos maleáveis, menos nobres para os
costumes da época, mas em total alinhamento com as condições econômicas da sociedade.
Especialmente no início do século XX, com o advento da I Guerra (1914-1918), foi ela quem
melhor representou a realidade financeira no âmbito da vestimenta sem que, no entanto, se
perdesse o valor da elegância na forma de se trajar. Além disso, seu comportamento serviu de
inspiração para a mudança do pensamento feminino em diferentes âmbitos.
Apesar das mudanças sociais provocadas pelos acontecimentos do período, o papel da
mulher ainda era restrito às atividades do lar. As atrizes, cantoras e demais artistas recebiam
olhares de reprovação por suas atividades e pela aparência despojada com que se vestiam.
Ainda que fama e capacidade artística fossem reconhecidas no palco, estas mulheres estavam
fadadas à solidão, a não constituir família. Poucos eram os homens capazes de enfrentar as
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críticas para estar publicamente ao lado de uma mulher que não cumprisse as exigências
sociais da época.
Assim, as frequentadoras da residência de Étienne Balsan disputavam entre si os
cortejos e os benefícios de se utilizarem de algo que não lhes pertencia por direito, aliados a
status social. Porém, fora dali, não podiam se colocar ao lado de seus companheiros, pois
eram vistas como moças de menor valor, cuja presença incomodava às damas da sociedade.
E como se comportavam as mulheres da época? Cabe aqui um breve olhar sobre
alguns dos acontecimentos sócio-culturais do final do século XIX e início do século XX, a
fim de compreender em que situação cresce a personalidade Coco Chanel.

4.2 A EUROPA EM ACRISOLAMENTO

Acrisolar vtd 2. Depurar, purificar.


(Aurélio, 2010)

Ondas inovadoras se chocavam contra conceitos preexistentes. Cada vez mais,


europeus ouviam palavras de ordem dos socialistas e anarquistas, os clamores das mulheres
por direitos iguais e as queixas das minorias étnicas, enquanto ideias ocidentais abalavam a
subjugada Asia. (BLEINEY, 2005, p. 37)
Durante os séculos século XIX e XX, com as possibilidades financeiras oferecidas
pela Revolução Industrial na Inglaterra e na França, a Europa foi local de mudanças trazidas
pelo desenvolvimento social e econômico, onde se podem destacar: as Exposições Universais
(Londres, 1850 e Paris, 1854); a Exposição dos Recusados (1863, França); a primeira
Exposição dos Impressionistas (1874, Paris); a criação da Alta Costura pelo costureiro inglês
Charles Frederick Worth (1857-1858, França); a morte da Rainha Vitória (1819-1901,
Inglaterra); a criação do relógio de pulso pela Maison Cartier para o brasileiro Santos Dumont
(1873-1932), em 1904; a invenção do avião, também por Santos Dumont (1906, França).
Esses fatos marcaram para sempre a história do homem, trazendo modernidades, facilidades e
liberdade.
Neste período a sociedade europeia convive com a teoria Evolucionista de Charles
Darwin (1809-1882); o início do uso do metal na arquitetura; a reconstrução de Paris pelo
Barão de Haussmann (1809-1891) - a pedido de NapoleãoIII (1808-1873) o surgimento das
fotografias aéreas de Felix de Nadar; os estudos de Química, Biologia e posteriormente Física,
de Charles Darwin; as teorias sobre a espiritualidade, de Henri Bergson (1859-1941); o
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balonismo; a influência dos estilos Art Nouveau e Art Déco, e o movimento Arts & Crafts,
que combatia a produção em massa trazida pela Revolução Industrial.
Um termo novo: “Art déco” – Em 1925, na Grande Exposição das Artes Decorativas,
num pavilhão construído à margem da Esplanade des Invalides no qual se exprimiam
arquitetos e decoradores reputados, Jean Dunand propunha, para uma imaginária embaixada
da França, o cenário de uma sala de fumar como nunca se vira. Era inteiramente laqueada de
preto. De uma suntuosidade baudelairiana , com o teto luminoso, os batentes das portas e
janelas interiores laqueados de vermelho ou de prata, essa sala de fumar, ao revelar o talento
de Jean Dunand, teria uma influência determinante sobre os gostos da época. (CHARLES-
ROUX, 2007, p. 219)
Toda sorte de criatividade motivada pela falta de condições financeiras dava espaço às
novas mentalidades, sedentas de expor ideias que proporcionassem diferenciais em todos os
segmentos e, por sua vez, possibilitassem um retorno à exclusividade, como contraponto à
massificação industrial de produtos. O paradoxo máquina-artesanato toma a frente dos
pensamentos. As artes, as ciências e a arquitetura utilizam-se de novos recursos visuais, novas
pesquisas, e novos materiais para a construção. É tempo de comunicar-se e expressar-se com
certa liberdade.
O corpo não fica fora desse novo pensamento. A liberdade de expressão exime as
mulheres do uso espartilho e das vestimentas usadas na Belle Époque.
O excesso de informações visuais passa a ser substituído por um vestuário mais
confortável, menos rígido. Outra característica dos moimentos protagonizados por Chanel é
que além de criar, ela inovava. O primeiro trazia novas sensações; o segundo, possibilitava a
aquisição pelas clientes e significava, portanto, lucro e crescimento para seus negócios.
Chanel trabalhou a vida toda, incansavelmente. Tinha, sim, um projeto de vida maior
do que a grande parte das mulheres, a fim de alcançar sua independência financeira. Sem
contrair matrimônio, uma condição para a época, ela se manteve e chegou a empregar cinco
mil costureiras em seus ateliês da Rue Cambon.
As ideias feministas e a luta pelo direito ao voto acompanhavam o ideal de liberdade
das mulheres. Neste aspecto, Chanel sofreu com a própria ousadia, sendo surpreendida por
uma greve de suas funcionárias, no ano de 1936, em decorrência da adesão feminina aos
movimentos que defendiam salários e direitos dos trabalhadores.
Para a jovem Gabrielle Chanel, já era o momento de trazer à sociedade seu olhar sobre
a vestimenta e o comportamento feminino, partindo de suas próprias adequações, vontades e
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necessidades. Apesar de sua criação em convento e da timidez em função das


impossibilidades financeiras, Chanel se tornara irreverente diante da vida. Dizia o que
pensava, era afiada e crítica. Além disso, era desejada por todos os homens que a conheciam.
De certa forma, estava aí uma facilidade para que ela pudesse surgir nos meios mais
improváveis.

4.3 AS POSSIBILIDADES DE CRESCIMENTO

Chanel nunca escondeu seu desejo de reconhecimento pela sociedade. Não se tratava
de um reconhecimento artístico, embora ela fosse, sim, uma artesã e tivesse aspirado ao
estrelato com a dança ou a música. Mas a força que a impulsionava estava na busca pelo
diferente: conforto, adequação, elegância e transgressão em roupas, atitudes, pensamentos e
comportamento. Para a sociedade do início do século XX, quaisquer movimentos exercidos
pela ala feminina da população já representavam transgressão. Ora, não teria a mulher sido
criada para servir ao marido e ao lar? [...] cada mulher trabalha para sua família no sentido
estrito da palavra, ou seja, o marido e os filhos, mas também, quando chega a sua vez, para os
membros solteiros da comunidade e os órfãos (Guidett & Stall, 1977 apud HOBSBAWN,
2012, p. 58).
Assim, ao sair de casa para o trabalho, a mulher estaria se expondo aos olhos públicos.
A não ser que se justificassem tais atitudes como necessidade de trabalho para prover a
família na ausência do marido, estava longe de ser este o ideal de modelo feminino
preconizado para a época.
Por meio das possibilidades surgidas a partir de seu ofício, fosse como vendedora,
fosse como cantora ou amante, Chanel viu-se frente a frente com pessoas influentes e que
poderiam conduzi-la a um novo patamar social. Entretanto, manteve-se fiel ao seu trabalho
criativo, sem negligenciar as oportunidades. Neste momento ela se torna nitidamente uma
figura pública, em contraposição ao pensamento existente sobre a figura feminina dedicada
apenas ao lar.
Etiénne Balsan foi um dos grandes responsáveis por apresentá-la à sociedade, embora
ela não pudesse compartilhar diretamente de sua vida. A origem pobre, que ela sempre fez
questão de esconder, estava evidente ainda que fosse vista circulando com elegância.
Sobrenomes de peso eram incontestáveis passaportes para a escalada social e com isso ela não
podia contar.
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Como alcançar o reconhecimento? Chanel contava, sem dúvida, com dois fatores: seu
caráter determinado e inovador e a época apropriada vivida pela Europa. Juntos, no momento
certo, seriam uma fórmula poderosa.
Em Royalieu, onde compartilhava aposentos, festas e conversas regadas a bebidas,
jogos e luxos, além de receber olhares de admiração e desejo dos amigos de Balsan, Chanel
conheceu Arthur Edward “Boy” Capel (1881-1919)_,inglês herdeiro de minas de carvão,
jovem e popular em seu meio. A sedução de ambos os aproximou e ele exerceu o papel que
caberia, até então, a Étienne Balsan: incentivar a amiga Chanel a desenvolver seu talento para
a confecção de chapéus. Isso já era feito com maestria e a intenção de Coco era de
transformar a pequena rotina criativa em ofício lucrativo. A concretização veio por meio do
apoio de Arthur “Boy“ Capel, como era chamado. Chanel mudou-se para o Boulevard de
Malhesherbs, número 160, tendo como clientes suas amigas, que se encantavam com a
originalidade de suas criações bem simples, se comparadas ao gosto vigente da estética do Art
Nouveau. (BRAGA, 2013, p.25)
O local era um apartamento finalmente cedido por Balsan, para que ela desenvolvesse
seu trabalho. Ao se tornarem vizinhos, no ano de 1909, a relação entre Chanel e Boy pôde
florescer. Entretanto, nunca passaram de amantes apesar do forte sentimento que os unia e do
apoio financeiro que ele lhe ofereceu. Mais tarde, Chanel pagaria cada centavo que lhe fora
emprestado. E ele se transformaria no grande amor de sua vida, segundo relatos de estudiosos
de sua biografia citados nesta pesquisa.
O nome de Coco Chanel passou a ser conhecido cada vez mais pela criação dos
chapéus quando as moças frequentadoras de Royalieu passaram a fazer sucesso como artistas.
Todas, invariavelmente, usavam chapéus feitos pela amiga. Além disso, uma parceria
inusitada com o costureiro Jacques Doucet levou-a aos palcos. Nesta oportunidade, em 1912,
ela criou o chapéu que seria usado pela atriz Gabrielle Dorziat (1880-1979) para completar
seu figurino. E seus modelos eram oportunamente desfilados por amigas, a fim de tornar
conhecido seu estilo despojado e inovador.

