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BUSCANDO O SIMPLES

PENSAMENTOS FRAGMENTADOS A PARTIR DE VIVÊNCIAS


EM COMUNIDADES TERAPÊUTICAS PARA DEPENDENTES QUÍMICOS

FERNANDO GOMES PEIXOTO


Fernando Gomes Peixoto

“Não faz muito tempo, vocês estavam atolados


naquela velha vida podre de pecado. Haviam
permitido que o mundo, que não sabe nada a
respeito da vida, dissesse a vocês como viver.
Enchiam os pulmões com a fumaça da
incredulidade e exalavam desobediência. Todos
nós já nos comportamos assim, fazendo o que
queríamos, a nossa própria vontade; estávamos
todos no mesmo barco. Graças a Deus, ele não
perdeu a paciência nem nos exterminou. Em
vez disso, com sua imensa misericórdia e seu
amor extravagante, ele nos abraçou. Tirou-nos
da nossa vida presa pelo pecado e nos fez vivos
em Cristo. Fez tudo isso por conta própria, sem
qualquer ajuda da nossa parte! Ele nos tomou
para si e nos concedeu um lugar nos altos céus,
na companhia de Jesus, o Messias. Não é
demais?”

(Ef 2:1-6 / Bíblia A Mensagem)

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Fernando Gomes Peixoto

ÍNDICE

Agradecimentos ..................06 De quando eu cobro o que


Apresentação...................... 07 preciso dar.......................... 52
Prefácio................................08 Como falar?........................ 55
Seis de abril de Eu paro pra continuar a
2009.....................................10 caminhar............................. 59
Arrumando a casa............... 15 Impressões de mim mesmo.. 61
Movimento contrário.......... 17 Observação recíproca........ 68
Deus na forma que eu O Recaída dois........................ 71
concebo ...............................23
Identidade........................... 75
É impossível comer um só... 26
Espera suave....................... 30 Buscando o simples............. 78
Restos de vida..................... 35 Digno, eu?............................81
Recaída: nova oportunidade Não quero mais ser o que
.............................................39 nunca fui..............................83
Paliativos............................ 43 Ressocializando-me.............87
Socorro!!!........................... 46 Enfim....................................91
Mais de Dona Maria........... 49 E isto não termina................94

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus, o Pai, Abba, o Eterno Amor, pertenço a Ti.


A todos aqueles que se mostram como são e me ensinam que
viver deve ser como se vive e não como não se vive.
Àqueles que decidiram ser espelhos e não se importam com
os reflexos.
A seres humanos que exemplificaram em si mesmos o
verdadeiro sentido do amor.
Aos amigos, José Milton da Silva Jr. e Luiz Cláudio Ferreira,
seres únicos que não se amedrontam com a verdade e que sempre me
motivam a ser o que sou simplesmente.
Aos escritores Brennan Manning, Clarice Lispector, Philip
Yancey, e tantos, pela coragem de escrever na contramão.
Aos pastores-amigos Marcelo, Márcio, Elienai, que me
mostram a liberdade de viver com Deus.
E, principalmente, à minha esposa, Andréa, que sempre
esteve junto, vivendo tudo e confiando no amor eterno.
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APRESENTAÇÃO

Apresentar alguém, nos dias de hoje, é muito complicado.


Exige do apresentador um conhecimento, tanto da escrita em si,
como do autor da obra.
Bem... Quero salientar que a honra de partilhar com o
Fernando Peixoto é mais do que estimulante, reconfortante,
inspirador... Seus textos elevam o "homem" a si mesmo, mostrando-o
como ele é, e não como gostaria que fosse. Ao folhear cada texto,
depara-se com um momento distante e ao mesmo tempo
contemporâneo. Suas dores, experiências, conflitos, reações e modos
de ver a vida são mostrados de uma maneira que cada leitor coloca-
se no lugar dele e entende que não se trata apenas de textos escritos
a esmo, trata-se de um ser humano, que de forma criativa mostra-se
ao mundo, e isso é encorajador.
Vale a pena ler cada linha escrita e se puder aprender com ele,
certamente terá sucesso no que ele almeja: Transmitir uma
experiência de vida.
Luiz Claudio Ferreira
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PREFÁCIO

Meu intuito maior em escrever é o de viver as emoções de


pronto. Sugar o máximo delas, ruminá-las ao extremo.
Escrevendo, encontro novas possibilidades de ponto de vista e
revivo, muitas vezes, meus entendimentos de momentos que, quase
sempre, estiveram fora de mim.
Busco, em escrever-te, encontrar esta nova vivência de
mostrar-me sem medo do perigo do outro, pois não quero hoje
preocupar-me com o dedo em riste direcionado a mim por não ser
como a maioria deseja e que eu desejei ser por muito tempo.
Não!
Quero o sim da verdade de ser o que se pode ser na maior das
minhas vontades, clareando meu mundo antes inebriado.
Meu desejo pró-ativo é de ser e não deixar de ser.
Arriscar e viver suavemente, afinal assim deve ser!
Aqui falo de mim no limite da emoção do agora; tudo foi
sentido e permanece em aprendizado contínuo, como vida contínua,
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Buscando o Simples

sem intervalos; não paro para a tensão dos porquês ou dos não deves,
vou com o livre arbítrio de conhecer-me diante das situações, sem
desculpas, nem justificativas.
Mas minha liberdade não é a de te atingir, é de te encontrar,
de te mostrar a vida possível de dentro de uma comunidade
terapêutica para dependentes químicos, dependentes estes que, como
eu, vivem o hoje como seu maior presente, e buscam neste instante
único, a sua própria verdade, conhecimento no outro, através de um
encontro com o Pai.
O que mais posso ser além deste próprio momento?
E assim é que te escrevo, livre para o que quer que seja e que
seja bom como bom é ser livre.

Fernando Gomes Peixoto


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Fernando Gomes Peixoto

SEIS DE ABRIL DE 2009

Paro em frente ao portão.


Procuro nos bolsos mais um cigarro, talvez o último.
Encontro o maço vazio, todo amassado:
-“cigarro de bêbado”.
Pergunto pra ela se tem algum pra eu dar um último trago,
mas o dela também acabou e não tem nada aberto por estas bandas.
Deixa pra lá. Deve ser melhor assim e pior não pode ficar.
Vamos entrar. Enquanto ela buzina, eu penso no que estou
fazendo e o que me espera ali, mas não tem jeito, tenho que fazer.
Alguém vem e abre o portão, entramos.
Não sei o que sinto.
Sento-me no hall da casa, um homem vem me cumprimentar
com um sorriso fácil, todo o seu rosto sorri, mais tarde descobrirei
que ele é pastor.
Conversamos um pouco.

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Buscando o Simples

Ele me fala que vai dar tudo certo, estou exausto e acredito
nele. Sempre é bom ouvir coisas agradáveis principalmente num
momento como esse onde a vida parece não ter sentido e eu não vejo
nada à frente.
Mostram-me a casa, não faz diferença. Não importa onde
estou, mas porque estou, nunca pensei que chegaria até aqui.
Não soube viver como deveria.
Chegam outras pessoas, falam comigo, me perguntam coisas
que eu não estou a fim de responder: - De onde vim? - Quantas vezes
eu vim parar numa casa destas?
Esta é minha primeira vez.
Até aqui tudo bem, não parece tão ruim. Está na hora da
minha mulher ir embora, só a verei daqui a quinze dias. Ela chora, eu
não.
Meu sentimento é oco.
Reverbera em mim a culpa e estou vazio.
Olho o carro saindo, aperto o peito, talvez esteja sentindo
algo, talvez algum resto de um ser que está se desfazendo, sou seco.
Não sei sorrir, não sei pra quê.
Não sei do que adiantaria sorrir.
O que me espera?

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Fernando Gomes Peixoto

O portão fecha.
Estou mínimo.
Não quero aquilo.
Mas estou aqui.
Sem desculpas.
Colhendo das minhas sementes.
Fruto amargo.
Assim que entrei numa casa de recuperação era assim que me
sentia e acredito que tenha sido sempre assim, me sentindo um
coitadinho, sem atitude pra mudar ou lutar contra o que quer que
fosse.
Nunca acreditei em nada, mas aqui terei de me alimentar
deste fruto, meu fruto, forçar na garganta pra entrar, e regurgitarei
um pouco, ruminarei um pouco, engolirei novamente, será preciso
digeri-lo, causará dores eu sei, depois será expelido, jogado fora, mas
sentido.
Ficará só o que alimenta e fortifica.
E os dias passarão e eu nunca mais serei o mesmo.
Procurei escrever-te sentindo e revivendo tudo.
Estou em 2013 te escrevendo pra contar mais ou menos como
foi minha primeira internação em uma comunidade terapêutica (CT),
na época chamada “casa de recuperação”.

12 | P á g i n a
Buscando o Simples

Sentia-me além de mínimo, último. Eu estar ali era o símbolo


do meu fracasso como ser humano. Esses pensamentos destrutivos
fizeram com que eu não evoluísse.
Já não me aceitava, motivo pelo qual busquei nas drogas a
solução, ser internado então era a gota do fim.
O que me fez ficar ali foi o meu medo, que só não era maior
que minha autodepreciação.
Aprendi muitas coisas naquele lugar. Sorvi ensinamentos
cristãos, comecei a crer na possibilidade de que alguém me aceitava.
A esperança que Deus colocou no meu íntimo mudou todo
este meu sentimento de inadequação o qual descrevi acima.
Encharquei-me da Palavra Viva e voltei a respirar.
Tudo mudou desde então.
Tive, ainda, outras internações, no total seis, e todas elas me
ensinaram muito.
Logo que se entra numa CT a sensação é a mesma que
experimentei, vi muitos entrando com o mesmo sentimento, derrota,
medo, estranheza e outras coisas que entendo serem normais.
Contudo venho experimentando outras novidades.

