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Buscando o Simples
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Fernando Gomes Peixoto
ÍNDICE
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Buscando o Simples
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Fernando Gomes Peixoto
AGRADECIMENTOS
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
sem intervalos; não paro para a tensão dos porquês ou dos não deves,
vou com o livre arbítrio de conhecer-me diante das situações, sem
desculpas, nem justificativas.
Mas minha liberdade não é a de te atingir, é de te encontrar,
de te mostrar a vida possível de dentro de uma comunidade
terapêutica para dependentes químicos, dependentes estes que, como
eu, vivem o hoje como seu maior presente, e buscam neste instante
único, a sua própria verdade, conhecimento no outro, através de um
encontro com o Pai.
O que mais posso ser além deste próprio momento?
E assim é que te escrevo, livre para o que quer que seja e que
seja bom como bom é ser livre.
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Ele me fala que vai dar tudo certo, estou exausto e acredito
nele. Sempre é bom ouvir coisas agradáveis principalmente num
momento como esse onde a vida parece não ter sentido e eu não vejo
nada à frente.
Mostram-me a casa, não faz diferença. Não importa onde
estou, mas porque estou, nunca pensei que chegaria até aqui.
Não soube viver como deveria.
Chegam outras pessoas, falam comigo, me perguntam coisas
que eu não estou a fim de responder: - De onde vim? - Quantas vezes
eu vim parar numa casa destas?
Esta é minha primeira vez.
Até aqui tudo bem, não parece tão ruim. Está na hora da
minha mulher ir embora, só a verei daqui a quinze dias. Ela chora, eu
não.
Meu sentimento é oco.
Reverbera em mim a culpa e estou vazio.
Olho o carro saindo, aperto o peito, talvez esteja sentindo
algo, talvez algum resto de um ser que está se desfazendo, sou seco.
Não sei sorrir, não sei pra quê.
Não sei do que adiantaria sorrir.
O que me espera?
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O portão fecha.
Estou mínimo.
Não quero aquilo.
Mas estou aqui.
Sem desculpas.
Colhendo das minhas sementes.
Fruto amargo.
Assim que entrei numa casa de recuperação era assim que me
sentia e acredito que tenha sido sempre assim, me sentindo um
coitadinho, sem atitude pra mudar ou lutar contra o que quer que
fosse.
Nunca acreditei em nada, mas aqui terei de me alimentar
deste fruto, meu fruto, forçar na garganta pra entrar, e regurgitarei
um pouco, ruminarei um pouco, engolirei novamente, será preciso
digeri-lo, causará dores eu sei, depois será expelido, jogado fora, mas
sentido.
Ficará só o que alimenta e fortifica.
E os dias passarão e eu nunca mais serei o mesmo.
Procurei escrever-te sentindo e revivendo tudo.
Estou em 2013 te escrevendo pra contar mais ou menos como
foi minha primeira internação em uma comunidade terapêutica (CT),
na época chamada “casa de recuperação”.
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ARRUMANDO A CASA
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MOVIMENTO CONTRÁRIO
Penso que alimento o que me faz viver, mas sei que não é só
isso.
Necessito de uma resposta-já, senão isso pode virar um novo
ser além de mim.
Pratico ações que, muitas vezes, terminam em
arrependimento.
Minha natureza me mostra o que eu não quero ser.
Crio máscaras diferentes para diferentes lugares e, raramente,
me dispo delas. E sou assim, pois desejo o reconhecimento do meu
próximo e o que agrada o mundo é o que busco ser e nunca o que eu
quero de verdade.
Neste afã de ter que agradar os outros, perco minha
identidade inicial de criação, unido com Deus.
É impossível servir a dois senhores (MT 6:24).
Querendo sempre mais do que preciso, admiro no outro suas
posses e nunca estou satisfeito com o que tenho.
Corro atrás de inutilidades, sensações efêmeras, num ciclo
interminável de angústia e dor.
Bebo da água do mundo, enquanto Jesus está ao meu lado me
oferecendo a Água Viva; a água do mundo sacia meus desejos por
um breve instante, depois a sede volta e a busco de novo cada vez
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E exulto!
Mas é necessário crer de todo coração, alma, força e
entendimento.
Como crer que o meu Deus vive e me lamentar sobre o meu
viver? Quero viver este amor ou melhor seria não crer em nada!
Deus está no meio da minha vida e isto extraordinário, é de
arrepiar!
E posso me arrepiar na presença Dele, não é emoção
passageira, é a Pura Verdade.