4.4 ALÉM DE COSTUREIROS, ATRIZES E DAMAS DA SOCIEDADE: O


CONTATO DE CHANEL COM AS ARTES E COM A CULTURA
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Três nomes eram incontestáveis no mundo da moda no final do século XIX e início do
século XX: Charles Frederick Worth (1825-1895), Jacques Doucet (1853-1929) e Paul Poiret
(1879-1944).
Charles Frederick Worth era inglês e havia se mudado para a França com a finalidade
de exercer seu trabalho. Foi ele o responsável pela criação de assinatura nas roupas e criar
uma nova coleção a cada estação do ano. Em 1910, Worth criou a Chambre Syndicale de la
Couture Parisienne, uma instituição que cuidava da produção de roupas artesanais e
sofisticadas, pertencentes ao comércio de luxo. Suas clientes eram de famílias tradicionais,
abastadas e exigentes.
O francês Jacques Doucet teve sua carreira de costureiro permeada por coleções de
obras de arte, por meio de cuja valorização tornou-se rico. Nesta época trabalhava com ele
outro nome que se tornaria grandemente conhecido: Paul Poiret.
Foi esse grande nome da moda francesa e, por extensão, da moda mundial, entre
inúmeras outras contribuições inovadoras, quem sugeriu o fim do uso do espartilho. Esse fato
só foi concretizado durante os anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando as
mulheres tiveram que usar roupas mais práticas, funcionais e confortáveis para trabalhar, uma
vez que os homens tinham partido para o campo de batalha. (BRAGA, 2013, p. 23)
A moda de Poiret ecoou nos intentos inovadores de Chanel. Ela validou sua proposta
de abolição do espartilho como uma das ferramentas mais preciosas de suas roupas. O
conforto e a maleabilidade das composições que tanto buscava oferecer às clientes viriam,
mais tarde, quando Coco resolveu lançar mão do jérsei, tecido até então utilizado somente
para roupas esportivas e peças íntimas, conforme será citado adiante, e do tricô, visto como
opção de segunda ordem, usado pelos trabalhadores em dias mais frios. (o jérsei era um tricô
feito à máquina).
A sociedade que consumia peças de vestuário de Worth e Doucet passou a enxergar a
modista iniciante, porém talentosa.
Chanel tinha prazer em pensar no trabalho e realizá-lo. Circulava por Paris e a cidade
oferecia inúmeros locais de entretenimento. Para ela, nada deveria ser apenas lazer e em tudo
havia uma proposta para criar, ousar, inovar.
Em Montmartre havia uma casa mal conservada e mofada, um cafarnaum que, no
início do século, foi o ponto de partida de uma revolução artística: o Bateau-Lavoir, berço do
cubismo. Foi ali, a poucos passos da casa de Caryathis, amiga de toda Mont-martre, que
viveram, na maior miséria, Juan Gris e Pierre Reverdy. Um era pintor, o outro poeta. Ambos
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se relacionaram com Gabrielle. Um a admirou; o outro a amou. (CHARLES-ROUX, 2007, p.


101)
Caryathis (Élisabeth Toulemont, 1888-1971) era uma dançarina que fazia questão de
transgredir. Seu figurino para o balé era excêntrico, mostrava-se quase nua em suas
apresentações. Foi uma das primeiras mulheres a usar cabelos curtos. Era amiga dos artistas e
com ela Chanel se identificou como aluna nas aulas de dança rítmica, talento que não
floresceu e deu apenas início à amizade entre elas.
A vida de Gabrielle Chanel era permeada de novidades e pessoas das mais variadas
tribos. Entretanto, era em meio aos artistas que seu talento e sua eloquência falavam alto e de
maneira livre. Havia identificação cultural, pois todos se encontravam envolvidos pela
atmosfera de tudo que significasse inovação, simplificação de vida e estilo. Chanel soube
conviver com pensamentos artísticos e literários, mesmo não tendo educação formal sobre os
temas. Seus amigos estavam circunscritos a uma sociedade de poetas, pintores, fotógrafos,
artistas, músicos, dançarinos. Contudo, ela iria além. Chanel não entendia moda como arte,
conforme alguns definiam o tema.
Os ilustradores de moda trabalham com o lápis: é uma arte. Os costureiros, com
tesoura e alfinetes: é um assunto do cotidiano. Chanel. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 377) A
Europa vivia uma fase de transição na cultura, sendo os movimentos e escolas artísticas
emergentes os grandes causadores das mudanças sócio-culturais. Havia um certo
desprendimento dos padrões sociais outrora vividos, como observado na fala de Pierre
Reverdy sobre o Bateau-Lavoir: Sinto pena daqueles que, tendo sido testemunhas dessa
maravilhosa época, não quiseram partilhar, junto com provações muitas vezes repulsivas e
penosas, sua incomparável e poderosa emoção, sua felicidade espiritual. (CHARLES-ROUX,
2007, p.102).
É certo que, colaborando com protagonistas dos movimentos artísticos, Chanel
também foi influenciada por eles em suas composições. Por não estar próxima a ninguém de
sua família, era nos amigos que ela encontrava apoio, a quem prestava solidariedade e com
quem passou a maior parte de sua vida.
Vale citar alguns dos nomes com quem Chanel mesclou seu talento e sensibilidade,
tendo muitas vezes prestado apoio financeiro ou colocado frente a frente aqueles que
poderiam juntar-se para boas parcerias culturais: os escritores Paul Morand (1888-1976) e
Jean Cocteau (1889-1963); os pintores Juan Gris (1998-1927), Pablo Picasso (1881-1974),
Henri Matisse (1869-1954), Salvador Dalí (1904-1989), Kees Van Dongen, o “Kiki” (1877-
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1968), José-Maria Sert (1874-1945); os ilustradores de moda e desenhistas Christian Bérard


(1902-1949) e Paul Iribe (1883-1935), que também era fotógrafo; o músico Igor Stravinski
(1882-1971); o produtor de ballet e investidor das artes Conde Étienne de Beaumont (1883-
1956) e os bailarinos, críticos e coreógrafos Serge Diaghilev (1872-1929), Léonide Massine
(1895-1979) e Serge Lifar (1905-1986). Havia muitos outros com quem Coco Chanel
compartilhou sua criatividade, seu talento e suas divagações acerca da vida e dos amores.
Alguns deles, assim como ela própria, foram fotografados por Man Ray (Emmanuel
Radnitzky, 1890-1976), um dos fotógrafos responsáveis por colocá-la na mídia, conforme
será comentado mais adiante. E sobre outros, ainda, há rumores de terem sido seus amantes.
Destes contatos surgiram oportunidades para que Chanel assinasse figurinos para
teatro e ballet. Invariavelmente, eram os mais observados, inovadores e comentados. Para o
espetáculo intitulado Le train bleu, encenado em 1924, de autoria de Diaghlev, por exemplo,
Chanel utilizou-se de um vestuário real: sandálias, calçados de golfe e roupas de malha. Desta
forma ela usava para os atores o mesmo tipo de vestimenta que apresentava no dia-a-dia. Aí
estava o seu diferencial, uma vez mais marcado pela simplicidade.