13 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Não sei se por conta de tantas internações, mas comecei a não


ver mais a CT como esse um monstro de mil olhos, devorador e
amedrontador.
Ao fim destas internações passei a entender como se vive por
aqui e como se tirar o melhor proveito para a recuperação.
Não tem como eu aprender com coisas que considero ruim,
não entra, não tem jeito.
Esta sensação de estar internado pode ser sufocante, se eu
fizer dela isso. Porém, o que aprendi é que não estou internado, estou
refugiado e isto faz toda a diferença.
O que atrapalha é quando eu quero me sentir assim. Já fui
assim e entendo quando acontece e senti a necessidade de falar sobre
como me livrei disso, ou melhor, como venho me livrando, um dia de
cada vez.
Tudo está em escolher, eu decidir não estar, ninguém pode
fazer isto por mim.
Parece simples e é.
Mas é pessoal, careço de saber de mim.
Tenho visto as coisas assim, simples.
Esta tem sido a diferença em ser e estar.

14 | P á g i n a
Buscando o Simples

ARRUMANDO A CASA

Um dia acordei e disse:


- “Hoje vou usar drogas!”
Não, não foi assim.
Vem de muito longe, lá atrás do pensamento, de coisas
guardadas que eu deveria ter jogado fora e de outras, jogadas fora e
que deveriam ter sido guardadas.
Surge logo a imagem de Deus me pegando, como se pega
pelo cangote, me tirando do meu mundinho de autossuficiência, e me
trazendo pra esta casa, Ele então me sussurra dizendo:
“- Olhe, vais ficar por aqui um tempo, não estarás sozinho, Eu
estarei contigo, poderás aqui, ver o que o barulho lá de fora não te
deixou ver. Descanse em mim e observe tudo. Mude o que precisar
mudar, te ajudarei nisto também. E fique a vontade, a casa é sua”.

15 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Penso em quantas vezes Ele me procurou e eu não dei ouvido.


Quantos chamados tive nas ruas, pessoas falando de suas maravilhas
e eu nada fiz em relação a isso.
Meus olhos focavam o nada.
Não devo me esconder mais.
Não há mais como não me conhecer.
O amor próprio tem muito a ver com isso. Se me amo quero
ser melhor. Conheço-me percebendo em que devo crescer; a
identificação com meu próximo me faz igual.
Estou dentro de uma comunidade terapêutica porque não
posso mais fugir.
Permaneço porque preciso limpar a casa e depois, arrumá-la.
Vou colocando as coisas no lugar aos poucos, não há pressa,
devo ter cuidado com o tempo, o tempo não é meu.
Descubro logo coisas que não deveriam estar em mim, nesta
casa, e me livro delas guardando em lugares de difícil acesso, fora de
vista. Ainda existem algumas que não se encaixam e outras que estão
faltando, procuro estas na contemplação do mundo, ouço o Deus e,
no tempo certo, as dúvidas vão acabando e a casa começa a ter
ordem.

16 | P á g i n a
Buscando o Simples

Todo dia é necessário espanar a poeira que aparece sem


mesmo eu perceber, esta é a mais difícil, é preciso ouvir os outros e
pedir ajuda do Pai, só Ele limpa definitivamente.
Com as idéias no lugar, começo a me ver melhor e perceber
também coisas que não precisam ser mexidas, pois estão bem onde
estão.
Recoloco os quadros na parede para ter um ambiente mais
bonito. É hora da parte externa, pintura, acabamentos, sem esquecer
a manutenção, que é primordial para a continuidade de tudo.
Sim, há muito pra fazer.
Porém já foi um bom começo.

17 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

MOVIMENTO CONTRÁRIO

Eu sou desconfiado, desonesto, manipulador, autossuficiente,


egoísta, egocêntrico, soberbo, prepotente, arrogante, autopiedoso,
medroso e, ainda sim e, principalmente, um amado do Pai. Parece
muito?
Pois te digo: sou isso e muito mais do que isso!
Também sou bondoso, gosto da verdade, procuro ajudar os
outros, tento fazer o que é certo e, acredito que meu Pai me ama.
Estas coisas, todas elas, estão dentro de mim, a cada momento
que vivo sou convidado a ser vários, muitas vezes algo, que nem
sabia que era ou poderia ser.
Como criação do Deus Todo Poderoso, portanto à sua
imagem e semelhança, habita em mim todos estes, mas só vivo o que
desejo viver.
Ele me deu todas as possibilidades. Posso fazer o que quiser!
Por que, então, alimento uma pequena parte disso e,
infelizmente, a pior?
18 | P á g i n a
Buscando o Simples

Penso que alimento o que me faz viver, mas sei que não é só
isso.
Necessito de uma resposta-já, senão isso pode virar um novo
ser além de mim.
Pratico ações que, muitas vezes, terminam em
arrependimento.
Minha natureza me mostra o que eu não quero ser.
Crio máscaras diferentes para diferentes lugares e, raramente,
me dispo delas. E sou assim, pois desejo o reconhecimento do meu
próximo e o que agrada o mundo é o que busco ser e nunca o que eu
quero de verdade.
Neste afã de ter que agradar os outros, perco minha
identidade inicial de criação, unido com Deus.
É impossível servir a dois senhores (MT 6:24).
Querendo sempre mais do que preciso, admiro no outro suas
posses e nunca estou satisfeito com o que tenho.
Corro atrás de inutilidades, sensações efêmeras, num ciclo
interminável de angústia e dor.
Bebo da água do mundo, enquanto Jesus está ao meu lado me
oferecendo a Água Viva; a água do mundo sacia meus desejos por
um breve instante, depois a sede volta e a busco de novo cada vez

19 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

por preços maiores, preços de vida, sempre perdendo mais e


aumentando os goles, pois já não me satisfaço como antes.
A Água Viva, ao contrário, sacia e alivia, transborda no
coração, transforma meu eu e conforta minha alma, e não terei que
buscá-la fora de mim, porquanto ela habita em mim.
A água do mundo me torna insensível e a necessidade de se
ter um relacionamento rico em amor torna-se piegas, fora de moda e
interesseiro: meu amor vira moeda de troca. Tenho vergonha de dizer
eu te amo, desconfio da bondade e honestidade de todos; se ajudo
alguém, mais tarde irei cobrá-lo cheio de justiça própria. No fundo
quero ser elogiado pelo que faço e tenho, nunca pelo que sou no meu
íntimo, afinal não gosto de mim. Essa agonia de buscar a aceitação
do outro me frustra, tornando-me infeliz e diminuindo a minha fé em
Deus e, por conseguinte, em mim.
Não confio em mim mesmo. Esta maneira de viver tem me
afastado de Deus. Ajo como se Ele fosse meu carrasco.
Mas quando em minha busca O conheço, tudo muda.
Não preciso me mascarar pra Ele, nem adianta.
Meu Criador sabe como sou.
Quando finjo ser outro o Pai me desconhece; Deus deseja que
eu assuma meus papéis, sem medo.

20 | P á g i n a
Buscando o Simples

Ainda que me envergonhe, posso admitir: sou um dependente


químico em busca de cura e só vou estar em cura se estiver em
Cristo.
A proximidade do Pai me torna desejoso de mudanças.
Necessito praticar o que quero ser, pois assim posso começar a ser o
que procuro.
Não é máscara, é amor-próprio.
Não gosto de ser o que comumente mostro, então busco não
ser estes que não gosto; nesta prática, me habituo a ser o que almejo
ser. Deste jeito me gosto e me aceito como sou: um pecador salvo
pela Graça!
E minhas ações devem seguir minhas crenças. Se de verdade
creio, vivo esta verdade.
Não há como ser diferente.
Eis a identidade primeira; se já fui posso voltar a ser, não
joguei fora, apenas perdi, mas a encontro novamente.
Jesus escancarava sua crença e a vivia acima de tudo!
Parar este ciclo de vitimismo é fundamental para seguir e
crescer.
As escolhas que fiz me mostraram o que não posso ser.

21 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Sigo agora com olhos em Cristo, aquele que dá a verdadeira


liberdade; liberdade pra ser eu mesmo, sem culpa.
“Com a chegada de Jesus, o Messias, o dilema fatal foi
resolvido. Os que estão em Cristo não precisam mais viver numa
nuvem escura e depressiva. Um novo poder está atuando. O Espírito
da vida em Cristo, como um vento forte, limpou totalmente o ar,
libertando vocês de uma tirania brutal nas mãos do pecado e da
morte. ”(Rm 8:1-2/ Bíblia A Mensagem)

22 | P á g i n a
Buscando o Simples

DEUS NA FORMA QUE EU O CONCEBO

Tenho recebido de Deus muito mais do eu preciso.


Ele me supre, nutre, salva, ensina, disciplina, restaura, ergue,
encoraja, dá força, ama.
Esta é a verdade: Deus me ama.
Sim, o Criador de todas as coisas me conhece e me ama
mesmo assim. Não preciso mentir, fingir, me esconder, afinal Ele
está em todos os lugares, nada foge aos seus belos olhos. Tudo vem
Dele e vai para Ele. Tudo o que faço, até mesmo se não crer, estou
fazendo porque Ele me dá forças para fazê-lo.
Quando eu estava usando drogas, achava que não podia viver
isso. Afastei-me de Deus, vivia nas vielas, becos, casas de uso,
lugares que eu não acreditava que o Dono de tudo podia estar ali.
Mas Ele estava!
O Deus da minha vida me olhava e chorava...

23 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

A Sua compaixão é loucura, não há nada maior nem que faça


acabar. Talvez fosse isso que fizesse eu não crer que Ele estava ali.
Pra mim, pros meus sentimentos, pensamentos, pelas minhas
concepções tacanhas e egoístas, ninguém pode ser assim. E é
simples:
Ele é!
Deus me ama e esse amor é completo, não falta nenhum
pedaço.
Quando aceitei Deus na minha vida, não O conhecia, não
sabia como Ele era. Ensinaram-me sobre alguém que castigava
aqueles que não cumpriam seus decretos. Nunca foi assim, sempre
foi por amor a mim que tudo acontecia.
Deus é justo porque Deus é amor.
Nada acontece sem Ele. Deus está vivo e com Ele seu filho e
Seu Santo Espírito. Apesar da minha mente mundana pensar em
coisas contrárias a isso, realmente creio que Jesus ressuscitou e isto
tornou-se verdade em mim e já não consigo ser o mesmo depois
disto.
Eu experimento o amor de Deus e não há amor maior do que
dar o seu único filho por aqueles que não merecem e não fazem nada
por merecer. Quanta Graça!
Essa verdade me transforma e me liberta.

