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Breve História do Setor Brasileiro de

Energia
Sobre a história do setor brasileiro de energia de acordo com seus
principais marcos regulatórios

Mateus Bernardino
May 24, 2016 · 17 min read

O início da exploração e expansão dos mercados de energia no Brasil ocorreu ao


final do século XIX, na época imperial e, mais especificamente, em 1879, com o
início da iluminação interna da estação central da ferrovia D. Pedro II, atual Central do
Brasil.
Após um processo longo de concentração, pressão política, regulamentação, planismo
e estatização de empresas privadas, o governo brasileiro se encarregou por completo da
organização do setor energético através da produção pública ao longo do século XX, até
o início do processo de abertura nos anos 1990. Esse foi o processo que denominei
"sovietização dos mercados de energia", uma alusão à similaridade dessa pauta e
modelo de organização com os moldes socialistas de produção.

Em um comentário publicado aqui recentemente, nos concentramos na exposição de


explicações e de argumentos políticos para essa participação mais ativa do governo no
setor energético de produção, propondo uma abordagem menos ortodoxa e
economicista, ou teoricamente mais centrada na questão dos direitos de propriedade e
nos dispositivos políticos de pressão.

Na ocasião, desenvolvemos brevemente a evolução das prerrogativas e do papel do


governo e das grandes companhias de energia enquanto atores protagonistas das
mudanças organizacionais. O governo e as empresas privadas, paradoxalmente, foram
os principais agentes que contribuíram para a concentração, regulamentação e
estatização quase completa do setor.

Classificação em 3 Marcos Regulatórios


Do ponto de vista estritamente organizacional, e se olharmos os principais
acontecimentos políticos e regulamentários do setor de energia do Brasil, podemos
identificar três grandes períodos ou etapas em sua história.

O primeiro momento — que vai do final do século XIX (1879) até os anos 1930 —
representa uma etapa emergente. Ele retrata um período em que a organização do
setor de energia contava com um “arquipélago de ilhas elétricas” funcionando sob
regimes regulamentários incipientes, tendo natureza local (geralmente municipal) e
que responde às urgências de produção de setores específicos da indústria, agricultura,
iluminação das cidades e serviços públicos de transporte. Estamos ainda longe da
generalização e universalização do consumo doméstico.
O segundo momento — que vai de 1930 até o início dos anos 1990 — coincide com a
era da formação e instauração de um monopólio público. Nele o governo verticalizou e
integralizou as esferas de geração, transmissão e distribuição da produção do setor de
energia. O intuito era fornecer as bases para o atendimento cada vez maior da
demanda de energia das manufaturas e das municipalidades, abrindo e consolidando
também as vias para o consumo doméstico e sua extensão. É nesse momento que se
instaurou uma regulamentação baseada nos custos históricos efetivos (cost of service)
e/ou na garantia de taxas de rendimento sobre investimento realizado (rate of return).

O terceiro momento é marcado pelo período que veio depois das reformas que
ocorreram ao longo dos anos 1990, e se inserindo em um Plano Nacional de
Desestatização que buscava maior abertura dos setores de infraestruturas. Esse
momento é marcado pela quebra de monopólios estatais em determinados segmentos
do setor elétrico, privatização de companhias públicas e maior foco nas agências
regulamentadoras enquanto protagonistas da coordenação e da organização das
políticas governamentais. Foi também o momento de transição para uma
regulamentação “mais incitativa” fundamentada nas tarifas (price cap), uma das
consequências mais importantes daquele marco regulatório.

Tendo por objetivo preparar melhor o terreno para abordagem do tema da liberalização
dos mercados de energia, esse artigo tratará sobre os dois primeiros marcos
regulatórios. Iremos rever um pouco mais detalhadamente as principais
mudanças organizacionais dentro de uma perspectiva histórica. A intenção é
estudar um pouco mais afundo a história dos principais acontecimentos políticos e
organizacionais, e as principais mudanças do ponto de vista regulamentário até o
incício do processo de abertura — terceiro marco regulatório.

O Código das Águas (1934)


O primeiro marco importante foi o Código das Águas[i]. Ele materializou uma
maior participação dos poderes públicos na produção energética e formalizou um
projeto mais intervencionista na gestão dos recursos naturais — principalmente das
águas e recursos de energia.

Foi o período da institucionalização dos planos de concessões e das autorizações para


serviços de geração, transmissão, transformação, distribuição da energia hidráulica ao
nível federal — lembrando que anteriormente essas decisões eram tomadas ao nível
estadual e municipal.