4.5 SUFRAGISTAS E GREVISTAS

A atuação de Coco Chanel deu mostras de independência e autossuficiência. Sua ideia


de trabalho para se manter e a liberdade de relacionar-se com toda a sorte de pessoas, de
diferentes segmentos e classes sociais era uma força que atraía e repudiava, ao mesmo tempo.
Quem era aquela mulher na qual muitas outras se inspiravam?
Mulheres saiam de casa para trabalhar. Os homens estavam na frente de batalha. Era
necessário adequar-se a uma nova rotina e as mulheres precisavam de tudo o que lhes
proporcionasse facilidades. Pela primeira vez a feminilidade e a imagem da mulher fortalecida
estavam em um mesmo patamar. As decisões, outrora dos chefes de família, passaram às
mãos e ao comando das mães de família, das enfermeiras, das comerciantes, das trabalhadoras
de todas as áreas. Apenas a aristocracia estaria impune a esta nova ordem. Mulheres da
burguesia e demais classes se igualavam quanto a necessidade de prover o lar, cuidar dos
filhos e atender à vida profissional fora do ambiente doméstico. Vale dizer, contudo, que o
trabalho feminino fora do lar já era desenvolvido nas áreas rurais.
As movimentações ocorridas na Europa neste período trouxeram à tona uma realidade:
algumas mulheres já podiam trabalhar e votar. Estavam aptas a tomar decisões, enfrentar
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problemas e gerir recursos para manter a família. Era justamente o que vinham fazendo
mesmo depois de terminada a I Guerra. Nada mais justo do que escolher seus representantes.
Nem todos os países, entretanto, ofereciam essas condições à população feminina, embora já
houvesse um indício de mudanças do posicionamento feminino na sociedade.
As necessidades de atuação diversificada, a falta de recursos proveniente da economia
desestabilizada e o reflexo das agitações culturais dos primeiros anos do século XX haviam se
incorporado no cotidiano e nessa perspectiva eram as mulheres as protagonistas.

[...] esse privilégio dado ao mundo do trabalho possivelmente se deve a certo


vínculo inicial dessas pesquisas aos estudos sobre o movimento operário e a
uma herança da tradição marxista, mas especificamente da teoria do
patriarcado cuja preocupação era identificar os signos da opressão masculina
e capitalista sobre as mulheres. (MATOS, 2015, p.45)

Os movimentos nos quais as mulheres tomaram parte trouxeram a possibilidade de


estudos específicos sobre as mulheres, assim como o fez Foucalt, por meio dos quais se
desenvolveram pesquisas acerca de gênero.
Gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças
percebidas entre os sexos, e gênero é uma maneira primordial [primary way] de significar
relações de poder. (SCOTT, 1986, p. 1067 apud PELEGRINI, 2012)
As relações entre os sexos estiveram sempre baseadas principalmente na questão
familiar, no modelo patriarcal vigente. Era papel do homem ser provedor. À mulher cabia
apenas e tão somente educar os filhos, cuidar do lar e promover um ambiente saudável e
acolhedor para quando seu marido retornasse da exaustiva jornada de trabalho. Entretanto,
nem educar os filhos era tarefa simples e nem só o homem tinha uma jornada exaustiva. A
questão era a falta de reconhecimento da capacidade feminina e um antigo e inquestionável
modelo de força e comando masculinos. Tal modelo começou a sofrer resistência com a
necessidade de mudança cultural da qual vimos falando até então.
Aquelas que viviam em centros urbanos começavam a adquirir seu espaço no mercado
de trabalho. As que moravam na área rural já o faziam, embora este tipo de trabalho no campo
não causasse incômodo por se tratar, na maioria das vezes, de um trabalho familiar.
Ao buscar nova identidade com base nas capacidades já demonstradas com o trabalho,
embora ainda sufocada pelos ditames da opressão de gêneros, a população feminina começava
a se colocar diante do paradoxo: podia dirigir escolas, orfanatos, lecionar, trabalhar no
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comércio e nas fábricas. Podia assumir responsabilidades diante dos serviços que prestava e
trabalhos que desenvolvia, mas não estava à altura do direito ao voto.
Assim, em 1897 tem início o movimento sufragista, liderado pela educadora inglesa
Millincet Fawcett (1847-1929). Com a repressão policial que sofriam ao se manifestarem, as
feministas participantes passaram a agir com mais veemência, enfrentando as tropas. As
manifestações tomaram vulto e foram noticiadas em outros países, culminando com a
aceitação de igualdade de gênero em termos de voto.
Havia, porém, muito ainda a ser conquistado.
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5 UMA MODISTA, O GUARDA-ROUPA MASCULINO, E AS


QUESTÕES DE GÊNERO

“O adereço, que ciência! A beleza, que arma! A modéstia, que elegância! O


bom gosto arruína alguns valores reais do espírito: o gosto em sua forma
mais simples, por exemplo.” Coco Chanel (CHARLES-ROUX, 2017, p.
377)

A personalidade inquieta de Chanel era presença marcante nas rodas que frequentava.
Não havia qualquer possibilidade de não ser notada, fosse pela postura, fosse pelo incômodo
que causava com sua presença. Se antes, olhares inconformados recaíam sobre a moça de
origem humilde que se diferenciava por seus trajes simples, os mesmos olhares
demonstravam curiosidade e admiração quando ela passou a ser referência de elegância e
sofisticação pelo uso da simplicidade na composição de se visual. Para Chanel, menos era
mais. Menos tecidos, menos detalhes, menos informação visual, menos adereços; mais
conforto, mais movimentos, mais liberdade e, consequentemente, mais elegância. Não apenas
no trajar-se, mas no agir.
Esta simplicidade, todavia, não viria apenas pelos ditames de uma moda em voga.
Aliás, Chanel era contrária à moda. Pesava muito mais que usasse algo que lhe agradasse, a
agradar às ruas. Uma vez mais o contexto em que se encontrava e os ares de um tempo
contribuíram – se não obrigaram-na a agir – para que ocorressem adaptações. A elegância
estava em ser coerente com a época. Havia necessidade de economizar tecidos tanto na I e II
Guerras como no período entre elas. Chanel não criou o modelo masculino de roupas
femininas, mas pensou em adaptação como forma de facilitação. Nada importava mais do que
a atitude feminina que defendia ideais, enfrentava olhares de reprovação e, sobretudo,
circulava entre ricos e pobres, artistas e intelectuais, burgueses e aristocratas.
A guerra serve de motivação para a criação de um novo gênero. O uso do terno por
exemplo, está relacionado à emancipação feminina, de certa forma equiparada à imagem
masculina de força e poder; assim, também, a praticidade da escolha do preto para roupas de
uso diário remete a um visual mais sério e menos frágil do que aquele associado à figura
feminina.
Outro detalhe importante para a época e pouco ou quase nada usado eram os cabelos
curtos para as mulheres.
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A ofensiva dos cabelos curtos começou em maio de 1917. O acontecimento


está assinalado nesssa data no diário de Paul Morand: “De alguns dias para
cá, a moda entre as mulheres é usar cabelos curtos. Todas fazem isso:
senhora Letellier e Chanel, na linha de frente.”. (CHARLES-ROUX, 2007,
p. 143)

Uma mulher que cortasse os cabelos não era aplaudida. Cabelos sempre significaram
sensualidade, feminilidade. Daí também o motivo de algumas religiões e crenças não
permitirem que eles ficassem à mostra.
Para a época, nada mais ofensivo. O que buscavam essas mulheres que, de repente,
resolveram abandonar o espartilho, subir o comprimento das saias, usar calças compridas,
bronzear a pele sob o sol, copiar modelos de roupas masculinas? A moda prescrita pelas Belle
Époque realmente estava banida. Os cabelos eram mais uma prova de que a mulher, aos
poucos, se tornava responsável pelas escolhas.