24 | P á g i n a
Buscando o Simples

E exulto!
Mas é necessário crer de todo coração, alma, força e
entendimento.
Como crer que o meu Deus vive e me lamentar sobre o meu
viver? Quero viver este amor ou melhor seria não crer em nada!
Deus está no meio da minha vida e isto extraordinário, é de
arrepiar!
E posso me arrepiar na presença Dele, não é emoção
passageira, é a Pura Verdade.
Deus está aqui e agora. E esse amor é inacreditável, não
preciso fazer nada nem realizar nada. Ao aceitar que sou aceito,
começo a ser o que Ele quer que eu seja. Sou filho do Pai e o filho
ama o seu Pai. Que assim seja.
O que posso fazer com isso, com esse amor?
Posso andar nesse amor.
É isso que o amor faz, me deixa desejoso de amar. Tão
simples.
Se eu amo a Deus é impossível não amar tudo e todos.
Nesse amor o viver é simples. É suave.
Quero também este amor.
E busco!

25 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

“É IMPOSSÍVEL COMER UM SÓ”

Lembro-me da propaganda do salgadinho e ligo isto a Deus.


Estranho? Concordo!
Às vezes Ele é estranho.
Mas faz sentido quando sinto esta vontade de querer mais de
Deus, cada vez mais.
Não que seja insuficiente, ora, é mais que suficiente.
Mas, é impossível não desejar mais desta “paz que excede
todo entendimento” quando compreendo o que Deus deseja de mim.
Tenho medo até de ser compulsão e sim, se for deste jeito, eu
quero o mergulho.
A felicidade só é real quando é compartilhada.
Peco às vezes, mas não desabo em prantos intermináveis.
Jesus me salvou da perfeição.
As aflições acontecem, fazem parte do viver e me alegro toda
hora com Ele nas suas demonstrações de amor inacreditável.
E me acalmo em êxtase de felicidade.
26 | P á g i n a
Buscando o Simples

Meu sentimento é de pura liberdade em Cristo, pois nenhuma


condenação há. O percebo a todo o momento.
Quando as dificuldades vêm, eu vislumbro as oportunidades
de crescimento colocadas a minha frente com uma simplicidade
única, pela liberdade que passo a usufruir tão logo eu aceito Deus
como Pai.
A cada dia coloco-me a disposição de matar meus desejos
mesquinhos, de não mais querer jogar minhas emoções nos outros,
cheio de justiça própria, freio meus impulsos porque não quero mais
ser o que os outros querem que eu seja, vou correr contra a
correnteza num esforço de gratidão, pois tenho o que preciso e tenho
isto todos os dias.
E alegro-me de novo ao dizer-te isso: não temo mais a mim
mesmo!
Antes me amo, e amo tu que me lê.
Não sofro de querer também ser o que agradaria a outrem.
Quero sim a verdade do eu mesmo, sem maniqueísmos, nem brincar
de marionetes nas mãos do que não me faz sonhar.
E gosto do ser eu mesmo!
Aleluia!

27 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

“Confie no Eterno do fundo do seu coração; não tente


resolver tudo sozinho. Ouça a voz do Eterno em tudo que fizer,
aonde for. Ele manterá você no melhor caminho.“
(PV 3:5-6/ Bíblia A Mensagem)
É disso que eu to falando!
Por que não crer nestas possibilidades? Se me são dadas?
O que Deus me oferece é o simples.
E isso assusta, eu sei, já vivi assim.
O simples não é fácil, mas é palpável e mais que isso,
possível.
Meu passado me remete a um eu sem sentido, que outrora
buscava em tudo uma explicação e que vivia para que houvesse
sentido em tudo.
Como pude? Não pude.
Então caí e agora ergo meu corpo firme de volta a razão.
E sonho alegre e sem questionamentos, vivo o é-se.
E é hoje e é imperdível o meu hoje.
Não posso parar, a vida continua...
E respiro o ar dos reticentes, esperando sempre as nuvens das
possibilidades diárias.
E há esperança, “grande consoladora”.
E eu as agarro e continuo vivo, no meu instante único.

28 | P á g i n a
Buscando o Simples

E posso ser tudo isso!


É impossível alegrar-se uma só vez com Deus!
Ele não me deixa...
Rsrsrsrs...

29 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

ESPERA SUAVE

Quero humildade.
Houve épocas em que evitava falar; talvez assim eu seja
menos.
Também quero ser menos.
Estou quieto e tudo é espera, mas é espera tranquila. Já sei ser
afoito, quero agora a espera e a observação.
Contemplar é preciso.
Escuto atrás de mim as vozes que vem da piscina e os risos da
sala de TV; estou cercado de gente e estou só, te escrevendo.
Tu me lês, este sou eu.
E este eu está bem à espera de um dito qualquer de Deus.
O meu tempo é suave.
Quem sabe este não é o tempo de Deus, o tempo Dele deve
ser assim.
Te digo isto achando que estou sendo muito, portanto, vou
agora mais devagar, como disse:
30 | P á g i n a
Buscando o Simples

-“já sei ser afoito”.


Percebo-me e então paro.
Deve ser assim.
Mas creio em mim mais do que em outrora.
As nuvens se dissipam e eu espero.

“Onde senão em meu companheiro, poderei encontrar este


espelho?”

Retirada da filosofia “Daytop”, esta frase é repetida por todos


a cada manhã na comunidade terapêutica a qual me encontro e teve
nestes dias seu significado atingido e, por assim dizer, descoberto.
Além disso, pude encontrar, mais uma vez, outro porque de estar
aqui.
Observo certo interno sofrendo em suas dificuldades e me
vejo nele.
Ou melhor, eu sou ele.
A autopiedade foi o maior freio na minha recuperação.
Tempos atrás, quando na ativa, ficava em um canto, de cabeça baixa,
esperando alguém vir e perguntar o que havia comigo. Por um
tempo, alguns até vinham, mas depois, ninguém mais veio.

31 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Usei álcool e outras drogas por 25 anos, joguei muitas coisas


fora, deixei outras pra trás, buscava preencher o vazio que havia em
mim, e preenchia.
Mas não durava.
Logo precisava de mais e mais até que, não suportando
aquilo, decidia me internar, sem antes, claro, tentar parar sozinho,
negar minha situação, fazer do meu jeito, entre outras insanidades
comuns na adicção*.
Aqui é inútil eu me vitimizar; e é imprescindível eu tomar a
atitude de mudar. Permanecendo do jeito que entrei, vivendo os seis
meses alimentando as minhas falsas e antigas idéias, me frustrarei
novamente, perdendo o meu tempo, que já pode estar se esgotando.
Logo, faço o movimento contrário.
Só pude começar a vislumbrar esta transformação quando me vi no
outro.
E não gostei do que vi.
Voltei a me aproximar de Deus e assim desejei ser melhor, é
natural.
Posso sim crescer e ter muito mais de mim mesmo.
Deus me aceita como sou porque sabe que posso ser melhor.
E esta verdade é para todos!

32 | P á g i n a
Buscando o Simples

Quando percebo no outro meus próprios erros e desejo


mudar, mudo também minha maneira de vê-los, fazendo a vontade
do Pai.
Encontro Deus no outro, é fabuloso. Até parece mentira.
Depois de tanta procura O encontro nos mais diversos lugares, coisas
e seres, até mesmo naqueles mais impossíveis. Mas o que é
impossível?
Busco o simples e não quero mais que isso!
Só por hoje, continuo querendo a humildade, todo dia.

* Adicção é o vício, e geralmente está relacionado com drogas


ilícitas. Mas a adicção pode também significar qualquer dependência
psicológica ou compulsão tipo jogo (bingo, pôquer, etc), comida, sexo,
pornografia, computadores, internet, vídeo games, notícias, exercício,
trabalho, TV, compras e etc.
Uma pessoa que é viciada não consegue controlar seu desejo por álcool ou
drogas, mesmo que sinta efeitos negativos pra saúde, problemas com
família e amigos, ou problemas com a polícia.
A adicção a drogas é considerada uma doença como outra qualquer. É
uma doença crônica, ou seja, afeta a pessoa ao longo prazo, ou acontece
várias vezes. Ela acontece, pois a pessoa procura uma recompensa ou um

33 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

alívio pelo uso da substância. A adicção é caracterizada pela dificuldade


em controlar o comportamento, presença de fissura ou desejos, dificuldade
de ficar sem a droga (abstinência), e falta de noção dos problemas
causados pela droga.
 (fonte: http://www.quedroga.com.br)

34 | P á g i n a
Buscando o Simples

RESTOS DE VIDA

A casa era antiga, lembrava aquelas casas antigas francesas


que mostra a frente pequena, vê-se apenas uma porta e uma janela,
mas...
Ao entrar percebe-se o engano, pois logo após a porta de
entrada, abre-se uma bela e espaçosa sala, dois vastos quartos á
direita e, ao fundo, a cozinha espalha-se na largura da sala e dos dois
quartos. Quando se entra nela, avista-se já o quintal, modesto até,
mas funcional e ainda, contíguo à cozinha, outro quarto e mais um
banheiro.
É uma boa casa. O pé direito é alto e tem duas meias águas
dividindo sala e quartos de frente; cozinha e quintal, quarto e
banheiro ao fundo, uma casa até bem aconchegante para se viver e
tenho certeza que já se tenha vivido desta forma nela.
Estou eu aqui a descrevendo como quem vai lembrando dela
e flutuando por entre seus espaços, como um fantasma, observando
35 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

apenas seus lugares e divisões de seus cômodos, como em um sonho


talvez.
Não da forma como entrava em dias outros, dias antigos,
ativos, não muito atrás no tempo...
Era assim:
Quando chegava, cumprimentava D. Maria, dona da casa que,
quase sempre, estava sentada a soleira da porta numa almofadinha.
Bem pequenininha era ela, D. Maria era cansada e com longos anos
marcados pelo corpo, as rugas eram espessas, não digo que tivesse
muita idade, mas o tempo a tinha maltratado demasiado. Esforçava-
me para passar por ela e pela estreita porta entreaberta que, aos
pedaços, separava a rua da sala, eu erguia as pernas num esforço para
enfim alcançar o interior daquele lugar extremo.
Olhando agora a sala, anteriormente bela e espaçosa,
transformara-se num depósito de coisas quaisquer, onde era tudo
indefinido.
O que eram as coisas, não se sabia. Eram jogadas ali como
que sem importância e esquecidas, amontoadas, ao ponto de eu ter
que olhar para o chão, receando não pisar em algo e também verificar
se nada se mexia ali.