Foi o momento em que a União toma definitivamente para si a competência de legislar


e de outorgar quase todas as concessões dos denominados serviços públicos —
notadamente os de energia. Com isso, todos os recursos hídricos foram formalmente
incorporados ao patrimônio da União, e a responsabilidade de estudar os problemas
referentes à regulamentação, ao suprimento de serviços e às tarifas de energia passaria
para as mãos do CNAE (Conselho Nacional das Águas e Energia).

O Código das Águas foi o resultado de embates políticos e diálogos importantes entre
os produtores de energia e o governo. Ele marcou também o aumento da necessidade
de pressão pela captura dos órgãos governamentais para aquisição dos direitos de
exploração e produção no setor — visto que agora a competição era mais restrita.

Do ponto de vista político, o Código das Águas de 1934 violava alguns dos princípios
liberais que regiam o ideal de competição formalizado na postura institucional da
Constituição da Primeira República.
Essa violação se fez em benefício de uma nova postura mais desenvolvimentista do
governo e um modelo mais intervencionista na economia, algo que se materializou na
nova Constituição de 1934.

Foi nessa época que inscreveram ao nível constitucional algumas das restrições e
delimitações aos direitos de propriedade, notadamente sobre os recursos do
subsolo, mineração, metalurgia, águas, energia elétrica, florestas, caça, pesca… e
qualquer outra coisa que pudesse ser considerada de interesse público no governo do
ditador Getúlio Vargas.

O Código das Águas promovia um novo sistema jurídico com reformas controlando
desde os níveis de lucro até os caminhos de expansão dos investimentos, as linhas de
expansão da matriz energética, as empresas que poderiam participar das concessões, a
quantidade de recursos empresariais que poderiam vir do exterior, se os lucros
poderiam ou não deixar o país. Antes algumas empresas do setor energético
conseguiam taxas de retorno de até 30%, agora todas deveriam se contentar com
retornos de até 10%.

O modelo organizacional do setor de energia será agora um sistema


interconectado pelo Estado e terá por objetivo um aumento acelerado da
expansão. As mudanças promovidas nessa nova guinada consolidaram o
favorecimento de alguns grupos, e reduziam consideravelmente novas
oportunidades de lucro para outros.

Essas reformas diminuíram então a atratividade do empreendedorismo e de


novos investimentos privados no setor, quando não proibiram simplesmente a
presença de novas empresas e a participação de capitais estrangeiros.

Após o período das guerras mundiais, diversos empreendimentos do setor de energia


que eram rentáveis deixariam de sê-lo — uma consequência do incremento dos custos
da papelaria burocrática, dos impostos, das restrições e controle das tarifas, dos
maiores custos de entrada, da escassez (e os custos para obteção) de recursos de
investimento e das restrições ao investimento estrangeiro.
Enquanto a produção de energia era um negócio relativamente atrativo até o início dos
anos 1950— sobretudo para quem tivesse conseguido as concessões e conexões com o
aparato burocrático — , na medida em que o monopólio público ia se consolidando, as
empresas concorrentes deixariam de se interessar pelo setor, que cava vez mais
dependeria dos recursos federais e do aparato regulamentário da iniciativa pública.

O Plano Nacional de Eletrificação (1946)


O segundo marco regulamentário foi ainda mais impactante em termos
organizacionais. Ele ocorreu entre o final da década de 1940 e final do segundo
governo de Getúlio Vargas[ii] (até 1954).

O Plano Nacional de Eletrificação culminou com a criação da holding federal


Eletrobrás[iii]. Embora o modelo organizacional sugerido no Plano não tenha sido
implementado como em sua versão original logo no início de sua promulgação, ele
apontou naquele momento as novas linhas gerais de expansão e as diretivas para o
desenvolvimento do setor energético brasileiro para as próximas 3 décadas.

O modelo era inspirado no modelo político do nacional-desenvolvimentismo, ele sugeria


um protagonismo da empresa pública (Eletrobrás) em todas as etapas e segmentos do
setor de energia, e a organização das grandes diretivas e investimentos passaria a ser
centralizada ao nível do Ministério das Minas e Energias (1960). Esse período já era
marcado por uma expansão notável do consumo industrial, doméstico e dos serviços
públicos.