Deus está aqui e agora. E esse amor é inacreditável, não
preciso fazer nada nem realizar nada. Ao aceitar que sou aceito,
começo a ser o que Ele quer que eu seja. Sou filho do Pai e o filho
ama o seu Pai. Que assim seja.
O que posso fazer com isso, com esse amor?
Posso andar nesse amor.
É isso que o amor faz, me deixa desejoso de amar. Tão
simples.
Se eu amo a Deus é impossível não amar tudo e todos.
Nesse amor o viver é simples. É suave.
Quero também este amor.
E busco!
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ESPERA SUAVE
Quero humildade.
Houve épocas em que evitava falar; talvez assim eu seja
menos.
Também quero ser menos.
Estou quieto e tudo é espera, mas é espera tranquila. Já sei ser
afoito, quero agora a espera e a observação.
Contemplar é preciso.
Escuto atrás de mim as vozes que vem da piscina e os risos da
sala de TV; estou cercado de gente e estou só, te escrevendo.
Tu me lês, este sou eu.
E este eu está bem à espera de um dito qualquer de Deus.
O meu tempo é suave.
Quem sabe este não é o tempo de Deus, o tempo Dele deve
ser assim.
Te digo isto achando que estou sendo muito, portanto, vou
agora mais devagar, como disse:
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RESTOS DE VIDA
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esperança pela sua fé, que um dia aquilo tudo acabasse e Deus a
levasse para junto de si.
E Deus a levaria sim.
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PALIATIVOS
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SOCORRO!!!
(...)
O mais entediante é que os fazia sem entender porque, logo
não ganhava nada com aquilo, nem aprendizado, nem resolvia
minhas autodepreciações. Perdia meu tempo e cada vez mais me
sentia vazio e sem sentido no mundo.
Dentro de uma comunidade terapêutica isso acontece muito.
Existe uma programação de recuperação, e esta programação possui
certas dicas que podem ser muito úteis se eu entende-las.
Por exemplo: o pedido de ajuda.
Ele funciona se a honestidade estiver com ele.
“Sozinho eu não consigo”, então eu peço ajuda.
Peço ajuda pra fazer o que quero e o que não quero fazer.
Até pra ajudar eu necessito pedir ajuda.
Igualo-me ao meu próximo, desço de onde imagino estar e
encontro meu eu verdadeiro. E não sofro por isso. Porque aceito o
que sou.
Usando drogas, ia aonde queria e fazia o que queria, não
pedia ajuda de ninguém, ia lá e pronto, hoje, peço ajuda pra eu não
ser mais quem controla tudo.
É por isso que não pode ser boca pra fora.
É preciso estar no hábito.
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Não via ali uma reclamação, o que pelo muito que passava,
seria normal.
Quando me via cumprimentava-me com honestidade e dava
graças a Deus por eu estar vivo e aparentemente bem; ela se
importava comigo.
Dona Maria vivia ali há mais de 40 anos e já tivera tempos
felizes naquela casa. Contava que às vezes saia pra se divertir,
passava a noite inteira em serestas, chegava de manhã, era feliz!
- “Ninguém mandava em mim, eu gostava daquele tempo”,
ela dizia olhando o telhado da casa como se houvesse uma janela que
se abrira ali para outro mundo, realizava aquele momento com um
leve sorriso de canto de boca... Até que a janela se fechava e voltava
ao seu presente: “- Nada mais era como antes...”
Eu concordava e dava corda para que ela continuasse. E
continuava, conversávamos sempre. Enquanto seu filho saia pra
comprar a droga, conversávamos e parecia que a vida fazia algum
sentido pra ela, podia viver em outro mundo por aqueles ínfimos
instantes...
Até que ele chegava.
Vinha suado, ofegante, lamentando a própria vida que ele
próprio havia desmontado, reclamando sempre de algo que
aconteceu.
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Apenas hoje, desejo ser melhor comigo pra ser muito a ti.
A partir destas percepções, buscarei ser homem sincero e
carinhoso, compreensivo e amigo, unindo-me a ti pra sermos a tão
desejada uma só carne em Cristo.
Andréa, obrigado por tudo o que suportastes e suportas de
mim, te agradeço pelas mudanças, crenças novas e entregas de vida
que fazes a cada dia por nós e para nós.
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COMO FALAR?
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Também sorri.
Sorri de nervoso que fiquei ao ver como eles me viam, e eu
não me percebia, eu brinquei dizendo que não, pois a personagem
tratava-se de uma mulher, na hora pensei na possibilidade de que o
que dissera era verdade, mas só pensei, àquela época ainda vivia
atrás de agradar outros em detrimento de mim mesmo.