36 | P á g i n a
Buscando o Simples

As paredes não se sabiam de que cores eram, pois estavam


escuras e sujas, além do lugar não possuir luz artificial, eu andava,
buscando adaptar os olhos a claridade que vinha do quintal.
Além disso, havia os cachorros.
Sete.
Sete no total; todos eles como farrapos de estopas usadas e
encharcadas de óleo queimado. Eles eram sujos, sujos e carentes,
enquanto eu ia entrando eles iam pulando e latindo talvez implorando
um toque apenas que eu dava constrangido com a situação. Latiam
interminavelmente, ora um, ora outro, ora todos, até que enfim
paravam depois de bravos gritos de D. Maria e de seu filho que me
esperava na cozinha, assim eles se deitavam de novo a espera de um
outro despertar, talvez de algum carro que passasse ou alguém que
cumprimentaria ela que sentada à soleira da porta ia aos poucos se
desfazendo.
Quando chegava a cozinha, o fogão, a geladeira, a pia, louças,
talheres, pratos, restos de comida, baratas, ratos, vermes, horror, tudo
era uma coisa só, um amontoado de desgraça humana. E eu estava ali
naquele lugar, um lugar que não era a sua utilidade, não era o que
para o qual havia sido construído.
Então o que restava?

37 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Restava a mesa no canto da cozinha.


Esta era cheia de restos de vida, repleta de sonhos destruídos,
carregadas de insensibilidade, vazia de amor. Uma mesa, que um dia
esteve rodeada de pessoas que compartilhavam a vida, hoje servia
para a destruição da alma. Sentado jazia meu amigo de nome oculto,
cria de D. Maria, que dividia comigo o pânico, o medo, a angústia, a
ansiedade, tudo regado a muito egoísmo.
Aquela era uma casa onde habitava a dor.
Aquele era o lugar onde eu entregava a minha vida a qualquer
emoção efêmera, nada havia além de um asqueroso horror, desvalor
e desrespeito a mim e a qualquer um que ali chegasse.
E quem chegasse trocava a mesma e tenebrosa indiferença.
Este era o lugar da droga. O lugar onde a vida não tinha início
nem fim, onde a vida era desprezada.
Qualquer vida, até os cachorros sofriam!
De vez em quando, em um novo despertar, eles, os cachorros
recomeçavam os latidos, e ao fundo ouvi-se D. Maria agradecer a
alguém que, piedosamente, lhe entregava algo de comer e que os
cães é que comeriam, pois ela não tinha fome:
- Que Deus te abençoe e aumente teus dias, ela dizia, com um
sorriso apertado e mínimo, tirado não sei de onde e tinha aquela

38 | P á g i n a
Buscando o Simples

esperança pela sua fé, que um dia aquilo tudo acabasse e Deus a
levasse para junto de si.
E Deus a levaria sim.

39 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

RECAÍDA: NOVA OPORTUNIDADE

Do carro eu vou observando o mundo: pessoas apressadas,


senhoras nas janelas, velhos em frente às casas velhas, velhos lares
que mesmo antigos ainda permanecem de pé. Penso no tempo, este
contador de histórias.
Minha mulher dirige calada; está segura; não feliz. Eu
continuo a olhar pela janela do carro, absorto, também não estou
feliz, nem seguro, estou a caminho de mais uma tentativa, mais uma
oportunidade.
Direita, esquerda, segunda direita, muro baixo, é aqui.
Chegamos...
Ficarei por aqui por um tempo que não sei qual é, buscando
me encontrar, talvez entender minha estupidez!
Dói.
Minha mulher chora. Procura se sentir normal.
Impossível.
Mas valeu a tentativa.
40 | P á g i n a
Buscando o Simples

Impossível ficar normal frente à dúvida: será que desta vez


vai?
São muitas perguntas. Estas mesmas perguntas são feitas por
mim, que não sei o que dizer.
(...)
Ela vai embora. Fico eu mais uma vez.
O que sinto?
Não sei o que sinto. É ruim estar aqui de novo. Não queria
estar aqui de novo.
Deveria ter sido mais simples, como aquelas pessoas que
passaram por mim, pela janela do carro. Bem mais simples.
Então começa. Preciso fazer coisas que não quero neste lugar.
E faço. Busco a compreensão destas coisas, começo também a buscar
entendê-Lo. No início dói um pouco; é como colocar de volta o braço
no lugar de onde foi deslocado; estou fora de lugar! Depois se
acostuma na prática. Como eu disse dói um pouco. É como
fisioterapia. Necessita-se forçar um pouco; repetir movimentos, então
vai ficando mais no corpo, como o bailarino, que de tanto repetir a
mesma coreografia, chega um dia que a faz sem perceber, virou vida.

41 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Importante também é gostar do que se está fazendo, é preciso


alimentar-se do Pão da Vida, Aquele que transforma, a Palavra de
Deus que me mostra que sou importante pra alguém.
O tempo passa e, quando se está na busca, querendo achar,
encontra-se e então não se quer mais parar.
E o tempo passa a ser pouco.
O coração tem que estar entregue para o novo.
Quando as dificuldades surgem, Deus continua. Ele envia
alguém que me diz o que preciso ouvir. Dói outra vez. Mas já sei que
não é para a morte, assim me percebo e me aceito. Sou grato.
E continua...
A busca continua...
E Deus continua... Ele está perto.
Agora meus olhos veem à frente.
Ele está na frente.
Então caminho.

42 | P á g i n a
Buscando o Simples

PALIATIVOS

Outro dia vi em Fortaleza a prefeitura consertando as ruas da


cidade, era a operação tapa-buracos.
Ora, todos sabem que essas medidas são paliativas, quando as
chuvas retornarem, os buracos voltam e muito piores.
Fico pensando quantas vezes fiz isso em minha vida.
Quantas vezes eu preferi paliativos a resolver problemas
definitivamente. Quantos buracos que, paliativamente cobri em
minha alma, espaços vazios no meu coração que mascarava com
alguma emoção passageira ou pequenos momentos de falso prazer.
Como adicto, usei a droga para maquiar sentimentos, fugi
com medo de emoções que eram necessárias pra eu viver, cobri
vazios existenciais e me transformei em alguém seco e esturricado.
A dor de não ser aceito ou de me sentir menor que os outros,
me fizerem comprar sorrisos, companhias e amizades que não me
edificavam.
43 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Quando me frustrava com algum desejo não realizado ou com


uma negativa qualquer, corria pra usar alguma coisa que me
anestesiasse e causasse algum prazer fugaz, e voltava a minha
realidade com mais dor ainda e querendo, muitas vezes, desistir de
mim mesmo.
Um dia, porém, conheci algo diferente, algo que não acabava,
que andava na contramão de todas as coisas e, poderia usá-lo o
quanto quisesse, porque era Eterno. Algo que não me condenava por
não ser o melhor, pelo contrário, me dizia que eu podia ser o que
quisesse ser. Uma possibilidade de ser feliz, uma verdade que era pra
sempre.
Sem paliativos.
Que me mostrava que era igual a todos e que podia ser
melhor do ontem. E mais, essa verdade não queria nada em troca, era
de graça, bastava eu caminhar com ela e já tinha Tudo.
Podia, agora, viver tranquilo, em paz, pois sabia que estava
aos cuidados daquilo que realmente importa.
Era o Amor de Deus! Neste Amor, não há cobrança.
Há “levante e ande”, “alegre-se, pois Eu sou contigo”!
Nada é maior que isso.

44 | P á g i n a
Buscando o Simples

O que quero agora é viver nesse prazer, depender desse Amor


e não mais correr atrás do que não é pra sempre. Hoje eu quero
Amor!
E amar esse Amor é caminhar.
Hoje posso caminhar!

45 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

SOCORRO!!!

Na minha vida tomei atitudes sem pensar no que estava


fazendo.
E como fiz isso!
Fazia para buscar identificação com algum par meu que eu
queria ser.
Isso mesmo, não era bem visto por mim mesmo, gostaria de
ser outro, que loucura!
Ainda bem que mais tarde descobri que não estava só nisso.
Assim, essas coisas que realizava, não significavam nada,
tanto é que quando apareciam outras novas, que via nos outros,
queria sê-las novamente e rapidamente modificava meu modo de ser.
O pior é que seguindo determinados movimentos não pararia
nunca de fazê-los, porque neste mundo os modismos são mutáveis, a
todo o momento tentava ser algo que nem entendia, e quando estava
perto de entendê-los, eles mudavam e lá ia eu de novo correndo atrás
do vento.
46 | P á g i n a
Buscando o Simples

(...)
O mais entediante é que os fazia sem entender porque, logo
não ganhava nada com aquilo, nem aprendizado, nem resolvia
minhas autodepreciações. Perdia meu tempo e cada vez mais me
sentia vazio e sem sentido no mundo.
Dentro de uma comunidade terapêutica isso acontece muito.
Existe uma programação de recuperação, e esta programação possui
certas dicas que podem ser muito úteis se eu entende-las.
Por exemplo: o pedido de ajuda.
Ele funciona se a honestidade estiver com ele.
“Sozinho eu não consigo”, então eu peço ajuda.
Peço ajuda pra fazer o que quero e o que não quero fazer.
Até pra ajudar eu necessito pedir ajuda.
Igualo-me ao meu próximo, desço de onde imagino estar e
encontro meu eu verdadeiro. E não sofro por isso. Porque aceito o
que sou.
Usando drogas, ia aonde queria e fazia o que queria, não
pedia ajuda de ninguém, ia lá e pronto, hoje, peço ajuda pra eu não
ser mais quem controla tudo.
É por isso que não pode ser boca pra fora.
É preciso estar no hábito.