O Plano Nacional consagrou também a instituição definitiva de dispositivos fiscais


específicos para o financiamento de fundos destinados ao fomento da expansão e
manutenção do setor elétrico (Fundo Federal de Eletrificação — FEE, Imposto Único
sobre Energia — IUEE).

Ele deu continuidade à manutenção da regulamentação tarifária ajustada ao


custo — e baseada em garantias de retorno sobre investimento, ajustou cada vez
mais a fixação dos parâmetros tarifários em função das políticas de governo,
formalizou a necessidade de expansão mais pautada na diversificação da matriz
energética e, sobretudo, na instrumentalização do Banco Nacional de
Desenvolvimento (BNDES) como principal entidade responsável pela captação e
canalização dos recursos financeiros destinados aos investimentos em expansão
da capacidade para atender uma demanda nacional.
A partir dos anos de 1960, o setor público assumiu o controle definitivo do setor
elétrico, centralizando na esfera federal sua política de desenvolvimento [iv]. A
centralização e a coordenação tiveram o mérito de permitir um planejamento coerente
e a construção de obras hidráulicas custosas e de grande porte, de grandes sistemas de
transmissão e da interconexão dos sistemas hidrelétricos ao nível nacional.

Essa política energética produziu uma expansão considerável e uma melhora


substancial dos serviços de eletricidade, além de uma redução nos custos para o
fornecimento e por causa da exploração de ganhos em efeitos de escala. Iniciou-se
depois desse período a maior expansão e crescimento em capacidade instalada da
história do setor elétrico, algo que só desaceleraria lá no final da década de 1970 (Ver
Ilustração logo abaixo: período marcado em vermelho).

Essa expansão extraordinária ocorreu principalmente porque a demanda evoluía em


um ritmo alto e consolidado, e porque o governo começou a direcionar um volume
importante de recursos de investimentos para o setor.

Ilustração: Maior Período de Expansão em Capacidade Instalada (Fonte: Gomes et Vieira 2009)

Por outro lado, a consequência da centralização do crédito resultaria num grande


endividamento e dependência umbilical do setor elétrico vis-à-vis do governo
federal e dos recursos do BNDES[v].

Com a progressiva instauração e consolidação das diretivas do Plano Nacional de


Eletrificação foi possível notar um claro ganho de importância do banco no
financiamento dos investimentos em capacidade instalada.

Em 1956 o banco financiava aproximadamente 6% dos novos investimentos e


acréscimo em capacidade instalada, em 1962, praticamente 95%[vi]. Em 1952 a
parte da capacidade instalada referente à iniciativa pública não passava dos 6%,
em 1962 já representava mais de 34%.

Depois da criação da Eletrobrás se consolidou, de fato, um novo período na história do


setor elétrico. Teremos em definitivo um modelo estatal de produção e distribuição que
contou com apoio político e econômico dos sucessivos governos militares.

Com a ajuda do BNDES, a empresa brasileira comprou participação e tomou


gradativamente o controle de grandes grupos (Amforp em 1964, Light em 1979), ela
coordenou a instauração dos investimentos em novas geradoras (Eletrosul em 1968,
Eletronorte em 1973), deliberou sobre os objetivos e a organização tarifária, aplicou
políticas de repasse de recursos financeiros entre as concessionárias, repasses e
alocação da transmissão de energia entre empresas sob seu controle, enfim, confirmou
seu papel como agência de planejamento, operação, financiamento e maior holding
federal no setor elétrico.

Foi a época do desenvolvimento das Empresas do Sistema Eletrobrás, do controle


completo do sistema de geração e de transmissão, e grande expansão histórica da
capacidade instalada. Como vimos mais acima, entre 1962 e 1979, em virtude dos
massivos investimentos realizados, a capacidade instalada cresceu algo em torno de
388,22%.

Contudo, já na década 70, a trajetória de crescimento equilibrado e desenvolvimento


autossustentado começara a ficar comprometida, notadamente por causa da
necessidade de financiamento com recursos externos — mais custosos — e da
instrumentalização das tarifas de energia para controle do processo inflacionário.