Só que mais tarde percebi que ela era eu.
O nome da peça era “Vida Perdida”, e contava a história de
uma mulher que se imaginava dentro de seu apartamento à procura
da sua vida que, de tão bagunçada, encontrava-se perdida. O
apartamento era seu interior e o que encontrava eram pedaços de
coisas que não se encaixavam.
Sim, era absurdo. Mas nem tanto.
O monólogo decorria tranquilo nesta busca quando enfim ela
se deparava com uma ou outra coisa que mostrava a forma como ela
encarava a tal vida e como justificava atitudes que acabaram
levando-a até aquele exato instante.
Ela negava tudo o que estava acontecendo, transferia culpas,
nada do que havia feito podia ter causado aquilo pelo qual estava
passando. Na verdade, Lúcia como a chamei, não se conhecia, vivia
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OBSERVAÇÃO RECÍPROCA
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Sem deixar de ser aluno, ensina com seu viver e aprende com
prazer.
E eu, também observador, monitoro-me mediante a visão que
tenho dos meus iguais, unindo-me a necessidade de transformação.
Não maior nem menor.
Há a comunhão de seres, onde a reciprocidade de
experiências é o motor principal na busca com algo maior que todos:
O encontro da liberdade com Deus!
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RECAÍDA DOIS
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E vou mancando.
Vou devagar e vivo.
Meu manquejar assumido me aproxima do Deus que me ama.
E me acolho e me amo junto ao Amor Maior.
E já virou vida.
Olha só...
É vida de novo!
Virou vida rica e abundante graça.
As perguntas continuam e me enlaçam de repente outra vez.
Mas já passou o medo.
Olho agora na direção zero. Ponto zero contínuo.
Aqui e agora.
E já me basta tudo isso!
A vida torna a me cercar, regozijo.
E basta por um dia.
Do meu grande dia!
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IDENTIDADE
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BUSCANDO O SIMPLES
Quero a paz!
Buscando o simples caminho solto pela estrada de Deus.
Minhas preocupações são diferentes e são do tamanho delas.
Almejo pequenos motivos de ser bem menos do que era.
Mas preciso me domar, cuidar da fera que vive como a
espreita.
Ás vezes me encontro com ela, tal fera mostra-me que o outro
está ao lado e não o quero. Logo cuido pra não libertá-lo
Prefiro a liberdade de não mais me culpar por ser ou não ser,
deixo Hamlet na sua dúvida e meu desejo é preciso, nada mais que
isso.
Ontem explodi quando o ela não foi de acordo com minhas
necessidades e valores, a fera tomou lugar do simples e o egoísmo
mostrou-se forte.
Este simples me basta na medida em que não suporto mais do
que além dele.
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Feri mais uma vez o ela e mais adiante o Espírito me disse pra
voltar e reconsiderar; aceitei e de imediato o perdão pedi, não podia
deixar pra depois.
Não há tempo a perder.
Hoje me percebo e logo volto e a volta imediata diminui a
conseqüência que virá sem piedade, luto menos comigo mesmo.
Ando menos com o erro, o rechaço o quanto antes me for
possível e fica a verdade isto é simples.
Busco o simples no dia de hoje e isto é tudo o que tenho.
E gosto!
Respiro do meu momento único no agora e grandes coisas
recebo do Poder Superior que me ama e sugere-me amar e me alivio.
Amo-me além do que mereço e entrego aos outros a mesma
quantidade.
Descubro a limitação e não me jogo mais ao chão com
lamúrias denegríveis.
Gosto do descobrir limites.
Paro e volto a mim mesmo e não fico à beira, evito a
redundância do meu ser, pois retorno as mesmas coisas.
O que Deus me dá, recebo com a sensação de agrado, é a
Graça que eu não fiz nada pra ter.
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DIGNO, EU?
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Buscando o Simples
RESSOCIALIZANDO-ME
Penso em ressocialização.
Idéias de conquistas, benefícios de recuperação, olho no futuro e
tantas outras coisas e me afobo.
Eu quero tudo!
Sou assim, me animo com as poucas coisas, as mais simples
pra mim são estupendas, quero sempre mais de tudo.
E nisso, querendo mais desta vida, encontro a ressocialização
aqui neste lugar, neste agora, onde no meu escrever vou retornando a
mim mesmo, encontrando o ser novo que hoje habita meu eu e que
passa pra trás o outro que antes me destruía.
Ressocializo comigo e contigo que me lê e pretendo ir fundo
nesta redescoberta íntima e pública.
Eu me encontro.
Na CT, sempre é tempo pra socializar de novo:
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ENFIM...
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