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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoríam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanca a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanca e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
"";- Responderemos propoe aos seus leitores:
_— - aborda questoes da atualidade
■--.. T" controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca no
~ ^ Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR


Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e
paseamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteudo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Hesponderemos , que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada
SJSSS!™como ■"* •««*** • — i»—
Ano xlv Fevereiro 2004 500
500!

A Inquisicio Protestante

Como cristianizar os salmos?

A Igreja Católica acrescentou livros ao Catálogo


Bíblico?

Yehoshua ou Jesús?

Diaconisas: Quem eram?

"Escolha sua Igreja..."

Yoga: Que é?

A vida secreta na Igreja Universal do Reino de


Deus
PERGUNTE E RESPONDEREMOS FEVEREIRO2004
Publicacao Mensal N°500

Diretor Responsável SUMARIO


Estéváo Bettencourt OSB 5001 49
Autor e Redator de toda a materia Pouco se escreve a respeito:
publicada neste periódico A Inquisicio Protestante 50
Utilizar as Escrituras:
Diretor-Administrador:
Como cristianizar os salmos? 63
D. Hildebrando P. Martins OSB
Há quem alegue:
Administracáo e Distribuido: A Igreja Católica acrescentou livros ao
Edicóes "Lumen Christi" Catálogo Bíblico? 70
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501 Lingüistica e Teología:
Tel.: (0XX21) 2291-7122 - Ramal 327 Yehoshua ou Jesús? 72
Fax (0XX21) 2263-5679 Perscrutando o passado:
Diaconisas: Quem eram? 76
Enderezo para Correspondencia:
Brincadeira?
Ed. "Lumen Christi"
"Escolha sua Igreja..." 82
Caixa Postal 2666
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Na ordem do día:
Yoga: Que é? 85
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO Nos bastidores do Reino:
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" A vida secreta na Igreja Universal do
na INTERNET: http://www.osb.org.br Reino de Deus 93
e-mail: lumenchristi@bol.com.br
CNPJ: 33.439.092/0003-21

IMPRESSAO

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


ClAnCA MARQUES SMUJVA

NO PRÓXIMO NÚMERO:
"A vida inteira é desejo santo" (S. Agostinho). - O Homem do século XX (A. Begliomini).
- "A ciencia tenta explicar a Biblia" (ÉPOCA). - É fiel a historia dos Patriarcas Bíblicos?
- "Todos os caminhos váo dar a Roma" por S. e K. Hahn. - Casa mal assombrada. -
Carta as familias do Brasil, por D. Rafael Cifuentes.

PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA (12 NÚMEROS) R$ 45,00.


NÚMERO AVULSO r$ 4,50.
O pagamento poderá ser á sua escolha:

1. Enviar, em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ.


2. Depósito em qualquer agencia do BANCO DO BRASIL, agencia 0435-9 na C/C 31.304-1
do Mosteiro de S. Bento/RJ ou BANCO BRADESCO, agencia 2579-8 na C/C 4453-9
das Edicoes Lumen Christi, enviando em seguida por carta ou fax comprovante do
deposito, para nosso controle.

3. Em qualquer agencia dos Correios, VALE POSTAL, enderecado ás EDICÓES "LUMEN


CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ
Obs.: Correspondencia para: Edicóes "Lumen Christi"
Caixa Postal 2666
.. 20001-970 Rio de Janeiro RJ
500!

A nossa revista PR chega ao seu número 500! Vale a pena refletir um


pouco.

Comecou em margo de 1957 como apéndice da Revista Gregoriana


(hoje extinta). Em 1958 criou sua autonomía sob a regencia da Irma María
Rosa Porto O.P. e daí por diante seguiu seu curso normal, com excecáo dos
anos 1965 e 1966, pretendendo ajudar os leitores a discernir o pensamento
católico dentro do pluralismo de idéias que sacodem a nossa sociedade. PR
passou por varias editoras até chegar á Lumen Christi do Mosteiro de Sao
Bento; a todas, especialmente a esta última, seja registrada a profunda grati-
dáo da Redacáo de PR.
O número 500 suscita duas atitudes:
- Acáo de gracas... Antes do mais, a Deus de quem procede toda boa
dádiva; queira Ele abencoar todo o trabalho realizado visando táo somente a
sua gloria. Agio de gracas também aos muitos colaboradores que de diver
sos modos contribuem para a publicacáo do periódico; sejam mencionados
especialmente o(a)s amigo(a)s que nos mandam recortes e impressos diver
sos que abordam assuntos debatidos; sem tais colaboradores PR teria hori
zontes muito mais restritos.
- Um olhar para o futuro... Por quanto tempo Deus permitirá ultrapas-
sar o número 500? - Qualquer que seja a próxima duracáo de PR, a revista
faz o propósito de guardar a sua juventude, isto é, o seu esforco para ter
sempre um olhar dilatado, interessado por tudo quanto diz respeito á Verdade
e ao Bem como outrossim a coragem para afirmar o que convém, custe o que
custar. Juventude é amor as causas nobres, fé na vocagáo dada por Deus;
esperanca contra toda esperanca. Juventude portanto nao é, sem mais, urna
faixa etária, mas é um estado de ánimo que dá sentido a toda a caminhada
terrestre.

PR nao deseja ser tachada de conservadora ou de progressista; estes


sao rótulos que caricaturam. O que deseja, é seguir simplesmente a Igreja,
Máe e Mestra, a quem Jesús prometeu sua assisténcia infalível (Mt 28,18-
20). Ser cristáo nao é aderir ao Cristo que o individuo imagina, mas é aderir a
Ele tal como vive na Igreja, que é seu corpo (cf. Cl 1, 24).
Através das páginas de PR ressoaráo sempre, ao menos implícitamen
te, as palavras do Cardeal de Lubac: "A Igreja é nossa Máe, porque ela nos dá
o Cristo, ela gera o Cristo em nos, ela nos gera para a vida do Cristo. Ela nos
diz como Paulo dizia a seus caros corintios: 'No Cristo Jesús mediante o
Evangelho eu vos gerei' (1Cor 4,15)" (ver PR 366/1992, p. 436).
Queira Deus olhar com benignidade o projeto de PR desejoso de aju
dar os ¡rmáos a caminhar com firmeza como peregrinos do Absoluto,... ajudar
maniendo as prerrogativas de urna perene juventude, sempre entusiasmada
por tudo quando é digno e nobre!
E.B.

49
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XLV - NB 500 - Feverei ro de 2004

Pouco se escreve a respeito:

AINQUISIQÁO PROTESTANTE

Em síntese: Muito se tem escrito sobre a Inquisicáo da Igreja Ca


tólica, menos, porém, sobre a Inquisigáo movida por Calvino e os
Calvinistas e pela rainha Isabel Tudor na Inglaterra. As páginas seguin-
tes referem algo a respeito.
* * *

É muito comentada a Inquisicáo dirigida pela Igreja Católica na


Idade Media e na época moderna em Espanha e Portugal. - Sem querer
negar os erros cometidos, deve-se dizer que muitos falam e escrevem a
respeito sem exato conhecimento de causa, movidos por preconceitos e
paixóes. Tal é o caso da noticia que vai, a seguir, transcrita (difundida via
internet).

"'Igreja'Católica Romana, a Organizacáo Religiosa maissan


guinaria E FRAUDULENTA QUE O MUNDO JÁ CONHECEU!

Os grandes conhecedores da historia asseveram que a Roma pa


pal derramou muito mais sangue que a Roma paga. Quem quiser é só
conferir os atos praticados pela Igreja Católica Romana durante a cha
mada 'Santa Inquisicáo'! Iniciada, em 1163 pelo papa Alexandre III, que
no Concilio de Tours, na Franga, ordenou que o clero procurasse todos
os opositores da idolatría romana para processá-los e levá-los a julga-
mento.

Em 1253 o papa Inocencio IV, autorizou a prática de todos os tipos


de torturas contra os protestantes opositores aos ensinamentos
antibíblicos da 'igreja'católica romana.

Inácio de Loiola foi um dos maiores assassinos que o soljá cobriu,


mas foi canonizado 'santo'por tais servigos prestados a essa igreja cató
lica romana, que aínda hoje omite a verdade!

50
AINQUISIQÁO PROTESTANTE

Pessoas que nao concordavam com o grande comercio religioso e


fraudulento da igreja católica romana, eram tidas como hereges. O papa
Inocencio IV convocou sacerdotes, reis e pessoas da sociedade a uni-
rem-se em guerra a essas pessoas. Prometendo remissáo de pecados a
quem levasse um herege á morte, a autorizagáo papal declarava que as
pessoas seriam torturadas e morías e suas propriedades confiscadas. A
igreja católica romana, através dos reis, sacerdotes e autoridades civis e
militares, usou os mais cruéis métodos de tortura para assassinarem os
que nao concordavam com suas mentiras religiosas. Familias inteiras
foram destruidas, filhos sendo assassinados diante dos pais, mulheres
sendo estupradas e morías diante de seus esposos, esposos que passa-
vam dias e dias amarrados sob ospiores castigos e depois dilacerados".

Abstracáo feita dos erras de portugués, este texto, violento como


é, sugere algumas ponderacoes:

1) Afirma coisas graves sem indicar fonte alguma. Carece assim


de seriedade e valor científicos.

2) O autor comete flagrante anacronismo ao afirmar que "em 1253


havia protestantes opositores á Igreja Católica. Na verdade, o protestan
tismo nao existia no século XIII, já que foi fundado no século XVI.

3) A aplicacáo da tortura e da pena de morte era muito mais rara do


que dá a entender o autor da noticia. Este apresenta cenas horrendas
("filhos assassinados diante dos pais, mulheres estupradas e mortas di
ante de seus esposos..."), cenas que a imaginacáo preconceituosa con
cebe, mas que a historiografía científica nao abona, como se pode dedu-
zir do Apéndice a este artigo.

4) S. Inácio de Loiola foi em juventude um cavalelro que se dedicou


a exercícios e torneios próprios da arte militar. Passou ao servico do vice-
rei de Navarra: combateu os franceses em defesa do castelo de Pamplona,
onde foi ferido ñas pernas por urna bala de canháo. Foi portanto um mi
litar militante, mas nao um assassino.

5) Quem tem telhado de vidro nao ¡oga pedra no telhado do vizi-


nho, diz o adagio popular. O protestantismo, que acusa a Igreja Católica,
teve também sua Inquisigáo, da qual pouco se fala, mas que, a bem da
verdade, merece ser conhecida. A respeito será dito algo ñas páginas
seguintes nao pelo falso prazer de narrar desgracas, mas para mostrar
que a Inquisicáo foi praticada também por aqueles que a lancam em
rosto á Igreja Católica.

1. Em Genebra Joáo Calvino (1509-64)

Nasceu Joáo Calvino em Noyon (Franca). Fez seus estudos


humanísticos e jurídicos em Paris, onde teve contato com elementos

51
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

protestantes. Em 1533 adotou o protestantismo numa "conversáo repen


tina", como ele mesmo a designa. Visto que o governo francés perseguía
os protestantes, Calvino emigrou para Basiléia (Suíca) em 1534. Pas-
sando certa vez por Genebra, fo¡ convidado por Farel para ai ficar. Calvino
aceitou o convite e recebeu o encargo de pregar e implantar em sua nova
sede a doutrina protestante - missáo esta que ele assumiu com grande
energía, impondo severa disciplina a todos os cidadaos. Teve que en
frentar a resistencia de varios opositores, mas firmemente venceu-os e
governou Genebra.

O principal órgáo administrativo de Calvino era o Consistorio, com


posto por pregadores e andaos, aos quais competía vigiar pela pureza
da fé, inquirir os suspeitos de defeccao e julgá-los. As conseqüéncias da
atividade de tal instituicáo vém assim descritas por Bihlmayer-Tuechle
em sua "Historia da Igreja", vol. 3, pp. 74s:

"Com o objetivo de controle, faziam-se varias vezes no ano visitas


a domicilio e conforme o caso recorríase também as denuncias e á espi-
onagem paga. Os transgressores eram colhidos pela admoestagáo, de-
ploragáo e excomunháo (exclusáo da ceia sagrada) e obrigados a fazer
penitencia pública. Os grandes pecadores, como os sacrilegos, os adúl
teros e os adversarios obstinados da nova fé, eram entregues ao Conse-
Iho da cidade para o castigo. Foram pronunciadas muitas condenagóes á
morte (58, até 1546) e mais aínda ao exilio. A tortura foi usada da forma
mais rigorosa. A cidade teve que submeter-se, embora a contragosto, á
disciplina férrea de Calvino. Todas as festas religiosas desapareceram,
exceto os domingos. O culto foi reduzido á pregagao, á oragáo e ao canto
dos salmos; quatro vezes por ano era distribuida á comunidade a sagra
da ceia, com pao e vinho ordinario. A vida da sociedade genebrina adqui-
riu o teorde urna seriedade taciturna; as vestes de luxo, os bailes, ojogo
de cartas, o teatro e divertimentos semelhantes eram severamente con
denados.

Naturalmente a 'teocracia' instaurada por Calvino com tanta ha-


bilidade e energía nao persistía sem adversarios. Os velhos fautores
da liberdade (líbertins) e a alegre aristocracia genebrina julgaram por
demais opressor o jugo religioso; mas ele os reduziu ao silencio medi
ante duras punigóes. Outras dificuldades foram suscitadas contra a
sua teología, mas soube dominá-las todas. O médico Jerónimo Bolsee,
monge carmelita apóstata, proveniente de París, que ousara sublevar
se contra a doutrina de Calvino sobre a predestinagáo, foi exilado em
1551; o humanista e médico espanhol, Miguel Servet, que Calvino ti-
nha denunciado antecedentemente á inquisigáo de Liáo, foi queimado
vivo em 27 de outubro de 1553, por ter negado o dogma da SS. Trin-

52
AINQUISIQÁO PROTESTANTE

dade\ Em 1555, Calvino havia conquistado a vitória sobre todos os


seus inimigos. Nenhum pode mais abalar-lhe a posicáo de ditador re
ligioso, e em ceño sentido também político, na sua "Roma protestan
te", onde afluíam os emigrados protestantes da Franca, da Italia e da
Inglaterra. Entáo as ordonnances foram atuadas plenamente e ao
mesmo tempo aperíeigoadas".

Eis alguns episodios particulares:

1) Ami Perrin

Ami Perrin era capitáo-geral da cidade de Genebra e genro de Fran


cisco Favre, familia importante, alegre e ciosa de sua autonomía naquela
sociedade. Por ocasiáo de um casamento, tal familia deu um baile. Sa
bedor disto, o Consistorio abriu um inquérito e convocou dancarinos e
danzarinas; estes compareceram perante a autoridade e deram dos fa-
tos urna versáo falsa, exceto Ami Perrin. Calvino entáo censurou, com
veeméncia a danca, jurando punir os culpados. Furiosa, gritou-lhe: a
mulher de Perrin, Franchequine:

"Homem perverso, queres beber o sangue da nossa familia, mas


sairás de Genebra antes de nos".

O litigio agitou a cidade inteira por muito tempo. Enquanto o capi-


tao Perrin tentava apaziguar os ánimos, a sua esposa fazia o contrario,
pois continuava a dancar. Chamada a comparecer novamente perante o
Consistorio, interpelou o ministro Abel Poupin como Gros pouacre (tra-
tamento fortemente injurioso na linguagem da época), em conseqüéncia
do que foi encarcerada. A opiniáo pública se abalou contra Calvino. Este,
enraivecido, mandou fazer urna perquisicáo na casa de Jacques Gruet,
amigo da familia Favre; ai foram encontrados os rascunhos de um cartaz
agressivo poucos dias antes afixado na cidade; em seus apontamentos
íntimos Gruet escarnecía a Biblia e o Cristianismo, em vista disto, Gruet
foi logo preso, julgado e condenado a ser decapitado, ficando seu corpo
exposto ao público aos 26 de julho de 1547.

2) Pierre Ameaux

Pierre Ameaux era fabricante de cartas de baralho. O rigor do puri


tanismo calvinista fazia-o perder clientes, pois a populacáo tinha medo
de jogar. Proferiu entáo injurias públicas contra Calvino - o que Ihe valeu
ser preso e encarcerado. Aos 8 de abril de 1546 o tribunal pronunciou

1A reviravolta religiosa de Lutero suscitou em alguns setores a contestagáo do dogma


trinitario: assim fizeram os anabatistas e certos livres pensadores, entre os quais o
médico espanhol Miguel Servet, que professava um panteísmo neoplatónico e aspl-
rava á superagáo da doutrina protestante sobre a ¡ustificagáo (Nota do editor).

53
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

sobre ele a sentenca: deveria dar a volta da cidade vestido de camisola,


com a cabeca coberta e urna tocha acesa na máo; feito isto, haveria de
comparecer perante o tribunal e de joelhos daría gracas a Deus e á Jus-
tica, confessando ter talado indevidamente.