Ou seja, por um lado, o setor de energia não podia mais contar com ajustes tarifários
reais permitindo a manutenção das receitas que fomentaram a produção e a expansão
em capacidade, isto quer dizer, havia real perda de valor da tarifa e descapitalização
das empresas. Gradativamente as contas se deteriorariam e as taxas de remuneração
cairiam também progressivamente (Ver Ilustração 2 logo abaixo).
Ilustração 2: Taxas Reais e Valor de Remuneração das Tarifas de Energia (Fonte: Goldemberg et Prado 2003)

Por outro, um setor dependente de recursos externos (FMI) começaria a ver suas
despesas cada vez mais consagradas ao pagamento de dívidas, num cenário de juros
cada vez mais altos [vii]. Isto estaria suscetível de evoluir em endividamento crônico
conforme as taxas internacionais do dinheiro oscilassem positivamente e conforme o
câmbio se depreciasse, ou conforme a queda no ritmo de crescimento econômico
reduzisse a capacidade do governo em destinar recursos ao seu financiamento. E foi
tudo o que acabou ocorrendo.(Ver Ilustração 3 e Ilustração 4).
Ilustração 3: Tabela de Evolução dos Recursos de Financiamento Setor de Energia (Ferreira 2000)

Ilustração 4: Evolução dos Investimentos e do Serviço da Dívida das Empresa Estrangeiras, em milhões,
entre 1967 e 1989 (Oliveira 2004)

Em um período que ficou marcado por choques de preços nos mercados do petróleo
(1973 e 1979) e pela elevação das taxas de juro real ao nível internacional, em interno,
a economia brasileira perdia fôlego e ritmo de crescimento (Ilustração 5). A forte
desvalorização cambial aumentou as dificuldades em se refinanciar com recursos
externos, e por consequência, em financiar o setor elétrico.
Ilustração 5: Evolução das Taxas de Crescimento (Fonte Ipea)

Com a alta dos preços dos combustíveis fósseis a necessidade de diversificação da


matriz energética se acelerava, e conforme aumentava o endividamento (externo) das
empresas ficava mais difícil a gestão financeira. Os investimentos caiam (Ilustração 6)
ou paralisavam-se, adiavam-se as obras e projetos de manutenção e expansão.

Ilustração 6: Investimento em Capacidade e Capacidade Instalada (Fonte: Eletrobrás)


Em um ambiente inflacionário e de crescimento contínuo da demanda de energia
(Ilustração 7), o ajuste tarifário fundamentado nos custos era deixado de lado e era
influenciado diretamente pelas metas governamentais de política econômica, como
veio a ocorrer no episódio do congelamento tarifário na época do Plano Cruzado
(1986).

Ilustração 7: Evolução do Consumo por Categoria (Fonte Eletrobrás)

As diferenças entre as receitas e despesas eram integralizadas contabilmente nas


Contas de Resultado a Compensar (CRC) ao nível federal. Ao final de 1987, elas já
acumulavam 7 bilhões de Dólares, em 1993, 26 bilhões.

Para piorar a situação das concessionárias com a promulgação da Constituição de 1988


foi eliminado o já citado Imposto Único (IUEE), e as empresas do setor passaram a ser
submetidas às novas alíquotas do imposto de Renda (IR), um sinal de que talvez o
governo já preparava o terreno para as novas mudanças organizacionais.
Consequentemente, houve uma degradação ainda mais importante da situação
financeira das empresas concessionárias e um endividamento crônico do setor elétrico
como um todo.

Revise e Início do Processo de Abertura (1987)


Foi nesse ambiente de crise financeira que se iniciou o terceiro período marcante do
setor elétrico brasileiro — que se inseriu no Plano Nacional de Desestatização (PND)
[viii] e teve germes no debate do Revise buscando soluções para a crise no setor de
energia.

O Revise (Revisão Institucional do Setor Elétrico, 1987–1989) foi um fórum onde


os especialistas e principais atores do setor elétrico buscaram expor os desafios que o
modelo organizacional governamental enfrentava. No início dos anos 1990, e como
consequência das dificuldades financeiras, as concessionárias do sistema elétrico
começaram a não ter mais como pagar ou eram levadas a adiar o pagamento de
tributos federais, e deixavam também de honrar o pagamento do consumo de energia
fornecida pelas geradoras.

Esse problema de inadimplência e calote institucionalizado assinalavam a


dimensão da crise no setor e o esgotamento do modelo público. “No início de
1990, o setor elétrico estava em uma situação muito delicada. O Estado alegava que
não tinha condições de investir, as empresas estavam endividadas e a privatização se
apresentava como uma das soluções”, apontou o especialista António Gomes (2002, p.
312).

Além das privatizações, o Revise sugeria um novo marco regulamentário inspirado nas
reformas que foram promovidas ao redor do mundo. Conceitos e ideias como produtor
independente, consumidor livre, livre acesso às redes de transmissão e distribuição eram
pautas para propostas de reestruturação. Essas seriam as diretivas guiando a tentativa
de liberalização do setor de energia no Brasil.