5.1 A FIGURA FEMININA NO CONTEXTO SOCIAL DA ÉPOCA

A atuação de Coco Chanel deu mostras de independência e autossuficiência. Sua


atitude de trabalhar para se manter e a liberdade de relacionar-se com toda a sorte de pessoas,
de diferentes segmentos e classes sociais era uma força que atraía e repudiava, ao mesmo
tempo. Quem era aquela mulher na qual muitas outras se inspiravam? Uma feminista com
personalidade forte, dona de si, autêntica e irrefreável, mas não inatingível.
Chanel nasceu em cresceu em uma época sobre a qual pesavam valores familiares,
religiosos e morais. Mulheres independentes, que não atendessem às normas sociais – casar,
ter filhos, obedecer ao marido, servir à família, resignar-se, aceitar a submissão– não estariam
entre as mais respeitadas. A dignidade feminina estava atrelada ao modelo patriarcal ao qual
deveriam pertencer e cujas ordens deveriam reverenciar.
Em meados do século XIX, as características principais da cultura feminina estão
estruturadas ao sólido ambiente familiar acolhedor, com filhos bem educados e esposa
dedicada ao marido. (XIMENES, 2009, p.35).
Contra esse conceito idealizado sobre a imagem feminina, tão arraigado e indiscutível
desde os séculos anteriores, estava uma das lutas da sociedade no século XX. Sem levantar
bandeiras e colocar-se à frente de passeatas ou movimentos ostensivos, Chanel liderava a
ideia de liberdade entre as mulheres. A prática de esportes foi muito difundida como forma de
cuidados com o corpo e a saúde, exemplos uma vida saudável. Convém lembrar, entretanto,
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que este mesmo esporte é sinônimo de uma sociedade autoritária, em época de guerras e
combates às novas reivindicações. O corpo era objeto de disciplina.
A realidade da Europa exigia nova dinâmica diante da vida cotidiana. O mundo não
parou em função das Guerras, mas sim, fomentou novas atividades. A I Guerra era um fato
incorporado à rotina e as mulheres saíram de casa para trabalhar, pois os pais, irmãos e filhos
estavam na frente de batalha. Era necessário adequar-se a uma nova forma de viver e
gerenciar a casa, a família, os filhos e a população feminina necessitava de tudo o que lhe
proporcionasse facilidade. As decisões, outrora dos chefes de família, passaram às mãos e ao
comando das mães de família, das enfermeiras, das comerciantes, das trabalhadoras de todas
as áreas. Apenas a aristocracia estava impune a esta nova ordem. Mulheres da burguesia e
demais classes se igualavam quanto a necessidade de prover o lar, cuidar dos filhos e atender
à vida profissional fora do ambiente doméstico.
Assim, contrariamente à ideia desenvolvida por F. Engels, as mulheres nunca se
dedicaram exclusivamente às tarefas domésticas. As mulheres sempre participaram das tarefas
produtivas, seja como coletoras, agricultoras, artesãs, operárias a domicilio ou na grande
indústria, com exceção daquelas que integravam as classes dominantes, ou seja, precisamente
nas sociedades onde já existiam a propriedade privada e as classes sociais. (CHABAUD-
RYCHTER, 2014, p.364)
Chanel representava tanto a personalidade decida quanto a mulher feminina que,
apesar de não acentuar as curvas do corpo, não deixava de ser sensual.
Por meio de seu estilo a feminilidade e a imagem da mulher fortalecida estavam em
um mesmo patamar: vestia-se de forma a afrontar a sociedade, mas sabia ser sedutora quando
a ocasião ou seus interesses exigiam. E para isso, adequava sua vestimenta.
Desde que a grande indústria tirou a mulher de dentro de casa, a enviou ao mercado de
trabalho e à fábrica, e que ela, frequentemente transformou-se no sustento da família, na casa
do proletário toda a base foi retirada até o último vestígio da supremacia masculina – com
exceção, talvez, de um resquício de brutalidade contra as mulheres que se instaurou nos
costumes com a introdução da monogamia. (ENGELS, 1974; 1884, p.80 apud CHABAUD-
RYCHTER, 2014, p 365).
Além da questão visual interpretada pelo guarda-roupa, a relação de Chanel com o
feminismo transpareceu em 1920, com a criação de seu primeiro perfume, pelo químico e
perfumista Ernest Beaux (1881-1961). Para aprovar seu aroma, ela solicitou que o perfume
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tivesse cheiro de mulher e não de flor. Uma combinação de 80 ingredientes levaram à escolha
do número 5, conforme foi batizado.
Um acontecimento na vida de Chanel: em 1920 nascia o No. 5, apresentado num
frasco despojado que contrariava a afetação dominante entre os perfumistas, um frasco
simples como um cubo. (CHARLES-ROUX, 2007, p.184).
Os fatos que se desenrolavam na Europa neste período (guerra, pobreza) e também os
resultados positivos do gerenciamento da vida familiar totalmente assumido pela população
feminina trouxeram à tona uma realidade: mulheres podiam, sim, trabalhar e desejavam votar.
Estavam aptas a tomar decisões, até porque não havia outra alternativa, a enfrentar problemas
e prover recursos para manter a família. Era justamente o que vinham fazendo mesmo depois
de terminada a I Guerra. Nada mais justo, portanto, do que escolher seus representantes.
As necessidades de atuação diversificada, a falta de recursos proveniente da economia
desestabilizada e o reflexo das agitações culturais dos primeiros anos do século XX haviam se
incorporado no cotidiano e nessa perspectiva eram as mulheres as protagonistas.

[...] esse privilégio dado ao mundo do trabalho possivelmente se deve a certo


vínculo inicial dessas pesquisas aos estudos sobre o movimento operário e a
uma herança da tradição marxista, mas especificamente da teoria do
patriarcado cuja preocupação era identificar os signos da opressão masculina
e capitalista sobre as mulheres. (MATOS, 2015, p. 45).

Entretanto, apesar de engajadas e decididas, não havia qualquer facilidade ou respeito


para que a voz das mulheres se fizesse forte o suficiente. A questão feminista apenas teve
início, mas desde então se viu banida, abafada e até recusada. Não havia apoio para que as
mulheres se fizessem respeitadas, com exceção das classes artísticas e de pensadores e
filósofos, onde prevaleciam pensamentos em defesa de direitos sem citação de sexo ou
gênero. Além desses representantes de uma mentalidade nada conservadora, poucos se
preocupavam com a construção de uma sociedade onde a mulher se fizesse ouvir. Para uma
sociedade conservadora, qualquer mudança desta ordem acarretaria uma grande alteração na
rotina social. Com quem ficariam os filhos? Quem atenderia às necessidades do lar? Como
controlar o pensamento feminino, tão frágil e despreparado? Mulheres haviam provado o
contrário, mas mesmo assim, o pensamento patriarcal não admitia que a autonomia feminina
se concretizasse. Questões de uma época. E que ainda encontram eco em nossos dias.
Movimentos do início do século XX como greves por salários, lutas por melhores
condições de trabalho, o enfrentamento para a manutenção do trabalho fora de casa, os
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estudos, a escolha dos trajes, do estilo de vida, a opção por se manterem solteiras, por
exemplo, desencadearam uma série de estudos específicos sobre as mulheres, por meio dos
quais também se desenvolveram pesquisas acerca de gênero.

5.2 DEFINIÇÕES, CONTEXTUALIZAÇÕES: AS RELAÇÕES DE GÊNERO


E A LUTA PELO SUFRAGISMO FEMININO

gênero (lat *generu, por genus) sm ...3 Agrupamento de indivíduos que


possuem caracteres comuns. 4 Espeçie, casta, variedade, categoria, estilo, etc
((MICHAELIS: Dicionário prático da língua portuguesa, 2010)

Gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas


diferenças percebidas entre os sexos, e gênero é uma maneira primordial
[primary way] de significar relações de poder. (SCOTT, 1986 apud
MARQUES, 2015, p.14)

O conceito de gênero começou a ser desenvolvido como uma alternativa ante


o trabalho com o patriarcado. Ele foi produto, porém, da mesma inquietação
feminista em relação às causas da opressão da mulher. A elaboração deste
conceito está associada à percepção da necessidade de associar esta
preocupação política a uma melhor compreensão da maneira como o gênero
opera em todas as sociedades, o que exige pensar de maneira mais complexa
o poder. (PISCITELLI apud SANTANA, 2001, p.11)

Ainda para SANTANA (2016),

[...] são pressupostos importantes nessa concepção das relações de gênero: 1-


O gênero é sempre relacional; 2- Sempre envolve relações hierarquizantes de
poder; 3- O gênero pode variar conforme variam as culturas e pode variar
nos diferentes tempos históricos de uma mesma sociedade. (SANTANA,
2016, p.35)

As relações entre os sexos estiveram sempre baseadas na questão familiar, no modelo


patriarcal vigente. Era papel do homem ser provedor. À mulher cabia apenas e tão somente
educar os filhos, cuidar do lar e promover um ambiente saudável e acolhedor para quando seu
marido retornasse da exaustiva jornada de trabalho. Entretanto, nem educar os filhos era tarefa
simples e nem só o homem tinha uma jornada exaustiva. A questão era a falta de
reconhecimento da capacidade feminina e um antigo e inquestionável modelo de força e
comando masculinos. Tal modelo começou a sofrer resistência com a necessidade de
mudança de hábitos da qual vimos falando até então.
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Ao final do século XIX e início do século XX, as mulheres que viviam em centros
urbanos começavam a adquirir seu espaço no mercado de trabalho. As que moravam na área
rural já o faziam, embora este tipo de trabalho no campo não causasse incômodo à sociedade
por se tratar, na maioria das vezes, de um trabalho familiar.
Ao buscar nova identidade com base nas capacidades já demonstradas com o trabalho,
embora ainda sufocada pelos ditames da opressão de gêneros, a população feminina começava
a se colocar diante do paradoxo: podia dirigir escolas, orfanatos, lecionar, trabalhar no
comércio e nas fábricas. Podia assumir responsabilidades diante dos serviços que prestava e
trabalhos que desenvolvia, mas não estava à altura do direito ao voto.

Poucas mulheres no mundo já haviam votado em uma eleição. A Nova


Zelândia, em 1893, tinha sido o primeiro país a permitir que elas votassem
em uma eleição nacional; em três pequenos estados norte-americanos, as
mulheres tinham direito a votar quando se tratava de assuntos estaduais,
porém não nacionais. A urna eleitoral continuava fora do alcance das
europeias. Grupos de mulheres, assim como de homens, tentavam
diligentemente aprovar leis que permitissem o sufrágio feminino, em parte
por acreditarem que elas ajudariam a purificar a vida nacional ao combater a
prostituição, o hábito de beber em excesso e outros males sociais.
(BLAINEY, 2005, p.46).