É de notar que Pierre Ameaux era membro do Conselho Menor e


gozava do respeito da populacáo.

3) Os papistas

Visando atingir qualquer individuo que ferisse a honra de Deus, o


Consistorio tinha funcionarios inspecionando a cidade de Genebra e seus
arredores. Cada qual devia semanalmente levar ao tribunal a relacáo
dos feitos que julgasse merecedores de punicáo: jogo de damas ou simi
lar, refeicao mais copiosa do que de costume, consumo de vinho num
botequim, faltar ás prédicas, ceder as "supersticóes papistas"...

Calvino, sentindo a repulsa da opiniáo pública, exclamou: "A raiva


e a furia contra mim chegaram a tal ponto que tudo o que digo suscita
suspeitas. Aínda que eu afirmasse ser dia claro ao meio-dia, comecariam
logo a duvidar".

Sao estes alguns traeos da Inquisicáo calvinista em Genebra. Ve


jamos agora

2. Fora de Genebra o Calvinismo

Passaremos em revista a Suíca e a Holanda.

1) Na Suíca

Na Suíca o Calvinismo absorveu as idéias e os seguidores do


reformador Zvinglio de Zurique. Propagou-se destruindo monumentos
artísticos dos católicos. Dentre os mártires seja citado Sao Fidelis de
Sigmaringen (1577-1622). Este Santo foi advogado e muito trabalhou em
favor dos pobres. Fez-se frade capuchinho e foi enviado para a regiáo de
Rezia, onde a populacáo se tornara, em grande parte, calvinista. O éxito
de sua pregacáo provocou a hostilidade dos calvinistas; estes, fingindo
querer converter-se á fé católica, convidaram-no para pregar em Gruesch.
Mal subirá ao pulpito da igreja local, quando avistou um cartaz preso á
parede com os dizeres: "Esta é a tua última predica". Quando comecou a
pregar, foi contra ele desferido um tiro, que errou o alvo. Frei Fidelis conti-
nuou intrépido e, ao terminar, dirigiu-se para a porta da igreja; ali cercou-
o um bando de homens que o trucidaram a golpes de punhal e barras de
ferro, chegando a amputar-lhe a perna esquerda.

2) Na Holanda

AAIemanha, fiel ao luteranismo, rejeitou o calvinismo, que passou

54
AINQUISIQÁO PROTESTANTE 7

entao para a Holada com grande veeméncia. Escreve um historiador pro


testante:

"Os calvinistas (queux) eram os mais abomináveis piratas de todos


os tempos... A sua cupidez era sem igual. Queriam fazer ressoar em toda
parte o seu grito de guerra: 'A palavra de Deus segundo Calvino!'Saque-
avam igrejas e conventos e infligiam aos Religiosos um trato tal que pou-
cos paralelos se encontram na historia dos povos" (Kervin de Lettenhove,
Les Huguenots et les Gueux, tomo II Bruges, p. 408).

As igrejas católicas eram saqueadas e os sagrados valores profa


nados.

Ao ver um monge cartuxo sendo levado ao suplicio, perguntou urna


mulher: "Que mal fez esse homem?", respondeu o carrasco com furor: "É
um monge, um papista".

Ao devastarem o mosteiro de Teñe Rugge, os invasores encontra-


ram um anciao que nao conseguirá fugir. Intimaram-no a exclamar: "Vi-
vam os calvinistas!"; tendo-o recusado, foi condenado ao massacre; an
tes de Ihe tirarem a vida, amputaram-lhe as orelhas, sendo urna afixada á
porta da cidade, e a outra á porta da igreja.

Alguns días mais tarde, prenderam e mataram o pároco Henrique


Bogaart, de Hellevoetsluis, após ter-lhe amputado máos e pés.

Caiu ñas máos dos algozes um sacerdote chamado Vicente, de 85


anos de idade; meteram-lhe na cabeca urna coroa de espinhos, e puse-
ram-lhe no ombro urna cruz confeccionada as pressas, após o qué atre-
laram o padre a urna carroca para que a puxasse; tendo assim tratado o
anciáo, deram-lhe o golpe mortal.

Em Brielle foram presos alguns clérigos e leigos; um daqueles - o


cónego Bervout Hanszoon - recusou ceder alojamento á concubina de
um dos carrascos, que era um católico apóstata; por causa disto mais
candente se tornou a sanha dos adversarios. Sem processo previo, foi
condenado á morte: atiraram-no num poco cheio de lama, onde perma-
neceu algumas horas em luta contra a morte, que finalmente prevaleceu.
Do mesmo modo foram executados tres outros sacerdotes.

Em suma, ao invadirem a cidade de Brielle, os calvinistas decapita-


ram ou queimaram vivos 84 sacerdotes; 19 outros morreram por ocasiáo
da tortura.

Nao se pode deixar de mencionar, á guisa de complemento, o mar


tirio dos católicos do Rio Grande do Norte por obra dos indios instigados
pelos calvinistas holandeses em 1645: o primeiro grupo, contando seten-

55
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

ta pessoas aproximadamente, foi trucidado na cápela da vila de Cunhaú.


O segundo grupo em Uruacu.

Por conseguinte nao resta dúvida: o Calvinismo usou de violencia


cruel no trato com seus irmáos "papistas" (fiéis ao Papa).

Passemos ao Anglicanismo.

3. O Anglicanismo

O rei Henrique VIII em 1534 foi declarado pelo Parlamento, medi


ante o Ato de Supremacía, Chefe da Igreja na Inglaterra. Sob o seu su-
cessor, Eduardo VI, foram redigidos 42 artigos, que expressavam a fé
reformada anglicana. De 1558 a 1603 reinou a rainha Isabel I, que im-
plantou decisivamente o protestantismo de fundo calvinista na Inglaterra,
visando á total extincáo da Igreja Católica.

3.1. Sob Isabel I: generalidades

Eis o que se lé na citada obra de Bihlmayer-Tuechle, pp. 270s:

«Os 42 artigos de Eduardo VI, reduzidos a 39, foram elevados á


categoría de norma confessional (1563) da igreja nacional inglesa; a obri-
gagáo de prestar o juramento de supremacía foi estendida a todos os
membros da Cámara Baixa, aos mestres e aos procuradores públicos,
enfim, a todas as pessoas suspeitas de adesáo a antiga reiigiáo, as quais,
em caso de recusa repetida, era cominada até a pena de morte. Numa
prímeira fase, é verdade, foram aplicadas somente penas consistentes
na privacao dos bens ou da liberdade, aínda que nao raro, em medida
realmente draconiana. Mais tarde, porém, quando Pió V (1570) fulminou
Isabel com a excomunháo e a deposigáo desvinculando os súditos do
juramento de fidelidade, foram emanadas novas e severíssimas leis e
posto em atuagáo o patíbulo. Foi urna época tremendamente dolorosa
para os fiéis católicos da Inglaterra, que, amaldigoados e perseguidos
como inimigos do Estado e réus de alta traigáo, envolvidos na hostilidade
suscitada pelo contraste político entre a Espanha e Inglaterra, viram-se
oprimidos pela dura crueldade de urna justiga sanguinaria. Tiveram que
pagara caro prego as conjuras tramadas contra Isabel e as tramas urdi
das para a libertagao da prisioneira María Stuart. Nao é, pois, para se
maravilhar que o seu número fosse continuamente diminuindo.

O perigo ameagava sobretudo os sacerdotes; quem Ibes dava hos-


pitalidade era punido com a pena de morte. Para nao deixar extinguirse
toda cura pastoral na Inglaterra, foi necessário providenciar á eregáo de
Institutos no exterior para a formagáo de padres. Guilherme Alien, cóne-
go de lorque e desde 1587 'cardeal da Inglaterra', fundou em 1568 em
Douai um colegio inglés e o papa Gregorio XIII erigiu outro em Roma em

56
AINQUISIQÁO PROTESTANTE

1579. Numerosos jovens de ilustres familias inglesas realizaram nestes


colegios os seus estudos teológicos e mais tarde dirigiram-se secretamente
como missionáríos para a Inglaterra, indo nao raro ao encontró da morte
certa. Urna das mais famosas vítimas da perseguigáo foi o douto jesuíta
Edmundo Campion, ex-aluno de Douai, o qual foi executado com dois
companheiros em 1581.

Quando Filipe II da Espanha, para vingar a morte de María Stuart,


tentou em váo conquistara Inglaterra com a sua Armada, a perseguigáo
encarnigou-se mais aínda; mais de cem pessoas caíram vítimas déla.
Globalmente sofreram a morte pela sua fé 124 sacerdotes e 61 leigos.
Numerosos fiéis de ambos os sexos definharam por longos anos em hor-
ríveis masmorras. Aqueles que se abstinham do culto anglicano, 'os
recusantes', foram colhidos por enormes penas pecuniarias. Sob o regi-
me de coagáo religiosa da igreja nacional anglicana tiveram que sofrer
nao só os católicos, mas também os puritanos e os presbiterianos, os
quais se opunham também ao ato de uniformidade (nao conformistas,
dissenters)».

3.2. Particularidades

1) Recusa do juramento

Quem recusasse prestar o juramento de supremacía, era punido


como réu de alta traicáo; era colocado sobre urna grade e assim arrasta-
do até o lugar do suplicio; ai era estendido sobre um cepo; abriam-lhe o
ventre, recortavam-lhe as entranhas em ritmo lento de modo a prolongar
a agonía; a seguir, arrancavam-lhe o coracáo e o corpo era esquartejado,
ficando as diversas partes expostas ao público. Em alguns casos o sen-
so humanitario deixava que a morte ocorresse antes da operacáo final;
mais freqüentemente os mártires eram recortados ao vivo.

Em 1535 um monge cartuxo foi condenado a tal suplicio juntamen


te com alguns companheiros; enquanto o monge era executado, os com
panheiros, aguardando sua vez, pregavam o Evangelho para quem esta-
va assistindo.

2) Sao Joao Fisher

O cardeal John Fisher, quase octogenario, ficou por um ano encar-


cerado na Torre de Londres. Foi condenado á morte por ter dito, em con
versa particular, que o reí nao tinha autoridade sobre a Igreja. Por ser
Cardeal, Henrique VIII Ihe concedeu a graca de ser simplesmente deca
pitado sem outra pena. Em 1535 na manhá do suplicio J. Fisher fez ques-
táo de um asseio esmerado; provocou a surpresa do seu servidor, ao que
respondeu o condenado: "Nao vés que este é o meu dia de nupcias?". Ao

57
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

partir para o suplicio, leu dois versículos do Novo Testamento e rezou.


Subiu com as próprias pernas até o patíbulo. Segundo o antigo costume,
o carrasco se ajoelhou diante dele e pediu-lhe perdáo, respondeu-lhe o
Cardeal: "Eu te perdóo de todo o coracáo; tu me verás sair vitorioso deste
mundo". Dirigiu-se á multidáo que assistia, em tom de despedida; rezou
ainda longamente e entregou a cabeca ao carrasco. Após a morte, esta
foi exposta sobre a ponte de Londres. O corpo permaneceu no lugar do
patíbulo, até que viessem soldados que o levaram, cavaram uma fossa e
lá o depositaram.

Tomás Moro, Primeiro-Ministro do rei, teve morte semelhante em


1535.

Mais uma vez a historia evidencia que os irmáos separados "inqui-


riram" e maltrataram os fiéis católicos. Cometeram também eles o que
acusam a Igreja de ter feito.

Além de Bihlmayer-Tuechle, foi utilizado, na confeccáo deste arti


go, o Dictionnaire Apologétique de la Foi Catholique, organizado por
A. d'Alés, verbetes Reforme e Martyre.

APÉNDICE
A fim de possibilitar uma visáo mais objetiva e fiel á realidade, vao,
a seguir, propostos alguns aspectos da Inquisicao católica geralmente
silenciados pelos manualistas.

1. O Inquisidor

Os historiadores que hoje consideram esse passado, tendem a


julgá-lo através das categorías de pensamento modernas, exigindo dos
antigos o que eles nao sabiam nem podiam dar; nao levam em conta os
textos que exprimem o ardente amor pela verdade, pela justica e pelo
bem que animava os Inquisidores de modo geral. Eis, por exemplo, o
espelho do Inquisidor redigido por Bernardo de Gui, um dos mais famo
sos Inquisidores no século XIV (1308-1328):

"O Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zeio pela verda
de religiosa, pela salvagáo das almas e pela extirpagáo das heresias. Em
meio as dificuldades permanecerá calmo, nunca cederá a cólera nem á
indignagáo. Deve ser intrépido, enfrentar o perigo até a morte; todavía
nao precipite as situagóes por causa da audacia irrefletida. Deve ser in-
sensivel aos rogos e as propostas daqueles que o querem aliciar; mas
também nao deve endurecer o seu coragáo a ponto de recusar adiamen-
tos e abrandamentos das penas conforme as circunstancias. Nos casos
duvidosos, seja circunspecto, nao dé fácil crédito ao que parece provável
e multas vezes nao é verdade; também nao rejeite obstinadamente a
58
A INQUISIgÁO PROTESTANTE 11_

opiniáo contraria, pois o que parece improvável, freqüentemente acaba


por ser comprobado como verdade... O amor da verdade e a piedade,
que devem residir no coragáo de umjuiz, brílhem nos seus olhos, a fim de
que suas decisóes jamáis possam parecer ditadas pela cupidez e a cru-
eldade" (Prátíca Vi p... ed. Douis 232s).

Algo de semelhante se encontra sob a pena de outro célebre


Inquisidor: Nicolau Eymeric O.P. - em seu Directorium (Parte III, ques-
táo 1a, De conditione inquisitoris).

Para preservar e garantir tais predicados dos Inquisidores, a auto-


ridade eclesiástica promulgava certas normas, acompanhando os proce-
dimentos da Inquisicao:

- garantías de idade: o Papa Clemente V, no Concilio de Viena


(1311), seguindo preceitos de seus antecessores, dispós que ninguém
pudesse exercer as funcóes de Inquisidor antes dos 40 anos;

- garantías de honestidade: Alexandre IV (1255), Urbano IV


(1262), Clemente IV (1265), Gregorio X (1275), Nicolau IV (1290) insisti-
ram ñas qualidades moráis, na honestidade e na pureza de costumes a
ser exigidas dos Inquisidores;

- garantías de saber: também se declarava indispensável ao


Inquisidor um bom conhecimento de Teología e Direito Canónico.

A maneira como procediam os juízes era continuamente acompa-


nhada e controlada, na medida em que isto era possível na Idade Media.
Mais de urna vez, a Santa Sé interveio para moderar o zelo e punir os
excessos dos Inquisidores. É de notar, por exemplo, que o Papa Clemen
te V, no Concilio de Viena (1311), determinou fosse excomungado o
Inquisidor que se aproveitasse das suas funcoes para fazer lucros ilícitos
ou extorquir dos acusados quantias de dinheiro; para ser absolvido de tal
pena, o Inquisidor deveria reparar os danos causados. Todo Inquisidor
que abusasse comprovadamente do seu ministerio, era sem demora de-
posto do cargo, fosse pelos Superiores de sua Ordem, fosse pelos lega
dos papáis, fosse diretamente pela Santa Sé. Os bispos eram obrígados,
em consciéncia, a comunicar ao Papa todos os desmandos cometidos
pelos Inquisidores; o mesmo dever tocava aos notarios e demais oficiáis
de justica que acompanhavam o Inquisidor.

2. As penas e seu abrandamento

1. No tocante as penas infligidas a hereges e bruxas, nao existe a


documentacáo desejável, pois o registro de fatos outrora se fazia mais
difícilmente do que hoje. Como quer que seja, temos ao nosso alcance
alguns espécimens dos séculos XIII e XIV; assim, por exemplo:

59
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

De 1249 a 1258 em Carcassonne (Franca) a Inquisicáo proferiu


278 sentencas; a pena de prisáo é relativamente rara; a mais freqüente é
a que manda prestar servico na Térra Santa.

De 1308 a 1328 Bernardo de Gui em Tolosa exerceu com severida-


de as suas funcoes: em dezoito Sermones Generales proferiu 929 sen-
tengas assim distribuidas:

Imposicáo da cruz: 132 vezes


Peregrinacáo: 9 vezes
Servico na Térra Santa: 143 vezes
Encarceramento platónico pronunciado sobre defunto: 17 vezes
Entrega ao braco secular (pena de morte): 42 vezes
Absolvicáo de defuntos: 3 vezes
Exumacáo: 9 vezes

Sentencas contra contumazes: 40 vezes


Exposicáo no pelourinho: 2 vezes
Degradacáo: 2 vezes
Exilio: 1 vez

Destruicáo da casa: 22 vezes


Queima do Talmud: 1 vez
Absolvicáo de prisioneiro: 139 vezes

Esta lista mostra que a entrega ao braco secular ou a pena de


morte era relativamente rara.