47 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Necessita ser a tentativa do controle fora de mim.


Não sou mais eu que quero isso ou aquilo, sou eu que quero
se for possível.
O “não” perde o valor de rejeição. Vou à busca do “sim”, e
Deus me dá o sim.
E também posso dar ajuda, a troca é justa e não pode haver o
medo de rejeitar, porque é ajuda, e quando esta é pedida estou me
sujeitando ao que for; não importa, parto pro mergulho, respiro fundo
e vou.
Se gritar por socorro é porque já me aceito e logo aceito o
meu cúmplice, eu o valorizo, pois estou junto.
O sim ou o não que podem vir, eu decido o que seguir.
Pra mim isto é viver na verdade de Deus.
No pedido de ajuda coloco nas mãos do outro a liberdade do
poder.
Mas Deus me dá a liberdade de escolher.
Do que mais preciso?
A Graça do amor me basta!
E grito:
- Socorro!!!
E não estou sozinho.

48 | P á g i n a
Buscando o Simples

MAIS DE DONA MARIA

Os dedos dos pés eram tortos.


Não apenas pelos joanetes incríveis que possuía, mas
principalmente pelas dores nas pernas que sofria. Quando andava,
arrastava-se numa jornada de lá pra cá e de cá pra lá, da entrada da
casa até a cozinha, sempre buscando uma posição melhor para andar;
ora apoiando-se mais num pé do que no outro e vice-versa, a fim de
vislumbrar segundos de alívio, de tanto fazê-lo eis que os dedos
adaptaram-se a modos melhores de se posicionarem que por fim
entortaram-se definitivamente.
Quando findava sua jornada, sentava-se num suspiro que eu
próprio, só de olhar, aliviava-me junto com ela.
Descia as mãos pelas pernas até os tornozelos, fazendo
expressões que gostaria de apagar de minha memória.
Ela sofria, mas calava-se.

49 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Não via ali uma reclamação, o que pelo muito que passava,
seria normal.
Quando me via cumprimentava-me com honestidade e dava
graças a Deus por eu estar vivo e aparentemente bem; ela se
importava comigo.
Dona Maria vivia ali há mais de 40 anos e já tivera tempos
felizes naquela casa. Contava que às vezes saia pra se divertir,
passava a noite inteira em serestas, chegava de manhã, era feliz!
- “Ninguém mandava em mim, eu gostava daquele tempo”,
ela dizia olhando o telhado da casa como se houvesse uma janela que
se abrira ali para outro mundo, realizava aquele momento com um
leve sorriso de canto de boca... Até que a janela se fechava e voltava
ao seu presente: “- Nada mais era como antes...”
Eu concordava e dava corda para que ela continuasse. E
continuava, conversávamos sempre. Enquanto seu filho saia pra
comprar a droga, conversávamos e parecia que a vida fazia algum
sentido pra ela, podia viver em outro mundo por aqueles ínfimos
instantes...
Até que ele chegava.
Vinha suado, ofegante, lamentando a própria vida que ele
próprio havia desmontado, reclamando sempre de algo que
aconteceu.

50 | P á g i n a
Buscando o Simples

Quando ouvíamos o barulho do portão, tudo mudava.


Ela silenciava.
Ele não permitia que ela se expressasse.
Eu sempre aceitei aquilo, dolorido e hoje arrependido; eu
tinha medo.
Não queria me incomodar, nem a ela. E começava de novo a
dor.
De toda aquela imundície que ali se iniciava, talvez uma
única coisa salvasse aquele lugar:
A mansidão tolerante e amorosa de Dona Maria.

51 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

DE QUANDO EU COBRO O QUE PRECISO DAR

Uma vez te escrevi um poema.


Dizia assim:

Porque dormes tanto, minha doce amada?


Será pra esquecer-se das lembranças de outrora, onde o medo
sobrepujava a vida, amargurando o sonho?
Mas e se dormes tanto então sonhas o tanto também.
O que sonhas?
Sonhas bem?
Se quando acordas ainda estás cansada.
Ah, minha doce amada, entrega-te ao Forte!
Entrega-te Àquele que cumpre o que promete e não te desvanecerá
em esperas e sortes;
caminharás tranquila, esperando na Verdade.
Então teus sonhos serão vastos e lânguidos espreguiçares e
dormirás não mais para esquecer e sim descansar...

52 | P á g i n a
Buscando o Simples

Quando te escrevi estas palavras, vivia num mundo que era só


eu.
Lamentava coisas e, enquanto te via dormindo, reclamava-te,
pois não percebia que quem dormia era eu.
Deixava passar o tempo a ver navios a olhar pro outro, sem
nunca enxergar a mim mesmo, vago e morto.
Não reparava nas tuas duras labutas diárias, não só de
trabalho, mas e principalmente, de sonhar sozinha sonhos que eram
pra ser divididos além de carregar cargas que deveriam ter sido
compartilhadas.
Cobrei coisas que não nunca te dei.
Esqueci-me de ti durante noites em que me entregava aos
meus próprios quereres, sempre me achando correto e cheio de
satisfação em mim mesmo.
Quantos erros, mentiras, desonestidades, manipulações
cometi a ti; desconsiderações a alguém que se doava todo o tempo,
aceitando-me sempre com o coração puro, cheio de perdão e amor.
Escrevo-te agora, buscando me colocar em teu lugar durante
todas estas situações em que fui todo eu e nada em ti.
Perdão.
Não desejo ser plausível, não.

53 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Apenas hoje, desejo ser melhor comigo pra ser muito a ti.
A partir destas percepções, buscarei ser homem sincero e
carinhoso, compreensivo e amigo, unindo-me a ti pra sermos a tão
desejada uma só carne em Cristo.
Andréa, obrigado por tudo o que suportastes e suportas de
mim, te agradeço pelas mudanças, crenças novas e entregas de vida
que fazes a cada dia por nós e para nós.

“Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao


Eterno”. (Josué 24:15c)

54 | P á g i n a
Buscando o Simples

COMO FALAR?

Como posso falar de alguém sem julgá-lo, criticá-lo ou


mesmo elogiá-lo demasiadamente?
Derramar elogios a qualquer ser humano pode ser deveras
prejudicial. Naturalmente eu, como tal, costumo ver mais falhas do
que virtudes e quando sou elogiado, mostro alguém bem complicado.
Quanto às virtudes, dificilmente as valorizo adequadamente;
Deus observa tanto uma quanto outra, mas principalmente o que faço
com elas.
Aqui, te escrevendo, tentarei ser assim, quero andar na
contramão e não estou com medo de parecer com Ele, tomara que
pareça, o que seria ótimo, é apenas um exercício de fazer o que o Pai
faria.
Quero olhar o belo que existe em tudo, e que deixo sempre de
lado.

55 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Falhas costumam me deixar autopiedoso, com baixa


autoestima, me colocando em posição de vítima.
Antes, deviam ser lições e força para agir diferente. Enquanto
fico vivendo e revivendo o erro, alimento o inaceitável, estanco meu
crescimento e tudo em minha volta perece junto comigo, saio do
Caminho.
Outro dia ouvi que,
– “só conseguimos prosseguir se o futuro der novo
significado ao passado.”
Esta frase ficou nos meus pensamentos por dias e dias, sem
eu saber o que aquilo tinha a me dizer.
Eis que me saltam aos olhos quando percebi alguém que
consegue viver isso!
É um cara que conheci há algum tempo.
Veja bem, nem o conheço a fundo, mas sei que sua vida era
de infâmia, lamento e tristeza e hoje foi transformada em vida, força
e alegria.
Sim, Deus faz novas todas as coisas.
Alguém que não valorizava a vida, as pessoas e o mundo e vivia de
acordo com suas próprias vontades, de repente passa a acreditar em
si mesmo, e acreditar que existe um Deus que é Pai.

56 | P á g i n a
Buscando o Simples

Na vida, fazemos coisas que aos olhos humanos são


imperdoáveis, entretanto, Deus não vê assim.
O Criador vê o que eu faço após o engano.
Para Ele o que importa é a volta ao Caminho e não a saída
dele.
Alegro-me ao ver um amigo que me mostra que para mudar o
mundo, preciso primeiro mudar a mim mesmo vivendo isso com
integridade e amor.
E me diz que é possível, respingando em quem está em volta
e assim segue-se adiante, mas também me diz que não é fácil, e sei
que Deus está por trás disto!
Mas não precisa ser fácil, precisa ser possível. É do jeito
Dele.
Hoje ele é a referência do possível e da mudança que eu
também posso ter!
De quem eu falo?
Acho desnecessário dizer, pois posso eu mesmo ser ele, se
quiser.
Vejo-me no outro e passo a ser ele, se quiser.
Atitudes é que fazem a diferença.

57 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Não importa de onde elas vêm e, muitas vezes, vem de


alguém que o mundo diz ser impossível, e o impossível não existe.
Existe o Deus!
Alegro-me nesta vida que me dá esperança e caminha fácil na
estrada.
E louvo a Deus por me possibilitar participar desta vida.

