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Para resistir ao avanço (pseudo) moralista

Psicanalista dá pistas de como atravessar o momento de perseguição


conservadora, buscando compreender como agem os que a promovem; e
como refinar a indignação dos que resistem

FONTE: HTTPS://OUTRASPALAVRAS.NET/OUTRASMIDIAS/PARA-
RESISTIR-AO-AVANCO-PSEUDO-MORALISTA/

CRISE BRASILEIRA / por Le Monde Diplomatique Brasil


Publicado 01/02/2019 às 16:48 - Atualizado 01/02/2019 às 18:00
Por Marcos Donizetti de Almeida, em LeMonde Diplomatique

Vivemos uma crise política e social, uma crise que é também e


principalmente dos afetos e das relações. Há um sofrer individualizado, vivido
de maneira ímpar pelos sujeitos e presente em seus relatos de medo,
frustração e ameaças constantes. E há um sofrer generalizado, marcado pelo
enfraquecimento dos laços, pela desesperança e pelo ódio sempre presente,
antes adormecido e hoje orgulhosamente sustentado e atuado. É um ódio
performático, que se pretende manifesto em defesa de uma velha teia de
privilégios e ao mesmo tempo contra um outro que foi eleito o bode expiatório
da vez, a ser combatido e eliminado pois imaginariamente culpado pelos males
da nação e inimigo de uma pátria que só existe como fantasia. Nos
consultórios, no convívio pessoal e nas redes sociais são palpáveis a
ansiedade, o cansaço, a sensação paralisante de impotência e a angústia, o
desamparo.
A angústia, porém, pode ser combustível da ação, e cabe o
questionamento a respeito do que pode ser feito para lidar com esse estado de
coisas tentando permanecer minimamente saudável.
O resultado desta inquietação minha é o que chamo de pequeno manual
de conduta e resistência a essa estratégia de controle do discurso e da libido
tão facilmente identificável nas ações de quem investe neste cenário de crise,
insegurança e confronto generalizados.
Não raro vemos declarações de pessoas próximas ao presidente eleito
falando em “guerra cultural”, e não surpreende que a gestão da comunicação
do novo governo, desde a campanha, tenha elementos de estratégia militar, de
“guerra híbrida”, o assim chamado firehosing. A atuação se dá em duas frentes:
num primeiro nível, declarações cada vez mais estapafúrdias e revoltantes,
sem nenhum compromisso com fatos ou lógica, com frequentes idas e vindas,
com avanços aparentes e desistências. O objetivo aí é o controle da pauta. É
uma maneira de controlar não só a imprensa, e essa tem sido a estratégia de
Trump desde o início de seu mandato, como também os temas das conversas
nas ruas, bares e condomínios.
O uso das postagens em massa impulsionadas no WhatsApp de
maneira supostamente ilegal é o dado novo e até o momento um grande
diferencial do firehosing à brasileira. Não sei por quanto tempo isso funcionará,
mas é assim, controlando o discurso e confundindo a todos, que as medidas
impopulares, essas sim calculadas e planejadas, do segundo nível serão
postas em prática sem maior resistência. A declaração absurda toma de assalto
as redes sociais enquanto uma emenda constitucional é votada, por exemplo.