Em 1993, ao longo do governo Itamar Franco, foi instaurada a Lei 8.631 eliminando o
sistema de equalização tarifária entre as regiões e os mercados de consumo. Instauram-
se também modificações profundas e definitivas no arcabouço regulamentário do setor
de energia, entre outras, o fim da regulamentação fundamentada nos custos e nas
taxas de retorno e passagem à regra baseada no custo marginal e nos tetos tarifários
(price cap).

A abertura ira ocorrer efetivamente somente em 1995, já no governo Fernando


Henrique (FHC) e depois da preparação progressiva do ambiente institucional e dos
agentes (Ilustração 8). As Leis 8.987 e 9.074 tratavam das reformas do setor e
formalizaram[ix]:

(1) a desverticalização do setor — ou separação das principais estrates


(unbundling) — em seus segmentos de geração, transmissão, distribuição e
comercialização;
(2) a privatização tendo intuido de levantar recursos para o Estado — e trazendo
a responsabilidade de investimentos para e inciativa privada;

(3) o livre acesso às redes de transmissão;

(4) a instauração da competição ao nível da geração e distribuição.

Além de incentivar novos empreendimentos em geração e novos contratos de licitação,


os códigos previam a abertura para produção independente, e a liberdade para que
alguns consumidores pudessem em breve escolherem seus respectivos fornecedores.

A ideia era fomentar dois setores distintos dentro da organização do fornecimento de


energia, separando um mercado cativo — tendo estrutura tarifária regulamentada
estritamente pelo princípio do teto de preços — e um mercado mais livre — onde
produtores privilegiados poderiam negociar livremente quantidades e prazos de
fornecimento.

Ilustração 8: Principais Acontecimentos de 1990 até 2002 (Fonte Gomes e Vieira 2009)

A criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (1996) e a privatização de


companhias como a Light sinalizavam essa mudança, e indicavam o novo papel que o
governo tentaria desempenhar. O governo tentaria adotar uma postura mais voltada
para a produção indireta e enquanto um agente regulamentário. Ele tentaria
concentrar menos seus esforços no controle direto da produção e do fornecimento —
tentativa de passagem de um Estado produtor para um Estado regulamentador.

O aporte dos recursos permaneceria nas mãos do BNDES, que tomaria


responsabilidade de alavancar financiamento para diversas obras e projetos, e o Estado
passaria a coordenar o setor elétrico através do órgão Operador Nacional do Sistema
(ONS). O mercado incipiente de energia seria ajustado ao nível do Mercado
Atacadista de Energia (MAE), e pela coordenação da Câmara de Comercialização
de Energia Elétrica (CCEE). A reestruturação dos órgãos do governo e a atual
configuração do organograma institucional poderia ser esquematizada nos moldes da
Ilustração 9, a estrutura do projeto regulamentário pode ser esquematizada como
sugere a Ilustração 10:

Ilustração 9: Organograma Institucional (Fonte: Aneel)


Ilustração 10: Estrutura do Marco Regulamentário (Fonte : Aneel) — G para Geração, T para Transmissão, D
para Distribuição, C para Consumo

Comentário Conclusivo
Essa foi a breve história dos eventos referenciais que se desenrolaram e culminaram na
abertura parcial do setor de energia, e na nova estrutura organizacional e normativa do
setor.

Esses recitos históricos não substituem uma análise crítica ou mais técnica, baseada na
teoria econômica e nos aportes das teorias organizacionais.

O tratamento crítico do processo de abertura será desenvolvido ulteriormente, ele


tentará apontar os diferentes aspectos positivos e negativos associados ao processo de
liberalização dos mercados de energia. No próximo artigo sobre o setor elétrico
exploraremos um pouco o processo de liberalização dos mercados de energia no Brasil
e no mundo.

Notas
[i] Decreto 24.643, de 10 de Julho de 1934.