De 1318 a 1324 em Pamiers (Franca), a Inquisicáo julgou 98 acu


sados: 5 foram entregues ao braco secular; 35 condenados ao cárcere; 2
absolvidos; a respeito dos demais nada consta; teráo sido absolvidos?...
exilados?... enviados para a Térra Santa? Como quer que seja, de 98
consta que apenas cinco sofreram a condenacáo capital.

2. É de notar ainda que muitos dos réus sentenciados podiam go


zar de indulto, que os dispensava total ou parcialmente da sua pena.
Podiam também usufruir de licenca para sair do cárcere e ir tirar ferias
em casa; em Carcassonne, por exemplo, aos 13 de setembro de 1250, o
bispo deu a uma muiher chamada Alazais Sicrela permissao para sair do
cárcere e ir aonde quisesse até a festa de Todos os Santos (1s de nove ru
bro), ou seja, durante sete semanas. Licenca semelhante foi dada por
cinco semanas a um certo Guilherme Sabatier, de Capendü, na ocasiáo
de Pentecostés (9/05/1251). Raimundo Volguir de Villar-en-Val obteve
uma licenca que expirava no dia 20/05/1251, mas que Ihe foi prorrogada

60
A INQUISIgÁO PROTESTANTE 13

até o día 27. Outro caso é o de Pagane, viúva de Pons Arnaud de Preixan,
que, encarcerada, obteve licenca para ferias de 15/06 a 15/08 de 1251.
Os prisioneiros tinham o direito de se afastar do cárcere para trata-
mento de saúde por quanto tempo fosse necessário. Sao numerosos os
casos de que se tem noticia: assim aos 16/04/1250, Bernard Raymond,
de Conques, obteve a autorizacáo para deixar a sua cela propter
infirmitatem. Aos 9/08 seguintes, a mesma permissáo era dada a Bernard
Mourgues de Villarzel-en-Razés, com a condicáo de que voltasse oito
dias após obter a cura. A 14/05 a mesma concessáo era feita a Armand
Brunet de Couffoulens; e a 15/08 a Arnaud Miraud de Caunes. A 13/03/
1252 Bernard Borrel foi posto em liberdade propter infirmitatem, deven
do voltar ao cárcere quinze dias após a cura. A 17/08 seguinte, Raine,
filha de Adalbert de Couffoulens, foi autorizada a permanecer fora do
cárcere quousque convaluerit de aegritudine sua (até que ficasse boa
da sua doenca)... A repeticáo de tais casos a intervalos breves, e as ve-
zes no mesmo dia, mostra que nao se tratava de excecóes, mas de urna
rotina bem definida.

3. Também havia autorizacáo aos presos para ir cuidar de seus


familiares em casa. Ás vezes os problemas de familia levavam os
Inquisidores a comutar a pena de prisáo por outra que permitisse atendi-
mento á familia. Até mesmo os mais severos praticavam tal gesto; sábe
se, por exemplo, que o rigoroso juiz Bernard de Caux em 1246 condenou
á prisáo perpetua um herege relapso, chamado Bernard Sabatier, mas,
na própria sentenca condenatoria, observava que, o pai do réu sendo um
bom católico, anciáo e doente, o filho poderia ficar junto do pai enquanto
este vivesse, afim de Ihe dispensar tratamento.

4. Acontece também que as penas infligidas aos réus eram abran-


dadas ou mesmo supressas: a 3/09/1252 P. Brice de Montréal obteve a
troca da prisáo por urna peregrinacáo á Térra Santa. Aos 27/06/1256 um
réu que devia peregrinar á Térra Santa, recebeu em troca outra pena:
pagaría 50 sóidos de multa, pois nao podia viajar propter senectutem
(por causa da idade anciá). Sao conhecidos também os casos de indulto
total: o Inquisidor Bernard Gui, em seu Manual apresenta a fórmula que
se aplicava para agraciar plenamente o réu. O mesmo Bernard Gui reabi-
litou um condenado para que pudesse exercer funcóes públicas; a um
filho de condenado que cumprira a pena, reconheceu o direito de ocupar
o consulado e exercer funcñes públicas.
5. A historia também registra o fato de que os Inquisidores estavam
atentos a distinguir falsas e verdadeiras acusacóes. Conta-se, por exem
plo, o caso, ocorrido em Pamiers (1324), de Pierre Peyre e Guilhaume
Gautier: ambos colaboraram com Pierre de Gaillac, tabeliao de Tarscon,
numa campanha contra Guillem Trom; este também era tabeliao e atraia

61
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

a si a clientela, de modo que Pierre de Gaillac, querendo livrar-se dele,


acusou-o de heresia perante a Inquisicáo, apoiado no falso testemunho
de Pierre Peyre e Guillaume Gautier; estes dois cidadáos, comprova-
damente tidos como falsarios, foram condenados, e Guillem Trom reco-
nhecido como inocente.

6. É certo, porém, que nem todos os Inquisidores tiveram a mesma


elevacáo de espirito e a mesma retidáo de consciéncia. Alguns se mos-
traram obcecados na repressáo á heresia, procedendo cruelmente. Os
historiadores registram tais abusos, mas nao costumam registrar as cen
suras que a Santa Sé infligiu aos oficiáis ¡moderados ou indignos, sem-
pre que ela teve noticia dos fatos; alias, nao somente ela, mas também
os legados papáis e os bispos se insurgiram contra os excessos dos
Inquisidores; nao eram raras as admoestacóes á prudencia e á brandura
emanadas das autoridades eclesiásticas para a orientacáo dos
Inquisidores; estes devram proceder com pureza de ¡ntencáo (superando
paixóes, pressóes e preconceitos) e com a virtude da discricáo.

Consta também que os Papas mais de urna vez deram ordens aos
Inquisidores para que usassem de brandura em casos precisos: Inocencio
IV, por exemplo, mandou aos Inquisidores Guillaume Durand e Pierre
Raymond que absolvessem Guillaume Fort, cidadao de Pamiers; aos 24/
12/1248 mandou soltar os hereges cuja punicao Ihe parecía suficiente;
aos 5/08/1249, encarregou o bispo de AIbi de restituir á comunháo da
Igreja Jean Fenessa de AIbi e sua esposa Arsinde, condenados pelo
Inquisidor Ferrier.

Em 1305 o Inquisidor de Carcassone provocou, por seus rigores, a


revoita da opiniáo pública: os habitantes de Carcassonne, AIbi e Cordes
dirigiram-se á Santa Sé. As suas queixas foram acolhidas pelo Papa Cle
mente V, que aos 13/03/1306 nomeou os Cardeais Pierre Taillefer de la
Chapelle e Béranger Frédol para fazer um inquérito do que ocorria na
regiáo; enquanto este se processava e as prisóes eram inspecionadas,
estava suspensa toda perseguicao de hereges. Os dois prelados inicia-
ram a visita aos cárceres de Carcassonne nos últimos dias de abril; en-
contraram ai quarenta prisioneiros que se queixavam dos carcereiros;
estes foram logo substituidos por outros mais humanitarios; aos detidos
foram assinaladas celas recém-reformadas e foi permitido passear per
carrerias muri largi ou em espago mais ampio; os guardas receberam a
ordem de entregar aos prisioneiros tudo o que fosse enviado pelo rei ou
por seus amigos para a sua manutencáo. Os dois Cardeais visitaram
outrossim os cárceres de AIbi aos 4/05/1306; mandaram retirar as cor-
rentes que prendiam os encarcerados, designaram outros guardas, man
daram melhorar as condicóes sanitarias das prisóes, abrindo janelas para
a penetracio da luz e do ar.

62
Utilizar as Escrituras:

COMO CRISTIANIZAR OS SALMOS?

Em síntese: Os salmos, redigidos por um orante singular ou por


um grupo de orantes judeus, foram repetidos por todo o povo israelita
como oragáo da comunidade, que procurava atualizar o texto sagrado.
Na plenitude dos tempos Jesús nao só rezou os salmos, mas viu neles
urna profecía de sua obra messiánica; assim os salmos, longe de perder
seu valor, foram sendo mais e mais valorizados. A Igreja, como Corpo de
Cristo, continua a rezar os salmos, pois nela se desenvolve a obra da
Redengáo.
* * *

Rezar os salmos é enfáticamente recomendado. Talvez muitos os


recitem com respeito, mas sem conseguir fazer deles a expressao de
sua oracáo, ora porque os salmos levam a recuar a urna época muito
remota em que eram conhecidos Gebal, Amon, Amalee, o rei de Basa,
estranhos a nos, ora porque a linguagem dos salmos é violenta,
imprecatoria, cheia de imagens insólitas ao cristáo ocidental. Pergunta-
se: como será possível a um cristáo orar com tais textos? Nao seria tal
vez mais natural relegá-los para o arquivo dos livros que se veneram,
mas que já nao se usam por estarem ultrapassados?

Aquestáo é importante e merece atencáo. Comecemos por exami


nar

1. A historia dos salmos

1.1. O tempo anterior a Cristo

Os salmos foram redigidos de sorte a desdobrar-se, "crescer", á


medida que se desdobrasse a historia do povo de Deus1.

1. Este principio parecía evidente já aos antigos judeus: os hinos


compostos por um salmista (Davi, por exemplo) em circunstancias parti
culares de sua vida (perseguicáo de Saúl, revolta de Absaláo, arrepen-

' É S. Gregorio Magno (t 604) quem sugere as expressóes ácima, ao dizer. "As
Escrituras divinas crescem com aquele que as lé" (In Ez 1, 7, 8s). O que, conforme a
mente do S. Doutor, significa: as Escrituras veo manifestando aos poucos o seu
significado profundo e o seu valor na medida em que o leitor se adianta na vida
espiritual. Análogamente patenteou-se cada vez mais o sentido do salterio no decor-
rer da historia sagrada.

63
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

dimento de adulterio, etc.) eram adotados pelo povo e repetidos no culto


público, através dos séculos, como expressáo da coletividade, de todo o
povo messiánico. E, para melhor servirem ao uso público, alguns salmos
receberam mesmo, da parte de autores inspirados, acréscimos oportu
nos; assim no SI 51, cántico da penitencia de Davi (ca. de 1000 a.C), os
dois últimos versículos foram ajuntados no tempo de exilio (587-538 a.C),
quando o povo inteiro quería exprimir seus sentimentos de contricáo, pro
longando os de Davi.

Eis os versículos fináis (20 e 21 do salmo 51: "Faze o bem a Siáo


por teu favor: reconstruí as muralhas de Jerusalém. Entáo te agradarás
dos sacrificios de justica - holocaustos e ofertas totais - e em teu altar se
ofereceráo novilhos".

Ora Davi nao pode ter escrito tais versículos, pois supóem a época
do exilio (587-538 a.C), quando os muros de Jerusalém foram derruba-
dos pelos invasores babilonios e o culto do Senhor Deus foi interrompido
no templo. Foram, pois, os judeus orantes do século VI a.C. que os acres-
centaram ao salmo 51 para fazer deste a sua oracáo atualizada.

Note-se que algo de análogo se dá no fim do salmo 69: o pedido de


socorro de um orante singular termina nos vv. 36s com urna prece em
favor do povo exilado:

"Sim, Deus vai salvar Sion, vai reconstruir as cidades de Judá.


Habitaráo lá e a possuiráo. A descendencia de seus servos a herdará, e
nela habitaráo os que amam seu nome".

Os judeus, pois, julgavam natural nao só repetir os salmos, mas


adaptá-los a situacóes posteriores do povo, a fim de serem sempre a
expressáo viva de sua alma religiosa.

1.2. A plenitude dos tempos

Veio a plenitude dos tempos. Jesús nao pos os salmos de lado,


mas utilizou-os em duplo sentido:

1) Jesús, como homem, recitou os salmos, fazendo passar por


eles os sentimentos de seu coracáo humano; deu-lhes assim um suporte
ou um sujeito mais denso e mais rico de afetos. Eis as passagens em
que os evangelistas referem que Jesús recitou os salmos:

"Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" (SI22,2). Cf Mt


27, 46.

"Em tuas máos entrego o meu espirito" (SI 31, 5). Cf. Le 23, 46.
Cf. Mt 26,30: "Tendo dito o hiño (isto é, o Hallel pascoal ou S1112-
117),saíram".

64
COMO CRISTIANIZAR OS SALMOS? 17

Certamente aínda no Templo, ñas testas judaicas, por ocasiao das


peregrinajes a Jerusalém, em sua vida particular de oracáo, Cristo re-
zou os salmos como a gente de seu povo.

Recitando os salmos, Jesús Ihes conferiu significado ainda mais


rico e valor novo.

Significado mais rico. Com eíeito. Ao passo que, no Antigo Testa


mento, o salterio era cantado por individuos que, em grau maior ou me
nor, representavam o Messias1, os salmos, recitados por Cristo, torna-
ram-se a expressáo daquele que preenchia as imagens da antiga Lei.
Jesús adotou as palavras do salterio áquelas circunstancias de sua vida
que eram análogas as dos salmistas e as do povo israelita (perseguicáo,
vitória, agradecimento etc.); havia mesmo muita coisa no livro dos sal
mos que só podia ser adequadamente proferida pela pessoa do Messias2.
Valor novo. O Senhor viveu com estas palavras na mente e nos
labios as diversas fases da vida humana, fazendo de tais cantos a ex
pressáo do homem típico, modelo, que, atravessando as nossas vicissi-
tudes, se santifica, se oferece ao Pai.
2) Jesús quis, mediante os salmos, elucidar certos episodios
de sua vida terrestre, como, por exemplo, a sua Paixáo e ressurreicáo.
Ele as apresentou como cumprimento daquilo que os salmos prediziam e
os discípulos até entáo nao compreendiam. Vejam-se os seguintes tex
tos:

Le 24, 44: "Era necessário que se cumprisse tudo que a meu res
pe/Yo está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos salmos".
Os Evangelistas narram que Jesús referiu a Si explícitamente os
seguintes versículos:

S1118,22s: "Apedra que os construtores rejeitaram, tornou-sepe-


dra angular. Isto foi feito pelo Senhor, e é coisa admirável aos nossos
olhos". Cf.Mt21,42.

S1110,1: "O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te á minha direita,


até que faca dos teus inimigos o supedáneo de teus pés". Cf. Mt 22, 44.

' Davi, Salomáo, Jeremías, por exemplo, sao figuras do Messias muito apregoados
pela tradigáo. Também o povo de Israel era especialmente dirigido pela Providencia
por ser a linhagem do Cristo futuro, o portador da imagem do Messias; note-se, por
exemplo, que em Os 11, 1 eemMt2, 15 o mesmo texto "Do Egito chameimeu filho"
designa! no Antigo Testamento, o povo de Israel; no Novo Testamento, o Cristo Je
sús.
2 Assim os salmos ditos messiánicos, que, com vivas cores, descrevem o nasci-
mento, as dores e o triunfo do Senhor: SI 2. 16. 22. 69. 72. 110.

65
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

SI 8,3: "Da boca das críangas e dos que aínda sao amamentados,
produzistes um louvorpara Vos". Cf. Mt21, 16.

S1118, 26: "Bendito o que vem em nome do Senhor", dirao os Ju-


deus quando virem o Cristo em sua segunda vinda. Cf. Mt 23, 39.
Desta forma na plenitude dos tempos o salterio ainda adquiriu nova
atualidade. Há, conseqüentemente dois tipos de oracáo especialmente
caros ao cristáo: o salterio que Jesús rezou e elucidou, e o Pai-Nosso,
que Ele ensinou aos discípulos.

1.3. Otempoda Igreja

Terminada a sua obra na carne, o Senhor subiu aos céus. Deixou,


porém, na térra a sua Igreja, na qual Ele continua presente e ativo, á
semelhanca da cabeca que está unida ao corpo e a ele comunica a sua
vida. A Igreja é, pois, a continuadora do Messias e de sua obra; a este
título também prossegue nela a historia do povo de Deus iniciada no
Antigo Testamento {o verdadeiro Israel, somos nos, cristios, conforme
Rm 9, 6-8). Conscientes disto, os cristáos, desde os seus primordios,
continuaram a cantar os salmos, adaptando-os, é claro, as circunstanci
as da vida da Igreja s de sua vida pessoal1. Deste modo, faziam, também
eles, "crescer" o salterio, dando-lhe ulteriores aplicacoes; faziam-no res-
soar dentro das realidades pujantes e vibrantes do Novo Testamento,
realidades que desdobram e estendem a obra de Cristo e que sao a
consumacio das instituicóes da antiga Leí2.