Assim, em 1897 tem início o movimento sufragista, liderado pela educadora inglesa
Millincet Fawcett (1847-1929). Mulheres foram às ruas, reivindicando um novo direito. Com
a repressão policial que sofriam ao se manifestarem, as feministas participantes passaram a
agir com mais veemência, enfrentando as tropas. As manifestações tomaram vulto e foram
noticiadas fora do Reino Unido, provocando grande inquietação e desconforto à sociedade.
Que mais desejavam as mulheres, além do que já haviam conquistado? Aonde queriam chegar
com tamanha ousadia?

Entre os povos europeus, a cruzada pela igualdade tinha a ala das mulheres.
Suas líderes queriam o direito ao divórcio, à propriedade nos mesmos termos
dos homens, a votar, a entrar na universidade e, mais especificamente, a
estudar em escolas de Medicina, cujas salas de dissecação, com toda aquela
carne à mostra, era considerada inapropriada para as jovens. Por volta de
1900, a maioria desses direitos estava sendo alcançada, em especial nos
países protestantes. Em nenhum lugar da Europa, entretanto, havia uma
mulher que fosse juíza, política, general ou chefe de uma grande empresa.
Curiosamente, uma das instituições mais antigas, a monarquia, permitia de
tempos em tempos que uma mulher estivesse acima de todos os homens. A
mais famosa do mundo em 1900 era a rainha Vitória, que celebrava seu 63o.
ano no trono britânico. (BLAINEY, 2005, p.46)
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A busca pela igualdade de gêneros se fazia presente diante das necessidades de


atuação nos segmentos profissionais e culturais. Não se tratava de uma luta pelos direitos, mas
das consequências do envolvimento nas questões socioculturais da época, sobretudo no que se
referia ao trabalho fora do lar.

5.3. CHANEL NÃO ESTAVA NO PEDESTAL

“A verdadeira generosidade é aceitar a ingratidão”, Chanel


(CHARLES-ROUX, 2007, p. 377)

Em 1936 Chanel se vê às voltas com uma greve em seu atelier. Os salários da época
eram baixos e havia um grande número de desempregados em toda a Europa, o que a fazia
pensar que suas funcionárias não agiam de forma coerente, acabando por demitir 300 delas.
Entretanto, precisou rever sua posição, uma vez que elas próprias não recuaram e seu trabalho
e nome ficariam comprometidos. Chanel estava frente a frente com um posicionamento para o
qual ela própria servira de exemplo, mantendo-se firme em suas decisões. Estava estabelecida
a identidade entre ela e as mulheres.
Ela própria teria dito que se nascemos sem asas, não devemos impedi-las de crescer.
Compreendendo desta forma o que a vida apresentava, toda oportunidade era devidamente
aproveitada e Chanel sabia arquitetar situações para sair-se bem. Não havia ingenuidade nas
paixões, nem nos desfiles de suas roupas pelas ruas, usadas propositadamente por suas
amigas. Também não havia uma simplicidade casual. A intenção de Chanel com a criação de
vestidos minimalistas era chamar a atenção pelo diferente. Ainda que este diferente fosse
visto como simples demais. E para isso havia o tempo, a época.
Como profissional, Chanel foi colocada à prova muitas vezes, em momentos
significativos. O primeiro deles foi a aparição de sua contemporânea Elsa Schiaparelli (1890-
1973), italiana, criativa, ousada e adepta do Surrealismo de Salvador Dalí (1904-1989), que
revelava por meio de suas roupas. Em suas criações destacam-se o chapéu-telefone e o vestido
lagosta, revelação incontestável da obra surrealista. Chanel sentiu-se ameaçada. Elsa
Schiaparelli destacou-se e foi uma grande rival. Sua alfaiataria também era perfeita. Ambas se
tornaram inimigas por pura vaidade e Chanel sentia-se profundamente incomodada pela
romana de origem rica, com quem passou a dividir a clientela. Um segundo momento, que
abalou sua carreira de forma mais contundente, foi protagonizado por Christian Dior (1905-
1957). Em 1947, quando a moda pedia roupas mais femininas, diferentes daquelas criadas por
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Chanel, Dior lança um modelo que combate diretamente a figura lânguida e discreta, a
silhueta huit ou corolle, chamada de New Look por Carmel Snow (1887-1961), jornalista
editora da revista americana Harper’s Bazaar, de1934 a 1958. O lançamento foi um grande
sucesso, para a tristeza daquela que, até então, apesar de rápidas aparições de concorrentes,
era considerada a mais competente e criativa modista da época.
Chanel estava vivendo na Suíça desde 1945, com o final da II Guerra. Os rumores
sobre o envolvimento com o oficial alemão, a rápida prisão e o nome maculado fizeram-na
tomar outros rumos e ela se manteve fora do mercado de moda parisiense por um longo
tempo.
Ao retornar a Paris, Chanel lança uma coleção em 1954 e é verdadeiramente destruída
pela imprensa, que a acusava de não ter trazido nada novo após anos de ausência.

É preciso que uma roupa tenha lógica. Com esta resposta dada aos
jornalistas que perguntaram sobre o sucesso de sua segunda coleção, em
1955, Chanel se recolocava no mercado da moda. E os jornais franceses
noticiaram que, pela segunda vez em sua carreira, Gabrielle Chanel
modificava o traje feminino e impunha seu estilo nas ruas. (CHARLES-
ROUX, 207, p. 359)

Mademoiselle Chanel era uma mulher difícil. Não aceitava suas origens, não tinha
companhia além dos amigos. A solidão havia sido sua companheira. Entretanto, o processo
criativo jamais a abandonara. Aos 71 anos ela retornava ao cenário e isso lhe dava até mais
força do que tinha quando jovem. Seu foco para o sucesso era inabalável. Mas não havia
pedestal. Havia, sim, reconhecimento.
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6 IMAGEM DE MODA

Na publicidade, a presença feminina foi sempre requisitada. Criaram-se, em


torno da imagem, funções persuasivas de erotização e de mercadoria. Ao
vender um objeto ou, com relação à moda, uma roupa, leva-se também a
protagonista – quem seduz, convence o virtual comprador do produto – da
propaganda. (QUINTAS, 2008, p.139).

A imagem é referência na moda. Por meio dela se concretizam sonhos e idealizações


de aparência, ligados ou não ao consumo. Uma imagem de moda pode dizer mais do que o
próprio produto, porque a ela está agregado o valor de ser, sentir-se, significar, demonstrar,
interpretar a personagem à qual se vincula e que lhe dá vida.
Assim, tanto produtos como pessoas estão ligados ao consumo da ideia da imagem
como um todo e o que ela representa.
A fotografia é um meio de divulgação. Ao fotógrafo, por sua vez, cabe interpretar
tanto a intenção de quem a veicula como de quem irá consumi-la, transformando em arte a
ideia a ser transmitida. É necessário que se deseje consumir aquilo que se vê. A interpretação
a imagem depende muito da capacidade do profissional, que deverá tanto valorizar quanto
criar a intenção e a curiosidade, que resultarão, normalmente, em consumo. Por sua vez, o
modelo fotográfico deve ser capaz de interpretar a personagem que veicula tal produto. A
sintonia entre todos é indispensável.
No caso da imagem de moda vinculada a Chanel, o consumo de suas roupas estava
muito mais atrelado ao estilo de vida criado por ela do que simplesmente às peças de
vestuário.