58 | P á g i n a
Buscando o Simples

EU PARO PRA CONTINUAR A CAMINHAR

Mas e quando as adversidades vêm?


Faço isso: eu paro.
Apesar de todas as minhas vontades me induzirem a ir em
frente, eu paro.
Mesmo eu achando com uma certeza inabalável que estou
fazendo o que devo fazer, eu paro.
Até quando todos me dizem, - faça o que tu queres, - eu paro.
Aprendi que meus melhores pensamentos me levaram pra
lugares onde não deveria ter ido.
Aprendi, também, que minha natureza é falha e por isso, meu
umbigo é sempre minha primeira intenção.
Aprendi, ainda, que não sou dono da verdade e que as coisas
podem ser agradáveis se não forem do meu jeito.
Então...

59 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Eu paro pra olhar em volta e ver além do que vejo no


primeiro instante.
Eu paro pra pensar melhor do que pensei outrora.
Eu paro pra não mostrar meu eu que só critica, julga e tira
conclusões sempre em torno de mim mesmo.
Há muita coisa acontecendo.
E o propósito é bom, sempre.
Mas é preciso parar pra ver.
Olhar com olhos livres.
Hoje, paro pra continuar a caminhar.

60 | P á g i n a
Buscando o Simples

IMPRESSÕES DE MIM MESMO

Deus já faz o suficiente pra mim.


Se eu caio, eu levanto.
Mas me acomodo nisto: jogo nas mãos Dele o que é pra eu
fazer.
O que preciso que Deus faça pra mim além do que já foi feito
na cruz?
Já fui justificado e ainda sim continuo vivendo como um
pobre coitado, lamentando coisas feitas, lacrimejando por tudo,
enquanto já deveria ter cometido a atitude de me levantar e seguir.
Novas possibilidades permitidas a mim são deixadas pra trás.
Não é preciso recomeçar e sim dar continuidade.
Tudo o que já vivi serve como impulso, não como freio.
Muitas são as frases pra me levantar, falta eu levantar.
É um processo.

61 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Como posso dizer que sou justificado se vivo mostrando


tristeza e dor?
Fui daqueles que era o que lia, e sempre li muito e de tudo,
ficava jogando frases de efeito na cara das pessoas com uma certeza
da verdade em cada uma delas, apenas por achá-las bonitas e de
impacto, mas poucas vezes vivi o que elas diziam, assim não podia
ter a experiência do que podiam ser realmente.
Algum tempo depois lia outra coisa e já mudava de novo meu
modo de ver o mundo, tudo tornava-se diferente e mais uma vez essa
nova impressão de mundo era o que me bastava e não aceitava o
contrário disso.
Estas impressões de mundo eram meu medo de pensar por
mim mesmo.
Meus pensamentos sempre foram de liberdade, por um
mundo melhor, baseava-me em sensibilidade, sofrendo pelos outros,
mas basicamente por não aceitar-me como era.
Nunca partilhei estes sentimentos.
Queria sempre viver a vida dos outros, nunca a minha.
Tempos atrás escrevi um texto de teatro para um festival de
esquetes, montamos a peça e apresentamos, o texto foi até premiado,
mas o mais importante foi o que os jurados me disseram sorrindo: -
“Isto é a sua biografia?”.

62 | P á g i n a
Buscando o Simples

Também sorri.
Sorri de nervoso que fiquei ao ver como eles me viam, e eu
não me percebia, eu brinquei dizendo que não, pois a personagem
tratava-se de uma mulher, na hora pensei na possibilidade de que o
que dissera era verdade, mas só pensei, àquela época ainda vivia
atrás de agradar outros em detrimento de mim mesmo.
Só que mais tarde percebi que ela era eu.
O nome da peça era “Vida Perdida”, e contava a história de
uma mulher que se imaginava dentro de seu apartamento à procura
da sua vida que, de tão bagunçada, encontrava-se perdida. O
apartamento era seu interior e o que encontrava eram pedaços de
coisas que não se encaixavam.
Sim, era absurdo. Mas nem tanto.
O monólogo decorria tranquilo nesta busca quando enfim ela
se deparava com uma ou outra coisa que mostrava a forma como ela
encarava a tal vida e como justificava atitudes que acabaram
levando-a até aquele exato instante.
Ela negava tudo o que estava acontecendo, transferia culpas,
nada do que havia feito podia ter causado aquilo pelo qual estava
passando. Na verdade, Lúcia como a chamei, não se conhecia, vivia

63 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

num mundo onde se escondia de si mesmo, pois não tinha coragem


sequer de olhar-se no espelho.
Enfim, ela descobre que tudo havia sido causado por ela
mesma, desesperada tenta correr para resgatar-se e pedir perdão a si
mesmo, queria de volta a vida, a qual ela própria havia
negligenciado; começa então a encontrar-se num retorno a realidade,
onde talvez, ela pensara, não pudesse voltar.
Ali naquele momento eu havia me encontrado, mas, não
percebera isso. Estava de frente comigo mesmo, olhando pra atriz, e
assistindo no teatro a história da minha própria vida, escrita por mim
mesmo, a derrocada de alguém que não se aceitava, não se conhecia,
que tinha medo dos seus sentimentos e estava indo para um fim que
poderia ser a morte.
Mas Deus não havia desistido de mostrar-me como sou.
Acredito nesta oportunidade que Ele me dá na sua eterna
misericórdia. Eu posso me modificar a partir de aceitar o Amor do
Pai e começar a me amar.
Começo a não me amedrontar comigo mesmo e entender que
meus pensamentos podem ser bons.
Torno-me viável.
E continuo mais uma vez a caminhar.

64 | P á g i n a
Buscando o Simples

Na vida, muitas coisas são ditas, algumas falam de como


devo me aceitar não me comparando, pois “quem se compara não se
aceita”, ou até que “a dificuldade está em mim”, tudo isso de nada
serve se eu não viver cada um desses ditos.
O que escrevi em “Vida Perdida” me revela, eu falando de
mim mesmo, porém como uma máscara, numa roupagem que
transfigura no outro o que sou na verdade.
Mas Deus é, desmascarando-me, até que, enfim, resolvo me
aceitar e perceber que posso ser melhor do que isso.
Vivo o possível e não corro mais de mim mesmo.
E sonho com as novas possibilidades todos os dias!
Na minha vida tive medo de mostrar quem eu era de verdade
por não me achar adequado.
Aqui, aprendi a ter coragem de ser eu mesmo!
Sempre quis ser o melhor, pois quase sempre me achava
inadequado.
Aqui, aprendi que posso ser o que quiser e que é belo ser
diferente.
Na minha vida tentei viver da maneira que eu achava que era
melhor, sempre tentando agradar os outros.

65 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Aqui, também aprendi que as coisas não são como eu quero e


não há problema nenhum nisso.
Na minha vida sempre quis ter a última palavra, porque
queria sempre ter alguma coisa a dizer.
Aprendi também por aqui, que posso dizer muito quando me
calo.
Na minha vida, procurei ser alguém importante, pois queria
ser reconhecido.
Aqui, finalmente aprendi que todas as pessoas são valorosas.
Neste lugar Deus me mostrou quem eu sou, sem subterfúgios,
sem máscaras, sem nada escuso.
Mostrou-me o que eu era e o que eu poderia ser.
Mostrou-me que as pessoas eram difíceis.
Iguais a mim.
E me deu escolhas.
Eu escolhi a Verdade que encontrei por aqui.
Hoje, encaro o medo com coragem;
O inadequado como diferente;
Amo os outros como a mim mesmo;
Me calo quando quero ser demais;
E sou importante, pois sou filho de Deus.

66 | P á g i n a
Buscando o Simples

Aqui, nesta Comunidade Terapêutica, aprendi a ser grato e a


viver o simples, um dia de cada vez.
E quero mais!
Quero aprender sempre e mais!
Graças a Deus nunca vai parar.
Continuo sendo um amontoado de coisas.
E posso viver com isso.
Vida perdida?
Só por hoje não!

67 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

OBSERVAÇÃO RECÍPROCA

A observação dentro de uma comunidade terapêutica é


fundamental.
Tanto observar outro interno, como observar aquele que
experimenta o que preciso.
Conselheiro, facilitador, monitor, obreiro, líder, qualquer
nome que se dá a estes servidores é menos importante que a função
que eles exercem. E a função é de observar para colaborar com o
meu crescimento, para que eu tenha um bom aproveitamento dos dias
passados por estas bandas.
Eu, como interno que observa o líder, ou o nome que for, sou
o que mais aproveito.
Ele é a autoridade e é passível de erros como qualquer um e
não tem essa de obreiro bom ou ruim pelos erros ou acertos que
cometem o que importa é a motivação dentro disso.
Esta autoridade colocada por Deus necessita encontrar algo
entre o excesso e a inércia, mais conhecido por amor.
68 | P á g i n a
Buscando o Simples

Ora o amor compartilha tudo.


O sentimento do monitor é o de se colocar na figura do
observado e relaxar nesta posição, importante já ter experiência de
observado, a empatia funciona sempre, lembrando que Deus está
perto.
Ele é a referência, a marca do possível.
O facilitador, sendo ele também um adicto, demonstra sua
fragilidade de pecador, mas junto a isso a força de um servo salvo
pela graça.
O conselheiro faz da sua atividade uma doação, não quer nada
em troca, já teve a troca, e é grato por isso.
Mas percebe, com sua experiência, a vivência do aluno,
trazendo para si um aprendizado com este.
E também está à disposição de expor-se a tudo e a todos,
experenciando novas trocas de conhecimento, nunca deixando de
colocar suas práticas de vida à vista de qualquer um.
Contudo, não há modelo.
Há sim alguém que queira, apesar de tudo, igualar-se ao outro,
sabendo que numa CT, a empatia é a mola para o autoconhecimento
que impulsiona para a mudança e o desenvolvimento humano
essencialmente.