Os Padres atestam quáo difuso e familiar aos cristáos era o uso


dos salmos. Assim S. Jerónimo (t 420).

"Na aldeia de Cristo (Belém) há plena rusticidade, e, lora dos sal


mos, reina o silencio. Em qualquer parte para onde te voltes, o lavrador,

1 Para o cristáo, os nomes estranhos Gebal, Amon, Amaleque, Og, reí de Basa, etc.,
que, no salterio, designan) os inimigos do povo de Deus, passaram a significar os
novos adversarios do reino de Cristo. Os nomes Sion, Jerusalém, que designavam o
santuario do Antigo Testamento, designa Cristo e seus legítimos representantes. Os
feitos gloriosos de Deus na historia do povo judaico, principalmente no éxodo do
Egito, sao urna imagem da obra ainda mais gloriosa da Redengáo, da luta do exter
minio absoluto que Cristo travou contra o reino do pecado.
É bem necessário que o cristáo faga esta transposigáo para poder desfrutar o
salterio. Nao julgue, porém, que é artificial ou arbitraria, mas tenha consciéncia de
que foi intencionada pelo próprio Deus, o qual fazia realmente de muitos individuos
e acontecimentos do Antigo Testamento prenuncios do que se daría em Cristo e na
Igreja; cf. 1Cor 10, 6.11.
2 Significativas sao as palavras de S. Tomás:
"Como diz o Apostólo, a antiga Lei é figura da Nova Lei; e a Nova Lei mesma, como
diz Dionisio, é figura da gloria futura. Na Nova Lei aquilo que se realizou na Cabega
(Cristo), é sinaldo que nos devemos fazer" (Suma Teológica 11, 10c).

66
COMO CRISTIANIZAR OS SALMOS? 19

dirígindo o arado, canta oAleluia; o ceifador, em meio ao suor, se estimu


la com os salmos; e o vinhateiro, enquanto poda a vinha com a foice
curva, canta algo de Davi" (ep. 46, 11 PL 22, 491).
S. Ambrosio (t 397) refere em Miláo:
"O salmo é cantado pelos Imperadores, executado com júbilo pelo
povo. Cada qual se empenha por proferir o (salmo) que a todos aprovei-
ta. Ñas casas cantase o salmo; fora de casa refere-se o que há no sal
mo. Ouve-se o salmo sem cansago; conservase na memoria com delei
te. O salmo une os dissidentes, consocia os discordantes, reconcilia os
ofendidos" (In Ps 1, 9 PL 14, 968).
Sidónio Apolinário (t 480), na Gália, e S. Agostinho (t 430), na
África, narram que os remadores, para trabalharem em ritmo, faziam res-
soar até a beira-mar o canto do Aleluia.
Nem se poderia conceber outra atitude dos cristáos diante do
salterio, pois, como diz Pannier, "este livro, além da inspiracáo que Ihe é
comum'com todos os Iivros da Escritura, teve o privilegio de ser a oracáo
mesma de Cristo; por assim dizer, ainda está todo impregnado dos sen-
timentos mesmos de Jesús; só se Ihe pode comparar a oracáo dominical
(Pai nosso)". Por conseguinte, "compreende-se que a Igreja tenha sem-
pre procurado unir-se aos pensamentos e afetos do Filho de Deus, reto
mando o salterio como principal oracáo sua" {Dictionnaire de la Bible V
833).

Á luz do que acaba de ser dito, compreende-se bem o empenho


atual da Santa Igreja em avivar nos fiéis o uso dos salmos e do Oficio
Divino (cf. Constituicáo Sacrosanctum Concilium 83-101).
E nao será difícil aos nossos cristáos - antes acarretar-lhes-á ¡menso
deleite e fruto espiritual - corresponder a esta diretriz.
Para isto, requer-se tomem consciéncia viva de que cada batizado,
em seu aspecto primario, á luz de Deus, é um membro de Cristo. Em
conseqüéncia, Cristo de certo modo continua a viver nele (cf. Gl 2, 20);
em todos os atos, grandes ou pequeños, religiosos ou profanos, que re-
alize com a graca santificante, é a vida de Cristo que nele se afirma, é a
obra da Redencáo que se desdobra. É esta uma verdade fecunda para
orientar o cristáo na vida prática; principalmente ñas horas de sofrimento,
quando parece prostrado, inutilizado, recorde-se, com S. Paulo, de que e
entáo de modo especial que Cristo a ele estende a sua Paixáo, essa
Paixáo que foi Vitoria, salvagáo para o mundo (cf. Cl 1, 24).
E ao passar diariamente por Vitorias ou reveses, faga o cristáo que
o salterio acompanhe cada uma das fases de sua vida. Nos salmos ele
67
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

encontra as palavras que Cristo consagrou por seu uso, quando nos pre
cedía na térra atravessando nossas vicisitudes; no salterio o fiel encon
tra os sentimentos de Cristo, que se fez nosso Irmáo mais velho e exem-
plar {cf. Rm 8,29), sentimentos que, conforme S. Paulo (Fl 2,5), cada um
de nos deve reproduzir, na alegría e na tristeza, no louvor e na súplica...
Nao há situacáo da vida humana que nao encontré no salterio a sua
expressáo adequada díante de Deus; o salterio a transforma em oracáo1.
Assim, em qualquer cristáo que reze os salmos, pode-se dizer que
Cristo prolonga a prece que outrora em sua carne mortal Ele dirigía ao
Pai; o Espirito de Cristo geme nos membros do Cristo Místico {Rm 8,26),
como outrora suplicava no Cristo Cabeca (Hb 5, 7), servindo-se até das
mesmas fórmulas2.

Conscientes disto, os fiéis nao deixaráo de fazer largo uso desses


textos veneráveis, que os poem em táo íntima comunháo de oracáo com
Cristo e, mediante Cristo, em comunháo de vida com as tres Pessoas
divinas!

2. Como recitar cristámente?

O cristáo pode rezar os salmos - que sao sempre ORACÁO DA


IGREJA - segundo tres modalidades:

( com Cristo ao Pai


Oracáo da Igreja < a Cristo (—*- ao Pai)

[ ao Pai a respeito de Cristo

Examinemos cada qual dessas modalidades.


1) Oracáo com Cristo ao Pai. Esta atitude supóe a imagem de
Cristo Cabeca do Corpo que é a Igreja. Cristo continua na térra a rezar os
salmos, porque continua a sua obra redentora, pregando a Boa Nova,
padecendo e morrendo na fidelidade a sua missáo. Tal modalidade

1 Vejase ñas principáis edigoes do salterio a tabela que apresenta salmos adequa-
dos para as variadas circunstancias da vida.
2 Dentre muitos textos interessantes de S. Agostinho, vai aquí o seu comentario do SI
69, 3'

"Sejam confundidos e envergonhados os que buscam minha vida. É Cristo


quem o diz, seja que a Cabeca o diga, seja que o Corpo o diga; é Ele quem o profere
Ele que disse: Porque Me persegues? (At 9. 4); é Be quem o profere, Ele que disse-
Quando o fizestes a um dos meus mínimos a Mim o fizestes (Mt25, 40). É conhecida
portanto, a voz desse homem, desse homem todo, Cabeca e Corpo" (In Ps 69, 3 PL
35, 8657).

68
COMO CRISTIANIZAR OS SALMOS?

corresponde ao estilo da oracáo litúrgica: ao Pai pelo Filho no Espirito


Santo. Assim principalmente os salmos de angustia e súplica sejam re
zados: SI 56.57.58.59...

2) Oracáo a Cristo, que, como Mediador, leva as oracóes dos


homens ao Pai. É a prece da Esposa (Igreja) ao Esposo {Cristo). Embo-
ra a oracáo a Jesús seja mais rara na Liturgia da Igreja, ela encontra
respaldo na própria Escritura; com efeito, Sao Lucas apresenta o primei-
ro mártir Sto. Estéváo a pronunciar na hora da morte as mesmas pala-
vras que Jesús crucificado proferiu com a diferenca, porém, de que Je
sús se dirige ao Pai, ao passo que Estéváo se dirige a Jesús. Vejam-se
os textos:

Le 23,34: Disse Jesús: "Pai, perdoa-lhes porque nao sabem o que


fazem".

Le 23, 46: Disse aínda Jesús: "Pai, em tuas máos entrego o meu
espirito".

Em paralelo Sto. Estéváo vé na gloria do céu Jesús de pé á direita


de Deus {At 7, 55) e exclama:

At 7, 59: "Senhor Jesús, recebe o meu espirito".

"Senhor, nao Ihes leves em conta este pecado".

A oracáo a Jesús tornou-se muito freqüente na piedade popular; é


válida contanto que nao se esqueca que o Pai é o Alfa e o Ómega, para
o qual converge toda a piedade crista, seja explícita, seja implicitamente.

3) Oracáo ao Pai a respeito de Cristo. Esta modalidade aplica-se


aos salmos ditos "históricos" ou que referem as grandes linhas da histo
ria do povo de Israel (SI 78.105.106.. 136); falam da travessia do Mar
Vermelho, da passagem pelo deserto, do maná... Estas realidades sao
consideradas pelo cristáo como ¡magens e sinais de maiores dons que
haviam de ser concedidos aos homens mediante a obra redentora de
Cristo: Batismo, Eucaristía, filiacáo divina... Em conseqüéncia o cristáo
reza os salmos históricos louvando o Pai por quanto recebeu através do
Batismo, da Eucaristía e demais dádivas próprias da vida crista.

Quanto as imprecacóes {ou o desejar o mal...), podem ser tran


quilamente recitadas pelos cristáos, que as dirigem nao contra pessoas
más, e sim contra coisas (¡nstituicoes, obras, movimentos...) más. Ensi-
na S. Agostinho: "Odeia o pecado, mas ama o pecador". Na verdade, o
cristáo deseja que perega o mal ou o pecado, mas se salve o pecador.
É, pois, nestes termos que o fiel católico pode cristianizar os sal
mos e rezá-los vivamente com toda a Igreja.

69
Há quem alegue...

A IGREJA CATÓLICA ACRESCENTOU LIVROS AO


CATÁLOGO BÍBLICO?

Em sfntese: Os protestantes alegam que a Igreja Católica, no Con


cilio de Trento (1545-63), acrescentou sete livros ao catálogo bíblico. Para
dissipar esta afirmagáo, já foram publicados varios testemunhos em PR
432/1998, pp. 194ss, aos quais seja adicionado o Tomus Damasiabaixo
transcrito.

Os protestantes costumam afirmar que a Igreja Católica no Conci


lio de Trento, em 1546, acrescentou ao catálogo bíblico sete livros: Tobías,
Judite, Eclesiástico, Baruque, Sabedoria, 1/2 Macabeus, além de frag
mentos de Ester e Daniel.

Para evidenciar a falsidade desta alegacao, já foram publicados


em PR 432/1998, pp. 194ss os testemunhos de Concilios que desde 393
professam o canon bíblico como ele até hoje se encontra ñas edicoes
católicas da Biblia; somente a ignorancia da documentacáo pode susten
tar a alegacáo protestante.

Visto que o assunto vem á baila com freqüéncia, publicaremos, a


seguir, mais um testemunho de grande peso, pois data do fim do século
IV, como julgam os críticos.

A introdugáo ao texto e o próprio texto sao extraídos da obra de


Justo Collantes intitulada "A Fé Católica" na 2001 (edicáo brasileira apre-
sentada em PR 497/2003).

Tomus Damas!
(382?)

Este decreto [Decretum Damast], posteriormente incorporado ao


decreto gelasiano [Decretum Gelasii], se nao é do Papa Dámaso, deve
ter sido redigido antes do ano 405, porque nesse ano o Papa Inocencio I,
numa carta ao bispo Exupério datada de 20.2, atribuí ao Apostólo Joáo
as tres epístolas do canon. Nenhum autor afinado com a prática romana
poderia, depois de tal ano, atribuir ao evangelista só a primeira epístola e
as duas seguintes a um presbítero Joáo, como faz o nosso decreto. De
qualquer modo, mesmo na hipótese de nao ser auténtico, costuma-se
reconhecer no decreto urna origem damasiana, ao menos quanto á subs
tancia.

70
A IGREJA CATÓLICA ACRESCENTOU LIVROS AO CATÁLOGO BÍBLICO? 23

Texto: PL19, 791-793; Ms¡ 8,145-147; JTS 1 (1900) 557-559.

2.001 "Devemos agora tratar das divinas Escrituras: o que toda a


179 igreja Católica aceita e o que deve ela recusar.

Ordem do Antigo Testamento: Génesis, um livro. Éxodo, um


livro. Levítico, um livro. Números, um livro. Deuteronómio, um li
vro. Jesús de Nave, um livro. Juízes, um livro. Rute, um livro.
Reis, quatro livros. Paralipónemos, dois livros. Cento e cinqüenta
Salmos, um livro. De Salomeo, tres livros: Proverbios, um livro;
Eclesiastes, um livro; Cántico dos Cánticos, um livro. Além disso:
Sabedoria, um livro. Eclesiástico, um livro. Serie dos profetas:
Isaías, um livro. Jeremías, um livro com Cinoth, isto é, suas
Lamentagóes. Ezequiel, um livro. Daniel, um livro. Oséias, um
livro. Amos, um livro. Miquéias, um livro. Joel, um livro. Abdias,
um livro. Joñas, um livro. Naum, um livro. Habacuc, um livro.
Sofonias, um livro. Ageu, um livro. Zacarías, um livro. Malaquias,
um livro. Serie das historias: Jó, um livro. Tobías, um livro. Esdras,
dois livros. Ester, um livro. Judite, um livro. Macabeus, dois livros.
Ordem das Escrituras do Novo e eterno Testamento, que a
Santa Igreja Católica reconhece[e venera]: os Evangelhos: se
gundo Mateus, um livro; segundo Marcos, um livro; segundo
Lucas, um livro; segundo Joáo, um livro. As Epístolas de Paulo
[Apostólo] em número de 14: aos Romanos, urna; aos Corintios,
duas; aos Efésios, urna; aos Tessalonicenses, duas; aos Gálatas,
urna; aos Filipenses, urna; aos Colossenses, urna; a Timoteo,
duas; a Tito, urna; a Filémon, urna; aos Hebreus, urna. Igualmen
te: o Apocalipse de Joáo, um livro; Atos dos Apostólos um livro.
Serie das epístolas canónicas, em número de sete: do Apostólo
Pedro, duas; do Apostólo Tiago, urna; do Apostólo Joáo, urna; do
presbítero Joáo, duas; do Apostólo Judas zelote, urna. Termina o
canon do Novo Testamento".

A leitura deste texto e dos que foram transcritos em PR 432/1998


pp. 194s leva a afirmar que foi Lutero quem retirou da Biblia os sete livros
deuterocanónicos; abandonou assim a tradigáo católica, baseada na praxe
da Igreja antiga, para seguir o canon estipulado pelos judeus em Jamnia
no ano 100 d.C. aproximadamente.

É de notar que, sendo canónicos, como realmente sao, os sete


livros apontados, adquirem fundamento bíblico já no Antigo Testamento
as doutrinas do purgatorio (ver 2Mc 12, 38-45) e da intercessáo dos san
tos pelos seus irmáos militantes na térra (ver 2Mc 15,12-16).

71
Lingüística e Teología:

YEHOSHUA OU JESÚS?

Em súrtese: Tem sido espalhado um panfleto que acusa o Catoli


cismo (o Papa) de haver mudado o nome do Salvador YEHOSHUA para
JESÚS. Este último seria um deus pagáo ou o Deus CÁVALO. -A alega-
gáo é totalmente falsa, pois após o exilio babilónico (587-538 a.C.) os
judeus mesmos preferiram usar a forma breve JESHUA para designar os
heróis do Antigo Testamento chamados YEHOSHUA: assim o sucessor
de Moisés, que em portugués é dito Josué; assim também o Sumo Sacer
dote que acompanhouZorobabelna volta do exilio... Ora da forma hebraica
JESHUA fez-se a grega IESOUS e a latina IESUS. Em tal procedimento
nao tomou parte a Igreja Católica.
# * *

Tem-se propagado um panfleto intitulado "O NOME SAGRADO",


que alega ter sido ¡licitamente trocado o nome de YEHOSHUA por JE
SÚS, nome de urna divindade paga.
A seguir, exporemos a tese do panfleto e procuraremos mostrar
como é falsa.

1. O conteúdo do panfleto
Logo na primeira página lé-se:

"O vocábulo Jesús nao se deriva de Yehoshua.


Fica portanto provado que a sacrilega mudanga do nome sagrado
de Yehoshua para Jesús é a maior fraude teológica desde que o mundo
foi criado até hoje".