6.1 CHANEL CONSTRUÍDA PELA MÍDIA

A simplicidade de Chanel foi construída para ser consumida pela conveniência do


contexto da época. Portanto, era necessário destacar cuidadosamente a singeleza de criações,
ainda que houvesse joias na composição da imagem.
As roupas de Chanel foram incansavelmente fotografadas. Na verdade, a Europa já a
conhecia não apenas pela profissão, mas pelo espírito inovador que não se privava de expor
publicamente suas ideias, mas, principalmente, de servir de exemplo para veiculá-las.
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Chanel era a imagem do que vendia. Ela, de fato, vivia a vida que retratava por meio
das roupas. Independência, conforto e praticidade, aliados, obviamente – como era de sua
natureza – a uma discrição e perfeição de corte. Chanel sabia costurar, embora nunca
houvesse desenhado qualquer uma de suas peças.
Já no início de sua carreira seus modelos eram mostrados por suas amigas, que ela
engenhosamente colocava nas ruas. Uma certa propaganda informal, mas que sempre foi a
melhor forma de divulgação.
Assim Chanel seria retratada. Seu cotidiano era sofisticado a partir dos detalhes que
ela se atribuía: não abandonava sua imagem mesmo cansada, atribulada ou insatisfeita. O
batom vermelho – rouge, carmin- era seu companheiro inseparável, assim como as pérolas, o
salto e os cabelos cortados e sempre naturalmente penteados.
Uma das fotos mais populares de Chanel e que traduz essa intenção, foi feita por Man
Ray (Emmanuel Radnitzky, 1890-1976), em 1935, em que ela usa um vestido preto em Jersey
e uma profusão de colares em pérolas falsas e verdadeiras, como costumava fazer. Chanel tem
um cigarro na boca, uma maquiagem milimetricamente pensada, braceletes e um par de
brincos em ouro e diamantes. Nada há de simplicidade na imagem, mas na roupa. Entretanto,
o que se pretende passar é a imagem da mulher forte, que se veste com certo despojamento,
mas que usa acessórios como forma de demonstrar poder. A ideia era a utilidade, o conforto e
a elegância da roupa. Para tanto, não há necessidade que o vestido se destaque na imagem, o
que seria um paradoxo para uma costureira, mas para Chanel, a sofisticação estava em saber
portar-se e não havia necessidade de trajar-se de maneira chamativa.
Afirmava que a elegância estava em não vestir o que transformasse a mulher em
vitrine: excessos de detalhes, tecidos em demasia, artifícios que modificassem o formato do
corpo. Mas os assessórios, para ela, tinham um outro significado, tanto que misturava joias
falsas e verdadeiras. Mas este é um tema para um estudo mais aprofundado sobre sua
personalidade, a ser continuado. “Era comum ver Chanel com um pretinho de jérsei e uma
cascata de pérolas falsas, que ostentava com orgulho e extrema feminilidade.” (PEZZOLO,
2003, p. 86)
Por se tratar de um estilo e não apenas de criações de moda, como ela própria fazia
questão de afirmar e que, ao longo dos anos foi se estabelecendo como fato, a imagem de
Chanel era de extrema importância para quem consumisse seus produtos. A intenção, ao criar
cada um deles, estava baseada na transgressão, fosse de pensamento, de aparência ou de
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atitude – o produto final de uma ideia. Essa imagem feminina era perseguida pelas feministas.
Sem afetação de delicadezas, mas com elegante assertividade.

Chanel estendeu à silhueta feminina a mesma revolução que se dava nas


artes plásticas, na arquitetura e na poesia: os famosos vestidos pretinhos de
linha próxima ao corpo – até hoje curingas nos guarda-roupas -, o jérsei
esportivo, os cabelos curtos, a pele bronzeada. (PEZZOLO, 2003, p. 84)

Muitos profissionais das artes e da fotografia retrataram-na. Inclusive amigos seus.


Chanel era uma espécie de troféu que todos desejavam ter. O fato é que nem sempre suas
roupas eram o destaque, mas sua postura. Essa, sim, determinava a força de seu nome. E era
isso, exatamente, que as mulheres desejavam possuir. Ao consumir a marca Chanel, era
implícita a força da personalidade que se buscava. Mas o mundo não estava ainda preparado
para receber tantas cópias de Mademoiselle.
Chanel iniciou sua carreira conhecida por Coco, apelido que lhe fora atribuído nos
primeiros anos de aparição pública, quando cantava para se manter. A canção Qui qu’a vu
Coco (quem viu Coco) se referia a um cachorro com este nome. Depois de estabelecida na
Rue Cambon, reconhecida e respeitada profissionalmente, passou a ser Mademoiselle Chanel.
Gabrielle, seu nome de batismo, a acompanhou durante o tempo de internato.
A fotografia de moda foi amplamente divulgada por meio das revistas que versavam
sobre o tema, especialmente a VOGUE e a HARPER’S BAZAAR. A ideia de veiculação de
uma imagem feminina fortalecida vinha com a divulgação das roupas de Chanel, Madeleine
Vionet, Elsa Schiaparelli, Lanvin e outros nomes. No período que sucedeu a II Guerra
Mundial Christian Dior foi o grande nome a quem os magazines davam grande importância e
espaço de mídia. Ele havia revolucionado a moda, contrapondo-se à grande estilista Coco
Chanel, adepta de uma proposta de vestuário mais clean.

6.2. ÍCONES DE CHANEL

A vida de Chanel foi permeada de imagens que ela soube transportar para seu mundo
criativo. Desde sua infância, a observação de detalhes em ambientes, em vestimentas, em
narrações de histórias dos livros nos quais passava horas lendo e imaginando protagonista
fizeram parte de seu processo criativo e acabaram por se transformar em ícones de sua marca.
A grande verdade é que muito se fala sobre Chanel, mas pouco se pode provar. Isso
faz dela um mito, sobre cuja biografia ainda muitos irão se estender.
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Dentre o que se pode contextualizar, alguns dos ícones atrelados a Coco Chanel tem
sua história divulgada e fazem todo sentido diante de suas intenções de vida e de seu estilo,
identificando-se como parte inseparável de sua própria imagem como mulher e profissional.
Camélias, pérolas, vestido preto, calçado bicolor, bolsa a tiracolo, correntes, tweed são
alguns dos itens explorados em suas criações e por meio dos quais rapidamente se remete a
sua imagem. A eles foram atribuídas origens em diferentes momentos de sua vida.
As camélias, por não terem aroma, não fariam sombra ao perfume Chanel no.5; a
bolsa tiracolo teria sido inspirada nos acessórios militares, acolchoada em matelassê,
lembrando diamantes; o vestido preto reto, solto, teria se originado do hábito das freiras e, por
ser usado sem espartilho, significava a libertação do corpo feminino. Os colares longos teriam
vindo da influência veneziana e bizantina; as correntes eram usadas tanto como colares quanto
no acabamento da barra de suas jaquetas, proporcionando um caimento perfeito; as pérolas
ressaltavam o preto usado das roupas. Representariam um presente de seu amante e eterno
amor, Boy Capel. O sapato bicolor teria sido criado pensando na praticidade e na estética: o
bico preto evitava que as manchas ficassem aparentes e o bege faria o efeito de alongar as
pernas. O tweed teria sido tirado das roupas de inverno que o Duque de Westminster (1879-
1953) usava.
Ainda se podem citar o leão, presente nos botões de suas roupas, representativo de seu
signo e o algarismo 5, seu número de sorte.

No século XIX, o foco primordial dos modistas e fornecedores de moda era


o vestuário, propriamente dito, em lugar de se dirigir ao uso das roupas para
evocar determinadas imagens(...)Não só as roupas por si sós são atualmente
menos importantes que as imagens que tentam transmitir, mas as imagens
femininas projetadas por estilistas e revistas especializadas são muito
diferentes daquelas imagens insípidas de mulheres associadas à moda,
mesmo de um passado relativamente recente, como se vê no estudo feito por
Roland Barthes de uma revista de moda francesa no final da década de 1960.
(CRANE, 2006, p. 396)

Em suas considerações obre a imagem de moda, Diana Crane cita a preocupação dos
fotógrafos atuais em não retratar apenas a roupa. Esta, aliás, está em segundo plano diante da
imagem montada a partir da identidade que se deseja estabelecer entre o produto e o
consumidor. Nesse aspecto, Chanel estava muito à frente. Suas imagens veiculavam atitude,
personalidade e estilo, sem preocupar-se com a moda, mas com a adequação.
As coleções de Chanel sempre foram inspiradas em situações vividas por ela. Em
relação aos supostos amantes, dos quais não se têm provas oficiais, e que muitos deles teriam
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servido de referência por meio de suas vestimentas, para que ela apresentasse as diferentes
fases de seu processo criativo.

A moda é sempre um reflexo da época, mas se a época for estúpida,


esqueçam-na.

Uma moda deve escapar de nossas mãos. A ideia mesma de proteção das
artes sazonais é pueril. Não se deve proteger o que vive só o instante de
morrer.

Coco Chanel (CHARLES-ROUX, 2007, p. 377).

Aí estava seu pensamento sobre a moda: efemeridade. Para ela, a adequação estava em
usar o necessário e que refletisse a identidade de cada um. A isso se dá o nome de estilo.

6.3. A MARCA CHANEL: CONTEMPORANEIDADE

A direção criativa da Maison Chanel se encontra hoje sob a regência do estilista


alemão Karl Otto Lagerfeld (1933). Os ícones de sua marca estão preservados, embora suas
configurações sofram mudanças pertinentes à época. A marca CHANEL representa um dos
maiores nomes na alta-costura e na moda.
O legado de Chanel para a contemporaneidade na moda está na presença de diferentes
peças de vestuário no guarda-roupa feminino, ainda que muitas mulheres sequer saibam de
sua importância. Calças compridas, suéteres, bolsas tiracolo, calçados bicolores, cardigãs e
outros itens utilizados no cotidiano. A continuidade dessas criações eterniza e reafirma sua
importância na cultura de uma sociedade.
A marca CHANEL, consumida pela elite é produto de uma sociedade de consumo,
embora seja diretamente relacionada ao império do luxo que, por sua vez, não defende
ostentação.

No luxo, não basta apenas uma boa marca, é necessário possuir, também,
uma boa história: repleta de detalhes, momentos elegantes, charme e
glamour. As marcas destituídas dessa história movem-se burocraticamente
pelo tecido econômico. Em alguns momentos, podem até gerar resultados
satisfatórios, mas nunca conseguirão atingir ativos de prestígio como os
alcançados por Ferrari, Chanel, Dior, Hermès, Baccarat etc. (PASSARELLI,
2010, p. 47)
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A importância do “ter” é uma das características da contemporaneidade. Comumente


se julgam as imagens por meio da ostensividade ou dos símbolos apresentados nas roupas e
acessórios. Os ícones de Chanel, por exemplo, são facilmente identificados, representando
status de maior importância para quem os usa. Tão grande é a importância dada à aparência
propagada pela mídia que inúmeras cópias de produtos com a marca CHANEL são vendidas
ao redor do mundo.