69 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Sem deixar de ser aluno, ensina com seu viver e aprende com
prazer.
E eu, também observador, monitoro-me mediante a visão que
tenho dos meus iguais, unindo-me a necessidade de transformação.
Não maior nem menor.
Há a comunhão de seres, onde a reciprocidade de
experiências é o motor principal na busca com algo maior que todos:
O encontro da liberdade com Deus!

70 | P á g i n a
Buscando o Simples

RECAÍDA DOIS

Alguém viu a minha vida por aí?


A minha vida alguém viu?
Ela estava por aqui, em algum lugar...
Eu a sinto perto, mas não consigo ver...
E o que aconteceu aos meus olhos?
Não enxergo nada!
O que eu fiz de mim?
Meu Deus!!!
Tudo estava tão bem, eu caminhava bem e de repente, as
coisas ficaram estranhas...
Onde é que tá todo mundo?
Tem alguém aí?
Eu preciso de alguém.
(...)

71 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Toda vez que retornei a uma comunidade terapêutica, me


sentia como isso aí.
Não sabia de mim.
Não tinha perspectiva.
Ao recair, o chão some e surto com questionamentos em
busca de identidades perdidas.
Não busco mais o emotivo passageiro, estou de volta ao meu
próprio medo, minha própria insegurança, e surgem mais.
Por que estou aqui?
Pra quê estou aqui?
Pode parecer claro até demais pra ti, que me lê, mas muito
mais que isso e isso também são os desejos reprovados!
Nada está claro!
Não há respostas que conseguem me satisfazer, pergunto por
perguntar.
Não quero a resposta que é sempre contra mim.
Não me movo a favor.
Este reinício de estar onde meus medos são confrontados,
leva-me até momentos de angústia, chegando ao colapso da fuga
eminente, o terror afronta a Verdade e quero sair de qualquer forma
deste lugar.
Então chega a escolha.

72 | P á g i n a
Buscando o Simples

Este momento é crucial pro resto todo.


O todo que me espera após a escolha e pode ser qualquer
todo.
Vida ou morte.
Mas é saudável.
Assusto-te?
Leia de novo então: é saudável sim!
E exclamo essa possibilidade!
E continuo em meio às dores.
Minha reação é o que importa, pergunto atrás de querer saber,
mesmo que não importe a resposta, pois naquele momento qualquer
coisa dita não supre a falta de mim mesmo, sem norte.
Mas pergunto.
Reajo.
Reagir é preciso dentro do sofrimento, é quando ele se torna
dádiva e escolho que seja assim.
Tenho a escolha!
Como Jó, reclamo que aquilo não é pra mim, que não sou
merecedor disso tudo, até que enfim, relaxo e entrego-me Aquele que
pode tudo.
Engulo meu eu destruído pra continuar.

73 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

E vou mancando.
Vou devagar e vivo.
Meu manquejar assumido me aproxima do Deus que me ama.
E me acolho e me amo junto ao Amor Maior.
E já virou vida.
Olha só...
É vida de novo!
Virou vida rica e abundante graça.
As perguntas continuam e me enlaçam de repente outra vez.
Mas já passou o medo.
Olho agora na direção zero. Ponto zero contínuo.
Aqui e agora.
E já me basta tudo isso!
A vida torna a me cercar, regozijo.
E basta por um dia.
Do meu grande dia!

74 | P á g i n a
Buscando o Simples

IDENTIDADE

Algumas pessoas dizem como eu sou.


Sempre ouvi dizer que não devo me preocupar com que os
outros falam ou pensam sobre mim.
Também dizem que minha vida não é da conta de ninguém; e
talvez não seja mesmo.
Acredito que não preciso me incomodar com o que os outros
pensam, mas sei que preciso refletir sobre tal coisa.
De que forma estou me mostrando ao mundo?
Será que pareço com o que penso que sou, ou será que penso
que sou o que pareço ser?
Qual a minha identidade?
É importante eu ouvir o que outros têm a dizer.
Qualquer um pode estar certo, e isso é bom!

75 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Já fui visto de várias formas e é provável que me mostre


diferente a todo o momento, mas não posso deixar minha identidade
em dúvida.
Sou um amontoado de coisas, isso eu já sei e vivo com isto.
A incoerência é uma prática minha.
Meus hábitos é que me definem.
Meus pensamentos são vivos e descontrolados às vezes.
Aborreço-me, perco a paciência, não tolero algumas coisas,
porém, são atitudes que não precisam estar arraigadas a mim, não
precisam ser meu reflexo.
Sou um bocado de coisas, já disse…
Se o outro me olha como alguém que é aborrecido e me
informa isso, mesmo que de forma equivocada, reflito imediatamente
na possibilidade de sê-lo realmente.
Também com a intolerância, vigio-me para não ser assim,
todavia se alguém me caracteriza desta forma, vou logo aos meus
botões, e analiso:
– Será?
Não fico incomodado com estas coisas, sei que são inerentes
a mim como criatura humana, porém não vou me permitir ser o que
não quero.

76 | P á g i n a
Buscando o Simples

Me amo e preciso amar o próximo também, assim não relaxo


em ser algo ruim, pois não quero ter a identidade de algo afastado de
Deus.
Quero ser o melhor possível, mesmo que não o seja.
Mas procuro mostrar-me como gostaria de ser.
Busco no Caminho, ando, tropeço e me levanto, pois tenho
mãos que me apóiam. .
Corrigindo-me vou ao intuito de ver o Deus que pode fazer
todas as coisas. Até o dia que Ele quiser que eu seja assim…

77 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

BUSCANDO O SIMPLES

Quero a paz!
Buscando o simples caminho solto pela estrada de Deus.
Minhas preocupações são diferentes e são do tamanho delas.
Almejo pequenos motivos de ser bem menos do que era.
Mas preciso me domar, cuidar da fera que vive como a
espreita.
Ás vezes me encontro com ela, tal fera mostra-me que o outro
está ao lado e não o quero. Logo cuido pra não libertá-lo
Prefiro a liberdade de não mais me culpar por ser ou não ser,
deixo Hamlet na sua dúvida e meu desejo é preciso, nada mais que
isso.
Ontem explodi quando o ela não foi de acordo com minhas
necessidades e valores, a fera tomou lugar do simples e o egoísmo
mostrou-se forte.
Este simples me basta na medida em que não suporto mais do
que além dele.
78 | P á g i n a
Buscando o Simples

Feri mais uma vez o ela e mais adiante o Espírito me disse pra
voltar e reconsiderar; aceitei e de imediato o perdão pedi, não podia
deixar pra depois.
Não há tempo a perder.
Hoje me percebo e logo volto e a volta imediata diminui a
conseqüência que virá sem piedade, luto menos comigo mesmo.
Ando menos com o erro, o rechaço o quanto antes me for
possível e fica a verdade isto é simples.
Busco o simples no dia de hoje e isto é tudo o que tenho.
E gosto!
Respiro do meu momento único no agora e grandes coisas
recebo do Poder Superior que me ama e sugere-me amar e me alivio.
Amo-me além do que mereço e entrego aos outros a mesma
quantidade.
Descubro a limitação e não me jogo mais ao chão com
lamúrias denegríveis.
Gosto do descobrir limites.
Paro e volto a mim mesmo e não fico à beira, evito a
redundância do meu ser, pois retorno as mesmas coisas.
O que Deus me dá, recebo com a sensação de agrado, é a
Graça que eu não fiz nada pra ter.

79 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Não critico meu eu, e quando me ultrapasso busco logo o


sentido maior que vem Dele, do Pai que nunca se esquece de ensinar
o filho que o dia tem seus momentos de estranheza e de emoções
explodidas sem sentido.
Ontem quando explodi e sai do que quero ser, atingi o ela que
não queria, percebi que preciso negar-me ainda mais, pois não
preciso de nada além da percepção de um Deus que está próximo e
não deixa de cuidar do que é seu.
“Aba, pertenço a ti.“ (Ct 7:10)
E quero viver esta verdade.

80 | P á g i n a
Buscando o Simples

DIGNO, EU?

Nas minhas vivências em comunidades terapêuticas,


observando pessoas com as mais diversas dificuldades, me deparo
com alguém que não se acha digno de Deus.
E me identifico.
Eu já me senti assim e hoje quando percebo alguém que está
passando pelo mesmo dilema lamento e pergunto a mim mesmo:
Mas e quem é digno?
E respondo:
Ninguém e todo mundo!
Eu não sou, pois não faço nada pra merecê-lo e ao mesmo
tempo sou, pois sou justificado pela graça do meu Pai
misericordioso.
Mas, infelizmente, se eu não compreendo esta graça eu paro,
começo a retroceder e fica difícil encontrar o retorno.
Ele é o Caminho!
81 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Meu primeiro encontro, com a palavra de Deus, foi numa casa de


recuperação e ali me disseram que eu tinha que fazer muitas coisas
pra Deus me dar a salvação.
Estes ensinamentos distorcidos, apesar das boas intenções, me
tornaram mais legalista, difamador e condenador do que eu já era,
distanciando-me desse amor incondicional, pois nunca me achava
suficientemente bom para merecer a vida eterna.
E nunca serei bom o bastante, a graça liberta-me do que
nunca serei e não me pede pra ser nada além do que sou:
Um pecador salvo pela Pura Misericórdia Divina.
Posso continuar meu caminho, me arrependendo de erros
cometidos porque já tenho e não para ter o perdão.
Aqui, neste lugar no qual me observo no outro, decido confiar
em Deus pra tornar a confiar em mim e detonar o gatilho da
esperança adormecida em meu coração.
Os sonhos retomam a possibilidade que o próprio Pai me dá.
Não é preciso retroceder, é preciso caminhar, seguir em frente
e perceber que o Amor de Deus é o que basta e tudo já foi feito por
Ele e a única coisa que posso fazer por isto é Lhe ser grato por me
dar mais do que preciso e mereço.

82 | P á g i n a
Buscando o Simples

NÃO QUERO MAIS SER O QUE NUNCA FUI

Ainda quero ser menos.