Na página 3 volta a acusacáo:


"Frezado amigo, há quase 1600 anos estávamos sendo engaña
dos a respeito do Sagrado e Eterno Nome do nosso Salvador. Quase
toda a humanidade eré que Jesús Cristo é o seu verdadeiro nome. Isto é
a maior mentira que Satanás conseguiu introduzirna mente daspessoas.
Veja vocé, este nome nao é de orígem hebraica, mas sim grega (IESOUS),
latinizado para Jesús e posteriormente transformado em Jesús".
O panfleto propóe a seguinte etimología:
"O nome de Jesús é de origem paga e significa DEUS-CAVALO
(hebraico Ye = Deus e Sus = cávalo). E cávalo é igual a Besta.
O mundo inteiro adora a "Besta" pensando estar adorando o Cor-
deiro de Deus. Vejam a assustadora matemática:

72
YEHOSHUAOU JESÚS? 25

IESVS CRISTVS1 FILM DEI


1+ 5 + 100 + 1 + 5+ 1 +50+2+500+1 = 666

Nao está vocé também, sem saber, adorando a BESTA?"


Dito isto, o autor do panfleto procura a causa do alegado fato:
"Quem adulterou e continua adulterando a verdade criminosamen
te? Pon/entura somos nos, urna minoría perseguida e odiada por todos
por seu verdadeiro NOME? Poucos sabem que os exemplares da Biblia
que dispomos sao tradugoes feitas a partir da Vuigata Latina e que no
ano de 383 de nossa era um monge de nome Jerónimo, fiel cumpridor
das ordens do Papa Dámaso, da Igreja Católica romana, foi obrigado a fazer
acréscimos, mudangas e corregóes - veja introdugao a Biblia - ed. Vozes".
"O nome de Jesús foi dado por Roma".

Estas noticias justificam a pergunta:

2. Que dizer?

Proporemos tres observacóes.

2.1. O nome
O debate versa sobre um nome que ocorre nao raro no Antigo Tes
tamento sob duas formas: Yehoshua, modalidade anterior ao exilio (587-
538 a.C.) e Yeshua, após o exilio. Por exemplo, o sumo sacerdote Jesús,
filho de Josedec e companheiro de Zorobabel na restauracáo de Jerusa-
lém, é mencionado como Yehoshua pelos profetas Ageu e Malaquias, e
corrió Yeshua nos livros de Esdras e Neemias. Ainda: o nome de Josué,
filho de Nun, é mencionado como Yehoshua nos livros do Éxodo, dos
Números, do Deuteronómio, de Josué e dos Juízes, e como Yeshua em
Neemias 8,17.
A traducao grega do Antigo Testamento dita "dos LXX" usou a for
ma grega lesous proveniente de Yeshua. Isto explica que os autores do
Novo Testamento, escrevendo em grego, tenham usado a forma lesous
para designar o Salvador da humanidade.
Os manuscritos do Novo Testamento, desde os mais antigos, tém
todos, e táo somente, a forma lesous, nao há indicio algum de mudanga
de nome do Salvador no século IV.
Vé-se assim quáo infundadas sao as alegacóes do panfleto, publi
cado pela Congregacáo das Testemunhas de Yehoshua. Além do mais,
contém incoeréncias e erros, que passamos a apontar.

1 Faltou oHde CHRISTVS (Nota da Redagáo).

73
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

2.2. Incoeréncias e Erros

O autor do panfleto afirma que o nome JESÚS tem origem grega e


paga, mas vai buscar sua etimología na língua hebraica, concluindo que
significa "Deus Cávalo".

Essa etimología é questionável, pois YE pode ser a abreviatura de


JAVE, nao, porém, a de ELOHIM (= DEUS).

A equacáo JESÚS CRISTUS FILM DEI = 666 nao tem sentido pois
quer dizer JESÚS CRISTO DO FILHO DE DEUS - o que nada significa-
deveria ser JESÚS CHRISTUS FILIUS DEI (JESÚS CRISTO, O FILHO
DE DEUS) - o que nao dá o total 666. Na verdade ninguém adora a
Besta quando adora Jesús Cristo.
2.3. Sao Jerónimo e a Biblia

O autor insinúa que foi Sao Jerónimo, por ordem do Papa Sao
Dámaso, quem alterou o nome do Salvador. - Ora é de notar que Sao
Jerónimo é responsável apenas pelo texto latino da Biblia, nao pelo texto
grego. Se, ao traduzir o texto sagrado para o latim, usou de certa liberda
de (liberdade que compete ao tradutor se ele a julga necessária para dar
maior clareza ao texto), nunca o fez de modo a descaracterizar o texto
sagrado, alterando o seu sentido.

É absolutamente falso dizer que o texto bíblico vernáculo é tradu-


cáo da Vulgata Latina; temos varias traducóes diretas dos origináis gre-
gos e hebraico, munidas de notas de rodapé que expiicam os versículos
mais difíceis.

3. Conclusáo

O nome JESÚS vem do hebraico YESHUA; nao é devido a alguma


modificacáo do texto bíblico. Significa JAVÉ SALVA, e nao DEUS CÁVA
LO. Mais urna vez se evidencia como sao superficiais ou mesmo tenden
ciosas as críticas protestantes aos irmaos católicos; dir-se-ia que Ihes
interessa mais denegrir e combater a Santa Máe Igreja do que procurar a
Verdade. Com panfletos de linguagem mal redigida e erros de portugués
investem contra a Igreja. Será por amor a Cristo?

As observares filológicas deste artigo foram extraídas do verbete


lesous da autoría de Willhelm Foerster publicado no Grande Lessico
del Nuovo Testamento organizado por G. Kittel e Q Fríedrich vol IV dd
909-934. '

MAIS UMA...

A Igreja Betel Remanescente tem propagado um panfleto que tam-


bém tenta explanar o nome de JESÚS. Eis os seus principáis dizeres
(sem retoques de grafía):

74
YEHOSHUA OU JESÚS? 27

"EXPULSE O PAGANISMO DE SUA VIDA

A origem do nome do pai e do filho, é Emanuel Isaías 7,14 e 8,8 Mt 1,23.


Antigamente o nome nao era Jesús Cristo e sim ZESVS CRISTVS,
tendo íigagáo com Zeus, ou Júpiter para os romanos.

Os gregos escreveram o nome IESOUS, que também foi formado


por duas divindades pagas: 10 mais ZEUS = 10 a amada de ZEUS. Por
que tanto paganismo? Os bispos "romanos" fizeram isso para agradar os
pagaos atraí-los para a "igreja de Roma". Sem falar que o famoso nome
de Jesús em hebraico tem um significado blasfemo: Je = (Ye) = Deus e a
palavra SUS = "cávalo", assim forma a palavra: Deus é cávalo. Lembre;
Está escrito: "Foi-lhe dada boca que profería arrogancias e blasfemias...
E abriu a boca... para Ihe difamar o NOME..." (Apo. 13:5-6).... Pergunta-
mos: Qual é o "nome" adorado por todos, tanto católicos romanos, evan
gélicos, espiritas, pentecostais, saravás, etc.? Todos a urna voz invo-
cam o falso nome, o nome Jesús que teve origem em deuses pagaos,
agora se vocé for urna alma sincera leia na sua Biblia Éxodo 23:13 e
decida. Qual deles? O NOME SAGRADO EMANUEL, ou o "nome de
outros deuses" contidos no nome de Jesús?"
Que dizer?

Para tais alegacoes vale a resposta já atrás explanada. O argu


mento decisivo é o dos manuscritos bíblicos e nao bíblicos da antigüida-
de; nenhum dá margem as etimologías dos irmios separados. O nome
JESÚS é a auténtica fórmula portuguesa correspondente ao nome
hebraico do Salvador.

Os polemistas lancam muita areia nos olhos dos leitores despreve


nidos, embora falem sem provar o que dizem, ou em total ignorancia da
materia abordada.

CARO(A) AMIGO(A),
A IGREJA CATÓLICA LHE OFERECE UM APROFUNDAMENTO
DE SUA MENSAGEM ATRAVÉS DAS PUBLICACÓES DA ESCOLA
"MATER ECCLESIAE": 22 CURSOS POR CORRESPONDENCIA, DOS
QUAIS O MAIS RECENTE É O DE DIREITO CANÓNICO, E 28 OPÚSCU
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MULHER BENDITA E CONTROVERTIDA", "INQUISICAO", "AS CRUZA
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75
Perscrutando o passado:

DIACONISAS: QUEM ERAM?

Em síntese: Sao Paulo e antigos documentos da Igreja referem-se


a diaconisas. Eram mulheres de conduta irrepreensfvel chamadas a Par
ticipar dos servigos que a Igreja prestava a pessoas do sexo femin'ino,
principalmente por ocasiáo do Batismo (ministrado por imersáo). Recebi-
am o seu ministerio pela imposigáo das máos do Bispo, que nao conferia
caráter sacramental. - Com a rarefagáo do Batismo de adultos, foi-se
extinguindo a figura da diaconisa na Igreja a partir do sáculo VI.
* * *

Pensando na promocáo da mulher em nossos días, há quem pro-


ponha seja ela chamada ao diaconato, como parece ter acontecido nos
primeiros séculos da Igreja, quando havia diaconisas. Torna-se assim
necessário investigar quem eram as diaconisas da antigüidade.
1. Fundamentacáo bíblica

É Sao Paulo quem se refere as diaconisas em tres passagens:


1.1. Rm 16,1

O Apostólo está em Corinto, onde escreve urna carta que a diaconisa


Febe, da vizinha cidade de Cencréia, deverá levar a Roma. Recomenda-
a nestes termos:

"Recomendo-vos Febe, nossa Irma, diaconisa da igreja de Cencréia,


para que a recebáis no Senhor de modo digno, como convém a santos e
Ihe assistais em tudo de que precisar, porque também ela ajudou a mui-
tos, a mim inclusive".

O apostólo náofornece indicacáo alguma sobre o ministerio diaconal


de Febe.

1.2.1Tm3,11

"Também as mulheres devem ser respeitáveis, nao maledicentes,


sobrias, fiéis em todas as coisas".

O contexto mostra que Sao Paulo nao fala das mulheres em geral,
mas da categoría das diaconisas, que vém a propósito na exortacaó
dirigida aos diáconos. Há quem prefira dizer que se trata ai das esposas
dos diáconos - o que parece pouco provável, pois, em tal caso, o Apostó
lo teria escrito: "As suas esposas..."

76
DIACONISAS: QUEM ERAM? 29

1.3.1Tm5,9-11

"Urna mulhersó será inscrita na categoría das viúvas com nao me


nos de sessenta anos, se tiversido esposa de um só marido, se tiverem
seu favor o testemunho de suas boas obras, criado os filhos, sido hospi-
taleira, lavado os pés dos santos, socorrido os atribulados, aplicada a
toda obra boa. Rejeita as viúvas maisjovens; quando os seus desejos se
afastam do Cristo, querem casarse, tornándose censuráveis por terem
rompido o seu primeiro compromisso".

Pergunta-se se tais viúvas eram diaconisas. A resposta mais pro-


vável distingue-as; ao lado das diaconisas (para as quais nao havia limite
de idade), estariam viúvas de boa conduta auxiliando a Igreja em fun-
cóes diversas.

Na tradicáo encontram-se as duas interpretares: ora viúvas e


diaconisas sao identificadas entre si, ora distintas urnas das outras, sen
do mais freqüente esta última sentenca. Assim, por exemplo, se le ñas
Constituicóes Apostólicas VI 17, obra datada do século IV:
"Seja assumida como diaconisa urna virgempura ouao menos urna
viúva fiel, honrada, que se tenha casado urna só vez".
Ao passo que a diaconisa é instituida pela imposicáo das máos, tal
gesto nao se aplica as viúvas; cf. ibid. VIII 24.

O apócrifo Testamento de Nosso Senhor Jesús Cristo também


distingue das diaconisas as viúvas: estas recebem a béncáo do Bispo e
as incumbencias de louvar a Deus nos sábados e domingos, ñas festas
da Epifanía, da Páscoa e Pentecostés, instruir as catecúmenas, visitar as
enfermas, ungir as mulheres por ocasiáo do seu Batismo. - Para as
diaconisas, resta como principal funcáo levar a S. Eucaristía aos enfer
mos.

Sao estes traeos, entre outros, que levam a distinguir das diaconisas
as viúvas.

2. A Tradicáo

O mais antigo testemunho é o de Plínio o Jovem, govemador da


Bitínia (Asia Menor), que, tendo recebido a ordem de prender os cristáos,
em 112 escrevia ao imperador Trajano ter submetido á tortura duas cris
tas honradas com o título de ministras (ministrae).
Cinqüenta anos mais tarde terá escrito o Papa Sotero (166-175)
aos Bispos da Italia:

"Foi comunicado a esta Sé Apostólica que algumas mulheres con


sagradas a Deus e religiosas tomam a liberdade, ñas vossas regióes, de

77
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

tocar nos vasos sagrados e ñas santas palas e de incensar o altar ao


redor. Tal prática abusiva e digna de censura merece a rejeigáo de todo
homem sabio. Conseqüentemente, no exercício da autoridade desta Santa
Sé ordenamos que essas coisas sejam radicalmente supressas dentro
de um prazo mínimo e, a fim de que nao se repitam, mandamos que quanto
antes sejam banidas das vossas provincias" (citado pelo pseudo-lsidoro,
Coletánea de leis do século IV).

3. Sacramento: sim ou nao?

Para responderá tal pergunta, examinaremos a prece de investidura


de urna diaconisa conforme as Constituicdes Apostólicas VIII 19s:
"Bispo, tu Ihe imporás as máos com a assisténcia do presbítero,
dos diáconos e das diaconisas e dirás: Deus eterno, Pai de Nosso Se-
nhor Jesús Cristo, Criador do homem e da mulher, Vos que enchestes
com vosso espirito María, Débora, Ana e Holda, Vos que nao quisestes
deixar de fazer que o vosso Filho único nascesse de urna mulher, Vos
que no tabernáculo da Manga e no templo estabelecestes muiheres como
guardias de vossas santas portas, langai agora um olhar sobre vossa
serva que aqui está, destinada ao diaconato. Dai-lhe o Espirito Santo,
purificai-a de toda mancha corporal e espiritual, a fim de que exerga dig
namente o oficio que Ihe será confiado, para a gloria vossa e o louvordo
vosso Cristo, com o qual e com o Espirito Santo Vos seja dada toda hon
ra e adoragáo, santamente pelos sáculos sem fim".

Neste texto é importante a referencia á imposicáo das máos. Esta


vem a ser um gesto polivalente, podendo significar transmissáo de gra-
ca, de faculdades, de saúde, de béncáo... ou a investidura de urna
diaconisa nao tem valor sacramental neste caso, pois nunca na Liturgia e
no Direito antigos a diaconisa foi equiparada ao diácono; ao contrario
sempre Ihe foram vedadas as funcoes do diácono e do presbítero, ape-
sar das investidas para exercé-las. Observa S. Epifánio (t 403):

"Se no Novo Testamento as muiheres fossem chamadas a exercer


o sacerdocio ou algum outro ministerio canónico, a María deveria tersido
confiado, emprimeiro lugar, o ministerio sacerdotal; Deus, porém, dispós
as coisas diversamente; nao Ihe conferíu nem mesmo a faculdade de
batizar. Quanto á categoría das diaconisas, existente na Igreja, nao foi
destinada a cumprir fungóes sacerdotais ou outras similares. As diaconisas
sao chamadas a salvaguardar a decencia que se impoe no tocante ao
sexo feminino, seja cooperando na administragáo do sacramento do Ba-
tismo, seja examinando as muiheres atetadas por alguma enfermidade
ou vitimas de violencia, seja intervindo todas as vezes que se trate de
descobrir o corpo de outras muiheres a fim de que o desnudamento nao
78
DIACONISAS: QUEM ERAM? 31

seja exposto aos olhares dos homens que executam as santas cerimóni-
as, mas seja considerado únicamente pelo olhar das diaconisas"
(Panarion LXXIX 3).

Como se vé, S. Epifánio, representando a tradicáo, vé ñas


diaconisas auxiliares no trato pastoral das mulheres. Tal ministerio fica
portanto claramente distinto do ministerio dos diáconos.
Ademáis é de notar: o próprio Sao Paulo estima e recomenda a
diaconisa Febe (Rm 16, 1), mas nao queria que a mulher falasse em
público na igreja (o que é incompatível com o diaconato propriamente
dito). Veri Cor 14, 34s:

"Como acontece em todas as assembléias dos Santos, estejam


caladas as mulheres na Igreja, pois nao Ihes é permitido tomar a palavra.
Devem ficar submissas, como diz também a Lei. Se desejam instruirse
sobre algum ponto, interroguem os maridos em casa; nao é conveniente
que urna mulher fale ñas assembléias".