A lei do esbanjamento ostentatório e a corrida pela estima impõem-se então


mais imperiosamente, tendo por consequência a mudança permanente das
formas e dos estilos. Os movimentos versáteis da moda, nesse sentido, não
fazem senão traduzir uma intensificação da regra do conspicuous
consumption. Mas este era menor em outros tempos? (LIPOVETSKY, 2009,
p.64).

O paradoxo da marca está justamente na origem humilde de sua fundadora. Seria uma
incoerência o fato de se tratar de uma das grifes mais caras do mundo da moda, não fosse o
fato de se tratar, ao mesmo tempo, de um nome que preza pela discrição em seus produtos
mais tradicionais.
A respeito das criações sob a direção de Lagerfeld, ele próprio acrescenta detalhes que
talvez Chanel não o fizesse, ainda que via, por preferir itens de vestuário mais neutros,
valorizando os complementos.
CHANEL é uma marca do mercado de luxo: “Luxury is the necessity that begins
where necessity ends.” Coco Chanel (CAUDURO, 2006, p. 19)
Segundo Cauduro (2006), os produtos de luxo são assim considerados por obedecerem
aos seguintes requisitos: qualidade, preço, raridade, beleza, reconhecimento, tradição.
Produtos do mercado de luxo são fabricados de forma artesanal, obedecendo às regras de
qualidade impostas pelo mercado específico. Para ser considerado de luxo, é necessário que o
objeto, a joia, o acessório ou a roupa estejam dentro de configurações específicas, atendendo a
um segmento também específico de consumidores.
Para Passarelli (2010), não há necessidade de expansão do mercado de luxo para além
de uma classe que possa, de fato, consumi-lo e que passará a novas gerações seus valores.
Novos consumidores, que não conhecem a origem e não fazem parte de um mercado
tradicional, podem representar o perigo de popularização excessiva dos produtos. Para ele,
uma das características mais importantes e que permite a manutenção dos altos preços deste
segmento, é a exclusividade.
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Ao construir uma marca premium ou do segmento de luxo, a corporação


deve cuidar dos detalhes, como evitar conotações popularescas, personagens
caricaturais, dubiedade e buscar pureza de linhas e elegância na composição.
Além disso, dada a importância do componente da tradição, deve-se evitar,
sempre que possível, grafismos exageradamente vanguardistas e outros
maneirismos do tipo (PASSARELLI, 2011, p.50)

Muito além do guarda-roupa e do luxo em que se transformou sua marca sua presença
se faz por meio da atitude fundamental da mulher contemporânea: a autonomia.

6.4 O ESTILO CHANEL EM IMAGENS: FOTOGRAFIAS E DESENHOS

6.4.1. Chanel sob nova assinatura

A contemporaneidade assinada por Karl Lagerfeld, diretor criativo da marca desde


1983, mantém presentes as referências do estilo Chanel. Ao imprimir seu olhar sobre os
produtos, a modernidade se faz presente por meio dos detalhes, sem abrir mão dos ícones que
tornam a grife facilmente reconhecível: tweed, tailleur, correntes e outros já comentados
durante este trabalho.

Chanel was a woman of her time. She wasn’t a has-been, always looking
backwards. On the contrary, she hated the past, including her own past, and
everything sprang from that. That’s why the Chanel brand must stay up to
date. Karl Lagerfeld. (MAURIÈS, 2016, p.15).

A “Parisienne” has not to be French. She can come from anywhere. It is a


question of attitude, chic, style and beauty, but not beauty alone. Karl
Lagerfeld (Chanel Magazine, 2016, p.3)

O tailleur, um dos ícones das criações de Chanel, transmitia a ideia de liberdade.


Nesta foto percebem-se os detalhes de acabamento de botões dourados, os bolsos – próprios
da roupa masculina – e os calçados também masculinizados. Porém, a cintura marcada
transmite a feminilidade da roupa, acompanhada da camélia no chapéu. As luvas de couro
representam o poder, a sensualidade.
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Figura 1 - Spring/ Summer 1989 Ready to Wear. Coco in Biarritz

(FORD, 2016, p. 90)


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O paletó masculino em três momentos: com a cintura marcada por três botões; em
estilo jaquetão, traspassado e usado de forma despojada, em figurino tipicamente masculino.
Sua moda é tida como precursora do estilo genderless, ou não-gênero.

Figura 2 - Fall/ Winter 1988-1989 Ready to Wear. Tweeds & Plaids

(FORD, 2016, p. 86)


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Nas próximas fotos, a presença do tweed, do branco e preto, das pérolas, da camélia e
correntes, além dos cabelos curtos, valorizando os ícones criados por Coco Chanel, por meio
das criações de Karl Lagerfeld, diretor criativo da Maison Chanel desde 1983.

Figura 3. - Automne-Hiver 2016/17 - I

Photo: Andreas Larsson (CHANEL, 2016, p. 24)


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Figura 4 - Automne-Hiver 2016/17 - II

Photo: Andreas Larsson. (CHANEL, 2016, p. 22)


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Figura 5 - Automne-Hiver 2016/17 - III

Photo: Andreas Larsson. (CHANEL, 2016, p. 23)


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Figura 6 - Automne-Hiver 2016/17 - IV

Photo: Andreas Larsson. (CHANEL, 2016, p. 21)


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Figura7 - . Automne-Hiver 2016/17- V

Photo: Karl Lagerfeld. (CHANEL, 2016, p. 61)


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6.4.2. Chanel por Man Ray (1890-1976)

Um dos fotógrafos responsáveis pela construção midiática de Chanel, grande


representante do dadaísmo e do surrealismo, Emanuel Rudzitsky teve suas fotos publicadas
nas mais importantes revistas de moda da época, como Harper’s Bazaar e Vogue. Até hoje
ambas edições são referências de publicações no segmento, com matérias das mais
importantes marcas de Alta-Costura e Prêt-À-Porter. Man Ray foi o autor da foto que
imortalizou a figura de Chanel por meio de sua atitude.
Na imagem consideram-se os seguintes aspectos: olhar firme, mãos nos bolsos e
símbolo fálico representado pelo cigarro. Estão presentes os indícios da figura representativa
de uma mulher forte, cujo peso se encontra além da simples questão de moda. A vestimenta
alterada, modificada e validada por Chanel foi consequência de uma mudança
comportamental, a partir de onde criou-se o estilo.
Na sequência, a foto de Chanel, feita por Man Ray, que imortalizou seu estilo e
atitude.
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Figura 8 - Man Ray Bazaar Years

Photo: Man Ray, 1936 . (ESTEN, 1988, p. 28)

Além disso, o preto, anteriormente usado apenas em ocasiões de luto, transformou-se


me cor de elegância e adequação aos mais diferentes ambientes e ocasiões.; as pérolas
verdadeiras ou não- traduziam a feminilidade nem sempre encontrada nos modelos de roupas:
detalhes de um estilo que o tempo eternizaria
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6.4.3. Os ícones de Chanel

O leão, o trigo, a camélia, o perfume, as correntes, as pérolas, o tweed. Marcas de uma


vida, referências de sua infância e juventude, lembranças de amores e tristezas, retratadas em
detalhes de suas criações.
Representam, respectivamente: o signo de nascimento de Chanel; a abundância em
função dos anos difíceis que passara na infância; a flor que não exala perfume, evitando
interferência nos aromas criados por ela; a lembrança das chaves penduradas nas cinturas das
roupas das freiras em Aubazine; a feminilidade e pureza nas pérolas e o tecido usado na
confecção de casacos dos militares ingleses transferido para delicadas, porém práticas, roupas
femininas.
Abaixo estão apresentadas fotos que mostram detalhes do apartamento de Chanel.
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Figura 9 - Ícone de Chanel I

Foto: Chanel Patrimoine Collection /Francis Hammond (FYEMEIER, 2016, p. 15)


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Figura 10 - Ícone de Chanel - II

Foto: Chanel Patrimoine Collection /Francis Hammond (FYEMEIER, 2016, p. 16)


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Figura 11 - Ícone de Chanel - III

Foto: Chanel Patrimoine Collection /Francis Hammond (FYEMEIER, 2016, p. 131)


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Abaixo está a propaganda do perfume Chanel n.5 publicada na Harper’s Bazaar, em


1937. A elegância está representada pela própria Chanel. A pose em tom de desafio, com a
mão na cintura e a austeridade do olhar, além do posicionamento da mão sobre a lareira:
ideias de posse, poder e riqueza.

Figura 12 - Ícone de Chanel - IV

Foto: Chanel Patrimoine Collection /Francis Hammond (FYEMEIER, 2016, p. 98)


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Marylin Monroe imortalizou o perfume CHANEL No.5 com a refer6encia que fez ao
dizer que dormia usando apenas uma gota da fragrância, Neste caso, a associação do perfume
com a feminilidade e sensualidade está diretamente ligada à imagem da atriz, símbolo sexual
dos anos 1950.