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O projeto da “escola sem partido”, cuja votação pode acontecer a
qualquer momento, e as mudanças no texto da Lei Antiterrorismo são
estratégias de controle do discurso também, óbvio, mas talvez eles nem
esperem tanto essas aprovações. Mantê-los em pauta é ótimo para garantir a
atenção e a tensão da oposição e da imprensa.
Além do controle do discurso e do diversionismo das pautas, há a
atuação sobre a libido, o ânimo daqueles que são oposição. É um jogo de
manipulação da indignação também. Acontece que a indignação é em algum
grau catártica.
Para nosso “aparelho psíquico”, a indignação antecipada com algo tem
quase o mesmo efeito de vivenciar de fato esse algo ou de agir contra ele.
Quando eu compartilho uma fala do presidente dizendo “olha o absurdo que ele
está falando”, minha indignação implica direcionamento de energia para esse
fato, um consumo de libido, e consigo até mesmo algum gozo, uma satisfação
secreta e mesmo inconsciente, na captura também da indignação do meu
grupo, garantida pelo algoritmo no caso das redes sociais. Há uma sensação
de pertencimento mesmo nos afetos negativos vivenciados coletivamente.
Grosso modo, dado que libido é um recurso finito que apenas muda de
um ponto de referência a outro, o que “gastei” em meu gozo catártico indignado
falta em outras atividades. É uma estratégia de controle dos corpos comum,
clássica, potencializada pelas redes sociais. Um exemplo é a hipersexualização
das relações e do ambiente, via mídia e publicidade, por exemplo, que resulta
em sujeitos com menos libido investida nos encontros sexuais. O fato é que a
estratégia é gerar indignação para controlar a pauta e também garantir a
paralisação dos sujeitos, que ficam meio que petrificados, sem forças para
resistir. O resultado é o sofrimento psíquico potencializado e amplificado, com
mais depressão, desamparo e sentimentos de falta de sentido. De quebra, a
indignação e o medo gerado na oposição alimentam parte da base apoiadora
de Bolsonaro. Esses jovens fazendo fotos pretensamente ameaçadoras com
armas na mão que vimos após a eleição estão implorando pelo medo que vai
alimentar uma fantasia fálica muito primitiva de poder neles. Eles se alimentam
da indignação e do assombro que esperam causar no outro, e não oferecer o
que pedem é confrontá-los com um dado de realidade.
Mas vamos ao manual propriamente dito: ninguém está dizendo que não
podemos mais demonstrar indignação e medo ou se revoltar com o absurdo. É
necessário, porém, sermos “seletivos” com nossa indignação. Ao perceber que
o noticiário sobre o novo governo te faz espumar e compartilhar coisas o dia
todo, pense em sair um pouco das redes sociais.
Vá ver um filme, ler um livro, ouvir a música que você ama ou um disco
novo. Consuma e produza arte, que é uma maneira e tanto de elaborar
angústias e mobilizar forças, de forma crítica, inclusive. A arte ajuda a seguir e
a mostrar que a vida continua lá fora. Convide alguém, porque estar junto e
compartilhar amor é uma forma de proteger os seus e de alimentar esperanças,
conseguir força, redirecionar a libido.
É hora de usar o potencial mobilizador e de comunicação das redes em
nosso favor: criando e fortalecendo laços, contatos que sem elas não seriam
possíveis, articulando movimentos, coletivos, grupos de apoio mútuo etc. Que
nossa ação não fique restrita ao virtual. A melhor resposta a quem quer nos
capturar tanto pelo medo quanto pela indignação é seguir vivendo, sem se
esquecer da empatia para com os que estão sofrendo, mas investindo naquilo

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que podemos efetivamente fazer para ajudar; estudando, ouvindo e lendo
muito para aprender formas de ajudar mais. É preciso observar os movimentos
“macro” do regime, saber onde eles estão efetivamente investindo.
Isso estará sempre nas entrelinhas das declarações e do que aparece
no noticiário. Há medo e indignação, claro que há, mas, se nos deixamos
capturar por essa dinâmica, fazemos o jogo deles. Então, enquanto investimos
em formas de ajudar quem está precisando resistir, precisamos nos cuidar e
não sucumbir à ansiedade e à confusão propositada dos discursos. Não
podemos esquecer que é preciso mais do que nunca estar com as pessoas.
Não é sem motivo que regimes totalitários em algum momento proíbam
encontros e reuniões. O contato e a interação são revolucionários.
Consuma e produza arte, que é uma maneira e tanto de elaborar
angústias e mobilizar forças, de forma crítica, inclusive. A arte ajuda a seguir e
a mostrar que a vida continua lá fora. Convide alguém, porque estar junto e
compartilhar amor é uma forma de proteger os seus e de alimentar esperanças,
conseguir força, redirecionar a libido. É hora de usar o potencial mobilizador e
de comunicação das redes em nosso favor: criando e fortalecendo laços,
contatos que sem elas não seriam possíveis, articulando movimentos,
coletivos, grupos de apoio mútuo etc. Que nossa ação não fique restrita ao
virtual. A melhor resposta a quem quer nos capturar tanto pelo medo quanto
pela indignação é seguir vivendo, sem se esquecer da empatia para com os
que estão sofrendo, mas investindo naquilo que podemos efetivamente fazer
para ajudar; estudando, ouvindo e lendo muito para aprender formas de ajudar
mais.
É preciso observar os movimentos “macro” do regime, saber onde eles
estão efetivamente investindo. Isso estará sempre nas entrelinhas das
declarações e do que aparece no noticiário. Há medo e indignação, claro que
há, mas, se nos deixamos capturar por essa dinâmica, fazemos o jogo deles.
Então, enquanto investimos em formas de ajudar quem está precisando resistir,
precisamos nos cuidar e não sucumbir à ansiedade e à confusão propositada
dos discursos. Não podemos esquecer que é preciso mais do que nunca estar
com as pessoas.
Não é sem motivo que regimes totalitários em algum momento proíbam
encontros e reuniões. O contato e a interação são revolucionários.

*Marcos Donizetti de Almeida é psicanalista.

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