Em 1Tm 2,11s volta a advertencia:

"Durante a instrugao a mulher conserve o silencio com toda sub-


missáo. Nao permito que a mulher ensine ou domine o homem".
Quem escreveu tais sentencas, nao teria tolerado ver urna diaconisa
pregar o Evangelho. Nao há dúvida, as restri$óes feitas pelo Apostólo as
mulheres sao a expressáo de urna cultura já ultrapassada; hoje em dia
nao tém mais vigencia; como quer que seja, contribuem para corroborar
a interpretado que vé, antes do mais, ñas diaconisas colaboradoras no
servico pastoral as mulheres.

Nem por isto a mulher é menos apreciada do que o homem por


parte da Igreja. Tenham-se em vista as palavras do Papa Joáo Paulo II
em sua Carta Apostólica sobre a Dignidade da Mulher n9 26s:
"É de notar que Cristo só chamou homens para serem seus Apos
tólos. Fazendo isto, o Senhor agiu de maneira livre e soberana; nao se
creía que Jesús, assim procedendo, tenha apenas procurado conformar
se á mentalidade discriminatoria dominante em sua época; Ele nao fazia
accepgáo depessoas (cf. Mt22, 16). Em conseqüéncia somente os doze
Apostólos receberam o mandato: 'Fazei isto em memoria de mim' (Le 22,
19- 1Cor 11, 24). Somente eles na tarde da Ressurreigao receberam o
Espirito Santo para perdoar os pecados (cf. Jo 20, 22s). Daí se pode
deduzir que o sacramento da Ordem, que perpetua a agio redentora de
Cristo mediante seus ministros, é destinado aos homens apenas, como
alias já observou a Congregagáo para a Doutrina da Fé na Declaragáo
ínter Insigniores de 15/10/76.

79
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

O Dom da Esposa

A muiher participa do sacerdocio universal de todos os fiéis, deriva


do dos sacramentos do Batismo e da Crisma. Assim todos tém parte na
grande oblagao que Cristo fez de Si mesmo ao Pai no Calvario e que Ele
perpetua na Eucaristía.

Na Igreja o que valoriza alguém nao é o seu grau hierárquico (em-


bora tenha significado importante), mas é a santidade. O Concilio do
Vaticano II recordou que na linha da santidade precisamente a muiher
María de Mazaré é figura da Igreja. Contemporáneamente a María e de-
pois déla, numerosas muiheres - ao lado dos homens - se destacaram
por sua santidade ou por seu amor esponsal a Cristo. Tais foram, entre
outras: as muiheres que acompanhavam Jesús durante a sua vida mortal
e estiveram presentes no Cenáculo de Pentecostés (cf. Le 8, 1-3; At 1,
14; 2, 1-3); as muiheres que tiveram parte na vida da Igreja nascente (a
diaconisa Febe, de Céncreas, cf. Rm 16, 1; Prisca, cf. 2Tm 4, 19; Evódia
e Síntique, cf. Fl 4, 2; María, Trífena, Pérside, Trifosa, cf. Rm 16, 6-12)...
Em todas as épocas houve muiheres perfeitas (Pr31, 10), que corajosa
mente participaram da missáo da Igreja: Mónica, máe de Agostinho;
Macrina, Olga de Kiev, Matilde da Toscana, Edviges da Silesia, Edviges
de Cracovia, Elisabete da Turíngia, Brígida da Suécia, Joana d'Arc, Rosa
de Lima, Elisabete Seaton, Mary Ward... aíém das doutoras Santa Catarina
de Sena, Santa Teresa de Ávila e Santa Teresinha de Lisieux.
Também em nossos dias a Igreja nao cessa de enriquecerse com
o testemunho de numerosas muiheres que realizam a sua vocagáo a san
tidade. As muiheres santas sao urna personificagáo do ideal feminino e
um modelo para todos os cristáos".

Em poucas palavras: o que dá valor a alguém nao é o cargo que


ocupa, mas a santidade de vida que essa pessoa leva.

Em suma, tendo em vista ainda outros documentos da Tradicáo,


pode-se dizer que as diaconisas exerciam funcoes concernentes as
muiheres, especialmente por ocasiáo do Batismo, que era ministrado
por imersáo; era-lhes atribuido igualmente o encargo de atender aos
pobres, aos peregrinos e aos enfermos, cujas casas elas visitavam;
preparavam outrossim os cadáveres de muiheres para o sepultamen-
to. Embora muito próximas dos diáconos, eram subordinadas a estes;
só podiam agir com a aprovacao destes. Ñas Constituicoes Apostó
licas VIII 28 lé-se:

"A diaconisa nao dá a béngáo, nem faz o que fazem os presbíteros


e os diáconos; apenas ela guarda as portas e, quando as muiheres sao
balizadas, ela assessora o sacerdote, tendo em vista a decencia".
80
DIACONISAS: QUEM ERAM? _33

Registraram-se no decorrer dos tempos tentativas de burlar tais


normas. Daí os numerosos decretos pontificios e conciliares que proí-
bem as mulheres fazer homilías no culto sagrado, o servico do altar, a
administracao do sacramento do Batismo. Ver Didascalia III 5, 6 (obra
do inicio do século III).
As diaconisas eram solteiras ou viúvas; nao Ihes era lícito casar
se.

Na medida em que foi declinando o costume de batizar adultos, foi


também perdendo sua razáo de ser o diaconato feminino; a partir do
secuto VI no Ocidente foi-se extinguindo tal instituicáo; no Oriente a
extincáo foi mais lenta visto que ai as diaconisas gozavam de grande
estima principalmente em Constantinopla. Famoso é o caso de Olimpía
da no século IV: viúva aos dezoito anos de idade, recusou todas as pro
postas do imperador Teodósio; tornou-se amiga de Sao Joao Crisóstomo,
que ela muito ajudou, compartilhando suas labutas e distribuindo aos
pobres da diocese elevada quantia de dinheiro; foi-lhe solidaria ñas tribu-
lacóes aceitando ser perseguida com ele; reconfortou-o no exilio, vmdo
a falecer em 410. discípulas e colaboradoras de Sao Joáo Crisóstomo
foram também as diaconisas Prócula e Pentádia, a quem ele dingiu van
as cartas. Sejam citadas ainda Anastácia, que manteve intercambio
epistolar com o Patriarca Severo de Antioquia; Macrina, irmá de Sao Ba
silio e Sao Gregorio de Nissa (muiher tida como muito bela, que recusou
quanto se Ihe oferecia, para dedicar-se totalmente ao servico do Senhor);
tinha urna amiga chamada Lampádia, que Ihe seguiu as pegadas. No
século VI foi muito estimada a diaconisa Basilina.
Acontecía que as esposas de altos dignitários eclesiásticos eram
obrigadas pelos cánones sagrados a receber o diaconato ou, ao menos,
a nao contrair novas nupcias em caso de viuvez (recebiam entao o
diaconato); tal foi o caso de Teosébia, esposa de S. Gregorio de Nissa
(que se casara com ela antes de receber o presbiterato).
Últimamente tém-se realizado Cursos destinados a preparar mu
lheres para urna eventual ordenacáo diaconal. - A Santa Sé, porém, de-
clarou nao terem propósito tais Cursos, visto que a Igreja nao pensa em
satisfazer a tal objetivo.

REENCARNApÁO
CD SOBRE REENCARNACÁO EDITADO PELA ESCOLA "MATER
ECCLESIAE" PODE FALAR ALTO A QUEM DESEJA REFLETIR SO
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81
Brincadeira?

"ESCOLHA SUAIGREJA..."

Em síntese: O sociólogo Gilson Gondim comenta a multiplicagáo


de "Igrejas" protestantes, mostrando a manipulagao do conceito de Igreja
por parte de empreendedores que chegam a vender igrejas com seus
membros. As novas comunidades eclesiais tém nomes fantasiosos que
iiustram o vilipendio da nogáo de Igreja.
* * *

O JORNAL DA PARAÍBA, edicáo de 11/10/03, publicou significati


vo artigo do sociólogo Gilson Gondim, que vai, a seguir, transcrito e co
mentado:

"Escolha sua Igreja. Ou funde uma


O Brasil tem, segundo o Censo, cerca de 26 milhóes de evangéli
cos. A revista 'Eclésia', em sua edigáo na91, informa que o número medio
de membros por denominagáo é de aproximadamente 1.500. Isto signifi
ca que há no Brasil cerca de 17.000 (isso mesmo: dezessete mil) denomi-
nagóes evangélicas. O número de templos é calculado pela revista em
150.000, o que dá uma media em torno de nove templos por igreja Como
algumas igrejas tém centenas ou milhares de templos, a grande maioria
tem apenas um ou dois.

É extremamente fácil fundar uma igreja poraqui. Basta formar uma


diretona composta de oitopessoas, fazeruma reuniáopara aprovara ata
de fundagáo, elaborar o estatuto e registrá-lo em cartório. O processo
todo custa 250 reais, mais o que se pagar ao contador que cuidar da
papelada. Uma parte muito importante do empreendimento é a escolha
do nome. Alguns empreendedores evangélicos escolhem nomes
grandiloqüentes e pretensiosos. Outros incluem palavras consagradas
por denominagóes já estabelecidas. Os mais atentos fazem as duas coi
sas. E o caso da Igreja Universal da Assembléia dos Santos, que pega
uma carona nos nomes da pentecostal Assembléia de Deus e da
neopentecostal Igreja Universal do Reino de Deus. A pretensáo fica por
conta do adjetivo "Universal" e do substantivo "Santos". E assim vao se
fundando cinco igrejas por semana, somente no Estado do Rio de Ja
neiro.

Algumas igrejas fazem uma salada teológica. É o caso da Igreja


Evangélica Mugulmana Javé É Pai e da Igreja Evangélica Espirita Nacio-
82
"ESCOLHA SUAIGREJA..." 35

nal Se o fundador desiste do negocio, pode vender a igreja. O jornal


carioca 'Balcáo', que publica anuncios vendendo de varas de pesca a
livros raros, publicou um anuncio que oferecia urna igreja com predio
próprio, movéis e sistema de som completo, além de 'cerca de 200 mem-
bros'. Estava vendendo até os membros da congregagáo! Muitas das 17
mil igrejas tém nomes esquisitos. O professor Paulo Donizéti Siepierski,
membro da Associagáo Brasileira da Historia das Religióes, explica que
a criatividade dos nomes é fundamental para o sucesso do empreendi-
mento: 'A concurrencia no mercado religioso tornou-se bastante acirrada
nos últimos anos. A necessidade de se diferenciar passou a ser imperati
va'.
Se vocé nao quer fundar urna igreja nova e prefere aderir a urna já
existente, eis algumas délas:

Igreja Evangélica Pentecostal Cuspe de Cristo;


Associagáo Evangélica Fiel Até Debaixo D'Água;
Igreja Evangélica Abominagáo á Vida Torta;

Igreja Bola de Nevé;

Cruzada Evangélica do Pastor Waldevino Coelho, A Sumidade;


Igreja Pentecostal do Pastor Sassá;

Igreja Evangélica Adáo é o Homem;

Igreja da Pomba Branca;

Igreja do Amor Maior que Outra Forga;

Igreja Evangélica Batista Barranco Sagrado;

Igreja Pentecostal Jesús Vem, Vocé Fica;


Igreja Evangélica Pentecostal A Última Embarcagáo Para Cristo;
Igreja Batista A Paz do Senhor e Anti-Globo;

Igreja Cristo é Show...".


QUE DIZER?

Abstracao feita dos possíveis exageras nos cálculos do artigo, este


nao deixa de refletir urna dolorosa realidade: a comercializacáo dos valo
res sagrados. Pode-se crer que muitos daqueles que fundam urna nova
¡greja, estejam de boa fé, nao percebendo o mal que cometem. Tal é o
subjetivismo (alias patrocinado por Lutero com a sua tese do "livre exa-
me da Biblia") impregnado nesses irmáos que concebem a Igreja como

83
5Í» "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

um clube ou um partido político, que cada interessado pode fundar e


vender de acordó com as suas conveniencias. As denominacóes
recenseadas por Gilson Gondim tém seu estilo popular, semelhante ao
de urna brincadeira.

Na verdade, só existe urna igreja fundada por Cristo: aquela que


Ele construiu sobre a Rocha e confiou ao pastoreio de Pedro e seus
sucessores. Essa Igreja é sacramento ou urna realidade divino-humana;
ela de certo modo continua o misterio da Encarnacáo; o Filho de Deus aí
se recobre de fragilidade humana... fragilidade porém que nao impede a
sua acáo santificadora em favor de quantos O procuram através dos véus
humanos. Vé-se, pois que ninguém pode fundar urna igreja nova; Igreja
nao é clube esportivo nem partido político.

Bio-Saúde, pelo Pe. Renato Roque Barth S. J. ABRASP, C P.


10270, 78050-970, Cuiabá (MT), 185 x 210 mm, 255 pp.

O livro propóe um método bioenergético de tratamento natural, aces-


sível as classes mais pobres da populagáo, cujas carencias sao intensa
mente consideradas pelo autor. Este é um sacerdote jesuíta, que conce-
beu o método bioenergético em colaboragáo com médicos capacitados.
Muito insiste sobre alimentagáo sadia e higiene em geral. Um trago que
chama a atengáo de modo particular, é a recomendagáo da urinoterapia
ou a ingestáo de urina. - O autor nao mistura religiáo e medicina; quando
se refere a temas religiosos, propóe a reta fé, de modo que nada se pode
opora Bio-Saúde da parte da doutrina católica; rejeite-se, porém, a trilogía
"corpo, alma e espirito" imputada ao ser humano; na verdade, o homem
consta apenas de corpo material e alma espiritual; nao há intermediario
entre materia e espirito. Pelos frutos se conhece a árvore; a experiencia
dirá se o método Bio-Saúde é válido ou nao. - Á guisa de ilustragao,
seguem-se alguns trechos significativos da obra:

"A tal insalubridade geral do corpo se deve tanto ao mau funciona-


mento dos próprios órgáos como ao tipo de alimentagáo que é ingerido.
Diz-se que o peixe morre pela boca. Mas muitas pessoas humanas tam-
bém. Os alimentos que mais deixam restos nao digeridos sao a carne e o
agúcar branco. Mas há outros mais...

A quase totatidade das criangas nasce com as defesas aitas, devi-


do principalmente á urina que tomam no ventre materno. Falam'os da
urina própria do feto que se mistura com o líquido envolvente e forma o
líquido amniótico. Nos últimos meses de gestagao o feto produz meio litro
de urina diariamente e quase toma outro tanto dessa urina.
Uns 95% do líquido amniótico'no final da gestagao iá sao urina do
feto" (p. 23).

84
Na ordem do dia:

YOGA: QUE É?

Em síntese: Faz-se necessário distinguir, na Yoga, filosofía ou


cosmovisao, de um lado, e práticas físicas e dietéticas, de outro lado.
Aqueta é panteísta e, como tal incorre na condenagáo nao só da fé, mas
também da razáo, ¡á que o panteísmo identifica entre si a Divindade, o
mundo e o homem. Todavía os exercícios físicos e dietéticos da Yoga sao
compatíveis com a fé católica, desde que o iogui nao assimile as proposi-
goes panteístas que tais exercícios tém em sua origem.
* * *

Vém sendo fundadas no Brasil varias Academias de Yoga - o que


tem despertado no público o desejo de mais conhecer o assunto. A isto
atenderemos, propondo, após breve Introducáo lingüística, as grandes
llnhas da filosofía yogui, e a posicáo da Moral crista frente a tal corrente.
Introducto

Etimológicamente o termo yoga, de origem hindú, se prende aos


nossos vocábulos "jugo, conjugal, juntar"; exprime a idéia de "atrelar, unir,
ligar", á semelhanca talvez do termo "re-ligiáo" (que alguns etimologistas
derivam de "re-ligare"). A juncáo ou uniáo que a Yoga designa, é a uniáo
do homem com Deus ou, para falarmos diretamente na terminología
hindúísta a uniáo do homem aparente, tal como o conhecemos, com a
realidade profunda e perfeita que se acha latente dentro de cada individuo.
Derivadamente yoga significa os métodos recomendados pelos
mestres para se atingir tal objetivo. Essas táticas, por variadas que se-
jam, visam a dominar as energías do corpo e da alma, mobilizando-as
todas a fim de que, com o máximo de eficacia e proveito, a personalidade
se desdobre e realize ou "divinize".
A técnica da Yoga, hoje disseminada em varios países do Ociden-
te é heranca recebida da antiga civilizacio hindú, a qual conta possivel-
mente cinco milenios de existencia. Sendo assim, interessa-nos primei-
ramente verificar as notas características da Yoga hindú, para depois
examinar em que medida sao assimiláveis ao Cristianismo.
1. A Yoga hindú

Distinguiremos entre a filosofía e a prática professadas pela Yoga


hindú.

