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PSICODIAGNÓSTICO – V 417
do funcionamento da personalidade, revelan- Integração do ego: O modo como a crian-
do dados para a compreensão de componen- ça enfrenta as demandas dos impulsos e da
tes neuróticos e sobre a formação do cará- realidade externa mostra-nos o funcionamen-
ter. Assim, possibilita o levantamento de hi- to de seu ego. O desenvolvimento do ego deve
póteses sobre o diagnóstico e prognóstico do ser avaliado, com referência à fase em que a
caso. criança se encontra, observando-se: a) a ade-
Natureza das ansiedades: O enredo das his- quação de cada história à fase evolutiva da
tórias fornece subsídios para reconhecer an- criança e aos estímulos reais das lâminas, que
siedades associadas a desejos inconscientes e refletem a percepção que o self tem do mun-
defesas empregadas contra as mesmas. A an- do interno e externo; b) o enfrentamento da
siedade depende das experiências pessoais ao realidade, ao longo de cada história, que se
longo das etapas de desenvolvimento, e, as- traduz por verbalizações adequadas, originais,
sim, é possível identificar vulnerabilidades es- inteligentes: c) a inclusão, ao longo da histó-
pecíficas, que facilitam a formulação do diag- ria, de soluções adequadas, completas e rea-
nóstico e do prognóstico, como a ansiedade lísticas.
frente ao abandono dos objetos pré-edípicos, Haworth (1966) propôs um guia útil para a
em relação a conteúdos edípicos, ou mesmo à análise dos principais mecanismos de defesa
ansiedade, que pode advir das pressões do manifestos no CAT, tais como formação reati-
superego. Este pode ser visto como persecutó- va, ambivalência, isolamento, repressão, nega-
rio, numa fase pós-edípica. Não obstante, as ção, simbolização, regressão. Esse guia consta
principais ansiedades, evidenciadas no CAT, dos manuais do CAT (Bellak & Bellak, 1981a;
referem-se à punição, agressão física, medo de 1981b).
perda do amor (manifestado por desaprova- O CAT tem sido empregado com crianças
ção) ou de menosprezo (observado por indí- enlutadas (Freitas, 1998; 1999a; 199b). Se a
cios de solidão e desamparo). perda de uma das figuras parentais, de um ir-
Principais defesas: As defesas mostram a mão, de um dos avós ocorreu recentemente,
habilidade ou não do sujeito de lidar com estí- espera-se que a criança expresse seu pesar nas
mulos externos e internos, sendo reveladoras verbalizações do teste. A morte de um familiar
de aspectos de seu desenvolvimento. É impor- próximo ou de uma pessoa amiga constitui-se
tante procurar identificar os principais meca- em um dos eventos estressores mais significa-
nismos de defesa utilizados frente à ansiedade tivos. Se, nas verbalizações do CAT, nenhuma
para a compreensão psicodinâmica da crian- referência ao pesar e à perda se fizer presente,
ça. Por exemplo, podem aparecer defesas ob- há sinal de alguma patologia. Se as manifesta-
sessivas, com conteúdos perturbadores. Temas ções de negação forem intensas, há um mas-
curtos, de natureza descritiva, em número de caramento do pesar e dos sentimentos depres-
quatro ou cinco, também revelam o emprego sivos. Conseqüentemente, essa criança pode-
de defesas obsessivas. De qualquer modo, a rá apresentar dificuldades de aprendizagem e/
introdução de diferentes temas em uma histó- ou de conduta; manifestações psicossomáticas
ria pode significar o quanto a lâmina específi- e outros desajustamentos.
ca perturba o sujeito. Crianças enlutadas podem narrar histórias
Severidade do superego: A severidade do com expectativas mágicas. A culpa é uma ma-
superego pode ser avaliada pela punição, com- nifestação comum. Pode-se exemplificar com
parada com a natureza da defesa. A despro- duas verbalizações de um menino, de 8 anos,
porção do castigo, em relação à transgressão, que perdeu seu pai recentemente, em aciden-
reflete a severidade do superego. Se o supere- te automobilístico.
go se mostra severo diante de certas condições, Lâmina 3 – “O leão fuma o seu cachimbo.