[ii] “O modelo de desenvolvimento do segundo governo Vargas continuou a se


caracterizar por desenvolvimento industrial, nacionalismo, dirigismo estatal […] ele
baseava-se na concepção de que o desenvolvimento se faria com base na articulação de
um tripé: empresa pública, empresa privada nacional e capital internacional. Nesse
período processou-se uma reestruturação do Estado, com a criação de novas agências
voltadas para a formulação de políticas econômicas, como a Assessoria Econômica da
Presidência da República e a Comissão de Desenvolvimento Industrial (CDI). Com elas
firmava-se a concepção de um Estado ativo na formulação e execução de políticas
econômicas […] desenvolvimento era a palavra de ordem dos anos 1950, assim como,
nos setores getulistas e de esquerda, o nacionalismo era a linha-mestra.”
Ver: D’ARAUJO, M. C. E ele voltou… o segundo governo Vargas: Um panorama da
política de desenvolvimento de Vargas (1951–1954). Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). Fundação Getúlio
Vargas: Rio de Janeiro, 2002. Link: FGV.

[iii] A Eletrobrás foi criada pela Lei n. 3.890-A, de 25 de Abril de 1961, no governo de
Jânio Quadros, tendo sido instalada oficialmente em 11 de Junho de 1962, já no
governo de João Goulart.

[iv] Os motores e justificativas do modelo organizacional resumiam-se nos argumentos


políticos e econômicos tradicionalmente veiculados para o setor de energia. Como
resumiu muito bem Maria Letícia Correia em sua Tese de Doutorado: “A participação
ativa do Estado na indústria de eletricidade justificava-se face às características da
mesma, de constituir-se como monopólio, da característica de grande investimento em
capital fixo, pelo produto anual pequeno para o investimento, e pelos prazos longos das
aplicações, condições essas que haviam levado ao progressivo desinteresse por parte
das empresas privadas. A ‘Memória Justificativa’ indicou a necessidade de
planejamento, tanto no que respeita à expansão da geração e a interligação dos
sistemas, quanto como condição para a organização e o desenvolvimento da indústria
de material elétrico pesado, sendo o segmento de geração escolhido para a intervenção
prioritária do Estado, reservando-se a distribuição às empresas concessionárias
privadas.”

Ver: CORREA, M. L. O setor de energia elétrica e a constituição do Estado no


Brasil: o Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (1939–1954). Tese
apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal
Fluminense. Centro de estudos gerais do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia,
Niterói: Janeiro 2003, p. 265. Link: UFF.

[v] Como sugeriu António Claret Gomes (p. 8): “Em síntese, o período que se estendeu
de 1946 (pós-guerra) a 1962 (criação da Eletrobrás) foi marcado por uma alteração
profunda no modelo brasileiro de desenvolvimento econômico, modelo que passou a
privilegiar a participação do Estado em funções produtivas, financeiras e
planificadoras. Nesse contexto, a constituição do BNDES criou condições para compor
o funding dos projetos de reaparelhamento da infraestrutura (com destaque para
energia e transportes) e de instalação da indústria de base. Ademais, o Banco teve
destacado papel no planejamento da economia. No setor elétrico, sua atuação foi além
da concessão de financiamentos em moeda nacional. A assistência financeira abrangia
prestar garantias e avais indispensáveis à obtenção de financiamentos no exterior para
importar equipamentos de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica,
autorizar inversões diretas de companhias de seguro e capitalização e ter participações
societárias/operações de underwriting.”

Ver mais em: GOMES, A. C.; et al. BNDES 50 Anos — Histórias Setoriais: O Setor
Elétrico. Banco Nacional de Desenvolvimento, Brasília: Dezembro 2002.

[vi] Como ilustra a figura logo abaixo:

Ilustração 11: Participação do BNDES na Expansão em Capacidade Instalada

[vii] Conforme começa a haver interrupção dos créditos de organismos internacionais,


o setor elétrico passou a ter fluxo negativo entre os empréstimos externos e o
pagamento do serviço da dívida. O serviço da dívida, por exemplo, que correspondera
a 20% das aplicações setoriais em 1975, chegou a 50% em 1985.

[viii] Lei 8.031 de 1990 instituiu o Programa Nacional de Desestatização (PND) e criou
o Fundo Nacional de Desestatização (FND). Ela marca o início do processo de
privatização e mudança no marco organizacional do setor.
[ix] “As Leis 8.987 e 9.074/95 introduziram ainda estas profundas alterações: (i) a
licitação dos novos empreendimentos de geração; (ii) a criação da figura do Produtor
Independente de Energia; (iii) a determinação do livre acesso aos sistemas de
transmissão e distribuição; e (iv) a liberdade para os grandes consumidores
escolherem seus supridores de energia.” (GOMES 2002, p. 13)

Energia Economia Historia Brasil Politica

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Mateus Bernardino

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