85
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

1. A filosofía: A Yoga, em sua forma originaria, é inspirada pelas


principáis teses da mística hindú, teses que será preciso recordar breve
mente a fim de se poder apreciar a mensagem yoguista. Podem-se resu
mir nos seguintes itens:

1) O homem que tenha a uniáo com Deus, nao procure fora ou


ácima de si uma Realidade Primeira, que seja objeto de contemplacao
ou modelo a imitar. É, ao contrario, dentro de si que o individuo deve
procurar penetrar; ele é, em estado latente, essa realidade mesma que
tanta gente procura fora de si. Em outros termos: o espirito humano, cujas
virtualidades a Yoga visa cultivar, é parte do Espirito Universal ou do Prin
cipio Divino (divindade). Nao há distincáo essencial entre espirito huma
no e espirito divino, nem entre o mundo e a Divindade; o homem é cente-
Iha emanada do Fogo Divino.

2) Fora do homem, só existe um mundo de ilusóes ou de realida


des meramente aparentes. As realidades externas, na medida em que
prendem a atencáo do individuo (o que se dá tao freqüentemente), impe-
dem-no de tomar conhecimento do seu verdadeiro Eu. Daí a tendencia
fundamental de todo yogui (assim se chama o praticante da Yoga) a eva-
dir-se das coisas exteriores, visíveis, para concentrar-se em seu íntimo*
o yogui nao visa de modo nenhum ao "éxtase", ou seja, um "transportar
se" mental para um Objeto maior e mais belo (de que falam as outras
escolas de mística), mas, ao contrario, procura um estado de "énstase"
ou de entrada total em si mesmo.

Em suma, o yogui hindú tende á sua consumacáo primeramente


por vía de negacáo: nega o universo, que para ele nao tem sentido ou é
mera ilusáo; nega o corpo, que só proporciona prazeres ficticios ou au
tentico sofrimento; nega também a alma ou o "Eu que pensa e age" com
a sua consciéncia habitual... Executadas conseqüentemente, essas ne-
gacóes o devem levar ao dominio sobre o mundo exterior e á plena liber-
dade interior; o homem perfeito nao é mais afetado pela percepcáo das
coisas^sensíveis nem pela recordacáo das mesmas; ele atinge a cente-
Iha divina que, colocada no seu íntimo, constituí o seu verdadeiro Eu.
2. A prática: Movido por este ideal, o yogui lanca máo de recursos
técnicos para conseguir o seu fim, recursos entre os quais ocupa luaar
preponderante a meditacáo.

_ Meditacáo, para o homem ocidental, significa, antes do mais, refle-


xao ou raciocinio discursivo em torno de determinado tema; envolve o
trabalho da inteligencia, da fantasía, da memoria e, por fim, o da vontade
Nao é assim, porém, que o yogui hindú concebe meditacáo: esta vem a
ser, para ele, a aplicacáo silenciosa das faculdades da alma a determina
do objeto; nesse exercício, nao há raciocinio discursivo, pois justamente
86
YOGA: QUE É? 39

o yogui procura desembaracar-se da multiplicidade dos seres,


multiplicidade envolvida em todo raciocinio; procura esvaziar a mente de
todos os seus conceitos habituáis, déla fazendo uma folha branca ou
uma tábua rasa. Assim é que a alma se emancipa do rebullo do mundo
sensível, entra em repouso ou no gozo da uniáo com a Alma Universal;
destarte, ainda se pode dizer, o espirito do homem volta ao seu principio,
identifica-se com a Divindade.

Um passo adiante: a fim de poder meditar com todo o proveito, o


yogui se esforca por tornar-se senhor de seu corpo e de todos os seus
movimentos naturais. Dois sao os tipos de instrumentos mediante os quais
ele procura chegar a essa soberanía:
a) a abstinencia e as virtudes conexas. Base imprescindível do
itinerario yoguista é a abstinencia (yama) em seus varios aspectos, tais
como: a náo-violéncia (o yogui abstem-se de qualquer pensamento, pa-
lavra ou acao que possa acarretar sofrimento a algum ser vivo); a veraci-
dade (ou fuga de toda mentira e hipocrisia); a castidade (o orante procura
evitar mesmo as emocóes eróticas); a pobreza e o respeito dos bens
alheios.

Essa múltipla abstinencia, porém, tem que ser fecundada pela prá-
tica de cinco virtudes positivas (Niyáma): 1) a pureza (pureza externa e
pureza interna ou de coracáo); 2) o contentamento com tudo que aconte-
ca, de agradável ou desagradável, na vida cotidiana; 3) a austeridade de
vida, que contém o individuo constantemente dentro de certas normas;
4) o progressivo conhecimento de si mesmo; 5) a adesáo ou o abandono
de si á Divindade.

A outra categoría de instrumentos favoráveis á meditacao diz res


peito mais diretamente ao corpo; é
b) a disciplina das atitudes somáticas (Asanas). Há reconheci-
damente certas posicóes do corpo que estimulam o metabolismo, ativam
a circulacáo do sangue, fomentam o funcionamento das glándulas e acal-
mam os ñervos, proporcionando conseqüentemente ao espirito a paz e o
bem-estar oportunos para a concentracáo; toda a energía espiritual la
tente no íntimo do individuo é assim mobilizada. O yogui hindú pratíca
habitualmente 84 dessas posicóes de meditacao, sendo vinte délas aces-
síveis a qualquer pessoa dotada de forca de vontade (a título de exem-
plos, vao aqui enumeradas, segundo os seus nomes característicos, as
posifóes "da grande saudacáo, da árvore, da serpente que se defende,
do delfim, do arco teso, do grande derrubamento, da folha dobrada, da
candeia, do carro, do poste...").
Aínda entre os meios de disciplina do corpo, ocupa lugar de relevo
especial na Yoga o controle da respirado (pránáyama).

87
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

Os hindus valorizam de modo especial o papel que toca á respira


cáo nos fenómenos vitáis: nao há dúvida, a respiracáo influencia decisi
vamente o funcionamento dos órgaos, como por sua vez este repercute
decisivamente sobre aquela; note-se, por exemplo, como os estados
emocionáis (de temor, aflicáo, alegría, ira, vergonha...) alteram o ritmo da
respiracáo.

O yogui procura colocar sob o controle da vontade o próprio reflexo


automático da respiracáo; esta se torna entáo novo fator de canalizacáo
das energias do individuo; nenhum orante hindú entra em meditacáo sem
ter previamente purificado os cañáis do corpo e despertado o espirito
mediante respiracáo profunda e cadenciada; durante muito tempo mes-
mo os hindus guardavam o segredo a respeito de certas receitas respira
torias.

Voltando as posturas do corpo, notaremos que a mais estimada


pela Yoga é a chamada "postura do herói" ou "postura perfeita" ou ainda
"lótus"; o orante se coloca entáo de cócoras, e concentra seu olhar em
determinado ponto, como seja talvez a ponta do próprio nariz; pode tam-
bém acontecer que feche os olhos e volte sua mente para um dos cen
tros vitáis importantes do organismo, isto é, para o coracáo, considerado
sede das emogóes; a testa, tida como sede das faculdades intelectuais;
o ápice da cabeca, etc. É o gurú ou mestre espiritual quem deve esco-
Iher para o discípulo o "lugar" mais oportuno em que ele há de concentrar
o seu olhar; o mesmo mestre também Ihe indica o objeto da meditacáo;
urna árvore, urna fruta, urna paisagem, ou entáo a figura de um dos deu-
ses prediletos. Este objeto, o yogui o sitúa mentalmente no "lugar" da
concentracáo (coracáo, testa...) e ai o contempla com todos os respecti
vos pormenores. Aos poucos, dizem os mestres, tudo que há de sensível
na imagem desaparece.e o yogui entra na contemplacáo de urna só idéia,
cada vez mais pura, encarnada em tal objeto sensível: a idéia da bonda-
de, a do poder, a da forca, a do amor... Nao será preciso acrescentar que,
assim contemplando, o orante se vai aproximando do verdadeiro Eu.

Para fixar a mente, outro método também se recomenda: é o japa


ou a repeticáo continuada de um nome santo, de urna prece, de um
versículo dos livros sagrados ("Eu sou Brama, Eu sou a Consciéncia
mesma, Eu sou Isso..."). Essas palavras, repercutindo no ouvido, pene-
tram até o subconsciente da alma, onde fazem surgir a Divindade... ou,
em outros termos, essas palavras provocam urna especie de obsessáo,
que elimina da mente toda idéia profana.

Numerosas sao as combinacoes possíveis de exercícios físicos


ensinados pela Yoga; o uso desses métodos está condicionado pela ín
dole do aprendiz (em uns predomina a atividade intelectual consciente,

88
YOGA: QUE É? 41

em outros a necessidade do trabalho e a dedicado, em outros a sede de


ascese ou disciplina, etc.); de acordó com essas diversas categorías de
temperamento, distinguem-se diversos métodos ou correntes da Yoga: a
Yoga do Conhecimento, a da Devocáo, a da Acáo, a Yoga Regia, etc.
Em resumo, poderíamos exprimir a mensagem da Yoga hindú ao
mundo contemporáneo nos seguintes termos:

"A arte do yogui é a de se estabelecer no silencio absoluto, criar em


si como que urna grande ausencia de pensamentos e ilusóes, afastar
tudo esquecer tudo. excetuada esta idéia - nó vital do sincretismo hindú:
o verdadeiro Eu do homem é divino; esse Eu é Deus, o resto e silencio
(Yogin du Christ, La voie du silence 1956, 44).
Essas nocóes já sao suficientes para se tentar definir a atitude do
cristáo perante a mística yoguista.
2. O cristáo e a Yoga

A fim de se avaliar devidamente a mensagem da Yoga, torna-se


necessário distinguir entre a filosofía pressuposta pelos mestres hmdus
e os métodos que eles ensinam.
1 A filosofia ou a mentalidade dos documentos fundamentáis da
Yoga evidencia-se incompatível nao somente com a Revelacáo crista,
mas também com a sá razáo. Seja lícito tecer em torno de tal mentalida
de as seguintes considerares:
a) o panteísmo é doutrina comum da religiosidade hindú e, por con-
seguinte, também da Yoga oriental; é porque julga ser Deus ou parcela
de Deus que o yogui tende á uniáo com a Divindade, procurando o seu
auténtico Eu no íntimo de si mesmo.
Verdade é que quase todo yogui hindú reconhece o seu ishvara ou
a sua Divindade tutelar concebida como se fosse um Deus pessoal; em-
bora professe que so Brama é Deus, ele adora Krishna ou Shiva.-jo
hindú justificaría esta atitude afirmando que cada ishvara pessoal, parti
cular é apenas urna forma ou manifestacáo do grande e único Ishvara; a
personalídade, para o hindú, representa um grau de ser inferior ao grau
impessoal.
Á luz destas premissas, entende-se o que é oracáo para o yogui
hindú Quando este invoca Deus (e há muitas preces da Yoga assim con
cebidas), nao invoca um Deus pessoal, como costumam fazer os no-
mens ocidentais; mas dirige-se a um arquetipo ou exemplar totalmente
¡nativo, projetado pela própria mente do yogui; esse Deus é como que o
foco virtual do yogui, o ponto de fuga de sua perspectiva, nada mais. - A
Yoga é essencialmente a arte em que o individuo procura com todas as
89
1? "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004
energías obter de si mesmo tudo que ele possa obter; ele nada espera de
um Deus transcendente, mas visa a realizar por si a sua própria
divmizacao, de modo a poder dizer: Por meus exclusivos esforcos tornei-
me o que sou.

Ora o panteísmo é evidente aberracáo aos olhos da própria razao


humana, pois professa transicáo do finito para o Infinito, do contingente
para o Absoluto e vice-versa, como se o Infinito nao fosse senáo urna
prolongada serie de parcelas finitas.

b) Negando estrita distincáo entre a Divindade e o mundo a Yoga


tende a cancelar também a distíncáo entre espirito e materia; toda expe
riencia psíquica reduzir-se-ia a simples processo material. No setor da
moral yoguista, a pureza, a bondade nao aparecem propriamente como
qualidades do espirito, mas como estados purificados da materia sutil.
Eis, porém, que a razáo humana ensina a dístincáo entre espirito e
materia ou entre alma e corpo. O espirito tem atividade emancipada da
materia; por conseguinte também existe independentemente da materia
nao e materia (pois o modo de agir corresponde ao modo de ser).
c) a depreciacáo de tudo que é corpóreo, como se fosse a grande
ilusao cósmica (maya), inspira-se em pessimismo pouco razoável O
mesmo se diga da distincáo entre o verdadeiro e o falso Eu A sá filosofía
professa, sim, a realidade das coisas sensíveis; estas sao..., e sao boas
embora na hierarquía dos valores ocupem lugar inferior ao do espirito e"
consequentemente, merecam menos apreso do que as realidades espi-
ntuais. O mundo visível pode tornar-se armadilha e ocasionar ilusáo mas
nao e por si mesmo ilusáo nem falacia. Esta afirmacáo baseia-se no fato
de que tanto a materia como o espirito sao criaturas de um só Criador-
todo ser finito deve sua existencia ao Ser Infinito e, em suas proporcóes'
e bom como Este é bom. v

Eis algumas observacoes sobre as doutrinas capitais que animam


a Yoga hindú. Verifica-se, porém, que no moderno surto de yoguismo
muitos autores afirmam "nao estarem as práticas dos grandes yoguis
indissoluvelmente ligadas aos conceitos particulares da teología hindú"
(cf. J. Herbert, La spirltualité hindoue 424). Apregoam mesmo ser pos-
siyel a um cnstao usufruir da técnica dos yoguis sem abandonar proposi-
cao alguma da fé crista; em vista disto, preconizam urna substituicáo de
nomes hindus por nomes cristáos, como se no fundo houvesse equiva
lencia entre a filosofía hinduísta e a filosofía crista: dizem-nos por exem-
plo, que o cnstao teria todo o direito de falar de Deus Pai onde o yogui
faia de Brama; ou do Cristo, onde o hindú menciona Rama, Shiva ou
Han; ou de María, onde a Yoga se refere a Káli. A frase de Cristo- "Eu e o
Pai somos um só" (Jo 10, 30) correspondería exatamente á afírmacáo
90
YOGA: QUE É? 43

freqüente nos Upanishads: "Eu sou Tal" (= Eu sou Deus); o sermao sobre
a montanha (Mt 5-7) nao seria senáo modalidade de um texto de Karma-
Yoga- os Salmos e o Cántico dos Cánticos exprimiriam elevacoes de alma
como as que se encontram na Brágavata-Purána e nos cánticos de Kabir
e Rámprasád.
Estas tentativas de identificacáo sao extremamente capciosas; ina-
ceitáveis, porém, para um cristao. O hindú pode querer pactuar com o
Cristianismo dentro de um ecleticismo amorfo; o cnstao, porem, nao re-
conhecerá tal sincretismo, pois tem consciéncia de que possui a Verdade
e de que a Verdade é um Absoluto; tudo que nao se adapte a ela, so a
contamina, contradizendo as aspiraróes mais nobres da alma humana.
Ora sao irredutíveis urna á outra a concepgáo crista e a concepcáo
hinduísta O cristao professa, sim, um só Deus pessoal, transcendente,
Criador bom de todos os seres. Esse Deus assinala a cada individuo
urna vida (e urna só, nao sujeita a reencarnares) aqui na térra, a fim de
que o homem utilize a sua inteligencia e a sua vontade para adenr ao
Criador e faca que outras criaturas déem gloria ao Altíssimo. Otimismo,
portante, em relacáo ao mundo material. - O Cristianismo assevera ou-
trossim que a desordem verificada no homem e em torno do homem se
deve a urna revolta dos primeiros país contra o seu Autor, revolta que
convulsionou a própria natureza humana e os seres inferiores; Deus,
oorém houve por bem tirar a criatura do triste impasse em que se colo-
cou oferecendo-lhe Redencáo. Para o cristao, por conseguinte, a salva-
cáo'vem a ser dom de Deus.e dom gratuito que o individuo nao podejorcar
por método algum; é na fé, na esperanca, no amorfiiial e na humildade que
o cristao recebe a graca do Redentor e procura guardá-la cíosamente.
Tais sao, em rápido esboco, as grandes idéias que norteiam o com-
portamento do cristao nesta vida. Acrescente-se agora que embora a
libertacáo espiritual, para o discípulo de Cristo, nao seja produto de re-
ceitas nem de técnicas humanas, mas dom do Salvador, ela nao obstante
exige toda a colaborado do homem; o cristao, longe de ser destinado a
urna atitude passiva e mórbida diante do Criador, é chamado a desenvol
ver todo o seu heroísmo para deixar que o dom de Deus nele penetre.
Por isto os mestres cristaos sempre ensinaram métodos de oracao e
penitencia, que visam despertar a energía do individuo e leva-la para
Deus (haja vista a espiritualidade dos antigos Padres do deserto, a dos
grandes legisladores monásticos, a de S. Francisco de Assisade a
Domingos a de S. Inácio de Loiola, a de S. Joáo da Cruz, etc.). Cada um
desses métodos pode contar sáculos de uso benfazejo na Igreja...
2 A técnica do yogui. Eis que neste estado de coisas é apresen-
tada aos cristaos contemporáneos mais urna técnica de vida espiritual: a
Yoga.