e, em outras, a sua pressão é leve, displicente, Ele ri bem alto: ah, ah, ah, ah! Ele gosta tanto
este dado remete-nos às dificuldades de rela- de fumar cachimbo, que fica sorrindo. Aí, o
cionamento com os demais. ratinho olha o leão e pensa: que bom que ele
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O CAT permite corroborar hipóteses diag- Mecanismos de defesa: É fundamental iden-
nósticas. Os itens descritos, que resultam de tificar as defesas mais comuns que aparecem
estudos clínicos e pesquisas feitas ao longo dos nas verbalizações.
últimos 20 anos, representam uma tentativa Integração do ego e ajustamento: Hawor-
de abrir uma investigação sistemática no cam- th (1966) propôs, ainda, a importância de ob-
po do psicodiagnóstico infantil, em especial, servação de outros aspectos que considera
no que se refere às patologias descritas. Ou- básicos, na síntese integrativa, tais como ati-
tros autores (Piccolo, 1977; Portuondo, 1970a; tudes para consigo mesmo: competência, segu-
Rapaport, 1965) descreveram categorias noso- rança pessoal, egoísmo, domínio, independên-
lógicas, associando o CAT a diferentes testes cia: como o herói de cada história é considerado,
projetivos. como se considera na trama desenvolvida.
Níveis de desenvolvimento psicossexual:
Identificação da maturidade infantil, através
SÍNTESE INTERPRETATIVA E CONCLUSÃO dos temas e das respostas às situações especí-
ficas de cada história.
Haworth (1966) propôs alguns itens para a sín- Desenvolvimento do superego: As histó-
tese global do CAT, que deve ser feita após a rias podem revelar imaturidade, fragilidade,
análise de todas as lâminas. Esses itens são: culpa, expectativa de punição, severidade do
Nível intelectual: Não é objetivo do CAT clas- superego.
sificar a inteligência, mas pode-se chegar a uma Por fim, é relevante observar o ajustamen-
compreensão de aspectos intelectuais, a partir to global da criança à situação do teste: capa-
da escolha das palavras nas verbalizações, da cidade de adaptação, produção adequada à
formulação coerente das idéias. O uso de refe- idade cronológica, controle pertinente. São
rências pessoais, com freqüência, descrições indicadores desses itens: “desfechos felizes,
simples e banais, histórias com elaboração realísticos, exitosos; ações responsáveis, lógi-
pobre é compatível com pobreza intelectual. cas; consciência de que o sonho era somente
Por outro lado, descrições minuciosas e histó- sonho; temas concentrados em atividades do
rias articuladas demonstram bom nível intelec- cotidiano familiares, identificações predomi-
tual. nantes com figuras adultas e/ou infantis do
Contato com a realidade: Produção de ma- mesmo sexo” (p.161).
terial não adequado aos estímulos da lâmina, Pode-se seguir o que Haworth (1966) reco-
com distorções, denota prejuízo no contato menda para a síntese final integrativa. Mas,
com a realidade. sugere-se ainda:
Relações interpessoais: As lâminas do CAT a) a observação dos temas, heróis e suas
permitem o acesso às atitudes da criança para necessidades, que permitem a descrição da es-
com seus pais, irmãos e outros personagens. trutura psíquica e das necessidades do sujeito;
Tais atitudes podem mostrar dependência, b) a concepção do ambiente e das figuras
medo, solidão. que são significativas para o sujeito;
Padrões afetivos: É necessário, na síntese c) os conflitos, as ansiedades, os mecanis-
final, retomar os sentimentos manifestos nas mos de defesa e a severidade do superego, que
verbalizações: alegria, tristeza, pesar e outros. permitem a formulação da psicodinâmica do
É importante verificar quem oferece apoio ao sujeito;
personagem da história, em momentos de es- d) os desfechos das histórias, que são reve-
tresse. Importa avaliar, também, o manejo da ladores de como o sujeito lida com as diferen-
agressividade, quem agride, quem é agredido; tes situações; se necessita de tratamento e qual
se há presença de culpa ou não. o tratamento mais recomendado.