Figura 13 - Marylin

Monroe
Photo Ed Feinsgersh/ Michael Ochs Archives/ Getty Images. (FYEMEIER, 2016, p. 103)
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Colar em esmeralda e rubis - presente de Paul Iribe a Chanel – e um de seus casacos


em tweed, em composição sobre colares de pérolas.

Figura 14 - Ícone de Chanel - V

Photo Private Collection/ Francis Hammond (FYEMEIER, 2016, p. 45)


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6.4.4. Imagens de uma mulher moderna

Ao longo de sua vida Chanel procurou diferenciar-se das outras mulheres. As


experiências pelas quais havia passado a transformaram em uma mulher forte, capaz de não se
importar com o que diziam sobre suas atitudes e aparência. Algumas referências de suas
roupas, como o crucifixo e as medalhas, tiveram inspiração nas vestimentas de diferentes
homens com quem conviveu e sobre os quais se comentavam acerca de romances. Nada disso
a abalou e nem se podem comprovar oficialmente estes relacionamentos. Ficaram apenas as
inspirações para seu processo criativo e a elegância de sua imagem.
Na sequência, está Chanel aos 26 anos, com cabelos comportados e cintura marcada,
como pedia a moda da Belle Époque. Nesta época, entretanto, ela já havia se desfeito dos
espartilhos de uso pessoal.
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Figura 15- Chanel

Foto: col.part. E.C.-R . (CHARLES-ROUX, 2007, p. 63)


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Na época em que o banho de sol não era costume, Chanel já se divertia com a prática,
em companhia de amigos., como mostra a imagem abaixo.

Figura 16- Chanel com amigos

Foto: Marie-Claire. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 128)

A camiseta retirada do uniforme dos marinheiros tornou-se uma peça reconhecida de


suas coleções. Feita em tricô, trazia a novidade de uma textura menos nobre às roupas de suas
clientes, com total aceitação a título de inovação.
Chanel usa pantalona confortável, calçados sem salto e o cinto em modelo masculino
como complemento. Sua simplicidade acabou se tornando um dos maiores símbolos de luxo
da contemporaneidade.
A companhia do cachorro representa a vida simples e a liberdade. Como pode ser visto
na foto seguinte.
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Figura 17 – Chanel em passeio ao ar livre

Foto: Chanel. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 288)

Com maquiagem elaborada, porém suave, o requinte de Chanel delineava uma mulher
que sabia impor sua presença, utilizando jóias e rendas, embora sua principal característica
fosse a simplicidade. Nesse aspecto, o simples é traduzido pelo necessário para se apresentar
elegante, muito bem ilustrado na imagem a seguir.
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Figura 18 – Maquiagem de Chanel

Foto: Horst/ Condé Nast Publications Inc. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 75)


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O despojamento de Chanel ao vestir-se se traduzia também pelo uso de peças folgadas,


como o blusão masculino, cuja feminilidade ela criava com um arremate de camélia na
cintura. Biarritz, a cidade praiana em que passava seus dias, serviu também de palco para que
ela e suas amigas desfilassem suas criações.

Figura 19 – O despojamento de Chanel

Foto: col. part . E.C.-R . (CHARLES-ROUX, 2007, p. 109)


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Chanel preferia, ela própria, costurar e finalizar os modelos no corpo feminino.


Nota-se na foto seguinte, sua elegância e fidelidade de estilo até em momentos de trabalho.

Figura 20 – Chanel costurando

Foto: Kirkland/ Corbis. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 361)

Figura 21 – Chanel orientando uma modelo

Foto: Botti/Gamma. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 362)


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Por ter a elegância como aspecto importante na vida de uma mulher cuja presença se
deveria fazer marcante, Chanel fazia questão de observar e corrigir os detalhes de postura das
modelos que desfilavam suas criações.

6.4.5. Desenhos de Lagerfeld e amigos de Chanel

Interessante forma de reverenciar a figura de Chanel, tanto Lagerfeld, que não


trabalhou ao seu lado, quanto amigos com os quais conviveu a retratam por meio de seus
desenhos.
Cabelos curtos, sobrancelhas marcadas e silhueta do tailleur são marcas registradas da
estilista, representadas em detalhes dos autores.
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Figura 22 – Chanel por Paul Iribi

Foto: Chanel Patrimoine Collection/ All rights reserved. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 134)
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Figura 23 - Chanel por Bernard Blossac

Foto: Les Éditions Jalou “L’art et la mode, 1952”. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 133)
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Figura 24 – Desenho de Chanel - I

Adagp, 2004. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 6)


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Figura 25 – Desenho de Chanel - II

Foto: Private collection /Adagp, Paris [2016] "Avec l’aimable autorisation de M. Pierre Bergé,
president du Comité Jean Cocteau". (CHARLES-ROUX, 2007, p. 117)
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Figura 26 – Desenho de Chanel - III

CHANEL/ drawing Karl Lagerfeld. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 111)


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Figura 27 – Desenho de Chanel - IV

CHANEL/ drawing Karl Lagerfeld. (CHARLES-ROUX, 2007, p. 105)

6.4.6. O processo criativo inacabado

Incansável em seu trabalho, Chanel usou até os últimos minutos produtivos de sua
vida, sem saber que havia encerrado seu tempo. Saudável, Chanel deitou-se, na noite de 10
de janeiro de 1971 e não mais acordou, deixando inacabada a última coleção da Maison
CHANEL criada por ela.
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Figura 28 – Uma das composições de Chanel

Foto: CHANEL Patrimoine Collection- Private Collection/ Foto: Francis Hammond. (CHARLES-
ROUX, 2007, p. 107)

6.4.7. Alguma referência do estilo Chanel em São Paulo


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Nadima Gabriel Abed (1898 -1998) e Salim Abed (1928), em foto tirada em 1933, no
Centro de São Paulo. Roupas da Sra. Nadima com influências de Chanel: preto, corte reto,
cintura solta e comprimento acima dos tornozelos.

Figura 29 - Nadima Gabriel Abed (1898 -1998) e Salim Abed (1928)

(Autor desconhecido; coleção particular da autora)


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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chanel nunca se preocupou com o que pensavam sobre suas roupas. A aprovação que
buscava era para seu sucesso, não para sua estética pessoal. Ela sempre comandou sua vida,
mesmo quando dependia financeiramente dos homens com quem conviveu. Sempre atendeu
às próprias vontades e necessidade, em contraponto às necessidades não-atendidas de sua
infância.
Por isso não há pedestal, não há partido político, não há dependência afetiva de relação
conjugal. Houve paixão e amor em sua vida, sim. Porém é mais certo que o amor-próprio
escondido na solidão, sua mais fiel companheira, tenha sido o apoio e até mesmo o incentivo
ao processo criativo que jamais deixou de existir. Antes de mais nada, Chanel acreditava em
si e durante toda a sua vida se fez presente por meio de suas atitudes, muito mais do que por
palavras. Sua roupa, referência pela qual é lembrada, nada mais é do que a transparência de
seu pensamento, estilo de vida e pensamento concretizados. Se há notoriedade, é por ter
alcançado tanto sendo alguém tão comum. O que a tornou reconhecidamente uma
personalidade do século XX foram a força e o desejo de vencer.
Em todas as refer6encias de liberdade de movimento oferecidas em seus modelos de
roupas, encontram-se intrínsecos o seu pensamento e olhar sobre a sociedade. Não havia
desprezo em relação aos julgamentos, mas sim, uma convicção em estabelecer prioridades
femininas. Ao mesmo tempo, tanta firmeza de posicionamento poderia levá-la ao status de
defensora de ideias feministas. Se assim o foi, não teria sido por intenção de qualquer
movimento desta ordem. Seu foco direcionava-se para uma libertação de padrões, sem
levantar bandeiras.
É possível que sua figura tenha servido e continue servindo como representação de
ideologias. Entretanto, diante dos fatos levantados pela presente pesquisa, percebe-se que sua
vida foi permeada de lutas. Pela simplicidade com que contemplou o o cotidiano feminino,
tornou-se ícone de uma era pela qual, nós, mulheres, ainda estamos influenciadas.
A vida de Chanel não se limitou à moda e nem ao contexto sócio-cultural do período
estudado. Trata-se de uma influ6encia de comportamento, sobre o qual recaem questões para
um estudo mais aprofundado, considerando as áreas de sociologia, filosofia e psicologia como
fontes de recursos.
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Mademoiselle Chanel deixou o mundo e sua coleção inacabada em uma noite de


domingo, em 10 de janeiro de 1971, o único dia da semana em que não trabalhava. Estava
com 88 anos.
Seu estilo sofreu adequações para atender aos tempos atuais, embora a ideia inicial de
cada um de seus produtos seja preservada, aceita e exibida como referência pelas
consumidoras da marca. Infelizmente, nem todas compreendem o real valor de ostentar as
duas letras c entrelaçadas.
A atemporalidade de Chanel ocorre pela imortalidade de seu estilo, que reflete
elegância, discrição, refinamento e principalmente pensamento e modo de viver.
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