91
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

Para definir sua posicáo diante da oferta, o discípulo de Cristo de


vera, antes do mais, desembarazar essa técnica de todas as aderéncias
da teología hrndu com que é geralmente apresentada; interessam-lhe
apenas as recomendacoes yoguistas que visam tornar corpo e alma mais
maleaveis á graca de Deus. A espiritualidade crista sempre reconheceu
a dependencia da alma em relacáo ao corpo, assim como a notável influ
encia que o ritmo do organismo exerce sobre as funcoes do espirito- por
consegumte, todos os procedimentos que possam servir para explorar
devidamente as energías do corpo, serao sempre benvindos dentro do
Cristianismo; e o que faz que o cristáo nao recuse valer-se das experien
cias de seus irmáos orientáis nesse setor prático.
Ser-lhe-á lícito, portanto, utilizá-las desde que o faca com mentali-
dade genuinamente crista. Experiencias desse género já tém sido
efetuadas por alguns monges, entre os quais aquele que, sob o título de
Yogín du Chnst, narra os bons resultados assim obtidos no seu livro "La
voie du silence" 1956. O yogui cristáo, mediante a sua metodología pro
curara sempre crescer na humildade e no amor de Deus, evitando ase-
ducao da auto-suficiéncía; o seu objetivo será nao o "énstase" híndu ou
esquecimento incondicional de todas as criaturas exteriores nem o "éx-
tase , graca concedida por Deus em circunstancias extraordinarias mas
a experiencia da presenca de Deus, que pela graca santificante habita a
alma do justo; e tal experiencia que constituí o estado místico.
(Continuacáo da p. 96) ~
Apesar de sermos estritamente proibidos de comentar nossos
gannos uns com os outros, sabíamos da injustica salarial. Pois enquanto
diligentes de igrejinhas de periferia ganhavam salarios minguados e in
suficientes para sustentar a familia, os pastores notáveis trocavam de
carro a cada ano e passavam fins de semana em resorts acompanhados
de suas belas mulheres trajando Chanel e portando bolsas Luis Vuitton.
Mario Justino é ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus e
atualmente mora em Nova York.

O texto ácima faz parte do livro Nos Bastidores do Reino- A Vida


Secreta na Igreja Universal do Reino de Deus, publicado em 1995.
A publicacáo foi autorizada pelo autor do ensaio original. O ensaio
base original esta dísponível no livro Nos Bastidores do Reino- A Vida
Secreta na Igreja Universal do Reino de Deus.
TIRE VOCÉ SUAS PRÓPRIA CONCLUSÓES.
DEUS TE ABENCOE!"
Sem comentarios...

Estéváo Bettencourt O.S.B.


92
Nos bastidores do Reino:

A VIDA SECRETA NA
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

Em síntese: Um ex-pastor narra sua experiencia na Igreja Univer


sal do Reino de Deus, que ele considera "urna empresa com fins lucrati
vos como qualquer outra na ciranda financeira". A única diferenga, se
gundo o autor, está no produto vendido: sal que tira vicio, lencinhos mo-
Ihados no "vinho curativo", (o conhecido K-Suco), agua da Embasa...
* * *

Via internet a Redacáo de PR recebeu a narrativa das experiencias


de um ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. O depoimento faz
parte do livro "Nos Bastidores do Reino. A Vida Secreta na Igreja Univer
sal do Reino de Deus", cuja editora nao é indicada.

Eis o texto em questáo:

"NOS BASTIDORES DO REINO

Minha ida para Salvador marcou o principio da minha ascensáo na


Igreja Universal. Fui escalado para ficar na sede, na ladeira do Aquidabá.
A igreja era um fenómeno de público. Todos os dias centenas de
fiéis lotavam o templo. Muita gente esperava a vez de entrar e, finalmen
te, receber nossas béncáos. Espalhada pela ladeira, a multidáo causava
transtornos ao tránsito e, muitas vezes, fechava as vias de acesso á Bai-
xa do Sapateiro e á Barroquinha.
Declaramos guerra as religióes africanas, sustentáculo da fé baiana.
Guerra á Igreja Católica, nossa maior inimiga. E guerra até mesmo as
igrejas protestantes, como a pentecostal Deus é Amor, que nos tacháva-
mos de "candomblé evangélico", e a Assembléia de Deus, para nos um
bando de "crentóes" e "fanáticos".

Ñas rodinhas de pastores sempre aparecía alguém contando algu-


ma piada do profundo mau gosto sobre as mulheres da Assembléia de
Deus, que, diziam, nao se depilavam e nao usavam desodorante por con-
siderarem pecado.

A Igreja Universal, onde era proibido proibir, era apresentada como


o único caminho da felicidade. A verdadeira igreja de Cristo ou "o vinho
novo", como gostávamos de anunciar.

93
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

Jogávamos pesado nos programas de televisáo. Quebrávamos


imagens de santos católicos e, durante os cultos, quelmávamos as rou-
pas de candomblé e colares de micangas levados pelos f¡lhos-de-santo
que se convertiam. O povo vibrava.

Nos o fazíamos vibrar.

Nao é preciso repetir aqui que o povo gosta de pao e circo.


Desenvolví um estilo. Definí um discurso simples, mas poderosa
mente convincente para levar a mensagem da Igreja. Isso me rendeu o
cargo de terceiro pastor no Aquidabá.

Ácima de mim, apenas os pastores Paulo e Goncalves. Líder e


vice-líder.

A promocáo me conferia um status. Por exemplo, passeí a condu-


zir reunioes com centenas de pessoas, além de apresentar programas
ñas radios Cruzeiro e Excelsior e participar do Despertar da fé, na TV
Itapoan. Nos fins de semana, viajava pelo interior do Estado fazendo cam-
panhas de evangelizado, lotando templos por onde quer que passasse.
Considerando que eu estava na Igreja havia pouco mais de um ano, mi-
nha escalada era meteórica. Meus días de dormir sobre assoalho gélido
e bancos de madeira haviam chegado ao fim.

Logo passei a dividir um confortável apartamento com o pastor


Goncalves e outros dois pastores.

As roupas surradas que eu usava deram lugar a temos de grife e,


num piscar de olhos, me vi freqüentando restaurantes finos e viajando de
aviáo. A primeira vez que voltei a Sao Goncalo desde que me mudara
para a Bahia foi memorável.

Cheguei á Boa Vista com urna mala cheia de presentes para minha
familia e amigos. Naquele día, transformei-me na sensacáo da rúa. Ve-
Ihos conhecidos e vizinhos vieram só para me ver. Do alto do meu pedes
tal, eu criticava a poeira e o calor daquele lugar. E exaltava as maravilhas
da civilizacáo moderna. De como era confortável viver com telefone. As-
sistir á televisáo em um aparelho que mostrasse dois cañáis ao mesmo
tempo. E, o que é o progresso, ter na cozinha urna geladeira de que nao
precisava abrir a porta para tirar a agua.

Alguns me chamaram de ladráo, mas eu nao dei ouvidos as "vozes


da inveja", como diziam meus pais, orgulhosos do filho que estava na
Bahía falando para multidóes em radio e televisáo. "Gracas a Deus", dizi
am eles, "nosso filho nao é como Ney ou Denilton, que só dáo desgosto
aos pais".

94
A VIDA SECRETA NA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS 47

O sucesso da Igreja e dos programas de radio e televisao estava


baseado na fórmula ¡nfalível criada pelo bispo Macedo: a terapia espiritual.
Trabalhávamos diretamente com as emocóes das pessoas. Por isso
muitas pessoas afirmam que, quando ouvem o radio, sentem como seo
pastor estivesse talando diretamente com elas. Na nossa programacáo
comentávamos, ao som do piano de Richard Clayderman ou da flauta de
Zamfir, os problemas que afligem a maioria dos humanos: desemprego,
vicios, doencas, problemas conjugáis e financeiros.
Depois de um debate no qual discutíamos os efeitos desses pro
blemas na vida das pessoas, apresentávamos a solucáo para tudo isso
como urna única visita a um dos enderegos da Igreja.
Urna vez que a pessoa ia á igreja, ela era orientada a fazer urna
corrente de doze semanas. Corrente na qual ela viria a se tornar emoci-
onalmente presa. Os que quebravam essa corrente ¡mediatamente pas-
savam a ter visóes e ouvir vozes.
Como Hollywood, nos sabíamos explorar o medo infantil que as
pessoas tém da figura do diabo. Informado do sucesso na Bahia, o bispo
Macedo resolveu marcar urna concentracáo no maior estadio de Salva
dor Ele havia acabado de lotar o Maracaná. E estava disposto a lotar
todos os estadios das grandes capitais. Dois meses antes comecamos a
trabalhar na promocáo do que seria o maior de todos os nossos desafíos:
lotar o Fonte Nova.
Queríamos mostrar aos padres, pastores, pais e máes-de-santo da
Bahia que o reinado deles havia acabado. Éramos nos quem dávamos
as cartas agora.

Também queríamos mostrar aos pastores da própria Universal em


outros Estados que nos, da Bahia, éramos os melhores.
Todos os pastores do interior ficaram incumbidos de alugar um óni-
bus e levar o maior número de pessoas possível. Vinhetas ñas radios e
ñas televisóes, outdoors espalhados pelo estado prometiam curas e so-
lucóes Durante as reunióes na igreja, distribuíamos envelopes e fazia-
mos com que os fiéis colocassem ali o que chamávamos de "oferta de
sacrificio" (algo como o salario do mes) e um pedido de oracao, que o
bispo levaría para Israel, a Térra Santa.
No dia da táo propalada concentracáo, urna multidáo já se aglome-
rava ao redor do estadio muito antes de os portóes serem abertos, as
nove da manhá.
Quando, enfim, o Woodstock religioso comecou, milhares de pes
soas, pisoteando velhinhas e criancas, travaram urna disputa agressiva
95
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 500/2004

para obter um bom lugar para ouvir o bispo e receber dele os milagres
que era o que interessava áquela gente.

Naquela época em que o termo yuppie estava em voga, o bispo


Macedo, portando Rolex, Ray-ban, Mont Blanc e a sempre presente
Hermes, subiu no palanque que fora especialmente armado para ele no
centro do gramado. Nao conseguía esconder sua alegría.
O estadio da Fonte Nova estava completamente lotado Repetía
se em Salvador o fenómeno do Maracaná, no Rio.

Naquela tarde, depois de recolher os envelopes com o "sacrificio"


e com os pedidos de oracáo, que seriam levados para o monte das Oli-
veiras, em Jerusalém, o bispo pediu aos seus seguidores baianos uma
oferta especial para comprar uma emissora de radio em Salvador, assím
como seus fiéis cariocas o haviam contemplado com a radio Copacabana.
Será que os cariocas tém mais fé do que os baianos? - perquntou
o bispo á multidáo.

NAO! - a resposta retumbou como um trováo. As ofertas vieram


em forma de dinheiro e jóias.

Passamos tres dias trancados em uma sala contando os sacos de


dinheiro levantados no Fonte Nova. No final, o dinheiro foi depositado na
conta da Igreja, no Bradesco, em Salvador. O ouro sería levado para o
Rio de Janeiro e transformado em barras. Quanto aos pedidos de oracáo
que seriam levados para Israel - bem, eles foram queimados na praía da
Boca do Rio.

Quando eu era um simples fiel, nao ¡maginava o que se passava


nos bastidores, depoís que a cortina cai. Os atos de alguns pastores logo
me levaram a descobrir que a Igreja Universal nada mais era do que uma
empresa com fíns lucrativos como qualqueroutra na círanda financeíra A
única diferenca era o produto vendido: sal que tira vicio, lencinhos mo-
Ihados no "vinho curativo" - o conhecido K-Suco - agua da Embasa que
diziamos ter víndo do Rio Jordáo, azeite Galo, que dávamos ao povo
como legitimo óleo ungido proveniente de Jerusalém, e uma longa lista
de outros produtos táo falsos quanto as gotas de leite extraídas dos seios
da Virgem María, que eram vendidas na Europa, nos primeiros séculos
aos otarios em busca de mílagres. Como ser pastor era antes de tudo
uma "vocacáo" e jamáis uma "profissao", nao tínhamos vínculo
empregaticío com a Igreja Universal.

Nossos salarios eram pagos em cash, isentos de qualquer taxa ou


imposto. O valor desses salarios variavam cada caso era um caso ñas
leis do Reino.

(Continua na p. 92)

96
LIVRARIA LUMEN CHRISTI

Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro

Livraria do Mosteiro Sao (Bento, com tivros religiosos seccionados,


incíuindo algumas obras importadas.
Mantém urna secáo de artigos religiosos como: objetos litúrgicos e
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e-mail: lumen.christi@osb.orq.br: lumenchristi@bol.com.br
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j Esta obra, sem similar no Brasil, contém, em traducáo
portuguesa os documentos do Magisterio da Igreja referentes á Fé
Católica.
• ■■"í
Traducáo do prof. Paulo Rodrigues, cotejada com os origináis
em latim e grego e atualizada com 19 documentos chegando-se até á
Declaracáo "Dominus Iesus"(2000).

"A Fé Católica - Documentos do Magisterio da Igreja. Das origens aos


ttossos dios", é de autoría do Pe. Justo Collantes, SJ, professor de
Eclesiologia na Faculdade de Teología de Granada, Espanha. Foi
publicada originalmente pela prestigiosa B.A.C. -Biblioteca de
VI FÉ CATÓLICA Autores Cristianos. O autor antes de falecer, em 2000, enviou urna
Otaran*» db Apresentacáo especial para a edicáo brasileira. O teólogo Candido
Pozo, SJ. , explica que "trata-se de um Denzinger", mas com os
documentos em ordem sistemática e nao só cronológica e con*
introducóes históricas para cada documento.
O livro trata dos seguintes temas: Fé e razáo, As fontes da revelacao,
De"s criador, Cristo Salvador, Maria na obra da salvacáo, Deus
revelado por Cristo, A Igreja, A graca, Os sacramentos, As realidades escatológicas, Símbolos da fé
católica. Sobrecapa com texto de Dom Estéváo Bettencourt, O.S.B. e Prefacio do Pe. Ingo DoUinger
ex-reitor do Institutum Sapientiae, de Anápolis, da Ordem dos Cónegos da Santa Cruz.
Edifóes Lumen Cbristi-Rio deJaneiro/2003. Formato: 14x21 cm. 1.345páginas.
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Pedidos emnosso sitewww.lumencbrhtLcom.br, pelo e-mail¡umen.cbriste@osb.org.br oupelo reembolsopostal

"Apresentamos com satisfacáo a 3a edicáo da Regra de Sao


Bento, na traducáo de Dom Joáo Evangelista Enout, OSB(t
1993). Como a traducáo anterior, esta é urna edicáo bilingüe.
Urna traducáo já meio clássica, caracterizando-se pela fidelidade
ao texto latino. Através déla varias geracóes de monges, oblatos,
estudiosos do mundo beneditino, aquí no Brasil tem lido a
Santa Regra.
Que esta 3a edicáo da Santa Regra seja, como as anteriores,
um valioso auxilio para que este venerável documento seja mais
e mais conhecido, amado e vivido, em nosso país." (DomJosé
PaltneiroMendes, OSB)

A Regra de Sao Bento é um dos textos mais notáveis e


veneráveis da tradicáo crista. Desde Sao Gregorio Magno até
Joáo Paulo II, inúmeros foram os papas e bispos, sabios e
santos que expressaram sua admiracáo por este documento do
século VI que compendia as melhores esséncias do Evangelho
e da tradicáo patrística e monástica e que foi a origem da vida
religiosa na Europa Ocidental. Na Idade Media foi a "Charra
Magna" do monaquisino, a Regra por excelencia. Constituiu o grande instrumento de santificado para
UT Tj 7a° mumerável de almas até os nossos di«. Foi l°uvada sua simplicidade, sua discricáo sua
adaptalidade, scu equilibrio, seu grande humanismo, junto com um grande sobrenaturalismo, sua perfeita
consonancia com o Evangelho. A admiracáo de certos Concilios pela "Santa Regra" foi táo grande que a
consideraram como inspirada pelo Espirito Santo (Concilio franco de. 825; Concilio de Douzy de 874)
213 págs-R$ 19,00 ''
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