Minha imperfeição te incomoda?
Então preciso ser menos em ti, ter tua vida menos em mim.
Observo-me, não me culpo.
Encontro o erro e sobreponho fé em vida nova.
Mudança bruta.
Em renovo, esqueço de mim e vou ao outro me esmerando
pra não torná-lo refém de meus receios.
Assim cuido com escrúpulo do que vem.
E eu já logo os conheço, uma vez que são todos eles meus eus
e já foram vividos e sei pra onde isso me leva.
Repenso a emoção e claramente vejo o “de novo” estar ali,
em loucura de desejo de o ser novamente.
-Aquieta-te, passado, tua vez já passou, deixa-me ser agora.
Não quero mais ser o que nunca fui.
83 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

O autoconhecimento me salva do esquecimento do que fui


antes pra ser verdadeiro de mim pra mim mesmo.
Lembro-me de que eu fui e não tornarei a ser se me voltar ao
eu primeiro de criação unida com Deus.
Esta verdade me anima e faz-me reforçar e esforçar-me no
Caminho.
Não mais o medo, antes o cuidado por causa do autoconhecer.
Quietude que me entrega à sensatez.
O silêncio fundamenta-se aqui como essência em desejar
controlar-me.
E quero menos ainda.
Já é bom o que há agora na minha mente buscadora.
Ajudo-me, me confio, vou além sem confusão e me delicio
em ver coisas antigas com outro olhar, olhar mais limpo e aprazível.
O outro me mostra o seu jeito de ser e eu ando com ele.
Da forma que for sou igual a este ser que compartilha vida,
toda a vida, não há julgamentos no ser da vida de ninguém, da minha
parte uno-me ao que for e cresço nisto.
E pode ser minha a possibilidade, posso sê-lo também em
minha vida.
Sim, ser o outro.
Sou igual, posso ser qualquer coisa.

84 | P á g i n a
Buscando o Simples

E crio palavras novas, sentimentos novos pra mim e salto para


o novo mundo descoberto.
E a palavra nova é V-I-D-A.
E tu dizes que já conhece vida, não, não a minha VIDA.
O mundo que sempre esteve lá desde O Sempre!
O Sempre estava lá e eu não O via.
Hoje não há como não O ver.
O Sempre e o mundo, mundo criado pra mim e por mim
descoberto, através Dele.
O Tudo já está aqui e eu quero ser cada vez menos pra cada
vez Ele ser mais.
Quanta paz!
O Pai me deixa ser.
Sou mais por ser menos, já que sendo menos sou mais porque
sendo menos sou mais com Ele.
E tenho loucuras em pensamentos explicativos visto que já
quero te mostrar minha felicidade em não ser nada.
E tu me entendas como quiser, tens esta liberdade, mas não
fui eu quem te deu.
Esta ação é tua!

85 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Entenda-me do jeito que for agradável a ti, não me deixe ser


desagradável.
Tu, com teu discernimento, transforma o desagradável em
agradável.
A liberdade que tu tens é tua somente.
Faço assim com a minha: vivo nela.
E não me ultrapasso, desta maneira sou diligente comigo e
contigo.
Não esqueço que minha vida compartilha a tua, a ti que me
lês agora e busca compreender-te a partir do que está a tua frente.
São mais que palavras, são verdades atrás de minha pretensão
em externar o eu mais meu possível.
É Deus que eu busco.
Não busco o retorno Dele, mas o meu!
Meu caminho é o de volta ao Criador.
Perto está o Senhor!

86 | P á g i n a
Buscando o Simples

RESSOCIALIZANDO-ME

Penso em ressocialização.
Idéias de conquistas, benefícios de recuperação, olho no futuro e
tantas outras coisas e me afobo.
Eu quero tudo!
Sou assim, me animo com as poucas coisas, as mais simples
pra mim são estupendas, quero sempre mais de tudo.
E nisso, querendo mais desta vida, encontro a ressocialização
aqui neste lugar, neste agora, onde no meu escrever vou retornando a
mim mesmo, encontrando o ser novo que hoje habita meu eu e que
passa pra trás o outro que antes me destruía.
Ressocializo comigo e contigo que me lê e pretendo ir fundo
nesta redescoberta íntima e pública.
Eu me encontro.
Na CT, sempre é tempo pra socializar de novo:

87 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Com minhas visitas, por exemplo, tão esperadas, retorno ao


seio delas, busco o novo com elas, mostro que de novo estou de volta
e quero fazer parte, me engajo.
O telefone toca, logo levanto abrupto e contente e, se chamam
meu nome, o coração pulsa e penso que estou já no meu recomeço.
Se creio nisto, o torno em verdade.
Minhas alegrias afobadas e estupendas.
Sinto que já estou de volta, recupero o fôlego e anseio pela
visita em casa, estou voltando, é como minha primeira vez, estou
vivo de novo e caminho em gratidão Àquele que me dá todas as
coisas.
De volta a CT, suspiro e repenso no que podia ter feito
melhor, poderia ser mais eu e tudo é novo se eu tornar meus
momentos assim.
Não sou mais como antes, é revigorante renascer e sonhar
com vida nova.
Depois que o meu tempo terminar por aqui, quando vou
definitivamente embora, refaço o mesmo caminho, mas apenas o
caminho é igual, eu nunca mais serei o mesmo.
Deve ser assim!

88 | P á g i n a
Buscando o Simples

Estou de volta às pessoas e elas, talvez, ainda sejam as


mesmas, e o que cabe a mim é vive-las e amá-las como parte de
mim.
Se antes eu não era assim, agora sou!
Necessito delas e elas de mim, e continuarei a renascer todos
os dias, a partir das novas descobertas que terei.
E estou na sociedade novamente e reencontro o eu em vários
lugares, nos cantos da casa, nas esquinas e me reconheço.
E se sou novo realmente, meus caminhos também serão
novos, afinal, já sei daquelas esquinas...
Retomo a vida sem pressa, agora não posso ser afoito.
A reclamo como minha e luto por ela.
A vida ontem perdida, retoma a essência e com fúria investe
contra mim e não posso voltar atrás, então tenho que ser bem
pensado.
E há novidades.
O meu novo eu é a novidade, mas também é desconfiança.
A desconfiança é cria minha e vivo com ela, mas não a
alimento, mato-a de fome!
Assim torna-se segurança que também é cria minha, faço tudo
por ela.

89 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

Vou nutri-la e isso é pra sempre.


Ressocializar é conviver com o outro dentro de mim.
E a autoaceitação está junto a tudo isso.
Necessito conviver amigavelmente comigo mesmo, afinal vou
encontrar-me sempre e todo dia.
A pergunta surge:
- O que vou fazer com este ser importuno?
Resposta:
-Perdoá-lo e aceita-lo!

90 | P á g i n a
Buscando o Simples

ENFIM...

Hoje agradeço pelos meus pensamentos um pouco mais


claros. Havia muito tempo que não me permitia pensar coisas
minhas. Localizava idéias a partir de outros pensadores, escritores,
amigos e as assumia como minhas e então criava minha personagem.
O tempo perdido foi imenso.
Porém, vejo agora a mudança positiva quando olho pra trás e
percebo que não conseguia ser eu porque não me sentia bem, porque
não conseguia conviver comigo mesmo.
Quero agora, ter estas lições de vida, de erros e falhas, como
trampolim para saltos maiores, saltos seguros de coragem.
Na comunidade terapêutica, encontrei porto seguro para me
identificar com meus pares e crescer junto a eles e, principalmente,
entender que isso tudo, passado por aqui, não foi obra do acaso, mas
sim de uma mão poderosa e amável que faz tudo ser diferente. Que

91 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

transforma a dor em aprendizado e enaltece os que, como eu, outrora


foram discriminados.
A CT hoje é o refúgio onde vivo na paz desta Força
Enaltecedora, onde encontro a solidariedade e o acolhimento para
seguir em frente.
Aqui somos todos iguais e por sentir isso, transfiro meu amor
aos demais, fora daqui.
Meu novo caminho é vislumbrado nos momentos em que as
situações ocorrer cotidianamente, quando retorno e vejo que todos
temos diferenças e se quero que as minhas sejam respeitadas, devo
respeitar todas as outras, sem distinção.
E é bom!
E este olhar suaviza meu viver, pois é muito mais fácil aceitar
o outro quando me aceito, e creio nisto!
Estas palavras escritas por mim aqui neste espaço, é o que eu
venho sentindo e vivendo dentro de uma comunidade como esta.
E me pego às vezes rindo sozinho lembrando que há tempos
atrás este seria o último lugar em que eu pensaria em vir para me
encontrar.
Mas Deus transforma tudo o que for preciso, afinal, Ele faz
novas todas as coisas.

92 | P á g i n a
Buscando o Simples

“Assim, podemos ter certeza de que cada detalhe em nossa


vida de amor a Deus é transformado em algo muito bom.”
(Rm 8:28 / Bíblia A Mensagem).

93 | P á g i n a
Fernando Gomes Peixoto

E ISTO NÃO TERMINA

Nunca vai acabar.


A vida não é finita enquanto eu estou a vivê-la.
Não quero mais do que tenho, quero o mais que me é
possível.
E vou lento e tranquilo, sabendo que o Bem está aqui, junto.
Sobre o fim?
Há os que buscam entender e já terminaram de viver.
Não quero entender.
Não vou além do que preciso e já estou muito.
Minhas frases soltas não se alongam, pois não estou pronto
para o depois que é mistério e dá sentido a tudo.
Posso perder a respiração e me afoitar em riscos
desnecessários.
Tenho a vírgula e o ponto que me libertam pra ser mais sem
cair no que não posso conter.
Vou lento e tranquilo, hoje não tenho mais pressa em ser.
94 | P á g i n a
Buscando o Simples

Alivio meus anseios um por um, todo dia.


E sobre como irei terminar isto que sou eu?
Não termina.
Dou uma pausa e respiro para depois continuar.
E assim continuo...

95 | P á g i n a

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